A aveia é um cereal de inverno que se destaca por sua rusticidade e tolerância a solos ácidos e de baixa fertilidade, características que a tornam uma opção atrativa para os produtores brasileiros.
Além de ser utilizada na alimentação humana e animal, a aveia ajuda na cobertura do solo e na rotação de culturas, especialmente em sistemas de plantio direto.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a produção nacional de aveia em grão para a safra de 2025 está estimada em 1,1 milhão de toneladas, representando um crescimento de 8,3% em relação à safra anterior.
Os principais estados produtores são o Rio Grande do Sul, com uma estimativa de 851,1 mil toneladas, e o Paraná, com 233,6 mil toneladas.
Panorama da produção de aveia no Brasil – Safra 2024/25
A aveia se consolida cada vez mais como uma cultura estratégica nas lavouras de inverno do Sul do Brasil.
Na safra 2024/25, a produção nacional foi liderada pelo Rio Grande do Sul, que se destacou com 581 mil toneladas colhidas, representando 64% do total produzido no país.
O cultivo no estado ocupou uma área de 361.036 hectares, ou seja, mais de dois terços da área nacional, gerando um valor estimado de R$ 461 milhões.
O Paraná ocupa a segunda posição no ranking nacional, com 240.548 toneladas produzidas, equivalentes a 26,52% da produção brasileira.
A área dedicada ao cereal no estado alcançou 104.013 hectares, com valor de produção de R$ 145 milhões.
Na sequência, o Mato Grosso do Sul aparece com 31.980 toneladas, cerca de 3,53% do volume nacional. A cultura ocupou 26.810 hectares no estado, com valor de produção estimado em R$ 21,5 milhões.
Outras regiões também contribuem para o cultivo da aveia, ainda que em menor escala. Santa Catarina produziu 26.626 toneladas, São Paulo 17.165 toneladas, e Minas Gerais, 9.781 toneladas.
Esses estados representam, respectivamente, 2,94%, 1,89% e 1,08% da produção nacional em 2024/25.
Figura 1. Rendimento da aveia no Brasil. Créditos: USDA, 2025.
Quais os tipos de plantação de aveia?
Existem várias espécies no gênero da aveia (Avena spp.), mas são duas as que se destacam na produção de grãos mundial: a Avena sativa ou aveia branca (80% da área mundial) e a Avena byzantina ou aveia amarela (20% da área).
Mas, principalmente aqui na América do Sul, outra espécie se destaca: a Avena strigosa ou aveia preta, como é popularmente conhecida.
Essa espécie de aveia é bem mais rústica que as comumente utilizadas para grão e seu uso é basicamente como cultura de cobertura ou forragem para a alimentação animal.
A aveia teve sua origem lá no Oriente Médio, em locais muito próximos de outros cereais de inverno como o trigo.
Mas seu cultivo só passou a ser explorado muitos anos depois, já que no início, esse vegetal era apenas uma planta daninha da cultura do trigo.
A aveia é uma planta anual, sendo que algumas cultivares podem apresentar rebrota (duplo propósito) e têm um crescimento ereto, variando entre 0,7 e 2 metros de altura.
Além disso, ela tem raízes profundas e fasciculadas, ou seja, não apresenta uma raiz pivotante ou principal.
Como fazer a plantação de aveia?
A aveia é cultivada ao longo do outono e inverno aqui no Brasil por se tratar de uma planta de clima temperado.
Apesar de ser extremamente tolerante quanto ao solo (pH 4,5 a 6 e menor exigência de nutrientes que trigo), o plantio de aveia é bem mais exigente quanto às condições climáticas.
Assim, a temperatura ideal para a semeadura é acima dos 7º C, sendo abaixo de 4º C diminui drasticamente a germinação das sementes.
A época de semeadura varia de 15 de março (para o MS) até 15 de julho (em SC), e a quantidade de sementes entre 200 e 300 por metro quadrado.
Local | Período de Semeadura |
Região de Ijuí (RS) | 15 de maio a 15 de junho |
Região de Passo Fundo (RS) | 15 de maio a 15 de junho |
Região dos Campos de Cima da Serra (RS) | 15 de junho a 15 de julho |
Região Sul do Paraná | 15 de maio a 15 de julho |
Regiões Norte e Oeste do Paraná | 15 de março a 15 de maio |
Região de Campos Novos e Lages (SC) | 15 de junho a 15 de julho |
Região do Sul de São Paulo | 15 de abril a 30 de maio |
Região do Mato Grosso do Sul | 15 de março a 15 de maio |
(Fonte: Indicações técnicas para a cultura da aveia, 2014)
No Brasil é recorrente o uso de sementes piratas na semeadura da aveia e essa prática apresenta altos riscos que, muitas vezes, não são contabilizados pelo produtor.
Entre esses perigos estão a contaminação das sementes por patógenos e pragas, sem contar possíveis sementes de daninhas que podem infestar a área e a baixa germinação que podem apresentar, afetando diretamente a produção.
O perfilhamento está diretamente relacionado com a produtividade da aveia, sendo que ao final do ciclo, os perfilhos mais jovens auxiliam no enchimento de grãos dos mais velhos.
Dessa forma, regiões mais quentes e semeaduras tardias requerem uma quantidade maior de sementes.
A recomendação de espaçamento é entre os 17 e 20 cm entre linhas com uma profundidade de deposição da semente entre 2 e 4 cm.
Manejo da cultura de aveia
A duração do ciclo da cultura de aveia varia entre 120 e 130 dias aqui no Brasil, mas podem chegar de 90 a 180 dias no mundo todo.
O desenvolvimento da aveia é dividido basicamente em quatro etapas: a fase vegetativa, a fase de transição, a fase reprodutiva e a fase de formação dos grãos.
Sendo que após a fase vegetativa (3 a 4 folhas e início do perfilhamento), é quando se inicia o controle químico em pós-emergência das plantas daninhas.
Os principais herbicidas registrados para a cultura da aveia são o 2,4 D e o metasulfuron, ambos recomendados para o controle de folhas largas.
O controle químico de azevém em campos de aveia ainda não é possível por meio dos herbicidas registrados disponíveis no Brasil.
Já para o manejo de pragas, o mais indicado é o tratamento de sementes (Imidacloprido e Tiodicarbe), que combate duas das principais pragas da aveia, os corós e os afídeos (ou pulgões).
Agora, as principais doenças que afetam a plantação de aveia são a ferrugem das folhas, a qual a aveia branca é mais susceptível, e a ferrugem dos colmos, que não tem grande incidência na região Sul, mas pode ter grande gravidade em condições de alta umidade e temperatura.

Como fazer a colheita de grãos de aveia?
Na maturação, a plantação de aveia tolera altas temperaturas diurnas, baixas temperaturas noturnas e baixa umidade, permitindo a colheita e evitando a perda de grãos.
Para a produção de sementes, baixas temperaturas durante o desenvolvimento elevam os níveis de dormência das sementes.
Assim, a colheita da aveia deve ser realizada quando os grãos estão em condições de debulha (teor de água abaixo dos 20%) e a planta ainda está de pé.
A regulagem da colhedora é essencial, já que quando descascado, o grão ativa enzimas que causam a rancificação do produto.
Para o fornecimento industrial, os grãos não devem receber chuvas após a maturação, a fim de evitar que eles adquiram coloração escura.
Vantagens da produção de forragem
A aveia forrageira é uma excelente opção para sistemas de produção que buscam manter a oferta de alimento para o gado durante o outono e o inverno, além de oferecer vantagens como:
- Tolerância ao frio e geadas;
- Resistência ao pisoteio;
- Boa produção de massa verde (alta qualidade);
- Boa rusticidade;
- Existência de cultivares com diferentes ciclos de produção.
A cultura pode ser usada para corte verde, feno, silagem ou ainda pastejo, sendo a altura de entrada entre 25 e 30 cm e a altura de saída dos animais em torno dos 10 cm.
Para produção de silagem, o ideal é realizar o corte das plantas inteiras com a matéria seca dos grãos entre 30% e 40% (ou seja 60% a 70% de umidade nos grãos).
Para implantar um pasto de aveia forrageira, o indicado é utilizar espaçamento de 17 cm entre linhas e populações com 350 plantas por metro quadrado.
Além de produzir forragem, esse sistema de plantio também pode ser utilizado para a produção de palha para o plantio direto. Sendo que a produção de matéria seca varia entre 3 e 6 toneladas.


Engenheiro-Agrônomo (UFRA/Pará), Técnico em Agronegócio (Senar/Pará), especialista em Agronomia (Produção Vegetal) e mestre em Fitotecnia pela (Esalq/USP).