Lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda): como livrar sua lavoura dessa praga

Atualizado em 29 de agosto de 2022.

Lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda): saiba como identificar, quais culturas ela afeta, tipos de monitoramento e mais!

A lagarta Spodoptera frugiperda (ou lagarta-do-cartucho) é uma praga com grande potencial de dano agrícola. Ela é um inseto polífago, que se alimenta de diversas culturas, como milho, soja e algodão. Sua incidência nas lavouras cresce a cada ano.

Ela pertence à ordem Lepidoptera, e é uma espécie de mariposa que possui estágio de vida larval característico. Ela também pode ser conhecida como “armyworm” ou lagarta-militar, já que possui comportamento invasivo e em grande escala.

Além disso, a lagarta-do-cartucho é assim conhecida por atacar o cartucho (parte central) do milho, além de diversas outras partes dessa e de outras plantas.

Confira a seguir como identificar a lagarta-do-cartucho na sua lavoura, quais culturas ataca e quais estratégias e cuidados você deve ter para um controle eficiente. Confira!

Como identificar a lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda)

O ciclo de vida da lagarta-do-cartucho inclui as fases de ovo, seis estágios de larva, pupa e fase adulta. Identificar a lagarta em cada uma dessas fases é essencial para evitar danos e conseguir realizar o controle o quanto antes.

Isso é possível através das características biológicas da lagarta em cada uma das fases do seu ciclo de vida. Veja esses detalhes a seguir:

Fase de ovo

Nessa fase, a lagarta-do-cartucho possui coloração verde-clara, logo após a oviposição pela mariposa. Após 12 horas, o ovo fica alaranjado, e a cor fica escura próximo ao momento da eclosão (em função da coloração da cabeça da lagarta).

Cada fêmea pode ovipositar até 1000 ovos. O período de incubação deles (até a eclosão) é entre 2 a 4 dias, a depender da temperatura (temperaturas mais altas aceleram o processo).

Fotos das ovas da lagarta-do-cartucho
Na imagem A é possível visualizar a cor alaranjada dos ovos de Spodoptera frugiperda 12 horas após a oviposição (postura). Na figura B, os ovos adquirem coloração escura, e é possível observar as lagartas eclodidas.
(Fonte: Da Rosa, Barcelos 2012)

Estágios de larva

A alimentação inicial das lagartas é a partir da casca dos ovos recém eclodidos. No total, ocorrem seis ou sete ínstares na fase larval (aumento do tamanho da lagarta). A duração do período larval é de aproximadamente 23 dias, a depender da temperatura.

Lagarta-do-cartucho sobre folha de milho
Fase larval da lagarta-do-cartucho. Na figura A, é possível observar os 5 principais estágios da fase larval e a coloração das lagartas em cada um deles. Na figura B, é possível visualizar os detalhes da lagarta, com três pares de pernas torácicas e cinco pares de falsas pernas abdominais
(Fonte: Da Rosa, Barcelos 2012)

Fase de pupa

A fase de pupa ocorre após o desenvolvimento completo da lagarta. Ele pode acontecer no solo, dentro do próprio cartucho do milho, no pendão e até mesmo nas espigas (entre a palha). Tem duração entre 6 a 55 dias, também a depender da temperatura.

Pupa da lagarta-militar em folha
O período pupal é bastante dependente da temperatura, no inverno, ou em regiões mais frias, a lagarta pode inclusive hibernar em casulos.
(Fonte: Da Rosa, Barcelos 2012)

Fase adulta (traça ou mariposa)

O aspecto visual da fase adulta é uma mariposa, de coloração cinza-escuro (machos) a marrom acinzentado (fêmeas). Ela tem aproximadamente 4 cm de comprimento.

O tempo para que o ciclo de vida seja completo é menor no verão, com média de 30 dias. Por outro lado, esse ciclo aumenta no inverno, podendo durar até 50 dias.

Quais culturas a lagarta-do-cartucho (ou lagarta-militar) ataca?

A lagarta-do-cartucho do milho, apesar de ser mais frequente na cultura do milho, pode provocar danos significativos em diversas outras culturas. Soja e algodão são atacados desde a emergência, e arroz, trigo, cana-de-açúcar, cevada e triticale também são alvos.

A lagarta-do-cartucho passou a atacar outras espécies além do milho em função da redução dos seus inimigos naturais. Isto ocorreu pelo uso desenfreado de inseticidas de amplo espectro, não seletivos

Isso provocou a redução dos inimigos naturais da lagarta em outros cultivos. Além disso, sem o uso de rotação de princípios ativos, a lagarta adquiriu resistência a diversos inseticidas. Como consequência, ocorreu comprometimento do seu controle, o que agravou a situação.

Danos causados pela lagarta-do-cartucho do milho

Os danos causados na cultura do milho são mais intensos. Os sintomas são as folhas raspadas e perfuradas, cartucho destruído, espigas danificadas e excreções das lagartas nas plantas

Além disso, as lagartas perfuram a base da planta, causando o sintoma de “coração morto”. Os danos têm maiores impactos quando o ataque ocorre em plantas com 8 a 10 folhas e em períodos de seca.

Na fase de emergência, a lagarta-do-cartucho pode danificar as plântulas, causando o seu tombamento. Consequentemente, isso reduz a população de plantas da lavoura e a produtividade da cultura.

Foto dos danos causados pela lagarta-do-cartucho em folhas e espiga de milho
Danos podem ser observados em folhas (com raspagem e perfurações), e em espigas
(Fonte: J.Crozier, PlantWise)

Como diferenciar a lagarta-do-cartucho das demais lagartas Spodoptera?

Pode ser confuso distinguir a lagarta-do-cartucho das demais espécies do complexo Spodoptera. No entanto, esta distinção é importante para direcionar o melhor controle. Veja um passo-a-passo para identificar essa praga na sua lavoura!

  • Passo 1 – Verifique se a lagarta tem cabeça escura com uma marca clara em forma de “Y” de cabeça para baixo na fronte.
Lagarta-militar, com indicação da cabeça com desenho de Y
(Fonte: PlantWise)

Passo 2 – Cada um dos segmentos do corpo deve possuir um padrão de quatro pontos elevados quando observado de cima.

Foto ampliada da lagarta-do-cartucho
(Fonte: PlantWise)

Passo 3 – Veja se a lagarta possui quatro pontos escuros que formam um quadrado no penúltimo segmento do corpo.

Cabeça da lagarta-militar, com indicações dos quatro pontos
(Fonte: PlantWise)

Passo 4 – Verifique se as lagartas jovens são verdes, mudando para a cor marrom conforme maior tempo de vida.

Lagartas-militares juntas sobre folha de milho
(Fonte: PlantWise)

Controle da lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda)

Você pode fazer o controle da Spodoptera frugiperda através de 5 métodos: tratamento de sementes, variedades transgênicas, Manejo Integrado de Pragas, controle químico ou biológico. Veja um pouco mais sobre cada um deles a seguir.

Tratamento de sementes

O tratamento da semente é considerado um método preventivo, que retarda a aplicação foliar. O custo é relativamente baixo e a economia de tempo são vantagens em comparação a uma aplicação foliar, especialmente em grandes áreas.

Se o histórico de pragas da sua área relata infestação da lagarta-do-cartucho, esse método é essencial para começar uma lavoura sadia.

A escolha do inseticida para o tratamento deve seguir alguns padrões. O produto, para ser efetivo, tem de ser sistêmico e, de preferência, de menor impacto ambiental.

Variedades transgênicas com atividade inseticida

O termo Bt, de tecnologia Bt, é composto pelas iniciais do nome científico da bactéria Bacillus thuringiensis.

Esse microrganismo, naturalmente encontrado no solo, produz uma proteína que é tóxica para alguns insetos (por exemplo, a lagarta-do-cartucho). Essa proteína não tem efeito sobre outros organismos.

Mas não se esqueça que pode ocorrer redução da eficiência do milho ou da soja Bt sobre a lagarta-do-cartucho.

Neste cenário, é fundamental manter a vigilância e o monitoramento de pragas nas lavouras, além do refúgio de plantas Bt. Veja um exemplo de como o refúgio acontece na cultura do milho.

Ilustração que msotra como deve ser feita a área de refúgio
Ilustração que msotra como deve ser feita a área de refúgio
Exemplificação de áreas de refúgio em diferentes configurações.
(Fonte: Embrapa Milho e Sorgo, 2014). 

MIP (Manejo Integrado de Pragas)

A grande preocupação no momento é o desenvolvimento de populações da lagarta-do-cartucho resistentes a produtos químicos e de tecnologia Bt.

O MIP (manejo integrado de pragas), além de ajudar a reduzir as aplicações de defensivos, te ajuda a manejar corretamente essa e outras pragas. 

O MIP visa utilizar todos os métodos de controle da lagarta-do-cartucho que estejam disponíveis. Dentro do MIP, você também pode fazer o controle químico.

planilha manejo integrado de pragas MIP Aegro, baixe agora

Controle químico: inseticida para lagarta-do-cartucho

Se você decidir utilizar inseticidas, faça rotação de inseticidas com diferentes modos de ação (grupos químicos). Isso serve para evitar que a praga desenvolva resistência a inseticidas individuais ou a grupos de inseticidas.

Evite o uso de inseticidas de amplo espectro, dando preferência àqueles seletivos aos inimigos naturais. A boa escolha do inseticida leva em consideração o nível de dano da cultura, estágio de desenvolvimento da praga e a presença de inimigos naturais.

Para consulta dos inseticidas recomendados para a cultura do milho, no combate da lagarta-do-cartucho, basta acessar o portal da Agrofit

Controle biológico da lagarta-do-cartucho

A lagarta-do-cartucho pode ser também combatida através do controle biológico, seja na fase de ovo (ideal) ou na fase de lagarta. Para o controle dos ovos, podem ser utilizadas as vespinhas Trichogramma, vendidas comercialmente no Brasil.

A espécie Trichogramma sp. parasita ovos da praga num raio de aproximadamente 10 metros a partir do ponto de liberação. Uma fêmea pode parasitar entre um e dez ovos por dia.

Produtos registrados para matar a lagarta-do-cartucho em todas as culturas (47), são encontrados a base de:

  • Trichogramma pretiosum (parasitóide);
  • Baculovírus;
  • Bacillus thuringiensis (não devem ser utilizados em áreas com tecnologia Bt);
  • Metarhizium anisopliae (fungo)

Monitoramento da lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda)

Para evitar que a lagarta-do-cartucho atinja grandes níveis populacionais, é necessário monitorar a lavoura. Você pode fazer isso de duas formas:

1. O uso de armadilhas de feromônio

A armadilha contém um dispositivo que exala substância similar ao da mariposa fêmea para atrair o macho.

Deve-se utilizar, no mínimo, uma armadilha por hectare. O nível de controle ocorre quando a armadilha captura três mariposas. A armadilha delta, com feromônio sexual sintético, é muito utilizada para o monitoramento de adultos de Spodoptera frugiperda.

2. Monitoramento em campo

É importante observar os danos na sua cultura também para fins de monitoramento. Para monitorar lavouras de milho, existe uma escala que pode te ajudar.

Você deve recorrer ao uso de inseticidas quando atingir 20% das plantas com nota maior ou igual a 3 na escala de Davis. Nas lavouras Bt, esse número é reduzido para 10%.

Conclusão

O MIP é a chave para um controle preventivo e eficaz no manejo de lagarta-do-cartucho.

A adoção de métodos de controle de forma integrada e consciente é a prática mais inteligente de diminuição do inseto numa propriedade rural.

Após conhecer mais sobre a praga e como combatê-la, escolha aqueles métodos de controle que mais se encaixam na sua propriedade. Aproveite as dicas e acabe já com essa praga na lavoura.

Você está enfrentando problemas com a lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda) na sua lavoura? Conhece algum outro método de controle que não está no artigo? Adoraria ler seu comentário.

redatora Bruna Rohrig

Atualizado em 29 de agosto de 2022 por Bruna Rohrig.

Bruna é agrônoma pela Universidade Federal da Fronteira Sul, mestra em fitossanidade pela Universidade Federal de Pelotas e doutoranda em fitotecnia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul na área de pós-colheita e sanidade vegetal.

Cultura do milho: 7 passos infalíveis do planejamento para acertar na semeadura

Cultura do milho: Quais os principais pontos para se atentar e conseguir uma semeadura que assegure a população de plantas e produção do milho.

Agricultor não tem mesmo sossego, acabando a colheita de uma safra já logo se preocupa: o que fazer na próxima safra da cultura do milho?

“Semear o que? Qual híbrido? E o espaçamento? Será melhor mudar a adubação de base?”

A preocupação é válida: cerca de 70% dos investimentos feitos em uma lavoura de milho são usados na fase de implantação.

Fazer o planejamento agrícola é a tomada de decisão mais sábia para uma produção de milho de sucesso!

É uma prática cada vez mais comum entre agricultores, sejam eles de pequeno, médio ou grande porte.

E o primeiro ponto do planejamento é o mesmo da própria atividade agrícola: a semeadura!

Para responder todas aquelas dúvidas que citei e outras tantas mais, acompanhe os 7 passos infalíveis do planejamento agrícola para acertar na semeadura do manejo da cultura do milho!

1. Planejamento agrícola: por onde começar?

O principal objetivo do planejamento rural é estabelecer um cronograma de atividades para que o produtor possa realizar o plantio de forma eficiente e segura, tudo isso com base na fenologia do milho.

Todo mundo tem em mente que a instalação de uma lavoura se inicia com o plantio de uma cultura. Porém, “muita água já rolou” até esse momento.

planejamento rural

(Fonte: CESAD)

A verdade é que o planejamento agrícola começa bem antes do plantio.

Para te ajudar, veja os 6 mandamentos do planejamento agrícola.

Lembre-se que é neste momento, antes do plantio, que é essencial planejar as ações para garantir boa produção e rentabilidade.

Deve-se fazer uma análise de todos os componentes de produção para saber corretamente o quanto investir, além de como e onde fazer a semeadura.

Segundo a Embrapa, devemos considerar determinados fatores:

  • manejo (solo, pragas, doenças, plantas daninhas, irrigação);
  • tipos de técnicas a serem adotadas;
  • insumos;
  • máquinas e implementos;
  • híbridos a serem escolhidos;
  • distribuição dos híbridos nos tipos de solos a serem explorados;
  • ambiente de produção;
  • épocas de plantio;
  • elaboração do cronograma físico-financeiro;
  • serviços em geral.

A minha principal dica aqui é: registre todos esses fatores da sua propriedade em algum lugar seguro. Esse registro servirá para várias coisas, sobretudo para a aplicação de defensivos.

Como você já sabe, a semeadura envolve muita coisa para confiar somente no que você tem em mente.

Além disso, visualizando todos os fatores que a área possui fica muito mais fácil realizar o planejamento!

Conheça o ciclo de produção na cultura do milho

Entenda as etapas do ciclo de produção:

etapas de produção com planejamento agrícola

(Fonte: SLC Agrícola)

O ciclo de produção se inicia no planejamento estratégico com base no cenário nacional e internacional de commodities agrícolas atuais e futuras.

As definições estratégicas norteiam a elaboração do planejamento agrícola de cada ano, no qual são definidos todos os insumos necessários para a safra, dentro das peculiaridades de cada cultura.

Você já escolheu a cultura do milho. E agora?

2. Lavoura de milho: Planejamento pode garantir maior produtividade

A cultura do milho no Brasil vem ganhando destaque na agricultura como opção de segunda safra e também como a cultura principal do ano (safra e/ou 1° safra).

A cultura do milho é a segunda cultura mais plantada no Brasil, e já é a 3° maior do mundo, com aumentos de produtividade nas últimas 10 safras de 6,8% ao ano.

Nossa produção de milho mais que dobrou na última década! E porque a preferência pelo milho?

É um produto muito demandado pelo mercado, sendo que no Brasil 65% do milho é utilizado na alimentação animal, e 11% é consumido pela indústria, para diversos fins.

O clima seco, estiagem de chuvas prolongadas, atraso de chuvas, diminuição da janela climática, são alguns dos fatores que influenciam o produtor na escolha do milho por ser uma cultura um pouco mais resistente às condições ambientais.

Além disso, a rotação da soja (como principal cultura) seguida da safrinha do milho é muito rentável e, por isso, muito utilizado.

A área de milho cultivado em 2ª safra representa 62% da área e 65% da produção nacional.

E como foi possível isso? Só mesmo com muito planejamento e trabalho.

Assim, vale lembrar que plantar não significa apenas jogar a semente na terra.

E quais seriam os critérios o produtor deve levar em conta ao fazer a escolha da semente de milho?

planilha de planejamento da safra de milho

3. A escolha do híbrido (semente) na cultura de milho

A semente é o principal insumo de uma lavoura e sua escolha deve merecer toda a atenção do agricultor.

Por isso, escolha sementes com alto vigor  (capacidade de germinação e estabelecimento rápido no campo) e sempre certificadas pelo MAPA e credenciadas no RESASEM.

A escolha do híbrido depende de fatores como:

  • disponibilidade hídrica;
  • fertilidade do solo;
  • ciclo da cultivar;
  • época de semeadura;
  • espaçamento entre linhas.

Devemos estar sempre atento às características dos materiais mais adaptados à sua região, principalmente em relação a potencial produtivo, estabilidade, resistência a doenças, adequação ao sistema de produção em uso e às condições de clima e solo.

Basicamente, não há diferença entre o cultivar de milho para a safra normal e para a safrinha, ou seja, não há uma característica específica que diferencia as plantas do milho safrinha.

Entretanto, dependendo da época de plantio dentro do período recomendado para a safrinha, o ciclo é uma característica importante a ser considerada na escolha dos híbridos.

Depois de escolhida a semente para minha região, qual a população (sementes por metro linear) que uso considerando as condições da minha área?

4. A importância do estande (população) das plantas 

A densidade de plantas, ou estande, definida como o número de plantas por unidade de área, tem papel importante no rendimento de uma lavoura de milho.

No Brasil, a população ideal para maximizar o rendimento de grão de milho varia de 30.000 a 90.000 plantas por hectare.

A densidade apropriada de plantas para cada situação é influenciada por alguns fatores, como por exemplo: híbrido de milho, disponibilidade hídrica e nível de fertilidade do solo.

determinantes produção ideal de milho

(Fonte: Italo Ricardo Sant Ana Gregorin)

A densidade de plantas influencia diretamente no número de espigas por área.

Para compreendermos a importância do número de espigas por área de plantio vamos simular duas lavouras: uma com 55.000 espigas/ha e outra com 60.000 espigas/ha.

exemplo numero de espigas

(Fonte: José Carlos Cazarotto Madaloz)

Neste exemplo, podemos ver que o aumento de 5.000 espigas/ha resultou em uma diferença de mais de 16 sacas/ha.

O desenvolvimento de novos híbridos com maior potencial produtivo, arquitetura moderna e a adoção de práticas de manejo intensas associadas ao plantio em espaçamento reduzido têm contribuído muito para plantios com altas taxas de população de plantas.

A-Importancia-Do-Estande-De-Plantas-Baixa-E-Elevada-Populacao-De-Plantas

(Fonte: Pioneer)

Esta prática tem se mostrado viável e rentável, alcançando altos níveis de produtividade.

No entanto, nem sempre alta densidade de plantas significa alta produtividade.

Em densidades muito altas, a competição entre as próprias plantas de milho pode afetar a produção.

Pesquisas indicam que o milho é sensível no quesito densidade, sobretudo, porque as plantas competem entre si. E embora o adensamento eleve o rendimento da lavoura, é preciso destacar que esse incremento na produtividade tem limite.

Assim, alguns pontos afetam na densidade ideal das plantas de milho na sua lavoura. A arquitetura da planta é um desses pontos e é também uma característica fundamental para acertar na semeadura do milho.

Banner de chamada para baixar o kit safrinha

5. Arquitetura da planta de milho

A arquitetura das plantas de milho interfere na qualidade e quantidade da luz que penetra no dossel (a parte aérea do milho, ou seja, as folhas) e, conseqüentemente, na resposta à densidade de plantas.

Você pode ver aqui como a tecnologia está ajudando a evoluir o agronegócio brasileiro, e o desenvolvimento de novos híbridos é um exemplo disso.

arquitetura da planta de milho

Comparação entre o milho selvagem (teosinto) e o milho atual

(Fonte: Nicolle Rager Fuller, National Science Foundation em Science Daily)

O desenvolvimento de híbridos com menor número de folhas, folhas mais eretas e menor área foliar, minimiza a competição entre plantas.

Por isso, esse tipo de híbrido pode ser semeado com menor espaçamento, resultando em maior densidade de plantas.

As folhas mais abertas, com ângulos da bainha maiores caracterizam as plantas de arquitetura espaçadas, que produzem melhor em espaçamentos maiores. Assim, a arquitetura do híbrido pode ser ereto, semi-ereto, aberto ou semi-aberto.

Devido a isso, fique atento ao híbrido escolhido e seu espaçamento ideal. A prática de semeadura deve ser bem feita com espaçamento uniforme, resultando em arquitetura homogênea.

arquitetura milho uniforme

(Fonte: Robson Fernando de Paula)

O ambiente também impõe forte influência na escolha do híbrido e sua arquitetura.

Por exemplo, em solos pobres, com problemas de drenagem ou mesmo em condições de falta de água não é recomendado altas densidades populacionais com híbridos de arquitetura ereta.

Você já sabe que a densidade, a arquitetura do híbrido e o espaçamento são intimamente ligados.

Desses, só falta você saber mais sobre o espaçamento. Vamos lá?

6. O espaçamento (entre linhas X entre plantas)

No Brasil é utilizado diferentes tipos de espaçamentos de milho.

espaçamento 40 e 80cm na cultura do milho

(Fonte: Itavor Nummer Filho & Carlos W. Hentschke)

Tradicionalmente tem-se implantado a cultura do milho com espaçamentos entrelinhas compreendidos entre 0,80 m e 1 m.

Porém, nos últimos anos, o interesse em cultivar o milho utilizando espaçamentos entre linhas reduzidos (0,45 a 0,60m) tem crescido devido ao já citado desenvolvimento de novos híbridos.

Hoje, muitos produtores usam espaçamento de 75 centímetros, sendo importante ressaltar que espaçamentos entre 0,45 cm e 0,50 cm são os mais utilizados por proporcionarem melhores condições para o desenvolvimento do milho, em algumas condições.

Entre as vantagens potenciais da utilização de espaçamentos mais estreitos, podem ser citados:

  • maior interceptação de luz solar – o principal fator;
  • melhor aproveitamento dos recursos disponíveis;
  • aumento da vantagem competitiva;
  • maior eficiência na utilização da água disponível;
  • aumento do rendimento de grãos, em função de uma distribuição mais equidistante de plantas na área;
espaçamento reduzido milho

(Fonte: Rural Pecuária)

  • aumento da eficiência de utilização de luz solar, água e nutrientes;
  • melhor controle de plantas daninhas, devido ao fechamento mais rápido dos espaços disponíveis;
  • diminuição da duração do período crítico das plantas daninhas;
  • redução da erosão, em consequência do efeito da cobertura antecipada da superfície do solo;
  • melhor qualidade de plantio, através da menor velocidade de rotação dos sistemas de distribuição de sementes; e
  • maximização da utilização de plantadoras, uma vez que diferentes culturas, como, por exemplo, milho e soja, poderão ser plantadas com o mesmo espaçamento, permitindo maior praticidade e ganho de tempo.
interceptação solar por plantas

(Fonte: Itavor Nummer Filho & Carlos W. Hentschke)

Cada híbrido de milho possui uma recomendação adequada.

Sabendo-se a condição da sua área, o produtor deve escolher qual híbrido e espaçamento mais adequado à sua situação.

Como já falei, a redução do espaçamento não implica necessariamente em aumento da produtividade.

Além da questão de competição entre plantas, o incremento da densidade de plantas por si só significa aumento da produtividade sob uma mesma tecnologia desde que este seja o maior gargalo técnico.

Se você quer saber quais podem ser os outros gargalos e como aumentar sua produtividade pode ver o artigo “Como produzir 211 sacas de milho por hectare com gestão agrícola”.

Agora vamos saber como estimar sua produtividade de milho:

7. Como estimar a produtividade da cultura do milho?

A combinação entre clima, solo e híbridos determina a produtividade do milho.

85% da produtividade é atribuída ao número de grãos, sendo que  é nesse quesito que o estande de plantas ideal, resultado de uma boa semeadura, pode contribuir para a produção.

A-Importancia-Do-Estande-De-Plantas-Componetes-De-Rendimento

(Fonte: José Carlos Cazarotto Madaloz)

A estimativa de produtividade é útil para que se tenha uma “ideia” de qual será o rendimento a nível de campo.

Sendo assim, o produtor pode se organizar com investimentos futuros, transporte, armazenagem e possíveis ações da lavoura que ainda será colhida.

Para se estimar produtividade de milho, utilizaremos o método mais simples e objetivo:

Passo 1: Colete algumas espigas da área desejada;

Passo 2: Calcule o peso médio de grãos de cada uma delas;

Passo 3: Saiba a população de plantas da área;

Passo 4: Multiplique o peso médio de grãos de cada espiga pelo número total de plantas encontradas no talhão. Exemplo:

estimativa de produção na cultura do milho

(Fonte: Tiago Hauagge)

Quanto maior for o número de espigas coletadas e avaliadas, menor será a margem de erro para a produtividade real no momento da colheita.

Banner de chamada para o download da planilha de controle de custos de safra

Conclusão

O arranjo de plantas recomendado difere de lavoura por lavoura, uma vez que se trabalha em regiões e condições diferentes, com variação nos níveis tecnológicos.

Desta forma, o arranjo ideal de plantas deve ser mensurado conforme a condição de implantação da cultura do milho e as finalidades do produtor.

Por isso, saiba a situação real da sua propriedade, aproveite as dicas e boa produção na cultura do milho!

>> Leia mais:

“Tudo o que você precisa saber para o manejo da mancha-branca do milho”

Ferrugem no milho: saiba como identificar e controlar

“Como manter a profundidade uniforme no plantio da soja e do milho e os impactos na produtividade da lavoura”

Gostou das dicas para a cultura do milho? Tem mais algum passo infalível que você faz e eu não citei aqui? Adoraria ver seu comentário! Escreva aqui embaixo!