A renovação do canavial está no centro das discussões sobre produtividade, rentabilidade e
longevidade da cultura da cana-de-açúcar.
Mesmo com o avanço tecnológico e novas variedades, o desgaste natural da lavoura, aliado a desafios como compactação do solo, falhas de brotação e presença de pragas, torna inevitável o momento de renovar.
Para o produtor, entender esse momento e agir de forma planejada pode ser o diferencial
entre um canavial lucrativo e uma área que gera prejuízos silenciosos.
E a boa notícia é que a renovação não precisa ser encarada como uma despesa: quando bem
executada, ela se transforma em um investimento com retorno técnico e econômico.
O estado de São Paulo é hoje o maior produtor de cana-de-açúcar do país, concentrando cerca de 55% da produção nacional.
Segundo a Conab, a safra paulista 2024/25 deve superar 360 milhões de toneladas, o que reforça a importância de práticas como a renovação do canavial para manter o rendimento mais competitivos.
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Renovar o canavial significa encerrar o ciclo de produção de uma área de cana-de-açúcar para iniciar um novo plantio.
Não se trata apenas de arrancar a lavoura velha e replantar, mas de restaurar o solo, eliminar pragas e aproveitar o momento para melhorar o ambiente de cultivo.
Em vez de insistir numa lavoura decadente, o produtor age no tempo certo para recuperar produtividade.
A cana é uma cultura semi-perene, e pode ser colhida diversas vezes a partir da mesma planta.
Porém, com o passar dos anos, a produtividade tende a cair, principalmente se o manejo do solo e a adubação não foram bem conduzidos. Por isso, a renovação é estratégica para evitar perdas econômicas.
Em condições ideais, um canavial dura de 5 a 7 anos, o que corresponde a uma cana planta e de quatro a seis socas.
Cada novo corte representa uma rebrota da planta original. Com o tempo, essas rebrotações perdem vigor, resultando em menor produtividade e maior ocorrência de falhas.
Estudos indicam que a produtividade pode cair em média 8 a 10 t/ha a cada novo corte, dependendo do nível de manejo.
Quando a lavoura atinge um ponto em que não cobre mais os custos de produção, é hora de considerar a renovação.

Apesar de muitos utilizarem os termos como sinônimos, há uma distinção técnica. A reforma de canavial é o replantio imediato da área, sem considerar pausas ou manejo entre os ciclos.
Já a renovação envolve um planejamento mais elaborado, muitas vezes com a inclusão de culturas de rotação ou adubação verde entre os plantios.
A renovação permite corrigir falhas no sistema, reequilibrar o solo, aplicar corretivos e testar novas variedades.
Enquanto a reforma direta pode perpetuar problemas como compactação ou desequilíbrios nutricionais.
A decisão de renovar o canavial deve se basear em dados técnicos e financeiros. A recomendação geral é renovar após o quinto ou sexto corte, ou quando a produtividade estiver abaixo de 60 t/ha.
Fora isso, outros fatores que indicam necessidade de renovação incluem:
- Presença de pragas de solo, como o Sphenophorus levis;
- Alta infestação de plantas daninhas;
- Falhas na brotação;
- Aumento do custo por tonelada produzida.
A janela ideal para iniciar a renovação é entre os meses de setembro e outubro, quando o solo
ainda está seco e é possível preparar a área com maior segurança.
O cultivo de soja vem sendo uma das práticas mais eficientes na renovação do canavial. Além do benefício econômico direto com a colheita, a cultura oferece vantagens como:
- Fixação de nitrogênio via rizóbios;
- Controle natural de pragas e doenças;
- Redução de plantas daninhas resistentes;
- Melhoria da matéria orgânica do solo.
A média de produtividade varia entre 50 e 65 sc/ha, dependendo da região e manejo. Após a colheita, o solo está mais equilibrado para receber o novo canavial, que tende a apresentar maior vigor desde a implantação.
Existem diferentes métodos para renovar o canavial, e a escolha depende da realidade de cada propriedade.
No método convencional, a cana velha é eliminada com herbicidas, seguida por aração, subsolagem e gradagem.
Em seguida, o solo é corrigido com calagem e gessagem, preparando o terreno para o novo plantio.
Já na renovação com rotação, o solo é preparado da mesma forma, mas antes do replantio da cana, é inserida uma cultura como soja, amendoim ou crotalária. Essa pausa agrícola permite:
- Quebra do ciclo de pragas;
- Recuperação da estrutura do solo;
- Fixação biológica de nitrogênio;
- Geração de receita com a cultura intercalar.
Outro método utilizado é a renovação com reforma parcial, que é a substituição apenas das áreas com baixo vigor ou produtividade, mantendo os talhões mais produtivos.
Essa técnica pode reduzir custos e melhorar recursos, desde que tenha acompanhamento técnico.
- Aumento da produtividade já na cana planta;
- Menor uso de defensivos nas primeiras safras;
- Melhor aproveitamento de nutrientes e água;
- Redução de falhas de brotação;
- Implantação de variedades mais modernas e adaptadas.
Os custos médios de renovação variam de R$ 6.000 a R$ 10.000 por hectare, dependendo das
operações realizadas. Os principais componentes do custo incluem:
- Aplicação de herbicidas para eliminação da soqueira;
- Preparo do solo (subsolagem, aração, gradagem);
- Correção química com calcário e gesso;
- Plantio de cultura intercalar (como soja);
- Implantação do novo canavial com MPB ou toletes.
Apesar do investimento inicial ser alto, o retorno acontece de forma rápida quando a produtividade volta a patamares acima de 85 t/ha.
Além do retorno com a cultura intercalar, como a soja, o maior benefício está na recuperação da rentabilidade do canavial.
Com o solo corrigido, menor presença de pragas e uso de variedades modernas, a nova lavoura tem maior longevidade e melhor resposta aos tratos culturais.
Com planejamento técnico e acompanhamento agronômico, o produtor garante estabilidade na produção por até seis novos cortes, com produtividade superior às socas finais da lavoura anterior.
A escolha da cultura de rotação deve ser estratégica. Entre os critérios mais importantes estão a época de plantio, as exigências nutricionais do solo e o objetivo agronômico da cultura escolhida.
Culturas como soja, amendoim, crotalária e milheto vêm sendo as mais utilizadas com bons resultados.
A soja tem se destacado pelo retorno econômico e por sua capacidade de fixar nitrogênio, promovendo a recuperação da fertilidade do solo.
Já o amendoim oferece cobertura rápida e bom valor comercial, além de contribuir para o aumento de matéria orgânica.
A crotalária é uma excelente adubação verde e auxilia no controle de nematoides, enquanto o milheto é uma opção rústica, de rápido crescimento, ideal para a formação de palhada.
O ideal é que a cultura escolhida seja bem manejada e que o calendário de rotação seja compatível com a janela de plantio da nova cana. Esse planejamento evita atrasos na implantação e garante uma renovação mais eficiente.
Maquinário necessário na renovação
Para executar a renovação do canavial com qualidade, é preciso contar com um conjunto de
máquinas e equipamentos específicos.
Tratores de médio a grande porte são essenciais para tração de implementos, como subsoladores e arados, utilizados para descompactar o solo. As grades pesadas e niveladoras ajudam no acabamento e preparo superficial.
Além disso, distribuidores de calcário e fertilizantes são indispensáveis na correção química. Já os pulverizadores garantem o controle de plantas daninhas e a dessecação da área anterior.
Para o plantio, tanto da cultura intercalar quanto da nova cana, são necessárias plantadeiras
apropriadas.
Tecnologias como GPS embarcado, aplicação em taxa variável e mapas de solo georreferenciados têm sido adotadas em larga escala, oferecendo maior precisão na operação e uso racional dos insumos, com impacto direto na produtividade e no custo por hectare.


Engenheiro-Agrônomo (UFRA/Pará), Técnico em Agronegócio (Senar/Pará), especialista em Agronomia (Produção Vegetal) e mestre em Fitotecnia pela (Esalq/USP).