About Lucas Nogueira

Sou Engenheiro Agrônomo pela ESALQ/USP em Piracicaba-SP. Atualmente sou Mestrando em Fitotecnia na mesma instituição, pesquisando sobre plantio direto e consórcio de culturas graníferas com forrageiras tropicais.

Brachiaria ruziziensis: como essa espécie pode te ajudar na agricultura

Brachiaria ruziziensis: Saiba como fazer o melhor manejo para plantio direto ou pastagem, além de outras características dessa forrageira

A Brachiaria ruziziensis é uma das espécies mais utilizadas no sistema de plantio direto e em consórcio com outras culturas. 

E não é à toa! Sua fácil dessecação e baixo potencial competitivo com o milho caíram no gosto de produtores e consultores. 

O manejo se mostrou mais fácil dentro do sistema de produção e seu uso pode ser uma ferramenta decisiva no sistema de produção e lucro da sua fazenda. Confira como a seguir!

Brachiaria ruziziensis: Importância para o agro 

Originária da África, mais precisamente do vale de Ruzi no Congo, a Brachiaria ruziziensis começou seu processo de melhoramento nos anos 1960, ainda na África. Seu cultivar atual foi lançado em 1961 na Austrália e trazido para o Brasil mais tarde.

Apesar de sua ampla disseminação quando introduzida, seu uso logo diminuiu devido à suscetibilidade ao ataque de cigarrinha-das-pastagens, o que limita seu uso até hoje.  

A Brachiaria ruziziensis se assemelha à sua ‘parente’ Brachiaria decumbens, porém apresenta porte mais alto e cheiro semelhante ao conhecido capim-gordura.

Sua palatabilidade é alta, sendo recomendada nas fases de recria e engorda dos bovinos.

Agora que sabemos um pouco da história e dos principais usos desse capim vamos conhecer melhor suas características e manejo na pecuária e no sistema de produção de grãos.

Características agronômicas da Brachiaria ruziziensis 

A Brachiaria ruziziensis é uma planta perene. Apresenta em média 1 metro de altura, além de ter um rápido estabelecimento e boa germinação das sementes, mesmo sem incorporação.

A espécie é relativamente exigente em nutrientes, requerendo uma saturação de bases entre 50% e 60% e um pH entre 5 e 6,8, não respondendo bem a solos ácidos. 

Devido à sua origem nos trópicos úmidos, sua exigência por água também é alta: cerca de 900 mm a 1200 mm ao longo do ano. Porém a Ruziziensis pode tolerar até 4 meses de seca, chegando à morte em períodos mais extensos. 

A temperatura ideal para o desenvolvimento da planta é de 28o C durante a noite; e 33o C durante o dia, sendo que a temperatura mínima de crescimento da planta é de 19o C. Apresenta adaptação até 2.000 m acima do nível do mar.

A Brachiaria ruziziensis não tolera climas frios e geadas, sendo desaconselhada em regiões suscetíveis. 

É, portanto, uma forrageira que requer solos de média a alta fertilidade, requerendo áreas de plantio com boa drenagem.

Diferente de sua parente decumbens, a ruziziensis apresenta crescimento cespitoso, isto é, ereto. Isso aumenta muito sua captação de luz por área e sua eficiência em fazer fotossíntese, dando à planta uma boa tolerância a sombra. 

brachiaria ruziziensis

Inflorescência de três espécies de Brachiaria 

(Fonte: Machado et al. (2011))

Como apresenta baixo vigor vegetativo, sua rebrota é lenta. Além disso, tem baixa dispersão vegetativa (pelos estolões), o que torna seu manejo um fator importante para persistência da forragem no pasto.

Desse modo, devido às características de baixa rebrota e baixa habilidade de se espalhar pela área, o potencial dessa forrageira agir como planta daninha é baixo. 

Por isso, pode ser utilizada com maior segurança no sistema de produção.

Manejo da Brachiaria ruziziensis para Plantio Direto

Dentro do sistema de plantio direto existem algumas medidas importantes para o manejo adequado da Brachiaria ruziziensis.

O primeiro deles é a escolha entre consórcio com milho ou sobressemeadura com a soja.

Na sobressemeadura, a época correta de semear a brachiaria é entre a fase de enchimento de grãos e o início da maturação da soja (R5 a R7).

Já no consórcio com milho, existem dois tempos em que o produtor pode optar pelo plantio da forrageira. O primeiro é junto com a semeadura do milho. O segundo, durante a época da adubação de cobertura do cereal (V3 a V4). 

Essa diferença entre a época de semeadura da brachiaria em relação ao milho impacta na produção de forragem do capim e no potencial de interferência dele na cultura do milho

Agora outro ponto a ser definido é a quantidade de sementes a serem utilizadas. Em consórcio, essa quantidade pode diferir muito (2 kg/ha a 10 kg/ha). 

Mas como saber a quantidade mais adequada?

brachiaria ruziziensis

No uso da forrageira para cobertura do solo, com alto valor cultural (acima de 90%), com capim semeado em linha, por exemplo, você pode utilizar uma taxa de semeadura de brachiaria mais próxima a 2 kg/ha.

Dessa forma, passaremos para outra medida importante no manejo da Brachiaria ruziziensis em consórcio: o manejo de herbicidas.

Manejo de herbicidas para Brachiaria ruziziensis

Uma dica importante aqui: em consórcio milho com brachiaria, os herbicidas utilizados para controle das plantas daninhas são:

  • Atrazina (folhas largas)
  • Nicosulfuron ou o Mesotrione (folhas estreitas)

Número de plantas de espécies infestantes e massa seca da parte aérea da comunidade infestante, na pré-semeadura da cultura da soja em rotação

(Fonte: Concenço et al. (2013))

Embora alguns produtores dispensem o uso dos herbicidas para folhas estreitas no consórcio, pois a brachiaria tem alto poder de controle das plantas daninhas, isso ainda irá depender do uso dado à forrageira.

No caso de utilizar o capim como pastagem para engorda dos bois, é possível não utilizar herbicidas para folhas estreitas. Isso irá aumentar a produção de matéria seca do capim. Porém, pode piorar sua qualidade geral e impactar negativamente na produtividade de milho.

Se optar por utilizar a forrageira como cobertura vegetal do solo ou quiser uma pastagem de melhor qualidade, o uso do herbicida para controle de folhas estreitas é recomendado.

No caso do nicosulfuron, o indicado é utilizar 1/2 dose do recomendado na bula para controle da brachiaria. No caso do mesotrione, o indicado é 1/3 da dose de bula.

Veja a tabela abaixo:

brachiaria ruziziensis
(1)Óleo mineral Nimbus a 0,5% v v; (2)Diferenças estatísticas.
Nota: DAE = dias após a emergência da cultura e da forrageira

Massa seca de plantas de Brachiaria ruziziensis (RMB) 150 dias após a aplicação dos herbicidas, em sistema de consórcio milho-brachiaria, em diferentes períodos após a emergência das plantas, sob aplicação de herbicidas

(Fonte: Adaptado de Ceccon et al. (2010))

Dessecação

Na dessecação da Brachiaria ruziziensis, a dosagem de glifosato utilizada pode variar de 1.300 kg a 2.000 kg de ingrediente ativo por hectare. 

Essa variação ocorre pelos seguintes fatores: massa de parte área da forragem (altura) e tempo entre dessecação e plantio da cultura em sucessão.

Quanto mais próxima a altura da forragem a 15 cm ou 20 cm e maior o tempo entre a dessecação e o plantio (acima de 20 dias), menores as doses necessárias de glifosato.

Dica importante: plantas com alturas menores que 10 cm aumentarão a dose necessária para dessecação. Por outro lado, plantas com alturas maiores que 30 cm aumentarão o tempo necessário entre a dessecação e o plantio da cultura de sucessão.

Manejo da Brachiaria ruziziensis para sistema de integração lavoura-pecuária

A Brachiaria ruziziensis apresenta bons atributos para alimentação animal: 

  • Digestibilidade entre 55% e 60%;
  • Teores de proteína bruta entre 10% e 14%;
  • Produção de matéria seca que pode chegar a 15 toneladas/ha.

Como já vimos, a altura de manejo dessa forrageira é extremamente importante devido à sua baixa capacidade de rebrota. 

Dessa forma, a recomendação é de que o produtor entre com o gado na área com uma altura de 30 cm e retire os animais quando o pasto atingir ao redor de 15 cm. 

Essas alturas garantirão um pasto de boa qualidade e uma boa rebrota da pastagem. E, na época de dessecação para o plantio direto, o produtor economizará na aplicação de glifosato.

Divulgação do kit de 5 planilhas para controle da gestão da fazenda

Conclusão   

Como pudemos ver, a brachiaria ruziziensis é uma ótima espécie para uso em consórcio e como cultura de cobertura para plantio direto.

Não à toa, essa forrageira é uma das mais recomendadas para esses sistemas de produção atualmente.

Diversos estudos têm mostrado que o consórcio do milho com essa forrageira não diminui a produtividade do milho. Ela traz benefícios para o produtor como combate à erosão; melhora da fertilidade do solo; além da melhora física do solo.

Deste modo, o uso da Brachiaria ruziziensis com o conhecimento das medidas de manejo que abordamos aqui pode ser uma ferramenta decisiva no sistema de produção e lucro!

>> Leia mais:

As melhores formas de controle para cigarrinha-das-pastagens
Brachiaria brizantha: As principais orientações para tirar o melhor proveito dela
ILPF: O que você precisa saber para utilizar esse sistema

Você já teve alguma experiência com o uso da Brachiaria ruziziensis? Restou alguma dúvida? Deixe seu comentário!


Culturas de inverno: como aumentar o rendimento na propriedade

Culturas de inverno: alternativas de plantio, quais espécies utilizar e como se preparar para ter mais rentabilidade na segunda safra.

As culturas de inverno são opções rentáveis para pequenos, médios e grandes produtores.

Elas diversificam a renda, além de promover melhoras significativas no sistema de produção como um todo.

Mas nem sempre a dobradinha ‘soja-milho’ é a mais vantajosa na sua propriedade.

Veja a seguir as melhores alternativas, vantagens, limitações e como se preparar para um plantio de inverno mais rentável!

Culturas de inverno: Alternativas de plantio

Culturas de inverno são gramíneas, oleaginosas ou leguminosas que sucederão a área ocupada com milho ou soja de verão durante período de janeiro/fevereiro até agosto/setembro, visando a produção de grãos, fibra ou biomassa.

São várias as opções viáveis como:

Sua escolha deve ser marcada pela oportunidade econômica da região, optando pela cultura com melhor rentabilidade.

Além disso, preze pelo terceiro pilar do Sistema de Plantio Direto: a rotação de culturas.

Em muitos locais, a sucessão soja-milho é o padrão na escolha. Mas, o uso desse sistema ao longo dos anos, de modo consecutivo, pode gerar problemas. Isso porque há especialização de daninhas, pragas e doenças na área e, consequentemente, o uso dos mesmos fitossanitários, que começam a apresentar menor eficiência de controle.

Mais adiante veremos quais opções podem ser utilizadas pelos produtores como culturas de inverno e como se preparar para o plantio.

culturas de inverno
Trigo é uma das culturas de inverno que podem gerar boa rentabilidade
(Fonte: Embrapa)

Características das culturas de inverno

As plantas cultivadas na entressafra apresentam diversas características fisiológicas. Assim, podem se mostrar viáveis em diferentes tipos de solo e condições climáticas.

Na região sul, o período de entressafra apresenta menores temperaturas. Por isso, plantas como trigo, aveia ou centeio são indicadas para serem cultivados em sucessão à soja de verão.  

Já em locais com problemas de déficit hídrico, uma opção é a aveia, que apresenta maior tolerância à seca quando comparada ao trigo, por exemplo.

Na região centro-oeste ou sudeste, são indicados sorgo, feijão, girassol, crambe e até mesmo variedades de trigo adaptadas a temperaturas mais altas.

A escolha da espécie da segunda safra deve ser associada também à cultura semeada no verão.

Quando a soja é a cultura da safra, você pode ter mais vantagens no sistema se optar por uma gramínea para sucessão.

Optando por uma cultura de inverno com características diferentes da cultura de verão, o sistema de produção sofrerá menos com a especialização de doenças, pragas e ervas daninhas.

E, utilizando fitossanitários com diferentes modos de ação, o sistema de produção se manterá com maior eficiência por mais tempo!

Na figura a seguir podemos ver um exemplo de como optar pela cultura de inverno de acordo com a cultura de verão:

culturas de inverno
Recomendações para a composição de programas de rotação de culturas para soja, milho, trigo e feijão, em SPD
(Fonte:  Fancelli, 2008)

Segundo Fancelli, em glebas que apresentem nematoides de galha, deve-se utilizar preferencialmente espécies de crotalárias como cultura antecessora.

É preciso tomar cuidado com o cultivo indiscriminado de nabo forrageiro e girassol, pois podem contribuir significativamente para aumento de Sclerotinia sp.

A presença de nematoide migrador (Pratylenchus brachyurus) exige o emprego de Crotalaria spectabilis, sobretudo quando antecede a lavoura de soja.

Benefícios das culturas de inverno para o sistema de produção

Como eu mencionei, as culturas de inverno podem melhorar a eficiência do sistema de produção como um todo.

Cada espécie apresenta uma demanda diferente por nutrientes e potencial de competição maior com algumas espécies de plantas invasoras. Também têm diferentes resistências e tolerâncias a patógenos e pragas.

Desse modo, com a utilização de diferentes culturas de inverno ao longo dos anos, o sistema terá um equilíbrio entre esses fatores.

Uma planta daninha problema, como a buva na soja, pode ser amenizada com a entrada de uma planta que consiga competir melhor com essa espécie.

É o caso do trigo e da aveia, que apresentam espaçamentos menores, além de efeitos alelopáticos que podem diminuir a germinação das daninhas.

Com essa variação, é possível usar outros fitossanitários, como pré ou pós-emergentes no caso das daninhas, diferentes inseticidas e fungicidas, aumentando a eficiência do uso desses produtos nas culturas.

Outras melhoras significativas para o sistema ocorrem no solo.

Veja na figura abaixo que essas culturas apresentam diferentes arquiteturas radiculares e diferentes relações entre carbono e nitrogênio.

Isso pode minimizar a erosão, maximizar a conservação de água no sistema, reduzir o gradiente de temperatura e manter o potencial biológico do solo.

culturas de inverno
Exemplo das diferentes demandas e arquiteturas radiculares das opções de entressafra
(Fonte: Adaptado de Séguy L. & Bouzinac S. (2008))

Como se preparar para o plantio de inverno

Você pode escolher entre diversas opções de culturas de inverno através do zoneamento climático de cada talhão.

Pode ainda optar por rotacionar áreas da sucessão soja-milho semeando outras espécies no lugar do milho em algumas áreas, fazendo rotação de talhões ao longo dos anos.

Para a semeadura de algumas espécies de culturas de inverno (trigo, aveia, cevada), é necessário usar semeadoras de fluxo contínuo.

Elas apresentam sistema de distribuição de sementes de forma contínua, com espaçamento entre linhas reduzido, em torno de 17 cm.

Nesse momento, há duas opções de maquinário para a implantação da cultura:

  • Semeadora específica de grãos miúdos;
  • Semeadoras múltiplas (realizam semeadura de grãos miúdos e grãos graúdos).

As semeadoras múltiplas apresentam maior versatilidade para o produtor, possibilitando a introdução de culturas diferentes no sistema de produção.

Para o uso de sementes miúdas, as semeadoras múltiplas devem sofrer algumas modificações antes. Deve haver a retirada dos sulcadores de adubo e do sistema distribuidor de sementes de grãos graúdos, além da redução do espaçamento entre linhas.

Essas transformações variam e são específicas para cada modelo.

Rentabilidade das culturas de inverno

É desejável que a produção obtida no plantio de inverno apresente liquidez no mercado.

Dessa maneira, a seleção da cultura de sucessão vai se adequando regionalmente, conforme a produção que apresente melhor rentabilidade.

Em anos de baixa nos preços do milho, o produtor pode optar por cultivar parte da área com outra cultura na entressafra. Assim, colherá os benefícios dessa rotação nos anos futuros.

Outra situação recorrente é o atraso no plantio da safra e consequente atraso no plantio da entressafra, o que pode penalizar o plantio de milho.

Nesse caso a escolha de outra cultura de inverno pode trazer mais benefícios a curto e longo prazos.

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Veja também: “Perspectivas para a safra de inverno!

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Conclusão

As culturas de inverno são opções rentáveis para o produtor. Elas apresentam vantagens monetárias e de melhora no sistema de produção em comparação ao pousio.

Mas, como vimos, nem sempre a sucessão soja-milho é a mais viável a longo prazo. É possível inserir outras espécies na entressafra, aumentando assim a rentabilidade do sistema ao longo dos anos.

Desse modo, o uso de diferentes culturas de inverno ajuda na efetividade do plantio direto.

E, com base na rotação de culturas, na segunda safra você poderá colher os frutos da adoção do sistema durante o tempo.

Além disso, terá mais opções frente às variações de preço do mercado.

>> Leia mais:

“Por que realizar a cobertura de solo no inverno”

Em quais culturas de inverno você investe? Restou alguma dúvida? Adoraria ver seu comentário abaixo!