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Cultivares de soja: Guia por região, produtividade e tecnologia

O Brasil lidera a produção mundial de soja desde 2021, com mais de 40% da produção global. 

Na safra 2024/25, segundo a Conab, o país colheu 168,3 milhões de toneladas do grão em 47,6 milhões de hectares cultivados. 

Esse resultado depende, entre outros fatores, da escolha correta da cultivar de soja

A cada safra, novas variedades de soja mais produtivas, resistentes a pragas e doenças e adaptadas a diferentes regiões são lançadas por empresas de genética e instituições de pesquisa. 

é preciso estar atento a essas novidades para fazer uma escolha assertiva, que leve em conta o grupo de maturação, o zoneamento agrícola (ZARC), a tecnologia embarcada e as condições específicas da sua lavoura.

O que são cultivares de soja e como são classificadas?

As cultivares de soja são variedades desenvolvidas a partir de técnicas de melhoramento genético, resultado de anos de pesquisa voltada a selecionar plantas com alto desempenho agronômico.

Entre os maiores benefícios estão as adaptações a diferentes condições climáticas e de solo, para uma maior produtividade, resistência a pragas e doenças e melhor qualidade dos grãos.

Com isso, as cultivares são classificadas em critérios agronômicos, genéticos e fisiológicos. Veja:

Classificação de cultivares da soja

Com várias opções no mercado, escolher a cultivar de soja ideal pode mudar tudo e das melhores forma de fazer isso é entendendo a classificação das cultivares.

As classificações consideram pontos como o ciclo de desenvolvimento, resposta ao ambiente, resistência a pragas e doenças e até a finalidade de uso dos grãos. Veja:

1. Grupo de maturação

Indica o ciclo da planta, ou seja, o tempo necessário entre o plantio e a colheita, correspondendo a períodos diferentes.

Essa classificação ajuda, principalmente, a escolher cultivares de acordo com o calendário agrícola da sua região.

2. Exigência em fotoperíodo (resposta à luz do dia)

A soja é uma planta sensível ao fotoperíodo, ou seja, ao comprimento do dia. Algumas cultivares são adaptadas a dias mais longos (sul do Brasil), outras a dias mais curtos (norte e nordeste).

Essa é uma das características que você deve considerar, especialmente se tiver propriedades agrícolas em mais de uma região do Brasil.

3. Hábito de crescimento

O hábito de crescimento define o padrão de desenvolvimento da planta ao longo do seu ciclo.

Essa característica influencia no manejo da lavoura, como o espaçamento entre linhas, a arquitetura da planta e o potencial produtivo em diferentes regiões.

4. Finalidade de uso

As cultivares de soja são classificadas pelo destino comercial e industrial da produção.

Algumas variedades são desenvolvidas para atender demandas específicas de mercado, com características que favorecem determinados segmentos, como:

Essa classificação permite que você alinhe a escolha da cultivar com as exigências da indústria ou com oportunidades comerciais mais vantajosas.

5. Resistência a pragas e doenças

Outro critério importante na escolha e classificação das cultivares de soja é a resistência genética a pragas e doenças.

Essa característica reduz o risco de perdas na lavoura e pode diminuir a necessidade de aplicações químicas, contribuindo para uma produção mais eficiente e sustentável. Entre os principais alvos da resistência estão doenças como:

Além disso, muitas cultivares já tem tolerância a herbicidas e pragas, como é o caso das tecnologias RR, IPRO e Enlist, que oferecem maior flexibilidade no manejo da lavoura.

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Qual a diferença entre cultivar e variedade? 

O termo cultivar é utilizado para definir uma planta obtida por meio de melhoramento genético, com características específicas como resistência, precocidade ou produtividade. 

variedade é um termo mais genérico e informal, frequentemente usado no campo, mas tecnicamente menos preciso.

As cultivares de soja são oficialmente registradas junto ao Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA)

Para cada cultivar, são definidos parâmetros como ciclo, porte, exigência em fertilidade, tolerância a doenças e resistência a herbicidas.

Classificação das cultivares por grupo de maturação (GRM) 

As cultivares de soja são agrupadas com base no Grupo de Maturação Relativa (GRM), que define a duração do ciclo da planta.

Esse grupo varia de 000 (muito precoce) até 10 (muito tardio). Os grupos mais usados no Brasil estão entre 5.0 e 9.0.

A escolha correta do GRM impacta no planejamento da janela de plantio, na implantação de culturas sucessoras e na sincronização com a disponibilidade hídrica.

Além disso, as regiões com clima mais quente e dias longos tendem a usar cultivares com GRM mais longo.

Cultivares transgênicas e convencionais: O que muda?

As cultivares de soja podem ser convencionais ou possuir tecnologias incorporadas, como tolerância a herbicidas e proteção contra pragas. As principais tecnologias disponíveis são:

A escolha depende do histórico de pragas e plantas daninhas na propriedade, bem como da logística de manejo fitossanitário adotado.

Lista das cultivares de soja mais plantadas no Brasil

Dados recentes da Embrapa Soja (2024) e relatórios de desempenho de empresas como Brasmax e Brevant na safra 2023/2024, as cinco cultivares mais plantadas no país foram:

  1. Brasmax Zeus IPRO;
  2. Brasmax Olimpo IPRO;
  3. BRS 1010IPRO;
  4. Brasmax Ímpeto I2X;
  5. Brevant B5595CE.

Juntas, essas variedades ocuparam mais de 4,2 milhões de hectares no Brasil, contemplando todas as regiões do país

A escolha baseada em dados regionais pode representar uma diferença no resultado final da safra.

1. Região Sul 

Com clima subtropical e solos bem estruturados, a Região Sul do Brasil tem condições ideais para cultivares de soja com alto desempenho, especialmente em áreas com altitudes acima de 500 metros.

Nesses cenários, variedades como Brasmax Titanium I2X e Brevant B5540E têm se destacado, alcançando médias entre 65 e 75 sacas por hectare, com excelente estabilidade produtiva.

Para atender às exigências da região, as cultivares mais utilizadas combinam alto teto produtivo, resistência à ferrugem-asiática e bom desempenho em altitudes elevadas. Entre as mais plantadas, estão:

2. Região Sudeste

Com áreas produtoras em São Paulo e Minas Gerais, essa região exige cultivares com bom enraizamento, adaptação a solos mais argilosos e capacidade de manejo em áreas de várzea.

3. Região Centro-Oeste e Cerrado 

Essa é a principal região produtora de soja do país, com hábito de clima mais quente e seco.

Por isso, as cultivares precisam tolerar altas temperaturas, déficit hídrico intermitente e apresentar precocidade para permitir segunda safra.

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Como escolher a cultivar de soja certa para sua propriedade?

A escolha da cultivar ideal deve considerar o ambiente de cultivo, o histórico da área e os objetivos da produção.

Cada talhão tem suas particularidades, que influenciam desde a sanidade da lavoura até a viabilidade econômica.

Fatores como janela de plantio, rotação de culturas e tecnologias embarcadas também pesam na decisão e afetam diretamente o resultado final.

Para ajudar nesta decisão, separamos os principais critérios técnicos para saber como escolher a cultivar de soja certa:

1. Avalie o clima e o solo

O primeiro passo é conhecer profundamente a realidade edafoclimática da sua região

Temperatura média, altitude, regime de chuvas e tipo de solo interferem diretamente no desempenho de cada cultivar. 

As cultivares com GRM compatível com o ciclo da safra local garantem melhor aproveitamento hídrico e fotoperiódico.

2. Histórico da área e fitossanidade 

Cultivares resistentes a doenças como ferrugem asiática, podridão radicular, mancha olho de rã e nematoides devem ser prioridade em áreas com incidência recorrente. 

O uso de cultivares protegidas evita perdas expressivas e reduz a pressão por aplicações de fungicidas e inseticidas.

3. Integração com culturas sucessoras 

É importante considerar o ciclo da cultivar para não comprometer o calendário de culturas subsequentes como milho safrinha, braquiária ou feijão.

O planejamento da rotação de culturas deve ser feito com base no GRM da soja e na janela ideal da cultura seguinte.

4. Disponibilidade de sementes e tecnologia desejada 

A aquisição de sementes certificadas, com garantia de vigor e pureza genética, é essencial.

Além disso, você deve avaliar se a propriedade comporta o manejo de tecnologias como Enlist, IPRO ou I2X, o que envolve custo, maquinário e compatibilidade com vizinhos.

Imagem de uma lavoura de soja, com folhas verdes, sob o sol, mostrando o céu com nuvens.

Figura 1. Lavoura de soja. Créditos: Agdaily (2019).

Tecnologias genéticas incorporadas às cultivares de soja

Escolher cultivares com tecnologias transgênicas é uma decisão estratégica para o sucesso da lavoura.

Essas cultivares ajudam no controle de pragas e plantas daninhas, facilitando o manejo e impactando na rentabilidade.

Mas cada tecnologia tem suas particularidades e por isso, é necessário avaliar bem antes de definir qual usar.

Comparativo técnico entre as principais tecnologias genéticas

TecnologiaHerbicidas ToleradosProteção Contra LagartasCusto Médio (R$/ha)Vantagens PrincipaisPontos de Atenção
RR (Roundup Ready)GlifosatoNão possui30–50Baixo custo, indicada para áreas com menor pressão de pragas.Maior uso de inseticidas e risco de resistência em plantas daninhas.
IPRO (Intacta RR2 PRO)GlifosatoSim (Bt)90–120Reduz o uso de inseticidas, proteção contra as principais lagartas.Uso contínuo pode favorecer resistência e requer rotação de tecnologias.
CE (Conkesta E3)Glifosato, 2,4-D, glufosinato de amônioSim (Bt)130–160Flexibilidade de manejo, eficaz contra lagartas e ideal para áreas com histórico de pragas.Requer cuidado com a deriva do 2,4-D perto de culturas sensíveis.
I2X (Intacta 2 Xtend)Glifosato, DicambaNão possui150–180Tolerância ampliada a herbicidas, ideal para áreas com resistência múltipla.Exige preparo técnico para aplicar dicamba e seguir as normas legais.

A escolha da tecnologia deve ser feita de acordo com a pressão de pragas, o histórico de manejo da fazenda, o perfil tecnológico do produtor e a logística de aplicação dos defensivos

Cultivares com essas biotecnologias agregam proteção e rendimento, mas o sucesso depende da adoção integrada de boas práticas agrícolas.

Novas cultivares para 2025/26: O que vem por aí?

A safra atual aposta em cultivares de soja com avanços consideráveis em biotecnologia.

As tecnologias Intacta2/Xtend® (I2X) e IPRO seguem como destaque, principalmente pela flexibilidade no manejo e pela proteção ampliada contra pragas e doenças.

A Embrapa Soja, a Fundação Meridional e empresas privadas como a Brasmax, Brevant e Don Mario lançaram cultivares que devem ganhar espaço significativo nas principais regiões produtoras. Destaques de lançamentos:

Zoneamento Agrícola de Risco Climático (ZARC) aplicado à soja

O ZARC é uma das ferramentas mais importantes disponíveis ao produtor no momento de planejar a implantação da lavoura de soja.

Com base em dados históricos de clima, solo e comportamento das cultivares, o zoneamento ajuda a reduzir perdas associadas à variabilidade climática, especialmente em regiões com risco elevado de veranicos, geadas ou escassez hídrica.

Sua aplicação permite o alinhamento entre a janela ideal de plantio e a escolha correta das cultivares, maximizando o potencial produtivo e a segurança da safra.

A versão mais recente do ZARC ainda oferece a classificação do solo com base na capacidade de armazenamento de água.

Isso torna as recomendações ainda mais precisas, considerando textura e profundidade do perfil agrícola.

Em solos com maior retenção hídrica, por exemplo, cultivares de ciclo mais longo são preferenciais.

Em uma propriedade no Mato Grosso, por exemplo, o zoneamento pode indicar que o plantio da cultivar
BRS 1010IPRO entre 10 e 25 de outubro tem baixo risco climático (20%), enquanto o mesmo plantio em novembro pode elevar o risco para 40%.

Mãos de uma pessoa segurando um punhado de sementes de soja pronta para ser semeada no campo

Figura 2. Semente de soja pronta para ser semeada no campo. Créditos: Agroquima (2020).

Vale a pena investir em cultivares resistentes a estresses e doenças?

Sim, investir em cultivares com resistência genética a estresses ambientais e fitossanitários vale a pena.

Esta tem sido uma das formas de preservar a produtividade e garantir maior segurança ao sistema de produção.

Com a instabilidade climática sendo cada vez mais comum no calendário agrícola brasileiro e o aumento da pressão por doenças, como ferrugem asiática e nematoides, a escolha de variedades ideal deixa de ser um diferencial e passa a ser uma medida estratégica, ajudando na:

1. Redução de perdas

Cultivares resistentes a doenças e estresses hídricos evitam perdas de produtividade, garantindo estabilidade mesmo em anos climáticos adversos.

Somente em 2023, a estiagem causou prejuízos de até R$ 13 bilhões em lavouras no Sul do Brasil, reforçando a importância de investir em variedades mais resilientes e adaptadas às condições locais.

2. Economia em aplicações químicas

Algumas cultivares conseguem diminuir a necessidade de fungicidas e inseticidas, reduzindo o custo operacional e o número de passadas com trator, preservando o solo e diminuindo a compactação.

Junto disso, contribui para uma produção mais sustentável, com menor o impacto ambiental e o consumo de insumos.

Quanto menos defensivos você aplicar, menor serão os riscos de resíduos químicos nos alimentos e melhor será a eficiência geral da lavoura.

3. Maior adaptabilidade

Cultivares tolerantes a estresses térmicos, déficit hídrico e doenças tem maior adaptação, facilitando o manejo em diferentes áreas da fazenda e ao longo de safras subsequentes.

Essa característica reduz os riscos associados a variações climáticas, otimiza a rotação de culturas e aproveitar melhor o potencial produtivo de cada talhão.

Essa adaptação também facilita o planejamento da fazenda, deixa a lavoura mais resistente a imprevistos e ajuda a obter resultados mais estáveis a cada ano.

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Exemplo de cultivares tolerantes

A cultivar Brasmax Ímpeto I2X tem ampla adaptação a solos de média fertilidade, resistência a nematoide de cisto e excelente desempenho sob estresse hídrico, sendo ideal para regiões do MATOPIBA e oeste baiano.

Investir em cultivares tolerantes evita perda, diminui custos com defensivos e aumenta a estabilidade da produção, mesmo em condições climáticas adversas.

E para tomar a decisão certa sobre qual cultivar plantar, o app Aegro Negócios pode ser um grande aliado. Com ele, é possível:

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Redator Alasse Oliveira

Alasse Oliveira

Engenheiro Agrônomo, Mestre e Doutorando em Produção Vegetal pela (ESALQ/USP). Especialista em Manejo e Produção de Culturas no Brasil.

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