A tecnologia Bt revolucionou o controle de insetos-praga nas lavouras de milho, soja e algodão, virando uma aliada no manejo integrado e na redução do uso de inseticidas.
Porém, para que essa ferramenta continue eficaz ao longo do tempo, é indispensável adotar boas práticas, e entre elas está a implantação correta das áreas de refúgio.
As áreas de refúgio são obrigatórias por lei e funcionam como uma estratégia para evitar que as pragas criem resistência às tecnologias Bt.
Apesar da implantação simples, a tecnologia deve seguir critérios técnicos, como proporção, distância e escolha correta dos híbridos.
Índice do Conteúdo
O que é um Bt?
O Bt é a sigla para Bacillus thuringiensis, bactéria que produz proteínas tóxicas para pragas como lepidópteros e coleópteros.
A tecnologia Bt se confere às plantas com capacidade de resistir a determinados insetos-praga.
Isso é feito por meio da biotecnologia, com inserção de genes da bactéria Bacillus thuringiensis, que produz uma proteína tóxica para alguns insetos.
A adoção de plantas transgênicas em culturas de interesse agronômico, como milho, soja e algodão, vem ganhando mercado dia a dia, principalmente pela praticidade em seu manejo.
Com isso, a tecnologia Bt continua sendo utilizada nas principais culturas agrícolas do Brasil pela sua eficácia no controle de insetos-praga, como lagartas e brocas.
Essa tecnologia ainda permite a produção de proteínas inseticidas que agem especificamente em pragas-alvo, reduzindo o uso de inseticidas químicos.
Benefícios da tecnologia Bt:
- Reduz o uso de inseticidas químicos;
- Proporciona controle eficiente de pragas-alvo;
- Garante proteção contínua durante todo o ciclo da cultura;
- Melhora a eficiência e o rendimento operacional;
- Integra-se ao Manejo Integrado de Pragas (MIP);
- Reduz o impacto ambiental do controle químico.
Como funciona a tecnologia Bt?
A tecnologia Bt funciona com base na inserção de genes da bactéria Bacillus thuringiensis (Bt) no DNA de plantas cultivadas, conferindo a elas a capacidade de produzir proteínas inseticidas.
Essas proteínas são tóxicas apenas para insetos-praga específicos, principalmente da ordem Lepidoptera (lagartas), e não afetam seres humanos, animais ou outros organismos não-alvo.
Segundo relatório do ISAAA (2023) e da Céleres, o Brasil ocupa a segunda posição mundial em área cultivada com plantas transgênicas, atrás apenas dos Estados Unidos. Os dados mais recentes indicam:
- Milho Bt: Mais de 90% da área cultivada com milho verão e safrinha utiliza híbridos com tecnologia Bt;
- Soja Bt (soja Intacta RR2 PRO): Representa cerca de 85% a 92% da área de soja no Brasil, combinando tolerância ao glifosato e resistência a lagartas;
- Algodão Bt: Também supera 90% da área cultivada com variedades Bt e Bt+RR.
No total, é estimado que o Brasil tenha ultrapassado a marca de 55 milhões de hectares cultivados com OGMs (organismos geneticamente modificados), sendo a maioria com alguma proteção Bt incorporada.
Essa alta adesão das variedades transgênicas se deve à maior eficiência, facilidade, otimização de operações, entre outros que você já conhece.
As plantas com tecnologia Bt conferem resistência a insetos. No Brasil, temos sementes Bt para milho, soja e algodão, sendo a cultura do milho Bt a mais utilizada se comparada a outros países.
As tecnologias Xtend® e Enlist®, que devem chegar ao campo nas próximas safras, trarão novas proteínas de resistência a insetos.
Isso irá expandir a variedade de pragas e lagartas controladas pela tecnologia Bt, tanto em milho quanto em soja.
Principais pragas controladas pela tecnologia Bt
As principais pragas agrícolas controladas pelas plantas Bt de soja, milho e algodão são:
- Lagarta-da-soja (Anticarsia gemmatalis);
- Falsa-medideira (Chrysodeixis includens, Rachiplusia nu, Trichaplusia ni);
- Vaquinha (Diabrotica speciosa);
- Broca-das-axilas (Crocidosema aporema);
- Lagarta-das-maçãs (Heliothis virescens);
- Lagarta-elasmo (Elasmopalpus lignosellus);
- Helicoverpa (Helicoverpa spp., incluindo a lagarta-da-espiga H. zea);
- Lagarta-rosca (Agrotis ipsilon);
- Lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda);
- Lagarta curuquerê (Alabama argilacea);
- Lagarta-rosada (Pectinophara gossypiella);
- Spodoptera (Spodoptera eridania e Spodoptera cosmioides);
- Broca-do-colmo (Diatrea saccharalis).
O primeiro milho Bt foi aprovado no Brasil em 2007, com a proteína Cry1Ab da bactéria Bacillus thuringiensis, por isso o nome “Bt”.
Desde então, novos eventos transgênicos foram desenvolvidos, e outros ainda devem ser lançados.
Cada “evento” é o resultado da inserção de um gene específico em uma célula vegetal, que passa a produzir uma proteína inseticida. Ao consumir a planta, o inseto é afetado e morre.
Após a seleção do evento, as plantas são multiplicadas e as sementes transgênicas são comercializadas.
Resistência de insetos à tecnologia Bt
Devido à alta adoção dessa tecnologia, muitas vezes sem as regras de segurança, pode haver resistência de pragas. Esse é o principal risco para a tecnologia bt.
Algumas práticas já vêm ocorrendo por parte do melhoramento genético, como expressão de altas doses dessas proteínas inseticidas.
Também há a incorporação de mais de um gene que expressa mais de uma proteína inseticida na planta (estratégia de “pirâmide de genes”).
Mas essas estratégias só vão dar resultado se você também fizer sua parte, adotando as áreas de refúgio.
Na condição de cultivo em um país tropical como o Brasil, é possível plantar o ano inteiro. Isso faz com que exista alimento para os insetos o ano todo, possibilitando seu desenvolvimento contínuo.
Para piorar, as altas temperaturas possibilitam várias gerações ao ano, o que torna mais rápido o aparecimento de insetos resistentes.
O S. frugiperda é o inseto com maior potencial para desenvolver resistência às toxinas Cry1Ab e Cry1F expressas em milho Bt; e Cry1Ac, Cry2Ab2 e Cry1F, expressas em algodão Bt. Uma das razões é sua alta taxa de reprodução.
- MILHO: Cry 1Ab, Cry 1A.105, Cry 1F, Cry 2Ab2, Vip 3A, Cry 3Bb1
- ALGODÃO: Cry 1Ab, Cry 1Ac, Cry 1F, Cry 2Ab2, Cry 2Ae, Vip 3A
- SOJA:Cry 1Ac, Cry 1F
Inúmeros estudos buscam entender a seleção de resistência das pragas a organismos geneticamente modificados.
Conforme pesquisa da Universidade Federal de Lavras, o processo de transmissão da proteína Bt pode ocorrer ainda nos ovos dos insetos.
Os pesquisadores da Esalq/USP e UFV, também comprovaram o potencial de evolução da resistência da lagarta-do-cartucho ao milho Yieldgard VT PRO.
Portanto, se nenhuma estratégia para manejo da resistência for adotada na lavoura, a seleção persistente de insetos resistentes será inevitável.
Se você usa tecnologia Bt, coloque a realização de áreas de refúgio em seu planejamento agrícola.
Oriente seus vizinhos a utilizar a área de refúgio também, pois caso ele não utilize, pragas resistentes podem entrar em sua propriedade.
O que é área de refúgio para plantas com tecnologia Bt?
A área de refúgio é o plantio de uma área da lavoura sem a tecnologia Bt. Na prática, você deve dividir sua lavoura em uma parte com tecnologia Bt e outra sem tecnologia.
Para que o refúgio funcione , os dois híbridos, Bt e não Bt, devem ter características semelhantes, como porte e ciclo vegetativo.
O principal objetivo dessa estratégia é retardar o surgimento de pragas resistentes à tecnologia Bt. Mas, para ser eficaz, o refúgio precisa obedecer a regras específicas de proporção, distribuição e manejo.
Como implementar uma área de refúgio?
Quando você utiliza uma tecnologia Bt, a área de refúgio é fundamental. Inclusive, essa prática é regulamentada pela Instrução Normativa nº 59, de 19 de dezembro de 2018.
Caso você não utilize o refúgio, pode ser penalizado, pois é medida fitossanitária para evitar o manejo da resistência de pragas.
Por isso, tenha cuidado na escolha do híbrido que vai utilizar com e sem tecnologia. Como já citei, eles devem apresentar algumas características semelhantes.
Outro ponto importante é a distância, pois a área de refúgio não deve estar a mais de 800 m de distância das plantas transgênicas.
Esta é a distância máxima verificada pela dispersão dos adultos de insetos no campo para que se tenha os cruzamentos de adultos sobreviventes da lavoura Bt com insetos da área de refúgio.
Para obedecer à regra, você pode realizar o plantio dos híbridos sem a tecnologia de duas maneiras:
Qual o tamanho da área de refúgio?
Para determinar o tamanho da área de refúgio em sua propriedade, o primeiro passo é consultar qual evento foi utilizado.
A empresa detentora da tecnologia Bt irá indicar qual a porcentagem da área deve ser de refúgio, conforme indica a legislação.
Normalmente, a indicação é de 20% para soja, cana-de-açúcar e algodão, em média, e de 5% a 10% para milho.
Fique atento à recomendação no momento da compra de suas sementes.
Refúgio e resistência na lavoura de milho
A utilização de áreas de refúgio em milho é fundamental para a manutenção da tecnologia Bt e para evitar possíveis casos de resistência.
Inúmeros estudos comprovam a eficiência da utilização de áreas de refúgio no milho em áreas que utilizam a tecnologia Bt.
Já foi observada a quebra de resistência à proteína Cry1F, causada, em muitos casos, pelo uso incorreto ou ausência de áreas de refúgio.
A falha pode ter ocorrido por negligência no momento da implantação, com no caso da lagarta-do-cartucho, que desenvolveu resistência à Cry1F.
Para evitar possíveis outros casos de resistência no milho, pesquisadores alertam produtores a realizar o MIP (Manejo Integrado de Pragas), a instalação da área de refúgio corretamente e realizar constantemente o monitoramento de sua lavoura.

Dicas para o manejo em áreas de refúgio para plantas Bt
As áreas de refúgio para plantas com tecnologia Bt devem ser conduzidas como toda a lavoura convencional, com o uso de fertilizantes, pulverizações de herbicidas, fungicidas e inseticidas.
O controle de pragas na área de refúgio pode ser feito por vários métodos, exceto com a utilização de bioinseticidas à base de Bt. Veja a seguir o que fazer:
- Elimine plantas daninhas, pois elas podem ser hospedeiras de pragas resistentes;
- Realize o monitoramento de pragas constantemente, isso irá facilitar o manejo;
- Evite a aplicação constante de inseticida. Quanto maior o número de aplicações, menor sua efetividade para evitar o desenvolvimento de resistência dos insetos;
- Realize a rotação de culturas;
- Realize o Manejo Integrado de Pragas, evitando fazer apenas um tipo de controle.
Seguindo essas práticas, você fortalece a eficácia da tecnologia Bt e contribui para a sustentabilidade do sistema produtivo.
Lembre-se: o sucesso da área de refúgio depende da correta implantação e manejo contínuo. Mais do que uma exigência legal, é uma estratégia para preservar o controle de pragas e proteger sua lavoura.

Engenheiro-Agrônomo (UFRA/Pará), Técnico em Agronegócio (Senar/Pará), especialista em Agronomia (Produção Vegetal) e mestre em Fitotecnia pela (Esalq/USP).