About Marcelo Santoro

Sou Engenheiro Agrônomo e mestre pela ESALQ/USP. Atualmente sou aluno de doutorado do Programa de Fitotecnia da mesma instituição.

Citros/Citrus: Importância e principais dicas para essa cultura

Citros/Citrus: Diferenças, implantação do pomar, espaçamento e outras orientações sobre essa cultura.

Certamente você já se deparou com essas duas palavras, citros e citrus. Mas afinal, existe diferença entre elas? 

A resposta é sim! E com certeza você já sabe que ambas estão relacionadas com laranjas, mas também com as frutas cítricas.

Enquanto uma delas é mais generalista, a outra representa um nível específico dentro da classificação botânica. Ficou curioso? 

Então confira a seguir mais a respeito das frutas cítricas (citros/citrus), quais as principais cultivares, implantação de pomar cítrico, fisiologia e os principais desafios dessa cultura.

Citros e Citrus: Quais as diferenças?

Quando pensamos na classificação biológica, todas as espécies estão enquadradas em reino, filo, classe, ordem, família, gênero e espécie.

Ao falarmos citros, ou plantas cítricas, estamos referindo a espécies vegetais que pertencem à família Rutaceae em três gêneros: Citrus, Poncirus e Fortunella.

ReinoPlantae
FiloMagnoliophyta
ClasseMagnoliopsida
OrdemSapindales
FamíliaRutaceae
GênerosCitrusPoncirusFortunella

Classificação botânica dos Citros
(Fonte: Swingle, 1967)

Portanto, o termo citros se refere ao grande grupo composto das espécies desses três gêneros.

citros e citrus

Esquema representado Citros x Citrus
(Fonte: elaborado pelo autor)

Já o termo citrus é referente às espécies do gênero Citrus, excluindo as espécies dos demais gêneros. 

Esse grupo engloba as laranjas doces e azedas tais como tangerinas, mexericas, limões e limas, pomelos, toranjas, cidras e seus híbridos.

Grupo Exemplo Nome científico
1) Laranjas doces  
a)     Comuns Hamlin, Pêra e Valência  
b)     Baixa Acidez Lima Sorocaba e verde Citrus sinensis L. (Osbeck)
c)     De umbigo Laranja Bahia  
d)     Sanguíneas Moro e Sanguinello  
2) Laranja azeda Seville Citrus aurantium L.
3) Tangerinas    
a)     Comuns Ponkan e Clementina Citrus reticulata Blanco
b)     Satsumas Satsuma e satsuma owari Citrus unshiu Marchovitch
4) Mexericas IAC-606 e IAC-589. Citrus deliciosa Tenore
5) Limão verdadeiro Feminello, Lisboa e Verna. Citrus limon Lush.
6) Limas    
a)     Ácidas Tahiti e Galego Citrus latifolia Tanaka e Citrus aurantifolia Tanaka
b)     Doces Lima da pérsia e de umbigo Citrus limettioides Tanaka
7) Pomelos    
a)     Pigmentados Ruby e Star Ruby Citrus paradisi, MacFadyen
b)     Não pigmentados Duncan e Marsh
8) Toranjas Oroblanco e IAC-357 Citrus grandis
9) Cidras Etrog e Mão-de-buda Citrus medica
10) Kunquats Nagami, Marumi e Meiwa. Fortunella margarita, Híbrido e F. japonica

Principais grupos hortícolas dos citros, exemplos de cultivares e nomes científicos
(Fonte: Adaptado de Mourão Filho e Mattos Junior)

Implantação de pomar de citros

A fase de implantação do pomar é umas das etapas mais importantes para os cultivos perenes, sejam eles de espécies frutíferas ou florestais.

No caso do pomar cítrico isso não é diferente.

Para os citros, precisamos dar atenção especial para cinco pontos diferentes e você pode conferir o artigo completo sobre como não errar na implantação de pomar aqui!

Algumas dúvidas são mais frequentes que outras, portanto, abordarei duas das mais comuns a seguir.

Qual a distância de uma laranjeira para outra?

A distância entre as laranjeiras, ou o espaçamento, é definido por cinco fatores principais: 

  • A cultivar copa; 
  • O porta-enxerto;
  • O clima; 
  • O solo; 
  • E o manejo utilizado. 

Desde o início da citricultura, muito tem sido feito no sentido de aumentar a densidade dos plantios.

Isso significa ter mais plantas por área, ou seja, adensar. Para isso é necessário reduzirmos o espaçamento.

O adensamento pode trazer vantagens como o aumento da produtividade e rendimento de máquinas.

Entretanto, também pode trazer desvantagens como aumento da incidência de doenças fúngicas e necessidade de aumento da frequência de podas.

Por este motivo, cada cultivar copa apresenta um espaçamento recomendado, mas que pode variar de acordo com os fatores citados.

espaçamentos recomendados

Principais espaçamentos recomendados para as diferentes cultivares de citros
(Fonte: Embrapa Informação Tecnológica, 2005)

Como preparar a cova de mudas cítricas?

As covas para o plantio das mudas cítricas em campo normalmente apresentam as seguintes dimensões: 0,40 x 0,40 x 0,40 m.

Durante o processo de abertura das covas é interessante separar a terra da superfície (0 a 20 cm) da terra situada em maior profundidade (20 a 40 cm).

citros e citrus

Esquema de preparo das covas para o plantio
(Fonte: Embrapa Informação Tecnológica, 2005)

A terra da superfície deve ser enriquecida com adubo orgânico (esterco bovino) e fósforo e ser colocada em profundidade.

Por sua vez, a terra mais profunda não recebe os fertilizantes e é colocada na superfície, podendo ser utilizada para realizar o coroamento pós-plantio.

No caso de grandes áreas, esse preparo é normalmente realizado nos sulcos de plantio, traçados após o preparo das áreas.

>> Leia mais: para saber a respeito da fisiologia geral e do florescimento dos citros, confira o artigo que eu fiz sobre o assunto – Florada do Citros: 3 manejos essenciais para garantir uma boa produção. 

Principais desafios: passado e futuro

Os principais desafios encontrados pela citricultura no Brasil estão relacionados aos aspectos fitossanitários.

As plantas de citros são alvo de uma ampla gama de insetos e patógenos dos mais diversos tipos (como por exemplo, o cancro cítrico).

O histórico do uso de porta-enxertos na citricultura brasileira é um bom exemplo de como as doenças podem interferir negativamente no cultivo.

No início do século XX, a laranja caipira (Citrus sinensis L. Osbeck) era o principal porta-enxerto utilizado. 

Entretanto, sua sensibilidade patógeno Phytophthora spp. obrigou os produtores a utilizarem a laranja azeda (Citrus aurantium L.).

Esta por sua vez, em meados da década de 40, mostrou-se suscetível ao vírus da tristeza dos citros, disseminado por pulgões e que obrigou a migração para o limoeiro cravo.

Porta-enxerto AnoFator limitanteSolução
Laranja capiraInício séc. 20Phytophthora spp.Laranja azeda
Laranja azedaAnos 40Vírus da tristezaLimoeiro cravo
Limoeiro cravoAnos 70Declinio‘Cleópatra’ e ‘Volkameriano’
Limoeiro cravoAnos 2000Morte súbita‘Cleópatra’, ‘Swingle’ e ‘Sunki’

Histórico do uso de porta-enxertos na citricultura
(Fonte: Adaptado de Oliveira et al. (2008), Embrapa)

O limoeiro cravo apresenta a vantagem de ser resistente a estresses hídricos, porém, nos anos 70 e anos 2000, mostrou-se suscetível ao declínio e à morte súbita.

Esses eventos levaram à diversificação dos porta-enxertos e dentre outros, a tangerina cleópatra, o limão volkameriano, o citrumelo swingle e a tangerina sunki passaram a ser amplamente utilizados.

Esse processo de evolução da citricultura em conjunto com as plantas daninhas, pragas e doenças garantiu o desenvolvimento de protocolos e legislações específicas.

Graças à essa legislação, o setor citrícola do estado de São Paulo é um dos mais organizados no que se diz respeito à produção de mudas e controle fitossanitário.

Conclusão

Vimos que as frutas cítricas com destaque para as laranjas, limões, tangerinas e mexericas, têm um enorme peso no agronegócio, gerando empregos diretos e indiretos.

Grande parte das regiões produtoras são tradicionais no cultivo dessas espécies, entretanto novas tecnologias de produção e manejo surgem a cada ano.

Precisamos estar atentos às inovações e trabalhar em conjunto, buscando sempre uma citricultura cada vez mais sustentável e produtiva.

>> Leia mais:

Tudo sobre a produção de laranja pêra

E você já conhecia essas particularidades das plantas cítricas (citros/citrus)? Quais os principais desafios que você enfrenta em sua região? Conte nos comentários abaixo!

Agroquímicos: importância, problemas e alternativas

Agroquímicos: veja mitos e verdades do uso no agro e conheça os principais produtos e aplicações.

Cada vez mais nos deparamos com manchetes alarmantes a respeito deles nos noticiários, envolvendo casos de poluição ambiental e até intoxicação em humanos.

São os agroquímicos, agrotóxicos, defensivos agrícolas, ‘praguicidas’ ou pesticidas’.

Mas afinal, o que são todos esses nomes? Esses produtos são bons ou ruins? Devemos amá-los ou odiá-los?

Em tempos de extremismo e fake news devemos sempre buscar informações porque, como já disse o filósofo Francis Bacon, “saber é poder”.

Confira a seguir um pouco mais a respeito do que são os agroquímicos, por que precisamos deles e que nem tudo são flores.

O que são agroquímicos?

De acordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), pela Lei Federal 7.802 de 11.07.89, os agroquímicos são definidos como:

produtos ou agentes de processos físicos, químicos ou biológicos utilizados na produção, armazenamento e beneficiamento de produtos agrícolas, pastagem e proteção de florestas (…) cuja finalidade seja alterar a composição da flora ou da fauna, a fim de preservá-las da ação danosa de seres vivos considerados nocivos”.

Ou seja, são produtos que quando aplicados atuam no sistema agrícola modificando beneficamente o sistema produtivo.

Além de definir o que são, esta lei traz informações a respeito da pesquisa, produção, rotulagem, transporte, armazenamento e inúmeros outros tópicos.

Lei Federal 7.802 de 1989

Disposições a respeito dos agroquímicos da Lei Federal 7.802 de 1989, regulamentada pelo decreto Nº 4074/2002
(Fonte: Mapa e Menten et al., 2011)

Agora que já sabemos o que são os agroquímicos, podemos seguir em frente e explorar quais os principais tipos existentes no mercado.

Principais tipos de agroquímicos

Como a própria definição deixa explícito, a principal função desses produtos é alterar a composição da flora e fauna na produção agrícola.

Portanto, os agroquímicos podem ser enquadrados em algumas categorias, de acordo com o seu alvo sendo: fungicidas, inseticidas, herbicidas e outros.

Pragas dos cultivos agrícolas e seus defensivos

Principais pragas dos cultivos agrícolas e seus respectivos defensivos
(Fonte: CropLife Brasil)

Fungicidas

Os fungicidas atuam principalmente no controle e prevenção da ocorrência de fungos fitopatogênicos nos cultivos agrícolas. 

As demandas variam de cultura para cultura, principalmente nos diferentes níveis de sensibilidade das plantas aos patógenos.

São produtos requisitados de norte a sul do país, pois as condições climáticas brasileiras permitem o desenvolvimento destes fungos na maioria dos ambientes.

Inseticidas 

Inseticidas, por sua vez, são mais comuns em nosso dia a dia, pela razão de que muitas pessoas os possuem em suas casas.

É claro que as fórmulas bem como as doses e formas de aplicação utilizadas são bem diferentes que no campo, mas o princípio é o mesmo: prevenção e controle de insetos.

Os insetos, bem como os fungos, podem ser extremamente prejudiciais aos cultivos agrícolas quando não controlados e aparecem por todo o país.

Herbicidas

Junto com os fungicidas e inseticidas, os herbicidas são ferramentas essenciais para as práticas agrícolas, realizando o controle de plantas daninhas.

Quando não controladas, as plantas daninhas competem com os cultivos por água, luz e nutrientes, fazendo com que os cultivos não atinjam a produtividade máxima.

Outros produtos

Nessa categoria podemos enquadrar uma série de produtos que auxiliam as aplicações de modo a torná-las mais eficientes.

Os óleos espalhantes, adjuvantes, antiespumantes, sequestrantes e reguladores de pH são responsáveis por garantir maior eficiência e uniformidade no processo.

Importância do uso dos agroquímicos

Os agroquímicos são utilizados na agricultura desde o século XIX na forma de produtos inorgânicos, como o sulfato de cobre (principal componente da calda bordalesa).

Entretanto, o crescimento da população mundial associado ao aumento da expectativa de vida trouxe à tona um enorme desafio: como alimentar todas essas pessoas?

Perante essa necessidade, as alternativas eram expandir as áreas cultivadas ou aumentar a produção nas áreas já cultivadas.

A expansão das áreas traria prejuízos ambientais, principalmente no que diz respeito ao desmatamento, portanto, buscou-se o aumento da produção das áreas existentes.

Assim, a fim de aumentar a produtividade, precisamos reduzir as perdas e garantir um ambiente propício para o desenvolvimento dos cultivos.

Como grande parte dos trabalhos e pesquisas científicas indicam que as perdas de produção referente à ação de pragas chegam ao redor de 30% a 40%, a estratégia foi reduzir a ação dessas pragas nos cultivos agrícolas pelo uso de agroquímicos.

No Brasil, segundo dados do Ipea, um quinto do PIB nacional depende do agronegócio, tendo como base o cultivo e venda de commodities como soja, milho, laranja, café, entre outras culturas.

principais cultivos agrícolas do Brasil - IBGE - agroquímicos

Principais cultivos agrícolas do Brasil em volume de produção
(Fonte: Censo Agro IBGE (2017))

Esses cultivos dependem, e muito, dos agroquímicos, principalmente devido às grandes áreas cultivadas, o que dificulta a realização de outros tipos de manejo.

A tecnologia presente nos agroquímicos é extremamente eficiente, trazendo excelentes resultados de produção.

Mas, nem tudo são flores, o uso intensivo ou equivocado de agroquímicos pode trazer prejuízos irreparáveis.

Problemas relacionados ao uso de agroquímicos

Os principais problemas relacionados ao uso dos agroquímicos estão associados à saúde humana, ao meio ambiente e ao aparecimento de resistência de pragas.

O uso inadequado dos produtos afeta negativamente o sistema produtivo, deixando mais resíduos e atuando muitas vezes onde não devia.

A poluição ambiental por agroquímicos, seja do solo ou das águas, deve-se principalmente ao uso exagerado e inadequado.

agroquímicos

Exemplo de aplicação inadequada de agroquímicos, sem o uso dos equipamentos de proteção recomendados
(Fonte: Mundo Educação)

O não respeito às normas de aplicação, com o uso de equipamentos de proteção individual (EPI’s), expõe os trabalhadores a riscos desnecessários.

Além disso, a utilização indiscriminada de agroquímicos pode induzir a resistência das pragas, patógenos e daninhas aos produtos, tornando-os ineficientes no controle e exigindo doses cada vez mais altas para atingir o mesmo efeito.

Para entendermos melhor, podemos traçar um paralelo entre os agroquímicos e os antibióticos

Ambos possuem ingredientes ativos que atuam sobre os organismos de modo a eliminá-los.

Da mesma forma que não tomamos antibióticos sem orientação médica, os agroquímicos também devem ser utilizados sob orientação e recomendação de engenheiros agrônomos.

Principais alternativas aos agroquímicos

Graças à pesquisas, é possível tornar a agricultura menos dependente dos agroquímicos.

Os agroquímicos, ou controle químico, não é a única ferramenta disponível para o manejo das pragas, plantas daninhas e doenças em nas lavouras.

Diferentes técnicas podem ser aplicadas para a realização do manejo como o controle físico, biológico, mecânico e cultural.

agroquímicos - manejo integrado

Principais técnicas aplicadas para realização do manejo integrado
(Fonte: AMICI Mecanização Agrícola)

Quando aplicadas juntas, ou alternadas, essas técnicas formam o chamado manejo integrado, que pode ser utilizado para o controle de pragas, doenças e até plantas daninhas.

O manejo integrado das lavouras faz uso racional dos agroquímicos, tornando a agricultura mais sustentável, aliado ao desenvolvimento de novas tecnologias de aplicação que podem auxiliar na redução do volume de agroquímicos utilizados.

Outra saída para a redução do uso de agroquímicos está associada ao desenvolvimento de novas moléculas, mais eficientes e menos tóxicas.

controle biológico

Exemplo de controle biológico: vespinhas de Trichogramma parasitando ovos de lagartas
(Fonte: Embrapa)

Porém, além do custo envolvido é um processo demorado, sendo uma alternativa a longo prazo.

A agricultura orgânica, que se baseia no cultivo totalmente livre de agroquímicos, também pode ser uma alternativa viável para frutas e verduras.

Entretanto, os orgânicos conseguem – em sua maioria – fornecer maior variedade do que volume, e muitas vezes a sazonalidade é maior.

planilha de compras de insumos

Conclusão

Os agroquímicos fazem parte da realidade da produção de alimentos do Brasil e do mundo.

Entretanto, deve-se saber ponderar o seu uso e fazê-lo de forma correta – apenas quando necessário.

Finalmente, vimos que é preciso buscar o equilíbrio entre as técnicas de manejo para tornarmos a agricultura mais sustentável e segura para todos.

E você, qual sua opinião sobre os agroquímicos? Utiliza outras técnicas de controle, além do químico, em sua lavoura? Conte pra gente nos comentários!

Índice de vegetação: o que ele pode mostrar sobre sua lavoura

Índice de vegetação: Veja como funciona, quais suas aplicações e como essa tecnologia no campo pode te auxiliar na melhor tomada de decisão.

Com o avanço da tecnologia, novas ferramentas de manejo e gestão agrícola como os índices de vegetação têm surgido para facilitar a vida no campo.

Os índices de vegetação estão cada vez mais populares, entretanto, assim como o GPS não são um novo conceito.

Esses modelos matemáticos – ou algoritmos – baseados no sensoriamento remoto, buscam avaliar e caracterizar a cobertura vegetal.

Mas isso é apenas a ponta do iceberg, confira a seguir quais são e como funcionam os principais índices de vegetação!

Entendendo mais sobre os índices de vegetação

Antes de falarmos a respeito dos índices de vegetação, precisamos entender alguns princípios do sensoriamento remoto.

O sensoriamento remoto, por definição, trata-se da coleta de dados ou de imagens por sensores para posterior análise e processamento.

Pode ser realizado através de sensores presentes nos satélites, veículos aéreos (como drones) ou até mesmo veículos terrestres.

Por ser remoto, isso significa que é possível obter informações acerca de cultivos agrícolas, por exemplo, sem o contato direto do sensor com a lavoura.

Isso tudo é possível graças à radiação eletromagnética, ou REM, que pode ser natural ou artificial. 

A representação contínua da REM, por comprimento de onda, frequência ou energia é chamada espectro eletromagnético (como mostra a figura abaixo).

O sol é a nossa principal fonte de REM, com todos os objetos expostos a ela.

Espectro eletromagnético em função da frequência e comprimento de onda

Espectro eletromagnético em função da frequência e comprimento de onda
(Fonte: Chemistry Libretexts)

As interações existentes entre a REM oriunda do sol e a superfície das plantas permite a obtenção de informações a respeito do objeto que o emitiu.

Ocorrendo de forma simultânea, essas interações podem ser classificadas em três tipos: reflectância, transmitância e absorbância.

Como as radiações absorvidas, refletidas e transmitidas são complementares e devem sempre totalizar 100%, isso permite a extração de diversas informações.

Essas interações, principalmente a refletância, ocorrem em diferentes intensidades  e comprimentos de ondas nas mais diversas superfícies.

Essas variações fazem com que cada superfície apresente uma radiação eletromagnética característica, ou assinatura espectral, como vemos nas figuras abaixo.

 Diferentes interações entre a REM (luz incidente) e a superfície foliar, representada em corte longitudinal
(Fonte: adaptado de Portz, 2011)

Diferentes assinaturas espectrais

Diferentes assinaturas espectrais folha verde (a), folha seca (b) e solo (c) frente aos comprimentos de onda do espectro visível (B,G,R) e infravermelho (IR)
(Fonte: Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE))

Dentro do espectro luminoso, as plantas apresentam grande absorbância nas faixas do  azul (400-500 nm)  e vermelho (600-700 nm).

Isso graças à presença dos pigmentos (clorofilas, xantofilas e carotenoides) e a estrutura celular da superfície das folhas. É aqui que entram os índices de vegetação.

O que são os Índices de Vegetação e como funcionam

Os índices de vegetação são modelos matemáticos que vêm sendo desenvolvidos com base na reflectância das coberturas vegetais.

Ao integrar a reflectância de duas ou mais bandas espectrais, ou comprimentos de ondas, os índices de vegetação conseguem realçar determinadas características.

Para o cálculo dos índices de vegetação é comum a utilização da reflectância das assinaturas espectrais.

Quando conhecemos as interações entre a REM e as plantas nos diferentes comprimentos de onda, podemos desenvolver e utilizar inúmeros índices de vegetação.

Tais índices de vegetação podem ser utilizados para a determinação de uma gama de parâmetros biofísicos e características da vegetação.

Diferentes padrões de reflectância de folhas com diferentes estados

Diferentes padrões de reflectância de folhas com diferentes estados, morta ou seca, estressada e saudável
(Fonte: DronEng)

O  índice  de área  foliar, a biomassa, a porcentagem de cobertura do solo, a atividade fotossintética, deficiências hídricas e até mesmo estimativas de produtividade são alguns desses parâmetros.

O sensoriamento remoto fornece a base para o desenvolvimento dos índices de vegetação, a reflectância das culturas.

As principais vantagens da utilização dos índices de vegetação estão na eficiência, rapidez e praticidade das mensurações.

Ao contrário dos monitoramentos convencionais, essas técnicas permitem a identificação de variabilidade nas lavouras durante seu desenvolvimento.

Permitindo adubações e pulverizações otimizadas, manejo preciso das pragas e doenças antes da colheita e não apenas para os cultivos subsequentes.

>> Leia mais: O que é SIG na agricultura e como essa tecnologia pode ser útil na sua fazenda

Principais índices de vegetação

Apesar de hoje em dia os índices de vegetação estarem crescendo no mercado, seu  conceito data da década de 70. São inúmeros índices de vegetação existentes como o NDVI, EVI, SAVI e VARI.

Cada um apresenta uma finalidade e funcionalidade diferente e são usados mundialmente, não apenas na avaliação de lavouras.

a) Índice de Vegetação por Diferença Normalizada (NDVI)

O NDVI é a sigla em inglês para Normalized Difference Vegetation Index e trata-se do índice mais conhecido no mercado.

Esse índice de vegetação atua com sensores infravermelho próximo (NIR), analisando a resposta espectral das plantas nas bandas do vermelho e do infravermelho próximo.

O índice de vegetação NDVI pode ser utilizado no das lavouras para detecção de déficit hídrico, danos de pragas, estimativa de produtividade e outros.

O cálculo do índice de vegetação NDVI é feito através da fórmula:

NDVI

Onde, IVP é reflectância no faixa do Infravermelho próximo e V é a reflectância na faixa do vermelho e seus valores variam de -1 a 1.

Portanto, valores próximos de 1 indicam uma vegetação ativa e saudável, enquanto próximos de 0 ou negativos outros objetos ou vegetação menos ativa ou senescente.

índice de vegetação

Plantas com diferentes características foliares, seja devido à seca, nutrição ou fitossanidade apresentam diferentes valores de NDVI
(Fonte: Earth Observatory – NASA)

A seguir separei duas imagens que mostram como os dados ficam quando processados.

Os valores mais elevados em vermelho indicam a vegetação mais ativa, que domina a imagem no período úmido (esquerda) ao contrário do período mais seco (direita).

Imagens processadas referentes ao cálculo NDVI

Imagens processadas referentes ao cálculo NDVI em dois períodos, úmido (esquerda) e seco (direta)
(Fonte: Borato & Gomide – Embrapa, 2013)

b) Índice de Vegetação Melhorado (EVI)

O índice de vegetação melhorado é calculado de forma similar ao NDVI, apresentando algumas modificações que garantem a correção de luz refletida.

Onde:

NIR = Reflectância do infravermelho próximo; 
RED = Reflectância do vermelho; }
BLUE = Reflectância do azul; 
L = ajuste de fundo; 
C1 e C2 = Coeficientes de resistência a aerossóis.

É comum que partículas em suspensão na atmosfera e sinais de fundo do dossel (cobertura do solo) levem à formação de reflexos indesejáveis.

Esses reflexos prejudicam a captura e consequentemente a interpretação dos dados.

Os dados produzidos pelo índice de vegetação melhorado não saturam tão facilmente quanto os do NDVI.

O EVI é destinado especialmente em regiões que concentram grandes quantidades de biomassa vegetal (elevados teores de clorofila) como as florestas tropicais.

c) Índice de Vegetação Ajustado ao Solo (SAVI)

Como o próprio nome sugere, o SAVI surgiu da necessidade de atenuar os efeitos causados pelo solo na captura dos dados.

Seu cálculo é realizado pela mesma fórmula do NDVI acrescido da constante L, que varia de acordo o maior ou menor grau de cobertura do solo.

O índice SAVI é muito utilizado em áreas que apresentam baixas densidades de vegetação ou de início de plantio.

c) Índice Resistente à Atmosfera na Região Visível (VARI)

O índice de vegetação VARI, assim como o EVI, foi designado para realizar correções dos efeitos atmosféricos.

O VARI é destinado principalmente para detecção de áreas de estresse nas lavouras e analisa o nível de ‘verde’ capturado dos dados (ou imagens).

Diferente dos índices de vegetação anteriores, que são baseados em sensores infravermelho próximo (NIR), as imagens VARI são geradas pelos sensores RGB.

A tendência de uso de imagens RGB não busca a substituição da tecnologia NDVI, mas sim a ampliação das técnicas de mensuração.

Analisando índices de vegetação na sua lavoura

Agora que você já conheceu os principais índices de vegetação existentes, deve estar se perguntando como aplicá-los na sua lavoura.

Uma forma prática de obter essas informações é por meio de um software de gestão rural, como o Aegro.

No Aegro, você pode contratar imagens de satélite para as áreas da sua propriedade e verificar o índice NDVI da plantação.

As imagens são geradas pelo satélite Sentinel-2, em uma frequência de 3 a 5 dias, e ficam organizadas em ordem cronológica no sistema.

https://youtu.be/Y3aajQ7Dlig

Isso te ajuda a acompanhar e evolução da safra com o passar do tempo e identificar mudanças no vigor da vegetação com facilidade.

Além disso, os dados do sensoriamento remoto podem ser analisados juntamente com o histórico de operações agrícolas realizadas em cada talhão.

Assim, você consegue entender se as suas atividades estão tendo o resultado esperado na saúde do cultivo e tomar decisões de manejo mais assertivas.

Simples, não é mesmo? Conheça a solução da Aegro para imagens de satélite e descomplique o uso de NDVI no seu dia a dia.

guia - a gestão da fazenda cabe nos papéis

Conclusão

O sensoriamento remoto e os índices de vegetação são ferramentas muito poderosas que podem auxiliar nos manejo das lavouras.

Os diferentes índices de vegetação nos permitem obter diferentes informações e formular mapas que auxiliam nas tomadas de decisão.

Ao contrário das avaliações convencionais, as informações obtidas pelos índices de vegetação permite agir nos cultivos atuais e não nos subsequentes.

>> Leia Mais: 

NDRE versus NDVI: Qual é melhor para sua fazenda
Drones na agricultura: Como eles te ajudam a lucrar mais
Drones e agricultura de precisão: 8 pontos para você considerar

E você, já utiliza os índices de vegetação para monitoramento de sua lavoura? Conte pra gente nos comentários! 

Tudo sobre o manejo da Laranja Hamlin

Laranja Hamlin: desde a implantação do pomar até o manejo de adubação e irrigação, plantas daninhas e fitossanitário. 

Nos últimos anos, o plantio de laranjas doces precoces, como a Hamlin, aumentou nas principais regiões produtoras do país.

Essas cultivares precoces (Hamlin, Westin e Rubi) representam 23% das variedades dos pomares paulistas.

Isso garantiu aumento da produtividade dos pomares e maior oferta de frutos de qualidade para consumo in natura e para a indústria.

Mas afinal, quais as principais características dessa cultivar? E quais os manejos adequados? Confira a seguir, essas e outras informações sobre a Laranja Hamlin! 

Laranja Hamlin, uma cultivar precoce

A Laranja Hamlin (Citrus sinensis (L.) Osbeck) pertence ao grupo das laranjas doces comuns, assim como a valência.

Isso significa que quando madura apresenta níveis de acidez que podem variar de 0,9% até 1%.

Sendo considerada de maturação precoce a meia-estação, seus frutos podem entrar no mercado entre os meses de maio até agosto, dependendo da região de cultivo.

Os frutos da Laranja Hamlin são pequenos a médios, contêm poucas sementes e apresentam casca fina de coloração amarelada.

Frutos de Laranja Hamlin

Frutos de Laranja Hamlin
(Fonte: Florida Citrus Varieties)

Além disso, possuem baixos teores de suco, de açúcares (ou sólidos solúveis) e são ligeiramente ácidos.

Seu suco apresenta coloração clara quando comparado ao de outras cultivares, não sendo o ideal para processamento.

Entretanto, o principal destino para a Laranja Hamlin é a indústria de processamento para produção de suco concentrado.

Isso acontece porque as plantas, além de precoces, são muito produtivas e garantem grande quantidade de frutos em época de escassez.

Como podemos observar no gráfico abaixo:

Período de colheita por variedade SP

Período de colheita por variedade e porcentagem da produção do estado de São Paulo 
(Fonte: Markstrat – CitrusBR)

A Laranja Hamlin, como precoce, é uma das principais cultivares que alimentam a indústria de processamento para suco concentrado.

Sua precocidade permite que a indústria inicie as atividades semanas antes da maturação das demais cultivares.

Além dela, as laranjas pêra (meia-estação), valência e natal (tardias), garantem o processamento no período de maio a dezembro.

Os frutos da Hamlin também podem ser comercializados em pequena escala no mercado interno de frutas in natura.

A implantação do pomar de Laranja Hamlin

As laranjeiras são plantas perenes e permanecerão no campo por muitos anos, por isso, a implantação é um período crítico para seu sucesso.

Independente da cultivar, devemos nos atentar a pontos-chave antes e durante o plantio. 

Confira mais sobre implantação de pomares cítricos.

Manejos do pomar cítrico

A fim de alcançar elevadas produtividades, os pomares cítricos requerem manejos de adubação e irrigação, plantas daninhas, fitossanitários e outros.

1. Escolha do porta-enxerto e adensamento de plantio

Na época de obtenção das mudas, antes mesmo da implantação do pomar, precisamos determinar o espaçamento e o porta-enxerto.

Assim como para outras espécies frutíferas, o porta-enxerto tem forte influência sobre o desenvolvimento da copa da Laranja Hamlin.

Dentre os principais utilizados atualmente no Brasil, a Laranja Hamlin não apresenta incompatibilidade com nenhum deles.

Exemplos de incompatibilidade de enxertia entre copas e porta-enxertos de citros
(Fonte: Oliveira et al. (2006) – Embrapa)

Portanto, a escolha deve ser feita de acordo com as necessidades da região de cultivo e da lavoura.

Para pomares irrigados, por exemplo, não há necessidade de usar porta-enxertos resistentes à seca.

Os porta-enxertos podem influenciar no vigor, produtividade, precocidade de produção, qualidade dos frutos, tolerância seca e resistência a patógenos.

Para a Laranja Hamlin, o uso do Flying dragon – de baixo vigor, facilita o adensamento e garante produtividade superior a de outras cultivares.

Produtividade de laranjeiras Embrapa

Produtividade de laranjeiras (Citrus sinensis L. Osbeck.) Hamlin, Natal e Valência enxertadas sobre Flying dragon (Poncirus trifoliata L.) no espaçamento 4m x 2m em Bebedouro (SP). 
(Fonte: Embrapa, 2012)

2. Manejo da adubação e irrigação

A adubação e irrigação são fatores que influenciam diretamente na produtividade de pomares cítricos.

Esse processo começa com a análise de solo, continua na correção e se concretiza na adubação.

Pode ser realizado via solo ou foliar, de acordo com as necessidades do pomar no decorrer do ciclo produtivo.

Sendo assim, é um processo dinâmico que deve iniciar antes da implantação e ter acompanhamento constante, buscando atender as necessidades das plantas.

Para uma melhor adubação, confira em Adubação em Citros: 3 dicas para ser ainda mais eficiente

A irrigação, por sua vez, pode influenciar diretamente no florescimento das plantas cítricas, já que o florescimento é estimulado pelo estresse hídrico.

Em pomares irrigados, principalmente em regiões de clima tropical, podemos antecipar o florescimento regulando o fornecimento de água.

Veja mais sobre a florada do citros.

3. Manejo de plantas daninhas

Nos pomares cítricos, as plantas daninhas podem ocasionar danos diretos e indiretos.

Danos diretos são resultado da competição por água, luz e nutrientes, que leva à redução da quantidade e qualidade dos frutos colhidos.

Estima-se que as perdas de produtividade devido à competição direta com plantas daninhas possam variar de 20% até 40%.

Enquanto os danos indiretos estão relacionados ao fato das plantas daninhas serem hospedeiras em potencial para pragas, doenças e nematoides.

A Laranja Hamlin tem apresentado boa produção quando livre de plantas daninhas, principalmente nas estações mais secas.

Os manejos realizados nos pomares cítricos para o controle de daninhas, baseiam-se no uso de herbicidas na pré e pós-emergência e de roçadeira ecológica.

Outra alternativa viável é o cultivo de culturas intercalares de interesse econômico (como quiabo, berinjela e abacaxi) ou adubos verdes. 

Esses métodos integrados de manejo das plantas daninhas se destacam por evitarem a interferência, promovendo menor impacto ambiental.

Nome comumNome científico
capim-marmeladaBraquiaria plantaginea (link.) Hitchc
capim-coloniãoPanicum maximum Jacq.
capim-colchãoDigitaria horizontalis (Retz). Koel
capim-carrapichoCenchrus echinatus L.
capim-pé-de-galinhaEleusine indica (L.) Gaertn
grama-sedaCynodon dactylon (L.) Pers
capim-favoritoRhynchelitrum repens (willd.) C.E. Hubb
capim-amargosoDigitaria insularis (L.) Fedde
grama-batataisPaspalum notatum Flugee
capim-braquiáriaBraquiaria decumbens Stapf.
tiriricaCyperus rotondus L.
trapoerabaCommelina spp.
picão pretoBidens pilosa L.
guaxumasSida spp.
caruruAmaranthus spp.
falsa-serralhaEmilia sonchifolia (L.) DC.
mentrastoAgeranthum conyzoides L.
picão-brancoGalinsoga parviflora Cav
cordas-de-violaIpomoea spp.
beldroegaPortulaca oleraceae L.

Principais espécies de plantas daninhas de ocorrência nas áreas citrícolas
(Fonte: Adaptado de Victoria Filho et al. (1991))

4. Manejo fitossanitário

As laranjeiras e outras plantas cítricas são alvo de grande quantidade de pragas e doenças.

Ácaros, pulgões, lagartas, psilídeos, cochonilhas, cigarrinhas e formigas são exemplos das pragas causadoras de danos, sendo alguns deles vetores de doenças.

Doenças como a verrugose, a gomose e a pinta preta são algumas das doenças fúngicas que acometem os pomares cítricos.

Enquanto das doenças bacterianas se destacam o Huanglongbing (HLB) ou Greening, a clorose variegada dos citros (CVC) e o cancro cítrico.

Atualmente, os principais entraves da citricultura brasileira estão relacionados à ocorrência das doenças bacterianas do cancro cítrico e do HLB.

Isto porque, para estas duas doenças, há determinação legal que exige que as plantas infectadas sejam arrancadas, a fim de evitar a disseminação dos patógenos.

Portanto, para manter os pomares cítricos em bom estado fitossanitário é necessário vigilância constante e sistemática.

Monitoramento da presença do psilídeo

Monitoramento da presença do psilídeo (Diaphorina citri), inseto transmissor do HLB em pomares cítricos
(Fonte: Fundecitrus)

Amostragens e/ou inspeções periódicas são essenciais para a detecção e diagnóstico da ocorrência de pragas e doenças.

E uma vez verificado o problema, deve-se buscar a recomendação técnica adequada para a resolução do problema.

A melhor estratégia para o controle de pragas e doenças é a prevenção e isto deve acontecer desde o início do plantio.

Conclusão

A Laranja Hamlin é uma cultivar essencial para a citricultura brasileira, principalmente para a produção do suco concentrado.

Assim como outras cultivares, seu manejo requer cuidado e atenção desde as primeiras etapas do pomar até as inspeções periódicas.

Neste texto você viu características, implantação do pomar e métodos diversos de manejo. 

Um pomar bem cuidado e com os manejos adequados é garantia de longevidade e bons frutos nas colheitas.

>>Leia mais:

Como ter uma produção de mudas cítricas de boa qualidade

Tudo sobre a produção de laranja pêra

E você, quais manejos realiza em seu pomar de Laranja Hamlin? Deixe o seu comentário abaixo!

Adubação em citros: 3 dicas para ser ainda mais eficiente

Adubação em citros: tudo o que você precisa saber para definir o quê, em que momento e quanto aplicar em seu pomar para alcançar mais produtividade.

A produção e a qualidade dos frutos cítricos estão associadas a diversos fatores como clima, planta (copa e porta-enxerto), práticas culturais, controle de pragas e doenças

Mas, sem dúvida, o fator mais básico e fundamental, com resposta rápida na produtividade, é a adubação.

E para alcançar máxima eficiência nesta prática é preciso saber o quê, quanto, quando e como aplicar. 

Confira a seguir 3 dicas para realizar a adubação em citros com maestria!

1ª Dica – adubação em citros: o quê e quanto aplicar

A lavoura de citros responde rápida e positivamente ao uso de fertilizantes. E, para garantir a eficiência da adubação em citros, precisamos saber o quê e quanto aplicar, quando aplicar e como aplicar!

Para definir o quê e quanto aplicar precisamos, antes de mais nada, descobrir quais são as principais necessidades de nossa lavoura.

E são as análises nutricionais do solo e de folhas que vão nos auxiliar a responder essas perguntas.

Deficiências nutricionais em citros

As plantas, assim como nós, precisam de nutrientes para que possam crescer e se desenvolver.

Os macro (N, P, K, Ca, S, Mg) e micronutrientes (B, Cl, Co, Cu, Mn, Mo, Zn) devem estar sempre presentes e disponíveis às plantas para alcançar máxima produtividade.

Para cada caixa de laranja (Citrus sinensis L.) de 40,8 kg produzida, cada cultivar extrai do solo uma grande quantidade de nutrientes. 

E, caso o solo não apresente as quantidades necessárias para suprir as plantas, elas podem apresentar desenvolvimento insatisfatório e sintomas de deficiência.

Entenda melhor na tabela abaixo:

extração por cultivar

A fim de evitar as deficiências, antes mesmo da implantação do pomar, devemos realizar uma adubação de correção.

E com o passar do tempo, devemos monitorar nossa lavoura, corrigindo sempre que for necessário.

Qual adubo usar em citros?

O adubo que iremos utilizar depende do nutriente que desejamos corrigir, fornecer ou complementar.

Confira na tabela que separei a seguir alguns dos adubos que podem ser utilizados para adubação em citros e seus principais constituintes.

adubação em citros

De modo mais prático, podemos optar pelo uso de formulados NPK, que garantem o fornecimento de três nutrientes numa única vez.

Como vimos, cada adubo pode conter mais de um nutriente e apresenta determinada garantia desses nutrientes.

Dessa forma, as quantidades aplicadas podem ser diversas, evitando a salinidade do solo e garantindo viabilidade financeira.

Qual a composição do adubo Super Simples?

O superfosfato simples (SSP), também conhecido como Super Simples, é um fertilizante derivado do minério natural de fosfato.

Junto com outros, fertilizantes fosfatados são os mais utilizados para corrigir os valores de fósforo (P) do solo. Sua composição básica é de 18% P2O5, 20% Ca e 12% de S.

Agora que sabemos os adubos que podemos usar na adubação em citros, vamos à próxima dica: quais as épocas de maior exigência, ou seja, “quando aplicar?”.

superfosfato simples

Detalhe de superfosfato simples ou “Super Simples”
(Fonte: BR Fértil)

2ª Dica – Adubação em citros: Quando aplicar?

Já vimos que a adubação garante resposta rápida na produtividade das plantas e que é primordial sabermos quais e quanto de adubo iremos utilizar.

Agora precisamos saber qual a época crítica para sua aplicação!

Para o citros, as fases mais críticas para a adubação são o florescimentocrescimento dos frutos, após a colheita e início da vegetação.

Mas, além disso, é importante que as adubações em citros estejam associadas às épocas de ocorrência de chuvas. 

No Estado de São Paulo, essa época ocorre de setembro a março e engloba as fases de maior demanda.

Muitas vezes, em regiões de solo menos fértil, as quantidades a serem aplicadas podem ser muito elevadas para serem distribuídas numa única vez.

Para sanar esse problema, podemos realizar o parcelamento dos adubos em duas ou até quatro vezes durante esse período.

O parcelamento, assim como a escolha dos adubos, pode ser estratégia essencial para evitar aumento da salinidade do solo.

A tabela que trago a seguir mostra os períodos de maior exigência de N, P, e K dos citros, portanto, quando devemos aplicar cada um deles.

adubação em citros

Nesse processo, os micronutrientes não podem ser esquecidos pois, assim como os macronutrientes, são essenciais para o bom desenvolvimento das plantas.

A época de maior exigência de micronutrientes é durante o florescimento, logo após a queda das pétalas e início do fluxo vegetativo.

3ª Dica – Como aplicar a adubação em citros?

Minha terceira e última dica te ajudará na escolha do modo de aplicação dos adubos em sua lavoura.

De modo geral, os macronutrientes são aplicados via solo. Isso pode ser feito na forma sólida ou ainda junto com a água de irrigação através da técnica chamada fertirrigação.

Enquanto para os nossos micronutrientes podemos optar pela aplicação foliar.

Fertirrigação em citros

Ao contrário da adubação com fertilizantes sólidos, a fertirrigação não depende da época das chuvas, pois será realizada juntamente com a irrigação e de forma localizada.

Entretanto, para utilizar desta técnica é necessário que os pomares já apresentem um sistema de irrigação previamente instalado.

Além disso, é preciso que os adubos escolhidos sejam completamente solúveis em água para não causar entupimentos.

Esta técnica demanda monitoramento constante, pois pode causar aumento da salinidade dos solos, o que prejudica o desenvolvimento radicular das plantas.

Adubação foliar em citros

A adubação foliar é normalmente restrita à aplicação de micronutrientes. O boro (B) é uma exceção, pois sua maior absorção ocorre via solo.

A principal vantagem da adubação foliar é que ela fornece os nutrientes diretamente nas regiões de demanda, o que permite melhor absorção.

Apesar de poder ser associada a outras aplicações, garantindo economia de operações, precisa ser realizada nas horas mais amenas do dia para garantir sua eficácia!

Aplicação foliar em plantas cítricas

Aplicação foliar em plantas cítricas
(Fonte: Acervo pessoal – Marcelo Brossi Santoro)

Conclusão

Para aumentarmos a eficiência da adubação em citros precisamos nos atentar ao quê e quanto aplicar, quando e como aplicar.

Esses três fatores estão intimamente ligados e vão influenciar diretamente na produtividade da lavoura.

Cada forma de aplicação e cada tipo de adubo utilizado apresenta vantagens e desvantagens que mostramos aqui.

Cabe a você avaliar e optar pelas que trarão vantagens econômicas e produtivas ao pomar.

>> Leia mais:

Como não errar na implantação do pomar de laranja valência

“Tudo sobre a produção de laranja pêra”

Em quais pontos você foca na hora de aumentar a eficiência da adubação em citros? Conte pra gente nos comentários!

Como identificar e evitar a deficiência de boro na soja

Deficiência de boro na soja: Importância para a lavoura, acompanhamento nutricional e melhores fontes de adubação.

Grande parte do cultivo de soja no país ocorre em solos de baixa fertilidade, o que demanda elevadas doses de fertilizantes e corretivos.

Assim, o rendimento de grãos de soja tem forte relação não só com os macronutrientes,  mas também com os micros, como o boro que possui função de maximizar a produção.

Mas, para isso, precisamos disponibilizar esse nutriente em quantidades adequadas e em épocas críticas.  

Saiba a seguir como identificar a deficiência de boro na soja para maior rentabilidade na lavoura. 

Nutrição de plantas: Como evitar a deficiência de boro na soja 

Para entendermos mais sobre o boro (B), precisamos conhecer alguns pontos a respeito da nutrição de plantas.

O solo conta com uma grande quantidade de nutrientes que podem ser classificados como: essenciais, benéficos ou até mesmo tóxicos.

As plantas absorvem esses nutrientes do solo e os transformam em compostos que garantem seu crescimento, desenvolvimento e produção.

Nutrientes essenciais são aqueles que atuam em algum processo fisiológico da planta e que, em sua ausência, ela não completa seu ciclo de vida.

Por isso, para uma boa produtividade, todos os nutrientes essenciais devem estar presentes.

Mas, lembre-se: nem todos os nutrientes presentes são essenciais! De modo geral, eles são 14 e são divididos entre macronutrientes (N, P, K, Ca, S e Mg) e micronutrientes (B, Cl, Cu, Fe, Mn, Mo, Ni e Zn).

O que classifica um nutriente nessas categorias é a quantidade exigida pelas plantas. Ou seja, os micronutrientes são exigidos em menores quantidades, mas isso não os faz menos essenciais que os macronutrientes.

No solo, o pH é um dos fatores de maior influência na disponibilidade dos micronutrientes, como você pode notar na figura abaixo:

variação micronutrientes

Variação na disponibilidade de micronutrientes em função do pH
(Fonte: Malavolta, 1979)

Agora que falamos sobre a importância geral dos nutrientes, vou explicar a importância do boro para a soja.

Importância do boro para a soja

O boro (B) é um micronutriente associado à síntese de compostos como o DNA e RNA, proteínas e fitohormônios.

Ele atua juntamente com o cálcio (Ca) na formação da parede celular; auxilia no processo de germinação do tubo polínico; e na divisão celular. 

Além disso, estimula o desenvolvimento e crescimento radicular e o transporte de açúcares na planta.

Sua absorção, transporte e redistribuição ocorrem enquanto o boro se encontra na forma de ácido bórico (H3BO3), que é a principal forma encontrada no solo.

Uma vez absorvido pela planta, o transporte interno acontece de forma unidirecional, via xilema, do solo para a parte aérea, graças à transpiração das plantas.

Isso faz com que a concentração desse nutriente, independente da dose aplicada, seja maior nas folhas, vagens e sementes, respectivamente. Veja:

doses de boro no solo

Efeito de diferentes doses de boro aplicado ao solo em sua distribuição na parte aérea de Brassica napus L.
(Fonte: Gerath et al., 1975, em Marchner, 1986)

Por isso, ainda há controvérsias a respeito da aplicação foliar desse nutriente devido à baixa mobilidade no floema e ao elevado custo operacional.

A baixa mobilidade faz com que os sintomas de deficiência de boro sejam visíveis primeiro nos órgãos mais novos e regiões de crescimento das plantas.

Sua correção no sulco de plantio é de extrema importância para garantir maior rentabilidade.

Como identificar a deficiência de boro na soja

A deficiência de boro na soja ocorre primeiro em folhas mais jovens e meristemas apicais.

Deficiência de boro na soja são observados nas folhas novas. Elas ficam grossas, enrugadas, com alguma clorose internerval e pontas enroladas para baixo. Os internódios também podem ficar encurtados.
(Fonte: Plantix)

Para evitarmos a deficiência, o primeiro passo é fazer a análise de solo e a correção das áreas. 

Outra técnica que podemos adotar é a análise química das plantas. É uma alternativa para acompanhar a nutrição e identificar a deficiência de B na lavoura.

Para obtermos melhores resultados, as amostras da análise precisam ser muito bem padronizadas! 

Por isso, devemos escolher folhas que já atingiram o ponto de maturação fisiológica, ou seja, estão em seu máximo desenvolvimento.

Na cultura da soja, o ponto máximo de acúmulo de nutrientes ocorre no início do florescimento (R1).

Então, da mesma forma que fazemos nas análises de solo, precisamos coletar aleatoriamente amostras de folhas na lavoura.

Para a amostragem, coleta-se a 3ª e/ou 4ª folha trifoliolada da haste principal, sem o pecíolo.

Lembrando que a contagem das folhas se inicia no ápice, sendo a primeira folha aquela trifoliolada completamente expandida. Veja na figura abaixo:

análise química boro na soja

Terceira e quarta folhas trifolioladas que podem ser utilizadas para a análise química (R1)
(Fonte: DRIS)

Quanto mais folhas coletarmos, mais representativa ficará a amostragem.

A quantidade de folhas a serem coletadas e enviadas para análise depende da homogeneidade da lavoura.

Diferentes tipos de solos, relevos e topografias, ou ainda diferentes manejos adotados, tornam a lavoura mais heterogênea, sendo necessário maior número de amostras.

Mas, de modo geral, a recomendação é que sejam coletadas pelo menos 30 folhas por hectare. Após isso, devemos interpretá-las!

Essa interpretação é feita com base na comparação com os valores-padrão estabelecidos para a cultura.

teores nutricionais foliares de soja

Interpretação de resultados dos teores nutricionais foliares de soja (R1)*. Valores referentes aos teores no terceiro ou quarto trifólio sem o pecíolo, coletado da haste principal
(Fonte: Embrapa Soja, 2013)

Deficiência de boro na soja: Fontes para adubação 

Agora que conhecemos um pouco sobre a deficiência de boro na soja, podemos pensar em como manejar esse nutriente na cultura.

No mercado existe uma diversidade de produtos comerciais e fontes de boro para adubação de soja.

Elas diferem entre si pelo nível de solubilidade para influenciar na forma de aplicação desses fertilizantes.

Para a soja, a aplicação via solo no sulco de semeadura é a mais recomendada por não ser uma cultura responsiva à adubação foliar.

A aplicação do boro também pode ser feita via solo, na forma líquida, muitas vezes junto com a de herbicidas.

Isso garante uniformidade de aplicação, economia de tempo e de operações, sem interferir no controle das plantas daninhas.

Mas lembre-se que fontes muito solúveis podem causar toxicidade às plantas, então devemos optar pelas menos solúveis.

Diferentes fontes de boro, suas garantias e nível de solubilidade
(Fonte: adaptado de Vitti et al.)

Conclusão

Tanto os macros quantos os micronutrientes, como o boro, têm grande influência na produtividade da soja.

E, por isso, conhecer o comportamento no solo e a deficiência de boro na soja é essencial para adequarmos os manejos em busca da máxima produtividade.

Neste artigo também abordamos como fazer o acompanhamento nutricional da lavoura e quais as principais fontes e formas de aplicação desse micronutriente tão importante.

Espero que, com essas informações, você possa evitar a deficiência de boro na sua lavoura de soja!

>> Leia mais:

Como fazer adubação potássica em soja

Cálculo de adubação para soja

Você já teve problemas com deficiência de boro na soja? Conte pra gente nos comentários!

Florada do citros: 3 manejos essenciais para garantir uma boa produção

Florada do citros: Irrigação, recomendação de  adubação mineral e foliar, controle de doenças e outras recomendações para a melhor produtividade do pomar!

A ocorrência de florescimentos fracos e de doenças nas flores é um problema comum em citros.

Assim como para outras frutíferas perenes, a florada é apenas o primeiro passo em direção a uma boa produção.

Por isso, precisamos estar atentos às condições ambientais, nutricionais e fitossanitárias de nosso pomar.

Confira a seguir como podemos fazer os melhores manejos para uma boa florada e, consequentemente, para uma boa produção!

Florada do citros: Fisiologia do florescimento do citros

Para entender o manejo, precisamos conhecer um pouco a respeito da fisiologia do florescimento.

As plantas cítricas quando cultivadas em clima subtropical apresentam de 2 a 5  fluxos de crescimento durante o ano.

O fluxo de primavera, que ocorre do final de julho a meados de setembro, após o repouso fisiológico, é o precursor da principal florada dos citros.

Já em regiões de clima tropical (mais quentes), o crescimento e o florescimento podem ocorrer durante todo o ano, desde que ocorra a indução.

O principal fator responsável pela indução do florescimento das plantas cítricas é o estresse hídrico.

Apesar de simples e belo, a florada do citros é um processo complexo, que envolve a ação conjunta de fatores endógenos e exógenos

O teor de carboidratos e de hormônios, assim como a temperatura média do ar e as relações hídricas e nutricionais, são alguns deles.

As perfumadas flores cítricas se formam em inflorescências, que são conjuntos de flores que podem ou não apresentar folhas.

Isso ocorre de acordo com as condições ambientais que a planta passa durante a época de indução.

Em grande parte das cultivares cítricas, é nas inflorescências com folhas que ocorre maior fixação das flores e, consequentemente, mais frutos.

Isso acontece graças a melhor condição endógena proporcionada pela folha, presença de carboidratos, hormônios, entre outros.

florada do citros

Esquema do tipos de inflorescências formadas nas plantas cítricas: inflorescências sem folhas (1 e 2); inflorescências com folhas (3 e 4) e ramo vegetativo sem flores (5).
(Adaptado de Yair Erner e Ilan Shomer, 1996).

Desenvolvimento floral

O desenvolvimento floral apresenta 7 estágios diferentes antes da fixação e desenvolvimento do fruto, como você pode ver na figura abaixo:

estágio floral do citros

Estágio de desenvolvimento floral dos citros. (R1) botões verdes cobertos pelas folhas; (R2) botões verdes cobertos pelas sépalas; (R3) botões brancos; (R4) botões brancos alongados ‘cotonete’; (R5) flores abertas; (R6) queda das pétalas (70% de queda) e (R7) frutificação ‘chumbinho’.
(Adaptado de Silva-Júnior et al., 2014)

De forma geral, esse é o processo da florada do citros.

Agora que entendemos e conhecemos a fisiologia, confira a seguir 3 manejos essenciais para não errar e aumentar a produção!

Florada do citros: 3 manejos essenciais para aumentar a produção

1. Irrigação

Como vimos, o estresse hídrico é essencial para a indução do florescimento das plantas cítricas.

Porém, as plantas cítricas demandam cerca de 900 mm a 1.200 mm de chuvas por ano, sendo este um fator limitante para a sua produção.

A produção de citros em regiões cujo déficit hídrico anual supere 300 mm, exige a instalação de um sistema de irrigação.

Muitas vezes nos prendemos muito à quantidade de chuva e nos esquecemos da distribuição delas ao longo do ano.

Períodos de déficit hídrico superiores a 2 meses podem reduzir drasticamente nossa produção.

Para atingirmos bons níveis produtivos, a demanda hídrica nos meses de verão pode chegar a até 4 mm/dia. No inverno, isso varia de 2 a 3 mm/dia.

Lembre-se: a demanda hídrica pode variar

Além dos aspectos ambientais, ela também é alterada pela copa/porta-enxerto usado, características do solo, espaçamento, idade da planta, sanidade, entre outros.

2. Adubação

O manejo da adubação dos citros é essencial para seu ciclo produtivo. E deve ser realizado sempre com base em análises de solo e folha. 

Normalmente, a adubação é realizada na época das águas (de setembro a março), englobando a pré-florada e o pós-florada. 

Esta é a época de maior demanda nutricional da planta, onde se concentra o crescimento vegetativo, florescimento e fixação de frutos.

Normalmente, o adubo deve ser aplicado em faixas de largura igual ao raio da copa da planta, sendo dois terços dentro e um terço fora da mesma.

O parcelamento é uma técnica comum e recomendada, podendo ser feito em duas ou três vezes no período chuvoso.

Confira na tabela que eu separei:

Época de aplicação e parcelamento de nitrogênio, fósforo e potássio em plantas cítricas de 2 ou mais anos.
(Adaptado de Embrapa Informação Tecnológica, 2005).

Os micronutrientes também são essenciais para o bom desenvolvimento das plantas e falarei deles mais à frente!

Nos últimos anos, as técnicas de fertirrigação e adubação foliar se destacaram como essenciais para a melhora da florada dos citros.

>> Leia mais: “Como fazer amostragem de solo com estes 3 métodos diferentes.

Adubação foliar para florada do citros

A adubação foliar na citricultura ganhou espaço devido à crescente produtividade dos pomares cítricos, buscando complementar a nutrição via solo. 

A técnica busca a manutenção ou correção dos níveis nutricionais das plantas, principalmente no que diz respeito aos micronutrientes.

Os principais micronutrientes aplicados via foliar são: manganês (Mn), molibdênio (Mo), zinco (Zn), cobre (Cu) e boro (B).

As adubações foliares devem ser realizadas nas épocas de fluxos de crescimento (primavera – verão), sempre nas horas mais amenas do dia.

Enquanto as brotações ainda são novas, sua cutícula ainda não está completamente desenvolvida e isso permite melhor absorção dos nutrientes.

Alguns macronutrientes também podem ser aplicados via foliar buscando melhorias na florada do citros. É o caso do nitrogênio (N) e do cálcio (Ca).

Mas, lembre-se: devido à elevada demanda dos macronutrientes, estes não devem ser restritos à adubação foliar.

Muitas vezes a adubação foliar é realizada em conjunto com defensivos agrícolas, desde que haja compatibilidade entre eles.

Fertirrigação

As principais vantagens desta técnica são a aplicação localizada e em solo molhado dos fertilizantes, via água de irrigação.

A projeção da copa engloba maior quantidade de raízes ativas, portanto, otimizamos a absorção de nossos fertilizantes.

Mas, como nem tudo são flores, para usarmos a fertirrigação precisamos que nosso pomar já possua sistema de irrigação instalado.

Além disso, precisamos que nossos fertilizantes estejam completamente solubilizados na água para que não ocorram entupimentos.

O uso dessa técnica exige monitoramento constante para que não aconteça salinização do solo, especialmente na região do bulbo de molhamento.

comportamento do bulbo

Comportamento do bulbo de molhamento em solo argiloso e arenoso.
(Fonte: Solo, planta e atmosfera: conceitos, processos e aplicações. Reichardt & Timm, 2004.)

3. Controle fitossanitário

As plantas cítricas apresentam uma grande quantidade de pragas e doenças que interferem em seu desenvolvimento – e durante a florada não é diferente.

As flores cítricas são alvo do fungo chamado Colletotrichum acutatum, causador da chamada podridão-floral ou “estrelinha”.

florada do citros

Flor saudável (1)  e flor atacada pelo fungo Colletotrichum acutatum (2)
(Fontes: (1) Marcelo Brossi Santoro e (2) Fundecitrus)

Esse fungo infecta flores e frutos jovens levando à queda das flores e, consequentemente, reduzindo a produção das plantas.

As fases R3, R4 e R5 vistas no decorrer do artigo são as mais críticas à infecção do fungo.

O controle deve ser realizado preventivamente no pré-florescimento, com fungicidas do grupo das estrobilurinas e triazóis. 

Mas atenção! Longos períodos de chuva favorecem infecção.

Florada do citros: Particularidade da florada da ponkan

A ponkan (Citrus reticulata) é uma das cultivares de tangerinas mais produzidas no Brasil e no mundo.

Sua maturação, no estado de São Paulo, é considerada de precoce à meia estação, ocorrendo nos meses de abril a junho.

Apesar de ser amplamente cultivada, as tangerinas ponkan apresentam uma particularidade a qual devemos nos manter atentos.

Embora a fisiologia básica seja a mesma, as tangerinas Ponkan podem apresentar a chamada alternância produtiva.

Isso acontece devido a um desbalanço entre as fases vegetativa e reprodutiva da planta, levando a prejuízos na produtividade e trazendo impacto sobre a qualidade dos frutos.

O principal responsável por esse desbalanço é o florescimento excessivo

Esse florescimento exagerado pode esgotar as reservas energéticas das plantas, levando a uma produção muito baixa ou até mesmo nula no ano seguinte.

Portanto, o uso de técnicas que redução da florada podem e devem ser aplicadas de forma preventiva ou corretiva.

As principais técnicas comercialmente utilizadas são o uso de reguladores de crescimento, poda e raleio químico ou manual.

Banner de chamada para o download da planilha de controle de custos de safra

Conclusão

Neste artigo, pudemos perceber que a florada dos citros pode ser afetada por diversos fatores: demanda hídrica, nutricional e aspectos sanitários.

Por isso, precisamos nos manter atentos, sempre alinhando as técnicas de manejo às necessidades fisiológicas e particularidade de nossas plantas.

Dessa forma, transformaremos uma bela florada numa bela produção!

>> Leia mais:
Como não errar na implantação do pomar de laranja valência
Tudo sobre o manejo da Laranja Hamlin

E você: qual manejo não abre mão na florada do citros? Conte pra gente nos comentários! 

Como não errar na implantação do pomar de laranja valência

Laranja valência: Características da cultivar, espaçamento de plantio e outras recomendações para um plantio bem-sucedido.

A citricultura representa um setor importantíssimo para o país. O Brasil é responsável por 34% dos frutos e 50% do suco produzidos no mundo. 

A produção e a qualidade dos frutos depende de uma série de fatores relacionados a aspectos da planta (porta-enxerto e enxerto), clima, solo e práticas culturais.

Apesar dos elevados custos, caprichar na implantação do pomar já é meio caminho andado para o sucesso do plantio e da boa produção.

Confira a seguir um pouco mais sobre o comportamento das cultivares de copa e 5 dicas que vão te auxiliar na implantação do pomar de laranja valência.

Laranja valência, uma cultivar tardia

Grande parte das cultivares cítricas floresce na primavera. O intervalo de tempo entre o florescimento e a colheita é chamado ciclo de desenvolvimento e pode variar de 6 a 16 meses.

Essa variação no ciclo de desenvolvimento faz com que as cultivares apresentem distintas épocas de maturação. Isso nos permite classificá-las em 4 grupos

  • Cultivares de maturação precoce;
  • Maturação precoce a meia-estação
  • Maturação meia-estação;
  • Maturação tardia.

Junto com diversas outras cultivares, como a Hamlin e a Pêra-Rio, a laranja valência (Citrus sinensis L. Osbeck) faz parte do grupo das laranjas doces comuns. Isso significa que seus níveis de acidez variam de 0,9% a 1% quando maduras.

A valência é uma cultivar considerada de maturação tardia. Ou seja, seus frutos atingem a maturação entre os meses de setembro a janeiro

Em campo, a planta apresenta uma copa arredondada e um porte elevado. O fruto, como podemos observar na figura abaixo, apresenta um bom tamanho e formato elíptico. 


A casca é laranja-amarelada e a polpa de coloração laranja com alto teor de suco, podendo ser destinada para a indústria ou para mesa.

laranja valencia

Ilustração das principais cultivares de laranja comercializadas no Brasil 

(Fonte: Hortiescolha – Ceagesp) 

Dentro de nossa propriedade é interessante que haja diversificação de copas. Ou seja, cultivares com diferentes épocas de maturação, para garantirmos produção e rentabilidade durante todo o ano.

Veja abaixo uma tabela com sugestão da distribuição das diferentes variedades (em porcentagem) que podemos ter em nossa propriedade.

laranja valencia

Sugestão para plantio cultivares de diferentes épocas de maturação (em porcentagem)

(Fonte: Adaptado de Embrapa Informação Tecnológica, 2005).

A seguir, veremos um pouco mais sobre o plantio da laranja valência.

Como plantar laranja valência: 5 pontos que você deve considerar

Como o pomar de laranjeiras é perene, ou seja, permanecerá no campo por muitos anos, a instalação do pomar é uma fase crítica na definição da longevidade do plantio.

Portanto, separamos para você os 5 principais pontos que devemos focar durante o processo de instalação de nossos pomares!

1 – Clima

Aspectos relacionados ao clima, como quantidade e distribuição das chuvas e as temperaturas da região, devem ser estudadas antes de iniciarmos a implantação. Eles são fatores determinantes das áreas de cultivo.

A indução floral em plantas cítricas é estimulada por baixas temperaturas e pelo estresse hídrico proporcionado pelo inverno. Mas, as laranjeiras têm preferência por temperaturas amenas, de 23ºC a 32ºC, e um regime hídrico de 1.000 mm a 1.800 mm bem distribuídos durante o ano. 

Contudo, muitas vezes as exigências hídricas não são atendidas, sendo fundamental o uso de técnicas de manejo, como a irrigação.

Os efeitos da temperatura podem ser observados no desenvolvimento da planta e também na qualidade dos frutos.

Temperaturas mais baixas garantem coloração da casca e polpa mais acentuadas. Já regiões com maiores temperaturas produzem frutos com maiores teores de açúcares e menor acidez.

2 – Local para o pomar de laranja valência

O local está diretamente relacionado ao clima, mas também a outros aspectos importantes como distância do mercado; topografia (relevo); disponibilidade hídrica; e, principalmente, ao tipo de solo e ocorrência de pragas e doenças.

Antes do plantio, as principais características de solo que devemos nos atentar são a acidez e fertilidade. Elas devem ser corrigidas quando necessário, baseado na análise de solo

As laranjeiras se desenvolvem bem em solos pouco ácidos, com pH entre 5,5 e 6,5, e também com boa fertilidade. Portanto, adubação e calagem são essenciais.

Além disso, a textura do solo, bem como a profundidade do perfil e drenagem irão influenciar diretamente na escolha do porta-enxerto e manejo da adubação e irrigação.

As plantas cítricas preferem solos de textura areno-argilosa, profundos e com boa drenagem. Apesar disso, se adaptam a solos arenosos e argilosos. 

É importante evitar solos com problemas de drenagem ou impedimentos ao desenvolvimento radicular.

3 – Mudas

A muda cítrica é considerada a base da citricultura, sendo essencial sua garantia sanitária e fidelidade genética.

Neste sentido, os estados de São Paulo e Rio Grande do Sul foram pioneiros no estabelecimento de normas e procedimentos para produção de mudas cítricas, com monitoramento através da certificação dos viveiristas.

Para a certificação, as mudas devem ser livres dos agentes patogênicos do cancro cítrico, da clorose variegada do citros (CVC), da morte súbita do citros, da gomose e, mais recentemente, do HLB (greening).

Além disso, a garantia de fidelidade genética se mantém graças aos processos de certificação das plantas matrizes (borbulheiras).

laranja valencia

Produção de mudas de laranjeiras enxertadas produzidas em ambiente protegido

(Foto: Marcelo Brossi Santoro)

4 – Cultivares copa e porta-enxerto

Para escolhermos as cultivares copa devemos ter sempre em mente qual será nosso mercado consumidor: fruta fresca ou indústria.

Cada mercado tem sua exigência, mas, de forma geral, nossas cultivares copa devem apresentar boa produtividade e qualidade de fruto.

Já as cultivares porta-enxerto devem apresentar bom vigor, nível de tolerância ao estresse hídrico, adaptação ao solo e, principalmente, resistência a pragas e doenças.

Independente da copa e porta-enxerto escolhidos, é imprescindível que sejam compatíveis, para que as plantas sejam produtivas e perdurem em campo.

5 – Laranja valência: Aspectos técnicos 

A interação dos fatores anteriores será essencial para determinação do espaçamento, preparo e manejo do solo e cuidados pré e pós-plantio.

Para o cultivo de laranjeiras, o espaçamento pode variar de 7 m a 6 m entre linhas por 5 m a 3 m entre plantas, de acordo com as variedades escolhidas. 

Embora a tendência atual seja de adensamento dos pomares, na laranja valência, que apresenta um porte elevado, podemos optar por um espaçamento de 7 x 4 metros.

Uma vez que tudo esteja pronto, podemos realizar o plantio, preferencialmente na época das chuvas e em dias de pouca insolação.

Devemos realizar um corte no sistema radicular das mudas para remover enovelamentos e acertar a profundidade de plantio, mantendo o colo da planta pelo menos 5 cm acima do solo.

Os cuidados no pós-plantio são os mais diversos, desde desbrotas, controle de formigas, inspeções de pragas e doenças, controle de plantas daninhas à adubação e irrigação.

Conclusão

A instalação do pomar de laranja valência é crucial para o sucesso do plantio.

Neste artigo, listamos os 5 principais pontos que devemos nos atentar durante o planejamento.

Lembre-se que cada caso é um caso e, por isso, devemos analisar com cuidado cada situação para que tenhamos uma boa produtividade e frutos de qualidade!

>>Leia mais:

Florada do citros: 3 manejos essenciais para garantir uma boa produção

Tudo sobre o manejo da Laranja Hamlin

E você: qual a sua experiência com implantação de pomar de laranja valência? Ficou com alguma dúvida? Deixe seu comentário!