O Brasil, referência em agricultura tropical, tem liderado a adoção de práticas de manejo voltadas à conservação do solo e à sustentabilidade da produção.
Nos últimos anos, avançaram os estudos e a aplicação de técnicas que promovem a saúde do solo e fortalecem a resiliência das lavouras frente aos desafios climáticos da região tropical.
Entre os pilares desses sistemas conservacionistas estão o mínimo revolvimento do solo, cobertura vegetal permanente e rotação de culturas.
Nesse cenário, as plantas de cobertura ganham destaque protegendo o solo em momentos estratégicos, como nas entressafras de grãos, na renovação da cana-de-açúcar e entre fileiras de cultivos perenes.
Índice do Conteúdo
O que são plantas de coberturas?
As plantas de cobertura são culturas vegetais usadas para proteger e melhorar o seu solo, como um “cobertor vivo” para a sua terra.
Utilizadas em períodos sem cultivo principal, como nas entressafras ou em áreas de pousio, as plantas de cobertura melhoram a saúde do solo, controlam plantas daninhas, reduzem a erosão e promovem a ciclagem de nutrientes.
Essa prática é um dos pilares do sistema de plantio direto, já que as plantas completam seu ciclo no solo e, em seguida, formam uma camada de palhada que protege e enriquece os cultivos comerciais.
Elas ainda ajudam a controlar a erosão causada pela chuva e pelo vento, reduzem a perda de nutrientes e criam um ambiente mais equilibrado mesmo fora das safras.
As raízes das plantas de cobertura conseguem liberam compostos orgânicos como ácidos, açúcares e aminoácidos, que alimentam microrganismos benéficos.
Ao nutrir o solo, as plantas criam um ambiente mais equilibrado, menos suscetível a patógenos e mais eficiente na ciclagem de nutrientes, contribuindo para uma lavoura produtiva a longo prazo.
Por que adotar plantas de cobertura na propriedade?
As plantas de cobertura fortalecem o solo, reduzindo problemas de erosão, compactação e baixa fertilidade, ao mesmo tempo que aumentam o potencial das suas culturas comerciais.
A prática se torna uma estratégia inteligente por proteger a lavoura e garantir mais produtividade no futuro. Em vez de reagir aos problemas, você se antecipa, construindo um solo mais saudável e resiliente.
Com isso, você usa uma quantidade menor de fertilizantes, por haver menos pragas e maior resistência a secas e chuvas intensas.
Um solo saudável e bem cuidado é a base de tudo. Com as plantas de cobertura, você está garantindo que sua terra continue produtiva por muitos e muitos anos.
Quais são as principais plantas de cobertura?
Existe uma grande variedade de plantas de cobertura que você pode usar. A escolha vai depender muito dos seus objetivos e das condições da sua área.
Normalmente, as plantas se dividem em três grandes famílias botânicas, cada uma com suas características e benefícios. Veja abaixo:
1. Gramíneas
São excelentes para produzir grande volume de palha, o que é ótimo para proteger o solo contra a erosão e para o sistema de plantio direto.
As gramíneas tem raízes fibrosas e abundantes, ajudando a agregar as partículas do solo, melhorando sua estrutura física.
O tipo de planta de cobertura pode variar conforme a região e a época do ano. A aveia preta, por exemplo, é muito utilizada no Sul do Brasil durante o inverno, por ter uma boa cobertura e controle de algumas plantas daninhas.
Já o milheto é uma escolha melhor para o verão em regiões mais quentes, pois cresce rápido, tolera bem a seca e produz muita massa.
Exemplos de gramíneas: Aveia preta (Avena strigosa), Milheto (Pennisetum glaucum), Braquiárias (Urochloa spp. como a B. ruziziensis e B. brizantha), Centeio (Secale cereale), Capim-sudão (Sorghum sudanense), Sorgo (Sorghum bicolor).
2. Leguminosas
As leguminosas são utilizadas, principalmente, na adubação verde devido à sua capacidade de fixar nitrogênio atmosférico no solo.
Esse processo acontece por meio de uma relação simbiótica com bactérias do gênero Rhizobium, que vivem em nódulos formados nas raízes dessas plantas.
O nitrogênio fixado é um dos nutrientes mais importante para o desenvolvimento das culturas, contribuindo para a fertilidade do solo e reduzindo a necessidade de fertilizantes nitrogenados nas safras seguintes.
As crotalárias são famosas não só por fixarem grandes quantidades de nitrogênio, mas também por serem muito eficazes no controle de diferentes tipos de nematoides.
A mucuna-preta, por exemplo, é uma boa opção para abafar plantas daninhas devido ao seu crescimento vigoroso e também fixa muito nitrogênio.
Exemplos: Crotalárias (como Crotalaria spectabilis, Crotalaria juncea, Crotalaria ochroleuca), Ervilhaca (Vicia sativa), Mucunas (como a mucuna-preta, Mucuna aterrima), Feijão-de-porco (Canavalia ensiformis), Guandu (Cajanus cajan), Trevo-branco (Trifolium repens).
3. Crucíferas (ou Brássicas)
As crucíferas são conhecidas por suas raízes pivotantes vigorosas e profundas, que são ótimas para descompactar camadas adensadas do solo.
Algumas também têm um bom efeito na ciclagem de nutrientes, especialmente o fósforo, e podem ajudar no controle de certos patógenos do solo.
O nabo forrageiro, uma das crucíferas mais utilizadas como planta de cobertura, é conhecido como “subsolador biológico” por conta da raiz pivotante profunda, que rompe camadas compactadas do solo.
Essa característica melhora a infiltração de água, a aeração e favorece o desenvolvimento radicular das culturas seguintes, contribuindo para um solo mais estruturado e produtivo.
Exemplos: Nabo forrageiro (Raphanus sativus), Colza/Canola (Brassica napus).
Classificação das plantas de cobertura
As plantas de cobertura são classificadas com base em diversos critérios, como suas características morfológicas, ciclo de crescimento, função principal no sistema agrícola e adaptabilidade aos diferentes ambientes. Entre os principais critérios de classificação estão:
1. Segundo o ciclo de crescimento
- Anuais: completa seu ciclo de vida em um único ano ou temporada de cultivo. Exemplos: milheto, aveia e nabo forrageiro;
- Perenes: persistem por vários anos, rebrotando após cortes ou pastejo. Exemplos: trevo-branco, alfafa e capim-mombaça.
2. Segundo a função no sistema agrícola
- Fixadoras de nitrogênio: espécies que têm a capacidade de fixar o nitrogênio atmosférico em simbiose com bactérias. Exemplos: feijão-de-porco e feijão-guandu;
- Melhoradoras da estrutura do solo: plantas que contribuem para a formação de agregados e aumentam a porosidade do solo. Exemplos: mucuna-preta e tremoço;
- Supressoras de plantas daninhas: espécies que competem eficazmente com as plantas daninhas por luz solar, água e nutrientes. Exemplos: capim-sudão e sorgo.
3. Segundo o tipo de cultivo principal
- Entre fileiras de cultivos perenes: utilizadas para cobrir o solo entre as linhas de culturas perenes, como pomares e vinhas. Exemplos: trevo-vermelho e gramíneas perenes.
- Entre safras de cultivos anuais: semeadas após a colheita de culturas anuais para cobrir o solo até o próximo plantio. Exemplos: ervilhaca e trigo mourisco.
4. Segundo a adaptabilidade ao ambiente
- Tropicais: adaptadas às condições climáticas e solos dos trópicos, como altas temperaturas e períodos de seca. Exemplos: crotalária e guandu.
- Temperadas: espécies que preferem climas mais amenos e solos bem drenados. Exemplos: trevo branco e aveia.

Benefícios das plantas de cobertura
As plantas de cobertura são aliadas no manejo do solo e na construção de sistemas agrícolas mais produtivos e resistentes.
Ao serem integradas ao planejamento da lavoura, conseguem promovem melhorias que beneficiam o solo, o ambiente e a rentabilidade da propriedade. Veja mais benefícios a seguir:
1. Melhora da estrutura física do solo
As raízes de muitas plantas de cobertura, como o nabo forrageiro, são como aradoras biológicas, ajudando a descompactar o solo, criando canais que melhoram a infiltração da água da chuva e a aeração.
Isso facilita o crescimento das raízes das suas culturas principais, que conseguem explorar um volume maior de solo em busca de água e nutrientes.
A palhada, formada sobre o solo após o manejo da planta de cobertura, funciona como uma esponja, aumentando a retenção de água.
Isso é uma grande ajuda em épocas de seca, pois mantém a umidade disponível para as plantas por mais tempo.
2. Aumento da matéria orgânica
As plantas de cobertura adicionam muita biomassa ao solo, tanto da parte aérea quanto das raízes.
Quando essa biomassa se decompõe, ela se transforma em matéria orgânica, que é essencial para a fertilidade.
Um solo rico em matéria orgânica é mais fértil, tem melhor estrutura e é mais produtivo. Além disso, a matéria orgânica:
- Contribui para o sequestro de carbono, ajudando na mitigação das mudanças climáticas.
- Melhora a capacidade de retenção de água e reduz a necessidade de irrigação;
- Aumenta a CTC (capacidade de troca de cátions), facilitando a absorção de nutrientes pelas plantas;
- Favorece a atividade microbiana, fundamental para processos como mineralização e ciclagem de nutrientes;
- Reduz a compactação e melhora a aeração do solo, beneficiando o desenvolvimento radicular.
Ou seja, o acúmulo de matéria orgânica é um dos principais indicadores de solo vivo e produtivo a longo prazo.
3. Ciclagem e fornecimento de nutrientes
Muitas plantas de cobertura, especialmente as leguminosas (como crotalárias, ervilhaca, mucuna), realizam a adubação verde.
Elas têm uma parceria com bactérias em suas raízes que conseguem capturar o nitrogênio do ar e fixá-lo no solo.
Esse nitrogênio fica disponível para a sua próxima cultura, o que pode reduzir significativamente a necessidade de aplicar fertilizantes nitrogenados comprados.
Outras espécies, como o milheto e as braquiárias, têm raízes profundas e eficientes para buscar nutrientes que foram lavados para camadas mais fundas do solo, trazendo de volta para a superfície, onde as culturas comerciais podem aproveitá-los.
4. Controle da erosão
A cobertura de solo, proporcionada pelas plantas vivas ou pela palhada, protege a terra do impacto direto das gotas de chuva e diminui a velocidade do escoamento superficial da água.
Isso evita que a camada fértil do solo seja carregada pela enxurrada, segurando a terra no lugar, garantindo a conservação ambiental e a sustentabilidade da produção agrícola a longo prazo.
5. Redução de pragas e doenças
Ao introduzir uma planta de cobertura que não é hospedeira de certas pragas e doenças que atacam sua cultura comercial, você ajuda a quebrar o ciclo de vida desses organismos.
Para o controle de nematoides, que são um grande problema em muitas lavouras, espécies como Crotalaria spectabilis e Crotalaria ochroleuca são eficientes, pois reduzem a população desses vermes no solo.
6. Regulação da temperatura do solo
A palhada sobre o solo funciona como um isolante térmico, evitando que o solo esquente demais sob o sol forte do verão.
A planta também protege contra quedas bruscas de temperatura, mantendo um ambiente mais estável para as raízes das plantas e para os microrganismos do solo.
Todos esses benefícios não acontecem isoladamente. Eles se somam e interagem, criando um sistema mais equilibrado e resiliente.
Por exemplo, a melhora na estrutura do solo facilita a infiltração de água, que, combinada ao aumento da matéria orgânica, eleva a disponibilidade de nutrientes e a capacidade de retenção de umidade.
Esse conjunto fortalece as plantas comerciais, tornando tudo mais saudáveis e menos vulneráveis a estresses, como secas e ataques de pragas.
7. Manejo de Plantas Daninhas
A camada de palha formada pela planta de cobertura dificulta a chegada de luz ao solo, o que inibe a germinação de muitas sementes de plantas daninhas.
Além disso, algumas plantas de cobertura liberam substâncias químicas naturais (efeito alelopático) que podem impedir o crescimento de certas invasoras.
Exemplo: A Brachiaria ruziziensis é conhecida por formar uma palhada densa que abafa bem as plantas daninhas, sendo muito eficiente nesse controle.

Como escolher as plantas de cobertura do solo ideais?
Para acertar na escolha da planta de cobertura ou do mix de plantas de cobertura, você precisa analisar sua situação da sua terra e os seus objetivos. Considere os seguintes pontos:
1. Necessidades da sua cultura principal:
Entenda o que a sua cultura mais precisa, Se for uma cultura que exige muito nitrogênio, como o milho, inclua leguminosas no seu planejamento de plantas de cobertura de solo.
Por outro lado, em algumas situações, como na fruticultura, o excesso de nitrogênio fixado pelas leguminosas pode até ser um problema, podendo aumentar a incidência de doenças ou afetar a qualidade da fruta.
2. Condições e problemas do seu solo
Seu solo está compactado? Tem baixo teor de matéria orgânica? É um solo arenoso, que perde água e nutrientes facilmente, ou mais argiloso e pesado? Cada planta de cobertura tem suas especialidades.
Para solos com baixo teor de matéria orgânica, por exemplo, a recomendação é usar plantas que produzem bastante massa vegetal em pouco tempo, como milheto, capim sudão, braquiárias ou nabo forrageiro e o tremoço.
3. Época de semeadura e janela de cultivo
Existem plantas de cobertura mais adaptadas para a safra de verão e outras para a safra de inverno.
A escolha vai depender da época em que seu solo está livre entre uma cultura comercial e outra, e do tempo disponível até o plantio da próxima safra.
- Espécies de verão: Podem ser semeadas em meados de setembro até dezembro. Incluem mucunas, crotalárias, feijão-de-porco, guandu anão, milheto, capim sudão, sorgo, trigo mourisco;
- Espécies de inverno: São semeadas desde o final do verão (início de março) até o início do inverno (junho). As principais são aveia preta, aveia branca, centeio, azevém, nabo forrageiro, ervilhaca comum, tremoço.
4. Capacidade de manejo
Algumas plantas de cobertura produzem um volume muito grande de massa vegetal.
Isso é ótimo para o solo, mas pode exigir equipamentos específicos para o manejo, como rolo-faca para acamar a palhada, ou semeadoras preparadas para plantar sobre grande quantidade de resíduos.
Avalie se você tem as ferramentas e a mão de obra necessárias. Considere também a facilidade de ter sementes de boa qualidade e a um custo acessível na sua região.
5. Mix de plantas de cobertura
Muitas vezes, a melhor solução não é uma única espécie, mas um mix de plantas de cobertura.
Combinar diferentes espécies, especialmente de famílias botânicas diferentes, pode trazer uma diversidade ainda maior de benefícios ao mesmo tempo!.
Essa estratégia é como diversificar seus investimentos: você aumenta as chances de sucesso e cobre uma gama maior de necessidades do solo.
Uma espécie pode fornecer muita palha, outra fixa nitrogênio, e uma terceira ajuda a descompactar. Juntas, elas promovem uma melhoria mais completa e resiliente do solo.
Exemplo: Um mix de aveia preta, com ervilhaca e nabo forrageiro pode ser uma excelente opção para o outono/inverno, preparando o solo de forma muito completa para a cultura de verão seguinte.

Qual a melhor planta para fazer cobertura de solo?
A escolha da melhor planta para fazer cobertura do solo depende de uma série de fatores da sua propriedade e dos seus objetivos.
Sempre avalie o tipo e a nutrição do solo, o clima da sua região, a cultura que você vai plantar em seguida, e, principalmente, qual o maior problema ou qual a maior necessidade que você quer resolver na sua área.
Se sua necessidade é adicionar nitrogênio ao solo para a cultura do milho, que é uma planta exigente nesse nutriente, uma leguminosa, como a crotalária ou a ervilhaca, pode ser a melhor escolha.
Mas se o problema é a compactação do solo, que está dificultando o crescimento das raízes e a infiltração da água, um nabo forrageiro, com sua raiz pivotante forte, pode ser mais indicado.
Portanto, o primeiro passo é fazer um bom diagnóstico da sua situação. Com base nisso, você vai conseguir escolher a melhor planta para fazer cobertura de solo facilmente.

Engenheiro Agrônomo (UFRGS, Kansas State) e especialista de Novos Negócios na Aegro. Reconhecido como referência em Agricultura Digital, especialização em administração, gestão rural, plantas de lavoura.