Calagem em plantio direto: Quando aplicar e reaplicar, fazer ou não a incorporação do calcário, como conseguir equilíbrio entre Ca e Mg e outras respostas para dúvidas frequentes!
Quando o assunto é calagem em plantio direto, garanto que você já se se questionou:
“Devo ou não incorporar? Como fazer a calagem em superfície? Vale a pena corrigir o solo em profundidade?”
Essas e outras perguntas são corriqueiras e mostram como o assunto é controverso e existe desinformação.
Por isso, separamos aqui as dúvidas mais comuns e suas respostas para que você consiga o melhor manejo e, portanto, a melhor produção dentro do sistema de plantio direto! Confira!
Índice do Conteúdo
- 1 Calagem em plantio direto: o calcário
- 2 1. Como amostrar o solo?
- 3 2. Qual dose deve ser aplicada?
- 4 3. Como e quando aplicar?
- 5 4. Todo calcário é igual?
- 6 5. Qual tipo de calcário devo utilizar?
- 7 6. Vale a pena incorporar o calcário?
- 8 7. Como maximizar a eficiência da calagem em plantio direto?
- 9 8. Não esqueça do Mg!
- 10 Como comprar calcário?
- 11 Conclusão
Calagem em plantio direto: o calcário
O calcário é um corretivo da acidez do solo. Pode fornecer cálcio (Ca) e magnésio (Mg), além de ajudar na melhoria de atributos físicos do solo.
Com a ascensão do sistema de plantio direto, algumas questões surgiram quanto à execução da calagem no PD.
Aqui no blog, nós já falamos sobre as principais características desse corretivo, o cálculo de calagem e princípios básicos da correção do solo. Confira!
Agora, o intuito é responder a algumas dessas perguntas que surgem quando o assunto é calagem em plantio direto.
1. Como amostrar o solo?
A principal diferença entre o plantio convencional e o plantio direto é o local de amostragem de solo.
Como não há revolvimento de solo no PD, a tendência é que o adubo se concentre nos mesmos locais.
Além disso, cria-se um gradiente de fertilidade entre a superfície e as camadas mais profundas. E isso é mais problemático para nutrientes pouco móveis no solo, como o fósforo.
Em sistemas de PD já consolidados, a dica na hora de amostrar o solo é retirar 15% das amostras na linha e o restante na entrelinha, misturando tudo para formar uma única amostra.
Para facilitar ainda mais, uma regra prática: retire amostras a cerca de um palmo da linha, assim, ela representará bem o que ocorre tanto na linha quanto na entrelinha.
A dica é avaliar não somente a camada 0-20 cm, mas também a 20-40 cm pelo menos. Assim, temos ideia de como está o ambiente em que nossas raízes irão se desenvolver.
2. Qual dose deve ser aplicada?
Existem várias maneiras de se calcular a dose da calagem.Não importa o método utilizado, o importante é que se obedeça a recomendação de calagem.
Alguns produtos, como o tal “calcário líquido” ou calcários granulados, prometem uma maior eficiência e por isso poderiam ser utilizados em doses mais baixas, o que nem sempre é verdade. Portanto, cuidado com promessas “milagrosas”.
Cuidado com essas promessas! Não existe milagre. Atenda à recomendação de calagem e não terá problemas.
Da mesma forma, como a calagem é superficial e de reação lenta, pode causar a “supercalagem” na camada mais superficial (0-5 cm), reduzindo a disponibilidade de micronutrientes catiônicos e indisponibilizando o P.

(Fonte: Interpretti)
3. Como e quando aplicar?
Em condições ótimas, o calcário demora pelo menos menos 3 meses para reagir no solo. Portanto, quanto mais próximo ao fim da safra anterior, melhor.
A aplicação pode ser parcelada em doses de 2,5 ton/ha cada parcelamento.
E quando reaplicar?
O critério que tem sido utilizado para a reaplicação de calcário no Paraná é o seguinte:
A partir do monitoramento da camada 0-5 cm, realizar nova calagem quando o pH em CaCl2 estiver inferior a 5,6 e o V% menor que 65.
Situações diferentes dessa não respondem bem à calagem.
Solos com mais argila devem demorar mais para ser necessário reaplicação. Os arenosos, por outro lado, necessitam de calagem mais frequentemente.

(Fonte: Vitti e Priori)
4. Todo calcário é igual?
Não. Existem vários tipos de calcários. Cada um deles pode servir para uma função diferente.
Lembre-se: a calagem é baseada em critérios técnicos e econômicos. Aquele corretivo que te proporcionar maior lucro ao longo dos anos deve ser o escolhido.
Temos que avaliar os calcários pelo seu Poder Relativo de Neutralização Total (PRNT).
Ele é resultado do produto do Poder de Neutralização (PN) e Reatividade (RE).

Interpretação de PRNT em calcários
(Fonte: Alcarde et. al., 1992)
O valor do PRNT representa qual porcentagem do potencial de neutralização será expresso nos primeiros 3 meses. O restante é chamado Efeito Residual (ER) e terá sua ação ao longo do tempo no solo.
Essa informação é importante pois pode direcionar o uso de um ou outro tipo de calcário para determinadas situações.
5. Qual tipo de calcário devo utilizar?
Como regra geral, a recomendação é a seguinte:
Na adoção do PD, prefira calcários com maior efeito residual. Assim, garantimos uma ação mais duradoura.
Em áreas estabelecidas, queremos que a reação do calcário ocorra o mais rápido possível. Portanto, escolha aqueles que tem o PRNT mais elevado, com baixo residual.
6. Vale a pena incorporar o calcário?
Estudos mostram que o custo adicional da incorporação do corretivo não se traduz em lucro ao sistema já estabelecido.
Também devemos nos atentar aos danos causados à estrutura do solo (infiltração, aeração, etc), microbiologia do solo, além da degradação da matéria orgânica.
Portanto, a calagem em plantio direto deveria ser superficial.
Mas o tema é controverso…
O CESB (Comitê Estratégico Soja Brasil) cuida de pesquisas relacionadas à cultura da soja e promove competições anuais de produtividade.
Em suas publicações disponíveis, eles encontraram correlação entre os teores de matéria orgânica, Ca, Mg, V% e CTC e baixo Al até 1 metro de profundidade.
Ou seja, os recordes de produtividade ocorriam em sistemas onde o subsolo estava corrigido e fértil.
Como em PD o solo não deve ser revolvido, após a adoção do sistema é difícil atingir o subsolo. Apenas após muitos anos a calagem superficial terá efeito sobre essa camada.
Mas existe uma única época em que é recomendada a incorporação de calcário em PD: na adoção do sistema.
Ao adotar o PD podemos aproveitar a oportunidade e incorporá-lo ao solo. É a única chance de revolver o solo e corrigi-lo diretamente em profundidade. Fica a dica.
7. Como maximizar a eficiência da calagem em plantio direto?
A eficiência da calagem é função da dose, do tipo de calcário, do tempo de reação do calcário no solo, das condições edafoclimáticas (solo + clima) da região e do manejo da área.
Portanto, lembre-se que uma mesma dose de calcário terá comportamento diferente em diferentes locais e sob diferentes manejos.
Mas existe outra maneira de extrair o máximo dessa correção: culturas de cobertura.
O uso de culturas de cobertura com grande produção de biomassa de raízes pode ajudar no caminhamento do calcário para o subsolo, pois melhora a estruturação e cria bioporos com a morte de raízes.
Além disso, a exsudação de ácidos orgânicos nas raízes pode complexar o Al tóxico e auxiliar no caminhamento do calcário no perfil também. Desse modo, a calagem superficial pode atingir camadas inferiores.

Estudos em Latossolos indicam que o melhor é a manutenção do sistema plantio direto com semeadura direta e calagem superficial sem revolvimento do solo, associado a rotação de culturas, inclusive melhorando a produção de grãos
(Fonte: Fidalski et al., 2015)
8. Não esqueça do Mg!
O Mg tem grande importância na translocação de açúcares na planta e é integrante da molécula de clorofila, mas geralmente esquecemos dele. Coitado!
Na briga com Ca e K no solo, o Mg sai perdendo. Nas quantidades adicionadas via calcário e gesso, também.
Por isso, é importante utilizar o calcário dolomítico quando os teores de Mg estiverem abaixo de 5 mmolc.dm-3. Ele tem maior quantidade de Mg na formulação.
Isso é tão mais importante quanto maiores forem as doses de K e de gesso. O gesso agrícola, além de fornecer Ca, lixivia Mg das camadas superficiais.
Em casos onde a dose de gesso aplicada foi alta, somente o calcário dolomítico não será capaz de resolver o problema. Nesse caso, recomenda-se utilizar o óxido de magnésio como corretivo e fonte de Mg.
>> Leia mais: “Como fazer calagem e gessagem nas culturas de soja, milho e pastagem”
Como comprar calcário?
O critério econômico para compra do calcário é baseado no valor pago por unidade de PRNT.
Esse cálculo leva em conta o preço pago por tonelada de calcário e o frete para entrega:
Compra de Calcário = [(Custo do calcário + frete)/PRNT ] x 100
Assim, temos a informação do calcário economicamente melhor, já dentro da propriedade. Vamos ver um exemplo para entender melhor:
Exemplo:
Calcário 1: Custo do calcário em minha propriedade = R$ 2200
PRNT do calcário = 80%
2200/80 = 27,5 x 100 = 2750
Calcário 2: Custo do calcário em minha propriedade = R$ 2350
PRNT do calcário = 90%
2350/90 = 26,1 x 100 = 2611,1
Ou seja, mesmo o calcário 2 sendo mais caro, ele compensa seu custo.

Conclusão
Como pudemos observar, a dose e a frequência de aplicação de calcário devem obedecer critérios técnicos e também econômicos para trazer os melhores resultados.
Uma calagem bem feita garante que os nutrientes serão melhor aproveitados e a planta terá um ambiente mais amigável para desenvolver suas raízes.
Assim, temos um maior potencial produtivo para nossa lavoura.
>> Leia mais:
“Plantio direto na soja: Como fazer ainda melhor na sua lavoura”
E você, o que achou do texto? As dicas te ajudaram a entender melhor sobre calagem em plantio direto? Deixe suas dúvidas e comentários! Grande abraço!