O anúncio do novo tarifaço pelos Estados Unidos trouxe preocupação para o setor agropecuário brasileiro.
A medida afeta diretamente a exportação de alguns produtos, pode mexer com os estoques internos, gerar reflexos nos preços pagos ao produtor e até impactar empregos ligados ao campo.
Embora ainda haja setores parcialmente protegidos por isenções, a verdade é que o cenário exige atenção e planejamento.
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Como funciona a taxação dos EUA para o Brasil?
O tarifaço é uma política de aumento de tarifas de importação aplicada pelos Estados Unidos a produtos vindos do Brasil.
A justificativa é proteger a indústria e a produção norte-americana, buscando reduzir a dependência de alguns itens importados.
Na prática, significa que diversos produtos brasileiros entram no mercado americano com um custo adicional, se tornando menos competitivos.
Apesar de atingir vários setores, o agronegócio é um dos mais sensíveis, já que o Brasil é uma dos maiores exportadores de commodities agrícolas para os EUA.
A taxa adicional varia conforme o produto, podendo chegar a até 25% em alguns casos, encarecendo a venda brasileira e abrindo espaço para concorrentes de outros países.
Quais produtos estão isentos da taxação?
Nem tudo entra no tarifaço. Os Estados Unidos divulgaram uma lista de produtos agrícolas que permanecem isentos.
Grande parte deles são aqueles que não são produzidos em quantidade suficiente no mercado interno americano.
Entre os produtos com maior probabilidade de manter isenção ou baixa tarifa estão:
- Café verde brasileiro, especialmente o arábica de qualidade superior, pouco produzido nos EUA;
- Frutas tropicais, como manga e mamão, que não têm produção significativa local;
- Produtos de nicho, como castanhas e especiarias brasileiras, que atendem mercados específicos.
A isenção nesses casos é estratégica, pois o mercado americano não consegue suprir toda a demanda internamente.
Ainda assim, a lista é revisável, e não garante estabilidade para o futuro. Para quem exporta, é essencial acompanhar cada atualização para não ser pego de surpresa.

Como o tarifaço afeta o produtor rural?
Quando um país como os Estados Unidos aumenta as tarifas de importação sobre produtos brasileiros, o impacto pode chegar em fazendas de todos os portes, mesmo aquelas que não exportam.
O agronegócio é uma cadeia interligada: quando parte da produção não consegue sair do país, ela fica no mercado interno, aumentando a oferta e pressionando os preços.
Além disso, setores que exportam acabam reduzindo sua demanda por insumos e matérias-primas, o que também afeta produtores indiretos. Junto disso, ainda pode haver os seguintes impactos:
1. Queda nos preços na porteira
Com o aumento das tarifas, os compradores internacionais, especialmente dos Estados Unidos, tendem a pagar menos pelos produtos brasileiros para compensar o custo extra de importação.
Esse movimento reduz a margem de lucro, dificultando as condições para culturas que depender do mercado americano, como a carne, o suco de laranja e derivados da soja.
2. Aumento dos estoques no mercado interno
Quando parte da produção não é exportada, ela fica no mercado interno, o que aumenta a oferta e pode fazer os preços caírem, dificultando a rentabilidade das lavouras.
A situação é ainda mais complicada para culturas que dependem muito do mercado dos EUA, como carnes, suco de laranja, café e derivados da soja.
Nesses casos, além de perder espaço lá fora, os produtores enfrentam mais concorrência aqui dentro.
Esse cenário também traz insegurança para o futuro, afetando o planejamento da próxima safra, desde o que plantar até como negociar os preços.
3. Menos crédito e investimentos no campo
Com mais incertezas no mercado e risco de prejuízo, os bancos podem ficar mais cuidadosos na hora de liberar crédito rural.
Isso pode dificultar o acesso a financiamentos, principalmente para quem quer investir em máquinas, tecnologias ou expansão da produção.
Além disso, muitos produtores podem acabar adiando investimentos por medo de não ter retorno, o que desacelera o crescimento das propriedades.

Quais são os impactos do tarifaço na economia brasileira?
Os estados com forte foco no agro de exportação, como Mato Grosso, Goiás, Paraná e Minas Gerais, podem sentir os impactos com mais força.
A perda de competitividade no mercado externo pode levar à queda nos preços pagos ao produtor e à redução no volume exportado.
Com isso, a receita das propriedades diminui e o efeito se espalha: setores como transporte, armazenagem e fornecimento de insumos também sofrem.
Em números, estimativas indicam que o agro brasileiro pode perder bilhões de dólares em faturamento, caso não haja renegociação de tarifas ou abertura de novos mercados.
Essa perda afeta não só a renda do campo, mas também a geração de empregos em toda a cadeia, inclusive na indústria de transformação ligada ao setor.
Acordos internacionais e possíveis reações
O tarifaço abre espaço para novas negociações comerciais. O Brasil pode buscar diversificação de mercados, fortalecendo acordos com Europa, Ásia e países árabes para compensar as perdas nos EUA.
Organismos internacionais também podem ser acionados para questionar as tarifas adicionais, mas esses processos são lentos e não oferecem soluções de curto prazo.
Quais exportações são mais afetadas com o tarifaço no agronegócio?
Desde 6 de agosto de 2025, os Estados Unidos começou a cobrar uma tarifa de 50% sobre algumas exportações brasileiras.
Essa medida afeta quase 36% dos produtos enviados para lá, o que equivale a cerca de 4% do total das exportações do Brasil.
Essa tarifa preocupa especialmente o setor do agronegócio, que exporta produtos de alto valor e com grande presença no mercado americano. Com isso, alguns produtos estão mais afetados, como:
- Carne bovina, suína e de frango, que enfrentam tarifas adicionais em diferentes cortes;
- Suco de laranja, produto com forte presença brasileira nos EUA e que pode perder espaço para fornecedores locais ou de outros países;
- Café industrializado, que compete diretamente com marcas americanas e sofre mais impacto que o café verde in natura, em parte isento;
- Derivados de soja, como farelo e óleo, em alguns segmentos específicos.
Enquanto isso, frutas tropicais, castanhas e café verde permanecem menos afetados devido às isenções mencionadas anteriormente.
Por outro lado, frutas tropicais, castanhas e o café verde, permanecem menos afetados graças às isenções e acordos comerciais, o que ajuda a reduzir os impactos nas exportações desses produtos.
O Brasil pode voltar para o mapa da fome por conta do tarifaço?
Não há sinais claros de que o tarifaço faça o Brasil voltar para o mapa da fome. Porém, os preços de alguns alimentos podem subir se os produtores venderem mais no mercado interno para compensar as perdas nas exportações.
Isso pode aumentar a inflação e afetar o consumidor, principalmente em produtos como carne, soja e laranja.
Como o plano safra pode ser afetado pelo tarifaço?
O Plano Safra é um dos principais suportes ao agronegócio brasileiro e com o aumento das tarifas, a renda dos pode cair, dificultando o acesso e o pagamento dos créditos.
Com isso, pode haver uma redução de investimentos no campo e elevar o risco de inadimplência, obrigando o governo a ajustar suas políticas de crédito rural, além de:
- Redução da receita dos produtores: Com as tarifas mais altas, produtos como carne, soja e suco de laranja ficam menos competitivos no mercado americano, diminuindo as vendas e a renda dos produtores.
- Menor capacidade de investimento: Com menos dinheiro entrando, os produtores podem ter menos recursos para investir em insumos, tecnologia e melhoria das propriedades, reduzindo a demanda por crédito rural oferecido no Plano Safra;
- Aumento do risco de inadimplência: Produtores que dependem das exportações afetadas podem ter dificuldades para pagar financiamentos e créditos, elevando o risco para instituições financeiras.
- Pressão para ajustes no Plano Safra: O governo pode precisar rever valores, condições ou linhas de crédito para apoiar produtores mais impactados pelo tarifaço e minimizar os efeitos negativos.
Ou seja, tarifaço pode deixar o ambiente mais desafiador para o agronegócio, o que impacta o funcionamento e a efetividade do Plano Safra como política de suporte.
O papel do BRICS e por que o impacto real do tarifaço pode ser menor que 1%
As tarifas impostas pelos EUA foram de 50% sobre alguns produtos brasileiros, mas grande parte das exportações está isenta ou conta com tarifas reduzidas, como óleo, minério de ferro, aeronaves e suco de laranja.
Apenas 12% das exportações brasileiras são destinadas aos EUA, enquanto o país vende uma parcela ainda maior para a China, o que ajuda a dispersar riscos e ampliar mercados.
O Capital Economics, banco de análise econômica, estimou que, mesmo que todas as exportações para os EUA sofressem uma tarifa de 50%, o impacto no PIB brasileiro seria modesto, reduzindo entre 0,3% e 0,5% em três anos.
Já a XP revisou sua projeção e prevê um impacto menor, de apenas 0,15 ponto percentual no PIB em 2025.
Assim, embora o tarifaço pareça severo inicialmente, seu impacto econômico real tende a ser limitado — abaixo de 1% do PIB — e será compensado pela diversificação comercial, isenções específicas e parcerias estratégicas, como aquelas com os países do BRICS.

Daniel Oliveira
Formado em Ciências Contábeis, pós-graduado em gestão financeira, Mestre em Contabilidade e finanças pela UFMG, Doutorando em Economia aplicada pela USP Esalq.