A inoculação da soja com Bradyrhizobium é uma prática consagrada no manejo biológico, responsável por suprir até 85% da demanda de nitrogênio da planta via fixação biológica (FBN).
Para potencializar esse processo, tem ganhado destaque a coinoculação, que combina Bradyrhizobium com Azospirillum brasilense.
Essa associação estimula o crescimento radicular, melhora a absorção de água e nutrientes e pode gerar até 25% de aumento na produtividade em relação à inoculação convencional, especialmente em solos com baixa disponibilidade de nitrogênio.
Além disso, a coinoculação favorece a emergência uniforme, o vigor inicial das plantas e a formação de maior massa de raízes e parte aérea, impactando positivamente o rendimento final da lavoura, em especial da soja.
Índice do Conteúdo
O que é a coinoculação em soja?
A coinoculação em soja consiste na aplicação conjunta de diferentes microrganismos benéficos no sistema de inoculação da soja.
Nessa técnica, combina o uso de bactérias dos gêneros Bradyrhizobium e Azospirillum, cada uma com funções distintas no desenvolvimento da planta.
As bactérias do gênero Bradyrhizobium fixam o nitrogênio atmosférico (N₂), convertendo em formas que as plantas conseguem absorver e usar no seu desenvolvimento.
Nesse processo a Bradyrhizobium japonicum e a Bradyrhizobium elkanii são as mais utilizadas, mas bactérias do gênero Azospirillum, especialmente Azospirillum brasilense, são associadas à promoção de crescimento vegetal.
As duas atuam na síntese de fitormônios (como auxinas), favorecem o desenvolvimento do sistema radicular e ampliam a capacidade de absorção de água e nutrientes.
Além disso, A. brasilense solubiliza fosfatos minerais, aumentando o fósforo disponível no solo. Com isso, os dois gêneros de bactérias ajudam a:
- Suprir o fornecimento de nitrogênio para as plantas;
- Contribuir para o desenvolvimento da soja;
- Melhorar o estado nutricional da lavoura;
- Aumentar a produtividade.

Como fazer a coinoculação em soja?
Os inoculantes com bactérias podem ser aplicados no sulco de plantio ou misturados às sementes de soja.
No caso da aplicação nas sementes, é importante que o processo seja realizado à sombra, com a mistura podendo ser feita em betoneira, tambor rotativo ou máquinas específicas.
Depois, as sementes devem secar à sombra por 30 minutos, protegidas do sol e do calor, que reduzem a eficiência da inoculação.
Para melhorar a aderência dos inoculantes sólidos, é recomendado usar produtos adesivos recomendados pelo fabricante ou solução açucarada a 10%.
Após a coinoculação, todas as sementes devem estar bem cobertas pelo inoculante. Se as sementes forem tratadas com agroquímicos, a inoculação deve ser feita depois desse tratamento.
Por fim, na aplicação no sulco, são usados maior dose do inoculante diluído em água. Para um resultado eficiente, sempre siga as recomendações do fabricante quanto à dosagem.
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Cuidados na coinoculação em soja
Por envolver microrganismos vivos, o processo de coinoculação deve ser realizado com cuidado. Além disso, é preciso dar atenção a mais para o transporte e à armazenagem dos produtos, como:
- Utilizar produtos registrados pelo Mapa (Ministério da Agricultura);
- Transportar e armazenar os produtos de acordo com as orientações do fabricante;
- Seguir as recomendações da bula do inoculante quanto à dosagem e manipulação;
- Conferir o prazo de validade dos produtos;
- Evitar que os inoculantes e as sementes tenham contato direto com o sol e à altas temperaturas;
- Realizar a coinoculação somente após o tratamento químico das sementes;
- Realizar a semeadura no mesmo dia da coinoculação;
- Não realizar a coinoculação dentro da caixa de semeadura;
- Não realizar a semeadura em condições de solo com baixa umidade (não plantar no pó).
Benefícios da coinoculação em soja
A coinoculação da soja com as bactérias Bradyrhizobium spp. e Azospirillum brasilense tem demonstrado efeitos consistentes no estímulo ao desenvolvimento do sistema radicular.
Esse fortalecimento da raiz gera uma série de respostas fisiológicas e agronômicas importantes ao longo do ciclo da cultura, como:
- Nodulação mais precoce e intensa, favorecendo o estabelecimento inicial da simbiose;
- Elevação da taxa de fixação biológica de nitrogênio (FBN), em decorrência do maior número e atividade dos nódulos;
- Melhor aproveitamento de água e nutrientes, graças ao maior volume e profundidade das raízes;
- Maior tolerância a condições adversas, como períodos de déficit hídrico;
- Incremento no vigor vegetativo, especialmente nas fases iniciais da cultura;
- Geração de resposta positiva na produtividade de grãos, conforme resultados de campo e ensaios experimentais.
Adicionalmente, por se tratar de uma técnica baseada em microrganismos promotores do crescimento vegetal, a coinoculação representa uma alternativa biologicamente segura e compatível com boas práticas agrícolas, sendo adotada em diferentes sistemas de produção.

Aspecto das raízes de soja inoculada com Bradyrhizobium, sem inoculação e coinoculada com Bradyrhizobium + Azospirillum
Benefícios da coinoculação em soja
- Técnica de baixo custo e alto retorno;
- Técnica ambientalmente segura e sustentável;
- Diminuição custos com insumos, principalmente em razão da economia com adubos nitrogenados;
- Lavouras bem desenvolvidas;
- Aumento na produtividade.
É importante ressaltar que essa tecnologia não apresenta desvantagens. No entanto, somente a coinoculação não é garantia de sucesso.
Inoculantes líquidos x inoculantes sólidos
Os inoculantes disponíveis no mercado são encontrados na forma líquida e sólida, em turfas.
Os produtos sólidos são utilizados nas sementes. Os inoculantes líquidos podem ser aplicados tanto no sulco de plantio quanto misturados às sementes.
Já é possível encontrar fórmulas que combinam Bradyrhizobium + Azospirillum no mesmo produto. Isso garante maior eficiência e rapidez no processo de coinoculação.
O que que influencia o resultado da coinoculação em soja?
Diversos fatores impactam a eficiência da coinoculação em soja. Um dos principais é o manejo do solo, que deve ser bem planejado para garantir um ambiente favorável à sobrevivência e atuação dos microrganismos.
Junto disso, a adubação precisa ser equilibrada, evitando excessos que possam inibir a atividade biológica.
O controle de plantas daninhas, pragas e doenças também é essencial para evitar a competição e o estresse nas plantas.
Outros aspectos importantes incluem a época de semeadura, que deve coincidir com condições climáticas adequadas; a qualidade fisiológica e sanitária das sementes; e a escolha da cultivar, já que algumas respondem melhor à coinoculação.
Todos esses fatores, combinados, determinam o sucesso da prática e seu impacto no desenvolvimento e produtividade da lavoura.


Engenheiro-Agrônomo (UFRA/Pará), Técnico em Agronegócio (Senar/Pará), especialista em Agronomia (Produção Vegetal) e mestre em Fitotecnia pela (Esalq/USP).