About Jackellyne Bruna

Sou engenheira agrônoma e mestre pela Universidade Federal de Goiás. Atualmente, estou cursando MBA em Marketing e sou doutoranda pela ESALQ/USP na linha de pesquisa de produção vegetal.

Cultura do milho: 7 passos infalíveis do planejamento para acertar na semeadura

Cultura do milho: Quais os principais pontos para se atentar e conseguir uma semeadura que assegure a população de plantas e produção do milho.

Agricultor não tem mesmo sossego, acabando a colheita de uma safra já logo se preocupa: o que fazer na próxima safra da cultura do milho?

“Semear o que? Qual híbrido? E o espaçamento? Será melhor mudar a adubação de base?”

A preocupação é válida: cerca de 70% dos investimentos feitos em uma lavoura de milho são usados na fase de implantação.

Fazer o planejamento agrícola é a tomada de decisão mais sábia para uma produção de milho de sucesso!

É uma prática cada vez mais comum entre agricultores, sejam eles de pequeno, médio ou grande porte.

E o primeiro ponto do planejamento é o mesmo da própria atividade agrícola: a semeadura!

Para responder todas aquelas dúvidas que citei e outras tantas mais, acompanhe os 7 passos infalíveis do planejamento agrícola para acertar na semeadura do manejo da cultura do milho!

1. Planejamento agrícola: por onde começar?

O principal objetivo do planejamento rural é estabelecer um cronograma de atividades para que o produtor possa realizar o plantio de forma eficiente e segura, tudo isso com base na fenologia do milho.

Todo mundo tem em mente que a instalação de uma lavoura se inicia com o plantio de uma cultura. Porém, “muita água já rolou” até esse momento.

planejamento rural

(Fonte: CESAD)

A verdade é que o planejamento agrícola começa bem antes do plantio.

Para te ajudar, veja os 6 mandamentos do planejamento agrícola.

Lembre-se que é neste momento, antes do plantio, que é essencial planejar as ações para garantir boa produção e rentabilidade.

Deve-se fazer uma análise de todos os componentes de produção para saber corretamente o quanto investir, além de como e onde fazer a semeadura.

Segundo a Embrapa, devemos considerar determinados fatores:

  • manejo (solo, pragas, doenças, plantas daninhas, irrigação);
  • tipos de técnicas a serem adotadas;
  • insumos;
  • máquinas e implementos;
  • híbridos a serem escolhidos;
  • distribuição dos híbridos nos tipos de solos a serem explorados;
  • ambiente de produção;
  • épocas de plantio;
  • elaboração do cronograma físico-financeiro;
  • serviços em geral.

A minha principal dica aqui é: registre todos esses fatores da sua propriedade em algum lugar seguro. Esse registro servirá para várias coisas, sobretudo para a aplicação de defensivos.

Como você já sabe, a semeadura envolve muita coisa para confiar somente no que você tem em mente.

Além disso, visualizando todos os fatores que a área possui fica muito mais fácil realizar o planejamento!

Conheça o ciclo de produção na cultura do milho

Entenda as etapas do ciclo de produção:

etapas de produção com planejamento agrícola

(Fonte: SLC Agrícola)

O ciclo de produção se inicia no planejamento estratégico com base no cenário nacional e internacional de commodities agrícolas atuais e futuras.

As definições estratégicas norteiam a elaboração do planejamento agrícola de cada ano, no qual são definidos todos os insumos necessários para a safra, dentro das peculiaridades de cada cultura.

Você já escolheu a cultura do milho. E agora?

2. Lavoura de milho: Planejamento pode garantir maior produtividade

A cultura do milho no Brasil vem ganhando destaque na agricultura como opção de segunda safra e também como a cultura principal do ano (safra e/ou 1° safra).

A cultura do milho é a segunda cultura mais plantada no Brasil, e já é a 3° maior do mundo, com aumentos de produtividade nas últimas 10 safras de 6,8% ao ano.

Nossa produção de milho mais que dobrou na última década! E porque a preferência pelo milho?

É um produto muito demandado pelo mercado, sendo que no Brasil 65% do milho é utilizado na alimentação animal, e 11% é consumido pela indústria, para diversos fins.

O clima seco, estiagem de chuvas prolongadas, atraso de chuvas, diminuição da janela climática, são alguns dos fatores que influenciam o produtor na escolha do milho por ser uma cultura um pouco mais resistente às condições ambientais.

Além disso, a rotação da soja (como principal cultura) seguida da safrinha do milho é muito rentável e, por isso, muito utilizado.

A área de milho cultivado em 2ª safra representa 62% da área e 65% da produção nacional.

E como foi possível isso? Só mesmo com muito planejamento e trabalho.

Assim, vale lembrar que plantar não significa apenas jogar a semente na terra.

E quais seriam os critérios o produtor deve levar em conta ao fazer a escolha da semente de milho?

planilha de planejamento da safra de milho

3. A escolha do híbrido (semente) na cultura de milho

A semente é o principal insumo de uma lavoura e sua escolha deve merecer toda a atenção do agricultor.

Por isso, escolha sementes com alto vigor  (capacidade de germinação e estabelecimento rápido no campo) e sempre certificadas pelo MAPA e credenciadas no RESASEM.

A escolha do híbrido depende de fatores como:

  • disponibilidade hídrica;
  • fertilidade do solo;
  • ciclo da cultivar;
  • época de semeadura;
  • espaçamento entre linhas.

Devemos estar sempre atento às características dos materiais mais adaptados à sua região, principalmente em relação a potencial produtivo, estabilidade, resistência a doenças, adequação ao sistema de produção em uso e às condições de clima e solo.

Basicamente, não há diferença entre o cultivar de milho para a safra normal e para a safrinha, ou seja, não há uma característica específica que diferencia as plantas do milho safrinha.

Entretanto, dependendo da época de plantio dentro do período recomendado para a safrinha, o ciclo é uma característica importante a ser considerada na escolha dos híbridos.

Depois de escolhida a semente para minha região, qual a população (sementes por metro linear) que uso considerando as condições da minha área?

4. A importância do estande (população) das plantas 

A densidade de plantas, ou estande, definida como o número de plantas por unidade de área, tem papel importante no rendimento de uma lavoura de milho.

No Brasil, a população ideal para maximizar o rendimento de grão de milho varia de 30.000 a 90.000 plantas por hectare.

A densidade apropriada de plantas para cada situação é influenciada por alguns fatores, como por exemplo: híbrido de milho, disponibilidade hídrica e nível de fertilidade do solo.

determinantes produção ideal de milho

(Fonte: Italo Ricardo Sant Ana Gregorin)

A densidade de plantas influencia diretamente no número de espigas por área.

Para compreendermos a importância do número de espigas por área de plantio vamos simular duas lavouras: uma com 55.000 espigas/ha e outra com 60.000 espigas/ha.

exemplo numero de espigas

(Fonte: José Carlos Cazarotto Madaloz)

Neste exemplo, podemos ver que o aumento de 5.000 espigas/ha resultou em uma diferença de mais de 16 sacas/ha.

O desenvolvimento de novos híbridos com maior potencial produtivo, arquitetura moderna e a adoção de práticas de manejo intensas associadas ao plantio em espaçamento reduzido têm contribuído muito para plantios com altas taxas de população de plantas.

A-Importancia-Do-Estande-De-Plantas-Baixa-E-Elevada-Populacao-De-Plantas

(Fonte: Pioneer)

Esta prática tem se mostrado viável e rentável, alcançando altos níveis de produtividade.

No entanto, nem sempre alta densidade de plantas significa alta produtividade.

Em densidades muito altas, a competição entre as próprias plantas de milho pode afetar a produção.

Pesquisas indicam que o milho é sensível no quesito densidade, sobretudo, porque as plantas competem entre si. E embora o adensamento eleve o rendimento da lavoura, é preciso destacar que esse incremento na produtividade tem limite.

Assim, alguns pontos afetam na densidade ideal das plantas de milho na sua lavoura. A arquitetura da planta é um desses pontos e é também uma característica fundamental para acertar na semeadura do milho.

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5. Arquitetura da planta de milho

A arquitetura das plantas de milho interfere na qualidade e quantidade da luz que penetra no dossel (a parte aérea do milho, ou seja, as folhas) e, conseqüentemente, na resposta à densidade de plantas.

Você pode ver aqui como a tecnologia está ajudando a evoluir o agronegócio brasileiro, e o desenvolvimento de novos híbridos é um exemplo disso.

arquitetura da planta de milho

Comparação entre o milho selvagem (teosinto) e o milho atual

(Fonte: Nicolle Rager Fuller, National Science Foundation em Science Daily)

O desenvolvimento de híbridos com menor número de folhas, folhas mais eretas e menor área foliar, minimiza a competição entre plantas.

Por isso, esse tipo de híbrido pode ser semeado com menor espaçamento, resultando em maior densidade de plantas.

As folhas mais abertas, com ângulos da bainha maiores caracterizam as plantas de arquitetura espaçadas, que produzem melhor em espaçamentos maiores. Assim, a arquitetura do híbrido pode ser ereto, semi-ereto, aberto ou semi-aberto.

Devido a isso, fique atento ao híbrido escolhido e seu espaçamento ideal. A prática de semeadura deve ser bem feita com espaçamento uniforme, resultando em arquitetura homogênea.

arquitetura milho uniforme

(Fonte: Robson Fernando de Paula)

O ambiente também impõe forte influência na escolha do híbrido e sua arquitetura.

Por exemplo, em solos pobres, com problemas de drenagem ou mesmo em condições de falta de água não é recomendado altas densidades populacionais com híbridos de arquitetura ereta.

Você já sabe que a densidade, a arquitetura do híbrido e o espaçamento são intimamente ligados.

Desses, só falta você saber mais sobre o espaçamento. Vamos lá?

6. O espaçamento (entre linhas X entre plantas)

No Brasil é utilizado diferentes tipos de espaçamentos de milho.

espaçamento 40 e 80cm na cultura do milho

(Fonte: Itavor Nummer Filho & Carlos W. Hentschke)

Tradicionalmente tem-se implantado a cultura do milho com espaçamentos entrelinhas compreendidos entre 0,80 m e 1 m.

Porém, nos últimos anos, o interesse em cultivar o milho utilizando espaçamentos entre linhas reduzidos (0,45 a 0,60m) tem crescido devido ao já citado desenvolvimento de novos híbridos.

Hoje, muitos produtores usam espaçamento de 75 centímetros, sendo importante ressaltar que espaçamentos entre 0,45 cm e 0,50 cm são os mais utilizados por proporcionarem melhores condições para o desenvolvimento do milho, em algumas condições.

Entre as vantagens potenciais da utilização de espaçamentos mais estreitos, podem ser citados:

  • maior interceptação de luz solar – o principal fator;
  • melhor aproveitamento dos recursos disponíveis;
  • aumento da vantagem competitiva;
  • maior eficiência na utilização da água disponível;
  • aumento do rendimento de grãos, em função de uma distribuição mais equidistante de plantas na área;
espaçamento reduzido milho

(Fonte: Rural Pecuária)

  • aumento da eficiência de utilização de luz solar, água e nutrientes;
  • melhor controle de plantas daninhas, devido ao fechamento mais rápido dos espaços disponíveis;
  • diminuição da duração do período crítico das plantas daninhas;
  • redução da erosão, em consequência do efeito da cobertura antecipada da superfície do solo;
  • melhor qualidade de plantio, através da menor velocidade de rotação dos sistemas de distribuição de sementes; e
  • maximização da utilização de plantadoras, uma vez que diferentes culturas, como, por exemplo, milho e soja, poderão ser plantadas com o mesmo espaçamento, permitindo maior praticidade e ganho de tempo.
interceptação solar por plantas

(Fonte: Itavor Nummer Filho & Carlos W. Hentschke)

Cada híbrido de milho possui uma recomendação adequada.

Sabendo-se a condição da sua área, o produtor deve escolher qual híbrido e espaçamento mais adequado à sua situação.

Como já falei, a redução do espaçamento não implica necessariamente em aumento da produtividade.

Além da questão de competição entre plantas, o incremento da densidade de plantas por si só significa aumento da produtividade sob uma mesma tecnologia desde que este seja o maior gargalo técnico.

Se você quer saber quais podem ser os outros gargalos e como aumentar sua produtividade pode ver o artigo “Como produzir 211 sacas de milho por hectare com gestão agrícola”.

Agora vamos saber como estimar sua produtividade de milho:

7. Como estimar a produtividade da cultura do milho?

A combinação entre clima, solo e híbridos determina a produtividade do milho.

85% da produtividade é atribuída ao número de grãos, sendo que  é nesse quesito que o estande de plantas ideal, resultado de uma boa semeadura, pode contribuir para a produção.

A-Importancia-Do-Estande-De-Plantas-Componetes-De-Rendimento

(Fonte: José Carlos Cazarotto Madaloz)

A estimativa de produtividade é útil para que se tenha uma “ideia” de qual será o rendimento a nível de campo.

Sendo assim, o produtor pode se organizar com investimentos futuros, transporte, armazenagem e possíveis ações da lavoura que ainda será colhida.

Para se estimar produtividade de milho, utilizaremos o método mais simples e objetivo:

Passo 1: Colete algumas espigas da área desejada;

Passo 2: Calcule o peso médio de grãos de cada uma delas;

Passo 3: Saiba a população de plantas da área;

Passo 4: Multiplique o peso médio de grãos de cada espiga pelo número total de plantas encontradas no talhão. Exemplo:

estimativa de produção na cultura do milho

(Fonte: Tiago Hauagge)

Quanto maior for o número de espigas coletadas e avaliadas, menor será a margem de erro para a produtividade real no momento da colheita.

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Conclusão

O arranjo de plantas recomendado difere de lavoura por lavoura, uma vez que se trabalha em regiões e condições diferentes, com variação nos níveis tecnológicos.

Desta forma, o arranjo ideal de plantas deve ser mensurado conforme a condição de implantação da cultura do milho e as finalidades do produtor.

Por isso, saiba a situação real da sua propriedade, aproveite as dicas e boa produção na cultura do milho!

>> Leia mais:

“Tudo o que você precisa saber para o manejo da mancha-branca do milho”

Ferrugem no milho: saiba como identificar e controlar

“Como manter a profundidade uniforme no plantio da soja e do milho e os impactos na produtividade da lavoura”

Gostou das dicas para a cultura do milho? Tem mais algum passo infalível que você faz e eu não citei aqui? Adoraria ver seu comentário! Escreva aqui embaixo!

Defensivos agrícolas: importância e principais tipos 

Defensivos agrícolas: entenda os diferentes tipos, dicas de aplicação e segurança no uso destes produtos tão importantes na produção de alimentos

São defensivos agrícolas os produtos utilizados nos setores de produção, para o controle de seres vivos prejudiciais à lavoura e aos ambientes urbanos.

Tanto os produtos sintéticos químicos (como fungicidas, herbicidas, inseticidas, acaricidas, nematicidas e bactericidas), quanto aqueles de os defensivos agrícolas biológicos são classificados defensivos.

Esses produtos têm a capacidade de controlar os organismos nocivos aos cultivos, paralisando o crescimento e/ou reprodução.

Neste artigo, veja a importância dos defensivos, quais são os principais tipos e mais!  Boa leitura!

O que são defensivos agrícolas?

Defensivos agrícolas são produtos químicos, físicos ou biológicos destinados à proteção de culturas agrícolas e dos seres humanos, controlando seres vivos considerados nocivos. Eles podem ser chamados de agrotóxicos, produtos fitossanitários, pesticidas, praguicidas, etc.

Vale lembrar que não existe diferença entre agrotóxico e defensivo agrícola. Os dois termos significam a mesma coisa: produto que têm a função de “defender” as lavouras do ataque seres vivos considerados prejudiciais. 

Para que isso ocorra, os defensivos devem ser utilizados seguindo as boas práticas agronômicas, bem como as recomendações técnicas específicas. 

Além disso, a sua utilização deve ser realizada de forma sustentável. Isso é possível ao aliar outros métodos de controle disponíveis, de forma integrada.

O MID (Manejo Integrado de Doenças) e o MIP (Manejo Integrado de Pragas) são indispensáveis para prolongar a vida útil dos defensivos agrícolas.

O uso incorreto pode causar resistência dos organismos ao defensivo agrícola. A perda da eficiência de uma molécula causa danos econômicos aos agricultores e à agricultura de forma geral. Algumas práticas que podem causar resistência são:

  • ausência da rotação de ingredientes ativos;
  • planejamento inadequado com identificação incorreta do organismo praga;
  • aplicação e uso da dose incorreta do produto.

É importante lembrar da diferença entre fertilizantes e defensivos agrícolas. Fertilizantes são recomendados para adubação das culturas, e não são efetivos no controle de doenças. 

Os defensivos, por sua vez, são eficientes no combate às pragas e doenças. Eles interferem em alguma fase do desenvolvimento ou reprodução desses seres nocivos.

Importância do uso de defensivos agrícolas

O Brasil é o 5º maior país em extensão territorial, com as mais diversas condições climáticas ao longo da sua área. Além disso, o país conta com uma produção de grãos expressiva, além de inúmeras outras culturas agrícolas.

Este cenário contribui para que as mais diversas doenças e pragas de plantas se estabeleçam nas culturas agrícolas. As temperaturas altas do país contribuem com isso, acelerando a reprodução da maior parte dos insetos/pragas.

Além disso, não há inverno rigoroso no Brasil. O frio ajuda a diminuir a população inicial das pragas no começo das safras.

É fato que as aplicações de defensivos devem acontecer somente quando necessário. O uso indiscriminado, desrespeitando a bula, a legislação brasileira e todas as normas de segurança é crime.

No entanto, o uso de defensivos agrícolas é uma ferramenta indispensável na agricultura brasileira e no planejamento agrícola da sua lavoura.

Aliado a isso, com a alta dos custos de produção, é cada vez mais importante que o planejamento do uso seja rigoroso, seguindo as boas práticas agronômicas.  Cada aplicação desnecessária resulta em redução do retorno econômico do cultivo.

Além disso, os defensivos agrícolas otimizam o tempo de manejo de uma lavoura. Consequentemente, você gasta menos tempo e economiza com:

  • horas trabalhadas com os tratoristas;
  • com o combustível utilizado no maquinário;
  • com diárias dos trabalhadores;
  • reduz compra de muitos produtos;
  • manutenção de equipamentos/implementos de um modo geral.
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Tipos de defensivos agrícolas

Os defensivos agrícolas podem ser de vários tipos, de acordo com o que controlam, sendo eles fungicidas, inseticidas, herbicidas, bactericidas, acaricidas e nematicidas. Vamos falar melhor sobre cada um desses insumos agrícolas a seguir:

Fungicidas

São utilizados para o controle de fungos causadores de doenças de plantas, como as manchas foliares, ferrugens, podridões radiculares, fungos de pós-colheita. Eles podem ser de contato, mesostêmicos e sistêmicos.

Os fungicidas de contato são aqueles que não penetram nos tecidos das plantas. Eles permanecem apenas sobre os tecidos externamente. Se a doença estiver com alta severidade, estes produtos não serão capazes de curar os tecidos internos. 

Os de contato possuem diversos sítios de ação na célula fúngica, ou seja, são fungicidas multissítios. Isso é benéfico para o manejo de resistência, associando-os a fungicidas sistêmicos (de um sítio-específico de ação).

Já os mesostêmicos e translaminares não são capazes de translocar por toda planta. Eles são aplicados em uma face da folha e conseguem em partes translocar para o outro lado, protegendo ambas as faces.

Os fungicidas sistêmicos, em contrapartida, são aplicados em um local da planta, e têm a capacidade de serem translocados via sistema vascular para outras partes da planta.

Os fungicidas são divididos em 14 grupos, em função do seu mecanismo de ação. 

Informações sobre resistência de fungos a fungicidas podem ser encontradas no Comitê de Ação a Resistência de Fungicidas – Frac Brasil. Nele, são publicadas estratégias de manejo para diferentes culturas.

Inseticida agrícola

São utilizados no controle de insetos. Vale ressaltar que, no caso de ácaros, alguns destes produtos não são eficientes. 

Assim como os fungicidas, o inseticida agrícola pode agir por contato direto com o inseto, por ingestão, fumigação (deve ser inalado em forma de gás pelo inseto) serem absorvidos (sistêmicos) ou não pelas plantas.

Os inseticidas são classificados conforme seu sítio de ação, sendo cinco os principais grupos:

  • Ação em nervos e músculos: incluem 12 sítios primários de modos de ação;
  • Ação no crescimento e desenvolvimento: incluem 7 sítios primários de ação. Inseticidas reguladores de crescimento apresentam menor risco ao desenvolvimento de resistência aos inseticidas por parte dos insetos;
  • Ação na respiração celular;
  • Modo de ação no sistema digestivo ou intestino médio: um sítio primário de ação.
  • Modo de ação desconhecido ou inespecífico: incluem 15 sub-grupos.

O Comitê de Ação à Resistência a Inseticidas publica recomendações de manejo de resistência para inseticidas para diferentes culturas agrícolas. Ele também publica relatos de resistência de espécies de insetos aos inseticidas.

Acaricidas

São utilizados para o controle de ácaros. Afinal, estes organismos possuem particularidades quando comparados aos insetos, sendo classificados como aracnídeos.

Alguns inseticidas e fungicidas podem ter ação acaricida, a depender do seu modo de ação. Alguns exemplos de acaricidas são o enxofre e a abamectina. 

No entanto, produtos biológicos também são recomendados, como aqueles à base de:

  • Beauveria bassiana;
  • Phytoseiulus macropilis;
  • Metarhizium anisopliae;
  • Hirsutella thompsonii ;
  • Neoseiulus californicus (recomendados no controle de Tetranychus urticae conhecido como ácaro-rajado).

Herbicidas

São destinados ao controle de plantas daninhas, e possuem diferentes modos de ação. São classificados de acordo com sua função, e podem ser seletivos ou não seletivos:

  • Seletivos: capacidade da espécie ou variedade de plantas, a qual se deseja realizar o controle de plantas daninhas, de tolerar o herbicida.
  • Não-seletivos: atuam sobre todas as espécies de plantas. Para este grupo, a aplicação deve ser dirigida ao alvo, evitando as plantas de interesse agrícola, ou então utilizando culturas transgênicas (que sejam resistentes aos herbicidas, como no caso de algumas cultivares de soja).

Os herbicidas são ainda classificados em função da época em que são aplicados sobre os cultivos em:

  • Pré-plantio: o qual tem como finalidade o controle da população inicial de plantas daninhas presentes na área e no banco de sementes (no solo), e que podem emergir. São amplamente utilizados como dessecantes.
  • Pós-plantio, pré-emergência ou pós-emergentes: aplicados após a emergência da cultura de interesse e das plantas daninhas. São absorvidos pelas raízes ou folhas.

Outra classificação é em função da translocação, podendo ser de contato, quando atuam próximo ao local onde foram aplicados, e sistêmicos, quando translocam via sistema vascular nos tecidos da planta.

Nematicidas

Os nematicidas são defensivos agrícolas naturais ou biológicos, utilizados no controle de nematóides (pequenos vermes que habitam o solo e podem causar doenças em plantas, como o nematoide das galhas).

Os nematicidas podem estar inclusos na classe dos inseticidas e fungicidas (quando têm esta ação, conforme o Agrofit).

Alguns nematicidas importantes são compostos por microrganismos, como exemplo:

  • Bacillus firmus;
  • Bacillus subtilis;
  • Bacillus amyloliquefaciens.

Além disso, também podem ser compostos pelo fungo Purpureocillium lilacinum, no controle de Meloidogyne incognita (nematoides-das-galhas). Esses produtos são aprovados para uso em todas as culturas.

Bactericidas

São produtos utilizados exclusivamente no controle de bactérias. Neste caso, alguns fungicidas, especialmente aqueles classificados como orgânicos (compostos por enxofre e cobres fixos, como o oxicloreto de cobre e óxido cuproso).

Os bactericidas não são tão usuais em grandes culturas.

Tabela com tipos de pragas e defensivos agrícolas indicados
(Fonte: Adaptado de Andef)

Classificação toxicológica de defensivo agrícola

Todo defensivo agrícola no Brasil exibe no rótulo sua classificação toxicológica (potencial de risco à saúde humana) e sua classificação ambiental (potencial de risco ao meio ambiente).

Essa classificação recebe um código em cores:

Classificação toxicológica dos defensivos agrícolas
(Fonte: Anvisa)

É necessário ter muito cuidado na utilização dos defensivos. Por isso, se atente aos rótulos, use somente quando necessário e siga todas as recomendações de segurança.

E então você pode se perguntar: quais são os agrotóxicos mais perigosos? A resposta não é tão simples. Um agrotóxico, mesmo que com classe pouco tóxica, pode ser perigoso se utilizado de forma inadequada.

A recomendação é de que sempre se busque utilizar o defensivo de classificação toxicológica menor, que seja eficiente no controle que se deseja. Por isto, o conhecimento técnico sobre como os defensivos atuam nas plantas e nas pragas, é indispensável.

Quantos tipos de agrotóxicos existem no Brasil?

A cada ano, novos produtos são registrados no país. Atualmente, são mais de 5 mil agrotóxicos registrados no Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento). 

Muitos são elaborados a partir de misturas de moléculas já existentes. Afinal, o desenvolvimento de uma nova molécula pode levar mais de 10 anos, além de envolver vários custos.

Na figura a seguir, é possível observar a evolução na comercialização e quais os ingredientes ativos mais vendidos e utilizados no país, desde 2009.

Gráfico com principais ingredientes ativos dos defensivos no Brasil
Principais ingredientes ativos (i.a) comercializados no Brasil de 2009 a 2020
(Fonte: Matias, 2021)
Dados de área tratada, valor de produto aplicado, volume, custo médio, dose média aplicada, área tratada por cultura e valor de produto aplicado por estado. Os dados demonstram que soja, milho e algodão, são as culturas em que os defensivos são utilizados em maior volume. O estado do Mato Grosso é o que mais utiliza os defensivos no país.
(Fonte: Sindiveg, 2021)

Planejamento e aplicação de agrotóxicos

Para eficiência do uso e aplicação segura de um defensivo agrícola, uma série de cuidados devem ser tomados. Utilizar apenas produtos registrados no Mapa para a cultura de interesse é o principal. 

Produtos não registrados para a cultura não devem ser utilizados. Além disso, é necessário ficar de olho em outros detalhes. Acompanhe-os a seguir.

Uso do Equipamento de Proteção Individual

Utilize obrigatoriamente o Equipamento de Proteção Individual, composto por viseira, respirador, jaleco, avental, luva e calça. 

Além disso, é importante observar a ordem de retirada do EPI. Comece pelas roupas, lave as mãos com as luvas e somente então retire o respirador.

Escolha do produto correto

Escolha o produto correto para o organismo alvo. É  indispensável que a praga ou patógeno seja devidamente identificado. A identificação incorreta pode levar ao uso de um produto que não seja eficiente

Além disso, o uso de um fungicida em um local sem o fungo específico desse determinado produto compromete o controle. O produtor gastará recursos financeiros e não terá o controle eficiente da doença a campo.

Planeje as pulverizações

O planejamento da pulverização vem de encontro com o item anterior. O conhecimento sobre quais as pragas e doenças têm ocorrido na área de cultivo e seus aspectos biológicos é indispensável.

Afinal, as pragas e doenças podem sobreviver em restos culturais e hospedeiros alternativos (incluindo plantas daninhas). Desta forma, faz parte do controle, planejar inclusive a rotação de culturas e/ou eliminação de plantas daninhas da área.

De posse das informações do histórico da área, é possível reduzir a população das pragas e patógenos causadores de doenças em plantas. Isso reduz, inclusive, o uso de defensivos, quando bem planejado e implantado. Isso traz benefícios financeiros, à saúde e ao meio ambiente.

Cuidado com as condições climáticas

Outro fator indispensável é observar as condições climáticas ideais para a aplicação dos defensivos. 

Uma das discussões recentes acerca deste assunto, está em torno da restrição do uso e comercialização do herbicida 2,4-D., justamente pela não observância das recomendações técnicas.

Para o uso do herbicida 2,4-D, é indispensável que as recomendações técnicas sejam observadas, especialmente velocidade do vento e condições climáticas

Além das condições climáticas, a tecnologia de aplicação de defensivos agrícolas também deve ser considerada.

Cuidar da velocidade de aplicação e da escolha da ponteira ideal (ela deve ser, preferencialmente, com injeção de ar e de adjuvantes) são ações que minimizam o problema de deriva

Como reduzir o uso de defensivos agrícolas com uso de tecnologia

O uso de tecnologia está ajudando a evoluir o agronegócio brasileiro. Segundo a Embrapa, o manejo integrado de pragas reduz aplicações de defensivos em quase 50%.

Além de ser importante para aumentar seu lucro, prejudica menos o meio ambiente, a saúde de seus funcionários e garante sua própria segurança.

Uma das etapas do MIP é o monitoramento. É por meio dele que você verifica se a praga, planta daninha ou microrganismo causador de doenças de plantas atingiu o nível de ação de controle. Só então você pode proceder com a aplicação.

O monitoramento pode ser feito e anotado de várias formas. Porém, a forma mais adequada e segura é por aplicativos. Neles, você pode acessar seus dados de qualquer lugar e nunca perdê-los.

Além disso, com aplicativos como o Aegro, você georreferencia seus pontos de amostragem com facilidade. Através deles, você pode saber exatamente o que está acontecendo no campo e como fazer aplicações mais seguras.

(Fonte: Aegro)

Para  ver os recursos do Aegro em ação, teste 7 dias gratuitamente ou peça uma demonstração gratuita.

Conclusão

Os defensivos agrícolas já são, há muito tempo, essenciais para a agricultura pela praticidade e economia de tempo ao produtor rural.

Apesar de  trazerem benefícios na produção de alimentos no mundo, é preciso responsabilidade e cuidado para utilizá-los quando necessário e da maneira correta.

Na dúvida, não deixe de consultar um(a) engenheiro(a)-agrônomo(a) e de pedir as recomendações ideais para a sua cultura e para a doença que está a atingindo.

Como você tem utilizado os defensivos agrícolas na sua lavoura? Compartilhe conosco a sua experiência, gostaria de ver seu comentário abaixo!

Atualizado em 11 de julho de 2022 por Bruna Rhorig.

Bruna é agrônoma pela Universidade Federal da Fronteira Sul, mestra em fitossanidade pela Universidade Federal de Pelotas e doutoranda em fitotecnia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul na área de pós-colheita e sanidade vegetal.