Atualizado em 10 de junho de 2022.
Mosca-branca: entenda como identificar, o que esta praga causa nas culturas agrícolas e como o seu controle pode ser realizado
A mosca-branca (Bemisia tabaci) é uma praga agrícola presente em diversas regiões produtoras no Brasil e no mundo.
Ela causa danos e perda de produtividade em mais de 600 espécies, como soja, feijão e algodão. Por também atacar plantas daninhas, ela pode sobreviver na entressafra.
Neste artigo, veja como a mosca-branca pode ser identificada, o que ela causa nas culturas agrícolas e como o seu controle pode ser realizado! Boa leitura!
Índice do Conteúdo
Mosca-branca nas plantas
A mosca-branca é um inseto sugador de seiva, dentre as quais a espécie Bemisia tabaci tem se tornado alvo de preocupação pelos problemas que pode causar às culturas agrícolas.
Essa praga polífaga tem capacidade de se alimentar de diversas espécies de plantas e pode causar danos diretos e indiretos nas culturas, seja a partir da sucção da seiva das plantas, seja a partir da transmissão de viroses.
Ela pode reduzir a produtividade das culturas de 20% a 100%, a depender da infestação.
Já foi observada se alimentando e se reproduzindo em mais de 84 família botânicas, sendo as de maior importância agrícola:
- Fabáceas ou leguminosas: soja, feijão, feijão-vagem, ervilha;
- Cucurbitáceas: abóbora, abobrinha, melão, pepino, melancia;
- Solanáceas: tomate, berinjela, pimenta, tabaco, batata;
- Brássicas: repolho, couve, couve-flor, canola
- Euforbiáceas: mandioca e daninhas;
- Malváceas: algodão;
- Asteráceas: alface e crisântemo;
- Plantas ornamentais: hibisco, dentre outras.
O termo mosca-branca vem das características dessa praga, que possui asas brancas. Diferente das moscas comuns, as moscas-brancas pertencem à ordem Hemiptera e possuem dois pares de asas.
Elas são da família Aleyrodidae e já foram registradas cerca de 1.550 espécies de 160 gêneros diferentes. Dentre as várias espécies existentes, Bemisia tabaci se tornou alvo de preocupação, especialmente pelo maior número de plantas hospedeiras.
A alta capacidade de reprodução em diferentes condições climáticas e a resistência a diversos inseticidas são outros motivos.
Biótipos de mosca-branca encontrados no Brasil
Para a espécie Bemisia tabaci biótipo B, já há relatos de resistência a inseticidas, principalmente dos grupos dos organofosforados, carbamatos e piretróides.
Por ser uma espécie com grande diversidade genética, a maioria dos pesquisadores
considera que existam diferentes biótipos.
Acredita-se que, no Brasil, ocorra uma maior incidência do Biótipo B (Middle East Asia Minor 1 whitefly – MEAM1).
Porém, já foram encontrada espécimes de mosca-branca B. tabaci Biótipo Q (Mediterranean – MED) no Sul do Brasil, no Centro-Oeste e no Sudeste.

Adultos de mosca-branca em soja; nível de dano varia de acordo com a cultura
(Fonte: Mais Soja)
Como identificar a mosca-branca?
Para identificar a mosca-branca é necessário identificar os adultos e ovos, que normalmente ficam na parte de trás das folhas. Os adultos da mosca-branca possuem coloração amarelo-palha e medem de 1 mm a 2 mm. As fêmeas são maiores que os machos.
No caso dos ovos da mosca-branca, eles têm formato de pêra e ficam agrupados nas folhas.
Quando em repouso, é possível observar também as asas brancas da mosca, levemente separadas. É possível observar o corpo do inseto, de coloração amarela característica.
Para identificar a mosca-branca na lavoura, fique de olho na coloração de cada fase do inseto:
- No primeiro ínstar, possui coloração branco-esverdeada, e formato do corpo plano.
- No segundo ínstar, apresenta coloração branco-esverdeada.
- No terceiro ínstar, as ninfas são ligeiramente transparentes, com coloração verde-pálida a escura e olhos vermelhos.
- No quarto ínstar, as ninfas têm formato oval e parecem ter uma cauda. Neste estágio, as ninfas são planas e transparentes e com olhos vermelhos visíveis.
Ciclo de vida
O ciclo de vida da mosca-branca dura entre 25 e 50 dias, sendo que em condições de temperatura e umidade ideais, pode gerar de 11 a 15 gerações por ano. Esse inseto possui quatro fases de vida: ovo, ninfa, pupa e adulto.
Na primeira fase, ao eclodir, as ninfas são capazes de se locomover. Essa característica é essencial para o sucesso desse inseto. Afinal, quando as folhas não apresentam condições ideais, a ninfa se locomove para as mais adequadas ao seu desenvolvimento.
Logo em seguida, as ninfas se fixam nas folhas para sugar a seiva da planta até que se tornem adultas.
Cada fêmea tem capacidade de colocar entre 100 a 300 ovos durante seu ciclo de vida. Por isso, é importante monitorar a população deste inseto.
A duração do ciclo de vida da mosca-branca varia conforme a temperatura e a planta hospedeira, principal fator para o desenvolvimento deste inseto.
Danos causados
Os danos da mosca-branca nas culturas são causados por adultos e pelas ninfas do inseto. Eles introduzem o aparelho bucal no tecido da planta e injetam um tipo de toxina. Isso provoca alteração no desenvolvimento vegetativo e reprodutivo da cultura, reduzindo a produtividade.
Além disso, também excretam líquido açucarado, o “honeydew”, que induz o crescimento de fungos. Isso reduz a capacidade de fotossíntese da planta.
Porém, o maior perigo dessa praga agrícola está na transmissão de vírus que causam doenças bastante severas. Cerca de 120 espécies de vírus já foram descritas sendo transmitidas por mosca-branca B. tabaci:
- vírus do mosaico comum em algodoeiro;
- vírus do mosaico anão em soja;
- vírus do mosaico crespo em soja;
- vírus do mosaico dourado em feijoeiro.
Mais recentemente, foi detectada a transmissão de geminivírus por B. tabaci em lavouras de soja no Brasil.
Além dos danos causados, a mosca-branca ainda possui alta taxa reprodutiva, fácil dispersão e polifagia. O desenvolvimento de resistência à inseticidas é comum, o que contribui para a disseminação das doenças.
Danos da mosca-branca na soja
Os danos da mosca-branca na soja podem ser tanto diretos quanto indiretos. Além da sucção da seiva e injeção de toxinas que reduzem a produtividade e o desenvolvimento da soja, a mosca-branca é transmissora do vírus da necrose-da-haste.
A evolução da doença leva as plantas à morte.

Necrose parcial à esquerda e total a direita, de medula em haste de soja, causada pelo vírus causador da necrose da haste da soja (Cowpea mild mosaic virus (CpMMV))
(Fonte: Almeida e colaboradores, 2003)
Em plantas de soja, os sintomas podem ser observados a partir de necrose nas brotações novas. As brotações novas se curvam e o broto adquire aspecto queimado.
Também é possível observar a necrose do tecido que liga a folha ao caule e a necrose na haste principal. A depender da cultivar, algumas plantas podem apresentar desenvolvimento reduzido e deformação da folha, com aspecto de bolhas.
Considerando todos esses danos, o controle da mosca-branca na soja é essencial.
Danos da mosca-branca no algodão
Entre os danos da mosca-branca no algodão, o principal dano causado é a secreção de substâncias que favorecem o fungo causador da fumagina.
A fumagina é um fungo de coloração escura que ocorre em hastes, ramos, folhas, frutos e capulhos. Ele recobre todos os tecidos da planta, reduzindo a capacidade de fotossíntese.
Além disso, o fungo causa mela no algodão. Esse fator reduz o valor comercial das fibras do algodão, pela dificuldade no processamento.
Monitoramento da mosca-branca nas áreas de cultivo
O monitoramento da mosca-branca deve ser realizado com amostragens de plantas no campo. O uso de armadilha para mosca-branca também é interessante. São usadas armadilhas amarelas para captura de insetos adultos.
É importante ficar de olho na localização onde a mosca-branca ataca na hora do monitoramento:
- No terço inferior das folhas, são comuns as ninfas de 2º, 3º e 4º instares;
- No terço mediano, encontram-se predominantemente ninfas de 1º, 2º e 3º instares;
- No terço superior é possível encontrar ovos e ninfas de 1º e 2º instares, além de adultos.
O monitoramento das plantas deve ser realizado com frequência. Inspecione o terço inferior, superior e mediano das folhas, na 3ª ou 4ª folha de cima para baixo.
O controle deve ser realizado assim que o inseto for detectado na área.
Para a soja, quando cinco ninfas forem encontradas por amostra de folha, você deve iniciar o controle químico. O mesmo vale para a presença de adultos da mosca-branca na área de cultivo.
No algodão, este número é reduzido. O controle deve começar ao identificar pelo menos três adultos por folha.
Como controlar a mosca-branca?
É muito provável que você comece com o controle químico para acabar com a mosca-branca na lavoura. Isso não é errado, mas é importante considerar outras táticas de manejo, de acordo com o MIP (Manejo Integrado de Pragas.
Isso serve até mesmo para não ter problemas futuros como resistência das pragas aos inseticidas.
Controle cultural
O controle cultural pode ser feito antes, durante e depois do cultivo e inclui:
- Fazer o plantio com mudas sadias e utilizar sementes certificadas;
- Uso de armadilhas para reduzir a população da praga (armadilhas adesivas amarelas para monitorar a população do inseto na área, ou uso de armadilhas luminosas);
- Manter a lavoura livre de plantas daninhas hospedeiras de mosca-branca;
- Eliminar restos culturais para impedir o ciclo da praga;
- Barreiras vivas para impedir ou retardar a disseminação de adultos pelo vento;
- Eliminar plantas que estejam contaminadas com vírus
- Uso de cultivares resistentes (observar se a resistência é para a espécie que está ocorrendo na lavoura e até mesmo para o biótipo);
- Vazio sanitário entre culturas hospedeiras;
- Uso de coberturas repelentes.
Controle químico
O controle químico com uso de inseticidas para mosca-branca registrados deve ser realizado considerando a rotação de modos de ação diferentes.
Alguns desses conhecidos venenos para mosca-branca, devido ao uso contínuo, perderam a eficiência devido ao desenvolvimento da resistência.
Segundo o Agrofit, os seguintes grupos químicos e ingredientes ativos registrados podem ser utilizados em rotação para o controle da mosca-branca:
- Piretroides como o lambda-cialotrina, o alfa-cipermetrina. No entanto, este grupo é de amplo espectro de ação;
- Tiadiazinona como buprofezina;
- Neonicotinoide como acetamiprido, acetamiprido, dinotefuram, tiametoxam;
- Sulfoxaflor como sulfoxaminas.
Sempre verifique se o produto tem registro para a cultura em que você queira controlar a mosca-branca. Para a cultura da soja, os inseticidas de maior eficiência nas últimas safras foram os à base de:
- Imidacloprido + piriproxifem;
- Diafentiurom + bifentrina;
- Acetamiprido + piriproxifem;
- Ciantranliprole,
- Sulfoxaflor (dose de 144 gramas de ingrediente ativo por hectare);
- Acetamiprido + piriproxifem e;
- Abamectina + ciantraniliprole.
Antes de fazer o controle químico, fique de olho nos seguintes detalhes: não utilize controle preventivo, sem a presença de insetos na lavoura. Essa prática reduz a população de inimigos naturais e causa o desperdício de produto.
Além disso, a rotação de ingredientes ativos e o uso da dose recomendada é indispensável para um manejo eficiente.
A observação da fase predominante do inseto também é fundamental, pois alguns inseticidas possuem controle efetivo de uma fase e da outra não. Você pode precisar fazer a associação de ingredientes ativos.
A observação das condições climáticas no momento da aplicação também são necessárias (vide recomendações da bula).
Controle biológico
O controle biológico da mosca-branca pode ser feito de maneira natural. Você deve fornecer condições para que os insetos benéficos possam permanecer na área.
O uso de inseticidas seletivos vai contribuir muito para que isso aconteça. Você também pode liberar insetos produzidos em laboratório e comercializados, em épocas em que a população da praga estiver alta.
Existe uma variedade de inimigos naturais da mosca-branca. Predadores, parasitóides e entomopatógenos são alguns exemplos.
Controle com parasitóides
O controle biológico com parasitóides pode reduzir o número de aplicações de inseticidas químicos. Por isso, é essencial evitar o uso de produtos de amplo espectro. Priorize os inseticidas seletivos.
Os parasitóides recomendados para o controle da mosca-branca são:
- De ninfas: Encarsia formosa;
- De ovos de lepidópteros: Trichogramma pretiosum e Telenomus remus;
- Adultos: afelinídeos dos gêneros Encarsiae e Eretmocerus;
Predadores
Além disso, predadores do inseto também podem ser utilizados. Dentre os principais, temos:
- Coleoptera: Espécies de joaninhas como Coleomegilla maculata e Eriopis connexa.
- Hemiptera: Espécies das famílias Anthocoridae, Berytidae, Lygaeidae, Miridae, Nabidae e Reduviidae.
- Neuroptera: Chrysoperla spp. e Ceraeochrysa spp.
- Ácaros da família Phytoseiidae: Amblydromalus limonicus, Amblyseius herbicolus, Amblyseius largoensis, Amblyseius tamatavensis e Neoseiulus tunus.
Controle com fungos entomopatogênicos
Fungos entomopatogênicos também podem ser utilizados no controle biológico. Eles são fungos que ocorrem naturalmente, e são capazes de colonizar diversas espécies de insetos. Os principais produtos registrados são a base de:
- Isaria fumosorosea: indicado para o controle apenas da mosca-branca;
- Paecilomyces fumosoroseus: bastante eficiente para o controle de B. tabaci raça B, e para a cigarrinha-do-milho;
- Beauveria bassiana, isolado IBCB 66*: além da eficiência contra a mosca-branca, também é indicado no controle da cigarrinha-do-milho, ácaro-rajado e do bicudo da cana-de-açúcar.
Produtos registrados para controle biológico da mosca-branca
Existem atualmente 55 produtos biológicos registrados para o controle da mosca-branca (B. tabaci biotipo B), em todas as culturas. Eles estão disponíveis no Agrofit.
Um dos principais é o Chrysoperla externa. Ele é indicado para uso em todas as culturas, especialmente em soja, algodão e tomate, onde a mosca-branca é um sério problema.
É um inseto da ordem Neuroptera. São popularmente conhecidos na sua fase larval como “bicho lixeiro”, pois utilizam os restos de suas presas para cobrir o seu corpo, como forma de camuflagem e defesa.
Conforme indicação de uso, deve-se utilizar um predador para cada ninfa de mosca-branca identificada na amostragem da lavoura. Isso acontece em função do nível de infestação.
O Chrysoperla externa também é indicado para o controle do pulgão-do-algodoeiro (Aphis gossypii), pulgão-verde-dos-cereais (Schizaphis graminum) e pulgão-verde (Myzus persicae).
Fique de olho na quantidade de C. externa de acordo com a infestação de mosca-branca:
- Nível de infestação baixo: 1 predador para cada 40 moscas: (este tratamento pode ser utilizado de forma preventiva, em áreas com histórico de ocorrência de mosca-branca);
- Nível de infestação médio: 1 predador para cada 20 moscas;
- Nível de infestação alto: 1 predador para cada 10 moscas.
A dose deve ser calculada em função das indicações da empresa fornecedora do predador, e da forma de liberação: ovos ou larvas.
Além disso, na liberação de ovos acrescenta-se 10% para cultivos em casa de vegetação, e 20% para liberações em culturas a campo.

Conclusão
A mosca-branca é uma praga que causa infestações cada vez mais frequentes em diversas culturas de interesse econômico.
Além de causar danos diretos, também é vetor de vírus causadores de doenças. O uso de diversas táticas para o controle da mosca-branca é importante como forma de integração e para evitar resistência aos inseticidas.
Com as informações passadas aqui, espero que você tenha um ótimo controle da mosca-branca em sua propriedade.
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