Começar bem a lavoura faz toda a diferença para o andamento da safra e a água é um dos principais fatores nesse início.
Garantir que as plantas recebam a quantidade certa, na hora certa, é o que vai fazer a diferença no desenvolvimento do plantio.
Muitos produtores só se preocupam com a irrigação quando a planta já está desenvolvida, mas os primeiros dias são os mais sensíveis.
Um manejo eficiente da água nesse momento define grande parte do potencial produtivo da cultura.
Entender as necessidades hídricas desde o começo é o primeiro passo para uma lavoura mais saudável, produtiva e eficiente.
Por que os primeiros dias da planta pedem atenção especial com a água?
Plantas recém-germinadas ou mudas que acabaram de ser transplantadas, ainda estão formando seu sistema de raízes.
Com raízes pequenas e concentradas na superfície, elas exploram um volume muito limitado de solo.
Isso as torna vulneráveis à falta de umidade justamente nessa camada mais superficial, onde as alterações climáticas podem mudar rapidamente com o sol e o vento.
A água é a forma como as plantas absorvam os nutrientes do solo e realizem a fotossíntese, processos que impulsionam todo o crescimento inicial.
Ou seja, a falta de água, mesmo que por períodos curtos nesses primeiros dias, pode causar um estresse severo, diminuindo o vigor ou levar à morte das plântulas.
Além disso, cada cultura reage de uma forma diferente à disponibilidade de água nos estágios iniciais.
Água nas fases iniciais de culturas
1. Soja
Tanto o excesso quanto a falta de água durante a germinação e emergência podem desuniformizar o nascimento das plantas.
A semente precisa absorver uma quantidade significativa de água, no mínimo 50% do seu peso, para germinar bem.
Para o preparo do solo ideal na cultura, é preciso manter o teor de água no solo entre 50% e 85% da água disponível máxima nessa fase crítica da soja.

2. Milho
No milho, durante a pré-emergência (antes da planta sair do solo), é preciso que a camada superficial do solo, onde a semente foi depositada, esteja sempre úmida.
Embora as fases onde a falta de água causa maiores perdas de produtividade venham depois, um bom estabelecimento inicial, que depende dessa umidade na germinação, é a base para todo o ciclo.
3. Culturas perenes
Em culturas perenes como os citros, os períodos de brotação, emissão de botões florais e o início do desenvolvimento dos frutos são mais sensíveis.
A falta de água nessas fases pode provocar a queda de flores e frutos jovens, impactando diretamente a produção.
A demanda de água aumenta conforme a planta cresce, passando de uma média de 4,7 L/dia no segundo ano para 46,5 L/dia no quinto ano após o plantio.
Além dessas informações, é importante lembrar que o estresse hídrico inicial, mesmo que não mate a planta, pode deixar marcas ocultas.
Ao comprometer o desenvolvimento das raízes ou o vigor, a planta pode ter dificuldades em absorver água e nutrientes mais tarde, limitando seu potencial produtivo final. Isso mostra o quanto o manejo da água é importante.
Como saber a hora certa e a quantidade ideal de água para as mudas?
A resposta varia conforme o tipo de solo, a cultura, as condições climáticas e o estágio de desenvolvimento da planta.
O objetivo do manejo da água é manter a umidade do solo, na zona onde as raízes estão ativas, dentro de uma faixa ideal, que é acima do Ponto de Murcha Permanente e abaixo da saturação.
O ideal é sempre manter a umidade próxima da capacidade de campo. Para isso, você pode usar alguns métodos, como:
1. Teste do tato-aparência
Uma forma bastante simples, rápida e praticamente sem custo para ter uma ideia da umidade do solo, é usar as próprias mãos.
Basta coletar uma pequena amostra de solo na profundidade onde as raízes das suas mudas estão (geralmente nos primeiros 15-20 cm) e apertá-la na mão.
A forma como o solo se comporta e sua aparência dão pistas sobre a necessidade de irrigação.
Se o solo estiver solto, esfarelando ao ser apertado e com uma coloração mais clara, é sinal de que está seco e precisa irrigar.
Mas se mantiver a forma ao ser apertado, sem ficar totalmente firme ou liberar água, com uma cor mais escura que o solo seco, ele está úmido. Neste caso, a irrigação pode ser necessária em breve.
Ou se formar uma bola bem firme, brilhante, e talvez até soltar um pouco de água ao ser apertado com força, o solo está muito molhado. Se isso acontecer, você não se deve irrigar, pois água em excesso pode prejudicar as raízes.
2. Sensores e monitoramento preciso
Para quem busca mais controle e dados objetivos, a tecnologia os sensores de umidade do solo podem ajudar no manejo da água.
Instalados em pontos estratégicos da lavoura, os sensores medem o conteúdo de água no solo e podem ser conectados a sistemas de irrigação inteligentes.
Além dos sensores de solo, outras tecnologias podem compor a irrigação otimizada, como:
- Estações meteorológicas: Fornecem dados climáticos para estimar a perda de água do solo e da planta para a atmosfera;
- Telemetria: São sistemas que monitorar os sensores e até acionar a irrigação remotamente, usando celular ou computador;
- Drones com câmeras especiais (térmicas/multiespectrais): Sobrevoam a lavoura e identificam, pela temperatura das folhas ou por índices de vegetação, áreas que estão começando a sofrer com estresse hídrico.
3. Estimando a quantidade
Saber quando irrigar é importante, mas também é preciso estimar quanto irrigar. Algumas fontes técnicas oferecem orientações práticas.
Uma cartilha da Embrapa sobre irrigação de baixo custo, por exemplo, traz tabelas com tempos diários de irrigação para culturas como feijão-caupi, milho, mandioca, melancia, banana e mamão.
Esses tempos variam conforme a idade da planta, o mês do ano e o tipo de sistema usado.
As tabelas servem como referência inicial, mas os tempos devem ser ajustados conforme as condições específicas da sua lavoura.
Em sistemas como a produção de MPB de cana-de-açúcar, a irrigação pode ser calculada com precisão a partir da ETo medida por estações meteorológicas e ajustada ao ambiente do viveiro.

Qual o melhor sistema de irrigação para o início da lavoura?
A escolha do sistema de irrigação otimizada é um passo determinante para a eficiência do manejo da água, e isso é ainda mais verdadeiro quando falamos de mudas e plantas jovens.
Nessa fase, o ideal é conseguir aplicar a água de forma precisa, direto na zona onde as pequenas raízes estão se desenvolvendo, em quantidades menores e, se necessário, com maior frequência. Entenda:
Sistemas de irrigação localizada
Os sistemas de irrigação localizada são os mais indicados para os estágios iniciais, pois atendem bem a esses requisitos.
A principal característica, definida pela Embrapa, é molhar apenas uma parte da área, concentrando a água onde é mais necessária e economizando o recurso. Neste sentido, os tipos mais comuns são:
Gotejamento: Aplica água em gotas diretamente no solo, próximo às plantas. É um método com mais de 90% de aproveitamento, economizando água e energia, por molhar apenas uma faixa estreita e reduz ervas daninhas entre as linhas.
É ideal para hortaliças, fruteiras e culturas em linha, além de ser ótimo para fertirrigação, exigindo água limpa e boa filtragem para evitar entupimentos.
Microaspersão: Parecido com o gotejamento, o sistema de microaspersão usa emissores que espalham a água em forma de uma chuva fina e localizada.
Tem boa eficiência (80% a 90%) e é comum em fruteiras, hortaliças e viveiros. Sua principal vantagem é ser menos propenso a entupimentos, exigindo filtragem menos rigorosa.
Opções de baixo custo para irrigação localizada
Pensando na agricultura familiar ou em situações onde o investimento inicial precisa ser menor, existem alternativas mais acessíveis dentro da irrigação localizada, como:
Mangueiras perfuradas (tipo “santeno” ou similar): São mangueiras flexíveis com pequenos furos feitos a laser ou mecanicamente, que liberam a água ao longo da linha.
São mais baratas que o gotejamento convencional, mas com menor eficiência e uniformidade.
Ainda assim, oferecem irrigação localizada e são uma opção prática para pequenos produtores. A Embrapa, inclusive, traz sugestões de tempo de irrigação para esse sistema
Sistema “Xique-xique”: É uma versão ainda mais simples e artesanal, onde o próprio agricultor faz pequenos furos (1 a 2 mm) na tubulação lateral.
O custo é mínimo, mas a eficiência e a uniformidade são baixas (em torno de 67%), e o risco de entupimento dos furos é alto.
Irrigação por sulcos: Usa canais abertos ao lado das plantas, com água correndo por gravidade. É um método de baixo custo e simples, mas com menor eficiência, devido a perdas por infiltração e evaporação.
Também é mais difícil controlar a quantidade exata de água, o que pode ser um risco nas fases iniciais da lavoura.

Como economizar água no começo do cultivo?
O manejo sustentável da água na agricultura não se resume apenas a escolher o sistema de irrigação certo e aplicar no momento correto.
Tão importante quanto isso, é adotar práticas que ajudem a conservar a água que já está presente no solo ou que chega através da chuva.
Essas práticas reduzem a evaporação, melhoram a infiltração e aumentam a capacidade do solo de armazenar água.
Tudo isso contribui para diminuição da dependência da irrigação e tornando todo o manejo da água e o sistema produtivo mais resiliente, especialmente em períodos de seca.
Cobertura do solo
Manter o solo coberto é uma das formas mais eficazes de conservar a água. Isso pode ser feito com palhada da safra anterior ou materiais como capim seco e serragem. A prática, conhecida como mulching, traz vários benefícios:
- Reduz a evaporação, protegendo o solo do sol e do vento;
- Melhora a infiltração, evitando a crosta superficial que dificulta a entrada da água;
- Controla a temperatura do solo, mantendo-o mais estável;
- Suprime ervas daninhas, que competem por água e nutrientes;
- Melhora o solo ao longo do tempo, aumentando a matéria orgânica e a capacidade de retenção de água.
A cobertura do solo é um princípios da Agricultura Conservacionista, recomendada para regiões como o Cerrado, mas com bons resultados em todo o Brasil.
Plantio direto e preparo reduzido
Evitar o revolvimento excessivo do solo é uma das práticas para conservar e ter uma melhor manejo da água.
Ações como arações e gradagens frequentes destroem a estrutura do solo, comprometem os canais naturais de infiltração e aceleram a perda de matéria orgânica, reduzindo a saúde do solo e a retenção água.
Dentro disso, o Sistema Plantio Direto (SPD) coloca em prática com três princípios:
- Solo sem revolvimento (o plantio é feito sobre a palhada);
- Cobertura permanente do solo;
- Rotação de culturas.
É um dos sistemas mais eficientes para conservar água e solo, com benefícios também ambientais e econômicos.
Mesmo que não seja possível adotar o SPD completo, reduzir o preparo já ajuda a preservar a umidade e a qualidade do solo.
Outras práticas que ajudam a conservar água
- Plantio em nível (ou em contorno): Seguir as curvas de nível do terreno ajuda a frear o escoamento da água, favorecendo a infiltração e reduzindo a erosão;
- Terraceamento: Terraços funcionam como barreiras físicas que retêm a água da chuva, permitindo que ela infiltre aos poucos no solo;
- Rotação de culturas: Alternar culturas com diferentes tipos de raízes melhora a estrutura do solo em várias camadas, tornando mais poroso;
- Controle de tráfego: Restringir o tráfego de máquinas evita a compactação, facilitando a entrada e retenção de água.
Combinação que potencializa os resultados
A escolha do sistema de irrigação e as práticas de conservação de água no solo se complementam.
Um solo bem manejado, coberto com palhada e com boa estrutura, absorve e retém melhor a água da irrigação, aumentando a eficiência do sistema e economizando em volume e frequência de aplicação.
Essas práticas também geram economia além da água: menos plantas daninhas reduzem o uso de herbicidas, menor erosão e lixiviação evitam perdas de fertilizantes, e solos mais saudáveis tendem a ser mais produtivos.
No Aegro, você pode registrar e acompanhar essas práticas, facilitando a análise dos impactos no rendimento da lavoura e no uso dos recursos.
Isso ajuda a planejar melhor, fazer escolhas mais estratégicas sobre o manejo de água e o futuro da propriedade.


Engenheiro Agrônomo (UFRGS, Kansas State) e especialista de Novos Negócios na Aegro. Reconhecido como referência em Agricultura Digital, especialização em administração, gestão rural, plantas de lavoura.