O guia do manejo eficiente do picão-preto

Picão-preto: entenda como controlar essa planta daninha e impedir que se torne um problema ainda maior na lavoura.

O picão-preto já foi uma das plantas daninhas mais importantes em área produtoras de grãos.

Com o surgimento de culturas RR, ele se tornou menos problemático. Mas agora um novo alerta se acendeu para os produtores, após a divulgação de população de picão-preto resistente a glifosato no Paraguai.

Quer saber como identificar corretamente e fazer o manejo eficiente dessa planta daninha? A seguir, explicarei tudo isso, além do período ideal para controle e os herbicidas mais indicados. Confira!

Entenda pontos importantes sobre a biologia do picão-preto

O picão-preto (Bidens pilosa ou Bidens subalternans) é uma planta daninha de ciclo anual, com reprodução por sementes, que pode ser encontrada em quase todo o território brasileiro.

É possível realizar a diferenciação entre as duas principais espécies presentes no Brasil pela quantidade de arestas nos aquênios (B. pilosa 2-3 aristas e B. subalternans 4 aristas).

Além disso, a espécie B. pilosa possui flores periféricas com lígulas bem maiores.

fotos das principais características para diferenciação das espécies de picão-preto B. pilosa (figuras à esquerda: A, C, E, G) e B. subalternans (figuras B, D, F, H)

Principais características para diferenciação das espécies de picão-preto B. pilosa (figuras à esquerda: A, C, E, G) e B. subalternans (figuras B, D, F, H)
(Fonte: Hrac)

Essa ampla disseminação está associada a uma grande produção de sementes (3 mil a 6 mil sementes planta-1) e a um mecanismo de dormência. Isso possibilita as sementes emergirem em períodos mais favoráveis. 

As sementes do picão-preto são consideradas grandes e são disseminadas principalmente por animais, máquinas e implementos agrícolas.

A temperatura ideal para germinação é de 15℃, sendo que temperaturas acima de 35℃ podem ser letais.

Essa planta daninha é indiferente à presença de luz para germinar, porém, a luz pode melhorar seu percentual de germinação.  

As sementes podem emergir de grandes profundidades (próximas a 10 cm), além de possuírem uma grande longevidade, germinando mesmo após 5 anos.  

Devido a essas características germinativas, o acúmulo de palhada na área e cultivo do solo não são eficientes para controle de picão-preto.

Apesar da baixa capacidade competitiva com relação aos cultivos, o nível alto de infestação é comum em algumas áreas e pode refletir perdas no rendimento da lavoura. 

Por isso, é muito importante realizar o correto controle do picão na entressafra, pois ele pode ser “ponte verde” para pragas e doenças que afetam as culturas que vem em seguida. 

O picão-preto é uma das principais hospedeiras de nematoides do gênero Meloidogyne.

Picão-preto: histórico da resistência no Brasil 

O picão-preto já foi uma planta que trouxe muita dor de cabeça para os produtores mais experientes, sendo o primeiro caso de resistência de plantas daninhas registrado no Brasil. 

  • 1993 – B. pilosa resistente à ALS (Imazethapyr, imazaquin, pyrithiobac, chlorimuron e nicosulfuron);
  • 1996 – B. subalternans resistente à ALS (Imazethapyr, chlorimuron e nicosulfuron);
  • 2006 – B. subalternans resistente à ALS (Iodosulfuron e foramsulfuron) e à Fotossistema II (Atrazina);
  • 2016 – B. pilosa resistente à ALS (Imazethapyr) e à Fotossistema II (Atrazina).

Antes da utilização da soja RR, os mecanismo de ação ALS e Fotossistema II eram muito importantes para o controle de folhas largas na cultura da soja e do milho, principalmente em pós-emergência. 

Com ampla adoção a soja RR (a partir de 2006), o picão-preto deixou de ser um grande problema nas lavouras de grãos, pois o glifosato forneceu um excelente controle mesmo em plantas mais desenvolvidas. 

Mas uma luz de alerta que se acendeu para os produtores brasileiros foi o registro de picão-preto resistente a glifosato no Paraguai. Por ser fronteira com o Brasil, há alto tráfego de máquinas e implementos agrícolas na região.  

foto com vários vasos que demonstram Dose resposta para populações de picão-preto resistente a glifosato no Paraguai. Dose base 720 g e.a. ha-1 ou 1,95 L ha-1 de Roundup original®

Dose resposta para populações de picão-preto resistente a glifosato no Paraguai. Dose base 720 g e.a. ha-1 ou 1,95 L ha-1 de Roundup original®
(Fonte: Kzryzaniak et al., 2018)

Mesmo que as populações resistentes no Brasil tenham sido controladas por vários anos pelo glifosato, ao coletarmos populações de diversas regiões do Brasil, encontramos padrões muito próximos aos visto no passado para resistência a ALS e/ou Fotossistema II. 

Como evitar a seleção de resistência

Para garantir que não haja seleção de resistência para novos herbicidas ou disseminação de populações resistentes para novas áreas, é muito importante que o você siga estas dicas:    

  • conheça o histórico de resistência da sua área e região; 
  • realize rotação de mecanismo de ação de herbicidas;
  • inclua herbicidas pré-emergentes no manejo; 
  • siga os princípios básicos da tecnologia de aplicação
  • realize aplicações em pós-emergência sobre plantas pequenas; 
  • realize corretamente aplicações sequenciais; 
  • priorize controle na entressafra
  • realize rotação de culturas e adubação verde; 
  • realize a limpeza correta de máquinas ou implementos antes de utilizá-los em novas áreas.

Manejo de picão-preto na entressafra do sistema soja e milho

A entressafra é período ideal para um bom manejo de picão-preto, pois existe um número maior de herbicidas que podem ser utilizados.

É ideal que a aplicação ocorra em plantas de 2 a 4 folhas, pois as chances de sucesso são maiores!

Herbicidas pós-emergentes: 

2,4 D

Utilizado em primeiras aplicações de manejo sequencial, geralmente associado a outros herbicidas sistêmicos (ex: glifosato) ou pré-emergentes, na dose de 1,0 a 1,5 L ha-1

Cuidado com problemas de incompatibilidade no tanque (principalmente graminicidas). 

Quando utilizar 2,4 D próximo à semeadura de soja, deve-se deixar um intervalo entre a aplicação e a semeadura de 1 dia para cada 100 g i.a. ha-1 de produto utilizado. Cuidado com deriva em áreas vizinhas.

Glifosato 

Possui ótimo controle de plantas pequenas (2 a 4 folhas). Pode ser utilizado na primeira aplicação do manejo sequencial (associado a pré-emergentes), na dose de 2,0 a 3,0 L ha-1.

Glufosinato de amônio

Pode ser utilizado em plantas pequenas (2 folhas) ou em manejo sequencial para controle de rebrota de plantas maiores, na dose de 2,5 a 3,0 L ha-1.

Saflufenacil

Pode ser utilizado em plantas pequenas (2 folhas) ou em manejo sequencial para controle de rebrota de plantas maiores, na dose de 35 a 70 g ha-1.

Para manejo em solos arenosos com menos de 30% de argila e menos de 2% de matéria orgânica, é necessário um intervalo mínimo de 10 dias entre a aplicação e o plantio da soja. Não ultrapassar a dose máxima de 50 g/ha.

Triclopir 

Utilizado em primeiras aplicações de manejo sequencial, geralmente associado a outros herbicidas sistêmicos (ex: glifosato) ou pré-emergentes, na dose de 1,5 a 2,0 L ha-1

Quando utilizar triclopir próximo à semeadura de soja, deve-se deixar um intervalo entre a aplicação e a semeadura de no mínimo 20 dias. Cuidado com deriva em áreas vizinhas. 

Herbicidas pré-emergentes:

Flumioxazin

Herbicida com ação residual para controle de banco de sementes utilizado na primeira aplicação do manejo outonal associado a herbicidas sistêmicos (ex: glifosato e 2,4 D) ou no sistema de aplique-plante da soja. Recomendável dose de 40 a 100 g ha-1.

Sulfentrazone

Herbicida com ação residual para controle de banco de sementes utilizado na primeira aplicação do manejo outonal associado a herbicidas sistêmicos (ex: glifosato e 2,4 D). 

Recomenda-se dose de até 0,5 L ha-1, pois apresenta grande variação na seletividade de cultivares de soja

Recomendado principalmente para áreas onde também ocorre infestação de tiririca!

Manejo na pós-emergência das culturas de soja e milho

O manejo de picão-preto na pós-emergência da soja convencional é pouco recomendado, pois existem poucas opções que podem ser utilizadas e, devido ao estádio de desenvolvimento do picão-preto, apenas seguram o seu crescimento.

No caso de soja e milho RR, o glifosato ainda exerce um ótimo controle do picão-preto na pós-emergência. Entretanto, recomenda-se uma boa rotação de princípios ativos e atenção a escapes após aplicação do produto.  

Cloransulam

Utilizado em pós-emergência da soja, na dose de 35,7 g ha-1.

Na pós emergência do milho safrinha, pode-se utilizar bentazon na dose de 1,2 L ha-1 e mesotrione na dose de 0,3 a 0,4  L ha-1

Perspectivas futuras

Nos próximos anos, existe previsão da liberação comercial de novos “traits” de resistência a herbicidas para as culturas soja e milho que poderão auxiliar no controle picão-preto. 

  • Soja: Enlist (2,4D colina, glifosato e glufosinato de amônio) e Xtend (dicamba, glifosato).
  • Milho: Enlist (2,4D colina, glifosato, glufosinato de amônio e haloxyfop).

Conclusão

Neste artigo, você viu a importância econômica que o picão-preto possui em nosso país e como realizar um manejo eficiente em lavouras de grãos. 

Conferiu os principais herbicidas e as recomendações de dose para aplicações na entressafra e na pós-emergência das culturas de soja e milho.

Viu ainda que a realização de algumas práticas são essenciais para não agravar os problemas de plantas daninhas resistentes.

Espero que com essas dicas passadas aqui você consiga realizar um manejo eficiente de picão-preto!

>> Leia mais: “Saiba como a mucuna-preta pode ser uma boa opção para adubação verde”

Como você controla a infestação de picão-preto na lavoura hoje? Já enfrentou casos de resistência? Baixe também aqui o Guia gratuito para manejo de plantas daninhas de difícil controle!

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