O Brasil, maior produtor e exportador mundial, inicia 2025 com previsão de colheita recorde de café arábica, impulsionando as estratégias eficientes de armazenamento de café para garantir qualidade e valor.
Isso faz com que haja necessidade de armazenamento para venda futura e para controle de preço das commodities agrícolas.
E para garantir uma boa armazenagem, é necessário manter a temperatura em torno de 20 °C.
Além disso, a umidade relativa do ar deve estar em 65%, enquanto a umidade do grão deve estar entre 11% e 12%.
Índice do Conteúdo
Por que armazenar o café?
Porque armazenar o café é a melhor maneira para controlar estoques e preços, aproveitar oportunidades de venda, manter a qualidade da bebida e reduzir os impactos da bienalidade na produção.
Em um mercado com o preço da saca variando mais de 70% em poucos meses, o armazenamento garante que todo o esforço de uma safra não seja perdido por falhas na pós-colheita, preservando o aroma e o sabor exigidos pelos consumidores internacionais.
Apesar de ser uma prática usada há muito tempo, é importante ressaltar os principais motivos que levam à necessidade de se armazenar o café, como:
1. Controle de estoque de café
O controle de estoque é importante para se ter poder de manejo no preço do café mundial, uma vez que uma alta oferta (alto estoque) pode gerar queda de preço e uma baixa oferta (baixo estoque) pode gerar subida repentina
O monitoramento certo dos estoques permite planejar melhor o fluxo de vendas, evita a pressão de comercializar toda a safra logo após a colheita e garante previsibilidade de receita.
O Brasil responde por cerca de 35% da produção mundial de café, fazendo com que o nível dos estoques internos influencie nas cotações internacionais, tornando o armazenamento a melhor estratégia para toda a cadeia cafeeira.

2. Oportunidades de negócio
Apesar do controle de estoque, também existem outros fatores que ditam os preços do café no mercado internacional, como quebras de safra, variações climáticas e oscilações de câmbio.
Com as tarifas de 50% sobre importações brasileiras pelos EUA, o preço ficou ainda mais elevado, com os consumidores americanos já sentindo alta de 14,5% nos preços
Essa instabilidade cria um espaço para vantagens comerciais. Ou seja, com o armazenamento de café é possível escolher o momento ideal para vender, fugindo das quedas após a colheita ou aproveitando picos de valorização.
A partir disso, você consegue aumentar os ganhos mesmo com todas as instabilidade que acontecido nos últimos dias.
3. Manutenção da qualidade
A qualidade do café tem sido cada vez mais exigida por consumidores, especialmente no mercado de cafés especiais, que representa cerca de 15% do consumo global e cresce em média 8% ao ano.
Não adianta ter um bom manejo e colheita se a pós-colheita e a estocagem forem deficientes. Fatores como umidade, calor excessivo ou presença de pragas podem comprometer aroma, sabor e corpo do café.
Um armazenamento bem feito garante que todo o esforço investido na lavoura seja preservado, aumentando o valor comercial e a entrega de um café de alta qualidade.
4. Bienalidade
O cafeeiro tem anos de alta e baixa produção, o que altera a quantidade de café disponível no mercado.
Em 2025, por exemplo, a produção total no Brasil deve chegar a 55,7 milhões de sacas, mas o café arábica teve uma queda de cerca de 6,6% enquanto o conilon cresceu 28,3%.
Armazenar o café ajuda a equilibrar esses efeitos, garantindo que haja produto suficiente nos anos de baixa safra e protegendo o preço no mercado.
Estoques e mercado do café no Brasil (2025)
Em 2025, o Brasil projeta uma produção de 55,7 milhões de sacas, com estoque final da safra 2024/25 em 20,9 milhões de sacas, conforme dados da Conab, cenário que reforça a necessidade de calibragem do giro de lotes no tempo certo.
O Indicador CEPEA/ESALQ do arábica fechou em R$ 1.814,70 por saca (Mogiana), referencial essencial para quem opera com foco em valorização de estoque.
Nos Estados Unidos, foi aplicada em agosto uma tarifa de 50% sobre o café brasileiro. Isso aumenta o custo para os compradores americanos e faz com que parte das exportações brasileiras seja direcionada para mercados como Europa e China.
A Starbucks, por exemplo, vai encarar um aumento de 3,5% no custo dos cafés comprados do Brasil, pressionando margens.
Além disso, as exportações de 2024/25 chegaram a 45,6 milhões de sacas, com projeção para 2025 na casa de 42 milhões, refletindo leve queda mas ainda entre os maiores volumes da história.
A relação de troca entre café e fertilizantes também piorou, exigindo hoje cerca de 1,6 sacas de café para comprar uma tonelada de fertilizante, alta de 35% desde janeiro.
Em quais estágios fazer armazenagem de café?
O armazenamento do café pode ser feito em três estágios diferentes, sendo eles:
- Café em coco: Fruto seco ainda com casca e polpa. Ideal para armazenamento curto até o final da colheita;
- Café em pergaminho: Grão sem casca e polpa, mas com pergaminho. Permite armazenamento intermediário enquanto se aguarda o beneficiamento completo;
- Café em grão: Grão limpo e sem pergaminho. Indicado para armazenamento de longo prazo, preservando a qualidade.
Quanto mais avançado o estágio do café, maior o tempo de armazenamento, seja na fazenda, cooperativa ou empresa.
Junto disso, é importante conhecer a anatomia do fruto do café para entender em quais estágios de beneficiamento do grão eles podem ser armazenados. O fruto do café é formado pela casca, polpa, pergaminho e semente/grão.
(Fonte: O Fruto)
Quais são os 3 tipos de armazenamento do café?
O café pode ser armazenado tanto conforme o estágio do beneficiamento quanto pelo tipo de estrutura utilizada.
Entre as principais formas de armazenamento estão as tulhas, os silos e os armazéns, cada uma com características, vantagens e cuidados específicos. Veja:
1. Tulhas
As tulhas são estruturas que podem ser de metal, alvenaria ou madeira. Normalmente, são construídas nas proximidades do terreiro suspenso ou secador.
O uso de madeira é mais comum por ter maior capacidade de manter a temperatura interna. Essa estrutura é recomendada para armazenamento de cafés secos, em coco, pergaminho ou grão.
O café pode ser estocado a granel ou em sacaria. Normalmente o café beneficiado é armazenado em sacaria e os cafés em coco e pergaminho, a granel.
O armazenamento em sacaria facilita o movimento, transporte do produto e controle de lotes, sem mistura.
Além de armazenagem, o café também passa por processos de secagem dentro das tulhas. A recomendação é de que o café seja mantido por pelo menos 30 dias dentro da tulha.
2. Silos
Os silos são estruturas, geralmente de metal, que podem ser fixas ou móveis, utilizadas para receber café a granel.
Além dos silos de armazenamento convencionais, existem os silos-secadores, que permitem armazenar e ao mesmo tempo reduzir a umidade do café, garantindo melhor conservação da qualidade.
Eles oferecem controle de ventilação e temperatura, ajudam a prevenir o surgimento de fungos e pragas, e são ideais para armazenagem de grandes volumes, especialmente quando se pretende manter o café por períodos mais longos.
3. Armazém de café
Os armazéns são, normalmente, estruturas fixas para armazenamento de café. Em geral são armazenados cafés ensacados e não à granel. O tamanho das estruturas depende da necessidade de capacidade de armazenamento.
Além dos mencionados acima, existem novas opções de armazenamento como galpões flexíveis metálicos ou galpões de lona.

(Fontes: Cafés Terra de Santana, Granfinale e Dinheiro Rural)
Alguns aspectos são importantes no design e construção de armazéns de café.
De acordo com o Manual de segurança e qualidade para a cultura do café, esses são os pontos mais importantes a serem considerados para armazéns para estocagem de café em sacaria:
- Instalação de portas de maneira técnica, facilitando operação de carga e descarga;
- Portas frontais umas a outras em paredes opostas;
- Pé-direito de no mínimo 5 metros;
- Paredes lisas, evitando-se reentrâncias e terminando em “meias cana” junto ao piso e nunca em ângulo reto;
- Fechamento lateral de paredes, junto ao piso e à cobertura, para evitar acesso de animais;
- Aberturas laterais de ventilação com aberturas reguláveis e telas de proteção;
- Instalações de lanternins para a boa circulação de ar natural;
- Uso de telhas transparentes, para aproveitamento da iluminação natural;
- Uso de piso de concreto impermeável, no mínimo, a 40 cm acima do nível do solo;
- Construção de marquises externas nas portas para carga e descarga em dias chuvosos;
- Instalação de sistema de prevenção e combate a incêndios.
Estratégia de armazenagem de café: tipos de embalagens
Existem várias opções para armazenagem de café, mas as mais comumente usadas, são os sacos de juta e as big bags.
1. Sacos de juta
Os sacos de juta são os mais usados para armazenagem de café. Suas vantagens são a boa ventilação e o fato de terem menor impacto ambiental.
No entanto, esses sacos também apresentam desvantagens. A possibilidade de entrada de água e patógenos são algumas delas.
2. Big bags
Os bags plásticos têm sido cada vez mais usados. Suas principais vantagens são o fato de serem mais herméticos, evitando entrada de água e patógenos e as variedades de volumes disponíveis.
Uma de suas desvantagens é o potencial de condensação de água dentro do bag. Posso pode deteriorar a qualidade do produto armazenado.
3. Embalagens herméticas (alta barreira)
Para giro prolongado/qualidade (especialidades), as herméticas reduzem troca gasosa/umidade e podem estender a vida útil do verde quando a umidade do grão está correta.
Existem diversos estudos para o desenvolvimento de novas opções de sacaria para armazenamento de café. Essas pesquisas têm por objetivo minimizar os problemas citados acima, mantendo ao máximo as características de qualidade do café.
Uma das soluções são sacos de papel kraft especial, que impedem as trocas gasosas e de umidade entre o produto e o ambiente. Por outro lado, eles evitam a condensação de água dentro da sacaria.

(Fontes: Mercado Livre e Rafitec)
Passo a passo de como armazenar grãos de café
Armazenar café com qualidade é seguir parâmetros técnicos de forma consistente. A Infoteca da Embrapa Café indica três variáveis críticas que precisam ser controladas desde o momento em que o grão deixa o secador até sua expedição.
1. Umidade do grão
Manter entre 11% e 12% (base úmida) para reduzir a atividade de água (Aw) e evitar proliferação de fungos, como Aspergillus ochraceus, responsável pela ocratoxina A (OTA).
Abaixo de 11%, há risco de perda de peso e quebra, equanto acima de 13%, o risco de mofo e aquecimento interno aumenta significativamente.
2. Temperatura do ambiente/lote
Ideal próximo de 20 °C e acima dessa temperatura, a respiração dos grãos acelera, aumentando a oxidação e prejudicando compostos aromáticos.
Se a temperatura externa ultrapassar 25–27 °C, intensificar ciclos de aeração e reduzir a altura de empilhamento.
3. Umidade relativa (UR) do armazém:
O recomendado é manter ≤ 65% para impedir a reabsorção de umidade pelo grão. A umidade relativa elevada por longos períodos leva ao reequilíbrio higroscópico e perda de padrão de bebida.
Atenção: O café seco pode absorver água novamente se a umidade do ar passar de 70%, especialmente sem embalagens fechadas ou barreiras físicas.
Quais fatores causam perda de qualidade do grão?
Existem vários fatores que podem influenciar a qualidade do café durante o armazenamento. As principais características que podem sofrer alterações no café são composição química, umidade e textura do grão, sabor e aroma do produto final.
Para evitar esses problemas, é necessário controlar temperatura, umidade do ar, umidade do grão, luminosidade e presença de pragas do armazenamento e patógenos.
Existe uma nova tendência de um nicho de mercado para o consumo de cafés fermentados. Nesse caso, as condições de armazenamento podem necessitar de adequação, de maneira que propiciem a fermentação e não a evite.
Essa fermentação controlada cria características únicas no café que podem se adequar mais ao paladar.

Engenheiro Agrônomo, Mestre e Doutorando em Produção Vegetal pela (ESALQ/USP). Especialista em Manejo e Produção de Culturas no Brasil.