About Lucas Nogueira

Sou Engenheiro Agrônomo pela ESALQ/USP em Piracicaba-SP. Atualmente sou Mestrando em Fitotecnia na mesma instituição, pesquisando sobre plantio direto e consórcio de culturas graníferas com forrageiras tropicais.

Veja 4 indicadores de desempenho para colheita de grãos

Indicadores do desempenho da colheita de grãos mecanizada: entenda melhor as perdas fisiológicas, físicas e operacionais

Apesar da importância de todos os cuidados ao longo do ciclo de uma cultura, é na colheita que o produtor irá, de fato, converter todos os tratos culturais em um produto comercial.

E todas as perdas ocorridas nessa etapa podem impactar muito a lucratividade da fazenda. Por isso, reduzi-las é fundamental para a saúde financeira da propriedade.

Entenda, a partir de agora, quais são os principais indicadores de desempenho para a colheita mecanizada de grãos e onde estão as perdas mais relevantes da produção relacionadas a essa operação!

Funcionamento da colhedora 

A colheita é a etapa que tem como objetivo retirar o produto agrícola do campo, em tempo hábil, com a mínima perda quantitativa e o máximo de qualidade

Porém, para que se obtenha sucesso, devem ser considerados inúmeros fatores que    influenciam diretamente ou indiretamente nesse processo.

O processo de colheita de grãos envolve algumas etapas básicas, sendo elas:

  • o corte: que é responsável por cortar ou arrancar a planta ou parte dela;
  • a trilha: onde ocorre o desprendimento dos grãos da planta;
  • a limpeza: que separa os grãos da palha e do restante da planta.

A colhedora é composta pelos sistemas de corte, alimentação, trilha, separação, limpeza e armazenamento dos grãos, efetuando todas as etapas que vimos logo acima.

ilustração de sistemas de uma colhedora

Sistemas de uma colhedora
(Fonte: Embrapa, 1998)

Embora as perdas durante a colheita sejam diversas, 80% delas estão relacionadas com a plataforma de corte e alimentação. Destes, uma porcentagem significativa está relacionada à perda de qualidade dos grãos no processo de trilha.

Adiante, falarei um pouco mais sobre as perdas físicas, operacionais e as ligadas à fisiologia da planta.

Indicadores de perdas fisiológicas

As principais perdas relacionadas com a fisiologia da planta acontecem devido ao teor de água (umidade) no grão e ao ponto de maturação fisiológica do grão.

Quando a cultura não atingiu esse ponto de maturação, os grãos não se desprendem devidamente das plantas. Um indicador desse problema são vagens não trilhadas caindo do sacapalhas e das peneiras da colhedora no caso da soja.

Outro problema se deve ao teor de umidade dos grãos, que apesar de terem atingido a maturidade fisiológica estão com umidade superior ou inferior à recomendada para a colheita mecanizada (em torno de 13% de umidade).

No caso da soja, o excesso de umidade dos grãos pode ser observado com a quantidade de grãos quebradiços na colhedora.

Já para o milho, grãos muito úmidos ou secos podem acarretar espigas não colhidas no campo, excesso de grãos quebrados ou amassados e sabugos e sujeira acumulados no tanque graneleiro.

Sobre esse assunto, leia também o artigo “Umidade do milho para colheita: todas as dicas para não perder seus grãos”!

Perdas físicas 

As perdas físicas estão relacionadas muitas vezes aos impedimentos ou dificuldades físicas na colheita. Algumas delas são o excesso de plantas daninhas, a altura das plantas ou desuniformidade do terreno.

Muitas vezes isso pode ser solucionado com um ajuste mais cuidadoso da plataforma de corte e/ou molinete da colhedora.

Problemas relacionados à altura das plantas ou desuniformidade do terreno podem ser indicados pelo amontoamento de plantas na barra de corte, plantas se enrolando no molinete (quando há excesso de plantas daninhas).

Na cultura de milho, esses indicadores se relacionam à perda de espigas. Plantas com alta inserção de espiga podem ter as espigas arremessadas lateralmente na plataforma de corte.

Outro indicador é o excesso de milho debulhado no rolo das espigadoras, o qual ocorre devido às unidades de recolhimento operarem em altura superior à recomendada.

Como medir as perdas físicas

Uma forma de medir as perdas anteriores à colheita, as perdas na plataforma e as perdas totais é pela amostragem.

Ela é feita através de uma armação da largura da plataforma e meio metro de comprimento. Nessa armação serão contados o número de grãos caídos antes da passagem da colhedora.

Para determinar as perdas na colheita deve-se retirar a armação, passar com a colhedora e afastá-la, recolocando a armação no local. A contagem dos grãos caídos irá indicar as perdas referentes ao processo de colheita.

ilustração que mostra quantificação das perdas totais: perdas anteriores à colheita (1); perdas na plataforma (2); e perdas totais (3)

Quantificação das perdas totais: perdas anteriores à colheita (1); perdas na plataforma (2); e perdas totais (3)
(Fonte: Adaptado de Aprosoja)

Perdas operacionais 

As perdas operacionais estão diretamente relacionadas com as regulagens dos diferentes sistemas presentes na colhedora.

Como um sistema está diretamente ligado ao outro, erros na regulagem de um deles podem ocasionar perdas no sistema seguinte também.

ilustração que mostra o esquema de uma colhedora - texto sobre indicadores do desempenho da colheita de grãos

(Fonte: Embrapa, 1998)

A velocidade excessiva do molinete ou da colhedora, por exemplo, pode acarretar vagens caídas ou amontoadas na barra de corte, bem como em sobrecarga do cilindro. Essa sobrecarga pode provocar vagens não trilhadas.

As peneiras, divididas em 3 partes, devem estar limpas no terço dianteiro. Já no terço traseiro, deve haver apenas resíduos. 

Caso exista a presença excessiva de grãos na peneira superior, haverá queda de grãos na parte traseira da colhedora.

Na trilha e retrilha, a regulagem do côncavo é de extrema importância, já que pode ocasionar excesso de espigas e vagens não trilhadas no retorno da trilha, indicando uma grande folga entre o cilindro e o côncavo.

Já a pouca folga entre o cilindro e côncavo pode ocasionar na quebra dos grãos, diminuindo a qualidade e facilitando a entrada de patógenos pós-colheita.

planilha para estimativa de perdas na colheita Aegro

Conclusão

Mesmo com toda a tecnologia disponível, as perdas durante a colheita sempre serão consideradas. Mas um excesso de perdas pode acarretar diversos prejuízos na propriedade.

Dessa forma, minimizá-las deve ser o foco no final da safra! Atentar-se às condições meteorológicas e à situação da cultura no campo são os primeiros passos para uma colheita eficiente.

E, como você viu neste artigo, durante o processo de colheita, é essencial acompanhar as etapas, realizando amostragens de perdas sempre que possível. 

É preciso ainda ficar de olho nos diferentes indicadores da colhedora, entendendo qual sinal eles estão passando para que você possa realizar uma colheita mais eficiente e lucrativa!

>> Leia mais:

“5 perdas na colheita que você pode estar sofrendo e o que fazer para resolver”

“O que você precisa saber sobre regulagem e manutenção de implementos agrícolas”

Restou alguma dúvida sobre os indicadores do desempenho para colheita de grãos? Deixe seu comentário abaixo!

Guia prático da adubação para algodão

Adubação para algodão: exigências nutricionais da planta, épocas favoráveis e recomendações para alcançar mais produtividade na lavoura!

Nos últimos 15 anos, a produção de algodão no Brasil saltou de 1 milhão de toneladas de plumas para quase 3 milhões na safra 2019/20.

O avanço da cotonicultura se deve a fatores como melhoramento genético e manejo das lavouras. E uma das principais partes do manejo é a adubação da cultura. 

Os cultivares de alto potencial produtivo apresentam grande sensibilidade ao estresse ambiental e a adubação correta auxilia a planta na hora de passar por condições desfavoráveis.

Então, veja a seguir as exigências nutricionais do algodoeiro, correções de solo e como fazer o manejo da adubação para o algodão!

Exigências nutricionais do algodão

A planta de algodão apresenta crescimento inicial lento, aumentando consideravelmente o acúmulo de nutrientes a partir dos 25 dias após o plantio. O pico ocorre entre as fases de primeiro botão e primeira flor.

Durante a fase de florescimento máximo, cerca de ⅓  do potássio é absorvido em um período de 14 dias. Isso nos mostra como um possível déficit de nutrientes nas épocas-chave podem afetar muito a produtividade.

De modo geral, cerca de 60% dos nutrientes são absorvidos entre o início do florescimento e a formação dos capulhos.

gráfico que demonstra acúmulo de matéria seca (A) e de nutrientes (B) pelo algodoeiro

Acúmulo de matéria seca (A) e de nutrientes (B) pelo algodoeiro
(Fonte: Embrapa, 2006)

As classes de interpretação de fósforo e potássio no solo dependem muito do teor de argila e da CTC do solo. 

De maneira geral, o teor ideal de fósforo está entre 15 e 20 mg/dm3 (para solos argilosos e arenosos respectivamente)

Já os teores ideais de potássio estão entre 30 e 50 mg/dm3 para solos com CTC menor e maior que 4 cmolc/dm3 respectivamente.

O algodoeiro é uma planta com pouco crescimento radicular, já que devido a seu complexo ciclo de desenvolvimento, apresenta um curto período vegetativo (40-45 dias), que é o principal momento de crescimento das raízes.

Durante o período vegetativo, as raízes têm menos competição com os drenos da parte aérea da planta. Mas, com o início da fase reprodutiva, as flores e frutos constituem drenos mais fortes para os fotoassimilados das folhas, diminuindo a taxa de crescimento das raízes.

Correção do solo

Um dos principais fatores relacionados à baixa produtividade de algodão é a acidez do solo, principalmente em função da sensibilidade da planta ao alumínio e pelo sistema radicular limitado.

Dessa forma, a correção do pH do solo utilizando a calagem e a neutralização do alumínio presente na CTC por meio da gessagem são duas técnicas fundamentais para garantir uma alta produtividade na lavoura de algodão.

A principal fórmula utilizada para o cálculo da necessidade de calagem (NC) é o da saturação por bases:

NC (t/ha) = (V2 -V1) x CTC/100 x f , sendo:

  • CTC (cmolc/dm3) = capacidade de troca de cátions do solo a pH 7,0 (SB + H++Al3+, em cmolc/dm3)
  • V2 = porcentagem de saturação por bases recomendada para a cultura (60% para o algodoeiro)
  • V1 = porcentagem de saturação por bases atual do solo, calculada pela fórmula: (SB/CTC) x 100
  • SB = soma de bases trocáveis (Ca2+ + Mg2+ + K+, em cmolc/dm3)
  • f = fator de correção do PRNT do calcário, f = 100/PRNT
  • PRNT = Poder Residual de Neutralização Total do calcário

Como a planta de algodão é exigente em magnésio, o recomendado é utilizar o calcário dolomítico ou magnesiano quando o teor de Mg no solo for menor que 1 cmolc/dm3.

Lembrando sempre que, para que ocorra a neutralização da acidez do solo por parte do calcário, é necessário que chova para que a água inicie a reação no solo.

Com isso em mente, é recomendado que se realize a calagem com um período de aproximadamente 30 dias antes da semeadura.

Critérios para gessagem

No caso do gesso, quando nas camadas de 20 cm a 40 cm ou 40 cm a 60 cm ocorrerem as situações abaixo, é recomendada a gessagem:

  • Cálcio inferior a 0,5 cmolc dm-3.
  • Alumínio superior a 0,5 cmolcdm-3.
  • Saturação por Al (m) superior a 30%.

A fórmula para aplicação de gesso mais simples é a multiplicação da porcentagem de argila do solo por 50. 

Por exemplo: em um solo com 50% de argila, aplicar no máximo 2.500 kg/ha de gesso.

Épocas de adubação do algodão

A adubação do algodoeiro pode ser realizada em 3 épocas, sendo elas pré-plantio, plantio e cobertura.

A adubação pré-plantio facilita o manejo da cultura, já que aumenta o rendimento da operação de semeadura, sendo comumente usada para o fósforo.

Para nitrogênio e potássio, pode-se realizar os 3 tipos de adubação. O mais seguro é a utilização da adubação de plantio mais o parcelamento da cobertura.

gráfico da produtividade de algodão em caroço em função de doses e época de aplicação de potássio, em solo com 500g/kg de argila e 63 mg/dm3 de K. Santa Helena de Goiás, safra 2003/2004.

Produtividade de algodão em caroço em função de doses e época de aplicação de potássio, em solo com 500g/kg de argila e 63 mg/dm3 de K. Santa Helena de Goiás, safra 2003/2004.
(Fonte: Embrapa, 2005)

Gráfico com produtividade de algodão em caroço em função de doses e épocas de aplicação de nitrogênio no sistema de integração lavoura-pecuária, em Montividiu, GO, safra 2002/2003.

Produtividade de algodão em caroço em função de doses e épocas de aplicação de nitrogênio no sistema de integração lavoura-pecuária, em Montividiu, GO, safra 2002/2003.
(Fonte: Embrapa, 2005)

É interessante notar que, em ambos os casos de adubação pré-plantio (nitrogênio e potássio), a qualidade do solo conta muito para a eficácia desse manejo.

Solos que necessitam corrigir teores de nutrientes e acidez podem responder de modo negativo a uma adubação pré-plantio.

Recomendações de adubação para algodão

As recomendações de adubação devem ser feitas levando em conta a condição do solo, ou seja, os teores atuais de nutrientes e a exportação de nutrientes do algodoeiro.

A adubação para elevar os teores de nutrientes do solo + a exportação é a chamada adubação de correção, que visa corrigir a fertilidade no perfil do solo.

A recomendação que leva em conta apenas a exportação dos nutrientes chamamos de adubação de manutenção, já que irá apenas suprir as demandas da planta.

Embora a adubação de manutenção pareça a opção mais lógica à primeira vista, ela nem sempre irá suprir toda a demanda da planta se os teores de nutrientes no solo estiverem abaixo do indicado.

Para as recomendações e cálculos de adubação do algodoeiro, usaremos adubação de manutenção, com base na exportação média de nutrientes por tonelada de produção.

tabela com exportação média de nutrientes para produção de uma tonelada e simulação para uma produção de 4.500 kg/ha de algodão em caroço (300 arrobas)

Exportação média de nutrientes para produção de uma tonelada e simulação para uma produção de 4.500 kg/ha de algodão em caroço (300 arrobas)
(Fonte: Embrapa, 2014)

Desse modo, uma produtividade média de 300 arrobas de algodão (4,5 toneladas/ha) irá demandar 54 kg de P2O5/ha que, convertido em supersimples (que apresenta 18% de P2O5), serão necessários 300 kg/ha do adubo.

No caso do nitrogênio, serão necessários 153 kg/ha de N – ou 340 kg/ha de ureia (que tem 45% de N).

Lembrando sempre que, no caso de adubação no sulco de plantio, o importante é se atentar à dose máxima de 50 kg de cloreto de potássio e de nitrogênio. Isso evita que ocorram queimaduras nas plântulas por conta da salinidade.

planilha de produtividade do algodão Aegro

Conclusão

A adubação é um dos manejos mais importantes de uma lavoura. Decidir o quanto, como e quando utilizar é essencial para acertar nessa etapa.

Devemos sempre nos atentar à fertilidade do solo, tentando manter os níveis de nutrientes adequados para a cultura.

Um manejo correto, no tempo certo, ajuda a planta a alcançar todo seu potencial produtivo. Para isso, devemos sempre estar atentos aos sinais das plantas e do ambiente, já que como dizem: o olho do dono é que engorda o boi.

>>Leia mais:

“Logística da pluma do algodão: o que impacta o escoamento da produção?”

Como você faz o manejo de adubação para algodão na sua lavoura? Restou alguma dúvida? Deixe seu comentário!

Qualidade do solo: o que é e como fazer a avaliação em sua propriedade

Qualidade do solo: entenda os indicadores de qualidade química, física e biológica que devem ser considerados.

Na última safra, o Brasil produziu cerca de 255 milhões de toneladas de grãos, um aumento de quase 5% em relação à safra passada.

Todo esse alimento, fibra e combustível produzido tem algo em comum: eles dependem do solo não apenas como como substrato, mas também como fonte de nutrientes, água e oxigênio.

Pode parecer que existe solo para “dar e vender”, mas ele é um recurso importante que é “gerado” a uma velocidade de apenas 0,01 a 0,02 milímetros ao ano, enquanto a média mundial é de perdas de 1,54 mm ao ano. Ou seja, perde-se a camada arável mais rápido do que a natureza consegue formá-la. 

Por isso, é essencial entender o que é qualidade de solo ou saúde do solo, quais os indicadores e como conseguir um solo saudável que possa entregar todo o potencial produtivo da lavoura.

Qualidade do solo

O solo é um ambiente vivo e dinâmico. A ciência ainda não conseguiu entender todos os processos que ocorrem nele, apenas indicadores relacionados a solos saudáveis e que permitem às plantas atingirem altas produtividades.

De forma geral, a qualidade do solo depende de seus próprios atributos, mas também das práticas de uso e manejo, além de interações com o ecossistema. Saber a classificação do solo também é essencial para determinar a qualidade.

As plantas se relacionam com os solos através das raízes e são capazes de selecionar microrganismos no entorno do sistema radicular a fim de auxiliar no seu desenvolvimento e na obtenção de nutrientes por exemplo.

Mas para as relações biológicas acontecerem, plantas e microrganismos precisam de um ambiente química e fisicamente favoráveis.

A seguir vamos falar sobre cada um desses pontos com mais detalhes. 

Qualidade química do solo

Os indicadores da qualidade química do solo são os mais frequentemente utilizados e o que você deve estar mais acostumado.

Normalmente, a atenção maior é dada ao pH do solo e ao teor de macro e micronutrientes. Entretanto, existem alguns outros indicadores extremamente importantes nas análises de solo.

Um deles é o teor de alumínio. Esse elemento é extremamente tóxico para as plantas na sua forma solúvel, inibindo o crescimento radicular. A calagem e o uso de gesso são técnicas já consolidadas para controlar o alumínio no solo.

Outro indicador importante é a CTC do solo. Ela diz qual é a capacidade de nutrientes que o solo pode reter sem sofrer perdas por lixiviação. A CTC dos solos brasileiros está intimamente ligada com outro indicador que também se relaciona com a parte física e biológica: o teor de matéria orgânica.

gráfico com a relação entre o teor de matéria orgânica do solo (MO) e a capacidade de troca de cátions do solo (CTC)

Relação entre o teor de matéria orgânica do solo (MO) e a capacidade de troca de cátions do solo (CTC)
(Fonte: Barbosa, 2017)

A matéria orgânica tem uma altíssima CTC e, quanto maior seu teor no solo, maior a capacidade desse solo reter os nutrientes aplicados. 

Para aumentar a quantidade de matéria orgânica, o jeito é só adicionando material vegetal de decomposição lenta ao solo, ou seja, culturas de cobertura e, principalmente, gramíneas.

Qualidade física do solo

Continuando no assunto matéria orgânica, ela influencia a qualidade física do solo também, melhorando indicadores como: densidade do solo, porosidade e estabilidade dos agregados.

Todos os indicadores da qualidade física do solo têm como objetivo garantir que a planta tenha acesso à água e oxigênio para se desenvolver.

Para crescer, as raízes precisam de um solo que apresente baixa resistência, ou seja, que não esteja compactado.

O problema da compactação

A compactação destrói os poros do solo, que é por onde a água e o ar passam. Dessa forma, um solo compactado inibe o crescimento profundo do sistema radicular, não permitindo que as plantas acessem a água contida nas camadas mais profundas.

Esse problema se torna mais visível em anos com veranicos ou secas prolongadas. As plantas com o sistema radicular profundo conseguem se sair melhor nesses períodos e têm sua produtividade menos afetada por esses eventos climáticos.

O plantio convencional (com arado e grade) parece melhorar as condições físicas do solo em um primeiro momento. 

Contudo, esses implementos quebram os agregados do solo, fazendo com que, após as primeiras chuvas, os poros do solo sejam obstruídos. Isso causa uma camada compactada abaixo de onde esses implementos passam. Essa camada de impedimento físico irá limitar a profundidade do sistema radicular.

Mas aí você pensa: é só usar um subsolador. Infelizmente essa solução é provisória.

O processo de subsolagem faz o mesmo trabalho do arado e da grade, mas em profundidade. Ele quebra a compactação, mas quebra os agregados também, fazendo com que, após alguns meses, as partículas se “assentem” novamente e formem uma nova camada de impedimento.

qualidade do solo

Resistência à penetração do solo; A) 6 meses após a implantação dos tratamentos; B) 18 meses após a implantação dos tratamentos.  DMS – diferença mínima significativa.
(Fonte: Piccin, 2020)

Para evitar esse problema, o melhor é utilizar culturas de cobertura com um sistema radicular amplo e agressivo. Dessa forma, após a subsolagem, as raízes irão estruturar o solo, impedindo que uma nova camada de compactação se forme, além de incorporar matéria orgânica ao solo.

Qualidade biológica do solo

A cobertura do solo e a matéria orgânica estão intimamente relacionadas com a qualidade biológica do solo.

Os microrganismos do solo são os responsáveis pela ciclagem de nutrientes, tornando-os disponíveis para as plantas.

Um caso muito conhecido é o da fixação biológica de nitrogênio (FBN) na soja. Os microrganismos fixadores conseguem suprir uma boa parte do nitrogênio requerido pela planta (50%-70%).

gráfico que mostra Nitrogênio derivado da atmosfera (FBN) ao longo do ciclo da soja

Nitrogênio derivado da atmosfera (FBN) ao longo do ciclo da soja
(Fonte: Zambon, 2020)

Dessa forma, principalmente em lavouras de altas produtividades (acima de 4 toneladas), quem fornece o restante de nitrogênio demandando pela planta é o solo, através dos microrganismos.

Eles irão mineralizar a matéria orgânica, fornecendo nitrogênio para o ambiente do solo. Isso mostra como é de vital importância a qualidade biológica dos solos.

Para se atentar a isso, utilizam-se alguns indicadores como:

  • presença de minhocas e insetos;
  • massa microbiana;
  • taxa de respiração do solo;
  • algumas enzimas específicas (que permitem verificar a existência de organismos que podem aumentar a disponibilidade de fósforo, por exemplo).

Outro indicador visual é a cor do solo. A matéria orgânica tende a “tingir” os solos com tons de marrom escuro, principalmente na superfície.

cálculo de calagem Aegro

Conclusão

A qualidade do solo pode ser acompanhada com diversos indicadores que ajudam a escolher o manejo necessário para sanar possíveis problemas.

Você deve sempre se atentar a esses indicadores, pois eles mostram, com antecedência, de onde o prejuízo pode vir.

Acompanhar a análise química do solo é essencial, mas não é tudo! É preciso considerar os indicadores físicos e biológicos do solo.

Não pense que para isso são necessárias análises caras e complexas: o olho de quem está todo dia no campo consegue perceber esses problemas!

Não são necessárias mais que algumas “cavucadas” para notar um possível problema de compactação na subsuperfície do solo ou a falta de “vida”, como minhocas e insetos.

Então, não há desculpas! Atente-se à qualidade do solo para garantir que ele possa oferecer o ambiente ótimo para o potencial produtivo da lavoura. 

>> Leia mais:

“Como melhorar a qualidade do solo com o terraceamento”

“Como analisar o DNA do solo pode te ajudar a prevenir problemas e fazer um manejo mais efetivo da lavoura

“Como a agricultura regenerativa pode te dar bons resultados a longo prazo”

“O que é e por que investir na análise microbiológica do solo”

Como está a qualidade do solo em sua propriedade? Restou alguma dúvida? Deixe seu comentário!

Entenda a importância da área de refúgio na lavoura

Área de refúgio: saiba como adotar em sua fazenda e tire também suas dúvidas sobre a tecnologia Bt

As pragas agrícolas são um dos principais limitantes produtivos da lavoura, podendo causar perdas de até 40% na produtividade.

Nas últimas décadas, a tecnologia Bt deu uma grande reviravolta no combate “pragas x  culturas agrícolas”. Mas essa tecnologia corre risco.

Atualmente, 86% das áreas plantadas com grãos e cereais correspondem a culturas já comercializadas com a tecnologia Bt e requerem o plantio de áreas de refúgio por lei. E negligenciá-las pode custar caro no futuro.

Entenda neste artigo a importância da área de refúgio, a tecnologia Bt e como preservar essa importante “arma” no combate às pragas!

O que são áreas de refúgio?

A área de refúgio nada mais é que uma área do talhão, cultivado com culturas com tecnologia Bt, semeada com sementes convencionais. Elas devem ser localizadas a uma distância máxima de 800 metros da lavoura com tecnologia Bt.

Essas áreas garantem que as pragas resistentes que surjam na lavoura Bt possam cruzar com os insetos suscetíveis às proteínas, gerando uma nova geração sem indivíduos resistentes.

É importante ter em mente que, nos primeiros anos da adoção das plantas Bt, o controle das pragas é eficiente. 

Mas, conforme as safras passam, a eficiência do controle diminui exatamente pelo rápido aparecimento de insetos resistentes.

O uso de cultivares convencionais de ciclo parecido com as melhoradas geneticamente é importante também. Isso garante que as pragas estarão presentes nas duas áreas ao mesmo tempo.

O uso das áreas de refúgio é essencial para manter a eficiência e os benefícios da tecnologia Bt.

O importante é sempre distribuir as áreas de refúgio de maneira uniforme, sendo em faixas, bordaduras ou blocos, permitindo que as pragas das duas áreas se encontrem e cruzem entre si.

ilustração com diferentes modelos para adoção da área de refúgio na fazenda

Diferentes modelos para adoção da área de refúgio na fazenda
(Fonte: Corteva)

É importante saber que o percentual da área de refúgio muda entre as espécies. O indicado é manter em 10% para o milho e 20% para a soja, algodão e cana.

Quanto ao manejo da área de refúgio, deve ser realizado de forma semelhante ao restante da lavoura (exceto pelo uso das sementes Bt), evitando o uso excessivo de aplicações de inseticidas, a fim de garantir o cruzamento dos insetos resistentes com os vulneráveis.

A seguir, vou explicar a evolução das plantas com tecnologia Bt e a resistência das pragas agrícolas a ela.

O que é a tecnologia Bt?

O termo Bt se refere ao nome científico da bactéria Bacillus thuringiensis, que é um microrganismo encontrado naturalmente no solo. 

Essa bactéria produz cristais de proteína que apresentam propriedades tóxicas a muitos insetos agrícolas, principalmente a lagartas (lepidópteros), moscas (dípteros) e besouros (coleópteros).

São conhecidos cerca de 70 grupos dessas toxinas, que são classificadas como “Cry, Vip ou Cyt” e que, após serem isoladas e manipuladas geneticamente, são introduzidas ao DNA das plantas de interesse econômico (como a soja ou o milho).

tabela com proteínas Bt disponíveis no mercado para milho, algodão e soja.

(Fonte: Corteva)

Essas toxinas têm um alto grau de especificidade com as pragas alvo. Isso quer dizer que apresentam um baixo dano ambiental aos demais insetos benéficos à lavoura e ao ambiente.

As proteínas Bt que estão presentes nas plantas melhoradas geneticamente precisam ser ingeridas pelos insetos para que entrem em ação. 

Depois de ingerida, a proteína entra em contato com o sistema digestório do inseto (que apresenta pH alcalino) e são quebradas por enzimas. Só então as toxinas entram em ação, matando os insetos alvo.

Os benefícios dessa tecnologia são enormes, porém, para continuar ganhando a batalha contra as pragas, as plantas Bt precisam de um manejo cuidadoso e atento.

Quais os riscos de não se adotar a área de refúgio na fazenda?

Como eu disse, à medida em que as plantas foram sendo melhoradas geneticamente, as pragas também foram evoluindo para esse combate. E isso continua acontecendo.

As pragas podem se adaptar à tecnologia Bt, tornando-a ineficaz e neutralizando mais uma das “armas” nessa batalha.

Outro problema é que o ritmo de surgimento de novos eventos Bt é lento, demanda anos e anos de pesquisa. 

Por outro lado, a resistência das pragas pode ocorrer em algumas safras.

Então, como para desenvolver a tecnologia é trabalhoso e demorado (mas para as pragas acabarem com ela é rápido), é preciso ajudar a tecnologia Bt para que ela se preserve por mais tempo.

Deste modo, é importante focar em boas práticas como um bom programa de Manejo Integrado de Pragas (MIP) e, principalmente, no manejo de resistência de insetos.

Para isso, é necessário ficar atento ao mecanismo de ação dos inseticidas, não fazendo aplicação de inseticidas formulados à base de Bt. Também é preciso realizar a rotação ao longo das safras, impedindo que surjam insetos resistentes.

Outra prática importante do MIP é realizar um monitoramento rígido das pragas junto com a rotação de culturas.

Entre as práticas, é importante também:

O que é o refúgio no saco?

Além da área de refúgio tradicional, há o refúgio no saco. É uma técnica utilizada por empresas, em alguns estados dos EUA, para garantir a utilização do refúgio pelos produtores.

Essa técnica consiste basicamente em adicionar uma porcentagem de sementes convencionais no saco com sementes melhoradas geneticamente (tecnologia Bt).

Contudo, não foi adotada no Brasil e foi banida de algumas regiões dos EUA por motivos técnicos e burocráticos. 

Os motivos técnicos se referem principalmente à eficácia da técnica de refúgio no saco ou RIB em inglês (Refuge in a bag). 

As pesquisas ainda mostram resultados muito contrastantes sobre o refúgio no saco realmente precaver o surgimento de pragas resistentes em longo prazo.

Isso se deve principalmente pela mobilidade das pragas. Insetos que têm o hábito de se deslocar entre plantas apresentam um alto risco para o surgimento de indivíduos resistentes.

E esse tipo de praga é ainda mais comum entre as plantas de soja e algodão, o que inviabiliza, em longo prazo, o uso da técnica de refúgio no saco para essas culturas.

No caso do milho e do algodão, que apresentam em maior ou menor grau polinização cruzada, existe mais um problema. O material genético das plantas Bt podem “infectar” as plantas convencionais, o que pode acelerar o surgimento de pragas resistentes.

Já os problemas burocráticos se devem a como seria fixado um valor ao saco, já que uma quantidade de sementes ali não apresenta a tecnologia Bt, e como seria feita a diferenciação das sementes, já que é uma norma presente na legislação brasileira.

Resumindo, a técnica do refúgio no saco, apesar de ter potencial, ainda apresenta alguns entraves técnicos e burocráticos, que só devem ser solucionados pela ciência no futuro. 

Então a maneira legal e mais eficaz ainda é adotar uma área específica para o refúgio!

Conclusão

A tecnologia Bt é uma poderosa arma no combate às pragas, mas, sozinha, tem prazo de validade.

Principalmente na soja, o número de eventos Bt é limitado ainda, e um possível abandono das práticas de MIP e a não adoção da área de refúgio podem matar a tecnologia ainda no início.

Já vimos esse problema acontecer com as lavouras de milho. As sementes Bt foram ganhando cada vez mais pragas resistentes e perdendo sua eficácia. Por essa razão é que devemos adotar o plantio da área de refúgio.

A área de refúgio ajuda a garantir o futuro das nossas lavouras e as altas produtividades do agronegócio brasileiro! 

Restou alguma dúvida sobre a área de refúgio? Como você faz hoje em sua propriedade? Deixe seu comentário!

Por que realizar a cobertura de solo no inverno

Cobertura de solo no inverno: como escolher a melhor cultura para sua lavoura e as opções que podem ser utilizadas nas diferentes regiões agrícolas

O Brasil é o quinto maior país do mundo, com uma extensão superior a 8,5 milhões de quilômetros quadrados.

Com todo esse tamanho, o potencial agricultável do país é imenso! Mas para atingir todo esse potencial precisamos de uma série de cuidados, a começar pelo solo e pela água.

Garantir uma boa cobertura de solo permite usar toda sua capacidade de armazenamento, favorecendo a lavoura principalmente em tempos de seca.

E por que você deve fazer a cobertura de solo no inverno? Quais as melhores culturas para isso? Entenda a seguir:

Cobertura de solo no inverno: por quê?

A cobertura do solo é essencial na agricultura brasileira. Ela ajuda a diminuir as perdas de água por evaporação e também a conter a erosão, aumentando o percentual hídrico nos poros dos solos.

Mas as plantas cultivadas na safra de verão não fornecem palha em quantidade suficiente para uma cobertura efetiva. Portanto, uma ótima saída é fazer a cobertura de solo no inverno (clima subtropical) ou outono (clima tropical).

Não existe uma única cultura ou melhor espécie a ser escolhida. É preciso considerar uma série de fatores, como vou explicar mais adiante neste texto.

Mas, antes, quero que você entenda melhor alguns pontos sobre o solo e sobre a importância da água para atingir uma alta produtividade!

Solo e água

O solo é constituído de partículas de diferentes tamanhos. Nós as classificamos como:

  • argila (para as partículas pequenas);
  • silte (para as partículas médias);
  • areia (para as partículas grandes).

Essas partículas se juntam para formar o solo e os espaços entre os “aglomerados” de partículas são os chamados poros do solo.

A água fica retida exatamente nesses poros sendo que, quanto menor o poro, mais fortemente a água ficará retida e mais difícil será ela escorrer até o lençol freático.

Pois bem! A quantidade de poros grandes ou pequenos (macro e microporos) está relacionada com a quantidade de cada uma das partículas e de matéria orgânica que compõe o solo.

Tente imaginar uma caixa d’água cheia de bolas de futebol e uma cheia de bolinhas de pingue-pongue. Os espaços existentes entre as bolas de futebol são grandes enquanto que as bolinhas de pingue-pongue deixam pequenos espaços entre si.

Assim funciona nos solos arenosos, que apresentam uma grande quantidade de macroporos (grandes espaços), e nos solos argilosos, que têm uma infinidade de microporos (espaços pequenos).

Assim, fica claro o motivo de plantas cultivadas em solos arenosos sofrerem mais com o estresse hídrico. 

Esses solos perdem muita água por percolação (quando a água desce no solo até o lençol freático) se comparado a solos mais argilosos.

Agora que entendemos onde está a água do solo, vamos ver como ela se perde.

Perdas de água no solo

A água chega até o solo através das chuvas ou pela irrigação. Quando entra em contato com o solo, a água tem basicamente dois caminhos: infiltrar-se no solo ou escorrer pela superfície.

O que irá ditar quanto de água irá para cada caminho é o relevo (quanto mais inclinado, maior o escorrimento superficial) e a cobertura do solo.

Nesse primeiro momento, até 30% da água pode ser perdida por escorrimento superficial e não ficará disponível para as plantas do local.

A parcela da água que se infiltra no solo preencherá os macros e microporos (como visto antes) e estará disponível para as plantas.

Uma grande parte da água do solo (20% a 40%) é perdida por evaporação. Essa água, diferente da que é absorvida e transpirada pelas plantas, é uma perda que não gera produção.

Ilustração de sistema solo-planta-atmosfera

Sistema solo-planta-atmosfera
(Fonte: Esalq)

Como sabemos, a água é essencial para a produção agrícola e, perdê-la em vão, sem que ela sequer auxilie no ciclo da lavoura, pode ser um grande prejuízo. 

Importância de se fazer a cobertura de solo no inverno

O principal manejo que podemos adotar para impedir a perda de água por evaporação é cobrir o solo.

E como eu já expliquei anteriormente, as plantas cultivadas na safra de verão não fornecem palha nas quantidades necessárias para uma cobertura efetiva do solo.

Gráfico sobre a perda diária de água por evaporação em plantio convencional (PC) e plantio direto com 0,3 e 6 toneladas de palha por hectare (PD 0, PD 3 e PD 6 respectivamente).

Perda diária de água por evaporação em plantio convencional (PC) e plantio direto com 0,3 e 6 toneladas de palha por hectare (PD 0, PD 3 e PD 6 respectivamente).
(Fonte: Andrade, 2008)

Dessa forma, as safras de outono (clima tropical) ou de inverno (clima subtropical) são uma ótima saída para o cultivo de culturas de cobertura.

Não existe uma única cultura de cobertura que se adeque a todas as situações. A temperatura, o regime de chuvas e as culturas semeadas em sucessão determinarão a melhor espécie a ser escolhida.

Como regra geral, as culturas de cobertura devem apresentar:

  • fácil estabelecimento;
  • rápido crescimento; e 
  • proporcionar uma boa cobertura do solo. 

Outro fator a se considerar são as doenças e pragas potenciais da espécie e se elas atacam a cultura principal. 

De modo geral, o recomendado é optar por gramíneas em sucessão a leguminosas como a soja. 

Opções de culturas para cobertura do solo no inverno

Nas regiões tropicais do Centro-Oeste, a cultura do milheto é uma ótima opção, juntamente com o consórcio entre milho com forrageiras tropicais como as braquiárias.

Em regiões de maior déficit hídrico no Centro-Oeste, a cultura do sorgo pode ser uma opção mais viável para a segunda safra (consorciado ou em monocultivo).

Nas regiões subtropicais, a aveia tem sido uma das principais plantas de cobertura de inverno adotadas na região sul do Brasil, acompanhada do azevém e do centeio.

O que determina quando utilizar cada uma é a temperatura da região. 

A aveia é extremamente suscetível a geadas, enquanto o centeio é uma opção mais segura em regiões de baixas temperaturas no inverno. 

Essas plantas têm algo em comum: são todas gramíneas. Como já expliquei neste texto sobre plantio direto na palha, as gramíneas fornecem uma palha mais resistente à decomposição e que permanece por mais tempo cobrindo o solo.

Diferente das leguminosas (utilizadas na adubação verde), como o feijão guandu, a ervilhaca, etc., as gramíneas apresentam alta relação entre carbono e nitrogênio (C/N). Isso torna a decomposição do material mais lenta.

A safra de verão

No início do período das chuvas, a água volta a molhar o solo. Mas quando cai em solo descoberto, as gotas d’água irão “quebrar” os aglomerados de partículas que compõem o solo.

Quando ocorre a quebra desses aglomerados, a água que escorre leva junto com ela as partículas mais leves (argilas). E assim acontece a tão famosa erosão do solo.

A cobertura do solo com palha ajuda não só a diminuir as perdas de água por evaporação como também auxilia a conter a erosão e aumentar o percentual de água infiltrada nos poros do solo.

Na figura abaixo podemos ver como a taxa de infiltração no sistema plantio direto se mantém alta ao longo do tempo. 

Isso ocorre devido à proteção que a palha fornece contra o impacto das gotas de chuva, que perdem energia potencial, e pela infinidade de poros que as raízes das plantas de cobertura abrem no solo.

No preparo convencional há a quebra da continuidade desses poros. A camada revolvida fica mais porosa em um primeiro momento, mas, com as chuvas, a água destrói os aglomerados do solo e as partículas menores cimentam os poros.

Dessa forma, quando se utiliza o preparo convencional, está se limitando a capacidade de armazenamento de água do solo praticamente apenas à camada arável.

Imagine um perfil de um latossolo (o mais frequente no brasil) chegando facilmente entre 2 m e 3 metros de profundidade, sendo utilizado apenas nos primeiros 20 cm da camada superficial. Ou seja, um grande desperdício. 

Gráfico da taxa de infiltração de água (TI) em diferentes preparos de solo ao longo do tempo

Taxa de infiltração de água (TI) em diferentes preparos de solo ao longo do tempo
(Fonte: Leite, 2007)

e-book culturas de inverno Aegro

Conclusão

A cobertura do solo permite utilizar toda sua capacidade de armazenamento, o que favorece a lavoura. E essa diferença é sentida principalmente nos períodos de veranicos e de secas.

Neste artigo você viu que, antes de pensar na adubação ou em correção de solo, vale atentar-se à água. Ela é o principal fator limitante de produção, mas frequentemente é deixada de lado.

Nem sempre é preciso buscar soluções em novos produtos: adote novas práticas! A cobertura do solo é essencial na agricultura brasileira e permite aproveitar da melhor forma o ciclo das chuvas

Como muitos dizem: “uma boa safra começa na entressafra”!

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Integração lavoura-pecuária: como implementar e tirar o melhor proveito

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Restou alguma dúvida sobre a cobertura de solo no inverno? Quais as culturas que você utiliza? Adoraria ler seu comentário!

Manejos essenciais em cada um dos estádios fenológicos do feijão

Estádios fenológicos do feijão: confira o que fazer em cada fase de cultivo para alcançar alta produtividade deste grão.

Erros de manejo são um problema para qualquer lavoura – mas o prejuízo é muito maior quando se trata de uma cultura com ciclo curto, como o feijão.

Além disso, o cultivo é tido como um dos mais arriscados pela grande flutuação de preços no mercado.

Por isso, preparamos este artigo com tudo que você precisa saber a respeito dos estádios fenológicos do feijoeiro para garantir o melhor manejo, produtividade e lucro com sua lavoura. Confira a seguir!

Importância do feijão

O feijão é uma das bases da alimentação do brasileiro, acumulando quase 3 milhões de hectares semeados na safra 2019/20.

Como é uma planta de ciclo curto, o feijoeiro pode ser comumente semeado em três épocas aqui no Brasil: safra de verão, segunda safra (outono) e safra de inverno.

Na safra deste ano, a estimativa é produzir 3,1 milhões de toneladas do grão, sendo que as maiores produtividades ficam para as safras de inverno (1,3 ton/ha) seguida das safras de verão (1,2 ton/ha) e da safra de outono (0,8 ton/ha).

Todos os estádios fenológicos do feijão

O ciclo de vida das plantas pode ser dividido de acordo com as fases de crescimento delas. A divisão mais simples é entre a fase vegetativa e reprodutiva da planta.

Na fase vegetativa podemos dizer que as plantas são “jovens”: elas ainda não atingiram a maturidade reprodutiva, mas estão se preparando para ela, produzindo folhas e raízes

Desta forma, todo a energia produzida vai para garantir uma maior capacidade de gerar energia no futuro. Isso acontece porque a planta logo entrará na fase reprodutiva e então terá de arcar com mais um custo energético, que são os grãos (no caso do feijão). E, para produzi-los, a planta precisa de muita energia! 

Estádios fenológicos do feijão

Escala fenológica do feijoeiro
(Fonte: Embrapa, 2018)

Existem quatro tipos de feijoeiro, divididos de acordo com o hábito de crescimento. Veja:

  • Tipo 1

Tem crescimento ereto e determinado, ou seja, quando entra na fase reprodutiva ele cessa por completo a fase vegetativa.

  • Tipos 2, 3 e 4

Têm crescimento indeterminado e, quando entram na fase reprodutiva, continuarão vegetando e emitindo novas folhas.

Os tipos de crescimento indeterminado variam o quanto irão vegetar após a planta entrar na fase reprodutiva, variando assim a duração do ciclo e a uniformidade da produção.

Variação do ciclo do feijoeiro em diferentes cultivares
(Fonte: CIAT, 1985)

No tipo 4, por exemplo, de crescimento trepador, a planta continua produzindo vagens e folhas por um longo período. Se por um lado a planta pode se recuperar de erros de manejo, por outro, isso torna a produção desuniforme.

A seguir, vou explicar melhor os estádios fenológicos do feijão (fases vegetativa e reprodutiva) e qual a importância no manejo da lavoura.

Estádios vegetativos na escala fenológica do feijoeiro

V0 – Germinação

Começa com a absorção de água pela semente, iniciando o processo de germinação. 

Nesta fase, a lavoura está mais suscetível a pragas como a lagarta-rosca, a larva das sementes, gorgulho-do-solo e larva-alfinete, que atacam diretamente as sementes.

Quanto a doenças, é importante se precaver contra as podridões radiculares com um bom tratamento de sementes, visando fungos e insetos.

Nesse estádio, a lavoura é muito sensível ao estresse hídrico, requerendo 1,3 mm de lâmina d’água diariamente em média. 

V1 – Emergência

Começa com a aparição dos cotilédones até a abertura das folhas primárias (folhas cotiledonares/simples).

O foco de manejo aqui ainda são as pragas que atacam sementes e plântulas e as podridões-radiculares. 

Um bom tratamento de sementes garante que a lavoura passe por esta fase ilesa e saudável. 

V2 – Folhas Primárias

Essa fase se inicia com a abertura das folhas primárias e termina com a abertura da primeira folha trifoliolada

Aqui começam os cuidados com pragas desfolhadoras e sugadoras/raspadoras, que podem atacar a planta até o final do enchimento de grãos (R8).

Nesta fase, o cuidado deve ser redobrado, pois as plantas apresentam pouca área foliar que, se comprometida, pode prejudicar severamente a produtividade.

O foco aqui deve ser as vaquinhas, que podem atacar os meristemas apicais, além da mosca-branca que, apesar de apresentar dano direto baixo, transmite o vírus do mosaico dourado do feijoeiro.

Deste estádio até V4, a cobertura do solo por palha reduz em até 30% a evapotranspiração da lavoura, reduzindo a demanda por água.

V3 – Primeira folha composta aberta

Começa com a abertura da primeira folha trifoliolada (composta) e termina com a abertura da terceira folha.

Da fase V3 a R8, as plantas ficam suscetíveis a ataques de nematoides como o Meloidogyne incognita e javanica, além do famoso P. brachyurus

É importante ficar de olho nas pragas sugadoras, que afetam grande parte do ciclo da cultura, como a cigarrinha-verde, o ácaro-rajado a tripés e o ácaro-branco.

Pragas desfolhadoras como os minadores, as lagartas enroladeira das folhas e a cabeça de fósforo também podem causar grande dano nesse momento.

Em estádios mais avançados, o feijoeiro pode tolerar até 30% de desfolha, mas, como vimos aqui, nos estádios iniciais, essas pragas podem comprometer seriamente a produtividade.

V4 – Terceira folha composta aberta

Inicia-se com a abertura completa da terceira folha trifoliolada.

Esta fase é menor nos feijoeiros de crescimento determinado e maior nos de crescimento indeterminado. 

Aqui começam os ataques de pragas dos caules, como a broca-das-axilas e o bicudo-da-soja.

As principais doenças para iniciar o controle de infestação nessa fase são a antracnose, o mosaico-dourado, o mosqueado-suave e a mela.

Durante esta fase, a planta apresenta uma área foliar maior, o que irá demandar mais água, sendo aqui um dos picos de consumo, com uma média de 56 mm (ao todo) durante a fase.

No início desta fase é recomendado verificar a nodulação das plantas, sendo que, se forem menor que 15 nódulos/planta, é recomendado entrar com adubação nitrogenada de cobertura.

Também é nesta etapa que se inicia o período crítico de prevenção de interferência. De V4 até R6, a lavoura pode sofrer grandes perdas de produção devido à presença de plantas daninhas.

Então, é fundamental realizar o controle de daninhas nesse período para garantir altas produtividades. 

Ainda que esta seja a fase ideal para o controle, o acompanhamento da infestação deve ser feito desde o início do ciclo da cultura, pois caso haja plantas daninhas mais desenvolvidas neste momento, isso iria diminuir o efeito dos herbicidas de controle.

Estádios reprodutivos do feijoeiro

R5 – Pré-floração

Começa com o surgimento dos primeiros botões florais. Desta fase até R7 há outro pico de demanda hídrica do feijoeiro.

Efeito da deficiência hídrica nos diversos estádios de desenvolvimento do feijoeiro sobre a produtividade relativa

Efeito da deficiência hídrica nos diversos estádios de desenvolvimento do feijoeiro sobre a produtividade relativa
(Fonte: Embrapa, 2018)

Os botões florais e as flores são extremamente sensíveis ao clima. Temperaturas maiores que 35℃ e menores que 12℃ podem provocar abortamento das flores.

A época de semeadura deve ser alocada de maneira que a floração ocorra, preferencialmente, com uma temperatura média do ar de 21℃.

A partir desta fase o feijoeiro fica mais suscetível à murcha do fusarium, à ferrugem, ao oídio e à mancha-angular.

O mofo-branco começa sua ocorrência também no início da fase reprodutiva, sendo essencial o controle de infestação dessas doenças.

R6 – Floração

Ocorre quando a planta apresenta pelo menos 50% das flores abertas. Nesta fase, pragas da vagem são a maior preocupação.

Percevejos em geral, lagarta das vagens e a helicoverpa podem ser um problema nesse estádio fenológico.

Nessa época termina o período crítico de prevenção da interferência das plantas daninhas, sendo que, de V4 até aqui (R6), é importante que haja um controle efetivo com herbicidas.

Efeito do controle de daninhas nos diversos estádios de desenvolvimento do feijoeiro sobre a produtividade

Efeito do controle de daninhas nos diversos estádios de desenvolvimento do feijoeiro sobre a produtividade
(Fonte: Kozlowski, 2002)

R7 – Formação das vagens

Neste estádio ocorre a murcha das flores e a formação das primeiras vagens, que irão definir o crescimento em comprimento.

Deficiência hídrica nesta fase induz à queda das vagens novas (canivetinhos) e prejudica a formação de grãos nas vagens, podendo representar perdas de até 68% na produtividade. 

estádios fenológicos de feijão

(Fonte: Embrapa)

R8 – Enchimento das vagens

Esta fase se inicia com o enchimento dos grãos e, consequentemente, do aumento das vagens em volume. 

Ao final desta fase, os grãos perdem a cor verde e mostram as cores características da cultivar.

Inicia-se a queda das folhas, sendo que esse é o momento ideal para a dessecação visando uniformizar e padronizar os grãos.

R9 – Maturação 

Nesta fase as vagens já estão secas e adquirem cor e brilho. Aqui é importante se atentar à aparição de carunchos que prejudicam e desvalorizam o produto durante o armazenamento.

Um dos grandes inimigos climáticos nesse estádio é a chuva, que pode depreciar a qualidade dos grãos e atrasar a colheita. Quando isso ocorre, pode se tornar um problema para a semeadura da próxima safra.

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Conclusão

Conhecer bem os estádios fenológicos do feijão é extremamente importante no manejo da lavoura, já que a partir deles programamos os tratos culturais necessários.

Neste artigo falamos sobre diversas pragas e doenças que, junto com fatores climáticos, podem prejudicar a produtividade do feijão.

Esse é um dos motivos da cultura ser vista como arriscada. Mas, com conhecimento do ciclo da planta, você poderá diminuir os riscos da lavoura para alcançar lucros ao final da safra!

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Em quais estádios fenológicos do feijão você tem mais dificuldade de manejo? Restou alguma dúvida? Deixe seu comentário abaixo!

Quando e como usar as forrageiras em seu sistema de produção

Forrageiras: como fazer a semeadura, impacto na produtividade, principais espécies e mais!

O uso de forrageiras vem avançando no país, com produtores mais atentos aos benefícios dessas plantas para o sistema de produção.

Além de protegerem o solo e fornecer palha para o plantio direto, as forrageiras também ajudam a elevar a produtividade da lavoura. E isso, claro, traz reflexos à rentabilidade da fazenda!

Neste artigo, vou falar melhor sobre a cobertura do solo com forrageiras, como e quando utilizá-las. Confira a seguir!

O que são e como fazer a cobertura do solo com forrageiras

As forrageiras são plantas que têm como propósito proteger o solo, fornecer palha para o plantio direto e alimento para o consumo animal, podendo ser gramíneas ou leguminosas. No caso da alimentação animal, podem ser plantadas para pastagem ou colhida para ser servida como alimento posteriormente, como feno e silagem, por exemplo. 

Mas, para entendermos o impacto dessas culturas de cobertura nos nossos sistemas de produção, antes precisamos entender alguns pontos… Vamos lá! 

A agricultura em nosso país acontece basicamente em dois climas: tropical e subtropical

O clima subtropical está presente na região Sul e em parte do estado de São Paulo. Esse clima apresenta verões quentes e invernos mais frios, com chuvas mais bem distribuídas e, consequentemente, estações secas menos severas.

Já o clima tropical ocorre na maior parte do Brasil, pegando todo o Centro-Oeste, Norte, Nordeste e boa parte do Sudeste.

Ele tem como principais características verões quentes e chuvosos e invernos secos, com poucas diferenças de temperatura.

O clima tropical apresenta dois problemas para o uso do solo como agricultura: 

  1. Falta de água durante parte do ano, inviabilizando lavouras de sequeiro nesse período;
  2. Chuvas torrenciais, concentradas numa época do ano.

O primeiro problema é bem lógico e já conseguimos contorná-lo (de certa forma) com a segunda safra. 

Quanto ao segundo ponto, o problema é que as chuvas torrenciais têm alto potencial erosivo. E a única proteção contra erosão é o solo estar coberto.

Mas aí temos um terceiro problema: cobrir o solo num clima tropical é extremamente difícil.

Acredito que todos que trabalham nas antigas ou novas fronteiras agrícolas sabem como a palha “derrete” rapidamente no solo.

Isso acontece porque quando começa a estação das águas, a combinação de umidade e altas temperaturas são um “prato cheio” para os microrganismos do solo. Eles, literalmente, “devoram” a palha.

E em pouco tempo o solo está descoberto e sendo cultivado para a nova safra, o que gera uma combinação bem problemática.

Cobertura e proteção do solo

Uma planta precisa de basicamente três coisas para se desenvolver: luz, água e nutrientes, sendo os dois últimos adquiridos do solo. Daí já conseguimos ver a importância do solo para nosso sistema de produção.

A água retida no solo é perdida por transpiração (água que passa pela planta) e por evaporação (água perdida diretamente do solo para a atmosfera). A palha das forrageiras diminui a água perdida por evaporação, ou seja, água que sai do sistema sem “produzir”.

Outro objetivo de se manter o solo coberto é diminuir o impacto das gotas de chuva que desagregam o solo e, quando escorrem, levam essas partículas embora (erosão).

As partículas superficiais do solo perdidas pela erosão são valiosas, pois nelas estão a maior parte dos nutrientes. Se compramos e aplicamos nutrientes ao solo, eles são perdidos: é, literalmente, jogar dinheiro fora!

Gráfico mostra detalhes da extração de nutrientes
Extração total de N, P, K, Ca, Mg e S, em kg ha-1, alteradas pela quantidade de palha na superfície
(Fonte: Sá et al, 2010)

Note na figura acima que, quanto mais palha sobre o solo, maior a quantidade de nutrientes que a planta consegue absorver.

Dessa forma, sabemos que o adubo aplicado será melhor aproveitado e não perdido pela enxurrada das chuvas de verão.

Outro ponto importante são as características físicas do solo. A cobertura da palha propicia um ambiente que melhora o desenvolvimento das raízes, prevenindo a compactação do solo.

Podemos ver na figura abaixo como a presença da palha sobre o solo aumentou o comprimento das raízes das plantas de aveia. Isso ajudou na captação de água pela planta e na extração de nutrientes.

Como e quando usar forrageiras

Para tornar o uso de forrageiras e culturas de cobertura economicamente viáveis, existem duas formas: 

  1. Semeando as forrageiras na segunda safra (clima tropical) ou na safra de inverno (nas regiões de clima subtropical).

Assim, garantimos a safra de maior renda no verão e também a presença de palha protegendo o solo no início das chuvas e do próximo ciclo de cultivo.

  1. Através do consórcio das forrageiras com culturas como milho, sorgo, arroz e até mesmo soja.

Bom, para quem lê isso pela primeira vez pode até parecer loucura, mas já abordei esse assunto neste post do Lavoura 10

A essência do consórcio é que duas culturas subsistam no mesmo local durante alguma etapa dos seus ciclos de vida.

No caso da soja, o consórcio normalmente é feito usando a sobressemeadura das forrageiras no final do ciclo do grão, mais precisamente entre as fases R5 e R6. 

Isso permite as forrageiras emergirem antes da colheita da soja e aproveitarem as últimas chuvas e as temperaturas mais propícias do final da safra.

Nas regiões que propiciam uma segunda safra de milho ou até mesmo sorgo, as forrageiras podem ser incluídas no sistema de forma consorciada com essas culturas.

Semeadura de forrageiras

Normalmente, a semeadura das forrageiras é feita em linha (mais profunda, na caixa de adubo) ou a lanço, no mesmo momento da semeadura da cultura de milho ou sorgo, ou na realização da adubação de cobertura.

Rendimento de grãos em cultivares de milho safrinha sob monocultivo e em consorciação com forrageiras
(Fonte: adaptado de Jakelaitis et al, 2010)

E, como podemos ver na figura acima, a diferença entre a produtividade de milho solteiro ou em consórcio é mínima e muitas vezes inexistente. Isso viabiliza economicamente o consórcio, já que há redução nos custos de implantação da forrageira.

Principais forrageiras

diversas espécies forrageiras e cada uma delas pode se encaixar melhor no sistema de produção da sua propriedade.

Braquiárias

As braquiárias são as principais plantas forrageiras atualmente no país, principalmente devido à sua adaptabilidade ao clima tropical e ao cerrado.

Entre as espécies do gênero Brachiaria, são destaque a B. ruziziensis, B. brizantha, B. humidicola e B. decumbens.

Aqui no Blog do Aegro temos um post específico sobre quando semear a forrageira, como fazer consórcio e quais espécies são mais recomendadas. Confira: “Principais espécies de brachiaria e como fazer seu manejo.” 

Aveia

Existem diversas cultivares, com diferentes ciclos de produção. A aveia forrageira possui tolerância ao frio e geadas, boa produção de massa verde e boa rusticidade. 

Além de produzir forragem, também pode ser utilizada para produção de palha para o SPD (Sistema de Plantio Direto).

Feijão guandu

O feijão guandu tem sido utilizado por cada vez mais produtores como forrageira para ser ofertada para os animais no inverno (picada, pastejada diretamente, ensilado com milho ou em fardos de feno).

Pode ser consorciado com milho e também com outras forrageiras tropicais, como a braquiária. Em 2010, inclusive, a Embrapa lançou um sistema que consorcia milho, guandu e braquiária: o Sistema Santa Brígida.

Separei alguns outros posts aqui do Blog em que falo mais sobre outras forrageiras e que podem te ajudar a escolher a melhor opção para sua propriedade:

“Culturas de inverno: Como aumentar o rendimento na propriedade”

Adubos verdes: Saiba como cultivar e as características de cada espécie

Divulgação do kit de 5 planilhas para controle da gestão da fazenda

Conclusão

As forrageiras têm se mostrado uma das principais aliadas na agricultura tropical e na implantação de um plantio direto correto, que consiga cumprir o papel de proteção do solo.

Neste artigo, tratamos sobre os benefícios dessas plantas, principais forrageiras e características de semeadura.

O importante é escolher a espécie que melhor se adapta ao seu sistema e começar a proteger o solo, que é literalmente a base do sucesso do Agro brasileiro!

>> Leia mais: O que você precisa saber sobre a cobertura do solo com nabo forrageiro

Quais forrageiras você já utilizou em seu sistema de produção? Restou alguma dúvida sobre o tema? Deixe seu comentário!

Tudo sobre a plantação de aveia: tipos, manejo, colheita e forragem

Plantação de aveia: confira os tipos, além de como realizar o plantio, manejo da cultura, colheita e mais.

A aveia é um cereal de inverno assim como o trigo e a cevada, mas diferentes desses outros, é uma planta mais rústica, apresentando maior resistência a doenças e pragas.

Segundo dados de 2019 da Conab, a aveia conta com uma área de 398 mil hectares, produção anual de 900 mil toneladas e produtividade média de 2,2 toneladas por hectare

Outro ponto positivo é sua tolerância aos solos ácidos e pouco férteis, o que tem contribuído para o aumento da área plantada para cobertura, grãos e forragem no período de inverno. Outra razão para o crescente uso da aveia é o sistema de plantio direto

Veja a seguir, um pouco mais sobre plantação de aveia e seu cultivo no Brasil. Vamos lá?

Plantação de aveia: quais os tipos? 

Existem várias espécies no gênero da aveia (Avena spp.), mas são duas as que se destacam na produção de grãos mundial: a Avena sativa ou aveia branca (80% da área mundial) e a Avena byzantina ou aveia amarela (20% da área). 

Mas, principalmente aqui na América do Sul, outra espécie se destaca: a Avena strigosa ou aveia preta, como é popularmente conhecida. 

Essa espécie de aveia é bem mais rústica que as comumente utilizadas para grão e seu uso é basicamente como cultura de cobertura ou forragem para a alimentação animal.

A aveia teve sua origem lá no Oriente Médio, em locais muito próximos de outros cereais de inverno como o trigo.  Mas seu cultivo só passou a ser explorado muitos anos depois, já que no início, esse vegetal era apenas uma planta daninha da cultura do trigo.

A aveia é uma planta anual, sendo que algumas cultivares podem apresentar rebrota (duplo propósito) e têm um crescimento ereto, variando entre 0,7 e 2 metros de altura.

Além disso, ela tem raízes profundas e fasciculadas, ou seja, não apresenta uma raiz pivotante ou principal.

Como fazer a plantação de aveia?

A aveia é cultivada ao longo do outono e inverno aqui no Brasil por se tratar de uma planta de clima temperado.

Apesar de ser extremamente tolerante quanto ao solo (pH 4,5 a 6 e menor exigência de nutrientes que trigo), o plantio de aveia é bem mais exigente quanto às condições climáticas.

Assim, a temperatura ideal para a semeadura é acima dos 7º C, sendo abaixo de 4º C diminui drasticamente a germinação das sementes.

A época de semeadura varia de 15 de março (para o MS) até 15 de julho (em SC), e a quantidade de sementes entre 200 e 300 por metro quadrado.

LocalPeríodo de Semeadura
Região de Ijuí (RS)15 de maio a 15 de junho
Região de Passo Fundo (RS)15 de maio a 15 de junho
Região dos Campos de Cima da Serra (RS)15 de junho a 15 de julho
Região Sul do Paraná15 de maio a 15 de julho
Regiões Norte e Oeste do Paraná15 de março a 15 de maio
Região de Campos Novos e Lages (SC)15 de junho a 15 de julho
Região do Sul de São Paulo15 de abril a 30 de maio
Região do Mato Grosso do Sul15 de março a 15 de maio

(Fonte: Indicações técnicas para a cultura da aveia, 2014)

No Brasil é recorrente o uso de sementes piratas na semeadura da aveia e essa prática apresenta altos riscos que, muitas vezes, não são contabilizados pelo produtor. 

Entre esses perigos estão a contaminação das sementes por patógenos e pragas, sem contar possíveis sementes de daninhas que podem infestar a área e a baixa germinação que podem apresentar, afetando diretamente a produção.

O perfilhamento está diretamente relacionado com a produtividade da aveia, sendo que ao final do ciclo, os perfilhos mais jovens auxiliam no enchimento de grãos dos mais velhos.

Dessa forma, regiões mais quentes e semeaduras tardias requerem uma quantidade maior de sementes.

A recomendação de espaçamento é entre os 17 e 20 cm entre linhas com uma profundidade de deposição da semente entre 2 e 4 cm.

Manejo da cultura de aveia

A duração do ciclo da cultura de aveia varia entre 120 e 130 dias aqui no Brasil, mas podem chegar de 90 a 180 dias no mundo todo.

O desenvolvimento da aveia é dividido basicamente em quatro etapas: a fase vegetativa, a fase de transição, a fase reprodutiva e a fase de formação dos grãos.

Sendo que após a fase vegetativa (3 a 4 folhas e início do perfilhamento), é quando se inicia o controle químico em pós-emergência das plantas daninhas.

Foto que mostra a evolução da planta de aveia
Desenvolvimento da aveia
(Fonte: Adaptado de Zocks et al (1974))

Os principais herbicidas registrados para a cultura da aveia são o 2,4 D e o metasulfuron, ambos recomendados para o controle de folhas largas.

O controle químico de azevém em campos de aveia ainda não é possível por meio dos herbicidas registrados disponíveis no Brasil.

Já para o manejo de pragas, o mais indicado é o tratamento de sementes (Imidacloprido e Tiodicarbe), que combate duas das principais pragas da aveia, os corós e os afídeos (ou pulgões)

Agora, as principais doenças que afetam a plantação de aveia são a ferrugem das folhas, a qual a aveia branca é mais susceptível, e a ferrugem dos colmos, que não tem grande incidência na região Sul, mas pode ter grande gravidade em condições de alta umidade e temperatura.

Como realizar a colheita de grãos

Na maturação, a plantação de aveia tolera altas temperaturas diurnas, baixas temperaturas noturnas e baixa umidade, permitindo a colheita e evitando a perda de grãos.

Para a produção de sementes, baixas temperaturas durante o desenvolvimento elevam os níveis de dormência das sementes.

Assim, a colheita da aveia deve ser realizada quando os grãos estão em condições de debulha (teor de água abaixo dos 20%) e a planta ainda está de pé.

A regulagem da colhedora é essencial, já que quando descascado, o grão ativa enzimas que causam a rancificação do produto. 

Para o fornecimento industrial, os grãos não devem receber chuvas após a maturação, a fim de evitar que eles adquiram coloração escura.

Vantagens da produção de forragem

A produção de aveia forrageiras possui vantagens como:

  • Tolerância ao frio e geadas;
  • Resistência ao pisoteio;
  • Boa produção de massa verde (alta qualidade);
  • Boa rusticidade;
  • Existência de cultivares com diferentes ciclos de produção.

A aveia forrageira pode ser usada para corte verde, feno, silagem ou ainda pastejo, sendo a altura de entrada entre 25 e 30 cm e a altura de saída dos animais em torno dos 10 cm. 

Para produção de silagem, o ideal é realizar o corte das plantas inteiras com a matéria seca dos grãos entre 30% e 40% (ou seja 60% a 70% de umidade nos grãos).

Para implantar um pasto de aveia forrageira, o indicado é utilizar espaçamento de 17 cm entre linhas e populações com 350 plantas por metro quadrado.

Além de produzir forragem, esse sistema de plantio também pode ser utilizado para a produção de palha para o plantio direto. Sendo que a produção de matéria seca varia entre 3 e 6 toneladas.

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Conclusão 

A plantação de aveia como cultura de cobertura deu início ao sistema de plantio direto, dando a possibilidade de acumular biomassa sobre o solo ao longo do ano para a realização da semeadura na safra de verão.

Mas, apesar disso, o mau manejo pode gerar complicações.

Por isso, é sempre importante realizar o controle adequado da aveia espontânea em outras culturas (tiguera). Isso garante a diminuição de doenças e pragas. 

Portanto, a aveia é uma planta extremamente versátil que pode ser utilizada desde a produção de grão, forragem e cultura de cobertura. Seu uso estratégico ajuda a garantir a força do agro brasileiro.

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