Você já parou para pensar que uma vespinha de apenas 2 milímetros pode ser a solução para um dos maiores problemas do seu canavial?
A Cotesia flavipes é pequena no tamanho, mas gigante na missão: controlar a broca-da-cana (Diatraea saccharalis), uma praga que causa prejuízos severos na produção de açúcar e etanol no Brasil.
Ao contrário dos inseticidas, que muitas vezes não alcançam o interior do colmo onde a broca se esconde, essa microvespa age de forma cirúrgica, entrando no ciclo da praga e impedindo seu desenvolvimento.
Com isso, você tem uma lavoura mais limpa, produtiva e com muito menos perdas.
Índice do Conteúdo
O que é Cotesia flavipes?
A Cotesia flavipes é uma vespa da família Braconidae, usada no controle da broca-da-cana, atacando apenas a larva da Diatraea saccharalis, a praga mais temida dos canaviais.
Esse inseto atua como um parasitoide larval, colocando seus ovos dentro da lagarta da broca. As larvas da vespa se desenvolvem por dentro da praga, interrompendo seu ciclo e evitando o dano à cana.
Se trata de um controle natural, que pode ser produzido em biofábricas e aplicado diretamente na lavoura com eficácia.
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Cotesia flavipes no controle da broca-da-cana
A broca-da-cana-de-açúcar (Diatraea saccharalis) é responsável por prejuízos expressivos nas lavouras de cana em todo o país.
Essa lagarta ataca o colmo da planta, abrindo caminho para fungos e bactérias e comprometendo a produção de açúcar e álcool.
Mas o que muitos produtores já sabem, e outros ainda estão descobrindo, é que há uma aliada natural nessa luta: a microvespa Cotesia flavipes.
Além de reduzir significativamente a população da praga, a microvespa ajuda a diminuir a aplicação de inseticidas químicos, preservando inimigos naturais e promovendo mais equilíbrio ecológico.
A liberação da Cotesia pode ser feita de forma planejada, com acompanhamento técnico, para uma maior eficiência no controle da broca e contribuindo para uma produção mais saudável e sustentável.
Figura 1. Inseto em ação – controle da broca-da-cana (Diatraea saccharalis). Fonte: Agrozanin – Agricultura de Precisão (2024).
Qual é o ciclo de vida da Cotesia flavipes?
O ciclo dessa vespa é rápido e eficaz. Cada fêmea deposita de 60 a 65 ovos por lagarta, que eclodem em 3 a 4 dias, liberando larvas que se alimentam da praga por até uma semana.
Após esse período, as larvas saem do corpo da lagarta e formam pequenos casulos no ambiente.
Novos adultos surgem em até 6 dias, prontos para parasitar outras lagartas no canavial.
Em condições ideais, o ciclo completo da Cotesia flavipes leva cerca de 20 dias. As fêmeas vivem de 7 a 10 dias e se alimentam de néctar e açúcares disponíveis na lavoura.
Quais os sintomas da broca-da-cana?
A broca-da-cana-de-açúcar é o nome comum dado à lagarta da mariposa Diatraea saccharalis, que perfura o colmo da planta para se alimentar e se desenvolver.
Com isso, os principais sinais de ataque da broca-da-cana-de-açúcar incluem perfurações e presença de serragem (frass) nos colmos.
Você também pode se deparar com outros sintomas comuns, como colmos quebrados, ocos ou com podridão, e redução visível da produtividade da planta.
A infestação ainda favorece a entrada de fungos e bactérias nocivos. Com isso, mesmo uma lavoura com apenas 1% dos colmos atacados, pode perder cerca de 35 kg de açúcar e 30 litros de álcool por hectare.
Controle da broca-da-cana com Cotesia flavipes
O controle com Cotesia flavipes pode acontecer de forma natural ou por liberação em massa.
Essa estratégia é chamada de controle biológico inundativo e é adotada quando se encontra de 800 a 1000 lagartas por hectare.
A vespa é eficaz porque entra nos colmos onde o inseticida não alcança. Além disso, não deixa resíduos químicos e se integra a outras práticas de manejo no canavial.
Em muitos casos, o uso dessa vespa reduz a infestação em mais de 70%, sendo uma solução econômica e segura ao produtor.
Quais são os inimigos naturais da broca da cana?
A broca-da-cana-de-açúcar (Diatraea saccharalis) segue sendo uma das pragas mais preocupantes para os canavicultores brasileiros, causando perdas de até R$ 5 bilhões por ano.
A boa notícia é que a lagarta tem vários inimigos naturais, como parasitoides, predadores e patógenos. Veja os principais:
Parasitoides
- Trichogramma spp.: Parasitoides de ovos que impedem a eclosão das lagartas. São pouco comuns no manejo da broca, mas podem atuar em conjunto com outras estratégias;
- Cotesia flavipes (microvespa): O mais utilizado no controle biológico da broca, impedindo que complete seu ciclo de vida;
- Tachinidae (moscas taquinídeas): Algumas espécies de moscas dessa família também parasitam as lagartas da broca, colocando ovos sobre elas.
Predadores
- Formigas (ex: Solenopsis spp.): Podem atacar as lagartas ou ovos da broca, especialmente em ambientes mais naturais ou manejados com pouca interferência química;
- Aranhas e besouros predadores: Também podem se alimentar de ovos ou pequenas lagartas da praga, embora sua ação seja mais limitada.
Patógenos
- Beauveria bassiana (fungo entomopatogênico): Infecta e mata a broca em estágios larvais, sendo utilizado comercialmente em algumas estratégias de controle;
- Bacillus thuringiensis (Bt): Bactéria produz toxinas letais para as lagartas e é utilizada tanto em pulverizações quanto em variedades de cana geneticamente modificadas com genes Bt.
A liberação da Cotesia flavipes pode ser feita de duas maneiras: terrestre com copos plásticos ou aérea com drones. Cada hectare deve receber cerca de 6.000 vespas, divididas em 8 pontos de liberação.
Na aplicação terrestre, os copos são abertos e fixados nas plantas a cada 20 a 25 metros. A liberação deve ocorrer entre 8 e 12 horas após o início da emergência das vespas adultas.
Já com drones, a liberação é feita com cápsulas biodegradáveis, em pontos georreferenciados e com agilidade.
Essa tecnologia pode ser feita durante a renovação do canavial, com capacidade para cobrir até 300 hectares por dia, com alta precisão e menor custo operacional.
O que pode afetar a eficácia de Cotesia flavipes?
A eficácia da Cotesia flavipes no controle da broca-da-cana pode ser afetada, principalmente, por condições climáticas, como temperaturas extremas, baixa umidade e chuvas intensas após a sua liberação.
As condições da lavoura também podem ser fatores de risco. Áreas com excesso de palhada, rebrotas mal manejadas ou alta densidade de plantas dificultam o acesso da Cotesia às lagartas, assim como infestações muito altas da praga.
Outro ponto crítico é o uso de defensivos químicos, como os inseticidas de amplo espectro, quando aplicados de forma indiscriminada, que reduzem a população da microvespa ou diminuem sua ação.
Além disso, a liberação tardia, mal distribuída ou com doses inadequadas comprometem a eficiência do controle, junto da presença de hospedeiros alternativos que não são parasitados pela Cotesia flavipes, desviando a ação da broca-da-cana.
Para não ter erro na aplicação da microvespa, é recomendado fazer um controle biológico planejado e adotar o Manejo Integrado de Pragas (MIP) com monitoramento constante.


Engenheiro-Agrônomo (UFRA/Pará), Técnico em Agronegócio (Senar/Pará), especialista em Agronomia (Produção Vegetal) e mestre em Fitotecnia pela (Esalq/USP).