Fique atento e veja agora as principais diferenças entre calagem e gessagem. Confira!!
De cada 3 hectares de terra no Brasil, 2 apresentam elevada acidez, o que a correção do solo pode eliminar.
E um solo ácido influencia diretamente na perda de produtividade.
Esses solos são caracterizados por baixas concentrações de cálcio e magnésio, muito importantes para desenvolvimento do sistema radicular.
E ninguém quer perder produtividade por erros cometidos antes mesmo de realizar o plantio, não é mesmo?
Portanto, a correção da acidez da sua propriedade, não pode ser ignorada e a calagem é a medida mais aconselhável para mudar este cenário.
Outra prática muito importante que é sempre citada quando se fala em calagem, é a gessagem.
Embora sejam técnicas agrícolas consideradas simples, sempre surgem dúvidas!
Você sabe quando fazer a calagem ou quando realizar a gessagem? Ou como calcular e como elas auxiliam na nutrição das plantas?
Agora é a hora de você entender tudo isso sobre a calagem e gessagem, confira:
Índice do Conteúdo
Calagem e gessagem na acidez do solo, CTC e disponibilidade de nutrientes
Antes de explicar para que servem a calagem e a gessagem, alguns termos importantes que envolvem essas duas técnicas devem ser mencionados:
Acidez do solo
Vemos a acidez do solo no valor de pH dele, sendo que solos mais ácidos têm pH mais baixos.
Existem diferentes tipos de acidez, mas vamos dar maior importância para duas delas:.
- Acidez ativa: é a quantidade de H+ na solução do solo, estimada somente pelo pH;
- Acidez potencial: é somatória do alumínio (Al3+) e hidrogênio (H+) presentes no solo.
O aumento do pH em solos ácidos, é crucial para atingir maiores produtividades.
No entanto, não se engane achando que pH muito alto significa maior produtividade.
Falando nisso, você pode conferir neste artigo os 7 segredos da alta produção agrícola que ninguém te conta.
Existe uma faixa ideal de valor de pH que irá influenciar na disponibilidade dos nutrientes na solução do solo.
A figura abaixo ilustra como é a disponibilidade dos nutrientes de acordo com a faixa do pH.

(Fonte: InCeres)
A faixa ideal de pH, deve variar entre 6,0 e 6,5, já que é a mais adequada para a maioria das culturas, resultando em melhor disponibilidade de nutrientes.
Outro termo importante que devo explicar para você é sobre a CTC:
>> 9 perguntas e respostas que você deve saber para obter alta produtividade de milho
>> Melhorando a produtividade da lavoura de arroz
CTC do solo
CTC é a capacidade de troca de cátions do solo.
Um solo é composto por partículas de argila e de matéria orgânica, são os chamados colóides.
A CTC de um solo representa a quantidade total de cátions retidos à superfície desses materiais em condição de troca com a solução do solo (Ca²+ + Mg²+ + K+ + H+ + Al³+).
Isso representa a capacidade gradual de liberação de vários nutrientes.
Como você pode notar, nos colóides estão ligados os principais nutrientes para a sua lavoura absorver, como cálcio, magnésio, potássio, etc.
Mas quando o solo é ácido e com alto teor de alumínio, o hidrogênio e alumínio tomam o lugar desses nutrientes, prejudicando a produtividade.
Por isso, quanto maior a CTC do solo, melhor será sua fertilidade, pois os colóides poderão se ligar a mais nutrientes essenciais para as plantas.
Importante ressaltar que CTC baixa e variável são características de solos tropicais.
Sendo assim, para melhorar a fertilidade de um solo, deve-se também melhorar a capacidade de troca de cátions.
Ainda nesse sentido, o alumínio é um elemento muito tóxico para as plantas e causa sérios problemas para o desenvolvimento do sistema radicular, prejudicando na absorção de água e nutrientes.
E é a saturação de alumínio (m%) na análise de solo que verificamos para determinar a toxidez desse elemento no nosso solo.
Quando a porcentagem de saturação por alumínio (m%) passa de 20% é considerada prejudicial.
Agora que você entendeu os termos, vamos ver como a calagem e gessagem podem influenciar no solo para torná-lo mais fértil para o cultivo:
>> Como saber seu custo de produção agrícola
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Calagem e gessagem: para que servem
Função da calagem
A calagem corrige a acidez do solo pelo aumento do pH.
Assim, a calagem neutraliza a acidez ativa e potencial (aquelas duas que falamos no começo do texto).
Isso faz com que se aumente a disponibilidade de nutrientes na solução do solo, especialmente cálcio e magnésio.

(Fonte: Grain SA traduzido por Aegro)
A calagem requer uniformidade na aplicação, pois possui reação lenta com o solo, realizando-se antes das adubações (por volta de 3 meses antes).
Essa prática atua nos primeiros 20 centímetros de profundidade, podendo ser incorporado, já que apresenta solubilidade extremamente baixa, dificultando sua ação em maiores profundidades.
Função da gessagem
A gessagem é a prática de aplicação do gesso agrícola (CaSO4).
Esse gesso é um subproduto da indústria de fertilizantes fosfatados concentrado e contém cerca de 20% de cálcio, 15% de enxofre, 0,7% de P2O5 e 0,6% de flúor.
Ele não é corretivo de solo, ou seja, ele não aumenta o pH.
Mas o gesso apresenta mobilidade no perfil, atuando em camadas de subsuperfície, além dos 20 centímetros.
Dessa maneira, ele pode levar a profundidades maiores alguns nutrientes fornecidos pela calagem, cátions básicos, como o cálcio, fornecido pela calagem, e enxofre.
Ou seja, a gessagem potencializa os efeitos da calagem, além de também apresentar seus próprios benefícios.
Diversos autores caracterizam o gesso agrícola como um condicionador de solo, já que, devido a sua alta solubilidade, consegue penetrar facilmente no perfil e fornecer cálcio às camadas mais profundas.
Principais diferenças entre calagem e gessagem

Lembrando que a CTC do solo é aumentada pela calagem especialmente pelo fato de que os solos brasileiros possuem cargas negativas variáveis (solos com argila 1:1), ou seja, que dependem do pH do solo.
Assim, com o aumento de pH há também o aumento de cargas negativas de solos com CTC variável, como ressaltam Embrapa e International Plant Nutrition Institute (IPNI).
Além de que, a CTC efetiva (Soma de Bases + Al) é aumentada pelo fornecimento de cálcio e magnésio.
Agora veremos os benefícios da calagem e gessagem:
>> Como fazer administração rural com essas 3 ferramentas mesmo não sabendo nada de tecnologia
>> Administração rural: 5 definições que talvez você tinha dúvida
Benefícios da calagem e gessagem
Além de elevar o pH do solo, a calagem promove várias alterações químicas no solo que trazem alguns benefícios:
- Correção da toxidez do alumínio tóxico;
- Aumenta a capacidade de troca de cátions (CTC);
- Diminui a lixiviação de diversos nutrientes (lavagem de nutrientes para camadas onde as raízes não chegam);
- Aumenta a disponibilidade de nitrogênio, cálcio, fósforo, enxofre (os macronutrientes), molibdênio (micronutriente), assim como foi ilustrado na figura 1;
- Fornecimento de cálcio e magnésio;
- Aumento da atividade microbiana
Se o calcário é dolomítico, pode aumentar a disponibilidade de magnésio para as plantas.
Outro benefício importante é que a calagem tem efeito residual de 5 anos, dependendo da dose aplicada, podendo chegar a até 20 anos.
Com relação à gessagem, os benefícios são:
- Fornecer cálcio em profundidade;
- Redução da toxidez de alumínio em subsuperfície;
- Aprofunda o crescimento radicular além de melhorar sua distribuição;
- Melhora a absorção de nutrientes e água;
- Proporciona maior tolerância a veranicos (período de estiagem);
A figura abaixo ilustra a comparação de dois sistemas radiculares. Na foto A não é aplicado gesso, já na foto B foi aplicado gesso no solo antes do cultivo.

(Fonte: Embrapa)
Nas figuras abaixo você pode ver a distribuição de raízes e captação da água no perfil do solo com ou sem aplicação de gesso:


Aproveitamento da água após um veranico, para tratamentos sem e com aplicação de gesso
(Fonte: Embrapa Cerrado)
O gesso também pode ser utilizado como fertilizante, fornecendo cálcio e enxofre.
O efeito residual da gessagem também é proporcional à dosagem aplicada, mas dura poucos meses, por causa de sua principal característica: a alta solubilidade.
Saiba mais sobre a compra de corretivos em “Esteja preparado e não se engane na pré-safra: saiba quais corretivos utilizar”.
Mas como são feitas as aplicações de gesso e calcário?
Como são feitas calagem e gessagem do solo
Para as duas práticas, o primeiro passo é sempre realizar a análise de solo, coletando as amostras adequadamente e enviá-las para laboratórios credenciados.
Saiba mais sobre amostras de solo e laboratórios credenciados neste artigo sobre gestão agrícola.
Ao calcular a dose de calcário a ser aplicado, deve-se considerar os dados da camada 0-20 cm de uma análise de solo.
Já para aplicação de gesso, considera-se os dados da camada 20-40 cm.
A aplicação do gesso deve ser feita em área total, sempre antes do cultivo.
As recomendações antigas indicam que a gessagem deve ser feita de um a três meses depois da calagem.
No entanto, estudos atuais realizados pela Embrapa Agropecuária Oeste revelaram que há possibilidade de aplicação de gesso a lanço, associado com a calagem, sem prejudicar a correção da acidez.
Outro estudo da Embrapa, mostra que a utilização de gesso em mistura com o calcário causam os seguintes benefícios:
- Produto de melhores propriedades físicas;
- Distribuição mais homogênea;
- Maior facilidade na aplicação;
- A mistura (calcário + gesso) é mais econômica do que a aplicação individual;
Para a aplicação de calcário e/ou gesso, utilizam-se equipamentos com dosador volumétrico tipo esteira, com distribuidor centrífugo de dois discos, como este na figura abaixo:

Aplicação mecanizada de corretivo: distribuidor de corretivos de arrasto
(Fonte: Unesp – FCA Jaboticabal)
Veja também : “O que é administração rural e como usar em sua propriedade”.
Agora que você sabe tanto sobre calagem e gessagem, vamos ver o cálculo de gessagem:
Cálculo de gessagem
A recomendação de gesso, como já comentei, é feita com base a análise de solo, feita por amostragem de subsuperfície (20-40 cm e 30-60 cm).
A dose deve ser calculada considerando dois fatores:
- Se o teor de Ca < 0,5 cmolc/dm3;
- Se a saturação por alumínio >20%;
A partir disso, para calcular a Necessidade de Gesso (NG) (kg/ha) leve em consideração a textura do solo (teor de argila):
1. Para culturas anuais:
NG (kg/ha) = 5 x teor de argila (g/Kg) ou
NG(kg/ha) = 50 x % argila
2. Para culturas perenes:
NG (kg/ha) = 7,5 x teor de argila (g/Kg) ou
NG(kg/ha) = 75 x % de argila
Você também pode consultar a tabela de recomendação de gessagem feita pela Embrapa ao invés de utilizar as fórmulas:

Recomendação de gesso agrícola em função da classificação textural do solo para culturas anuais e perenes
(Fonte: Embrapa)
Além disso, caso você tenha dúvidas sobre como calcular a calagem ou qual calcário deve escolher, pode relembrar, neste artigo:
>> Tudo o que você precisa saber sobre cálculo de calagem (+calcário líquido)
Conclusão
Agora que você compreendeu as diferenças entre a calagem e a gessagem, vai ficar mais fácil de tomar a decisão se deve ou não realizar estas práticas, quando e como.
Não deixe de fazer a análise de solo de superfície e subsuperfície para saber se a sua área precisa correção.
Essas técnicas são muito importantes para aumentar a produtividade, tem ótimo custo benefício e devem ser feitas com o máximo de atenção!
>>Leia mais: “Como o PRNT do calcário pode mudar toda a sua correção de solo“
Como você faz a calagem e gessagem na sua propriedade? Tem alguma dica sobre essas práticas? Ou calcula de forma diferente a dose de gesso ou calcário? Adoraria ver seu comentário abaixo!