O Brasil lidera a produção mundial de soja desde 2021, com mais de 40% da produção global.
Na safra 2024/25, segundo a Conab, o país colheu 168,3 milhões de toneladas do grão em 47,6 milhões de hectares cultivados.
Esse resultado depende, entre outros fatores, da escolha correta da cultivar de soja.
A cada safra, novas variedades de soja mais produtivas, resistentes a pragas e doenças e adaptadas a diferentes regiões são lançadas por empresas de genética e instituições de pesquisa.
é preciso estar atento a essas novidades para fazer uma escolha assertiva, que leve em conta o grupo de maturação, o zoneamento agrícola (ZARC), a tecnologia embarcada e as condições específicas da sua lavoura.
Índice do Conteúdo
- 1 O que são cultivares de soja e como são classificadas?
- 2 Qual a diferença entre cultivar e variedade?
- 3 Lista das cultivares de soja mais plantadas no Brasil
- 4 Como escolher a cultivar de soja certa para sua propriedade?
- 5 Tecnologias genéticas incorporadas às cultivares de soja
- 6 Novas cultivares para 2025/26: O que vem por aí?
- 7 Vale a pena investir em cultivares resistentes a estresses e doenças?
O que são cultivares de soja e como são classificadas?
As cultivares de soja são variedades desenvolvidas a partir de técnicas de melhoramento genético, resultado de anos de pesquisa voltada a selecionar plantas com alto desempenho agronômico.
Entre os maiores benefícios estão as adaptações a diferentes condições climáticas e de solo, para uma maior produtividade, resistência a pragas e doenças e melhor qualidade dos grãos.
Com isso, as cultivares são classificadas em critérios agronômicos, genéticos e fisiológicos. Veja:
Classificação de cultivares da soja
Com várias opções no mercado, escolher a cultivar de soja ideal pode mudar tudo e das melhores forma de fazer isso é entendendo a classificação das cultivares.
As classificações consideram pontos como o ciclo de desenvolvimento, resposta ao ambiente, resistência a pragas e doenças e até a finalidade de uso dos grãos. Veja:
1. Grupo de maturação
Indica o ciclo da planta, ou seja, o tempo necessário entre o plantio e a colheita, correspondendo a períodos diferentes.
- Ciclo precoce: 90 a 110 dias
- Ciclo médio: 111 a 130 dias
- Ciclo tardio: acima de 130 dias
Essa classificação ajuda, principalmente, a escolher cultivares de acordo com o calendário agrícola da sua região.
2. Exigência em fotoperíodo (resposta à luz do dia)
A soja é uma planta sensível ao fotoperíodo, ou seja, ao comprimento do dia. Algumas cultivares são adaptadas a dias mais longos (sul do Brasil), outras a dias mais curtos (norte e nordeste).
Essa é uma das características que você deve considerar, especialmente se tiver propriedades agrícolas em mais de uma região do Brasil.
3. Hábito de crescimento
O hábito de crescimento define o padrão de desenvolvimento da planta ao longo do seu ciclo.
Essa característica influencia no manejo da lavoura, como o espaçamento entre linhas, a arquitetura da planta e o potencial produtivo em diferentes regiões.
- Indeterminado: Crescimento contínuo mesmo após o florescimento, comum em regiões de clima mais frio;
- Semideterminado ou determinado: Crescimento limitado após o florescimento, mais comum em regiões tropicais.
4. Finalidade de uso
As cultivares de soja são classificadas pelo destino comercial e industrial da produção.
Algumas variedades são desenvolvidas para atender demandas específicas de mercado, com características que favorecem determinados segmentos, como:
- Consumo humano;
- Produção de óleo;
- Ração animal;
- Exportação (grãos com alto teor de proteína ou óleo).
Essa classificação permite que você alinhe a escolha da cultivar com as exigências da indústria ou com oportunidades comerciais mais vantajosas.
5. Resistência a pragas e doenças
Outro critério importante na escolha e classificação das cultivares de soja é a resistência genética a pragas e doenças.
Essa característica reduz o risco de perdas na lavoura e pode diminuir a necessidade de aplicações químicas, contribuindo para uma produção mais eficiente e sustentável. Entre os principais alvos da resistência estão doenças como:
- Ferrugem-asiática;
- Nematoides;
- Cancro da haste;
- Mancha-alvo.
Além disso, muitas cultivares já tem tolerância a herbicidas e pragas, como é o caso das tecnologias RR, IPRO e Enlist, que oferecem maior flexibilidade no manejo da lavoura.

Qual a diferença entre cultivar e variedade?
O termo cultivar é utilizado para definir uma planta obtida por meio de melhoramento genético, com características específicas como resistência, precocidade ou produtividade.
Já variedade é um termo mais genérico e informal, frequentemente usado no campo, mas tecnicamente menos preciso.
As cultivares de soja são oficialmente registradas junto ao Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA).
Para cada cultivar, são definidos parâmetros como ciclo, porte, exigência em fertilidade, tolerância a doenças e resistência a herbicidas.
Classificação das cultivares por grupo de maturação (GRM)
As cultivares de soja são agrupadas com base no Grupo de Maturação Relativa (GRM), que define a duração do ciclo da planta.
Esse grupo varia de 000 (muito precoce) até 10 (muito tardio). Os grupos mais usados no Brasil estão entre 5.0 e 9.0.
A escolha correta do GRM impacta no planejamento da janela de plantio, na implantação de culturas sucessoras e na sincronização com a disponibilidade hídrica.
Além disso, as regiões com clima mais quente e dias longos tendem a usar cultivares com GRM mais longo.
Cultivares transgênicas e convencionais: O que muda?
As cultivares de soja podem ser convencionais ou possuir tecnologias incorporadas, como tolerância a herbicidas e proteção contra pragas. As principais tecnologias disponíveis são:
- RR (Roundup Ready): Resistência ao glifosato;
- IPRO: Proteção contra lagartas + tolerância ao glifosato.
- CE (Conkesta E3): Resistência a glifosato, 2,4-D e glufosinato;
- I2X (Intacta 2 Xtend): Proteção contra múltiplas pragas e tolerância ao dicamba.
A escolha depende do histórico de pragas e plantas daninhas na propriedade, bem como da logística de manejo fitossanitário adotado.
Lista das cultivares de soja mais plantadas no Brasil
Dados recentes da Embrapa Soja (2024) e relatórios de desempenho de empresas como Brasmax e Brevant na safra 2023/2024, as cinco cultivares mais plantadas no país foram:
- Brasmax Zeus IPRO;
- Brasmax Olimpo IPRO;
- BRS 1010IPRO;
- Brasmax Ímpeto I2X;
- Brevant B5595CE.
Juntas, essas variedades ocuparam mais de 4,2 milhões de hectares no Brasil, contemplando todas as regiões do país
A escolha baseada em dados regionais pode representar uma diferença no resultado final da safra.
1. Região Sul
Com clima subtropical e solos bem estruturados, a Região Sul do Brasil tem condições ideais para cultivares de soja com alto desempenho, especialmente em áreas com altitudes acima de 500 metros.
Nesses cenários, variedades como Brasmax Titanium I2X e Brevant B5540E têm se destacado, alcançando médias entre 65 e 75 sacas por hectare, com excelente estabilidade produtiva.
Para atender às exigências da região, as cultivares mais utilizadas combinam alto teto produtivo, resistência à ferrugem-asiática e bom desempenho em altitudes elevadas. Entre as mais plantadas, estão:
- Brasmax Zeus IPRO: Reconhecida pela precocidade, alto potencial produtivo e tolerância à podridão radicular;
- Brasmax Titanium I2X: Versátil e bem adaptada aos estados do PR, SC e RS, com resistência à ferrugem.
- Brevant B5540E: Com tecnologia Enlist, apresenta boa estabilidade e possibilidade de uso em segunda safra.
2. Região Sudeste
Com áreas produtoras em São Paulo e Minas Gerais, essa região exige cultivares com bom enraizamento, adaptação a solos mais argilosos e capacidade de manejo em áreas de várzea.
- Brasmax Coliseu I2X: Grupo 6.3, ótimo engalhamento e pacote fitossanitário robusto;
- Brevant B5595CE: Indicado para várzeas drenadas, resistente à fitóftora;
- Brasmax Torque I2X: Precocidade e ótimo desempenho em altitudes elevadas.
3. Região Centro-Oeste e Cerrado
Essa é a principal região produtora de soja do país, com hábito de clima mais quente e seco.
Por isso, as cultivares precisam tolerar altas temperaturas, déficit hídrico intermitente e apresentar precocidade para permitir segunda safra.
- Brevant B5830CE: Cultivar precoce com excelente arquitetura;
- Brasmax Olimpo IPRO: Recordista em produtividade no Desafio CESB;
- Brasmax Ímpeto I2X: Ampla adaptação, resistência a nematoide de cisto.

Como escolher a cultivar de soja certa para sua propriedade?
A escolha da cultivar ideal deve considerar o ambiente de cultivo, o histórico da área e os objetivos da produção.
Cada talhão tem suas particularidades, que influenciam desde a sanidade da lavoura até a viabilidade econômica.
Fatores como janela de plantio, rotação de culturas e tecnologias embarcadas também pesam na decisão e afetam diretamente o resultado final.
Para ajudar nesta decisão, separamos os principais critérios técnicos para saber como escolher a cultivar de soja certa:
1. Avalie o clima e o solo
O primeiro passo é conhecer profundamente a realidade edafoclimática da sua região.
Temperatura média, altitude, regime de chuvas e tipo de solo interferem diretamente no desempenho de cada cultivar.
As cultivares com GRM compatível com o ciclo da safra local garantem melhor aproveitamento hídrico e fotoperiódico.
2. Histórico da área e fitossanidade
Cultivares resistentes a doenças como ferrugem asiática, podridão radicular, mancha olho de rã e nematoides devem ser prioridade em áreas com incidência recorrente.
O uso de cultivares protegidas evita perdas expressivas e reduz a pressão por aplicações de fungicidas e inseticidas.
3. Integração com culturas sucessoras
É importante considerar o ciclo da cultivar para não comprometer o calendário de culturas subsequentes como milho safrinha, braquiária ou feijão.
O planejamento da rotação de culturas deve ser feito com base no GRM da soja e na janela ideal da cultura seguinte.
4. Disponibilidade de sementes e tecnologia desejada
A aquisição de sementes certificadas, com garantia de vigor e pureza genética, é essencial.
Além disso, você deve avaliar se a propriedade comporta o manejo de tecnologias como Enlist, IPRO ou I2X, o que envolve custo, maquinário e compatibilidade com vizinhos.

Figura 1. Lavoura de soja. Créditos: Agdaily (2019).
Tecnologias genéticas incorporadas às cultivares de soja
Escolher cultivares com tecnologias transgênicas é uma decisão estratégica para o sucesso da lavoura.
Essas cultivares ajudam no controle de pragas e plantas daninhas, facilitando o manejo e impactando na rentabilidade.
Mas cada tecnologia tem suas particularidades e por isso, é necessário avaliar bem antes de definir qual usar.
Comparativo técnico entre as principais tecnologias genéticas
Tecnologia | Herbicidas Tolerados | Proteção Contra Lagartas | Custo Médio (R$/ha) | Vantagens Principais | Pontos de Atenção |
---|---|---|---|---|---|
RR (Roundup Ready) | Glifosato | Não possui | 30–50 | Baixo custo, indicada para áreas com menor pressão de pragas. | Maior uso de inseticidas e risco de resistência em plantas daninhas. |
IPRO (Intacta RR2 PRO) | Glifosato | Sim (Bt) | 90–120 | Reduz o uso de inseticidas, proteção contra as principais lagartas. | Uso contínuo pode favorecer resistência e requer rotação de tecnologias. |
CE (Conkesta E3) | Glifosato, 2,4-D, glufosinato de amônio | Sim (Bt) | 130–160 | Flexibilidade de manejo, eficaz contra lagartas e ideal para áreas com histórico de pragas. | Requer cuidado com a deriva do 2,4-D perto de culturas sensíveis. |
I2X (Intacta 2 Xtend) | Glifosato, Dicamba | Não possui | 150–180 | Tolerância ampliada a herbicidas, ideal para áreas com resistência múltipla. | Exige preparo técnico para aplicar dicamba e seguir as normas legais. |
A escolha da tecnologia deve ser feita de acordo com a pressão de pragas, o histórico de manejo da fazenda, o perfil tecnológico do produtor e a logística de aplicação dos defensivos.
Cultivares com essas biotecnologias agregam proteção e rendimento, mas o sucesso depende da adoção integrada de boas práticas agrícolas.
Novas cultivares para 2025/26: O que vem por aí?
A safra atual aposta em cultivares de soja com avanços consideráveis em biotecnologia.
As tecnologias Intacta2/Xtend® (I2X) e IPRO seguem como destaque, principalmente pela flexibilidade no manejo e pela proteção ampliada contra pragas e doenças.
A Embrapa Soja, a Fundação Meridional e empresas privadas como a Brasmax, Brevant e Don Mario lançaram cultivares que devem ganhar espaço significativo nas principais regiões produtoras. Destaques de lançamentos:
- BRS 1056IPRO: Elevada resistência à podridão parda da haste e podridão radicular de Phytophthora. Mostrou até 6,8% de produtividade superior a cultivares comerciais líderes;
- BRS 1064IPRO: Adaptada ao plantio antecipado, oferece resistência múltipla e excelente desenvolvimento radicular;
- BRS 2361 I2X: Tolerante a glifosato e dicamba, apresenta proteção contra seis espécies de lagartas, com produtividades superiores a 5.000 kg/ha em áreas do Paraná;
- BRS 2058 I2X: Desenvolvida para regiões de altitude acima de 650 metros, com destaque para áreas frias da Região Sul;
- BRS 539: Indicada para plantio antecipado no Sul e Sudeste, com tolerância à ferrugem asiática e percevejos;
- BRS 1075IPRO: Produtividade até 7% superior à média regional, com pacote fitossanitário robusto;
- BRS 774RR: Excelente opção para produtores que optam por RR, com bom desempenho em ambientes controlados e baixo custo por hectare;
- Brasmax Ímpeto I2X: Alta estabilidade e excelente adaptação no Centro-Oeste;
- Brevant B5595CE e B5830CE: Tolerância a fitóftora e excelente arquitetura de planta, ideais para ambientes de várzea ou solos argilosos;
- Don Mario DM 66I69 IPRO: Alto potencial produtivo no Cerrado com excelente sanidade foliar.
Zoneamento Agrícola de Risco Climático (ZARC) aplicado à soja
O ZARC é uma das ferramentas mais importantes disponíveis ao produtor no momento de planejar a implantação da lavoura de soja.
Com base em dados históricos de clima, solo e comportamento das cultivares, o zoneamento ajuda a reduzir perdas associadas à variabilidade climática, especialmente em regiões com risco elevado de veranicos, geadas ou escassez hídrica.
Sua aplicação permite o alinhamento entre a janela ideal de plantio e a escolha correta das cultivares, maximizando o potencial produtivo e a segurança da safra.
A versão mais recente do ZARC ainda oferece a classificação do solo com base na capacidade de armazenamento de água.
Isso torna as recomendações ainda mais precisas, considerando textura e profundidade do perfil agrícola.
Em solos com maior retenção hídrica, por exemplo, cultivares de ciclo mais longo são preferenciais.
Em uma propriedade no Mato Grosso, por exemplo, o zoneamento pode indicar que o plantio da cultivar
BRS 1010IPRO entre 10 e 25 de outubro tem baixo risco climático (20%), enquanto o mesmo plantio em novembro pode elevar o risco para 40%.

Figura 2. Semente de soja pronta para ser semeada no campo. Créditos: Agroquima (2020).
Vale a pena investir em cultivares resistentes a estresses e doenças?
Sim, investir em cultivares com resistência genética a estresses ambientais e fitossanitários vale a pena.
Esta tem sido uma das formas de preservar a produtividade e garantir maior segurança ao sistema de produção.
Com a instabilidade climática sendo cada vez mais comum no calendário agrícola brasileiro e o aumento da pressão por doenças, como ferrugem asiática e nematoides, a escolha de variedades ideal deixa de ser um diferencial e passa a ser uma medida estratégica, ajudando na:
1. Redução de perdas
Cultivares resistentes a doenças e estresses hídricos evitam perdas de produtividade, garantindo estabilidade mesmo em anos climáticos adversos.
Somente em 2023, a estiagem causou prejuízos de até R$ 13 bilhões em lavouras no Sul do Brasil, reforçando a importância de investir em variedades mais resilientes e adaptadas às condições locais.
2. Economia em aplicações químicas
Algumas cultivares conseguem diminuir a necessidade de fungicidas e inseticidas, reduzindo o custo operacional e o número de passadas com trator, preservando o solo e diminuindo a compactação.
Junto disso, contribui para uma produção mais sustentável, com menor o impacto ambiental e o consumo de insumos.
Quanto menos defensivos você aplicar, menor serão os riscos de resíduos químicos nos alimentos e melhor será a eficiência geral da lavoura.
3. Maior adaptabilidade
Cultivares tolerantes a estresses térmicos, déficit hídrico e doenças tem maior adaptação, facilitando o manejo em diferentes áreas da fazenda e ao longo de safras subsequentes.
Essa característica reduz os riscos associados a variações climáticas, otimiza a rotação de culturas e aproveitar melhor o potencial produtivo de cada talhão.
Essa adaptação também facilita o planejamento da fazenda, deixa a lavoura mais resistente a imprevistos e ajuda a obter resultados mais estáveis a cada ano.

Exemplo de cultivares tolerantes
A cultivar Brasmax Ímpeto I2X tem ampla adaptação a solos de média fertilidade, resistência a nematoide de cisto e excelente desempenho sob estresse hídrico, sendo ideal para regiões do MATOPIBA e oeste baiano.
Investir em cultivares tolerantes evita perda, diminui custos com defensivos e aumenta a estabilidade da produção, mesmo em condições climáticas adversas.
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Engenheiro Agrônomo, Mestre e Doutorando em Produção Vegetal pela (ESALQ/USP). Especialista em Manejo e Produção de Culturas no Brasil.