About Thaís Fagundes Matioli

Sou Engenheira Agrônoma formada pela Universidade Federal de Lavras (UFLA), mestre em Ciências/Entomologia pela ESALQ/USP, e doutoranda no Departamento de Entomologia da ESALQ/USP.

Percevejos: você conhece tudo sobre esses insetos?

Atualizado em 29 de junho de 2022.

Percevejos: entenda os hábitos, os danos e como manejar melhor esses insetos em sua propriedade.

Os percevejos são insetos fitófagos que se alimentam de partes das plantas como raízes, caule, folhas, grãos e frutos. Pertencem à subordem Heteroptera e ordem Hemiptera, com mais de 40 mil espécies. 

Essas pragas agrícolas causam danos diretos, pela sucção nos tecidos da planta e principalmente nos grãos. Danos indiretos também são causados pela disseminação de doenças.

Neste artigo, confira o que são percevejos, suas principais características, tipos de percevejos e sua identificação visual. Boa leitura!

O que são percevejos?

Os percevejos são pequenos insetos sugadores, com aparelho bucal do tipo labial tetraqueta. Isso possibilita que eles insiram o rosto na planta para sugar seus nutrientes.

Existem diversas famílias e espécies desta subordem Heteroptera. Elas variam muito quanto ao hábito alimentar, e podem ser predadores, hematófagos, zoofitófagos ou fitófagos.

Os predadores se alimentam de outros insetos. Os hematófagos se alimentam de sangue. Os zoofitófagos são carnívoros, mas utilizam de produtos de plantas como pólen, néctar e seiva para complementação nutricional.

Os percevejos fitófagos são os que causam danos nas culturas agrícolas, e se alimentam de diferentes partes das plantas. Os percevejos mais importantes incluem:

  • Família Pentatomidae: considerados sugadores de grãos. As principais espécies desta são: Nezara viridula (percevejo-verde), Piezodorus guildinii (percevejo-verde-pequeno), Euschistus heros (percevejo-marrom), Dichelops Spinola (percevejo barriga-verde), Edessa meditabunda (percevejo da soja);
  • Família Cydnidae: são polífagos e sugadores de raízes, principalmente em lavouras sob sistema de plantio direto. As principais espécies são: Scaptocoris castanea e Scaptocoris carvalhoi;
  • Família Alydidae: também sugadores de grãos: Neomegalotomus parvus (percevejo-formigão)

Principais características dos percevejos

A principal família de percevejos que causa danos em diversas culturas e principalmente na soja é a família Pentatomidae. Ela possui mais de 4.123 espécies.

Esta família tem antenas com cinco segmentos, medem cerca de 7 mm e tem a parte superior do corpo grande e em formato triangular. Eles podem ou não ter a presença de espinhos nas laterais superiores.

Foto de dois percevejos, lado a lado
Adultos do percevejo barriga-verde. A cabeça deste inseto possui duas projeções pontiagudas e a parte anterior do tórax apresenta margens dentadas e as laterais possuem expansões espinhosas, conforme indicação na figura.
(Fonte: Panizzi, 2015)

A coloração dos percevejos é variada, e mudam conforme o estádio de vida (ovo, ninfa e adulto).  A depender da espécie, a alimentação das ninfas, principalmente de primeiro ínstar, ocorre em conjunto. 

Isso acontece pelo tamanho reduzido do seu aparelho bucal. Além disso, a soma da saliva dos indivíduos em grupo facilita a dissolução de frutos e dos tecidos das plantas.

Ovos de percevejo sobre folhas
Ninfas de primeiro ínstar (c) e ninfa de quinto ínstar do percevejo-marrom (Euschistus heros) se alimentando nos tecidos vegetais de soja
(Fonte: Panizzi)

A partir do terceiro ínstar, como é o caso de Nezara viridula (percevejo-verde), o inseto se dispersa pela área de cultivo. Afinal, neste estádio, o tamanho do seu aparelho bucal já permite que ele se alimente separadamente.

Nas espécies fitófagas, o rosto é bastante alongado na fase adulta, o que facilita o consumo do conteúdo mais interno da planta. A profundidade alcançada pelos percevejos para sucção do conteúdo interno das plantas varia a depender da espécie.

O ciclo de vida desses insetos passa pelas fases de ovo, ninfa e adulto.

Ciclo do percevejo marrom
Ciclo de desenvolvimento do percevejo-verde (Nezara viridula) em soja. A duração de cada uma das etapas do ciclo (ovo, 1º instar, 2º instar, 3º instar, 4º instar, 5º instar e adulto), tem variação a depender da espécie de percevejo, da espécie de plantas hospedeiras, da temperatura e umidade
(Fonte: Panizzi, 2012)

Por que os percevejos são um problema na agricultura?

Algumas características desses insetos fazem com que eles possam se adaptar e invadir culturas que antes não eram tão comuns. 

Por exemplo, eles atacam um grande número de espécies de plantas. Isso faz com que as populações de uma espécie-praga de percevejo aumente e se propague rapidamente. 

Esses insetos têm alta mobilidade e, antes mesmo do final do ciclo da cultura, se dispersam para outros hospedeiros e para hospedeiros alternativos. Eles podem continuar o ciclo de reprodução ou sobrevivência nesses hospedeiros.

Afinal, podem não se reproduzir em uma determinada espécie de plantas, mas conseguem sobreviver nelas.

Eles também sobrevivem por bastante tempo em condições desfavoráveis. Na falta do hospedeiro, esses insetos conseguem sobreviver em hospedeiros alternativos, sobretudo em leguminosas.  Plantas daninhas e até restos culturais de entressafra são exemplos. 

Além disso, podem hibernar por um tempo, até que as condições sejam ideais ao seu desenvolvimento. 

Danos causados por percevejo marrom
Percevejo sobrevivendo na entressafra em plantas daninhas e restos vegetais na área de cultivo
(Fonte: André Shimohiro, 2018)

A alimentação da maioria das espécies ocorre em diversas espécies de plantas. Isso pode apresentar problemas na sucessão de culturas, principalmente de trigo/soja e milho/soja.

Por exemplo, na sucessão soja-milho safrinha, essa preocupação cresceu. Isso se deu sobretudo pelo aumento da soja transgênica, com tecnologia Bt (Bacillus thuringiensis). 

O uso dessa tecnologia tem como principais alvos as lagartas desfolhadoras, mas não os percevejos. Consequentemente, eles passaram a ter vez na lavoura de soja Bt como principais pragas.  

Por isso, no milho safrinha, esses insetos também têm sido frequentes. Afinal, estavam atacando a soja anteriormente. 

Mesmo que seja feito o tratamento de sementes, as plântulas das culturas não suportam o ataque de uma grande população de percevejos.

Danos causados por percevejos

Além dos danos diretos pela sucção da seiva, os percevejos também podem disseminar doenças. 

Nas sementes, prejudicam o enchimento e formação, afetando a qualidade. Sementes e grãos tornam-se chocos e enrugados. Isso acelera a deterioração de sementes e grãos durante o armazenamento.

Ainda, a saliva dos percevejos contém enzimas que alteram a fisiologia e bioquímica dos tecidos próximos a inserção do estilete. Isso provoca a morte dos tecidos vegetais e necrose (escurecimento dos tecidos).

Essas substâncias dissolvem as porções sólidas e semi-sólidas das células, obtendo assim os lipídios, carboidratos e demais nutrientes necessários. Isso resulta na degeneração da parede celular dos tecidos atacados.

Na soja, os percevejos podem disseminar o fungo causador da mancha de levedura (Nematospora coryli). Também podem causar distúrbios fisiológicos, retardando a senescência da cultura.

Isso significa que as folhas permanecem verdes e retidas na planta por mais tempo, causando o fenômeno da “soja louca”. A consequência é que a colheita é dificultada.

Já no milho, a presença de percevejos reduz o porte (altura) e o perfilhamento.

Em alguns casos, os danos nos estádios vegetativos podem ser compensados, sem afetar a produtividade da cultura. Afinal, no caso da soja, por exemplo, a cultura consegue compensar emitindo novas vagens ou produzindo grãos mais pesados.

No entanto, quando ocorre no período reprodutivo, afeta diretamente a qualidade e produtividade das culturas. Para que isso não ocorra, os percevejos devem ser monitorados e controlados em fases anteriores ao período reprodutivo, para evitar altas populações.

Principais tipos de percevejos 

Um bom controle começa pela identificação correta do percevejo na lavoura. Além disso, as diferentes espécies de percevejos são controladas por diferentes produtos químicos, o que torna a identificação ainda mais necessária.

Percevejo-marrom (Euschistus heros

O percevejo-marrom é uma das principais espécies que causam danos em soja. 

Eles podem atacar as hastes e os ramos da cultura, mas causam maiores danos atacando as vagens em formação. Eles podem migrar para o milho safrinha em seguida. 

No algodão, se alimentam das cápsulas em maturação e reduzem a qualidade dos fios, bem como a produtividade da cultura. As principais plantas hospedeiras do percevejo-marrom são:

  • Leguminosas;
  • Solalaceae;
  • Brassicaceae;
  • Ervas daninhas, principalmente o leiteiro ou amendoim-bravo (Euphorbia heterophylla) e carrapicho-de-carneiro (Acanthospermum hispidum).

Eles possuem coloração marrom-escura e espinhos nos prolongamentos laterais do pronoto. No verão, os espinhos tornam-se mais longos e mais escuros.

Seu ciclo de vida pode ser de até 116 dias. Os ovos são de coloração amarelada e são ovipositados principalmente nas folhas e vagens da soja. As ninfas deste percevejo tem coloração cinza a marrom, dependendo do seu ínstar.

A depender da temperatura, a duração média dos ovos é de 28,4 dias. A temperatura ideal é de 25°C.

Ciclo do percevejo marrom visto de perto
Percevejo-marrom (Euschistus heros). Na figura (a) pode-se observar as características dos adultos, (b) massa de ovos, (c) ovos e ninfas recém eclodidas, e (d) ninfa de 5º instar
(Fonte: Panizzi, 2012)

Percevejo-verde-pequeno (Piezodorus guildinii)

Eles causam maiores lesões em profundidade na soja, em comparação às demais espécies de percevejos-praga. Isso acontece devido ao tipo de picada nos tecidos da planta.  As principais plantas hospedeiras são:

  • Feijão;
  • Alfafa;
  • Ervilha;
  • E em determinadas situações algodão;
  • Pastagens próximas às lavouras de soja também podem ser hospedeiras na entressafra (ervilhaca, nabo forrageiro e tremoço, principalmente na região Sul do Brasil);
  • Crotalária.

Os adultos medem em torno de 9 mm e tem coloração verde-clara a amarelada (ao final do ciclo de vida do inseto). Isso é o que o distingue de outras espécies de coloração verde.

Além disso, possui uma lista transversal de coloração marrom-avermelhada perto da cabeça. Os ovos são pretos e têm formato de “barril”. São ovipositados em fileiras duplas e preferencialmente em vagens, mas também em outras partes da planta. 

As ninfas são pequenas, com cerca de 1 mm e se alimentam em grupos. Sua coloração inicial é preta e avermelhada, e posteriormente esverdeada. O tempo médio entre ovo e adulto é em torno de 24,4 dias

percevejo-verde-pequeno-da-soja adulto
Percevejo-verde-pequeno-da-soja adulto, com sua lista transversal de coloração marrom-avermelhada (próxima a cabeça)
(Fonte: Agro Bayer Brasil)

Percevejo-verde (Nezara viridula)

Ataca principalmente as partes reprodutivas da cultura da soja. Provoca o chochamento dos grãos, além de injetar toxinas nas plantas.  As principais plantas hospedeiras são:

  • Feijão;
  • Arroz;
  • Algodão;
  • Macadâmia;
  • Nogueira-pecã;
  • Carrapicho-de-carneiro;
  • Nabo-bravo ou nabiça;
  • Mostarda;
  • Trigo;
  • Mamona.

Esses percevejos possuem tamanho superior aos demais, entre 10 mm e 17 mm. Possuem coloração verde, verde-escuro. 

As antenas são avermelhadas e a parte inferior é de coloração clara. Os ovos são ovipositados nas partes inferiores das folhas, e tem coloração amarelada. A cor dos ovos do percevejo fica rosada, quando prestes a eclodir.

As ninfas mais jovens são alaranjadas. Já no primeiro e segundo ínstares, tem cor preta e manchas brancas no dorso. Os danos deste percevejo se iniciam quando as ninfas encontram-se no terceiro instar.

Adulto (a), ovos (b) e ninfas de primeiro (c) e quinto (d) ínstar do percevejo-verde (Nezara viridula)
(Fonte: Panizzi, 2012)

Percevejo-barriga-verde (Dichelops furcatus e Dichelops melacanthus)

O percevejo-barriga-verde causa maiores prejuízos devido à sucessão soja-milho. Eles provocam o amarelecimento das plantas e lesões semelhantes a pontos nas folhas. Esses danos também são observados em trigo, mas em intensidade reduzida.

Dentre as plantas hospedeiras, encontram-se:

  • Milho;
  • Trigo;
  • Aveia-preta;
  • Triticale;
  • Trapoeraba;
  • Crotalária;
  • Braquiária;
  • Alfafa;
  • Feijão.

Os adultos medem entre 9 mm e 11 mm. Eles têm coloração que pode variar do castanho amarelado ao acizentado, mas com o abdômen sempre verde. Esta espécie também possui espinhos nas expansões laterais do pronoto.

Percevejo barriga verde visto de perto
Adulto de percevejo-barriga-verde
(Fonte: Agro Bayer)

Em milho safrinha, o grande problema é a migração desses insetos para a cultura. O percevejo-barriga-verde tem causado danos consideráveis e, por isso, deve haver maior atenção. 

Danos causados por percevejos em milho
Danos severos de percevejo-barriga-verde em milho
(Fonte: Pioneer Sementes) 

Percevejo-asa-preta-da-soja (Edessa meditabunda)

Esta espécie tem se tornado um problema cada vez mais frequente na cultura da soja. Ela tem como plantas hospedeiras principalmente:

  • Solanáceas;
  • Leguminosas;
  • Algodão;
  • Tabaco;
  • Girassol;
  • Uva.

Esses percevejos medem aproximadamente 13 mm e tem o corpo em formato oval. Seu corpo é de coloração verde, e suas asas marrom escuras. 

Os ovos são postos em duas fileiras e tem coloração verde-claro. As ninfas têm coloração verde-amarelada.

Um aspecto interessante desta espécie é que durante a alimentação, permanecem com a cabeça baixa, provavelmente por possuírem o estilete mais curto. Isso explica também a alimentação principalmente em hastes e não em vagens.

Embora não se alimentem das vagens, o potencial de dano desta espécie é significativo. Ela pode reduzir a produtividade e a qualidade dos grãos (por desviar os nutrientes durante o enchimento de grãos).

Percevejo-castanho (Scaptocoris spp.)

No Brasil, ocorrem três espécies de percevejo castanho. Eles causam danos principalmente em pastagens, mas também já foram associados a outras culturas, incluindo:

  • Algodão;
  • Arroz;
  • Cana-de-açúcar;
  • Eucalipto;
  • Café;
  • Feijão;
  • Milheto;
  • Sorgo;
  • Pastagens;
  • Plantas daninhas.

São considerados polífagos. Além disso, são pragas subterrâneas, o que dificulta o seu controle, pois encontram-se principalmente em profundidade no solo. Estão distribuídos por todo território nacional.

As três principais espécies de percevejo castanho são Scaptocoris carvalhoi, Scaptocoris castanea e Scaptocoris buckupi, pertencentes à ordem Hemiptera: Cydnidae e subfamília Scaptocorinae.

A depender do nível populacional dos percevejos castanhos, em uma área de cultivo, é possível identificar a sua presença pelo odor característico exalados por eles, que assemelha-se ao do percevejo popularmente conhecido como “maria fedida”.

Os danos são observados em reboleiras, e dependem do tamanho da população. Em populações maiores, ocorre o murchamento das plantas, com posterior amarelecimento e morte das plantas. 

Em populações menores, observa-se retardamento do crescimento das plantas.

Os adultos do percevejo castanho medem entre 5 e 10 mm, possuem coloração castanha, e corpo convexo. As ninfas possuem coloração branca. 

Os ovos são ovipositados próximos às raízes, para que assim que eclodam, as ninfas possam se alimentar das raízes das plantas de forma facilitada.

Adultos e ninfas podem ser encontrados em grandes profundidades no solo, independentemente da umidade deste, sendo relatados até 1,8 metros de profundidade. 

No entanto, os danos mais severos são observados em épocas chuvosas (novembro a março), onde migram para a superfície, para se alimentar das raízes.

Ovos, ninfas e adultos do percevejo castanho, em imagens separadas
Ovo, ninfas e adulto do percevejo castanho.
(Fonte: Torres 2020).

Como acabar com percevejo?

Após identificar as principais espécies, você precisa saber como eliminar percevejo da sua área de cultivo.

Estratégias que englobam além do controle químico e biológico são essenciais para a redução dos danos causados pelos percevejos. Monitoramento, uso de armadilhas, rotação de culturas e manejo das épocas de semeadura são os principais exemplos.

Armadilhas

As armadilhas podem funcionar tanto para o monitoramento da população de percevejos quanto para auxiliar no controle, quando cultivos armadilhas são realizados.

Os cultivos armadilhas são caracterizados pela implantação de uma cultura, em blocos, faixas, ou nas bordaduras da cultura principal, que seja mais atrativa aos percevejos. Isso, é claro, em relação à cultura agrícola que está sendo cultivada.

Deste modo, os percevejos são atraídos para ela, e o controle é concentrado em pontos estratégicos. Outras armadilhas podem ser instaladas ao longo do cultivo, a depender da espécie de percevejo.

Para o percevejo marrom da soja, por exemplo, armadilhas eficientes são elaboradas a partir da urina de bovina.

Outra possibilidade é o uso de armadilhas com feromônio sexual, localizadas a 30 e 40 cm do solo, para captura e monitoramento do percevejo marrom e também de outras espécies de percevejos.

Rotação de culturas

A rotação de culturas em uma área com alta infestação de percevejos, deve ser planejada em função da espécie de ocorrência, utilizando plantas que sejam ou resistentes, ou não hospedeiras.

Para isto, é indispensável a correta identificação da espécie de percevejo que está ocorrendo na área de cultivo, bem como o conhecimento dos seus aspectos biológicos.

Além disso, o sistema de cultivo, convencional, ou plantio direto, bem como época do ano, interferem na ocorrência e consequentemente, no potencial de danos provocados pelos percevejos.

Manejo das épocas de semeadura

Da mesma forma, para o manejo das épocas de semeadura, é indispensável a identificação da espécie de percevejo. No entanto, sabe-se que em semeaduras precoces, ou tardias, a ocorrência e danos de percevejos são maiores. 

Isto ocorre porque nas semeaduras precoces, os percevejos que estão na área de cultivo, se alimentando de hospedeiros alternativos, rapidamente migram para as culturas hospedeiras principais. Eles as utilizam para se reproduzir.

Já em semeaduras tardias, as populações de percevejos encontram-se altas.

Para percevejos de hábito subterrâneo, o controle mais eficiente é realizado nas épocas chuvosas. Nesse período, eles migram de grandes profundidades do solo para a superfície.

Monitoramento

Para que o controle seja realmente efetivo, você deve considerar o monitoramento de pragas de uma forma geral.

Em soja, é imprescindível que você faça o pano-de-batida semanalmente. Além disso, é importante considerar o nível de ataque na planta. Fique bastante atento à fase fenológica da planta.

Entre com controle quando houver 2 percevejos por metro linear (para grãos) e 1 por metro linear (para semente).

Eliminar restos culturais e hospedeiros alternativos da área 

Como os percevejos podem se manter nos restos culturais, é ideal que você faça a limpeza da área antes de iniciar o cultivo da cultura seguinte.

Também é importante eliminar os hospedeiros alternativos, como as plantas daninhas capim-carrapicho, capim-amargoso e trapoeraba

Tratamento de sementes

Uma forma de evitar ataques logo no início da lavoura é a utilização de inseticidas sistêmicos para tratar as sementes.  Dentre os inseticidas, os neonicotinoides são os mais indicados. 

Controle biológico

O controle biológico é uma tática importante para a redução da população dos percevejos nas culturas. Alguns agentes de controle são comercializados por biofábricas

Os parasitoides Trissolcus basalis e Telenomus podisi podem contribuir muito na redução dos percevejos-praga

Controle químico

O controle químico é a tática mais utilizada para controle, mas você deve considerar os métodos de controle anteriores. Associar mais de um tipo de controle é fundamental.

Além disso, escolha inseticidas seletivos aos inimigos naturais para que eles possam se manter na cultura. Assim, eles não serão eliminados junto das populações dos percevejos.

Faça rotação de ingredientes ativos para não causar pressão de seleção e inviabilizar a tecnologia do produto químico.  Algumas sugestões de inseticidas com diferentes ingredientes ativos são:

  • Acetamiprido + Fenpropatrina (Bold – Ihara)
  • Imidacloprido + Beta-ciflutrina (Connect – Bayer)
  • Tiametoxam + Ciproconazol (Verdadero – Syngenta) 

Porém, vale destacar: antes de utilizar o controle químico, consulte um especialista.

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Conclusão

Os percevejos são um grupo amplo de insetos com hábitos alimentares diversos. Os fitófagos têm causado danos em culturas de importância econômica.

Em soja-milho safrinha, há uma preocupação grande devido às infestações constantes dos últimos anos.

Monitore as populações das pragas frequentemente na sua lavoura. Essa é a melhor tática para não haver surtos.

Você já teve problemas com percevejos em sua lavoura? Como fez o controle? Deixe seus comentários!

Atualizado em 29 de junho de 2022 por Bruna Rhorig.

Bruna é agrônoma pela Universidade Federal da Fronteira Sul, mestra em fitossanidade pela Universidade Federal de Pelotas e doutoranda em fitotecnia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul na área de pós-colheita e sanidade vegetal.

Todas as formas de controle para se livrar do percevejo-castanho

Percevejo-castanho: Como enfrentar as dificuldades de controle e os melhores manejos para se livrar dessa praga na sua lavoura

Quando o assunto é praga subterrânea, dá até um certo desânimo, não é mesmo? Principalmente porque ela pode lhe causar sérios prejuízos se não for detectada a tempo.

Uma delas é o percevejo-castanho-da-raiz, que tem sido bastante frequente nos últimos anos. Essa praga ataca culturas como soja, milho, sorgo, algodão, café, arroz e pastagens, dentre diversas outras. 

No Mato Grosso do Sul, por exemplo, há casos de perdas de até 100% em pastagens devido aos danos causados pela praga. 

E, então, o que devo fazer para não ser pego “de surpresa” por uma praga dessas? Vou te explicar melhor a seguir! 

Características do percevejo-castanho-da-raiz

Como o próprio nome diz, esse percevejo tem hábito subterrâneo e ataca as raízes, inserindo o aparelho sugador no tecido da planta, no qual se alimenta da seiva

Ao atacar as raízes, esses insetos injetam toxinas que reduzem o crescimento da planta, além de provocarem enfraquecimento, amarelecimento e murcha. 

O percevejo-castanho-da-raiz Scaptocoris castanea é a espécie que vem provocando danos bastante expressivos em diversas culturas de norte a sul do Brasil, principalmente na região do Cerrado. 

As ninfas passam por 5 ínstares e são branco-leitosas, inicialmente. Os adultos medem cerca de 8 mm de comprimento e têm coloração marrom-claro.

Uma característica bastante marcante desta praga é a presença de pernas anteriores do tipo escavadoras, que permitem que os insetos se movimentem no solo. 

Por ser uma praga polífaga, tem grandes chances de permanecer em uma área mesmo após o fim do cultivo. Isso ocorre principalmente se houver plantas remanescentes ou plantas daninhas que servirão como hospedeiras.

percevejo-castanho

Ciclo do percevejo-castanho

(Foto: J. M. S. Bento)

Hábitos do percevejo-castanho 

Você deve levar em consideração o clima da sua região para detectar a presença do percevejo-castanho. 

Em épocas de períodos chuvosos, esses percevejos permanecem na camada mais superficial do solo, onde atacam as raízes em reboleiras. É também quando acontecem as revoadas dos insetos adultos

A dispersão por voo acontece após a cópula dos insetos, o que permite que as fêmeas possam estar aptas a ovipositar em novas áreas e recomeçar o ciclo biológico.

A falta de umidade faz com que se aprofundem no solo. Com isso, vão para as camadas que podem variar de 50 cm a 2 metros. 

Com essas informações fica um pouco mais fácil de você detectá-los, concorda?

Ninfas e adultos de Scaptocoris castanea

Ninfas e adultos de Scaptocoris castanea

(Foto: Ivan Cruz em Defesa Vegetal)

Controle do percevejo-castanho

No geral, o controle de pragas subterrâneas costuma ser mais oneroso do que o controle de pragas aéreas. 

No caso do percevejo-castanho, existe ainda a questão de se aprofundarem no solo, o que dificulta ainda mais seu controle. 

Por isso é importante que você considere o uso de diferentes táticas do Manejo Integrado de Pragas (MIP) para te auxiliar na redução populacional deste inseto. 

>> Leia mais: “Percevejo marrom: 7 estratégias de controle na soja

Amostragens e monitoramento

Como você pode perceber, após a entrada na área, o controle dessa praga se torna bastante dificultado. Por isso, é muito importante que você conheça o histórico da área.

Se já houve algum surto anteriormente, é preciso que você considere o que conversamos sobre o hábito desta praga em diferentes climas. 

É fundamental que você faça o monitoramento através de amostragens em trincheiras em épocas de períodos chuvosos para detectar as pragas na parte mais superficial do solo. Pode realizar amostragem em covas de 30 x 30 x 50 cm. 

Se possível, faça covas mais profundas de até 1,5 m caso seu solo esteja seco, pois você já sabe que a praga pode estar presente devido à falta de umidade na parte superficial.

O nível de dano econômico não é preciso, mas a presença de 24 a 40 percevejos por metro linear já é suficiente para causar perdas nas lavouras. 

percevejo-castanho

Amostragem de solo com percevejo-castanho em café

(Fonte: Marcelo Jordão Filho e José Braz Matiello)

percevejo-castanho

 A) Foco localizado de algodoeiro atacado por percevejo castanho; B) Plantas com sintomas de ataque de percevejo castanho (à esquerda, em destaque) ao lado de planta normal (à direita)

(Fonte: José Ednilson Miranda, Circular técnica 138) 

Controle cultural

As medidas preventivas são viáveis para evitar perdas na produção por ataques do percevejo-castanho. Tais medidas devem ser realizadas quando o solo estiver mais úmido, para atingir as pragas que estarão nas camadas superficiais. 

 Dentre as táticas do controle cultural , você deve considerar:

  • Aração (do tipo aiveca) para expor as pragas e condicionar o solo 
  • Solos bem manejados com adubação equilibrada com Ca e P para um bom desenvolvimento radicular 
  • Utilizar sementes de boa qualidade
  • Fazer tratamento de sementes e antecipar a semeadura 

Controle químico

O controle químico pode ser feito no sulco de semeadura ou no tratamento de sementes. Porém, ele é difícil, pois existem poucos inseticidas registrados para controle desta praga pelo Mapa (Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento).

Esse déficit se dá pela falta de eficiência, visto que os inseticidas podem chegar a, no máximo, 15 cm de profundidade e a possibilidade de atingir o inseto é baixa. 

No site do Agrofit tem-se registro de:

  • Algodão e Milho: Counter 150 G (terbufós; grupo químico: organofosforado)
  • Milho: Durivo (Clorantraniliprole + tiametoxam; grupos químicos: diamida e neonicotinoide)

Lembre-se sempre de consultar um engenheiro(a) agrônomo(a).

>> Leia mais: “As principais orientações para se livrar do percevejo barriga-verde

Controle biológico do percevejo-castanho

O controle biológico com organismos naturalmente presentes no campo não é suficiente para controlar esta praga. 

Por isso, há a possibilidade de utilizar o fungo entomopatogênico Metarhizium anisopliae que tem registro no site do Mapa para todas as culturas com o produto Meta turbo SC

Da mesma forma que os inseticidas, o produto biológico deve ser aplicado no sulco de semeadura ou com jato dirigido à base das plantas. 

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Conclusão 

O percevejo-castanho é uma praga que pode causar sérios prejuízos à sua lavoura. Neste artigo, vimos as principais dificuldades de controle desse inseto e as recomendações de manejo.

É importante que você tenha o controle do histórico das infestações de percevejo-castanho na área em que for iniciar o cultivo para não ter problemas ao final da produção. 

Lembre-se que a profundidade em que ninfas e adultos se encontram depende da umidade do solo.

Somente o controle químico não é suficiente para controlar o percevejo-castanho-da-raiz. O mais recomendado é o uso de diversas táticas do MIP. Assim, seu controle será muito mais preciso!

Referências 
Avila, C.J., Xavier, L.M.S. and Santos, V., 2016. Fluctuation and vertical distribution of a population of brown root stink bug Scaptocoris castanea (Hemiptera: Cydnidae) in the soil profile in Mato Grosso do Sul State, Brazil. Embrapa Agropecuária Oeste-Artigo em periódico indexado (ALICE).

Souza, C.P.R., Turchen, L.M., Cossolin, J.F.S. and Pereira, M.J.B., 2019. Flight dispersion in field and reproductive status of Scaptocoris castanea Perty (Hemiptera: Cydnidae). EntomoBrasilis, 12(1), pp.44-46. 

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Mosca-branca: como fazer o manejo eficiente

Atualizado em 10 de junho de 2022.

Mosca-branca: entenda como identificar, o que esta praga causa nas culturas agrícolas e como o seu controle pode ser realizado

A mosca-branca (Bemisia tabaci) é uma praga agrícola presente em diversas regiões produtoras no Brasil e no mundo. 

Ela causa danos e perda de produtividade em mais de 600 espécies, como soja, feijão e algodão. Por também atacar plantas daninhas, ela pode sobreviver na entressafra. 

Neste artigo, veja como a mosca-branca pode ser identificada, o que ela causa nas culturas agrícolas e como o seu controle pode ser realizado! Boa leitura!

Mosca-branca nas plantas 

A mosca-branca é um inseto sugador de seiva, dentre as quais a espécie Bemisia tabaci tem se tornado alvo de preocupação pelos problemas que pode causar às culturas agrícolas. 

Essa praga polífaga tem capacidade de se alimentar de diversas espécies de plantas e pode causar danos diretos e indiretos nas culturas, seja a partir da sucção da seiva das plantas, seja a partir da transmissão de viroses.  

Ela pode reduzir a produtividade das culturas de 20% a 100%, a depender da infestação.

Já foi observada se alimentando e se reproduzindo em mais de 84 família botânicas, sendo as de maior importância agrícola: 

  • Fabáceas ou leguminosas: soja, feijão, feijão-vagem, ervilha;
  • Cucurbitáceas: abóbora, abobrinha, melão, pepino, melancia;
  • Solanáceas: tomate, berinjela, pimenta, tabaco, batata;
  • Brássicas: repolho, couve, couve-flor, canola
  • Euforbiáceas: mandioca e daninhas;
  • Malváceas: algodão;
  • Asteráceas: alface e crisântemo;
  • Plantas ornamentais: hibisco, dentre outras.

O termo mosca-branca vem das características dessa praga, que possui asas brancas. Diferente das moscas comuns, as moscas-brancas pertencem à ordem Hemiptera e possuem dois pares de asas. 

Elas são da família Aleyrodidae e já foram registradas cerca de 1.550 espécies de 160 gêneros diferentes. Dentre as várias espécies existentes, Bemisia tabaci se tornou alvo de preocupação, especialmente pelo maior número de plantas hospedeiras.

A alta capacidade de reprodução em diferentes condições climáticas e a resistência a diversos inseticidas são outros motivos.

Biótipos de mosca-branca encontrados no Brasil

Para a espécie Bemisia tabaci biótipo B,  já há relatos de resistência a inseticidas, principalmente dos grupos dos organofosforados, carbamatos e piretróides.

Por ser uma espécie com grande diversidade genética, a maioria dos pesquisadores 

considera que existam diferentes biótipos.

Acredita-se que, no Brasil, ocorra uma maior incidência do Biótipo B (Middle East Asia Minor 1 whitefly – MEAM1).

Porém, já foram encontrada espécimes de mosca-branca B. tabaci Biótipo Q (Mediterranean – MED) no Sul do Brasil, no Centro-Oeste e no Sudeste.

mosca-branca

Adultos de mosca-branca em soja; nível de dano varia de acordo com a cultura

(Fonte: Mais Soja)

Como identificar a mosca-branca?

Para identificar a mosca-branca é necessário identificar os adultos e ovos, que normalmente ficam na parte de trás das folhas. Os adultos da mosca-branca possuem coloração amarelo-palha e medem de 1 mm a 2 mm. As fêmeas são maiores que os machos. 

No caso dos ovos da mosca-branca, eles têm formato de pêra e ficam agrupados nas folhas.

Quando em repouso, é possível observar também as asas brancas da mosca, levemente separadas. É possível observar o corpo do inseto, de coloração amarela característica.

Para identificar a mosca-branca na lavoura, fique de olho na coloração de cada fase do inseto: 

  • No primeiro ínstar, possui coloração branco-esverdeada, e formato do corpo plano.  
  • No segundo ínstar, apresenta coloração branco-esverdeada. 
  • No terceiro ínstar, as ninfas são ligeiramente transparentes, com coloração  verde-pálida a escura e olhos vermelhos.
  • No quarto ínstar, as ninfas têm formato oval e parecem ter uma cauda. Neste estágio, as ninfas são planas e transparentes e com olhos vermelhos visíveis.

Ciclo de vida

O ciclo de vida da mosca-branca dura entre 25 e 50 dias, sendo que em condições de temperatura e umidade ideais, pode gerar de 11 a 15 gerações por ano. Esse inseto possui quatro fases de vida: ovo, ninfa, pupa e adulto

Na primeira fase, ao eclodir, as ninfas são capazes de se locomover. Essa característica é essencial para o sucesso desse inseto. Afinal, quando as folhas não apresentam condições ideais, a ninfa se locomove para as mais adequadas ao seu desenvolvimento.

Logo em seguida, as ninfas se fixam nas folhas para sugar a seiva da planta até que se tornem adultas.

Cada fêmea tem capacidade de colocar entre 100 a 300 ovos durante seu ciclo de vida. Por isso, é importante monitorar a população deste inseto.

A duração do ciclo de vida da mosca-branca varia conforme a temperatura e a planta  hospedeira, principal fator para o desenvolvimento deste inseto.

Danos causados 

Os danos da mosca-branca nas culturas são causados por adultos e pelas ninfas do inseto. Eles introduzem o aparelho bucal no tecido da planta e injetam um tipo de toxina. Isso provoca alteração no desenvolvimento vegetativo e reprodutivo da cultura, reduzindo a produtividade.

Além disso, também excretam líquido açucarado, o “honeydew”, que induz o crescimento de fungos. Isso reduz a capacidade de fotossíntese da planta.

Porém, o maior perigo dessa praga agrícola está na transmissão de vírus que causam doenças bastante severas. Cerca de 120 espécies de vírus já foram descritas sendo transmitidas por mosca-branca B. tabaci:

  • vírus do mosaico comum em algodoeiro;
  • vírus do mosaico anão em soja;
  • vírus do mosaico crespo em soja;
  • vírus do mosaico dourado em feijoeiro.

Mais recentemente, foi detectada a transmissão de geminivírus por B. tabaci em lavouras de soja no Brasil.

Além dos danos causados, a mosca-branca ainda possui alta taxa reprodutiva, fácil dispersão e polifagia. O desenvolvimento de resistência à inseticidas é comum, o que contribui para a disseminação das doenças.

Danos da mosca-branca na soja

Os danos da mosca-branca na soja podem ser tanto diretos quanto indiretos. Além da sucção da seiva e injeção de toxinas que reduzem a produtividade e o desenvolvimento da soja, a mosca-branca é transmissora do vírus da necrose-da-haste.

A evolução da doença leva as plantas à morte.

Foto de haste da soja aberta e necrótica, causada pelo virus transmitido pela mosca-branca

 Necrose parcial à esquerda e total a direita, de medula em haste de soja, causada pelo vírus causador da necrose da haste da soja (Cowpea mild mosaic virus (CpMMV))

(Fonte: Almeida e colaboradores, 2003)

Em plantas de soja, os sintomas podem ser observados a partir de necrose nas brotações novas. As brotações novas se curvam e o broto adquire aspecto queimado.

Também é possível observar a necrose do tecido que liga a folha ao caule e a necrose na haste principal. A depender da cultivar, algumas plantas podem apresentar desenvolvimento reduzido e deformação da folha, com aspecto de bolhas.

Considerando todos esses danos, o controle da mosca-branca na soja é essencial.

Danos da mosca-branca no algodão

Entre os danos da mosca-branca no algodão, o principal dano causado é a secreção de substâncias que favorecem o fungo causador da fumagina

A fumagina é um fungo de coloração escura que ocorre em hastes, ramos, folhas, frutos e capulhos. Ele recobre todos os tecidos da planta, reduzindo a capacidade de fotossíntese.

Além disso, o fungo causa mela no algodão. Esse fator reduz o valor comercial das fibras do algodão, pela dificuldade no processamento.

Monitoramento da mosca-branca nas áreas de cultivo

O monitoramento da mosca-branca deve ser realizado com amostragens de plantas no campo. O uso de armadilha para mosca-branca também é interessante. São usadas armadilhas amarelas  para captura de insetos adultos.

É importante ficar de olho na localização onde a mosca-branca ataca na hora do monitoramento:

  • No terço inferior das folhas, são comuns as ninfas de 2º, 3º e 4º instares;
  • No terço mediano, encontram-se predominantemente ninfas de 1º, 2º e 3º instares;
  • No terço superior é possível encontrar ovos e ninfas de 1º e 2º instares, além de adultos.

O monitoramento das plantas deve ser realizado com frequência. Inspecione o terço inferior, superior e mediano das folhas, na 3ª ou 4ª folha de cima para baixo. 

O controle deve ser realizado assim que o inseto for detectado na área.

Para a soja, quando cinco ninfas forem encontradas por amostra de folha, você deve iniciar o controle químico. O mesmo vale para a presença de adultos da mosca-branca na área de cultivo.

No algodão, este número é reduzido. O controle deve começar ao identificar pelo menos três adultos por folha.

Como controlar a mosca-branca?

É  muito provável que você comece com o controle químico para acabar com a mosca-branca na lavoura. Isso não é errado, mas é importante considerar outras táticas de manejo, de acordo com o MIP (Manejo Integrado de Pragas.

Isso serve até mesmo para não ter problemas futuros como resistência das pragas aos inseticidas.

Controle cultural

O controle cultural pode ser feito antes, durante e depois do cultivo e inclui:

  • Fazer o plantio com mudas sadias e utilizar sementes certificadas;
  • Uso de armadilhas para reduzir a população da praga (armadilhas adesivas amarelas para monitorar a população do inseto na área, ou uso de armadilhas luminosas);
  • Manter a lavoura livre de plantas daninhas hospedeiras de mosca-branca;
  • Eliminar restos culturais para impedir o ciclo da praga;
  • Barreiras vivas para impedir ou retardar a disseminação de adultos pelo vento;
  • Eliminar plantas que estejam contaminadas com vírus
  • Uso de cultivares resistentes (observar se a resistência é para a espécie que está ocorrendo na lavoura e até mesmo para o biótipo);
  • Vazio sanitário entre culturas hospedeiras;
  • Uso de coberturas repelentes.

Controle químico

O controle químico com uso de inseticidas para mosca-branca registrados deve ser realizado considerando a rotação de modos de ação diferentes.

Alguns desses conhecidos venenos para mosca-branca, devido ao uso contínuo, perderam a eficiência devido ao desenvolvimento da resistência

Segundo o Agrofit, os seguintes grupos químicos e ingredientes ativos registrados podem ser utilizados em rotação para o controle da mosca-branca: 

  • Piretroides como o lambda-cialotrina, o alfa-cipermetrina. No entanto, este grupo é de amplo espectro de ação;
  • Tiadiazinona como buprofezina;
  • Neonicotinoide como acetamiprido, acetamiprido, dinotefuram, tiametoxam;
  • Sulfoxaflor como sulfoxaminas.

Sempre verifique se o produto tem registro para a cultura em que você queira controlar a mosca-branca. Para a cultura da soja, os inseticidas de maior eficiência nas últimas safras foram os à base de:

  • Imidacloprido + piriproxifem;
  • Diafentiurom + bifentrina;
  • Acetamiprido + piriproxifem;
  • Ciantranliprole, 
  • Sulfoxaflor (dose de 144 gramas de ingrediente ativo por hectare); 
  • Acetamiprido + piriproxifem e;
  • Abamectina + ciantraniliprole.

Antes de fazer o controle químico, fique de olho nos seguintes detalhes: não utilize controle preventivo, sem a presença de insetos na lavoura. Essa prática reduz a população de inimigos naturais e causa o desperdício de produto.

Além disso, a rotação de ingredientes ativos e o uso da dose recomendada é indispensável para um manejo eficiente.

A observação da fase predominante do inseto também é fundamental, pois alguns inseticidas possuem controle efetivo de uma fase e da outra não. Você pode precisar fazer a associação de ingredientes ativos.

A observação das condições climáticas no momento da aplicação também são necessárias (vide recomendações da bula).

Controle biológico

O controle biológico da mosca-branca pode ser feito de maneira natural. Você deve fornecer condições para que os insetos benéficos possam permanecer na área.

O uso de inseticidas seletivos vai contribuir muito para que isso aconteça. Você também pode liberar insetos produzidos em laboratório e comercializados, em épocas em que a população da praga estiver alta.

Existe uma variedade de inimigos naturais da mosca-branca. Predadores, parasitóides e entomopatógenos são alguns exemplos.

Controle com parasitóides

O controle biológico com parasitóides pode reduzir o número de aplicações de inseticidas químicos. Por isso, é essencial evitar o uso de produtos de amplo espectro. Priorize os inseticidas seletivos.

Os parasitóides recomendados para o controle da mosca-branca são:

  • De ninfas: Encarsia formosa;
  • De ovos de lepidópteros: Trichogramma pretiosum e Telenomus remus;
  • Adultos: afelinídeos dos gêneros Encarsiae e Eretmocerus;

Predadores

Além disso, predadores do inseto também podem ser utilizados. Dentre os principais, temos: 

  • Coleoptera: Espécies de joaninhas como Coleomegilla maculata e Eriopis connexa.
  • Hemiptera: Espécies das famílias Anthocoridae, Berytidae, Lygaeidae, Miridae, Nabidae e Reduviidae.
  • Neuroptera: Chrysoperla spp. e Ceraeochrysa spp.
  • Ácaros da família Phytoseiidae: Amblydromalus limonicus, Amblyseius herbicolus, Amblyseius largoensis, Amblyseius tamatavensis e Neoseiulus tunus.

Controle com fungos entomopatogênicos

Fungos entomopatogênicos também podem ser utilizados no controle biológico. Eles são fungos que ocorrem naturalmente, e são capazes de colonizar diversas espécies de insetos. Os principais produtos registrados são a base de:

  • Isaria fumosorosea: indicado para o controle apenas da mosca-branca;
  • Paecilomyces fumosoroseus: bastante eficiente para o controle de B. tabaci raça B, e para a cigarrinha-do-milho;
  • Beauveria bassiana, isolado IBCB 66*: além da eficiência contra a mosca-branca, também é indicado no controle da cigarrinha-do-milho, ácaro-rajado e do bicudo da cana-de-açúcar.

Produtos registrados para controle biológico da mosca-branca

Existem atualmente 55 produtos biológicos registrados para o controle da mosca-branca (B. tabaci biotipo B), em todas as culturas. Eles estão disponíveis no Agrofit.

Um dos principais é o Chrysoperla externa. Ele é indicado para uso em todas as culturas, especialmente em soja, algodão e tomate, onde a mosca-branca é um sério problema.

É um inseto da ordem Neuroptera. São popularmente conhecidos na sua fase larval como “bicho lixeiro”, pois utilizam os restos de suas presas para cobrir o seu corpo, como forma de camuflagem e defesa

Conforme indicação de uso, deve-se utilizar um predador para cada ninfa de mosca-branca identificada na amostragem da lavoura. Isso acontece em função do nível de infestação.

O Chrysoperla externa também é indicado para o controle do pulgão-do-algodoeiro (Aphis gossypii), pulgão-verde-dos-cereais (Schizaphis graminum) e pulgão-verde (Myzus persicae).

Fique de olho na quantidade de C. externa  de acordo com a infestação de mosca-branca:

  • Nível de infestação baixo: 1 predador para cada 40 moscas: (este tratamento pode ser utilizado de forma preventiva, em áreas com histórico de ocorrência de mosca-branca);
  • Nível de infestação médio: 1 predador para cada 20 moscas;
  • Nível de infestação alto: 1 predador para cada 10 moscas.

A dose deve ser calculada em função das indicações da empresa fornecedora do predador, e da forma de liberação: ovos ou larvas. 

Além disso, na liberação de ovos  acrescenta-se 10% para cultivos em casa de vegetação, e 20% para liberações em culturas a campo.

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Conclusão

A mosca-branca é uma praga que causa infestações cada vez mais frequentes em diversas culturas de interesse econômico.

Além de causar danos diretos, também é vetor de vírus causadores de doenças. O uso de diversas táticas para o controle da mosca-branca é importante como forma de integração e para evitar resistência aos inseticidas.

Com as informações passadas aqui, espero que você tenha um ótimo controle da mosca-branca em sua propriedade.

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Falsa-medideira: Como controlar essa lagarta de uma vez por todas

Falsa-medideira: Conheça as principais características para identificar essa praga e controlá-la de maneira efetiva.

Lagartas são pragas que provocam danos muito significativos na lavoura.

A falsa-medideira, em especial, é uma das principais desfolhadoras da soja e pode causar estragos expressivos na plantação.

Por ser um inseto polífago, tem capacidade de se desenvolver em mais de 70 hospedeiros diferentes, desde plantas ornamentais até grandes culturas.

Mas é preciso identificá-la para fazer o manejo adequado. E isso muitas vezes não acontece!

Neste artigo vou te explicar sobre esta praga na cultura da soja, suas principais características, danos e controle. Saiba mais a seguir!

Como identificar a falsa-medideira?

As lagartas-falsas-medideiras são assim denominadas por possuírem dois pares de pernas abdominais e um par na região caudal, fazendo com que elas se desloquem de modo semelhante às lagartas-medideiras “medindo palmo”.

As falsas-medideiras são um complexo de espécies da subfamília Plusiinae muito associadas à soja.

Mas a espécie que vem ganhando maior atenção é Chrysodeixis includens, antes Pseudoplusia includens.

Além das pernas abdominais nas lagartas, é muito importante que você observe outras características morfológicas desta espécie.

Os adultos possuem duas manchas prateadas no primeiro par de asas – e as asas posteriores são de coloração marrom.

Os ovos são colocados, em geral, na face abaxial das folhas, com formato globular e coloração amarelo-clara.

As lagartas que eclodem têm coloração verde-clara, listras longitudinais brancas e pontuações pretas ao longo do corpo.

Outra forma de você identificar esta praga, é por meio do comportamento tanto alimentar como da parte em que as lagartas se estabelecem na lavoura.

falsa-medideira
Chrysodeixis includens nas fases de ovo (a), lagarta (b), pupa (c) e adulto (d)
(Fonte: Embrapa)

O que levou a falsa-medideira a se tornar um problema?

Essa espécie foi considerada praga secundária até o início dos anos 2000.

Após o aparecimento da ferrugem-asiática, os fungicidas começaram a ser utilizados com alta frequência.

Muito provável que isso levou a um decréscimo de fungos entomopatogênicos que ocorriam naturalmente e controlavam a falsa-medideira e outros insetos por epizootias.  

Consequentemente, houve um aumento expressivo da praga, que passou de secundária para primária.

Atualmente, um outro fator que contribui muito para os crescentes problemas é o uso de inseticidas não seletivos, como os piretroides.

Eles atingem, além das pragas, os inimigos naturais presentes na lavoura.

E existem diversos predadores e parasitoides que podem, naturalmente, controlar essa praga, como Nabis sp., Trichogramma spp., Microcharops sp, e diversos outros.

Como você pode ver, a alteração do equilíbrio do agroecossistema pode causar prejuízos a curto e a longo prazo.

E quais seriam os danos e qual parte da planta é atacada?

As lagartas mais novas consomem apenas o parênquima foliar, ou seja, elas raspam as folhas.

Já as lagartas maiores consomem o limbo foliar e, com isso, as nervuras permanecem intactas, causando aspecto de “folhas rendilhadas”.

Esta é uma característica bastante importante para que você diferencie do ataque da lagarta-da-soja, Anticarsia gemmatalis, à qual consome as folhas por inteiro.

Há também diferenças no local em que a planta é atacada. A falsa-medideira tem o hábito de atacar a baixeira e o terço mediano; a lagarta-da-soja ataca a parte superior.

Essas diferenças, provavelmente, causam problemas a você em relação ao controle da falsa-medideira.

falsa-medideira
Ciclo de desenvolvimento de Chrysodeixis includens e parte em que a soja é atacada; período pupal dura em média 7 dias até emergência dos adultos
(Fonte: Embrapa)

Quando controlar a falsa-medideira?

Para que seu manejo seja eficiente, você deve realizar o monitoramento para determinar se deve ou não entrar com o controle.

O método mais indicado de amostragem das lagartas é o pano de batida. Lembre-se que a falsa-medideira fica mais abaixo do terço superior.

falsa-medideira

É recomendável que você inicie o controle quando encontrar, em média, 20 lagartas grandes por pano-de-batida.

Juntamente com a amostragem das lagartas, faça um exame visual dos terços mediano e inferior das folhas.

Entre com o controle se houver desfolha de 30% no período vegetativo e de 15% no período de florescimento da planta. Veja na imagem:

falsa-medideira
Amostra de folíolos de soja com diferentes porcentagens de desfolha causada pela alimentação de insetos
(Fonte: Adaptada de Panizzi et al. (1977))

Controle da lagarta-falsa-medideira

Dentre os métodos do Manejo Integrado de Pragas (MIP) para evitar o ataque, o ideal é que você faça a rotação de culturas.

Dessa forma, você consegue quebrar o ciclo da praga e reduzir a incidência da população na área.

Outra forma de evitar danos, é utilizar cultivares de soja transgênica com a tecnologia Bt (Bacillus thuringiensis), que confere proteção à cultura.

Quando os níveis de controle são atingidos, você pode utilizar, de forma associada, os controles biológico e químico.

Controle biológico

Se a sua cultivar for convencional, poderá fazer aplicação de produto microbiológico à base de Bt.

O inseticida biológico Dipel é registrado para controle desta praga, com dose de 0,3 a 0,5 L/ha (volume de calda de 100 a 200 L) e, no máximo, 3 aplicações.

Importante mencionar que, se você estiver utilizando cultivar com tecnologia Bt, o uso deste produto não é recomendado.

Liberações massais de Trichogramma pretiosum têm contribuído para a redução das populações de lepidópteros-praga na soja.

O produto TRICHOMIP-P é registrado com recomendação de liberação de até 750 mil adultos em 50 pontos por hectare.

Controle químico

Como mencionei anteriormente, é importante que você utilize inseticidas seletivos aos inimigos naturais das pragas para mantê-los na área.

Pensando nisso, selecionei alguns dos inseticidas mais seletivos registrados para esta praga que você poderá utilizar em associação com o controle biológico natural e inundativo.

Vale considerar a rotação das aplicações com diferentes princípios ativos para evitar a seleção de pragas resistentes.

falsa-medideira
(Foto: Ernesto de Souza/Editora Globo)

Diamidas

  • Belt (flubendiamida) – 50 a 70 mL/ha em
  • Prêmio (clorantraniliprole) – 40 a 50 mL/ha

Clorfenapir

  • Pirate (clorfenapir)  – 0,6 a 1,2 L/ha

Oxadiazina

  • Avatar (indoxacarbe) – 400 mL/ha

Benzoilureia

  • Nomolt (teflubenzurom) – 125 a 150 mL/ha

Diacilhidrazina

  • Intrepid (metoxifenozida) – 135 a 150 mL/ha

Para que você tenha sucesso no controle da falsa-medideira por meio da aplicação de inseticida, invista na tecnologia de aplicação para que seu produto chegue adequadamente na baixeira e no terço médio da planta.

O volume da calda inseticida também vai ser determinante nesse momento, pois baixos volumes podem ficar retidos no terço superior, comprometendo assim o controle desta praga.

>>Leia mais: “5 tecnologias para controlar a Helicoverpa armigera eficientemente
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Conclusão

O desequilíbrio no ecossistema da lavoura trouxe consequências como a mudança de praga secundária para primária da lagarta-falsa-medideira.

E é importante saber identificar a praga, seu comportamento e local de ataque.

Manter os inimigos naturais na área ajuda a reduzir o nível populacional desta lagarta.

Prefira inseticidas seletivos para evitar surtos desta e de outras pragas, além de rotacionar os grupos químicos.

Espero que, com essas informações, você consiga manejar a falsa-medideira com sucesso na sua lavoura!

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Referências

HERZOG, Donald C.; TODD, James W. Sampling velvetbean caterpillar on soybean. In: Sampling methods in soybean entomology. Springer, New York, NY, 1980. p. 107-140.)

BUENO, R.C.O.F.; PARRA, J.R.P.; BUENO, A.F.; MOSCARDI, F.; OLIVEIRA, J.R.G.; CAMILLO, M.F. Sem barreira. Revista Cultivar, v. 93, p. 12-15, 2007

Você tem problemas com a falsa-medideira em sua lavoura? Restou alguma dúvida sobre como fazer o controle adequado? Deixe seu comentário!

Inseticida piretroide: Como fazer o melhor uso dele

Inseticida piretroide: Entenda melhor como funcionam, qual a melhor maneira de utilizá-los e como prevenir a resistência de insetos aos produtos desse tipo.

Os piretroides são alguns dos inseticidas mais utilizados na agricultura hoje, com resultados efetivos contra diversas pragas agrícolas.

Mas seu uso requer cuidados com misturas e, principalmente, quanto ao intervalo de aplicações.

A utilização incorreta pode gerar populações de insetos resistentes na sua lavoura. E aí os prejuízos são muitos.

Neste artigo, vamos entender o modo de ação do inseticida piretroide e como fazer o melhor uso dele. Confira a seguir!

O que é inseticida piretroide: como consultar doses, bula e aplicações

Os inseticidas piretroides são defensivos químicos com compostos extraídos de flores de Chrysanthemum cinerariaefolium e Chrysanthemum coccineum, da família Asteraceae. Controlam diversas pragas, desde percevejos e lagartas até moscas.

Produtos comerciais registrados podem ser consultados no Agrofit, do Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento).

inseticida piretroide

Ao consultar o inseticida piretroide que você queira utilizar na sua cultura, leia a bula do produto, veja a dose recomendada, quantas vezes pode aplicar e qual o intervalo entre as aplicações.

É importante que você entenda que este grupo de inseticidas possui muitos ingredientes ativos.

E o que seria um ingrediente ativo? É a substância química principal presente no inseticida, mas terá o mesmo princípio ativo do seu grupo químico, neste caso, dos piretroides.

Dentro do grupo dos piretroides existem mais de 30 ingredientes ativos com diferentes formulações e marcas comerciais.

E eles são registrados para controle de pragas em diversas culturas. Vou mostrar alguns dos mais usados para grãos.

Inseticida piretroide para soja e milho

Bifentrina

Este ingrediente ativo possui 25 produtos comerciais registrados no site do Mapa.

inseticida piretroide

Atua como acaricida, formicida e inseticida. São registrados para diversas culturas, dentre elas algodão, feijão, milho e soja.

O que é Cipermetrina?

Este ingrediente ativo possui 21 produtos comerciais registrados no site do Mapa.

inseticida piretroide

Atuam como formicidas e inseticidas. São registrados tanto para culturas anuais como perenes. São bastante utilizados para controle de pragas do algodão, milho e soja.

Deltametrina

Este ingrediente ativo possui 7 produtos comerciais registrados no site do MAPA.

inseticida piretroide

Algumas marcas comerciais têm registro para espécies cultiváveis de solanáceas. Mas, na cultura do milho, atua bem no controle inicial de lagarta-do-cartucho.   

Lambda-cialotrina

Este ingrediente ativo é um dos mais utilizados e tem 29 produtos comerciais registrados no site do MAPA.

inseticida piretroide

Também tem registro para diversas culturas, principalmente, algodão, milho e soja. Em soja, são bastante utilizados para controle de percevejo-verde.

Suponhamos que você teve que recorrer ao uso de um inseticida piretroide.

Você está tendo problemas com a larva-alfinete na sua lavoura de milho e te indicaram o ingrediente ativo bifentrina.

Ao consultar o site do MAPA, escolheu o inseticida Seizer 100 EC.  

inseticida piretroide

Na bula, a recomendação é de que a dose seja de 200 a 300 mL de produto em um ha. E que seja realizada apenas 1 aplicação em todo o ciclo da cultura.

inseticida piretroide

É importante que você respeite essas indicações da bula para não comprometer o controle da praga, o agroecossistema e a produção final.

Entenda como funcionam os inseticidas piretroides

Os inseticidas piretroides são um grupo químico de inseticidas sintéticos mímicos das piretrinas.

As piretrinas são compostos extraídos de flores de Chrysanthemum cinerariaefolium e Chrysanthemum coccineum, da família Asteraceae.

Por serem substâncias sintéticas, derivadas de extratos de uma espécie de planta, nos vem aquela ideia de que sejam inseticidas bastante seguros, não é mesmo?

Mas alguns cuidados devem ser tomados na sua utilização.

É importante que você saiba que o piretroide é um inseticida de amplo espectro. Vou explicar mais a frente o que isso significa.

Agora, vamos entender o modo de ação do inseticida piretroide nos insetos.

Modo de ação dos piretroides

O inseticida piretroide age no sistema nervoso dos insetos, mais especificamente nos canais de sódio dos axônios dos neurônios. Ficou complicado? Vejamos o esquema abaixo:

A primeira figura mostra a célula nervosa (neurônio)

inseticida piretroide

O inseticida piretroide irá agir nesta parte destacada, que é o axônio:

inseticida piretroide

Veja que o axônio possui na parte de fora cargas positivas e, na parte de dentro da membrana, cargas negativas:

inseticida piretroide

Sem o efeito do piretroide, o potencial de ação acontece normalmente, como você verá nas próximas imagens.

Com um impulso nervoso, o canal axônico abre e entram as cargas positivas. Depois, o canal fecha e as cargas positivas saem, voltando ao estado inicial de equilíbrio.

inseticida piretroide

Mas, quando as moléculas de inseticidas piretroides entram em contato com o sistema nervoso do inseto, elas fazem com que os canais axônicos permaneçam abertos.

Então, quando há uso do inseticida piretroide, os canais não se fecham:

inseticida piretroide

Dessa forma, os íons de sódio entram no axônio de forma contínua, produzindo excessivos potenciais de ação seguidos de hiperpolarização da membrana.

A consequência disso tudo é que o inseto tem um primeiro sintoma de hiperexcitação, seguido de paralisia e morte.

inseticida piretroide

(Fonte das imagens: Larry Keeley em YouTube)

Amplo espectro

O termo amplo espectro é utilizado para inseticidas que podem agir não somente nas pragas, mas também em organismos não-alvo.

Por agirem no sistema nervoso, outros organismos podem sofrer com efeitos colaterais e até efeitos letais, como no caso de outros insetos (que não as pragas) presentes na lavoura.

Eles comumente agem por contato e ingestão. Ou seja, as moléculas podem ter acesso aos neurônios por meio do contato físico ou pela alimentação de partes da planta contendo resíduos.

Mas tudo depende da dose para ter efeito nos organismos. Muitas vezes a dose para matar a praga é menor do que para outro organismo ou pode acontecer o contrário, que não seria ideal.

Por isso é muito importante respeitar:

  • As doses recomendadas para cada cultura;
  • O período de carência para pulverização (intervalo entre a aplicação e a colheita);
  • Saber se são seletivos aos inimigos naturais das pragas na área.

Inseticida piretroide: cuidados para evitar efeitos colaterais

Além de serem de amplo espectro, os piretroides tem uma boa estabilidade sob a luz solar e costumam persistir nas áreas em que foi aplicado.

E o que isso tem a ver com as recomendações anteriores?

Pela boa estabilidade, eles não se degradam facilmente e, por isso, continuam agindo no período em que estão tendo ação residual.

Com isso, controlam bem as populações das pragas. Entretanto, se o intervalo entre as aplicações não for respeitado, os efeitos colaterais podem ocorrer.

Um deles seria a pressão de seleção. Com aplicações constantes, e devido à persistência das moléculas residuais, as pragas mais resistentes permanecerão na área.

A presença de populações resistentes na sua lavoura lhe causará prejuízos, pois seu inseticida não controlará mais a praga.

Além disso, pelo amplo espectro, esses inseticidas podem atingir organismos benéficos que auxiliam no controle da sua praga.

Muitos trabalhos científicos mostram a toxicidade destes inseticidas a insetos que atuam no controle biológico de pragas.

É ideal que os inseticidas sejam seletivos fisiológica e ecologicamente aos inimigos naturais.

Conclusão

Os inseticidas do grupo dos piretroides podem lhe auxiliar muito bem no controle das pragas.

Mas é essencial conhecer e respeitar as recomendações do fabricante porque são inseticidas de amplo espectro e podem atingir organismos não-alvo.

Neste artigo, destacamos o modo de ação dos piretroides e os cuidados para minimizar os riscos de efeitos colaterais.

Com essas informações, espero que você consiga utilizá-los de forma adequada e tenha ótimos resultados na lavoura!

>>Leia mais:

Guia completo para o manejo da lagarta-preta (Spodoptera cosmioides)

“6 inseticidas naturais para você começar a usar na sua lavoura”

“Inseticida natural: Como ele pode ajudar no manejo da sua lavoura

“Como fazer o melhor uso de inseticida na dessecação da lavoura”

Você tem usado inseticida piretroide em sua propriedade? Restou alguma dúvida? Deixe seu comentário e compartilhe em suas redes sociais!

Por que você deve fazer monitoramento de pragas e como iniciá-lo?

Monitoramento de pragas: Você sabe quando deve entrar com controle de pragas na sua lavoura? Vamos detalhar quando e como fazer isso.

A presença de insetos na lavoura costuma ser motivo de preocupação, mas nem sempre é sinal de prejuízo econômico.

Para saber quando há riscos de danos e necessidade efetiva de controle é que se faz o monitoramento de pragas.

Baseado nos princípios do MIP (Manejo Integrado de Pragas), ele deve ser seu aliado na tomada de decisões na lavoura!

Mas você sabe qual é o momento ideal para começar o monitoramento para não perder produção e nem desperdiçar aplicações? Tire suas dúvidas a seguir!

Monitoramento de pragas: por que você deve fazê-lo

O monitoramento de pragas é a constante avaliação da lavoura, em pontos pré-estabelecidos, para detecção de pragas que podem vir a causar danos econômicos se não controladas.

A densidade populacional do inseto é que vai indicar se a praga está no nível de controle, ou seja, um nível antes do nível de dano econômico. Veja na imagem abaixo.

monitoramento de pragas

Antes de qualquer coisa, é muito importante que você conheça o histórico da área. Saiba quais pragas estiveram presentes nas safras anteriores, o que foi cultivado e se houve problemas para o controle.

Esteja atento em todas as etapas do cultivo da safra. O monitoramento é importante antes mesmo do início do plantio.

Vale lembrar que, até o estabelecimento do MIP, na década de 70, essa prática não era muito comum.

O manejo convencional utiliza aplicações calendarizadas de inseticidas de forma preventiva ao ataque de pragas. Mas sabemos que a adoção dessa prática não é a ideal, certo?

Você pode entender melhor as práticas do MIP em um curso gratuito que preparamos. Para isso, basta clicar na imagem abaixo e se inscrever!

Vamos então conhecer agora alguns tipos de monitoramento de pragas. Confira:

Amostragem do solo

Se antes mesmo de você semear já estiverem presentes no solo pragas subterrâneas, seu cultivo pode vir a sofrer perdas severas.

O ataque sobre as sementes e plântulas recém-emergidas pode até parecer repentino. No entanto, se as pragas forem detectadas previamente, é possível que você reduza as populações destes insetos-praga com sucesso.

Esse tipo de monitoramento pode ser feito tanto em soja como em milho. Mas na cultura do milho, é fundamental que se faça devido à agressividade das pragas subterrâneas iniciais.

Em cada ponto, as amostras podem ser de 30 cm de largura por 30 cm de comprimento e 15 a 30 cm de profundidade nas trincheiras, totalizando oito pontos em 1 ha.

monitoramento de pragas
Amostragem de solo
(Fonte: A.A. dos Santos Capítulo 9_, amostragem de pragas da soja, Beatriz Spalding Corrêa-Ferreira)

Pano-de-batida

O pano-de-batida foi estabelecido para detecção de lagartas desfolhadoras e percevejos fitófagos na cultura da soja.

É um método bastante prático e eficiente. Ele possibilita a detecção da ocorrência de diversos insetos na lavoura, até mesmo dos inimigos naturais ali presentes.

O ideal é que esse tipo de monitoramento seja realizado nas horas mais frescas do dia, pois os insetos estarão com menor mobilidade.

Veja na imagem abaixo:

monitoramento de pragas

Armadilhas

O uso de armadilhas para detecção das pragas também é uma excelente maneira de monitoramento.

Da mesma maneira que as outras formas de monitorar, estas devem ser colocadas em vários pontos da sua lavoura.

Existem diversas delas no mercado, entre as quais armadilhas com feromônios, armadilhas luminosas e armadilhas adesivas.

Vou explicar melhor cada uma delas:

Armadilha do tipo delta

Essa armadilha contém feromônio de atração sexual e um piso adesivo para a captura dos insetos.

A quantidade de armadilhas na área vai depender da praga que está sendo monitorada.

monitoramento de pragas
Armadilha contendo feromônio e placa adesiva com a captura de mariposas
(Fonte: Sandra Brito-Embrapa)

Armadilha luminosa

Esta armadilha vai te dar suporte para a captura de insetos com hábito noturno.  É recomendada a distribuição de 1 armadilha em uma área de 6 ha a 10 ha.

monitoramento de pragas
Armadilha luminosa para monitoramento
(Fonte: Biocontrole)

Armadilha adesiva

Essa armadilha auxilia o monitoramento de pragas em vários cultivos. Pode indicar momentos de infestação e indica períodos para controle.

É recomendado o uso de 100 a 200 por ha.

monitoramento de pragas
Armadilha adesiva
(Fonte: Fundecitros)

Exame de plantas

Além da amostragem de insetos para quantificação, também é importante saber o nível das injúrias causadas nas plantas.

A avaliação dos danos nas folhas pode ser feita com escalas pré-estabelecidas.

A cultura do milho, tendo como praga-chave a lagarta-do-cartucho, requer avaliações periódicas das injúrias nas folhas. Essas avaliações podem ser feitas seguindo a escala de Davis.

monitoramento de pragas
Escala de Davis pode ser utilizada para medir danos da lagarta-do-cartucho e algumas outras pragas-alvo
(Fonte: BioGene)

Já em soja, recomenda-se a coleta de folíolos das parte superior e mediana e comparar com a escala pré-estabelecida.

A estimativa de desfolha em conjunto com o pano de batida dão um norte muito preciso para a tomada de decisão.

monitoramento de pragas


Amostra de folíolos de soja com diferentes porcentagens de desfolha causada pela alimentação de insetos
(Fonte: Adaptada de Panizzi et al. (1977))

Monitoramento de pragas: Fique atento aos níveis de ação para controle

Agora que você já conheceu alguns tipos de monitoramento de pragas, saiba que os níveis de controle vão te direcionar para a sua tomada de decisão.

Mas o que você deve considerar em meio as informações que obteve com as amostragens?

São três os aspectos principais a serem considerados para essa dúvida:

  • os níveis de ataque da praga;
  • idade dos insetos que você amostrou (fase jovem ou adultos);
  • e a fenologia da planta.

Veja a tabela abaixo com alguns exemplos de níveis de ação na cultura da soja:

monitoramento de pragas
Níveis de ação de controle para as principais pragas da soja
(Fonte: Tecnologias de produção de soja – da região central do Brasil 2012 e 2013. Londrina: Embrapa Soja: Embrapa Cerrados; Embrapa Agropecuária Oeste, 2011. 261 p. (Embrapa Soja. Sistemas de Produção, 15))

Para te ajudar, separei uma planilha gratuita para que você faça seu MIP. Clique na figura abaixo para acessar!

Você também pode fazer esse controle diretamente pelo celular ou computador com uso do Aegro.

Com o monitoramento no Aegro você tem seus pontos de amostragem georreferenciados, com todos os dados fáceis de serem interpretados, sem perder nenhuma informação.

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monitoramento de pragas

Monitoramento de pragas de forma facilitada pelo Aegro

E após a tomada de decisão?

Se houver a necessidade de controlar alguma praga detectada na lavoura, você pode decidir por controlá-la de diversas formas.

Não faça controle apenas por meio do uso de defensivos químicos. Você pode optar por:

  • Uso de variedade resistente
  • Controle de plantas daninhas (que são hospedeiros alternativos de pragas)
  • Tratamento de sementes
  • Controle biológico
  • Controle químico
  • Controle comportamental
  • Rotação de culturas

Dentre outras formas de controle.  

>> Leia mais: “6 vantagens de fazer MIP com o Aegro

Conclusão

Existem várias maneiras de detectar a presença da praga na sua lavoura.

Neste artigo, tratamos sobre as melhores formas de monitoramento dessas pragas. Como vimos, o controle não depende unicamente da presença da praga: vai depender do nível populacional após o monitoramento.

Além disso, é preciso acompanhar e monitorar sua lavoura desde o princípio para que não se chegue perto do nível de dano econômico.

Com tudo isso em mente, bom monitoramento e boa produção!

>>Leia mais:

Descubra como eliminar o besouro castanho

Sensores no manejo integrado de pragas: por que você deve começar a usar!

“Como proteger sua lavoura dos ácaros na soja

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Gostou do texto? Restou alguma dúvida sobre o monitoramento de pragas? Adoraria ver seu comentário abaixo!

Pragas do milho: principais manejos para livrar sua lavoura delas

Pragas do milho: Saiba reconhecer os insetos que causam danos econômicos à lavoura e a melhor forma de controle.

Chegar na lavoura e ver muitos insetos sempre vai nos deixar preocupados.

Afinal, algumas pragas como a cigarrinha-do-milho podem causar perdas de até 90% na cultura do milho.

Mas você sabe quais as principais épocas de ataque de cada praga? E todas as opções de controle?

Aqui vamos mostrar as pragas que trazem mais riscos à lavoura de milho e as formas mais eficientes de manejo, sempre utilizando o Manejo Integrado de Pragas (MIP).

Confira a seguir!

Reconheça as principais pragas do milho

As pragas do milho, tanto na primeira como na segunda safra (ou safrinha), podem ser identificadas de acordo com o estágio fenológico da cultura.

Vamos dividi-las em pragas iniciais subterrâneas, pragas iniciais de superfície, pragas da parte aérea e pragas da espiga.

Vou explicar melhor cada uma delas.

Pragas iniciais subterrâneas

Já aconteceu com você de, na sua plantação de milho, haver falhas na germinação nas linhas de plantio?

Acredito que, muito provavelmente, a causa tenha sido o ataque de pragas subterrâneas.

Elas atacam principalmente sementes e raízes, dando um enorme trabalho ao produtor!

Veja as principais delas:

Larva-arame  (Conoderus scalaris)

Esta praga agrícola, também conhecida como vaga-lume, ataca sementes, o sistema radicular e os tubérculos.

Ela causa danos significativos a ponto da planta não conseguir se sustentar, perdendo a capacidade de absorver nutrientes necessários para manter seu vigor.

pragas do milho
Fase jovem (à esquerda) e adulta de Conoderus scalaris
(Fonte: Manual de Pragas do Milho FMC)

Larva-alfinete (Diabrotica speciosa)

A larva-alfinete, vaquinha ou brasileirinho, ataca as raízes e, assim como a larva-arame, provoca na planta a falta de sustentação.

As raízes não absorvem bem água e nutrientes, provocando o sintoma “pescoço de ganso”.

Os adultos causam danos na parte aérea e se alimentam principalmente dos cabelos e folhas do milho.  

pragas do milho
Larva-alfinete na raiz (à esq.) e adulto de Diabrotica speciosa sobre a folha
(Fonte: Manual de Pragas do Milho – FMC)

Larva-angorá (Astylus variegatus)

Outra espécie de vaquinha, a larva-angorá tem hábitos muito semelhantes aos da larva-alfinete. Elas se assemelham até mesmo na aparência.

A fase jovem desta espécie é que danifica sementes e raízes, causando ataques em reboleiras.

pragas do milho

Adulto de Astylus variegatus
(Foto: Ivan Cruz/Embrapa em Defesa Vegetal)

Corós

Existe um grande número de espécies de corós, mas os pertencentes à família Melolonthidae merecem maior atenção.

As larvas, que podem chegar a até 4 cm de comprimento, se alimentam das raízes e são capazes de levar a planta a morte.

Os corós também atacam a soja. Por isso, preste bastante atenção caso tenha plantado milho logo após a soja!

pragas do milho
Coró
(Fonte: Embrapa)

Como controlar as pragas iniciais subterrâneas

Antes mesmo do plantio, é muito importante fazer o monitoramento do solo com amostragens em vários pontos da lavoura.

O controle cultural, com eliminação de restos culturais e hospedeiros alternativos, pode contribuir muito para redução das populações dessas pragas.

O preparo do solo adequadamente também vai fornecer um bom auxílio no controle das pragas subterrâneas.

O controle químico, com sementes tratadas e aplicações diretamente nos sulcos, serão eficientes caso realmente necessário. Não se esqueça do monitoramento!

Pragas do milho: Pragas iniciais de superfície

As pragas iniciais de superfície atacam o milho desde a germinação até a fase de plântula (cerca de 30 dias após a germinação).

Veja as principais a seguir:

Lagarta-elasmo (Elasmopalpus lignosellus)

As lagartas atacam folhas e caule de plântulas recém-emergidas.

Podem causar enfraquecimento das plântulas e, em piores casos, levá-las à morte.

Em épocas de estiagem, os ataques costumam ser mais frequentes. Fique atento!

pragas do milho
Lagarta (à esq.) e adultos de Elasmopalpus lignosellus
(Fonte: Embrapa)

Lagarta-rosca (Agrotis ipsilon)

Existem outras espécies de lagarta-rosca, porém, é mais comum encontrar Agrotis ipsilon nas lavouras de milho.

Pode atacar sementes e folhas, mas é mais frequente nas hastes.

Os danos desta praga são irreparáveis, na maioria das vezes, pois cortam as plântulas rentes ao solo.

pragas do milho
Lagarta-rosca
(Fonte: Manual de Pragas do Milho – FMC)

Cigarrinha-do-milho (Dalbulus maidis)

É uma espécie sugadora e, embora tenha tamanho diminuto, causa enfraquecimento das plântulas.

Pelo fato de sugar, ela excreta um líquido conhecido como “honeydew”, que provoca a fumagina e reduz a capacidade fotossintética da planta.

Mas dê bastante atenção a um outro fato: ela é vetor de doenças como enfezamento pálido e vermelho.

A incidência das doenças ocorre, principalmente, se a semeadura for realizada tardiamente.

pragas do milho
Cigarrinha-do-milho se alimentando de folhas
(Fonte: Embrapa)

Percevejo-barriga-verde (Dichelops spp.)

O percevejo-barriga-verde tem sido uma grande preocupação, principalmente no milho safrinha em sucessão à cultura da soja.

Ele se torna um problema porque ataca as plântulas e pode gerar um enorme prejuízo ao final da safra.

As principais espécies são Dichelops furcatus e Dichelops melacanthus.

pragas do milho

Adulto de percevejo-barriga-verde
(Fonte: Roundup Ready)

Como controlar as pragas iniciais de superfície

Aqui é muito importante que você se previna do ataque dessas pragas fazendo o tratamento das sementes.

E é imprescindível que, alguns dias após o plantio, seja realizado o monitoramento na área para detecção.

O controle cultural também vai surtir grande efeito e contribui para redução destas pragas: retirar restos culturais, palhada e plantas daninhas.

Para evitar que a cigarrinha-do-milho transmita molicutes e outros patógenos, você pode utilizar variedades de milho menos suscetíveis às doenças. E evite realizar semeaduras tardias.

O controle do percevejo-barriga-verde deve ser, primeiramente, por meio da análise do histórico da área. Se plantou soja, há uma grande chance dele permanecer na sua área.

Aqui no blog nós já falamos sobre “As principais orientações para se livrar do percevejo barriga-verde”. Confira!

Pragas do milho: Pragas da parte aérea

As pragas da parte aérea são bem agressivas.

Imagine que, nesta etapa,  as plantas já estão mais lignificadas ou “mais fortes”.

Então, essas pragas têm uma voracidade alta por conseguirem reduzir a produtividade da sua lavoura nesta fase.

A seguir, veja as que você deve ficar mais atento:

Lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda)

Esta lagarta é considerada praga-chave da cultura. Sua principal característica é o ataque do cartucho do milho.

Mas sabemos que ela não para por aí, certo?

Ela pode atacar o cartucho, folhas e até a espiga. Sendo assim, essa praga tem a capacidade de permanecer na cultura do início ao fim do ciclo.

Sua voracidade pode levar à queda de mais de 50% na produção.

pragas do milho
Lagarta-do-cartucho do milho (Spodoptera frugiperda)
(Fonte: EPPO)

Broca-da-cana (Diatraea saccharalis)

A broca-da-cana ou lagarta-do-colmo, se alimenta do colmo, onde forma galerias tanto transversais como longitudinais.

A formação dessas galerias é a causa de tombamento e acamamento da lavoura em estágios vegetativos mais avançados da cultura.

Além disso, essas galerias são porta de entrada para outras pragas e microrganismos que causam doenças e podridões.

pragas do milho
Broca-da-cana danificando o colmo
(Fonte: Manual de Pragas do Milho – FMC)

Controle das pragas da parte aérea

O monitoramento dessas pragas deve ser realizado com o uso de armadilhas de feromônio para detecção dos adultos.

Neste artigo do Blog do Aegro, você pode tirar suas dúvidas sobre a “Lagarta-do-cartucho do milho: Controle eficiente com as táticas do MIP”.

No caso da broca-da-cana, as lagartas permanecem a maior parte do tempo dentro do colmo. Assim, o controle deverá ser feito por meio da liberação de parasitoides de ovos e de lagartas na lavoura, como Trichogramma galloi e Cotesia flavipes.

Pragas da espiga do milho

Nesta etapa, sua lavoura está produzindo espigas como você queria, mas daí vêm as pragas da espiga!

Por atacarem diretamente o produto final, são um sério problema.

É muito provável que você já as conheça, mas não custa relembrar. Vamos lá:

Lagarta-da-espiga (Helicoverpa zea)

O início do ataque dessa praga ocorre nos cabelos novos e, em seguida, as lagartas se alimentam dos grãos formados.

Essas lagartas, quando bem desenvolvidas, chegam a medir até 5 cm de comprimento.

Além do ataque aos grãos, elas facilitam a entrada de microrganismos.

pragas do milho
Lagarta-da-espiga sobre os grãos
(Fonte: Eurekalert)

Mosca-da-espiga (Euxesta spp.)

Esse pequeno inseto da ordem dos dípteras pode causar danos expressivos nas espigas.

E sabe como elas conseguem penetrar a espiga? Pelos danos deixados pela lagarta-da-espiga que eu mencionei acima!

As regiões atacadas ficam apodrecidas e impedem o consumo in natura do milho.

pragas do milho
Adulto e larva da mosca-da-espiga
(Fonte: Ivan Cruz/Embrapa em Panorama)

Percevejo-do-milho (Leptoglossus zonatus)

Viu um percevejo diferente próximo às espigas? Esteja atento!

Tanto ninfas quanto adultos causam danos, como murcha e podridão, com a sucção dos grãos.

Uma característica importante é que eles têm uma dilatação nas pernas em formato de folha. Veja na imagem abaixo.

pragas do milho
Adulto (acima) e ovos do percevejo-do-milho
(Foto: Ivan Cruz/Embrapa em Panorama)

Como controlar as pragas da espiga

Como sempre, o monitoramento é ideal para iniciar qualquer tipo de controle.

Mas convenhamos, dá um certo medo quando há o ataque na espiga, não é mesmo?

Para o controle da lagarta-da-espiga, muitos produtores têm feito liberações do parasitoide Trichogramma pretiosum. Atente-se que não é a mesma espécie para controle da broca-da-cana!

Para as demais pragas, o controle cultural, com eliminação de possíveis plantas hospedeiras e implementação de armadilhas, contribui para reduzir as populações. O uso de defensivos para milho também é bem frequente, além do uso de híbridos resistentes.

Já sobre o controle por meio de inseticidas você pode ver detalhes nesta matéria.

Conclusão

É muito importante que você conheça as principais pragas do milho e saiba quando é preciso controlá-las.

Controlar sem necessidade pode causar gastos desnecessários e um desequilíbrio no seu agroecossistema.

Tenha sempre em mente a importância de se preparar na pré-safra e saber, durante o ciclo da cultura, quais pragas devem ter maior grau de relevância.

É claro que existem pragas secundárias que podem causar danos significativos, mas tudo dependerá do nível populacional e do monitoramento que você realizar.

Como você controla as pragas do milho na sua lavoura? Restou alguma dúvida? Deixe seu comentário!

Lagarta-do-cartucho do milho: Controle eficiente com as táticas do MIP

Lagarta-do-cartucho do milho: quando e com o que fazer as aplicações e outras medidas simples que dão resultado no combate a essa praga

O que você prefere: tomar remédio sem estar doente ou apenas quando houver necessidade, caso você esteja realmente precisando? É bem provável que você tenha respondido a segunda opção, não é mesmo?

E o ideal seria prevenir que você fique doente. O mesmo pensamento deve ser levado em consideração quando se tratar de uma lavoura.

A “doença” a que me refiro está relacionada a tudo aquilo que acomete perdas significativas na produção. Dentre elas, a incidência de insetos-praga, como a lagarta-do-cartucho do milho, tem grande importância na perda de produção.

Por isso, confira a seguir táticas simples e efetivas que você pode fazer para combater a lagarta-do-cartucho.

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Por que o ataque da lagarta-do-cartucho do milho causa tantas perdas?

Perdas de produtividade ocorrem principalmente pelo ataque de insetos polífagos, ou seja, aqueles que podem atacar várias espécies de plantas.

A lagarta-do-cartucho do milho ou lagarta militar (Spodoptera frugiperda) é um grande exemplo entre os insetos polífagos.

Ela pode atacar cerca de 100 espécies diferentes de plantas em diversos sistemas de produção.

Além disso, pode causar danos em vários estágios de desenvolvimento da cultura, seja no cartucho ou nas plântulas.

Por isso, ela pode ser vista atacando o cartucho, ou nas plântulas, com hábito semelhante ao da lagarta rosca.

lagarta-do-cartucho do milho
Lagarta-do-cartucho do milho (Spodoptera frugiperda)
(Fonte: EPPO)

Os danos também ocorrem nas espigas e a base da planta pode ser perfurada, provocando o sintoma de “coração morto”.

E como devo agir diante de uma praga tão agressiva como essa?

Com base no que foi falado acima, o ideal é a utilização de várias táticas em conjunto para que a planta não necessite do “remédio” constantemente.

Aqui no nosso caso, o “remédio” seria o uso desenfreado de aplicação de inseticidas sem levar em consideração outras formas de manejo.

As táticas devem fazer parte do Manejo Integrado de Pragas, o MIP, o qual vamos entender melhor como realizar a seguir:

lagarta-do-cartucho do milho
Spodoptera frugiperda causa danos na planta e também nas espigas do milho
(Fonte: Cabi)

Manejo Integrado de Pragas para a lagarta-do-cartucho do milho

A lagarta-do-cartucho do milho é uma praga que, se não controlada, atinge rapidamente o nível de dano econômico.

É a principal praga do milho, mas ataca diversas culturas devido a sua polifagia. Além disso, tem alto potencial reprodutivo e ciclo curto (período de lagarta é de 12 a 30 dias), o que possibilita muitas gerações ao longo de um ano.

O Brasil por ter clima tropical, possibilita cultivos sucessivos (cultura do milho, soja, feijão, sorgo) durante todas as estações climáticas nas diversas regiões produtoras. Isso acaba contribuindo para a estabilidade da praga na lavoura e por ter alimento disponível o ano todo.

Nas lavouras de milho, causa danos em todos os estágios fenológicos da planta e, caso o único método de controle seja o químico, pode haver um efeito colateral.

Vamos imaginar um exemplo para entendermos melhor.

Por que aplico inseticida e as lagartas persistem na lavoura?

Por exemplo, imagine que você plantou alguns hectares de milho convencional e, logo no início (no estágio fenológico V3), percebeu a presença de algumas lagartas em sua lavoura.

Então, sem realizar nenhum tipo de monitoramento, você aplica um inseticida de amplo espectro e persistente.

Entretanto, algum tempo depois, notou que ainda havia lagartas e aplicou mais uma vez aquele mesmo inseticida.

Com a contínua presença da lagarta na fase reprodutiva, você pode não entender o que estava acontecendo, e, assim, aplica mais uma dose.

No entanto, ao final da produção, a lavoura estava completamente infestada e quase todas as espigas tinham a presença da lagarta-do-cartucho.

Nesse caso, você teria cometido 2 grandes erros no manejo de pragas:

Erro 1 – Não realizou o monitoramento da praga

Primeiramente, ao detectar a presença da praga, é preciso realizar o monitoramento na lavoura para só depois fazer a tomada de decisão.

Este monitoramento pode ser por meio de armadilhas do tipo delta contendo uma pastilha de feromônio de acasalamento, atraindo assim os machos.

O ideal é instalar uma armadilha por hectare e quando 3 ou mais adultos forem capturados, pode-se iniciar o controle.

lagarta-do-cartucho do milho
(Foto: Thaís Matioli)

Outra maneira de realizar o monitoramento é através de amostragem no campo com caminhamento do tipo zigue-zague ou de perímetro.

Os níveis de dano devem ser mensurados conforme a escala de Davis. Quando for detectado 20% de plantas atacadas com nota igual ou maior do que 3 na escala, deve-se entrar com controle.

lagarta-do-cartucho do milho
(Fonte: Davis em Pionner)

Erro 2 – Uso inadequado do inseticida

O uso inadequado e excessivo de inseticidas causa, dentre muitas consequências, a pressão de seleção.

Isso induz a resistência da praga àquele inseticida aplicado, morte de inimigos naturais na área, contaminação do ambiente e do produto final, dentre outros fatores.  

As aplicações sucessivas causam pressão de seleção das lagartas. O que seria isso?

O inseticida matou pragas suscetíveis ao ingrediente ativo do inseticida e permitiu que as lagartas com genética resistente continuassem na área.

Isso fez com que apenas a população resistente permanecesse e, por isso, você não conseguiu mais controlar as lagartas.

Neste caso, foi utilizado um inseticida de amplo espectro e alta persistência, ou seja, mata não só a praga, mas também insetos não-alvo e fica por muito tempo na lavoura.

Isso fez com que a população dos inimigos naturais da área fosse completamente reduzida ou extinta, o que contribuiu ainda mais para que a população da praga aumentasse.

Se o inseticida não atingisse os inimigos naturais, haveria uma grande chance de reduzir os danos causados.

Mas então quais as melhores maneiras de controle para evitar o uso errôneo de apenas um tipo de tática?

No MIP existem 4 bases e 6 pilares que sustentam sua estrutura para qualquer cultura em que se deseja implementá-lo.

As bases são a identificação correta das espécies, monitoramento, níveis de controle e condições ambientais.

Já os pilares são as táticas utilizadas para que sejam complementares ao controle de uma praga. São eles:

  • Controle cultural
  • Uso de agentes de controle biológico
  • Controle comportamental
  • Controle genético
  • Controle varietal
  • Controle químico
  • Manejo de resistência. (Conheça mais sobre a estrutura do MIP).
lagarta-do-cartucho do milho

Para saber mais sobre MIP leia este artigo aqui: Tudo o que você precisa saber sobre Manejo Integrado de Pragas

Nas principais culturas de importância econômica (soja e milho) em que a lagarta-do-cartucho causa severos danos, deve-se começar com a base da estrutura do MIP.

Antes de qualquer coisa, é importante conhecer o histórico da área: qual o cultivo anterior e se já houve infestações.

Se já houve a presença da praga, pode-se começar com controle cultural fazendo o tratamento das sementes e retirada de restos culturais.

Em seguida,  identificar a praga, fazer o monitoramento para só depois realizar a tomada de decisão.

Uso de variedades resistentes, tecnologia Bt (Bacillus thuringiensis), agentes de controle biológico e o controle comportamental podem e devem ser utilizados para reduzir o nível populacional desta praga.

Note que a aplicação de inseticidas não deve ser prioridade! E sobre sua utilização temos mais dicas:

Como fazer o controle químico eficiente da lagarta-do-cartucho do milho

Ao utilizar o controle químico é imprescindível o uso de inseticidas seletivos. O que seria isso? São inseticidas que, de alguma forma, não atingem os insetos não-alvo.

Muitos são os insetos benéficos (parasitoides e predadores) que ocorrem ou podem ser liberados no agroecossistema e estes contribuem, e muito, para a redução da lagarta-do-cartucho.

A exemplo desses insetos pode-se citar a tesourinha (Dorus luteipes),  joaninhas (Harmonia axyridis e Coleomegilla maculata) e parasitoide de ovos (Trichogramma pretiosum).

Inseticidas de amplo espectro, normalmente, causam impactos no agroecossistema. Estes agem principalmente no sistema nervoso (SN) dos insetos, por isso, devem ser evitados.

Os principais grupos químicos para SN são piretroides e neonicotides. Então, quando for utilizar esta tática, tenha preferência por outros grupos químicos.

Na imagem, um exemplo de como olhar na bula o grupo químico do inseticida.

lagarta-do-cartucho do milho

Conclusão

A lagarta-do-cartucho do milho é uma das principais pragas do milho e soja, podendo causar inúmeras perdas sem o devido manejo.

O manejo adequado não é baseado somente em inseticidas, mas sim em um conjunto de táticas que aqui apresentamos.

Além disso, vimos que o monitoramento é fundamental para que nosso controle seja eficiente. Aproveite as dicas e boa safra!

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