About Mário Bittencourt

Jornalista e pós-graduado em Agricultura de Precisão e Ciência de Dados

Primeira antena 5G em área rural: entenda como essa tecnologia vai beneficiar sua fazenda

Primeira antena 5G em área rural: instalação impulsiona a agricultura digital e de precisão e reforça o protagonismo do Brasil no agronegócio

O Brasil ganhou, em maio de 2021, sua primeira antena 5G em área rural, instalada em uma fazenda experimental de produção de algodão, em Mato Grosso.

Mais que uma ferramenta tecnológica, a instalação do 5G em uma fazenda representa um passo importante do país em seu protagonismo no agronegócio mundial.

Com ela, produtores rurais ampliam investimentos em agricultura digital e de precisão e fortalecem a eficiência, a competitividade e a sustentabilidade econômica e ambiental.

Saiba o que já está sendo feito no campo através do sinal 5G e quais são as possibilidades de ampliação do uso dessa tecnologia.

A tecnologia 5G e seus avanços 

O 5G é a quinta geração de tecnologia para rede de internet móvel. Ela surge da evolução natural das gerações anteriores — 2G, 3G e 4G.

O sinal 5G é 10 vezes mais rápido que o 4G. Isso possibilita o avanço da automação no campo, com o uso da inteligência artificial e da robótica.

A tecnologia traz diversos avanços para a sociedade, para além do aumento da velocidade na conexão.

Dentre os avanços, destacam-se: 

  • a Internet das Coisas, com aparelhos inteligentes e conectados entre si;
  • aumento da densidade de conexões por metro quadrado (cerca de 1 milhão);
  • a automação e a robotização;
  • eficiência energética, com redução do consumo e mais sustentabilidade;
  • maior eficiência espectral, em decorrência do aumento da potência;
  • o Big Data e a computação em nuvem. 

Especialistas afirmam que os avanços do 5G terão maior impacto no mundo dos negócios, sobretudo nos processos produtivos, gerenciais e comerciais do setor agrícola.

Salto para a agricultura 5.0

A Embrapa Informática Agropecuária considera que o 5G no setor agrícola favorece a introdução da agricultura 5.0, caracterizada pela automação de toda a cadeia produtiva.

Desse processo, fazem parte a inteligência artificial, a robótica, a biologia sintética (que permite a impressão 4D) e a agricultura vertical.

No Brasil, a maioria das fazendas que utilizam tecnologia estão na fase da agricultura 3.0, e algumas já estão em transição para a agricultura 4.0.

3 benefícios da tecnologia 5G para sua fazenda

O 5G é tão importante para o agronegócio no Brasil que os primeiros sinais foram instalados, de forma experimental, em fazendas de Goiás e Mato Grosso.

No Brasil, a tecnologia foi inaugurada em dezembro de 2020, em Rio Verde, Goiás.

A instalação foi resultado de uma parceria entre as empresas Claro, a chinesa Huawei (detentora da tecnologia 5G), a Prefeitura de Rio Verde e Governo do Estado de Goiás.

1. Monitoramento da lavoura em tempo real

Em Goiás, os aparelhos com sinais de transmissão 5G foram instalados na Fazenda Nycolle (1.100 hectares) e no Ceagre (Centro de Excelência em Agricultura Exponencial).

Além disso, foi disponibilizada uma torre móvel de transmissão e aproveitada a estrutura de uma torre com sinal 4G da Claro, que passou a operar com o 5G. 

Na fazenda de soja, milho e pecuária de leite, a tecnologia permite que um drone e um rover, equipados com câmeras de 360 graus, façam o monitoramento.

As imagens são transmitidas em tempo real para óculos de realidade virtual usados pelo fazendeiro Cairo Arantes, que não precisa sair da sede da propriedade para acompanhar tudo o que acontece pela fazenda.

Rover utilizado no monitoramento na Fazenda Nycolle com tecnologia 5G

(Foto: Edinan Ferreira/Fapeg)

2. Ganho de tempo no serviço

O mesmo trabalho que o fazendeiro faz em uma manhã com o sinal 5G, da forma convencional era feito em três a quatro dias.

Arantes também realiza experimentos com a tecnologia na pecuária de leite, para aprimoramento dos processos reprodutivos, como na detecção do cio em vacas.

Um estudo recente mostrou, inclusive, que o uso de sensores instalados em cochos favorece a identificação do cio em vacas-leiteiras com 6 horas de antecedência.

3. Potencialização do trabalho 

Álvaro Salles, diretor executivo do IMAmt (Instituto Mato-Grossense de Algodão), informou ao blog da Aegro que o 5G potencializará o trabalho com máquinas agrícolas e automatização do tratamento com animais

“Com o 5G, há possibilidade de utilizar a inteligência artificial para analisar dados, fazer o monitoramento com máquinas, câmeras, sensores. Facilita muito, é mais rápido”, disse.

Segundo Salles, uma das ideias com a legalização do sinal 5G no Brasil é avançar com a tecnologia para a área comercial e realizar contratos digitais de negociação.

Vitrine tecnológica em Mato Grosso

Um experimento semelhante ao de Goiás é realizado em Mato Grosso, a partir do monitoramento da lavoura em tempo real com drone e óculos de realidade virtual.

Em Mato Grosso, a instalação da primeira antena 5G (que possui 45 metros de altura), uma vitrine tecnológica do agronegócio será montada em uma fazenda modelo.

A propriedade rural, localizada em Rondonópolis, pertence ao IMAmt, que investiu R$ 200 mil com a instalação da antena.

A tecnologia da finlandesa Nokia possui sinal de 700 MHz que alcança 15 km², em área plana. A Nokia usa o 5G standalone, conhecido como 5G puro.

Antena 5G instalada em Mato Grosso

(Fonte: IMAmt)

Leilão do 5G apontará diretrizes da tecnologia no país 

A realização dos experimentos são apenas demonstrativos, já que o sinal 5G ainda não tem autorização para funcionar no Brasil.

A autorização virá após a realização de um leilão pela Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações), previsto para o primeiro semestre de 2021.

O leilão prevê a oferta das frequências de 700 MHz, 2,3 GHz, 3,5 GHz e 26 GHz. Segundo o Governo Federal, elas são as mais adequadas para a expansão do serviço no país.

Além de prover a tecnologia 5G, as vencedoras do leilão terão de atender com 4G ou superior áreas com mais de 600 habitantes, o que favorece muito as áreas rurais.

Cidades com mais de 30 mil habitantes terão tecnologia 5G. 

Ilustração da Embrapa sobre a Agricultura Digital

(Fonte: Embrapa Tecnologia Agropecuária)

Conclusão

Neste artigo, você viu a importância da instalação da primeira antena 5G em área rural para o agronegócio no Brasil e os avanços decorrentes dessa tecnologia.

É importante ressaltar a evolução da agricultura e os avanços que podem ser alcançados com a tecnologia 5G, o que abre oportunidades diversas para os produtores rurais.

Os avanços aconteceram rapidamente: em 1990, estávamos na agricultura 3.0; em 2015, na 4.0; e agora, após 6 anos, já vemos a agricultura 5.0 bater à porta.

Isso mostra como você deve acompanhar a evolução e ter cada vez mais a tecnologia como aliada para melhorar o gerenciamento da fazenda.

>> Leia mais: “Quais os impactos da nanotecnologia na agricultura?”

Qual a sua opinião sobre a instalação da primeira antena 5G em área rural? Vamos continuar essa discussão aqui nos comentários!

Saiba as vantagens da Cafeicultura de Precisão e como aplicá-la

Cafeicultura de Precisão: como técnicas inovadoras aliadas às tecnologias favorecem  o aumento da produtividade, redução de custos e sustentabilidade

A cafeicultura de precisão é um modelo de gestão da fazenda que se utiliza de tecnologias para o manejo da lavoura em taxas variáveis, com baixo impacto ambiental.

Também chamada de Cafeicultura 4.0, a técnica possui diversas ferramentas que favorecem a maior eficiência na produção e a sustentabilidade econômica. 

Neste artigo, saiba as vantagens que ela oferece e as metodologias de aplicação. Confira!

O que é cafeicultura de precisão

A cafeicultura de precisão está em evolução no país, sobretudo em Minas Gerais, maior produtor de café do Brasil, e nos estados do Espírito Santo, São Paulo e Bahia. 

Pesquisas sobre a técnica e métodos de aplicação mostram a redução de custos com insumos, aumento da produtividade e baixo impacto ambiental.  

Apontam também a viabilidade em pequenas, médias e grandes áreas, com cultivo do arábica ou robusta (conilon). 

Essência da AP

Em sua essência, a cafeicultura de precisão é baseada em dois conceitos da AP (Agricultura de Precisão): o de variabilidade espacial e o de variabilidade temporal. 

As variabilidades espacial e temporal apontam as particularidades do cafezal e fornecem dados para tomada de decisão, manejo eficiente e planejamento da safra

Mapa de variabilidade espacial para aplicação de fósforo em taxa variável
Mapa de variabilidade espacial para aplicação de fósforo em taxa variável
(Fonte: PrecisãoAP)

Com isso, diversas variáveis que influenciam na produtividade do cafeeiro podem ser melhores gerenciadas, tais como:

  • propriedades físicas e químicas do solo e das plantas;
  • incidência de pragas e doenças e o índice vegetativo;
  • quantidade de aplicação de insumos;
  • água na irrigação;
  • floração e a maturação dos frutos;
  • uso de mão de obra ou máquinas na colheita;
  • infraestrutura do pós-colheita;
  • orçamento e lucro final.

É importante conhecer bem as particularidades da lavoura, pois o café é perene e qualquer fator influencia na produtividade da planta durante anos.

Mapa de variabilidade temporal do índice vegetativo
Mapa de variabilidade temporal do índice vegetativo
(Fonte: José Diógenes Alves Silveira e outros)

DNA do solo 

Uma novidade importante da cafeicultura de precisão é o mapeamento da variabilidade dos teores de argila, considerada o DNA do solo

As pesquisas mostram redução de 68% da necessidade de área subsolada com base na qualidade das argilas em comparação ao método tradicional. 

Ocorre ainda redução de 7,1% no consumo de combustível e na emissão de dióxido de carbono na atmosfera, o que dá mais sustentabilidade à lavoura.

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Ferramentas de AP para a cafeicultura 

As ferramentas utilizadas na cafeicultura de precisão são as tecnologias (máquinas, softwares, equipamentos, etc.) e as metodologias de aplicação. 

Dentre as tecnologias, estão o GNSS (Global Navigation Satellite System), o GPS (Global Position System) e os SIGs (Sistemas de Informações Georreferenciadas). 

Elas atuam com monitores, pilotos automáticos, sensores, drones, aplicativos e softwares instalados em máquinas, implementos, computadores e celulares. 

Características das colhedoras da Cafeicultura 4.0
Características das colhedoras da Cafeicultura 4.0
(Fonte: Rouverson Pereira da Silva)

Colheita mecanizada

Na colheita do café, a mecanização ocorre com derriçadeira costal, que chega a multiplicar por quatro a produtividade em campo, ou pode ser seletiva, demanda de quem produz cafés especiais.

A regulagem da máquina é manual, mas a amostragem da variabilidade espacial sobre a maturação dos frutos pode ser por meio da AP.

Mapa de variabilidade espacial da maturação dos frutos e uma área de produção de café com pivô central em Minas Gerais
Mapa de variabilidade espacial da maturação dos frutos e uma área de produção de café com pivô central em Minas Gerais
(Fonte: Felipe Santinato)

Drones e sensores 

Na cafeicultura, os drones são muito úteis para em áreas onde não é possível a mecanização devido à topografia irregular. 

Muitos são equipados com câmeras RGB e NDVI (alta resolução) e sensores multiespectrais que identificam desde déficits nutricionais até pragas e doenças.

Há drones que sobrevoam 20 hectares em 15 minutos e coletam informações sobre a quantidade de plantas e identificam falhas de plantio. 

Na pulverização, o drone reduz tempo e custos: em 10 minutos, cobre 1 hectare. 

Ortomosaico georreferenciado de área de produção de café para contagem das plantas
Ortomosaico georreferenciado de área de produção de café para contagem das plantas
(Fonte: Plan4r)

Os sensores são uma ferramenta importante para o manejo nutricional.  

Estudo realizado na Bahia apontou correlação entre o nitrogênio e os índices vegetativos do cafeeiro, a partir do uso calibrado de sensoriamento remoto

Por esse método, o tempo de análise foliar, normalmente de 30 dias, caiu para 1 dia.

Análise foliar do N no cafeeiro a partir do sensoriamento remoto
Análise foliar do N no cafeeiro a partir do sensoriamento remoto
(Fonte: Crislaine Ladeia)

Metodologias mais utilizadas 

O uso das ferramentas tecnológicas segue metodologias de aplicação. Os métodos mais conhecidos são os seguintes:

  • geoestatística;
  • malhas amostrais;
  • semivariograma;
  • índices de Moran Local (IML) e Global (IMG);
  • krigeagem;
  • mapas de isolinhas;
  • modelagem de SIGs. 

A mais utilizada entre os pesquisadores é a geoestatística, que é fundamentada em dois conceitos: o de semivariograma e o de krigeagem. 

O semivariograma tem o papel de descrever a estrutura da variabilidade espacial e a krigeagem prediz valores não medidos, sem tendenciosidade e com variância mínima. 

A utilização dessas tecnologias e métodos possibilita fazer mapas de variabilidade espacial e temporal para gerenciamento eficiente da lavoura.

Os softwares realizam a leitura dos mapas e, por meio de comandos hidráulicos e eletrônicos, regulam a dose e aplicam a quantidade necessária do insumo.

Há no mercado softwares com imagens de satélite em alta resolução: as imagens são em WDRVI, mais potentes que o NDVI dos drones. A licença de utilização para 50 ha custa R$ 500/ano. 

Com essas imagens, é possível verificar o índice vegetativo, monitorar pragas e doenças, construir zonas de manejo e identificar falhas de plantio. 

Como aplicar a cafeicultura de precisão 

Como vimos, a cafeicultura de precisão pode ser aplicada de várias formas e sua eficiência depende das tecnologias e do método.

Mas há também maneiras de praticar a AP sem muitos recursos tecnológicos. 

Por exemplo: se sua área de produção tem 20 ha, faça a divisão em 5 subáreas de 4 ha ou em 4 subáreas de 5 ha. Após isso, realize análise de solo em cada subárea.

A divisão deve ser feita com o uso de um aplicativo com GPS, a exemplo do Fields Area Measure, de fácil manuseio.

tabela com análise de solo de uma área de 20 ha, dividida em quatro subáreas de 5 ha, mostra níveis diferentes dos atributos químicos
Análise de solo de uma área de 20 ha, dividida em quatro subáreas de 5 ha, mostra níveis diferentes dos atributos químicos
(Fonte: Labominas)

Variabilidade espacial

Faça a análise de solo de cada subárea e crie um mapa (numa folha de papel mesmo) com as particularidades químicas das subáreas. 

Dessa forma, você observará a variabilidade do cafeeiro e fará um manejo mais eficiente, pois haverá recomendações diferentes.

E, como consequência, será gasto só o necessário com insumos. 

Uma pesquisa sobre AP na cafeicultura mostrou economia de 23,76% (R$ 318,36/ha) nos custos totais com adubação em taxa variável em comparação à adubação convencional.

Software para gestão da lavoura

O uso de um software de gestão agrícola, como o Aegro, auxilia na prática da agricultura de precisão.

Você pode obter imagens NDVI pelo sistema, para avaliar áreas historicamente problemáticas e direcionar as suas amostragens de solo.

Além disso, o software possui um módulo especializado no monitoramento de pragas que ajuda você a mapear focos de infestação e realizar aplicações localizadas.

Todo o cronograma de manejo pode ser planejado e controlado no Aegro a partir do celular. O aplicativo utiliza tecnologia de georreferenciamento para facilitar as movimentações da equipe no campo.

Outra vantagem do Aegro é que ele computa todos os seus gastos com insumos, oferecendo uma análise de rentabilidade por talhão ao final da safra.

Assim você verá, com clareza, o retorno financeiro das técnicas de AP na sua fazenda.

>> Leia mais: “Como grupo cafeeiro realiza o monitoramento de pragas em 5 fazendas com apoio da tecnologia”

guia - a gestão da fazenda cabe nos papéis

Conclusão 

Os métodos e tecnologias da cafeicultura de precisão estão em aperfeiçoamento, mas não restam dúvidas sobre os impactos positivos que ela gera no setor.

Neste artigo, mostramos como ela pode beneficiar o manejo da sua lavoura e, consequentemente, sua produtividade.

Falamos ainda sobre as principais ferramentas de AP e as dicas de como praticar a cafeicultura de precisão mesmo sem muitos recursos tecnológicos.

Então, aproveite essas informações, busque mais conhecimento sobre como aplicar a técnica em sua lavoura e se beneficie das vantagens que ela oferece. Você e o meio ambiente só terão a ganhar!

Restou alguma dúvida sobre a cafeicultura de precisão? Deixe seu comentário!