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Gressa Chinelato - 12 de julho de 2019
Atualizado em 28 de fevereiro de 2025
Míldio: Veja as principais características e sintomas dessa doença, além de todas as formas de controle para evitar prejuízos na sua lavoura.
Muitas doenças podem afetar sua lavoura em alguma fase do desenvolvimento ou durante todo o ciclo da cultura. Uma delas é o míldio.
Ele ocorre principalmente em condições climáticas de alta umidade e temperatura amena, podendo afetar diversas culturas.
Sua ocorrência na lavoura de sorgo, por exemplo, pode causar danos de até 80%.
Para reduzir as perdas com esta doença, é preciso estar preparado. Confira neste artigo as principais características, como identificar os sintomas e fazer um controle eficiente na sua lavoura!
Índice do Conteúdo
O míldio é causado por um grupo de patógenos chamados de oomicetos.
Existem vários gêneros de oomicetos que causam míldios como: Plasmopara, Peronospora, Bremia, Sclerospora e outros. Ao longo do texto, vamos comentar sobre algumas espécies desses gêneros que causam a doença em algumas culturas.
O míldio ataca preferencialmente as folhas, mas pode ocorrer também em ramos e frutos.
A doença ocorre mais frequentemente em regiões de umidade e com temperatura amena (condições favoráveis).
São sintomas típicos do míldio as manchas de coloração verde-claro a amarela na parte superior da folha. E, com o progresso da doença, essas manchas se tornam escuras (necróticas).
Na parte inferior da folha que corresponde ao local da mancha, ocorre o aparecimento de estruturas do patógeno, uma eflorescência de coloração esbranquiçada (bolor cinza).
Como o patógeno coloniza os tecidos foliares surge o sintoma de mancha nas folhas na parte superior com coloração verde-claro a amarelo, como descrevemos.
E, simultaneamente a isso, ocorre a reprodução do patógeno, que emite as estruturas reprodutivas para o exterior da folha (eflorescência esbranquiçada), como comentamos. Isso ocorre geralmente através dos estômatos.
Estruturas da Plasmopara viticola (míldio da videira) na parte inferior da folha
(Fonte: Gessler et al. (2011) em Phytopathologia Mediterranea)
Essas estruturas aparecem principalmente na parte inferior da folha, onde normalmente os estômatos se localizam. Essas estruturas reprodutivas, por estarem externas à folha, são disseminadas pelo vento e pela água.
Diante disso, você pode perceber que há interferência da área fotossintética da planta, sendo um dos prejuízos que a doença causa.
Agora vamos aos sintomas e às medidas de manejo para míldio em algumas culturas.
O patógeno que causa míldio na cultura do sorgo é Peronosclerospora sorghi.
A doença pode causar danos de até 80% nesta cultura, com a utilização de cultivares suscetíveis.
No Brasil, o míldio do sorgo se encontra distribuído em quase todas as regiões de cultivo.
Na região sul do país, esta doença é considerada a segunda mais importante, atrás apenas da antracnose.
O patógeno pode infectar a planta de duas formas: localizada e sistêmica.
A forma localizada ocorre pela infecção de esporos (estruturas do patógeno) nas folhas.
Essa infecção causa lesões necróticas nas folhas com formato retangular que, em condições úmidas e frias, ocorre o crescimento de estruturas do patógeno (eflorescência) com aspecto pulverulento e de cor acinzentado na parte inferior da folha.
Se o patógeno atingir o meristema da planta, pode ocorrer o aparecimento de sintomas sistêmicos.
A infecção sistêmica ocorre quando o patógeno invade as células do meristema apical.
Plantas jovens, quando infectadas sistematicamente, apresentam sintomas de clorose e enfezamento, podendo morrer prematuramente.
Além disso, pode haver prejuízos no desenvolvimento dos grãos nas plantas com a doença.
A clorose foliar é um sintoma característico da infecção sistêmica.
Este sintoma de clorose apresenta faixas de coloração de verde claro a amarelo, que são intercaladas pela coloração normal da folha.
Correspondente a essas regiões cloróticas, na parte inferior da folha, quando em condições de alta umidade, pode aparecer o crescimento de estruturas de coloração branca (eflorescência).
Infecção sistêmica (A), infecção localizada (B), estádio mais avançado da infecção sistêmica (C) em sorgo
(Fonte: Luciano Viana Cota em Embrapa)
No Brasil, até o momento, não há produtos químicos registrados para o controle do míldio na cultura do sorgo.
Por isso, não há recomendações de aplicação para a parte aérea das plantas e nem para o tratamento de sementes utilizando controle químico.
Há vários patógenos que causam míldio na cultura do milho. O mais comumente encontrado no Brasil é o Peronosclerospora sorghi, o mesmo que causa a doença no sorgo e em algumas outras gramíneas.
Esta doença no milho, no caso do Brasil, não causa prejuízos econômicos tão significativos, como ocorre em outros países.
A infecção sistêmica da planta causa clorose nas folhas, que ficam com estrias e faixas brancas. Além disso, as folhas das plantas infectadas com míldio apresentam as folhas mais eretas e estreitas, com o colmo mais fino e acamado.
Folhas estreitas e eretas, com presença de faixas esbranquiçadas.
(Fonte: Carlos Roberto Casela em Embrapa)
A doença também pode ocasionar problemas na formação dos grãos nas espigas.
Em condições de alta umidade e temperaturas frias podem surgir ainda estruturas de coloração esbranquiçada nas folhas, como ocorre na cultura do sorgo.
Na cultura da soja, o míldio pode ocorrer em qualquer região produtora do país, sendo causada pelo oomiceto Peronospora manshurica.
Nas folhas da parte superior, os sintomas são lesões de coloração verde-claro a amarelada, que pode progredir para necrose.
Na parte inferior da folha, nessas lesões aparecem estruturas de aspecto cotonoso (aspecto de algodão) de coloração cinza, que são estruturas de frutificação do fungo.
A doença pode se desenvolver na vagem, podendo ficar com redução do grão ou deteriorada.
O patógeno pode ser introduzido na lavoura por sementes contaminadas e estruturas reprodutivas do patógeno que são disseminadas pelo vento.
Algumas literaturas não descrevem medidas de manejo para o míldio da soja por ser considerada uma doença de pouca importância econômica para as principais regiões produtoras do país.
Mas, se você tem problema com esta doença na sua lavoura, algumas medidas de manejo que você pode utilizar para soja são:
O míldio pode afetar outras culturas além das que comentamos. Veja algumas delas:
E você sabia que o míldio da videira está envolvido com a descoberta do primeiro fungicida?
No Brasil, o míldio é considerado a doença mais importante da videira, causada por Plasmopara viticola.
Em condições favoráveis, a doença pode ocasionar perdas de até 75% da produção.
Na videira, os sintomas da doença podem ocorrer em todas as partes verdes da planta.
Nas folhas, surgem inicialmente pequenas manchas encharcadas e translúcidas na parte superior da folha, chamada de “mancha de óleo”, se você observar as folhas contra a luz. Essas manchas têm coloração verde mais claro.
Mancha de óleo com necrose na folha.
(Fonte: Gessler et al. (2011) em Phytopathologia Mediterranea)
Com o desenvolvimento da doença, essas manchas se tornam mais escuras e podem causar a queda das folhas.
Já na face abaxial da folha, na parte correspondente a essas manchas, surgem uma eflorescência esbranquiçada (estrutura reprodutiva do patógeno), com aspecto cotonoso.
As folhas severamente infectadas podem cair, o que pode comprometer o desenvolvimento da planta.
Já nos ramos ocorrem as manchas encharcadas, que rapidamente são recobertas pela eflorescência esbranquiçada.
Nos cachos ocorre morte e queda de flores, além de podridão das bagas (frutos).
E você pode ser perguntar, o que esta doença em videira tem relação com o histórico do controle químico?
Então vamos voltar um pouco na história para entender este fato:
Por volta de 1870, o míldio (Plasmopara viticola) foi identificado como um dos recentes problemas em Bordeaux, uma região da França, pelo pesquisador Pierre Marie Alexis Millardet.
Ele observou que algumas plantas de videira próximas de estradas não estavam infectadas com míldio.
Quando perguntou ao produtor se ele tinha realizado algo com as plantas, este relatou que as videiras estavam pulverizadas com uma mistura (calda) para evitar roubo das uvas, pois elas ficavam com uma cor diferente devido à pulverização e gosto amargo.
Então, Millardet e outro pesquisador (Ulysse Gayon) investigaram sobre a mistura usada pelos agricultores e aperfeiçoaram a calda.
Assim, em 1885, eles publicam o efeito da calda bordalesa (sulfato de cobre e cal) – que era a mistura que os produtores de uvas usavam para evitar roubo – no controle do míldio da videira.
A calda bordalesa é então considerada o primeiro fungicida!
E esta mistura de cobre e cal pode ser utilizada até hoje para o controle do míldio em videira.
Veja que a partir do míldio da videira foi divulgado o primeiro fungicida, que já era utilizado pelos produtores, mas não com esse intuito.
O oídio é outra doença que tem importância para várias culturas agrícolas, mas falaremos sobre ela em outra oportunidade.
Fato é que míldio e oídio podem ser confundidos, pois apresentam sintomas similares de cor branca e aspecto pulverulento.
Algumas diferenças são:
Já no microscópio, as estruturas desses patógenos são muito diferentes, sendo de fácil distinção entre elas.
Por isso, se ficar com dúvida procure um(a) eng.(a) agrônomo(a) ou uma clínica fitopatológica.
Neste texto, comentamos sobre o míldio nas culturas agrícolas.
Abordamos a doença em várias culturas, descrevendo os sintomas, o patógeno e as principais medidas de manejo.
Também comentamos sobre o míldio da videira e o surgimento do primeiro fungicida.
Por fim, falamos de algumas diferenças entre o míldio e o oídio.
Agora que você tem essas informações, não deixe que esta doença reduza a produção da sua lavoura!
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Você tem problemas com míldio na sua lavoura? Quais medidas de manejo utiliza para o controle da doença? Adoraria ver seu comentário abaixo.