Veja agora como fazer fosfatagem na sua fazenda com estas dicas.
O fósforo é considerado o nutriente que dá a maior limitação nutricional na agricultura tropical, como no Brasil.
Isso porque nossos solos contam com pouco fósforo e, ao aplicar no solo, temos baixa eficiência de aproveitamento pelas plantas
Estima-se que apenas 15 a 25% do fósforo aplicado é aproveitado pela lavoura.
Neste artigo você poderá saber mais sobre a dinâmica do fósforo no solo e como aplicar esse conhecimento na lavoura.
>> Tudo o que você precisa saber sobre cálculo de calagem (+calcário líquido)
Veja também aqui como otimizar o manejo desse nutriente na sua propriedade! Confira:
(Fonte: Sousa et al. (2016) em Embrapa)
Índice do Conteúdo
- 1 Entenda a importância da fosfatagem para os solos brasileiros
- 2
- 3 Mas afinal, o que é fosfatagem?
- 4 Cálculo da fosfatagem
- 4.1 Recomendação de fosfatagem por Vitti e Mazza
- 4.2 Recomendação de fosfatagem por Souza e Lobato
- 4.3 Cálculo da fosfatagem por Sousa et al. 2006 (para região do Cerrado e culturas anuais)
- 4.4 Análise de solo pelo método Resina
- 4.5 Análise de solo pelo método Melich-1
- 4.6 Cálculo da fosfatagem por Sousa et al. 2016 (para região do Cerrado e culturas anuais)
- 5 Cálculo do custo da fosfatagem
- 6 Fosfatagem e as formas do fósforo no solo
- 7 Importância do fósforo na planta
- 8 Como fazer a aplicação da fosfatagem
- 9 O que impacta na disponibilidade de fósforo do meu solo?
- 10
- 11 Conclusão
Entenda a importância da fosfatagem para os solos brasileiros
Os solos tropicais são aqueles antigos, que já passaram por alto intemperismo.
Ou seja, em áreas tropicais ocorrem altas temperaturas e alta frequência de chuvas, acelerando os processos de formação de solo, o chamado intemperismo.
É por causa disso, do alto intemperismo, que temos solos no Brasil com baixa fertilidade e ricos em óxido de ferro e alumínio.
Assim temos solos com baixíssimos teores de fósforo, e quando aplicamos algum fertilizante fosfatado os óxidos de ferro e alumínio se ligam ao fósforo, formando compostos que a planta não consegue absorver.
Desse modo as adubações são ineficientes e você perde dinheiro ao invés de ganhar produtividade.
A fosfatagem é a prática que fazemos para que isso não ocorra.
Com os cálculos corretos, que você verá ao longo do texto como fazer, sabemos a dose ideal para que o fósforo do solo fique disponível para as plantas.
>> Curiosidades sobre calagem em 5 casos especiais
Mas afinal, o que é fosfatagem?
Fosfatagem é a técnica de correção de fósforo do solo com aplicação via fertilizantes minerais, sendo os mesmos incorporados ou não no perfil do solo.
Essa é uma prática que tem como objetivo a elevação da disponibilidade de fósforo do solo para níveis adequados.
No Cerrado por exemplo, consideramos os seguintes níveis de fósforo:
Interpretação da análise de fósforo no Cerrado pelos métodos da resina trocadora de íons e Mehlich-1 para culturas anuais em geral, com base em amostras de solo coletadas na camada de 0 cm a 20 cm
(Fonte: Sousa et al. (2004) em Embrapa)
Abaixo você também pode conferir os diferentes níveis de fósforo para a cultura de arroz:
(Fonte: Sousa et al. em Campos & Negócios)
Agora que você viu a importância da fosfatagem para os cultivos no Brasil, vamos entender mais sobre cada forma em que o fósforo pode estar no solo:
>> Como fazer calagem e gessagem nas culturas de soja, milho e pastagem
Cálculo da fosfatagem
Para começar o cálculo temos que ter em mente que para aumentar 1mg/dm³ de P precisamos colocar no solo, em média, 10 Kg/ha de P2O5.
Dentro desse contexto e considerando os diferentes solos do Brasil temos alguns métodos e recomendações de fosfatagem.
>> Como fazer manejo de fósforo para aumentar a produção de cana
Recomendação de fosfatagem por Vitti e Mazza
Os autores Vitti e Mazza fizeram uma recomendação de fosfatagem para quando a análise de solo para quantificação de fósforo for por resina.
Assim, eles recomendam a fosfatagem quando:
- CTC menor que 60 mmolc/dm³ (6 cmolc/dm-3 ) ou
- Argila menor que 30% e P resina menor ou igual 15 mg/dm3
Sendo indicado a adição de 5 kg de P2O5 a cada 1% de argila.
Para exemplificar, considere o seguinte solo:
CTC = 4 cmolc/dm³ ;
Argila = 45%;
P resina = 20mg/dm³
Assim, devemos fazer a fosfatagem porque, embora o P resina seja maior que 20 mg/dm³, a CTC é menor que 6 cmolc/dm³.
Além disso, a dose de P2O5 seguindo esse método seria de 45% de argila x 5 Kg de P2O5 = 225 Kg de P2O5/ha.
Recomendação de fosfatagem por Souza e Lobato
Para análise de solo pelo método Mehlich, Souza e Lobato indicam:
(Fonte: Souza e Lobato em Vitti et al. 2014)
Cálculo da fosfatagem por Sousa et al. 2006 (para região do Cerrado e culturas anuais)
Os autores Sousa et al. criaram um método de cálculo de fosfatagem para a região do Cerrado e, especialmente, para culturas anuais, como soja e milho.
Esse método é baseado na capacidade tampão de fósforo do solo (CTP).
Ou seja, é a dose de P2O5 que precisamos colocar no solo para elevar em 1 mg/dm³ o teor de P na camada amostrada de 0 cm a 20 cm do solo.
Esse valor de CTP varia com a textura do solo e a extração de fósforo na análise de solo, como mostra a tabela abaixo:
(Fonte: Sousa et al. (2006) em Embrapa)
Lembrando que o valor de fósforo desejado para que você atinja 80% do potencial da cultura você pode verificar à esquerda na tabela acima.
Como por exemplo, se eu tenho um solo com 55% de argila, minha análise de solo deve mostrar 8 mg/dm³ de P pelo método Mehlich-1 ou 15 mg/dm³ pelo método de resina.
Note que a análise de solo pelo método Mehlich-1 é mais detalhado e pode mostrar maiores diferenças nas doses de P.
>> Como conseguir mais nutrientes para sua lavoura com adubação verde
Com sua análise de solo em mãos e após verificar a tabela acima, é só colocar os valores na fórmula:
Dose de P (kg/ha de P2O5) = (Teor desejado de P mg/dm³ – Teor atual de P mg/dm³) x CTP
Vamos para um exemplo considerando o seguinte solo:
- 57% de argila;
- Análise do solo pelo método resina : 8 mg/dm³
- Análise do solo pelo método Mehlich-1: 5 mg/dm³
Aplicando a fórmula:
Análise de solo pelo método Resina
O valor de fósforo desejado é de 15 mg/dm³ e a CTP de 16 conforme vimos na tabela, portanto:
Dose de P (kg/ha de P2O5) = (15 – 8) x 16 = 112 Kg/ha de P2O5
Análise de solo pelo método Melich-1
O valor de fósforo desejado é de 7 mg/dm³ e a CTP de 37 conforme vimos na tabela, portanto:
Dose de P (kg/ha de P2O5) = (7-4) x 37 = 111Kg/ha de P2O5
Esse método é mais exato do que o uso de tabelas.
>> Como fazer amostragem de solo com estes 3 métodos diferentes
Dessa maneira, os autores criaram outras fórmulas para o cálculo de fosfatagem para culturas anuais no Cerrado como veremos a seguir:
Cálculo da fosfatagem por Sousa et al. 2016 (para região do Cerrado e culturas anuais)
Também podemos fazer o cálculo para culturas anuais e no Cerrado por meio das equações abaixo.
Mas atenção, pois essas fórmulas só são válidas para solos com teores de argila de até 70%!
(Fonte: Sousa et al. 2016 em Embrapa)
Cálculo do custo da fosfatagem
Devemos considerar no custo do adubo também o frete até a entrega na propriedade.
Assim, temos a fórmula:
P2O5 (R$/kg) = Custo da tonelada de produto na propriedade / Teor de P2O5 na tonelada
Para saber o custo da tonelada você deverá orçar na sua região.
O teor de P2O5 por tonelada você pode verificar quando fizer o orçamento, sendo que aqui temos os valores para o Supertriplo e Supersimples:
Supertriplo : Em 1 tonelada há 420 kg de P2O5.
Supersimples: Em 1 tonelada há 180 kg de P2O5.
Vamos para um exemplo:
Preço do Supertriplo na propriedade= R$ 1340 por tonelada
P2O5 (R$/kg) do Supertriplo= 1340 / 420 = R$ 3,19/ Kg de P2O5
Preço do Supersimples na propriedade= R$ 1150 por tonelada
P2O5 (R$/kg) do Supersimples = 1150 / 180 = R$ 14,375/ Kg de P2O5
Dessa forma, mesmo que o Supersimples pareça mais barato, na verdade o que compensa mais nesse caso é o Supertriplo.
Mas para saber qual foi o seu custo total da fosfatagem você precisa levar em conta as despesas do maquinário e dos operadores.
Além disso, é importante saber qual foi o custo do fertilizante por hectare para observar o quanto essa prática foi rentável
Você pode contabilizar esses custos em papéis ou planilhas, porém fica muito mais fácil e prático por meio de um software agrícola:
Agora vamos conhecer as principais formas de fósforo no solo e suas relações com a fosfatagem:
>> Guia para iniciantes sobre Agricultura de Precisão (AP)
Fosfatagem e as formas do fósforo no solo
Fósforo fixado
Essa é a forma que mais se ouve falar quando estamos conversando sobre o fósforo.
E não é pra menos, é essa a forma de fósforo que está combinada com outros elementos, especialmente ferro e alumínio, não podendo ser absorvidos pelas plantas.
Podemos manejar a fixação aplicando mais fósforo do que o solo em questão pode fixar, permitindo que sobre nutriente para as plantas absorverem.
É possível também aplicar o fósforo bem próximo à planta (como no sulco de semeadura).
Ou ainda podemos fazer a adubação em momentos críticos da cultura, assim ela pode absorver o fósforo antes que ele seja fixado.
Lembrando que a quantidade de fósforo fixado depende das características do solo, sendo que quanto mais óxido de ferro e alumínio ele possuir, maior será a fixação.
Além disso, a reação com as argilas, principalmente aquelas com relação 1:1 de sílica:alumínio, como as caulinitas, é outra maneira de fixação do fósforo.
Fósforo imobilizado
O fósforo imobilizado é aquele na forma orgânica, também não assimilável pelas plantas.
No entanto, com a mineralização da matéria orgânica ele pode se tornar disponível no solo.
Fósforo adsorvido
É quando o fósforo está ligado aos colóides (partículas) do solo, podendo ser disponível para as plantas por meio de trocas com as raízes.
Fósforo assimilável
A forma assimilável é o fósforo diluído na solução do solo, sendo facilmente absorvido pela lavoura.
Fósforo disponível
Como acabamos de ver, o fósforo disponível é a soma do fósforo adsorvido e o fósforo assimilável.
Importância do fósforo na planta
O fósforo atua no armazenamento e fornecimento de energia, além de fazer parte da fotossíntese e respiração.
Esse nutriente ainda estimula o crescimento da planta, estimulando também a nodulação de raízes e eficiência da fixação biológica de nitrogênio no caso de leguminosas.
Ao contrário do que ocorre no solo, na planta o fósforo é muito móvel.
É por isso que em caso de deficiência o fósforo move-se dos tecidos velhos para os mais novos, sendo a deficiência visualizada nas folhas mais velhas das plantas.
(Fonte: Adaptado de Monteiro, Carmello e Dechen)
Agora que sabemos mais sobre a importância do fósforo, veremos como aplicá-lo a seguir:
>> 3 maneiras de lucrar mais com um software de gestão agrícola
Como fazer a aplicação da fosfatagem
O fósforo é pouco móvel no solo e, por isso, sua incorporação no perfil é mais eficiente em termos de respostas da produtividade.
Essa pouca mobilidade no solo é devido ao fato de que o fósforo é facilmente fixado nos solos tropicais, como os do Brasil.
A fixação aumenta com o tempo de contato entre o fósforo e as partículas do solo.
Por isso, a utilização mais eficiente do fósforo ocorre pela aplicação logo antes do plantio da safra, após calagem e gessagem.
Desse modo, as plantas conseguem absorver o fósforo antes que o mesmo seja fixado.
Também é por isso que a prática de aplicação de fósforo em sulcos de semeadura é tão eficiente.
Você pode fazer sua aplicação de fósforo de dois modos:
>> Como saber seu custo de produção agrícola
Fosfatagem com aplicação em faixas
Quanto maior contato do fósforo com o solo, maior será sua fixação.
A aplicação em faixas busca diminuir esse problema, colocando o fósforo apenas nas faixas e plantio.
No entanto, em áreas de plantio direto recomenda-se que seja alternado a aplicação em faixas com a aplicação em área total.
Isso garante o fornecimento de fósforo na planta em seus primeiros estádios, favorecendo seu desenvolvimento.
Fosfatagem com aplicação em sulco
A aplicação de fósforo em sulco é comum para que a planta tenha esse nutriente logo no começo de seu desenvolvimento, favorecendo a produção.
Como já falamos, a dose da fosfatagem pode ser adicionada à adubação de base (no sulco), sendo parcelada em até 5 cultivos.
Essa é uma forma econômica e prática de aplicação, mas que, normalmente, gera apenas pequenas faixas de solo com níveis adequados de fósforo, e não a área toda.
(Fonte: Agrimaisonline)
Fosfatagem com aplicação em área total
A aplicação em área total é muito utilizada, permitindo que altas doses sejam colocadas no solo sem danificar a planta.
O suprimento de fósforo em uma maior área também favorece o crescimento de raízes, oferecendo um reservatório maior de umidade e nutrientes.
Dependendo da situação de seu solo e seu sistema de produção um tipo de aplicação é mais indicada.
Por exemplo, solos com grande poder de fixação de fósforo talvez seja mais indicado a aplicação em faixas, enquanto outros podem fazer em área total.
> Tudo o que você precisa saber sobre área de refúgio para plantas Bt [Infográfico]
Custos envolvidos na aplicação da fosfatagem
Nem sempre é fácil ter dinheiro o suficiente para, além de todos os custos de produção, realizar a fosfatagem em uma única aplicação.
Os preços dos fertilizantes fosfatados e as altas doses que alguns solos podem precisar, inviabiliza totalmente a aplicação dessa dose toda de uma vez.
Nesse caso, você pode acrescentar na aplicação no sulco de semeadura a dose de correção, mas parcelando essa quantidade em vários cultivos.
Assim, após alguns anos você aplicou a dose total recomendada na correção.
No entanto, não faça esse parcelamento em mais de 5 cultivos para que o nível de fósforo atinja os níveis adequados.
>> 4 motivos pelos quais você não deve ignorar cigarrinha-do-milho
O que impacta na disponibilidade de fósforo do meu solo?
Quantidade e tipo de argila
Quanto maior a quantidade de argila, maior será a fixação de fósforo.
Além disso, a argila do tipo caulinita, óxidos e hidróxidos de ferro e alumínio e minerais de argila amorfos, fixam mais o fósforo dos fertilizantes.
Aeração
A aeração é essencial para decomposição da matéria orgânica do solo, fonte de fósforo, e para o crescimento de raízes.
Em áreas compactadas tanto a decomposição orgânica quanto o crescimento das raízes não ocorre, prejudicando a planta como um todo e a disponibilidade de fósforo para a planta.
Umidade
Uma maior quantidade de água no solo faz com que o fósforo se solubilize mais, ficando mais disponível.
Mas é claro que o excesso de água reduz a aeração e também pode ser prejudicial para a disponibilidade desse nutriente.
Níveis de fosfato no solo
Dependendo do nível de fosfato no solo a disponibilidade será diferente.
Em casos de solos que receberam fertilizantes de fósforo por muito tempo é possível que os níveis sejam altos, com maior disponibilidade para a planta.
Para saber os níveis de fosfato no solo devemos fazer a análise de solo periodicamente.
Outros nutrientes
A aplicação de cálcio em solos ácidos como os nossos aumentam a disponibilidade de fósforo, enquanto que zinco a limita.
pH do solo
O fósforo se encontra nas suas formas mais disponíveis para as plantas quando o pH do solo está na faixa de 5,5 a 7.
Desse modo, a calagem é um método de melhoria da fixação de fósforo, já que a prática libera íons OH‾ que tomam o lugar do fósforo fixado.
Isso é um dos benefícios indiretos da calagem que poucos conhecem.
(Fonte: International Plant Nutrition Institute – IPNI)
Conclusão
A fosfatagem é uma importante prática para os solos brasileiros, garantindo o fornecimento adequado de fósforo para nossas culturas.
Aqui nós vimos que existem diferentes modos de aplicação e métodos de cálculo para essa medida.
Com o controle completo de sua fazenda você consegue verificar quais são as melhores escolhas para a sua propriedade, considerando a parte financeira e agronômica.
Verifique a condição de seu solo e consulte suas opções, por fim utilize as informações deste artigo e faça boas escolhas na hora da fosfatagem!
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