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Rodolfo Fagundes Costa - 2 de dezembro de 2019
Atualizado em 25 de outubro de 2023
Cálculo de gessagem: Quais são as doses recomendadas em cada situação e métodos novos para essas orientações.
A gessagem é uma ferramenta muito importante e você sabe disso.
No entanto, é preciso cuidado para evitar que haja perda ou desequilíbrio de nutrientes.
Então, como acertar na quantidade de gesso necessária em cada área? Como fazer o cálculo de gessagem para culturas como soja e milho?
Veja a seguir o passo a passo nos métodos tradicionais e uma nova fórmula de necessidade de gesso que pode te ajudar na sua área. Confira!
Índice do Conteúdo
As raízes de plantas que conseguem apenas explorar um volume reduzido de solo fica mais sujeita aos efeitos da seca, provocada por veranicos frequentes na região do cerrado.
Para resolver essas situações, a gessagem vem sendo relacionada com a melhoria do ambiente químico em subsuperfície (abaixo de 20 cm de solo).
Os efeitos dessa prática são acentuados quando em conjunto com a calagem.
A gessagem é simplesmente a prática da aplicação de gesso para correção do solo.
O gesso (CaSO4 • 2 H2O) pode ter origem da mineração da rocha gipsita ou ser subproduto da produção de fertilizantes fosfatados, comumente conhecido como gesso agrícola ou fosfogesso.
O gesso agrícola contém entre 26% e 28% de Ca e em torno de 15% de gesso, além de pequenas quantidades de P2O5 e flúor.
No solo, o gesso sofre dissociação conforme a fórmula abaixo:
(Fonte: Adaptado de Vitti, disponível em Solloagro)
Essa reação abastece a solução do solo com cálcio e sulfato, que servem como nutrientes para as plantas.
O cálcio tem participação na formação da parede celular, o que garante a estrutura às plantas.
Já o enxofre é absorvido pelas plantas na forma de sulfato e participa da formação de aminoácidos e proteínas nos vegetais.
A forte atração entre o cálcio e o sulfato presentes na solução faz com que em torno de 70% do gesso fique na forma de sulfato de cálcio com carga zero, facilmente lixiviado para a subsuperfície.
O gesso é, portanto, capaz de fornecer cálcio e enxofre na forma de sulfato também em maiores profundidades.
Outro efeito da gessagem é a diminuição da saturação de Al pela formação do par iônico AlSO4+, que não é tóxico para as plantas e passível de lixiviação para fora da região explorada pelas raízes.
Esta lixiviação ocorre também com outras bases como magnésio e potássio.
O gesso agrícola não é um corretivo de acidez do solo como o calcário, ou seja, não modifica o pH do solo.
Entretanto, tem ação direta sobre o aumento da saturação por bases (V%) em profundidade e uma melhor distribuição do sistema radicular das plantas.
O gráfico abaixo mostra o aumento no V% e uma melhor distribuição das raízes de cana-de-açúcar nos tratamentos que receberam diferentes doses de gesso:
(Fonte: van Raij, 2011, disponível em IPNI)
Recapitulando, quais são então os benefícios da aplicação de gesso agrícola?
A necessidade de aplicação de gesso deverá ser baseada nos resultados de análise de solo de amostras coletadas na camada de 20 – 40 cm, e não na camada de 0-20 cm como é comum.
Trabalhos realizados por Souza et al. (1992) e Vitti et al. (2008) elencaram condições químicas dos solos brasileiros em geral em que a aplicação do gesso agrícola poderá ter maior resposta no aumento da produtividade de culturas.
Caso o resultado de sua análise de solo apresente uma ou mais condições como as descritas abaixo, a aplicação do gesso agrícola é recomendada:
Há na literatura várias formas fórmulas para calcular a necessidade de gessagem para culturas anuais, como soja e milho.
Veja duas das mais utilizadas:
A ciência está constantemente desenvolvendo novas tecnologias e formas de manejo para aumentar o rendimento das culturas, diminuindo custos produtivos.
Métodos como o de cálculo de gessagem baseado no teor de argila desconsidera fatores associados à natureza da argila do solo.
Além disso, muitos métodos não levam em consideração as dosagens de gesso que proporcionam maior produtividade economicamente viável.
Os autores Caires e Guimarães (2018) utilizaram técnicas de mineração de dados de experimentos de campo com aplicação de diferentes doses de gesso para propor uma nova metodologia de cálculo de gessagem.
Os experimentos consideraram latossolos sob sistema de plantio direto (superfície coberta) na região Sul do Brasil. Foram analisadas áreas com cultivo de milho, soja, trigo e cevada.
Os resultados demonstram que as melhores produtividades para estas culturas foram atingidas quando a saturação de cálcio na capacidade de troca catiônica efetiva (CTCef) da camada de 20 – 40 cm foi em torno de 60%.
Isso mostra a importância do cálcio em subsuperfície para estimular o crescimento radicular e uma maior produtividade.
Os autores do estudo propuseram então uma nova fórmula baseada elevação da saturação por cálcio para 60% da CTCef da camada de 20 – 40 cm.
Recomenda-se o método quando a saturação por cálcio nesta camada for inferior a 54%.
Este novo método de cálculo de gessagem trouxe resultados diferentes do apresentado por outros métodos.
Tomemos como exemplo um solo de cerrado na região de Jaguariaíva, no Paraná, com os seguintes resultados de análise de solo:
(Fonte: Gape)
Este solo atende aos requisitos para receber a aplicação de gesso: teor de cálcio é de 0,2 cmolc dm-3 e a saturação por alumínio (m) é maior que 20%.
Utilizando a fórmula baseada no teor de argila (%), a dose recomendada é de 0,85 t/ha de gesso.
Enquanto que com a fórmula proposta por Caires e Guimarães (2018) seria de 6,0 t/ha.
Dosagens mais elevadas de gesso foram associadas com aumento na produtividade de milho e soja.
(Fonte: Gape)
A função natural do gesso é de agir como um condicionador de solo, transportando bases para a subsuperfície.
A lixiviação de K e Mg foi reportada em diversos trabalhos.
E a aplicação de altas dosagens de gesso agrícola em cafezais mostrou-se prejudicial à cultura pelo desequilíbrio de nutrientes no solo.
Os autores Caires e Guimarães recomendam a aplicação de gesso agrícola somente em solos com alto teor de Mg nas camadas superficiais.
A combinação do gesso agrícola com a aplicação de calcário dolomítico tem demonstrado ser uma solução viável para os latossolos com teor elevado de alumínio.
A gessagem é uma importante ferramenta para aumentar a produtividade da lavoura, porém deve ser feita de maneira criteriosa para evitar a lixiviação excessiva de nutrientes.
Neste artigo, mostramos os tipos de gesso disponíveis e abordamos um pouco sobre os efeitos da aplicação de gesso agrícola nas propriedades químicas do solo.
Também mostramos quando é necessário fazer e a diferença entre alguns métodos de recomendação de cálculo de gessagem.
Apresentamos também um novo método, baseado da elevação da saturação por Ca para 60% da CTC efetiva da camada de 20-40 cm.
Espero que você possa aproveitar essas informações e calcular a aplicação ideal para sua propriedade.
Restou alguma dúvida sobre como fazer o cálculo de gessagem em sua área? Tem alguma dica? Deixe seu comentário!