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Lagarta-do-cartucho do milho: Controle eficiente com as táticas do MIP

- 2 de abril de 2019

Atualizado em 26 de fevereiro de 2024

Lagarta-do-cartucho do milho: quando e com o que fazer as aplicações e outras medidas simples que dão resultado no combate a essa praga

O que você prefere: tomar remédio sem estar doente ou apenas quando houver necessidade, caso você esteja realmente precisando? É bem provável que você tenha respondido a segunda opção, não é mesmo?

E o ideal seria prevenir que você fique doente. O mesmo pensamento deve ser levado em consideração quando se tratar de uma lavoura.

A “doença” a que me refiro está relacionada a tudo aquilo que acomete perdas significativas na produção. Dentre elas, a incidência de insetos-praga, como a lagarta-do-cartucho do milho, tem grande importância na perda de produção.

Por isso, confira a seguir táticas simples e efetivas que você pode fazer para combater a lagarta-do-cartucho.

Por que o ataque da lagarta-do-cartucho do milho causa tantas perdas?

Perdas de produtividade ocorrem principalmente pelo ataque de insetos polífagos, ou seja, aqueles que podem atacar várias espécies de plantas.

A lagarta-do-cartucho do milho ou lagarta militar (Spodoptera frugiperda) é um grande exemplo entre os insetos polífagos.

Ela pode atacar cerca de 100 espécies diferentes de plantas em diversos sistemas de produção.

Além disso, pode causar danos em vários estágios de desenvolvimento da cultura, seja no cartucho ou nas plântulas.

Por isso, ela pode ser vista atacando o cartucho, ou nas plântulas, com hábito semelhante ao da lagarta rosca.

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Lagarta-do-cartucho do milho (Spodoptera frugiperda)
(Fonte: EPPO)

Os danos também ocorrem nas espigas e a base da planta pode ser perfurada, provocando o sintoma de “coração morto”.

E como devo agir diante de uma praga tão agressiva como essa?

Com base no que foi falado acima, o ideal é a utilização de várias táticas em conjunto para que a planta não necessite do “remédio” constantemente.

Aqui no nosso caso, o “remédio” seria o uso desenfreado de aplicação de inseticidas sem levar em consideração outras formas de manejo.

As táticas devem fazer parte do Manejo Integrado de Pragas, o MIP, o qual vamos entender melhor como realizar a seguir:

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Spodoptera frugiperda causa danos na planta e também nas espigas do milho
(Fonte: Cabi)

Manejo Integrado de Pragas para a lagarta-do-cartucho do milho

A lagarta-do-cartucho do milho é uma praga que, se não controlada, atinge rapidamente o nível de dano econômico.

É a principal praga do milho, mas ataca diversas culturas devido a sua polifagia. Além disso, tem alto potencial reprodutivo e ciclo curto (período de lagarta é de 12 a 30 dias), o que possibilita muitas gerações ao longo de um ano.

O Brasil por ter clima tropical, possibilita cultivos sucessivos (cultura do milho, soja, feijão, sorgo) durante todas as estações climáticas nas diversas regiões produtoras. Isso acaba contribuindo para a estabilidade da praga na lavoura e por ter alimento disponível o ano todo.

Nas lavouras de milho, causa danos em todos os estágios fenológicos da planta e, caso o único método de controle seja o químico, pode haver um efeito colateral.

Vamos imaginar um exemplo para entendermos melhor.

Por que aplico inseticida e as lagartas persistem na lavoura?

Por exemplo, imagine que você plantou alguns hectares de milho convencional e, logo no início (no estágio fenológico V3), percebeu a presença de algumas lagartas em sua lavoura.

Então, sem realizar nenhum tipo de monitoramento, você aplica um inseticida de amplo espectro e persistente.

Entretanto, algum tempo depois, notou que ainda havia lagartas e aplicou mais uma vez aquele mesmo inseticida.

Com a contínua presença da lagarta na fase reprodutiva, você pode não entender o que estava acontecendo, e, assim, aplica mais uma dose.

No entanto, ao final da produção, a lavoura estava completamente infestada e quase todas as espigas tinham a presença da lagarta-do-cartucho.

Nesse caso, você teria cometido 2 grandes erros no manejo de pragas:

Erro 1 – Não realizou o monitoramento da praga

Primeiramente, ao detectar a presença da praga, é preciso realizar o monitoramento na lavoura para só depois fazer a tomada de decisão.

Este monitoramento pode ser por meio de armadilhas do tipo delta contendo uma pastilha de feromônio de acasalamento, atraindo assim os machos.

O ideal é instalar uma armadilha por hectare e quando 3 ou mais adultos forem capturados, pode-se iniciar o controle.

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(Foto: Thaís Matioli)

Outra maneira de realizar o monitoramento é através de amostragem no campo com caminhamento do tipo zigue-zague ou de perímetro.

Os níveis de dano devem ser mensurados conforme a escala de Davis. Quando for detectado 20% de plantas atacadas com nota igual ou maior do que 3 na escala, deve-se entrar com controle.

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(Fonte: Davis em Pionner)

Erro 2 – Uso inadequado do inseticida

O uso inadequado e excessivo de inseticidas causa, dentre muitas consequências, a pressão de seleção.

Isso induz a resistência da praga àquele inseticida aplicado, morte de inimigos naturais na área, contaminação do ambiente e do produto final, dentre outros fatores.  

As aplicações sucessivas causam pressão de seleção das lagartas. O que seria isso?

O inseticida matou pragas suscetíveis ao ingrediente ativo do inseticida e permitiu que as lagartas com genética resistente continuassem na área.

Isso fez com que apenas a população resistente permanecesse e, por isso, você não conseguiu mais controlar as lagartas.

Neste caso, foi utilizado um inseticida de amplo espectro e alta persistência, ou seja, mata não só a praga, mas também insetos não-alvo e fica por muito tempo na lavoura.

Isso fez com que a população dos inimigos naturais da área fosse completamente reduzida ou extinta, o que contribuiu ainda mais para que a população da praga aumentasse.

Se o inseticida não atingisse os inimigos naturais, haveria uma grande chance de reduzir os danos causados.

Mas então quais as melhores maneiras de controle para evitar o uso errôneo de apenas um tipo de tática?

No MIP existem 4 bases e 6 pilares que sustentam sua estrutura para qualquer cultura em que se deseja implementá-lo.

As bases são a identificação correta das espécies, monitoramento, níveis de controle e condições ambientais.

Já os pilares são as táticas utilizadas para que sejam complementares ao controle de uma praga. São eles:

  • Controle cultural
  • Uso de agentes de controle biológico
  • Controle comportamental
  • Controle genético
  • Controle varietal
  • Controle químico
  • Manejo de resistência. (Conheça mais sobre a estrutura do MIP).
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Para saber mais sobre MIP leia este artigo aqui: Tudo o que você precisa saber sobre Manejo Integrado de Pragas

Nas principais culturas de importância econômica (soja e milho) em que a lagarta-do-cartucho causa severos danos, deve-se começar com a base da estrutura do MIP.

Antes de qualquer coisa, é importante conhecer o histórico da área: qual o cultivo anterior e se já houve infestações.

Se já houve a presença da praga, pode-se começar com controle cultural fazendo o tratamento das sementes e retirada de restos culturais.

Em seguida,  identificar a praga, fazer o monitoramento para só depois realizar a tomada de decisão.

Uso de variedades resistentes, tecnologia Bt (Bacillus thuringiensis), agentes de controle biológico e o controle comportamental podem e devem ser utilizados para reduzir o nível populacional desta praga.

Note que a aplicação de inseticidas não deve ser prioridade! E sobre sua utilização temos mais dicas:

Como fazer o controle químico eficiente da lagarta-do-cartucho do milho

Ao utilizar o controle químico é imprescindível o uso de inseticidas seletivos. O que seria isso? São inseticidas que, de alguma forma, não atingem os insetos não-alvo.

Muitos são os insetos benéficos (parasitoides e predadores) que ocorrem ou podem ser liberados no agroecossistema e estes contribuem, e muito, para a redução da lagarta-do-cartucho.

A exemplo desses insetos pode-se citar a tesourinha (Dorus luteipes),  joaninhas (Harmonia axyridis e Coleomegilla maculata) e parasitoide de ovos (Trichogramma pretiosum).

Inseticidas de amplo espectro, normalmente, causam impactos no agroecossistema. Estes agem principalmente no sistema nervoso (SN) dos insetos, por isso, devem ser evitados.

Os principais grupos químicos para SN são piretroides e neonicotides. Então, quando for utilizar esta tática, tenha preferência por outros grupos químicos.

Na imagem, um exemplo de como olhar na bula o grupo químico do inseticida.

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Conclusão

A lagarta-do-cartucho do milho é uma das principais pragas do milho e soja, podendo causar inúmeras perdas sem o devido manejo.

O manejo adequado não é baseado somente em inseticidas, mas sim em um conjunto de táticas que aqui apresentamos.

Além disso, vimos que o monitoramento é fundamental para que nosso controle seja eficiente. Aproveite as dicas e boa safra!

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“5 tecnologias para controlar a Helicoverpa armigera eficientemente”
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