As doenças estão, frequentemente, causando prejuízos na lavoura. O mofo-branco, por exemplo, tem uma ampla gama de plantas hospedeiras como soja, feijão, girassol, algodão e outras.
No caso da soja, a doença pode causar perdas de até 70% na produtividade, além de ter estruturas de resistência que podem permanecer viáveis no solo por vários anos.
Então, é preciso evitar a entrada do patógeno na área e manejá-lo adequadamente quando já está presente para evitar perdas.
Índice do Conteúdo
- 1 O que causa o mofo-branco nas culturas agrícolas?
- 2 Ciclo de vida de S. sclerotiorum (mofo-branco)
- 3 Mofo-branco na cultura da soja
- 4 Mofo-branco na cultura do feijoeiro
- 5 Mofo-branco na cultura do algodão
- 6 Mofo-branco na cultura do girassol
- 7 Mofo-branco na cultura do amendoim
- 8 Mofo-branco na cultura da canola
- 9 Quais as medidas para manejo do mofo-branco?
- 10
O que causa o mofo-branco nas culturas agrícolas?
O mofo-branco, ou podridão-de-Sclerotinia, é uma doença causada pelo fungo Sclerotinia sclerotiorum e pode causar altas perdas na produtividade de culturas como algodão, soja, feijão e muitas outras de grande importância econômica.
A doença pode afetar diferentes espécies de plantas, com registro de mais de 400 espécies hospedeiras (ampla gama de plantas hospedeiras, exceto as gramíneas).
Alta umidade e temperaturas amenas são o ambiente favorável para desenvolvimento da doença. Dessa forma, áreas irrigadas podem favorecer o mofo-branco, por proporcionar ambientes com alta umidade.
Os sintomas da doença são bastante característicos. Normalmente, ocorrem lesões encharcadas nas partes aéreas da planta.
E, após o progresso, há o crescimento de um micélio branco, com aspecto cotonoso (parecido com algodão) sobre essas lesões. Após um período, ocorre a formação de escleródios.
O que são escleródios?
Os escleródios são enovelamento/agregado de hifas, que são estruturas de resistência do fungo. Assim, este fungo pode sobreviver no solo através dessas estruturas.
A formação de escleródios ocorre em resposta às mudanças na disponibilidade de nutrientes no meio em que se encontra o fungo. Os escleródios tem formato irregular e tamanho pequeno (milímetros).
Inicialmente, essas estruturas apresentam coloração branca, que depois progride para uma cor escura e com aspecto duro.
Assim, os escleródios no final do processo da sua formação apresentam cor escura pelo depósito de melanina, que possivelmente confere proteção a essas estruturas.
Os escleródios podem sobreviver (ficarem viáveis) no solo por vários anos. Há trabalhos que apontam sobrevivência por até 10 anos, mas isso é variável conforme as condições a que essas estruturas estão expostas.
Isso é importante pois há a sobrevivência de S. sclerotiorum na área de cultivo mesmo no período de entressafra.

(Fonte: Arquivo pessoal da autora)
Disseminação S. sclerotiorum
Os escleródios podem ser disseminados por sementes, solo, máquinas agrícolas, água e entre outros.
Assim, se sua área de cultivo é livre do patógeno, este pode ser introduzido por sementes contaminadas internamente (micélio dormente) ou por escleródios que podem estar juntos com as sementes.
Máquinas e implementos agrícolas sujos com solo contaminado também trazem problemas.
Este conhecimento é muito importante para determinar as medidas de manejo para a doença.
Ciclo de vida de S. sclerotiorum (mofo-branco)
Para entender como o patógeno se desenvolve para causar o mofo-branco, vamos discutir rapidamente o ciclo de vida de S. sclerotiorum. Os escleródios presente no solo podem germinar de duas formas:
Carpogênica
Ocorre a formação de apotécios (que tem aparência de cogumelo), com a produção de ascos que formam ascósporos.
Esses esporos do fungo podem ser disseminados pelo vento, podendo causar infecções em outras plantas na área ou em regiões próximas.
Os ascósporos germinam para iniciar a infecção e causar a doença. Normalmente, a germinação carpogênica ocorre nas culturas de soja e feijão.
Micelogênica
Ocorre a formação de hifas e não formam esporos. Essas hifas geralmente iniciam a infecção na matéria orgânica do solo e depois penetram e colonizam a planta hospedeira.
Normalmente essa germinação ocorre na cultura do girassol. Por isso é importante conhecer o ciclo de vida do patógeno, entender a importância das estruturas de sobrevivência do fungo e as medidas de manejo.
Observe no esquema abaixo como as germinações podem ocorrer e as etapas para o desenvolvimento do mofo-branco.
Agora que você sabe um pouco mais sobre o desenvolvimento do mofo-branco, vamos mostrar o desenvolvimento da doença em algumas culturas agrícolas.

(Fonte: Tese Roseli Muniz Giachini adaptado de Wharton e Kirk, 2007)
Mofo-branco na cultura da soja
A doença foi uma das principais responsáveis pela redução da produtividade das lavouras de soja na região sul do país na safra 2017/18.
Nos últimos anos, o mofo-branco na cultura da soja ocasionou perdas de até 70% na produtividade. E estima-se que cerca de 10 milhões de hectares da área brasileira de cultivo de soja estejam infestados pelo patógeno.
O fungo pode atacar qualquer parte da planta, sendo mais frequente nas inflorescências, pecíolos e ramos.
Os sintomas inicialmente são manchas encharcadas, que progridem para uma coloração castanha, com um crescimento de micélio de coloração branca e aspecto cotonoso sobre essas manchas.
E, com o desenvolvimento da doença, ocorre a formação dos escleródios, que podem estar tanto na superfície como no interior de hastes e nas vagens infectadas da planta de soja.
A fase de maior vulnerabilidade é na floração e na formação de vagens, quando as sementes infectadas são menores, enrugadas e com coloração não característica da semente.

(Fonte: Maurício Meyer em Embrapa)
Controle de mofo-branco em soja
O controle químico depende do momento da aplicação. O objetivo é atingir as partes inferiores da planta e a superfície do solo.
A primeira aplicação deve ser feita no início da floração (estádio R1) e a segunda, cerca de 15 dias depois. Os principais fungicidas usados são:
- Fluazinam 500 g/L
- Procimidona 500 g/kg
- Carbendazin 500 g/L
- Tiofanato Metílico 350 g/L + Fluazinam 52,5 g/L
Além do controle químico, existem outras práticas de manejo que também ajudam a combater o mofo-branco, como a rotação de culturas e o uso de cultivares resistentes.
Mofo-branco na cultura do feijoeiro
O mofo-branco do feijoeiro é uma das doenças mais agressivas na cultura, com perdas que podem ultrapassar 60% se o manejo não for realizado corretamente.
Normalmente a doença é mais problemática no florescimento, com ascósporos (esporos) disseminados pelo vento que caem em pétalas de flores senescentes do feijoeiro, germinam e infectam.
As pétalas senescentes colonizadas caem sobre o solo ou hastes de vagens e iniciam o ciclo da doença.
Os sintomas são lesões encharcadas de coloração castanha, com micélio branco e cotonoso. Com o progresso da doença, ocorre a formação de escleródios.

Mofo-branco na cultura do algodão
A doença na cultura do algodoeiro tem maior incidência em áreas irrigadas, principalmente após o cultivo de soja e feijoeiro.
Além disso, também tem afetado a cultura em áreas com clima de temperatura amena e alta umidade, que propiciam o desenvolvimento do fungo.
Os sintomas no algodoeiro podem ocorrer nas folhas, hastes e nas maçãs, mas podem aparecer no baixeiro das plantas, apresentando lesões aquosas, que podem ter o crescimento do micélio cotono.
Com o progresso da doença, há formação de escleródios e, na fase de floração, o tem uma disseminação mais rápida, pois a flor é a fonte primária de energia para o fungo iniciar novas infecções.
Mofo-branco na cultura do girassol
Na cultura do girassol, a doença também recebe o nome de podridão branca. É considerada, mundialmente, a mais importante para a cultura.
Se o fungo ataca na fase de plântula, pode ocasionar a morte e, consequentemente, falhas no estande.
A podridão branca pode ocorrer na cultura desde o estádio de plântula até a maturação das plantas. Com isso, a doença pode apresentar 3 sintomas diferentes nas plantas:
- Podridão basal (ocorre do estádio de plântula até a maturação): murcha da planta e lesão marrom, mole e com aspecto de encharcada. Se houver alta umidade, a lesão pode ficar coberta por um micélio branco. Além disso, pode encontrar escleródios nas áreas afetadas.
- Podridão na porção mediana da planta (ocorre a partir do estádio vegetativo): os sintomas são parecidos com os da infecção basal. Escleródios podem ocorrer dentro e fora da haste.
- Podridão do capítulo (ocorre a partir da floração): inicialmente observam-se lesões pardas e encharcadas no capítulo, tendo a presença do micélio cobrindo algumas de suas partes. Com o progresso da doença, pode-se encontrar muitos escleródios no interior do capítulo, além do fungo poder destruir esta estrutura floral.
Mofo-branco na cultura do amendoim
A doença é causada por S. sclerotiorum ou também pelo fungo Sclerotinia minor e pode causar perdas superiores a 50%.
Os sintomas iniciam com lesões encharcadas que, em períodos de alta umidade, ocorre crescimento de micélio branco sobre as lesões que, com o progresso da doença, pode formar os escleródios.
Mofo-branco na cultura da canola
Também chamado de podridão branca, é uma das doenças de grande importância para a cultura da canola no Brasil.
Os sintomas ocorrem no caule e na haste da planta, com a presença de apodrecimento seco.
Com o progresso da doença, os tecidos atacados do caule ou das hastes se tornam marrons, que também ocorre o crescimento de micélio branco e cotonoso, e com a presença de escleródios.
As plantas atacadas pelo fungo normalmente apresentam desfolhamento, maturação precoce e podem ter sementes chochas.
Quais as medidas para manejo do mofo-branco?
O controle do mofo-branco é difícil. O fungo produz estruturas de resistência (escleródios) e uma ampla gama de plantas hospedeiras. Por isso, na sua área, deve-se evitar a entrada do fungo.
Além disso, não há variedades resistentes até o momento para este fungo. O que pode ocorrer são variedades com resistência parcial.
Listamos algumas medidas de manejo que podem ser utilizadas no controle do mofo-branco. Mas lembre-se que os fungicidas diferem quanto ao seu registro nas culturas.
- Sementes sadias e certificadas para evitar a presença de escleródios misturados com a semente ou de micélio interno nas sementes;
- Rotação de culturas com espécies não hospedeiras do fungo;
- População de plantas adequada, lembrando que espaçamentos pequenos são mais favoráveis ao mofo-branco;
- Tratamento de sementes;
- Cultivo sobre a palhada de gramíneas;
- Eliminar plantas invasoras que são hospedeiras do fungo;
- Utilizar variedades que possuem uma arquitetura que apresente boa aeração para não possibilitar um ambiente favorável para o patógeno (umidade);
- Limpeza de máquinas e equipamentos agrícolas;
- Escolha da época de plantio (evitando períodos chuvosos nos estádios que são propensos para a doença);
- Palhada, como de gramíneas, no solo pode reduzir a formação (desenvolvimento) do fungo. A palhada também pode favorecer o desenvolvimento de microrganismos que controlam a S. sclerotiorum (antagonista).
- Cultivo em sistema de plantio direto pode reduzir a incidência da doença em relação ao plantio convencional por dificultar o contato da planta com o solo contaminado e também o desenvolvimento do fungo.
- Controle biológico;
- Tratamento químico (fungicidas);
Verifique quais produtos são registrados para o patógeno no Brasil e para a cultura que é afetada pela doença.
Para consultar os produtos registrados, não se esqueça de buscar no site do Agrofit.
E para a prescrição do produto e da dose a ser utilizada, procure um (a) eng. Agrônomo (a).
Eficiência de fungicidas para controle do mofo-branco
A Embrapa realizou uma pesquisa sobre a eficiência de fungicidas para o controle do mofo-branco na cultura da soja na safra 2017/18.
Essas pesquisas podem te auxiliar na escolha do fungicida de acordo com a incidência da doença e seu controle.
Lembre-se de comparar os resultados com a testemunha, que são plantas que não foram aplicadas com fungicidas.

(Fonte: Embrapa)
Lembre-se que a melhor medida de manejo é a prevenção da entrada do patógeno na sua área de cultivo.
E, por fim, para um manejo efetivo, você deve utilizar várias medidas de manejo, ou seja, integrando as práticas de manejo!