A colheita do café é uma etapa determinante para a qualidade final da bebida, influenciando o aroma, sabor, corpo e acidez.
Mais do que apenas o ato de colher, ela envolve planejamento estratégico, conhecimento técnico e o uso do método mais apropriado, seja manual, semimecanizado ou mecanizado.
Para se destacar em um mercado cada vez mais exigente, é preciso entender o ponto ideal de maturação dos frutos, alinhar a colheita ao calendário climático da sua região e minimizar perdas durante a operação.
Além disso, o custo operacional da colheita pode representar até 40% das despesas totais com a lavoura, o que reforça a importância de um manejo inteligente e bem executado (Embrapa, 2023).
Índice do Conteúdo
Qual a época de colheita do café?
A época de colheita do café varia conforme o ciclo da planta, o regime de chuvas e o clima de cada região.
No Brasil, esse período acontece entre maio e setembro, podendo se antecipar ou se estender, dependendo do tipo de café e das condições locais. O pico da colheita costuma ocorrer entre junho e agosto.
A colheita deve ser feita quando os frutos atingem a maturação fisiológica, parecidos com cerejas, com casca vermelha ou amarela, e grãos com 55% a 70% de umidade.
Esse estágio é alcançado cerca de 7 meses após a floração do café, que pode acontecer mais de uma vez ao ano. Por isso, a colheita tende a se estender por vários meses.
Já em países próximos à linha do Equador, onde as condições climáticas são mais estáveis, a florada pode acontecer o ano todo, permitindo colheitas contínuas ao longo dos 12 meses.
O que pode interferir na qualidade do café?
Diversos fatores interferem na qualidade dos grãos colhidos, como o manejo da lavoura, clima, momento de colheita, beneficiamento, secagem e armazenamento.
Se a colheita ocorrer antes do tempo, por exemplo, a maioria dos frutos estão verdes e há alta concentração de fenóis, como taninos e ligninas. Essas substâncias interferem negativamente no sabor do café.
Quando são colhidos muitos secos, também sofrem alterações de sabor, devido a fermentação negativa, reduzindo sua qualidade.
Como a floração não ocorre somente uma vez, existem grãos em todos os estádios de maturação na mesma planta.
Assim, se a colheita do café não for manual, de grão a grão, o ideal é realizar quando estiver com maior uniformidade de maturação. Isso representa de 80% a 90% dos frutos já maduros, com menos de 20% dos frutos verdes.
Para a produção de cafés especiais, são utilizados grãos do tipo cereja, gerando maior valor agregado para os produtores que buscam produzir este tipo de café.
Época de colheita do café por estado (safra arábica e conilon)
Considerando a extensão territorial do Brasil e a diversidade de condições climáticas, a época de colheita do café varia entre os estados produtores.
Fatores como altitude, latitude, regime de chuvas, tipo de solo e predominância das cultivares (arábica ou conilon) determinam não apenas o período de maturação dos frutos, mas também a duração e intensidade da colheita.
Abaixo, são apresentados os períodos de colheita nas principais regiões produtoras do país, de acordo com a variedade cultivada.
Região / Estado | Tipo de Café | Período de Colheita | Observações |
Minas Gerais e São Paulo | Arábica | Maio a agosto (pico em junho e julho) | Pode se estender até setembro |
Espírito Santo | Conilon / Robusta | Abril a julho | Colheita mecanizada em grandes áreas |
Bahia (Chapada Diamantina e outras) | Arábica e Conilon | Abril a agosto (pico entre maio e agosto) | Início mais precoce em regiões com conilon |
Rondônia | Robusta / Conilon | Abril a agosto | Colheita concentrada em clima quente |
Paraná | Arábica | Maio a agosto | Regiões frias; colheita varia conforme altitude e clima local |
A colheita no país se concentra entre março/abril a setembro, com pico nacional entre junho e agosto, mesmo com algumas regiões iniciando mais cedo (abril) ou se estendendo até novembro ou dezembro.
O período sempre vai depender do clima e da variedade de café cultivada, especialmente nos estados de clima mais quente ou cultivos irrigados.
Classificação dos grãos de café
A coloração é um importante sinal da maturidade fisiológica dos frutos, com a cor cereja dos grãos indicando esse ponto.
Os grãos começam com coloração verde e com o avanço do processo de maturação, eles vão adquirindo a cor do cultivar, que pode ser vermelho ou amarelo.
Depois disso, os grãos vão ficando com uma coloração mais escura, já que perdem teor de água até estarem secos, no estádio conhecido como coco.
Com isso, os grãos podem ser classificados conforme seu ponto de maturidade:
- Café verde, ou grãos verdes (teor de água de 60 a 70 %): Quando ocorre a granação dos frutos, ou seja, o endosperma fica duro, e os frutos estão com coloração verde;
- Grãos verde cana (teor de água de 55 a 60 %): Os grãos vão mudando a coloração, se tornando mais maduros, passando a assumir a coloração do cultivar;
- Grãos cereja (teor de água de 45 a 55 %): Quando os frutos já estão totalmente com a coloração do cultivar, este é o momento ideal de colheita;
- Grãos passa (teor de água de 30 a 45 %): Os grãos já passaram do momento correto de colheita. O tegumento dos grãos, ou casca, começa a adquirir uma coloração escura;
- Grãos secos/coco (menor que 25%): Os frutos de café neste ponto já estão secos, com umidade baixa.
- Grãos bóia: São grãos que flutuam na água devido ao menor peso, que pode ocorrer devido a má formação do grãos, por estar imaturo ou com ataque de pragas como da broca do café.

(Fonte: Ciiagro)
Como é feita a colheita de café?
A colheita do café pode ser feita de 3 formas diferentes: manual (com trabalhadores que fazem a poda e retiram os frutos), semimecanizada (com trabalhadores e uso de máquinas em alguns processos) e mecanizada (totalmente feita através de máquinas).
Esses métodos de colheita vão depender da topografia, tamanho da propriedade, tecnologia disponível e exigência de qualidade do produto.
Veja as principais características, etapas e aplicações práticas de cada tipo de colheita utilizada nas lavouras brasileiras:
1. Colheita de café manual
A colheita manual ainda é utilizada em pequenas propriedades e, principalmente, em áreas declivosas, em que a entrada de colhedoras é inviável.
Esse tipo de colheita consiste em retirar manualmente os grãos dos ramos, exigindo muita mão de obra e maior tempo de trabalho.
Tudo começa com a arruação, que é a limpeza do solo sob as plantas e nas entrelinhas, facilitando a varrição e evitando a mistura dos grãos com restos vegetais.
Em seguida, são estendidas lonas ou utilizados panos e peneiras para recolher os frutos. A colheita manual do café ainda pode ser feite de duas formas:
- Derriça total: Quando todos os grãos são retirados da planta de uma vez, mesmo em diferentes estágios de maturação, exigindo que a maioria esteja no ponto cereja, já que a colheita ocorre apenas uma vez por ano;
- Colheita seletiva: Apenas os grãos maduros (cereja) são colhidos, deixando os verdes para uma próxima passagem. Este é método comum na produção de cafés especiais ou em regiões com colheita ao longo do ano, exigindo mais tempo e mão de obra.
Após a colheita, é feita a varrição. Nela, os grãos que caíram no chão devem ser coletados para não servirem de local viável para broca-do-café, já que essa praga pode prejudicar a próxima safra.
São utilizados rastelo e peneira para catar estes grãos e separá-los dos restos vegetais. Posteriormente, eles são comercializados por um preço menor em relação ao café colhido.

(Fonte: Helton)
2. Colheita de café semimecanizada
Na colheita semimecanizada, parte das operações são feitas manualmente e a outra parte de forma mecanizada.
Devido à falta de mão de obra para colheita do café, este método tem sido adotado por muitos produtores, por reduzir a quantidade de mão de obra, otimiza o tempo e gerar maior rendimento na operação.
Todas estas etapas podem ser feitas de modo manual ou mecanizado, gerando várias combinações de máquinas e mão de obra são possíveis como:
- Derriça: Manual ou com uso de derriçadeiras elétricas;
- Recolhimento: No pano ou com uso de máquina que recolhe a lona;
- Abanação: Feita em peneiras ou abanador mecânico.
Na colheita semimecanizada, um ou mais processos destes citados são feitos com uso de máquinas, o que agiliza o trabalho.
Para o café conilon ou robusta, o uso de máquina que recolhe e trilha os grãos já é uma opção de uso dos produtores.

(Fonte: Stihl)
3. Colheita de café mecanizada
A colheita mecanizada do café vem sendo empregada em diversas regiões, principalmente nas que apresentam topografia adequada para este método. Ela pode ser realizada em grandes, médias e pequenas propriedades.
Todas as etapas de colheita citadas acima são realizadas por uma máquina, seja automotriz ou de arrasto.
Com o uso de mecanização, há aumento do rendimento operacional e redução do custo de mão de obra.
Se você vai instalar sua lavoura de café e pretende colher mecanicamente, é recomendável ajustar o espaçamento do cafezal entre linhas de 3-4 metros. Isso vai facilitar a locomoção da máquina.

Como preparar a lavoura para a colheita mecanizada?
Para aproveitar o potencial da colheita mecanizada, o cafezal precisa estar adaptado.
O primeiro ponto é o espaçamento entre linhas, que deve ser de pelo menos 3,0 a 3,5 metros, permitindo a passagem da colhedora.
Também é necessário que as plantas tenham porte uniforme, o que pode ser ajustado com podas regulares como o esqueletamento ou o decote.
Além disso, o solo deve estar bem nivelado e com boa drenagem. Talhões muito irregulares ou com desníveis acentuados dificultam a operação das colhedoras e aumentam o risco de perdas ou danos às plantas.
Outro ponto importante neste método é a regulagem da colheitadeira, para evitar perdas de grãos ou danos nas plantas.
Tipos de colhedoras de café: Arrasto e automotriz
Existem dois principais tipos de colhedoras: as de arrasto, que são tracionadas por trator, e as automotrizes, que possuem tração própria.
As de arrasto são mais acessíveis e comuns em médias propriedades, enquanto as automotrizes oferecem maior rendimento por área, ideais para grandes cafezais.
Alguns modelos mais modernos contam com regulagens que permitem colher apenas os grãos maduros, preservando os verdes e reduzindo perdas.
A escolha da máquina deve considerar o porte da propriedade, o relevo e a frequência de uso.

(Fonte: Jacto)
Pós-colheita de café: O que fazer?
Com a colheita realizada, outro ponto que afeta a qualidade da bebida é a pós-colheita do café, feita em várias etapas.
Após a retirada dos grãos do campo, o teor de água é elevado nos grãos e o próximo passo é a secagem.
Esse processo pode ser feito em terreirões ou em terreiros suspensos, utilizados principalmente para fabricação de cafés especiais.
O café precisa estar entre 10,5% a 11,5% de umidade para ser beneficiado. O cuidado com a temperatura é importante, por isso é preciso de tempo em tempo revolver o café durante a secagem.
Após a secagem, o próximo passo é o beneficiamento. A máquina que realiza esse processo pode ser móvel ou fixa.
No beneficiamento, ocorre a separação de impurezas como pedras, restos vegetais, entre outros, e a separação dos grãos da casca seca.
Depois de beneficiados, os grãos são colocados em sacarias ou big-bags, que devem ser armazenados em local arejado, piso impermeável, limpo e sem iluminação solar direta.
Os sacos ou big-bags devem ser colocados sobre paletes para evitar contato direto com o chão ou paredes.

(Fonte: Campo e Negócio)
Quanto vale uma colheita de café?
O valor de uma colheita de café depende tanto do preço de mercado quanto dos custos de produção.
Em maio de 2025, o café arábica tipo 6 chegou a R$ 1.308,24/sc (Cepea/Esalq), reflexo da instabilidade no mercado e do avanço da safra de café em regiões produtoras.
Entre os custos, a colheita representa cerca de 20% do total, principalmente pela mão de obra.
Em sistemas manuais, são necessários até 20 trabalhadores, o que eleva os gastos. Já na colheita semimecanizada, esse número cai para 4 ou 5, e na mecanizada, para apenas 1 ou 2 operadores.
A mecanização reduz custos e permite colher os frutos mais próximos do ponto ideal de maturação, melhorando a qualidade final do café.
Apesar do investimento inicial em máquinas, muitos produtores têm recuperado esse valor ao longo das safras e até gerado renda extra ao prestar serviços de colheita para terceiros.
Portanto, colher bem é tão importante quanto vender bem. O tipo de colheita adotado influencia diretamente no custo por saca, na qualidade do grão e no resultado financeiro da produção.


Engenheiro Agrônomo, Mestre e Doutorando em Produção Vegetal pela (ESALQ/USP). Especialista em Manejo e Produção de Culturas no Brasil.