O guia completo do manejo do caruru Amaranthus palmeri

- 26 de junho de 2019

Atualizado em 3 de outubro de 2022

Caruru Amaranthus palmeri: Época certa para controle, quais herbicidas usar e as principais dicas para minimizar casos de resistência e evitar o prejuízo da lavoura. 

O caruru-palmeri (Amaranthus palmeri) é uma planta daninha exótica que teve seu primeiro relato no Brasil em 2015, no Mato Grosso. 

O que mais preocupa é o histórico de infestação e agressividade que esta planta apresenta nos Estados Unidos e Argentina, associados a uma grande capacidade de selecionar resistência a herbicidas

Nesses países, a presença de Caruru-palmeri é critério de desvalorização das terras atualmente. Isso porque ela eleva os custos de manejo e possui grande potencial para reduzir a produtividade dos principais cultivos. 

Quer saber como identificar corretamente e realizar um manejo eficiente do caruru Amaranthus palmeri? A seguir, explicarei o período ideal para controle e os herbicidas mais indicados. Confira!

Caruru Amaranthus palmeri: Principais pontos sobre essa daninha

A principal característica que torna o caruru Amaranthus palmeri um planta daninha de grande importância econômica é sua agressividade competitiva. Ainda, essa planta daninha pode ser hospedeira de pragas importantes, como a cochonilha.

Principalmente devido ao ótimo arranjo espacial de suas folhas, que possuem excelente captação de luz e, consequentemente, produção de energia.

caruru amaranthus palmeri
Distribuição simétrica das folhas de caruru Amaranthus palmeri em torno de seu caule
(Fonte: Purdue Extension

No Brasil existem relatos de que esta planta tenha taxa de crescimento de 4 cm a 6 cm por dia, podendo atingir mais de 2 m de altura. 

Desta forma, não existe cultura que consiga competir com esta planta daninha, podendo ser prejudicial em diversas fases do  ciclo do cultivo. 

Foram registradas perdas rendimento de até 90% na soja e 79% no milho

Além disso, sua capacidade de dispersão é muito alta. As plantas fêmeas podem produzir de 200 mil a 1 milhão de sementes por planta, dependendo das condições do ambiente.

Um detalhe importante é que as plantas fêmea podem produzir sementes viáveis, mesmo não sendo polinizadas pelas plantas macho.  

As sementes de caruru Amaranthus palmeri possuem tamanho muito pequeno. Assim, podem ser facilmente dispersadas pelo vento, por animais e por implementos agrícolas que trabalham em áreas contaminadas. 

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Sementes de caruru Amaranthus palmeri
(Fonte: Idtools

Um dos pontos mais cruciais é que os produtores possam realizar a correta identificação desta planta daninha em suas lavouras e, rapidamente, comuniquem o Mapa, para que os grupos de contenção desta praga o auxiliem. 

O problema é que o Brasil possui várias espécies nativas que possuem características semelhantes ao caruru-palmeri.  

Mas, fique tranquilo, pois vamos te passar algumas dicas que ajudarão no momento da identificação!

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Identificação do caruru Amaranthus palmeri

As folhas do caruru Amaranthus palmeri possuem lâminas foliares de formato variado, entre o formato de ovado a rômboico-ovada. 

Não possui pilosidade (presença de pelos) em qualquer superfície da planta.

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Plântula de Caruru-palmeri
(Fonte: Purdue Extension

O comprimento dos pecíolos das folhas costuma ser maior ou igual ao comprimento do limbo foliar, principalmente em folhas mais velhas. 

caruru amaranthus palmeri
Comprimento do pecíolo em relação a folha de caruru-palmeri
(Fonte: Purdue Extension)

O principal ponto de identificação da espécie está na inflorescência. O caruru-palmeri possui flores femininas e masculinas em plantas separadas, diferente das espécies nativas do Brasil, que possuem os dois sexos na mesma planta. 

As plantas fêmeas possuem brácteas rudimentares, que envolvem a inflorescência.

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Inflorescência masculina (esquerda) e inflorescência feminina (direita) de caruru Amaranthus palmeri
(Fonte: IMAmt

Além disso, podem (mas não obrigatoriamente) ocorrer marcas d’água em formato de “V” no limbo foliar e presença de um pequeno pelo no término do limbo foliar. 

caruru amaranthus palmeri
Marca d’água em formato de “V” invertido nas folhas de caruru Amaranthus palmeri
(Fonte: Purdue Extension

caruru amaranthus palmeri
Presença de pelo no término do limbo foliar de caruru-palmeri
(Fonte: Daniel Tuesca

A espécie mais facilmente confundida com o caruru-palmeri é o caruru-de-espinhos (Amaranthus spinosus). 

Mesmo algumas espécies possuindo algumas das características citadas acima, você deve analisar o conjunto para a correta identificação. 

Para facilitar o processo de identificação, veja o compilado dessas informações: 

caruru amaranthus palmeri
P: presença da característica na espécie; PV: presença variável da característica na espécie; – -: Ausência da característica na espécie. Caruru-palmeri (Amaranthus palmeri); Caruru-de-espinhos (Amaranthus spinosus); Caruru-rasteiro (Amaranthus deflexus); Caruru-roxo (Amaranthus hybridus); Caruru-gigante (Amaranthus retroflexus); Caruru-da-mancha (Amaranthus viridis). (Fonte: Embrapa)

O problema da resistência do Caruru Amaranthus palmeri no Brasil

Acredita-se que o caruru-palmeri tenha sido introduzido no país por meio de colhedoras trazidas da Argentina, que não passaram pela devida limpeza. Assim, essas sementes infestaram lavouras do Mato Grosso. 

Após a confirmação da espécie, o MAPA, em parceria com outras instituições, iniciou ações para conter a dispersão e tentar a erradicação nessas áreas. 

Após testes, foi identificado que estas populações já possuem resistência ao glifosato devido à seleção ocorrida no país de origem. 

No ano seguinte, 2016, foram identificadas populações com resistência múltipla a inibidores da EPSPs (ex: glifosato); e inibidores da ALS (ex: chlorimuron, cloransulam e imazethapyr).

O grande problema é que esta espécie possui um grande histórico de infestação e resistência a herbicidas em vários outros países. 

Além dos casos relatados no Brasil, foram relatados 62 casos de resistência em outros 3 países. 

Casos de resistência simples de caruru Amaranthus palmeri a herbicidas:

  • Inibidor da EPSPs (ex: Glifosato)
  • Inibidor da tubulina (ex: Trifluralina)
  • Inibidor do Fotossistema II (ex: Atrazina)
  • Inibidores de ácidos graxos de cadeia longa (ex: S-metolachlor)
  • Auxinas sintéticas (ex: 2,4 D)
  • Inibidor da ALS (ex: Chlorimuron)
  • Inibidor da HPPD (ex: Mesotrione)

Casos de resistência múltipla de caruru Amaranthus palmeri a herbicidas:

  • Inibidor da EPSPs (ex: Glifosato) + Inibidor da ALS (ex: Chlorimuron)
  • Inibidor da ALS (ex: Chlorimuron) + Inibidor da Protox (ex: fomesafen)
  • Fotossistema II (ex: Atrazina) + Inibidor da HPPD (ex: Mesotrione)
  • Inibidor da ALS (ex: Chlorimuron) + Inibidor da HPPD (ex: Mesotrione)
  • Inibidor da EPSPs (ex: Glifosato) + Inibidor da Protox (ex: fomesafen)
  • Inibidor da EPSPs (ex: Glifosato) + Fotossistema II (ex: Atrazina) 
  • Inibidor da ALS (ex: Chlorimuron) + Inibidor do Fotossistema II (ex: Atrazina) + Inibidor da HPPD (ex: Mesotrione)
  • Inibidor da EPSPs (ex: Glifosato) + Inibidor da ALS (ex: Chlorimuron) + Inibidor do Fotossistema II (ex: Atrazina)
  • Inibidor da EPSPs (ex: Glifosato) + Inibidor da ALS (ex: Chlorimuron) + Inibidor da Protox (ex: fomesafen) + Inibidores de ácidos graxos de cadeia longa (ex: S-metolachlor)
  • Inibidor da EPSPs (ex: Glifosato) + Inibidor da ALS (ex: Chlorimuron) + Fotossistema II (ex: Atrazina) + Inibidor da HPPD (ex: Mesotrione) + Auxinas sintéticas (ex: 2,4 D)

Manejo de caruru Amaranthus palmeri na entressafra do sistema soja-milho

O ponto primordial no manejo do caruru-palmeri é o estádio de desenvolvimento. Por se tratar de uma planta daninha de difícil controle, é recomendado que aplicação ocorra até, no máximo, 5 cm. 

Plantas com mais de 8 cm apresentam menor suscetibilidade a herbicidas. E, devido à sua taxa de crescimento altíssima, isso ocorre em poucos dias após a emergência. 

Após perenizadas, deve-se realizar um manejo com aplicações sequenciais espaçadas em 15 dias. 

Devido a estas características, o uso de herbicidas aplicados em pré-emergência é primordial para realizar um bom controle. 

Ainda não existem herbicidas registrados para controle de caruru Amaranthus palmeri disponíveis no mercado no Brasil. Por isso, é muito importante que ao suspeitar/identificar esta planta daninha em sua lavoura, comunique ao MAPA. 

Atualmente no Brasil, os órgãos de defesa agropecuária tem recomendado “tolerância zero” em áreas com infestação do caruru-palmeri. 

Todas as plantas devem ser controladas antes do florescimento, associando diversas técnicas de manejo para que isso seja realizado. 

Vamos descrever algumas alternativas de manejo que vêm sendo utilizadas em outros países que esta planta infesta e de resultados preliminares de pesquisas no Brasil.

caruru amaranthus palmeri
Infestação de caruru Amaranthus palmeri em lavoura de soja
(Fonte: IMAmt) 

Herbicidas pós-emergentes: 

Glufosinato de amônio

Pode ser utilizado em plantas pequenas (até 5 cm) ou em manejo sequencial para controle de rebrota de plantas maiores. Recomendável dose de 2,5 a 3,0 L ha-1.

Paraquat

Pode ser utilizado em plantas pequenas (até 5 cm) ou em manejo sequencial para controle da rebrota de plantas maiores, na dose de 1,5 a 2,0 L ha-1.

2,4 D 

Utilizado em primeiras aplicações de manejo sequencial, geralmente associado a outros herbicidas sistêmicos (ex: glifosato) ou pré-emergentes. Recomendável dose de 1,2 a 2 L ha-1

Cuidado com problemas de incompatibilidade no tanque (principalmente graminicidas). 

Quando utilizar 2,4 D próximo à semeadura de soja, deve-se deixar um intervalo entre a aplicação e a semeadura de 1 dia para cada 100 g i.a. ha-1 de produto utilizado.

Saflufenacil 

Pode ser utilizado em plantas pequenas (até 5 cm) ou em manejo sequencial para controle de rebrota de plantas maiores. Indicada dose de 35 a 100 g ha-1.

Dicamba

Utilizado em primeiras aplicações de manejo sequencial, geralmente associado a outros herbicidas sistêmicos (ex: glifosato) ou pré-emergentes, na dose de 1,0 a 1,5 L ha-1

Deve-se ocorrer um intervalo mínimo de 30 dias entre a aplicação do produto e a semeadura da soja, para que não ocasione danos ao cultivo. 

Glifosato

Mesmo não sendo efetivo para as populações presentes no país, pode ser usado no manejo para controle de outras plantas daninhas.

Herbicidas pré-emergentes:

Flumioxazin 

Herbicida com ação residual para controle de banco de sementes.

Utilizado na primeira aplicação do manejo outonal associado a herbicidas sistêmicos (ex: glifosato e 2,4 D) ou no sistema de aplique plante da soja. Recomendada dose de 120 g ha-1.

Sulfentrazone 

Herbicida com ação residual para controle de banco de sementes. 

Utilizado na primeira aplicação do manejo outonal associado a herbicidas sistêmicos (ex: glifosato e 2,4 D). Recomenda-se dose de até 0,5 L ha-1, pois apresenta grande variação na seletividade de cultivares de soja

S-metolachlor 

Herbicida com ação residual  para controle de banco de sementes.

Utilizado no sistema de aplique plante da soja e milho, na dose de 1,5 a 2,0 L ha-1. Não deve ser aplicado em solos arenosos. 

Manejo na pós-emergência da soja 

Fomesafen

Realizar uma aplicação de 20 a 30 dias após emergência da cultura, na dose de 0,9 a 1,0 L ha-1.

Lactofen

Realizar uma aplicação no estádio inicial de desenvolvimento da cultura, na dose de 0,62 a 0,75 L ha-1.

Este herbicida provoca muitos sintomas de fitointoxicação nas folhas cultura. Após um período de algumas semanas, porém, estes sintomas desaparecem e as perdas no crescimento costumam ser compensadas por maior engalhamento da cultura!

Manejo na pós-emergência do milho

Atrazine

Pode ser aplicado na pré-emergência da cultura imediatamente antes da semeadura, simultaneamente ou logo após a semeadura. Em aplicações em pós-emergência da cultura e plantas daninhas deve-se acrescentar óleo vegetal. 

Recomendações de dose de  3 a 5 L ha-1, dependendo das características do solo e plantas daninhas presentes. Pode ser misturado com: glifosato (se misturado em pós-emergência – milho RR), mesotrione, nicosulfuron, S-metolachlor. 

Glufosinato de amônio

No caso de milho Liberty Link! Pode ser utilizado em plantas pequenas (até 5 cm) ou em manejo sequencial para controle de rebrota de plantas maiores, na dose de 2,5 a 3,0 L ha-1.

Perspectivas para controle do caruru-palmeri

Nos próximos anos, existem previsões da liberação comercial de novos “traits” de resistência a herbicidas para as culturas de soja e milho.

  • Soja: Enlist (2,4D colina, glifosato e glufosinato de amônio) e Xtend (Dicamba, glifosato).
  • Milho: Enlist (2,4D colina, glifosato, glufosinato de amônio e haloxyfop).

Isso aumentará as opções de manejo para caruru-palmeri em pós-emergência das culturas!

Conclusão

Neste artigo, vimos a importância econômica que o caruru Amaranthus palmeri possui em outros países e o potencial de dano, se não contido, no Brasil. 

Entendemos quais são as principais características que devem ser examinadas para correta identificação desta daninha.

Vimos algumas recomendações que têm sido eficientes em outros países e o resultado de teste preliminares no Brasil.   

 Espero que com essas dicas passadas aqui você consiga realizar a correta identificação do caruru-palmeri e saiba como iniciar o planejamento do manejo caso esta daninha infeste sua lavoura!

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