Plantio direto de milho: cobertura do solo, adubação, manejo de daninhas, pragas e mais!
O Brasil deve ter aproximadamente 65,5 milhões de hectares cultivados em 2020, sendo 30% dessa área destinada ao plantio de milho (entre primeira, segunda e terceira safras) aproximadamente.
E, deste total de milho plantado, quase metade é feito hoje em Sistema de Plantio Direto (SPD).
Mas, apesar dos benefícios que o SPD traz ao solo, o manejo exige condições diferentes do sistema convencional.
Preparei este artigo com as principais informações que você precisa saber para fazer o plantio direto de milho ainda melhor. Confira a seguir!
Índice do Conteúdo
1- Cobertura do solo para o plantio direto de milho
O Sistema de Plantio Direto tem crescido nos últimos anos, influenciado principalmente pelo sistema de produção soja e milho safrinha, além da proteção do solo contra a erosão.
O SPD veio para sanar um grave problema, mas, por outro lado, exige alguns conhecimentos e cuidados a mais.
O plantio direto tem que, obrigatoriamente, ter o solo coberto por palha. Já expliquei os motivos neste post sobre plantio direto na palha e volto a bater nessa tecla!
A cobertura do solo é fundamental e pode ser feita de diversas maneiras: consórcio entre culturas, plantios de inverno, culturas de cobertura, entre outras.

Matéria seca de palha de cada cultura avaliadas ao fim da segunda safra e no pré-plantio da safra seguinte
(Fonte: Ferreira, 2018)
O importante é garantir uma massa de palha que cubra o solo da forma mais eficiente possível.
Essa palha deve ter relação C/N (carbono/nitrogênio) alta para que sua degradação seja mais lenta, cobrindo o solo o maior tempo possível ou pelo menos até o fechamento das linhas da cultura da próxima safra.
A dessecação da vegetação de cobertura deve ser feita de forma planejada e com antecedência ao plantio. A dose e o tempo de dessecação variam entre 10 a 20 dias conforme a cultura.
A dose de herbicida e época de aplicação também variam. As plantas que serão dessecadas devem apresentar uma área foliar mínima para que o produto seja absorvido com eficiência.
Após garantir uma cobertura do solo adequada e realizar a dessecação de forma correta, o próximo passo é semear a cultura do milho. Vou falar mais sobre isso a seguir.
2- Cuidados na semeadura da cultura
Como comentei, é preciso que a dessecação tenha sido feita de forma correta, pois a palha úmida ou ainda verde pode dificultar o corte por parte do disco da semeadora. A alta umidade do solo pode interferir nesse aspecto.
E, se falhar o disco de corte, falha também o plantio, atrapalhando o estande de plantas. Por isso, a etapa da cobertura de solo é importante.
Palha mal distribuída e mal dessecada vai gerar desuniformidade de plantio e na emergência das plântulas de milho.
Para ajudar nesse problema pode-se usar discos de corte ondulados, que melhoram a capacidade de corte da semeadora.
E o mais importante é a velocidade da semeadura, que muitas vezes é feita de forma rápida demais para cobrir toda a área na janela de plantio.
A velocidade recomendada é de no máximo 8 km/h, sendo que quando forem utilizadas hastes sulcadoras (no lugar de discos na deposição do fertilizante) é essencial que a velocidade seja de no máximo 6 km/h.

Espaçamento entre plantas de milho (EP), percentagem de espaçamento falho (EF), percentagem de espaçamento normal (EN) e percentagem de espaçamento duplo (ED) sob duas velocidades de semeadura
(Fonte: Trogello, 2013)
3- Adubação do milho no sistema de plantio direto
Começando pelo fósforo, o manejo da adubação desse nutriente não difere muito em plantio direto. O ponto crítico aqui é que a matéria orgânica da palha pode imobilizar uma parte do fósforo.
Com isso, é de extrema importância realizar a adubação de fósforo na linha da semeadura, com finalidade de aumentar a eficiência no uso do fertilizante.
Quanto ao potássio, experimentos mais recentes mostram que a adubação antecipada da dose total funciona tão bem quanto a adubação parcelada.
Por adubação antecipada de potássio se entende a adubação pré-plantio do milho safra ou adubação toda na soja, no caso do milho safrinha. Veja na figura abaixo:

Acúmulo de potássio (AK) em quilos por hectare em uma lavoura de milho safrinha que recebeu adubação parcelada e antecipada (na soja)
(Fonte: Lago, 2018)
Isso ocorre pois a absorção de potássio no milho se dá de forma intensa no início do ciclo da cultura.
Já no caso do nitrogênio acontece o contrário: o parcelamento é a melhor saída. Quanto mais tempo o nitrogênio fica em contato com o solo, mais suscetível a perdas esse nutriente estará.

Nitrogênio absorvido nos grãos de milho em diferentes épocas de aplicação do nutriente
(Fonte: Maciel, 2014)
4- Pragas, doenças e daninhas no plantio direto do milho
Pragas
O Sistema de Plantio Direto pode favorecer o desenvolvimento de algumas pragas na lavoura.
O coró, por exemplo, é uma praga que pode ser problema em lavouras de milho em SPD, pois, como não há o revolvimento do solo, as larvas ficam em um ambiente propício.
Nesse caso, o revolvimento do solo pode ser uma prática cultural para auxiliar no controle da larva do coró.
Outra praga-chave na sucessão soja-milho e, consequentemente, no plantio direto, é o percevejo barriga-verde. O controle correto durante a cultura da soja é importante, já que a praga ataca ambas as plantas.
No sistema de plantio direto, o controle desse percevejo tem sido feito de forma preventiva, misturando o inseticida ao herbicida de dessecação.
Já a lagarta-elasmo é prejudicada pela umidade do solo resultante da cobertura com palha. Contudo, plantios de milho sobre palha de trigo e sorgo devem ser evitados, já que essa prática pode propiciar a praga.
Doenças
Algumas doenças que afetam o milho têm um ambiente propício para a disseminação no sistema de plantio direto. Desse modo, é preciso ficar atento a elas.
A antracnose foliar é um exemplo. Essa doença está muito associada à área de plantio direto que não realiza rotação de culturas, prática essencial no manejo dessa doença.
O ambiente mais úmido ocasionado pelo plantio direto também favorece podridões do colmo e das raízes. Assim, podem ocorrer casos de antracnose do colmo e podridão de Stenocarpella, por exemplo.
Ambas são encontradas em áreas de plantio direto e podem ser controladas com o uso da rotação de culturas e tratamento de sementes (no caso da antracnose).
A mancha branca é outra doença que se prolifera melhor no sistema plantio direto, já que permanece nos restos culturais. O controle pode ser realizado com semeadura antecipada e, mais uma vez, com a rotação de culturas.
Daninhas
O plantio direto promove mudanças significativas no ambiente, selecionando plantas daninhas com estratégias de disseminação e ciclos de vida diferentes.
Plantas perenes ou bianuais como o capim-amargoso e a guanxuma tendem a ser mais incidentes em sistemas de plantio direto.
Essas plantas, assim como a buva, apresentam sementes pequenas e são facilmente carregadas pelo vento. Assim, encontram condições ótimas para germinar e se desenvolver em áreas não movimentadas.
A chave para o controle de plantas daninhas no plantio direto é fazer uma dessecação pré-plantio bem feita, além da rotação dos mecanismos de ação dos herbicidas e, sempre que possível, rotação de culturas.
Conclusão
O cultivo de milho e o plantio direto cresceram nas últimas décadas, sendo difícil dissociar os dois atualmente.
Apesar de todos os benefícios que o plantio direto traz para a fertilidade do solo e sistema de produção, o manejo exige algumas mudanças em relação ao plantio convencional.
Neste artigo, falamos sobre o estabelecimento da cultura e adubação, principais doenças e medidas de controle de pragas e daninhas que podem ocorrer no plantio direto de milho.
Atente-se a essas especificações de manejo para aumentar a produtividade da lavoura!
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