About Jadiel Andognini

Sou engenheiro-agrônomo, formado no Centro de Ciências Agroveterinárias da Universidade do Estado de Santa Catarina, CAV-UDESC. Tenho mestrado em ciência do solo e atualmente sou doutorando no programa de pós-graduação em ciência do solo da mesma instituição.

Passo a passo de como fazer a limpeza de pulverizador agrícola com segurança

Limpeza de pulverizador agrícola: quais cuidados você deve seguir antes e durante o procedimento para aumentar a vida útil e ter melhores resultados com o equipamento

Você sabia que a limpeza correta do pulverizador agrícola aumenta a vida útil do implemento, evita fitotoxicidade e melhora a eficiência das aplicações de defensivos agrícolas?

A limpeza deve ser rígida interna e externamente, além de realizada atendendo diversos procedimentos. 

Tanque, bomba, mangueiras e pontas de pulverização devem ser completamente limpos para evitar contaminação.

A seguir, vou explicar como realizar a limpeza correta do pulverizador. Confira!

Importância da limpeza e descontaminação do pulverizador agrícola

A utilização de produtos como agroquímicos, pesticidas, produtos fitossanitários ou defensivos agrícolas para controlar pragas, plantas daninhas e doenças faz parte do manejo de lavouras. Ela está relacionada à produtividade agrícola.

No século 20, houve um aumento considerável na utilização desses produtos, desenvolvidos comercialmente e em larga escala, movimentando bilhões de dólares no mundo todo.

Existem diversos produtos com variados ingredientes ativos para controle de insetos, fungos, plantas-daninhas, nematoides, ácaros, etc. 

Muitos destes produtos reagem entre si. Portanto, é indispensável conhecer sua natureza e indicações antes de realizar a pulverização.

O alvo, o momento de pulverização, o produto utilizado, o equipamento (pulverizador) adequado e em condições de uso comandam a tecnologia de aplicação do defensivo agrícola.

A preparação do pulverizador para uma aplicação começa bem antes da regulagem (calibração de velocidade de trabalho e/ou pressão de operação). 

É indispensável conhecer o funcionamento do seu pulverizador e entender como alguns produtos reagem com o sistema de pulverização.

A limpeza do tanque de pulverização e o sistema de distribuição da calda são as manutenções mais básicas e frequentes que precisam ser feitas. Caso contrário, o implemento pode ser danificado e ter sua vida útil consideravelmente reduzida.

foto com filtros de pontas do pulverizador agrícola com resíduos de agroquímico

Filtros de pontas do pulverizador agrícola com resíduos de agroquímico
(Fonte: DocPlayer)

Diversos agroquímicos podem se incrustar em partes ocultas do sistema, como mangueiras, filtros, registros, pontas de pulverização, etc.

Veja alguns danos que esses detritos podem causar:

  • contaminação de lavouras;
  • alteração da composição química do produto aplicado;
  • obstrução da tubulação, filtros e pontas;
  • corrosão de partes do sistema;
  • comprometimento do manejo e perdas significativas na lavoura.

Por fim, a limpeza correta deve ser realizada sempre entre operações de modo a minimizar danos ao equipamento, tornar a pulverização mais eficiente e colher bons resultados ao final da safra.

Procedimentos antes da limpeza do pulverizador agrícola

Para limpar o pulverizador agrícola, você deve seguir alguns passos:

Sobrou produto no tanque?

O volume de calda preparada deve ser exatamente a quantidade a ser aplicada no campo.

Se mesmo assim sobrar, o tanque deve ser esvaziado completamente, preferencialmente sobre a mesma lavoura que foi pulverizada.

Irá realizar outra pulverização no dia seguinte?

Se a resposta for sim, e com o mesmo produto, é recomendado colocar água limpa no tanque e pulverizar até o fim. Dessa forma, você evita que resíduos sequem no fundo do tanque e em seus demais componentes.

Caso vá trocar o produto fitossanitário na próxima pulverização, outro procedimento será adotado – e está explicado logo abaixo em 5 passos!

foto de filtro entupido por incompatibilidade de agrotóxicos no tanque - texto sobre limpeza de pulverizador agrícola

Filtro entupido por incompatibilidade de agroquímicos no tanque
(Fonte: Infobibos)

Local de limpeza e descontaminação

O equipamento deve ser levado a um local adequado, onde a limpeza e descontaminação devem ser realizadas com água e solução de limpeza (limpa tanque agrícola).

O local adequado corresponde a uma área:

  • aberta, ampla e isolada;
  • longe de cursos d’água;
  • cercada de modo a ser inacessível a animais e outras pessoas não autorizadas;
  • com acesso à água pressurizada e um piso impermeável com canaletas que direcionam a água da operação para local adequado.

Não há uma legislação específica para isso. Entretanto, algumas recomendações podem ser extraídas do artigo 7.º da IN n.º2 de 2008, que trata deste procedimento para aviões agrícolas.

Equipamentos e proteção

É indispensável que o agente de limpeza e descontaminação esteja protegido de todas as formas de exposição aos agroquímicos.

Há legislação vigente no Brasil que regula o uso de agroquímicos, inclusive tratando sobre a utilização de equipamentos de proteção individual (EPIs)

A NR-31,presente no artigo 13 da Lei n.º 5.889/73, trata da segurança e saúde no trabalho na agricultura.

Operador com EPI de pulverização adequado em uma lavoura de café

Operador com EPI de pulverização adequado
(Fonte: Campo e Negócios)

4 passos para fazer a limpeza interna do pulverizador agrícola

A técnica utilizada difere da tríplice lavagem, onde são feitas limpezas por três vezes com apenas água.

Neste caso, utiliza-se água e um produto químico (limpa tanque). Usualmente no rótulo ou bula dos agroquímicos os fabricantes recomendam princípios ativos específicos para o produto.

Confira abaixo o passo a passo para a limpeza interna:

  1. Coloque meio tanque de água limpa, agite e pulverize por pelo menos 5 minutos, limpando o tanque, mangueiras de linhas e pontas. Deve ser dada atenção aos componentes do circuito hidráulico para notar possíveis peças danificadas ou vazamentos;
  2. Após retirar a água, encha o tanque com água limpa e adicione o limpa tanque específico. Agite o tanque por 15 minutos e opere por tempo suficiente para que as linhas de barra e pontas sejam preenchidas com a água + limpa tanque. 
  3. Mantenha o implemento em repouso por diversas horas, preferencialmente durante a noite e, após esse período, agite o tanque novamente e pulverize a solução.
  4. Complete o tanque com água para o enxágue final e limpe combinando agitação e pulverização por 5 minutos, liberando o restante pelo fundo do tanque.

Como fazer a limpeza externa do pulverizador

Finalizado o procedimento de lavagem interna, remova filtros e pontas, que podem ser deixados em um balde com água e limpa tanque por alguns minutos. Feito isso, lave-os com água limpa e escovas de cerdas macias.

No restante do implemento, utilize um  jato de água pressurizado para remover resíduos. 

Geralmente se usa apenas água, entretanto, dependendo do estado do equipamento, é necessário utilizar agentes de limpeza adicionados à água pressurizada.

foto de limpeza externa com água pressurizada, operador com todos os equipamentos de segurança

Limpeza externa com água pressurizada
(Fonte: HardiSprayer)

Produtos para limpeza

Os mais comuns e recomendados são à base de amônia, pois elevam o pH da solução, facilitando a remoção de resíduos de agroquímicos.

Produtos à base de cloro também são amplamente utilizados. Porém, é preciso ter cuidado para não utilizá-los com produtos amoniacais e nem em tanques onde se utilizou agroquímicos à base de amônia, pois os dois componentes juntos reagem e formam gás tóxico.

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Conclusão

Planeje a pulverização para não sobrar calda no tanque e, após o manejo, limpe e descontamine o pulverizador.

Use produto limpa tanque recomendado na limpeza do pulverizador agrícola para cada categoria de agroquímico –  e leia sempre o rótulo.

Limpe cuidadosamente as partes da máquina que estiveram em contato com a calda.

Utilize corretamente todos os equipamentos e proteção individual (EPIs).

Sempre siga as recomendações de um profissional agrônomo nas operações de pulverização.

Espero que, com essas dicas, você prolongue a vida útil dos equipamentos e obtenha resultados melhores na sua fazenda!

>>Leia mais:

“Entenda os princípios e benefícios da pulverização eletrostática na agricultura”

Já enfrentou dificuldades na limpeza do pulverizador agrícola? Ainda tem alguma dúvida sobre o assunto? Conte sua experiência nos comentários!

O que você precisa saber sobre identificação, danos e controle da planta daninha corda-de-viola

Planta daninha corda-de-viola: confira as principais características e os herbicidas mais eficientes para controle dessa invasora

Corriola, campainha, amarra-amarra… a planta daninha corda-de-viola pode ser conhecida por vários nomes e, em todos os casos, pode causar sérios danos às culturas se não for manejada corretamente!

Estudos apontam que a presença dessa invasora pode reduzir em quase 50% a produtividade da lavoura, sendo as culturas de verão as mais afetadas.

Além disso, por ser tolerante ao glifosato, é preciso haver um controle especial para evitar sua dispersão na produção e arredores da lavoura.

Quer aprender a identificar e controlar de maneira eficiente a corda-de-viola? Confira a seguir!

Principais características da planta daninha corda-de-viola 

A corda-de-viola (Ipomea sp.) é uma planta daninha de coloração vistosa tanto nas folhas quanto nas flores. 

Possui folhas largas que, dependendo da espécie, podem ser inteiras ou recortadas. Já suas flores podem ser de diferentes cores, variando do branco ao roxo.

A reprodução da corda-de-viola ocorre por sementes e ela cresce como uma trepadeira, com hábito de se enrolar sobre as culturas, podendo atingir até 3 m de comprimento.

Seu caule e ramos são finos, fibrosos e alongados, que se prostram sobre o chão ou sobem em obstáculos (culturas na lavoura). Sendo assim, dificulta muito a colheita em culturas como soja, feijão e milho.

duas fotos de exemplares de Ipomea sp. (Corda-de-viola)

Exemplares de Ipomea sp. (Corda-de-viola)
(Fonte: Mais soja)

Segundo relatos, há mais de 140 espécies da planta-daninha corda-de-viola, que está presente em todas as regiões do Brasil. 

Além de competirem por água, luz e nutrientes com as culturas de valor econômico, também atrapalham muito o processo mecânico de colheita, como explicarei a seguir.

Culturas afetadas e problemas causados 

Diversas espécies de interesse econômico sofrem danos devido à disseminação da corda-de-viola nas lavouras.

Arroz, cana-de-açúcar, milho e soja são as mais afetadas devido à planta daninha ser de crescimento anual e ocorrer na mesma época dessas citadas.

Como a corda-de-viola apresenta tolerância ao herbicida glifosato, é comum também estar presente em lavouras onde cultivares geneticamente modificadas (RR) são cultivadas.

planta daninha corda-de-viola na cultura da soja

Corda-de-viola na cultura da soja
(Fonte: Feis/Unesp)

foto de planta daninha corda-de-viola no milho

Corda-de-viola no milho
(Fonte: Embrapa)

No caso da soja, a presença da planta daninha corda-de-viola na lavoura pode reduzir em mais de 40% a produtividade da cultura, como mostra estudo

A alta população dessa planta daninha nas culturas traz uma série de problemas como:

  • inviabilização da operação mecânica de colheita;
  • embuchamento da colhedora;
  • desgaste de componentes da plataforma de corte;
  • arrastamento e tombamento;
  • impacto no rendimento final das culturas;

E tudo isso, claro, causa prejuízos econômicos.

Outro estudo aponta que até 20 sacas de milho por hectare podem ser deixados para trás em lavouras infestadas com a daninha.

Colhedora de cana-de-açúcar “embuchada” por causa da corda-de-viola

Colhedora de cana-de-açúcar “embuchada” por causa da corda-de-viola
(Fonte: LPV/ESALQ/USP)

Como fazer o manejo da corda-de-viola na lavoura

Para minimizar ou eliminar os problemas causados pela planta daninha corda-de-viola na lavoura, faz-se necessário executar técnicas de manejo específicas, evitando a proliferação da planta invasora e reduzindo o banco de sementes no solo.

Um manejo bastante tradicional, simples e eficaz, é a aplicação de herbicidas específicos.

Como a reprodução da espécie se dá por sementes, é interessante o controle pré-emergente ou pós inicial, antes do desenvolvimento do hábito trepador. Passada essa fase, fica complicado o controle de maneira seletiva, evitando competição e problemas na colheita.

O controle na fase inicial também evita a produção de sementes, reduzindo o banco de sementes da invasora. Com o manejo correto, ao longo do tempo esse banco será reduzido a um nível que não cause mais danos econômicos.

A seguir, deixo alguns exemplos de herbicidas recomendados para o controle de Ipomea sp.

Flumioxazin

É uma alternativa eficaz e possui registro para diversas culturas, dentre elas soja, algodão e cana-de-açúcar. 

Controla na pré e pós-emergência com alta seletividade e longo residual na dose de 50 g ha-1 para a cultura da soja.

Pesquisadores de campo relatam que o uso de misturas tem obtido bons resultados no controle da corda-de-viola. A associação com glifosato, 2,4 D e/ou imazetapir amplia o espectro de controle.

2,4 D

O 2,4 D controla plantas daninhas de difícil controle, especialmente as plantas de folhas largas, como a corda-de-viola.

Esse herbicida seletivo pode ser utilizado para o controle da corda-de-viola nas culturas do trigo, milho, soja, arroz, aveia, sorgo, cana-de-açúcar, café e pastagem de braquiária.

Na soja,, a aplicação deve ser feita 7 dias antes da semeadura. No café, a aplicação deve ser feita em jato dirigido, evitando o contato do produto com a cultura.

Oxyfluorfen

Possui até 95% de controle na maioria das espécies de Ipomea sp. (Corda-de-viola). Há indicação de uso no arroz irrigado em pré e pós-emergência na dose de 1,0 – 4,0 l ha-1.

Também pode ser recomendado para outras culturas de lavoura como algodão e cana-de-açúcar.

Sulfentrazone

Mais um herbicida utilizado na pré-emergência da planta daninha. Possui indicação para soja com uma exceção: não aplicar em solos arenosos. Nesta cultura há recomendação de 0,4 a 1,2 l ha-1.

Possui ação residual para controle do banco de sementes, podendo ser usado em associação a herbicidas sistêmicos (glifosato, 2,4 D e chlorimuron).

Amicarbazone

Herbicida com alto controle na pré e pós-emergência inicial. Recomendado para controle da corda-de-viola em lavouras de milho e cana-de-açúcar na dose de 0,4 e 1,5-2,0 kg ha-1, respectivamente.

Em cana-de-açúcar, pesquisas demonstraram que este ingrediente ativo apresentou controle total de diversas espécies de corda-de-viola em pós-emergência inicial, além de ótimo efeito residual, reduzindo drasticamente eventuais danos à cultura.

No controle de plantas adultas, os herbicidas à base de 2,4-D possuem bons resultados, e são registrados para a maioria das grandes culturas de lavoura.

Importante verificar a tecnologia das cultivares na utilização de misturas:

É importante consultar um profissional da agronomia em todas as práticas de aplicação de defensivos agrícolas.

A recomendação e receituário tem o intuito de evitar a aplicação de doses excessivas ou subdoses de herbicida. 

Uma dose inadequada é muito prejudicial, seja pela fitotoxicidade causada às plantas, seja pelo controle falho e surgimento de resistência ou tolerância das daninhas.

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Conclusão

A planta daninha corda-de-viola é uma invasora comum no Brasil, possui hábito trepador e crescimento preferencial no verão.

Além da competição por água, luz e nutrientes com as culturas de interesse econômico, ela prejudica a colheita mecanizada, o que traz perdas econômicas significativas.

Como você viu neste artigo, o manejo da corda-de-viola deve ser realizado na pré-emergência ou pós-emergência inicial.

A reprodução da invasora por sementes exige um bom controle e uso de herbicidas com longo efeito residual.

Misturar herbicidas inibidores da Protox com glifosato é uma boa alternativa para controle da corda-de-viola.

>> Leia mais:

“Aplicativos e guias de identificação de plantas daninhas que vão lhe ajudar em campo”

“Vassourinha de botão: como identificar e manejar”

Você já enfrentou dificuldade no manejo da planta daninha corda-de-viola? Restou alguma dúvida sobre esse assunto? Deixe seu comentário!