A mancha parda é uma doença foliar causada por diferentes fungos, dependendo da cultura. Na soja, o agente causal é o fungo Septoria glycines, enquanto no arroz, o principal patógeno é Bipolaris oryzae.
Ambas as espécies são altamente adaptáveis, se disseminam rapidamente em ambientes tropicais e podem sobreviver em restos culturais, sementes infectadas e solos mal manejados.
Essa doença está presente em diversas regiões agrícolas do Brasil e provoca sérios danos quando não é controlada de forma eficiente.
Por atingir principalmente o final do ciclo das culturas, pode reduzir a qualidade e o rendimento dos grãos, além de provocar desfolha precoce, maturação forçada e redução no peso final dos grãos.
Em condições severas, as perdas podem chegar a 30% da produtividade da lavoura.
Embora o termo “mancha parda” seja utilizado para descrever sintomas semelhantes em diferentes culturas, é importante lembrar que os patógenos envolvidos, os sintomas e as estratégias de controle podem variar de acordo com a planta hospedeira.
Índice do Conteúdo
Como identificar mancha parda na soja?
A mancha parda na soja (também conhecida como septoriose) é uma das primeiras doenças a aparecer na lavoura e está presente em praticamente todas as regiões produtoras do Brasil.
O fungo Septoria glycines sobrevive em restos de culturas anteriores, e sua disseminação ocorre principalmente pelo vento e pela água das chuvas.
Os primeiros sintomas surgem cerca de duas semanas após a infecção inicial, geralmente nos trifólios inferiores.
Inicialmente, são observadas pontuações pardas muito pequenas (< 1 mm), que evoluem para manchas com halos amarelados e centros de coloração parda na face superior das folhas e rosadas na inferior.
Essas manchas chegam a medir entre 1 e 3 mm de diâmetro e apresentam contornos angulares bem definidos.
A progressão da doença ocorre de forma mais severa a partir do estádio R5 (início do enchimento de grãos), momento em que a planta é mais sensível.
Em anos com alta umidade e temperaturas superiores a 25 °C, o avanço da infecção pode provocar desfolha intensa, principalmente na base das plantas, comprometendo a fotossíntese e a formação dos grãos.

Como identificar a mancha parda em outras culturas?
Embora mais comum na soja, a mancha parda também pode atingir outras culturas, com sintomas variados e impactos específicos em cada planta.
Por isso, é importante reconhecer os sinais característicos em diferentes contextos para agir com eficiência. Veja abaixo:
1. Mancha parda no arroz
A mancha parda no arroz é causada por Bipolaris oryzae e ocorre com maior frequência em cultivos irrigados, principalmente no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Mato Grosso, com lesões se nas folhas, colmos, bainhas, glumelas e grãos.
Os sintomas foliares começam como manchas pequenas, ovais ou arredondadas, de cor marrom-avermelhada com centro acinzentado ou esbranquiçado.
Nos grãos, as manchas são escuras e aveludadas, comprometendo o rendimento de engenho e a qualidade para comercialização.
Já infecção é favorecida por temperaturas entre 25 °C e 30 °C e umidade relativa acima de 89%. Períodos de orvalho intenso e irrigação mal manejada favorecem o progresso da doença.
Por fim, nas fases de floração e enchimento leitoso, os grãos são altamente suscetíveis.
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2. Mancha parda no café
A mancha olho-pardo do café, apesar de não ser causada pelos mesmos patógenos da soja e do arroz, é uma doença foliar de sintomatologia semelhante.
As suas lesões são circulares com centro claro e borda escura, lembrando um “olho”, o que dá nome à doença.
Esse tipo de mancha também leva à queda precoce de folhas, reduz a atividade fotossintética e compromete o enchimento dos frutos, afetando o volume e a qualidade da colheita.
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3. Mancha parda na cana-de-açúcar
A mancha parda na cana-de-açúcar, embora menos frequente, é vista principalmente em folhas mais velhas.
As manchas são elípticas, alongadas com as extremidades arredondadas, de coloração pardo-avermelhada, podendo se fundir e formar áreas necrosadas extensas.
Esse tipo de mancha é associado a desequilíbrios nutricionais, excesso de nitrogênio e falta de potássio, o que ressalta a importância do manejo nutricional na prevenção da doença.
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Como controlar a mancha parda?
O controle da mancha parda deve ser baseado em três pilares principais: manejo cultural, nutricional e químico.
A adoção de uma única estratégia dificilmente será suficiente, especialmente em anos com alta pressão da doença. Veja a seguir o que fazer:
1. Manejo cultural
A rotação de culturas é uma das medidas mais eficazes para reduzir a sobrevivência dos patógenos no solo e em restos vegetais.
Em áreas de soja, por exemplo, a rotação com milho pode ser benéfica. Já no arroz, a alternância de cultivos e o uso de sementes certificadas ajudam a reduzir a incidência da doença.
O manejo correto da palhada, a eliminação de plantas daninhas e o uso de cultivares com menor suscetibilidade são complementares e ajudam a reduzir o inóculo inicial.
2. Manejo nutricional
O excesso de nitrogênio, especialmente no arroz, está associado ao aumento da severidade da mancha parda.
Já o potássio tem papel importante na resistência da planta, reforçando a estrutura celular e reduzindo o estresse oxidativo.
Assim, é fundamental manter o equilíbrio nutricional com base em análises de solo e recomendações técnicas atualizadas.
Na soja, a adubação potássica associada ao manejo da matéria orgânica do solo contribui para a tolerância fisiológica à doença e melhora o desempenho da cultura em ciclos consecutivos.
3. Manejo químico
O uso de fungicidas para mancha parda é indicado em áreas com histórico da doença, sobretudo em anos com alta umidade ou onde há presença de restos culturais contaminados.
Os melhores resultados são obtidos com aplicações preventivas, iniciadas no florescimento e estendidas até o enchimento dos grãos.
Estudos realizados com arroz irrigado mostraram que fungicidas formulados com triazóis e estrobilurinas, como azoxistrobina, tebuconazol, epoxiconazol e trifloxistrobina, apresentaram eficiência superior a 80% no controle de B. oryzae, com incremento de produtividade nas lavouras.
Na soja, produtos com protioconazol + picoxistrobina, clorotalonil, flutriafol e ciproconazol têm se mostrado eficazes no controle da mancha parda, especialmente quando aplicados de forma preventiva.
A rotação de ingredientes ativos é fundamental para evitar a seleção de isolados resistentes.
O uso repetitivo de um mesmo grupo químico compromete a eficácia dos produtos e a sustentabilidade do manejo a longo prazo.
Como proteger a lavoura da mancha parda?
Proteger a lavoura da mancha parda envolve uma abordagem integrada. A base do sucesso está no monitoramento constante, no diagnóstico precoce e na intervenção técnica adequada.
O uso de tecnologia de aplicação eficiente, o respeito às condições climáticas ideais para pulverização e a integração de práticas de manejo são decisivos para evitar surtos da doença.
Em áreas com histórico severo, o uso de cultivares menos suscetíveis pode ser aliado a tratamentos de sementes e aplicações precoces de fungicidas.
No arroz, o controle da irrigação e o ajuste na época de semeadura são cruciais para reduzir o risco de infecção em momentos críticos do ciclo.
A incorporação de práticas sustentáveis, como o controle biológico em fase experimental para arroz e o uso de microrganismos benéficos, poderá em breve complementar o manejo da mancha parda em sistemas de cultivo intensivo.
Quais culturas a mancha parda ataca?
A mancha parda afeta uma série de culturas de grande importância econômica no Brasil e no mundo. Entre as principais estão:
- Soja: Com impacto direto na desfolha e no peso dos grãos, causada por Septoria glycines;
- Arroz: Com comprometimento da qualidade e do rendimento dos grãos, causada por Bipolaris oryzae;
- Café: Com a mancha olho-pardo, que reduz a eficiência fotossintética e o enchimento dos frutos;
- Cana-de-açúcar: Com sintomas foliares que se intensificam em solos desequilibrados nutricionalmente;
- Tomate: Afetado por Septoria lycopersici, com sintomas similares ao da soja, especialmente em estufas ou cultivo protegido.
Embora o nome da doença seja semelhante, os fungos envolvidos e o ciclo epidemiológico variam entre as culturas, exigindo planos de manejo específicos e monitoramento contínuo.


Engenheiro Agrônomo, Mestre e Doutorando em Produção Vegetal pela (ESALQ/USP). Especialista em Manejo e Produção de Culturas no Brasil.