Plantação de cana-de-açúcar: Maior produtividade e ponto ótimo da renovação

Plantação de cana-de-açúcar: Baixe gratuitamente a planilha de ponto ótimo da renovação do canavial e veja o que considerar para obter maior produtividade.

O custo de renovação de um canavial para a safra 2017/18 foi estimado em média de R$ 7.282,04 por hectare.

É um gasto alto para uma cultura semi-perene e, por isso, é necessária uma boa gestão para fazer a reforma no momento certo e manter sua área produtiva.

No entanto, surgem algumas dúvidas sobre como saber o ponto ótimo de renovação, além de quais manejos são os melhores para o plantio da cana.

Neste texto mostramos passo a passo como calcular quando o canavial deve ser renovado e ainda temos 5 dicas essenciais para uma boa plantação de cana-de-açúcar. Confira!

plantação de cana-de-açúcar

Planejamento agrícola: O que fazer antes de reformar seu canavial

Um planejamento agrícola bem feito é essencial para ter bons resultados na propriedade. Todas as atividades que estão envolvidas na implantação do canavial precisam ser programadas.

Isso compreende a compra de insumos, utilização de máquinas e implementos agrícolas, mão de obra, análise de solos, entre outras.

Esse planejamento é importante para determinar o custo de produção agrícola e também para o histórico das atividades da sua propriedade. Esse histórico ajuda a planejar a próxima reforma do seu canavial.

Além disso, é importante registrar todas as atividades e custos na implantação para avaliar se realmente compensa a renovação de sua plantação de cana-de-açúcar.

No entanto, você deve considerar outros fatores ainda para a decisão de reforma do canavial, veja a seguir como fazer:

2-plantação de cana-de-açúcar
(Fonte: Cana Online)

Ponto ótimo da renovação da plantação de cana-de-açúcar

Chegando no quarto, quinto ou sexto corte sempre fica a dúvida: será que eu ganharia mais se renovasse o canavial? Para isso você primeiro deve ter em mente 3 coisas:

  • Qual meu capital disponível já considerando financiamentos e juros
  • Qual minha rentabilidade dos últimos anos (com os registros do quanto você ganha pela tonelada de cana subtraído por todos os custos de produção)
  • A cana-de-açúcar é uma cultura semi-perene e, por isso, essa contabilização não é de forma direta

Em termos gerais, você deverá calcular o custo por tonelada (R$/t) na cana-planta (normalmente cana de ano e meio – cana de 18 meses) e cana-soca (soqueira cana-de-açúcar).

Os custos da cana-de-açúcar devem ser considerados de forma acumulada para termos a noção real dos gastos por tonelada e decidir sobre a renovação. Vamos ver agora como fazer isso:

Custo da plantação de cana-de-açúcar (1° corte)

(Custo anual da terra x 2 anos) + Custo de reforma + Custo do Corte Colheita e Transporte (CCT) + (Custo anual da administração x 2 anos) + (Custo da cana-soca x 1 ano) = Custo total da cana-planta (R$/ha).

Agora, divida esse valor pela produtividade do 1° corte e teremos o custo por tonelada (R$/t).

Note que mesmo no 1° corte temos o custo da cana soca pois a maioria dos tratos culturais (herbicidas, inseticidas, etc.) ocorrem na cana soca e na cana planta.

Se quiser maior detalhamento, você pode ter os custos separados dos tratos culturais do 1° corte e dos demais cortes.

Custo da plantação de cana-de-açúcar até o 2° corte

(Custo anual da terra x 3 anos) + Custo de reforma + Custo do Corte Colheita e Transporte (CCT no 1° e 2° cortes) + (Custo anual da administração x 3 anos) + (Custo da cana-soca x 2 anos) = Custo total da cana até o 2° corte (R$/ha).

Agora, divida esse valor pela produtividade do 1° e 2° cortes para termos o custo por tonelada (R$/t).

Custo da plantação de cana-de-açúcar de outros cortes

Nos custos dos cortes subsequentes é só você ir acumulando os gastos e as produtividades.

(Custo anual da terra x n° anos com a cultura) + Custo de reforma + Custo do Corte Colheita e Transporte (CCT em todos os cortes até aquele ano) + (Custo anual da administração x n° anos com a cultura)) + (Custo da cana-soca x n° anos com cana-soca) = Custo total da cana até o corte em questão (R$/ha).

Divida esse valor pela produtividade de todos os cortes até então, obtendo o custo por tonelada (R$/t).

Calculando o ponto ótimo de renovação

Em geral, o corte com menor custo por tonelada de cana é o mais indicado para a renovação.

No entanto, como já citamos, considere também sua rentabilidade (preço da tonelada subtraído pelos custos de produção) e o capital disponível.

Neste exemplo abaixo, o 5° corte seria o mais adequado para a renovação:

tabela com custo do canavial nos cortes, captura da planilha Aegro

Como você pode ver, a contabilização para essa cultura pode ser bem complicada se feita à mão. Por isso, disponibilizamos aqui gratuitamente uma planilha para o cálculo automático:

captura de tela da planilha para cálculo do ponto ótimo do canavial Aegro

Baixe aqui sua planilha gratuita!

5 Dicas essenciais para a reforma da plantação de cana-de-açúcar

1. Atenção na escolha da variedade de cana-de-açúcar

A partir da cana-de-açúcar são produzidos etanol, açúcar, aguardente e outros itens alimentícios. No Brasil também se produz etanol de 2ª geração, fabricado a partir do bagaço da cana (ou palha), além da geração de energia elétrica provenientes também do bagaço e da palha.

Cada variedade de cana pode ser melhor para produzir um tipo de produto. Diante disso, você precisa escolher qual a variedade irá utilizar na sua reforma do canavial.

Você precisa relacionar as características das variedades de cana disponíveis com o clima da região da sua propriedade.

Também precisa considerar o solo, a resistência contra pragas e doenças e outras características.

Veja um exemplo de uma variedade da Ridesa (RB961552). Na tabela você pode encontrar algumas características dessa variedade que é plantada em diversas regiões:

5-plantação de cana-de-açúcar

(Fonte: Ridesa)

Você também pode encontrar as características das variedades CTC aqui.

Então, conheça todas as características da variedade que pretende plantar na sua propriedade. Lembre-se que isso também faz parte do seu planejamento agrícola.

Como estamos falando em variedades de cana-de-açúcar, você não pode se esquecer de plantar mudas com qualidade! Isso é muito importante para um canavial ter boa produtividade.

Além de conhecer a cultura da cana-de-açúcar, você também precisa conhecer bem a sua propriedade.

2. Faça a análise de solo de sua área

É de extrema importância realizar a análise do solo da sua propriedade para identificar a fertilidade do solo.

Com ela, é possível saber quais nutrientes estão em nível adequado e quais estão em baixo nível para a plantação de cana-de-açúcar.

Para outras culturas nós fazemos a análise de solo até 20 cm, mas para a plantação de cana-de-açúcar é recomendado esse diagnóstico até 50 cm.

Isso porque, a cana tem raízes profundas que atingem essas camadas do solo, e é prejudicada se as mesmas não estiverem adequadas em termos de fertilidade.

6-plantação de cana-de-açúcar

Detalhe da cana e suas raízes em solo com boa fertilidade (à esquerda) e solo com alumínio (à esquerda).
(Fonte: Foto Antônio Vasconcelos em Pedologia fácil)

Mesmo que o seu solo em culturas anteriores tenha apresentado alta fertilidade, com as sucessivas lavouras, a quantidade de nutrientes diminui.

Por isso, é de extrema importância realizar uma nova análise para saber qual a fertilidade do solo no momento do plantio.

Com o resultado em mãos, você determina o que precisa colocar no solo para a cultura da cana-de-açúcar. Isso evita desperdícios e gera ganhos na produtividade.

Sobre esse assunto, veja também:

Já que falamos sobre a análise de solo, também precisamos focar na correção e adubação da sua área para a reforma do canavial.

3. Realize a correção do solo adequada

A calagem é necessária em solos ácidos, sendo esses solos característicos de regiões tropicais, como o Brasil. Mas, antes de tomar qualquer decisão, você precisa ter aqueles dados da análise de solo em mãos. Aqui no blog nós já explicamos como fazer o cálculo de calagem (+ calcário líquido).

4. Considere a realização da gessagem

A gessagem é uma atividade agrícola que melhora a camada subsuperficial do solo e o sistema radicular das plantas. O gesso agrícola é fonte de cálcio (20%) e enxofre (15-18%) para o solo, sendo considerado um condicionador de solo. Assim, também disponibiliza para o solo os nutrientes cálcio e enxofre.

Ou seja, são produtos que promovem a melhoria das propriedades físicas, físico-químicas ou da atividade biológica do solo. O gesso no solo neutraliza o alumínio, que é tóxico para as plantas, possibilitando o aumento do sistema radicular.

Para a cana, o gesso é especialmente importante porque a planta tem um sistema radicular profundo. Como o gesso é justamente um condicionador das camadas mais profundas do solo, ele proporciona melhores condições ao canavial.

Com a análise de solo da propriedade você verifica se é necessário gessagem e qual a quantidade de gesso a ser aplicada na área.

Aqui no blog nós já falamos especificamente sobre Gessagem: tudo o que você precisa saber sobre esta prática agrícola.

5. Faça a adubação bem feita da plantação de cana-de-açúcar

Como a cana permanece na área normalmente de 5 a 6 anos, é muito importante realizar uma boa correção de solo e adubação no plantio.

Mas não esqueça de realizar adubações durante esse ciclo de 5-6 anos, pois a produtividade da cultura ao longo dos cortes apresenta redução.

Veja na tabela abaixo as faixas de macro e micronutrientes que são essenciais para a plantação de cana-de-açúcar:

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(Fonte: Tabela adaptada do livro Adubação da cana-de-açúcar: 30 anos de experiência, Penatti, 2013)

Um macro nutriente muito importante para as plantas é o fósforo (P). Ele participa da fotossíntese e da respiração das plantas, crescimento e formação das raízes, crescimento de células e outras.

O P na cana-de-açúcar é importante principalmente para a brotação da planta.

Muitas vezes é recomendada a aplicação, de uma só vez, de toda a quantidade de fósforo necessária para os próximos 5 cortes no plantio da cana-planta.

A torta de filtro é muito utilizada para o fornecimento desse nutrientes em pouco tempo, já que é constituída de cerca de 1,2 a 1,8% de fósforo e cerca de 70% de umidade.

Para saber mais sobre a fosfatagem na cana-de-açúcar, veja como fazer manejo de fósforo para aumentar a produção de cana.

>> Leia mais: “Adubo para cana: Principais recomendações para altas produtividades

Renovação da plantação de cana-de-açúcar e o manejo de plantas daninhas

Outras atividades que você tem que se atentar na reforma do canavial é o manejo de plantas daninhas.

Se você começar o plantio da cana-de-açúcar com plantas daninhas na área, terá trabalho redobrado no controle ao longo do ciclo da cultura.

Algumas plantas daninhas da plantação de cana-de-açúcar são: capim-colonial, capim-colchão, braquiária, corda-de-viola, mucuna-preta, capim-massambará e outras.

Você deve identificar qual o herbicida registrado para cana-de-açúcar para o controle das plantas daninhas que são problemas na sua propriedade. Veja no Agrofit os defensivos agrícolas registrados. Ainda, vale lembrar que a rotação com plantação de amendoim pode reduzir a incidência de plantas daninhas na cultura.

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Corda-de-viola em plantação de cana-de-açúcar
(Fonte: Cana Online)

planilha ponto otimo de renovacao canavial

Conclusão

Neste texto foram discutidas os principais pontos para a renovação da plantação de cana-de-açúcar.

Falamos sobre a importância do planejamento agrícola, como escolher variedades de acordo com época de plantio, realizar um bom preparo do solo, adubação controle de plantas daninhas.

Aqui também você viu como calcular o ponto ótimo de renovação do canavial e teve acesso a uma planilha gratuita para esse cálculo automático.

Agora que você sabe um pouco mais sobre o plantio de cana-de-açúcar, realize um planejamento e boa reforma do seu canavial!

>> Leia mais: “Como fazer o melhor manejo da broca da cana-de-açúcar

Você realiza planejamento para a renovação do seu canavial? De quanto em quanto tempo você realiza a renovação da sua plantação de cana-de-açúcar? Restou alguma dúvida sobre o cultivo da cana? Adoraria ver seu comentário abaixo.

El Niño e suas consequências na agricultura brasileira

O fenômeno El Niño deve ocorrer a partir do segundo semestre de 2023. Entenda como ele pode afetar a sua lavoura. Bônus: conheça 5 formas de proteger a sua produtividade! 

Excesso ou falta de chuvas, temperaturas acima da média e períodos com fortes restrições hídricas. Esses são alguns dos reflexos provocados pelo El Niño no Brasil.

Esse fenômeno climático pode resultar em grandes prejuízos, como já pudemos observar em outros anos: maior volume de chuvas na região Sul do país, temperaturas mais elevadas de forma geral, secas severas na região Nordeste e outros inúmeros reflexos negativos. 

Apesar dos efeitos inevitáveis no clima, existem formas de preparar a fazenda para mitigar os efeitos do El Niño, mantendo uma boa produtividade e evitando maiores prejuízos às culturas e à rentabilidade dos cultivos.

Para isso, é indispensável que se entenda o que é o fenômeno El Niño, seus impactos na agricultura e como o manejo pode ser um aliado para obter bons resultados da lavoura. Confira a seguir!

El Niño: entenda o que é esse fenômeno

El Niño é um fenômeno climático que causa aumento nas temperaturas da superfície do Oceano Pacífico Tropical e enfraquecimento dos ventos alísios.

Os ventos alísios são um tipo de vento considerado estável e úmido, que incide nas zonas subtropicais em baixas altitudes. 

Eles são resultado do deslocamento das massas de ar frio dos trópicos (de alta pressão) em direção à zona de baixa pressão, a zona equatorial. Por isso, quando enfraquecidos, esses ventos resultam em aumento das temperaturas.

Com isso, há diminuição das águas mais frias que afloram próximo à costa oeste da América do Sul. Esse aquecimento pode alterar o regime de chuvas em muitas regiões, impactando, consequentemente, a agricultura.

O El Niño registrado na safra de 2015/16 teve temperaturas recordes, com destaque para a força do fenômeno em 2016. Porém, um dos piores anos foi 1982, quando o El Niño causou vastas mudanças na circulação atmosférica.

O Brasil sofreu com tempestades torrenciais e, nos Estados Unidos, houve tempestades ao longo da costa da Califórnia.

Além do El Niño, também pode ocorrer a La Niña. Neste caso, acontece o contrário: há resfriamento das águas do Pacífico Equatorial, o que altera a dinâmica das chuvas no país e provoca secas, especialmente na região Sul.

Há também os anos neutros — quando as águas do Pacífico estão com temperatura próxima ao normal, não ocorrendo nem resfriamento nem aquecimento.

O último El Niño havia ocorrido no ano de 2020 e, depois de três anos de predomínio do fenômeno La Niña, que resultou em quebras acentuadas da produção de soja do Rio Grande do Sul, o El Niño deve voltar ao cenário nos próximos meses, segundo a Organização Meteorológica Mundial (OMM).

Quando o El Niño vai acontecer?

Após três anos de La Niña, que se encontra em estado de neutralidade, a previsão da OMM é que o El Niño ocorra nos próximos meses.

As previsões indicam que há chances de o fenômeno ocorrer ainda em maio (60% de probabilidade), mas é entre julho e setembro que as probabilidades alcançam 80%. Ou seja, nesse período, poderemos ter mudanças significativas na ocorrência de chuvas, bem como de temperaturas em todo o mundo, incluindo as diferentes regiões produtoras do Brasil. 

Tanto El Niño quanto La Niña podem ser classificados por intensidade: forte, moderado e fraco. Nas safras de 2020/21 e 2021/22, por exemplo, o La Niña foi considerado moderado.

O El Niño tem aumentado de intensidade, atingindo seu pico nas safras 1982/83, 1997/98 e 2015/16. Já a La Ninã, por outro lado, teve seus picos nas safras 1973/74, 1988/89 e 2007/08. 

Diferente do La Niña, registrado de forma forte menos vezes ao longo dos anos (8 desde 1950), o El Niño tem sido registrado mais vezes como forte (4 vezes) ou muito forte (5 vezes). Isso acentua os impactos das mudanças climáticas, provocando temperaturas recordes, chuvas torrenciais em partes do planeta (com temporais), aumentando as queimadas e muitos outros efeitos — incluindo, é claro, os benéficos.

Quais os efeitos esperados do El Niño no Brasil?

Como eu comentei acima, o fenômeno El Niño pode afetar a temperatura e a quantidade de chuvas em muitas regiões do mundo. Normalmente, com o El Niño, as temperaturas ficam um pouco acima do normal no Brasil.

Assim, as altas temperaturas em algumas áreas do país, que chegaram a registrar 4 a 5 graus acima da mesma época em outros anos, já podem estar relacionadas às mudanças no cenário climático. 

De modo geral, nas regiões Norte e Nordeste do Brasil, pode ocorrer redução das precipitações.

No Sudeste costuma haver aumento das temperaturas. Na região Sul as chuvas podem ser mais abundantes. Já no Centro-Oeste pode haver irregularidade das chuvas.

Veja o que acontece nas regiões brasileiras com o fenômeno El Niño, de acordo com o CPTEC/INPE:

(Fonte: Cptec/Inpe)

Esse fenômeno pode influenciar nas temperaturas e nas chuvas pelo mundo, conforme os gráficos abaixo. À esquerda, previsões da temperatura do ar nos meses de maio, junho e julho e, à direita, precipitações para a mesma época do ano no mundo. Veja:

(Fonte: World Meteorological Organization, 2023).

O gráfico a seguir ilustra o comportamento típico das chuvas durante o El Niño nas diferentes regiões do planeta.

No Brasil, é possível observar maior volume de chuvas na região Sul do país (principalmente no Rio Grande do Sul) e menor volume de chuvas nas regiões Norte e Nordeste do país. Confira à direita do mapa mundi:

(Fonte: Cptec/Inpe)

Efeitos do El Niño na agricultura brasileira

Estima-se que 80% da variação da produtividade agrícola dependa das condições climáticas. Áreas com redução das chuvas podem desacelerar o desenvolvimento das culturas, ocorrendo queda da produtividade.

Já em regiões com aumento da precipitação, pode haver inundações nas culturas, o que também tende a reduzir a produtividade.

Além disso, chuvas em excesso no momento da colheita podem diminuir a qualidade dos produtos e, ainda, inviabilizar o escoamento da safra.

Culturas anuais podem ser altamente afetadas por essas variações, como é o caso das lavouras de grãos.

As culturas perenes também podem ter redução na produtividade. Mas, como elas ficam por mais tempo no campo, há possibilidade de se recuperarem após essas variações. No entanto, elas devem ser monitoradas da mesma forma, para mitigação dos efeitos do fenômeno, sejam eles aumento das precipitações ou redução.

Para você entender melhor, veja algumas consequências do último El Niño na agricultura brasileira.

Impactos do último El Niño no Brasil

Nos estados do Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), houve falta de chuva no início do plantio de soja. Isso reduziu a germinação das sementes e causou redução do stand das plântulas;

No Mato Grosso houve irregularidade nas chuvas no início do plantio. Assim, houve grandes perdas em uma mesma região e em outras isso não ocorreu;

Na região Sul, a chuva abundante pode ter favorecido a produtividade dos grãos. Porém, o excesso de umidade pode ter desfavorecido outras culturas, como o arroz e o trigo (este último principalmente no momento de colheita, e impactando também o aumento das temperaturas).

Não podemos esquecer que o El Niño também pode trazer benefícios, como o aumento da umidade em localidades impactadas pelo La Niña e que estejam com baixos volumes acumulados de água no solo e em reservatórios (caso da região Sul do país).

Isso favorece o plantio e o desenvolvimento das culturas — desde que o aumento das chuvas não seja em excesso — e aumenta as temperaturas médias do ar durante os estágios mais sensíveis de desenvolvimento das culturas (polinização e enchimento de grãos).

El Niño também pode aumentar a incidência de doenças em culturas importantes, como o trigo.

Falta ou excesso de chuva causado pelo El Niño no Brasil — o que fazer?

Pesquisadores da Embrapa orientam sobre como proceder quando um desses dois fenômenos ocorre. Confira:

Excesso de chuva

  • Realizar o preparo do solo para a semeadura – assim, quando as condições permitirem, o solo já estará preparado para realizar a semeadura
  • Semeadura no início do período recomendado
  • Não semear em solos encharcados
  • Realizar rotação de culturas, pois alta umidade pode favorecer o desenvolvimento de doenças
  • Utilizar cultivares resistentes a doenças que podem se desenvolver com alta umidade (com base no histórico da área de cultivo)
  • Atenção ao realizar adubação nitrogenada, pois, com excesso de chuva, o nitrogênio pode ser facilmente lixiviado
  • Realizar a colheita quando o produto atinge umidade adequada, pois chuvas podem reduzir a qualidade do produto agrícola
Excesso de chuva pode levar à erosão do solo, lavagem de nutrientes e até mesmo à necessidade de ressemeadura das culturas, pela redução do estande de plantas.

Falta de chuva

  • Utilizar sistema de plantio direto. Este sistema pode favorecer a germinação das sementes pela umidade do solo por causa da palhada
  • Utilizar cultivares mais resistentes ao estresse hídrico
  • Utilizar cultivares com sistema radicular mais profundo
  • Plantio ou semeadura mais profundos
  • Utilizar irrigação quando possível e necessário
  • Não utilizar uma população de plantas acima da recomendada

E é claro: você precisa monitorar as condições meteorológicas da sua região tanto em caso de excesso de chuva como em caso de seca.

5 dicas para ter uma boa produtividade na lavoura mesmo com o El Niño no Brasil

1. Fique de olho nas condições meteorológicas e fenômenos climáticos na sua região

Como a agricultura é muito dependente das condições meteorológicas, você precisa estar de olho nas previsões climáticas de sua região. Isso é muito importante para o planejamento das suas atividades.

Para te auxiliar nessa atividade, você pode utilizar aplicativos de celular, como Cptec/Inpe, Agritempo, Tempo Agora, entre outros.

Você também precisa saber se há algum fenômeno, como El Niño ou La Niña, afetando a temperatura e a precipitação em cada época do ano.

Além disso, conheça os efeitos desses fenômenos em sua região. Assim você poderá se planejar com base em todos os efeitos causados.

2. Conheça bem sua propriedade e sua lavoura

Você precisa conhecer a sua propriedade — ou seja, você precisa conhecer o clima da região e o tipo de solo da sua lavoura, dentre outras informações importantes para o cultivo. 

E, mais uma vez, não deixe de construir um histórico sobre as pragas e doenças que ocorrem, em que culturas e quais épocas são as mais críticas. 

Esse histórico pode ser mapeado por meio da plataforma Aegro. Assim você consegue entender a dinâmica e como manejar a praga ou doença de forma mais eficiente, observando ainda o desempenho dos defensivos no controle.

Além disso, ter conhecimento a respeito das plantas que você cultiva ou vai cultivar é essencial.

Conheça o hábito de crescimento das plantas e quais são as condições ideais para seu desenvolvimento. Conheça também as pragas, doenças e daninhas que podem afetar a sua lavoura.

3. Realize um bom planejamento da sua atividade agrícola

Os itens 1 e 2 deste tópico te auxiliam no planejamento das atividades agrícolas. Esses conhecimentos são importantes para o dia-a-dia da fazenda e para obter lucro com sua lavoura.

Ter um planejamento e uma boa gestão agrícola é essencial. Para isso, você pode utilizar anotações, planilhas e até softwares. Mas não confie na memória para realizar seu planejamento.

Para te ajudar com isso, aqui você pode encontrar um comparativo entre planilhas agrícolas x software: o que é melhor para sua fazenda.

4. Anote ou registre suas atividades agrícolas

Você precisa registrar todas as atividades: custos, estoque, produção e outros dados da propriedade.

Isso te ajuda a calcular o custo de produção agrícola e ter o histórico da atividade agrícola, além de te auxiliar no planejamento da próxima safra.

5. Monitore sua lavoura e a proteja dos efeitos do El Niño no Brasil

É importante realizar o monitoramento da lavoura, pois, como já comentei, o El Niño pode causar efeitos que favorecem doenças, pragas e daninhas.

Caso necessário, realize o controle de pragas, doenças e plantas daninhas na sua lavoura.

planilha - monitore e planeje a safra de soja de forma automática

Conclusão

Como vimos, o El Niño no Brasil provoca mudanças na temperatura e no regime de chuvas em diversas regiões. E os efeitos desse fenômeno climático impactam a produção agrícola. Mas você pode conseguir uma boa produtividade, mesmo com influência do El Niño. 

Uma das dicas mais importantes é realizar o planejamento e monitoramento das suas atividades agrícolas e das previsões climáticas, semana após semana. Lembre-se que o planejamento é essencial para lucrar com sua empresa rural.

Então, não deixe que o El Niño cause efeitos negativos na sua propriedade!

Você já sentiu as interferências do El Niño no Brasil? O que tem feito para contornar falta ou excesso de chuva e manter a produtividade da sua lavoura?

Atualizado em 29 de maio de 2022 por Bruna Rhorig.

Bruna é agrônoma pela Universidade Federal da Fronteira Sul, mestra em fitossanidade pela Universidade Federal de Pelotas e doutoranda em fitotecnia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul na área de pós-colheita e sanidade vegetal.

NDRE versus NDVI: Entenda as diferenças e escolha o melhor para sua fazenda

NDRE vs  NDVI: o que são, quando utilizá-los e como esses índices podem melhorar o monitoramento e produção da sua fazenda.

Mapas de vigor de vegetação, como o NDRE e o NDVI, são cada vez mais utilizados nas propriedades agrícolas. Eles permitem obter análises mais precisas da lavoura, detecção dos efeitos de secas e até estimativas de produtividade.

E, com esses dados em mãos, também é possível tomar decisões mais assertivas para administrar melhor a propriedade. Mas, você sabe qual desses índices é o mais indicado para sua lavoura?

Neste artigo, vou te explicar quais são as principais diferenças e quando é melhor optar pelo NDRE ou NDVI. Confira:

NDRE e NDVI: diferentes índices vegetativos  

Os índices se referem ao vigor da vegetação, ou seja, medem a atividade da clorofila presente nas folhas das plantas.

Eles podem ser correlacionados com a quantidade de biomassa presente nas lavouras.

O NDVI e NDRE são apenas dois exemplos de índices vegetativos que podem ser criados a partir do processamento de imagens geradas por sensoriamento remoto.

Eles nada mais são que o produto de uma equação matemática entre valores numéricos de pixels de duas bandas espectrais de uma imagem.

Para o cálculo do (vegetation index) NDVI e do NDRE utilizamos as equações abaixo:

NDRE
(Fonte: Mapear com Drones)

Note que a equação de normalização é a mesma.

A diferença é que mudamos a banda Vermelha (Red) utilizada para o cálculo do NDVI pela Red Edge Band utilizada para o cálculo do NDRE.

Além destes dois índices, existe uma infinidade de outros que podem ser confeccionados a partir do geoprocessamento de imagens. Mas os famosos mapas de NDVI não são tão inovadores e recentes.

O satélite Landsat 5, lançado pela Nasa em 1984, já era equipado com sensores capazes de realizar medições nas faixas necessárias para criação do NDVI.

Evidentemente, com o avanço da tecnologia, os sensores se tornaram melhores. Por exemplo, o satélite Landsat 5 pesa 2,2 toneladas e está distante 705 Km da superfície terrestre. Ele possui resolução temporal de 16 dias e resolução espacial de 30 m.

Hoje há sensores com menos de 1 Kg para criação do NDVI. Além disso, são acoplados a drones ou motocicletas que circulam nas lavouras.

Estes sensores possuem resolução espacial de centímetros e fornecem informações muito mais detalhadas sobre cada m² das áreas.

Sensores e câmeras para criação de NDRE e NDVI

Atualmente existe uma infinidade de sensores no mercado que podem ser utilizados para confecção dos índices de vegetação.

As aeronaves remotamente pilotadas (RPA), mais conhecidas como drones, possuem câmeras que possibilitam a criação tanto do NDVI quanto do NDRE.

3-NDRE

Câmera com bandas para criação do NDVI
(Fonte: Mapir)

4-NDRE

Câmera com bandas para criação do NDRE
(Fonte: Avantagro)

Há ainda os satélites com as bandas para processamento e criação dos índices.

5-NDRE

Satélite Sentinel 2B
(Fonte: ESA)

E há também os sensores portáteis conhecidos como ativos. Eles possuem luz própria e possibilitam o trabalho noturno para leitura do dossel e criação dos índices NDVI e NDRE.

Principais diferenças entre NDRE e NDVI

As principais diferenças entre os índices NDVI e NDRE está na sensibilidade de expressar o vigor da vegetação.

7-NDRE
(Fonte: Farmer to Farmer)

Como você pode notar no gráfico, o RedEdge representa uma área exponencial de reflectância entre a banda do vermelho e a banda do NIR (infravermelho próximo). Ele é melhor em casos de percepção da transição das plantas sadias às inicialmente estressadas.

Já o NDVI não consegue expressar tão bem essa zona de transição, chegando a saturar em alguns casos.

Ele não consegue expressar diferenças nas leituras de culturas como cana-de-açúcar a partir de determinados estágios vegetativos. Já o NDRE demora mais para saturar.  Veja algumas aplicações dos mapas de NDVI e NDRE na agricultura:

  • Monitoramento de lavouras
  • Detecção de efeitos de secas
  • Detecção de danos provocados por pragas
  • Estimativas de produtividade agrícola
  • Mapeamento de áreas agrícolas

Quando devo usar NDVI?

Quando estivermos utilizando o índice NDVI devemos lembrar que estamos trabalhando com as bandas do vermelho (RED) e com a do infravermelho próximo (NIR).

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(Fonte: Integral Drones)

A equação é a diferença normalizada entre essas bandas, como mencionei acima.

A banda do Vermelho (Red) estimula o crescimento vegetativo e floração. Já a banda do NIR está relacionada à distribuição e arranjos do parênquima das plantas, que são espaços com ar. Além disso, a banda do NIR está relacionada aos tamanhos e formas das células vegetais.

Geralmente as plantas saudáveis possuem alta reflectância e transmitância na banda do NIR. Com isso, consequentemente, a porcentagem de absorção dessa banda pelas células das folhas das plantas será mínima.

O índice NDVI é mais indicado para plantas de dossel baixo, que não tenham tanto índice de biomassa. É o caso de soja tardia, feijão ou culturas de portes mais baixos; plantas não tão adensadas.

O valor do índice NDVI varia de -1 a 1. Quanto mais próximo de 1, maior é a atividade da vegetação naquele pixel.

Valores negativos ou próximos a 0 indicam solo exposto, rios, açudes, edificações ou áreas onde há pouca atividade da clorofila (taxa fotossintética – chlorophyll content).

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Quando devo escolher o NDRE?

O índice NDRE utiliza as bandas do NIR e do RedEdge para sua confecção. Essa última é responsável pela captura daquela parte exponencial do espectro de luz da faixa de borda do vermelho, onde geralmente aparecem os primeiros sinais de estresse nas plantas.

Para culturas perenes, milho próximo ao V6 ou ponto de reprodução, cana-de-açúcar próximo ao ponto de maturação, o dossel de plantas muito alto prejudicará as folhas mais baixas de receberem radiação da banda do NIR.

Nestes casos, a banda do RedEdge irá penetrar melhor nas camadas de folhas mais baixas. Ela deve ser utilizada para melhor representatividade das áreas foliares e saúde da vegetação.

O NDRE para plantas de porte mais baixos terá o mesmo efeito do NDVI. Portanto, o índice NDRE permite trabalhar melhor em plantas de porte alto.

Se o problema nas lavouras for proveniente de doenças fúngicas em plantas de porte alto, o gestor ou consultor agrícola deve optar pelo NDRE. Isso porque as ondas eletromagnéticas utilizadas para o cálculo do NDVI não conseguirão chegar às partes mais baixas das culturas.

Se o problema nas lavouras for proveniente de pragas, a visualização em estágios iniciais possibilita que seja trabalhado com o MIP (Manejo Integrado de Pragas) e doses de herbicidas menores.

guia - a gestão da fazenda cabe nos papéis

Conclusão

Agora que você conheceu as diferenças de cada índice vegetativo, pode escolher o manejo correto a ser utilizado em sua propriedade.

O NDRE pode ser utilizado tanto em plantas de porte alto e mais adensadas quanto em  plantas de porte baixo.

Isso quando o intuito for a visualização do intervalo entre o começo e as fases medianas do estresse vegetativo.

Uma vez que a avaliação da saúde da vegetação se dá na planta como um todo, o NDVI deve ser utilizado em culturas de menor porte e menos adensadas.

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