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Ana Lígia Giraldeli - 20 de agosto de 2020
Atualizado em 22 de fevereiro de 2024
Controle de tiririca: diferentes espécies, herbicidas recomendados e casos de resistência
Tiririca, junquinho, junça, tiririca-de-três-quinas… As plantas daninhas do gênero Cyperus são conhecidas por muitos nomes e têm alta frequência nas lavouras.
Seu controle é difícil e com tantos casos registrados de resistência a herbicidas, fazer um manejo efetivo é ainda mais desafiador! Ainda, essa planta daninha pode ser hospedeira de pragas importantes, como a cochonilha.
Para te ajudar na identificação correta e a garantir o melhor controle de tiririca na lavoura, preparei este artigo. Confira!
Índice do Conteúdo
A tiririca é uma planta daninha bastante nociva, com alta capacidade de reprodução e difícil controle, principalmente as espécies com reprodução por bulbos, tubérculos e/ou rizomas, além das sementes.
As espécies de tiririca do gênero Cyperus pertencem à família Cyperaceae e são facilmente encontradas nas lavouras.
A seguir, vou falar sobre as características que vão permitir identificar as principais espécies.
Essa espécie é conhecida pelo nome de junça, junquinho, tiririca-do-brejo ou três-quinas.
É uma planta anual, herbácea, ereta e cespitosa, que se desenvolve principalmente na região Sul do país.
Prefere ambientes úmidos ou alagados, como várzeas cultivadas. Tem um ciclo curto, o que facilita sua propagação, que é feita por meio de sementes.
Apresenta caule aéreo (escapo), verde, sem pelos, trígono, sem ramificação. As folhas da base da planta são verdes e menores que o eixo da inflorescência.
No ápice do caule você verá 3 brácteas verdes. Uma delas é muito longa, a outra é mediana e a terceira muito curta, não ultrapassando a altura da inflorescência. A base das brácteas possui uma pigmentação avermelhada.
A inflorescência tem cor amarelo-pálea, mas, na maturação, você verá uma coloração castanho-escuro.
Cyperus difformis
(Fonte: Moreira e Bragança, 2010)
Conhecida por junça, junquinho, tiririca, tiririca-de-três-quinas, é uma espécie herbácea, perene e que se desenvolve em todo o país.
Possui caule rizomatoso curto. As folhas da base da planta saem de alturas diferentes.
Cyperus distans
(Fonte: arquivo pessoal da autora)
O eixo principal da inflorescência (escapo) é verde e triangular. No ápice, você verá 2 séries com até 10 brácteas, sendo 3 a 4 delas muito desenvolvidas.
A inflorescência tem cor castanha e está no ápice dos eixos secundários.
A propagação é feita por meio de sementes e rizoma.
Cyperus distans
(Fonte: Moreira e Bragança, 2010)
Essa espécie é conhecida como junça, junquinho, tiririca, tiririca-amarela, tiririca mansa ou tiriricão. É uma planta herbácea, ereta e perene, que se desenvolve em todo o país.
É uma das tiriricas mais indesejáveis devido à dificuldade de controle, pois apresenta caules subterrâneos: bulbo, rizoma e tubérculos.
O caule é triangular e sem pelos. As folhas da base da planta são rosuladas, em número de 3, e quase do tamanho do eixo principal da inflorescência.
O eixo da inflorescência contém no seu ápice até 6 brácteas, sendo 2 muito longas, 1 mediana e as outras curtas.
A propagação é por meio de sementes e pelas estruturas caulinares subterrâneas.
Cyperus esculentus
(Fonte: Moreira e Bragança, 2010)
Conhecida por junça, junquinho, tiririca ou tiririca-de-três-quinas. É uma planta herbácea, perene, que se desenvolve em todo o país.
Apresenta caule rizomatoso curto e de crescimento radial.
Cyperus flavus
(Fonte: arquivo pessoal da autora)
As folhas da base da planta são rosuladas em número de até 10 e mais curtas que o eixo da inflorescência.
A inflorescência contém no ápice até 10 brácteas (3 a 4 muito longas e 4 a 6 curtas). É do tipo espiga cilíndrica, de cor verde-amarelada a castanha.
A propagação é por meio de sementes e pelo crescimento do rizoma.
Cyperus flavus
(Fonte: Moreira e Bragança, 2010)
Também conhecida por junça, junquinho, tiririca, tiririca-de-três-quinas ou tiririca-do-brejo. É uma espécie herbácea, ereta, anual, medianamente entouceirada e que se desenvolve em todo o país.
Não tem rizomas, mas possui estruturas capazes de originar perfilhos.
Cyperus iria
(Fonte: arquivo pessoal da autora)
Na base da planta você verá 2 a 3 folhas verdes e mais curtas do que o eixo da inflorescência.
O caule é triangular, liso, e no ápice você irá ver 7 a 8 brácteas. A inflorescência tem cor amarelo-ferrugínea e a propagação é através de sementes.
Cyperus iria
(Fonte: Moreira e Bragança, 2010)
Conhecida também por capim-de-cheiro, chufa, junça, junça-de-ouriço, pelo-de-sapo, tiriricão ou três-quinas.
É uma planta herbácea, anual ou perene, entouceirada, e que se desenvolve nas regiões Sudeste e Sul do Brasil, principalmente em locais muito úmidos.
Apresenta caule subterrâneo do tipo rizoma, curto e grosso, que exala odor agradável. As folhas da base têm tamanhos variáveis, algumas ultrapassam a altura do escapo. O caule é triangular, sem pelos, verde, com 5 a 9 brácteas no ápice de vários tamanhos.
A propagação é através de sementes e fragmentação do rizoma.
Cyperus odoratus
(Fonte: Moreira e Bragança, 2010)
Conhecida por capim-dandá, junça, tiririca, tiririca vermelha ou tiririca-de-três-quinas. É uma planta herbácea, perene, ereta, tuberosa, rizomatosa e que se desenvolve em todo o país.
De todas as tiriricas, essa espécie é a mais agressiva, pois apresenta caules do tipo bulbo e rizoma.
As folhas da base da planta são um pouco menores que o eixo da inflorescência. O caule é triangular, liso, sem ramificação, com 3 brácteas no ápice, com uma delas se destacando pelo seu comprimento.
A inflorescência é do tipo espiga de coloração vermelho-ferrugínea. A propagação é através de sementes, bulbos, tubérculos e rizomas.
Cyperus rotundus
(Fonte: Moreira e Bragança 2010)
As espécies de tiriricas podem estar presentes em diversas culturas. Na tabela abaixo, separei os principais herbicidas utilizados para controle químico de diferentes tiriricas:
(Fonte: adaptado de Guia de Herbicidas, 2018; Agrofit, 2020)
Abaixo também separei algumas informações sobre alguns produtos registrados para controle de tiririca.
O bentazon é um herbicida seletivo para soja, arroz, feijão, milho e trigo. Não tem ação sistêmica e pertencente ao mecanismo de ação dos Inibidores do Fotossistema 2.
Em lavoura de arroz irrigado, o bentazon é utilizado para o controle de tiririca Cyperus iria, C. ferax, C. difformis, C. esculentus e C. lanceolatus. As plantas daninhas devem estar com no máximo 12 cm de altura.
Nesse caso, deve-se retirar a água antes do tratamento para expor as folhas das plantas daninhas e voltar a irrigar após 48 horas.
A dose utilizada é de 1,6 L p.c. ha-1 de Basagran® 600 ou de 2,0 L p.c. ha-1 de Basagran® 480. Lembrando que o intervalo de segurança para arroz é de 60 dias.
O carfentrazone é um herbicida pós-emergente, seletivo condicional de ação não sistêmica, pertencente aos Inibidores da PROTOX.
Em arroz irrigado, é indicado para o controle de tiririca Cyperus difformis na dose de 100 a 125 mL/ha de Aurora® 400 EC.
O ethoxysulfuron é um herbicida seletivo, pré e pós-emergente utilizado para o controle de tiririca no arroz.
A dose recomendada em arroz irrigado é de 100 g/ha para o controle de tiririca Cyperus iria, Cyperus ferax e Cyperus esculentus com 2 a 4 folhas.
O sulfentrazone é um herbicida pré-emergente, seletivo condicional de ação sistêmica, pertencente aos Inibidores da PROTOX.
Em cana-de-açúcar, é indicado para o controle em pré-emergência de Cyperus rotundus, na dose de 1,6 L/ha de Boral 500 SC.
Em soja, é utilizado em pré-emergência das plantas daninhas e da cultura, na dose máxima de 1,2 L/ha (solos argilosos), o que já ajuda no controle da tiririca.
O diclosulam é um herbicida seletivo, aplicado ao solo, recomendado para o controle de tiririca e de algumas plantas daninhas de folhas largas e estreitas em cana-de-açúcar, podendo ser utilizado em cana-planta e na soqueira úmida.
Em cana-de-açúcar, é indicado para o controle em pré-emergência de Cyperus rotundus, na dose de 126 a 231 g/ha de Coact.
Sintomas de glifosato em Cyperus flavus
(Fonte: arquivo pessoal da autora)
Como vimos, o manejo das espécies de tiririca não é tão simples, principalmente quando estamos falando das culturas de soja e milho.
Em soja, o uso de sulfentrazone pode auxiliar no manejo em pré-emergência.
Em pós-emergência da soja e do milho tolerantes ao glifosato, o uso deste herbicida pode ajudar no controle de tiririca.
No mundo são 18 casos de resistência de plantas daninhas do gênero Cyperus resistentes a herbicidas. Desses relatos, 2 são no Brasil.
Separei para vocês na tabela abaixo os casos no mundo:
(Fonte: adaptado de Heap, 2020)
Nesse artigo, abordamos as principais espécies de tiririca e como fazer a identificação correta das mais frequentes nas lavouras.
Também mostramos quais os herbicidas registrados para o controle, recomendações para algumas culturas e os casos de resistência no Brasil e no mundo.
Com essas informações, espero que você possa fazer o controle de tiririca com sucesso e livrar sua lavoura dessa daninha!
Referências
Lorenzi, H. Manual de identificação e controle de plantas daninhas: plantio direto e convencional. 7 ed. Nova Odessa, SP. Instituto Plantarum, 2014.
Moreira, H.J.C. Bragança, H.B.N. Manual de identificação de plantas infestantes cultivos de verão. Campinas, SP, 2010.
Rodrigues, B.N.; Almeida, F.S. Guia de Herbicidas. 7 ed. Londrina, PR. Edição dos Autores, 2018.
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