Como evitar e controlar a mancha de Phoma no cafeeiro

Mancha de Phoma no cafeeiro: entenda as condições para ocorrência e os principais cuidados para prevenção e controle.

Inúmeras doenças podem ocorrer em diferentes estágios da lavoura de café. Não é fácil!

Além da conhecida ferrugem, temos algumas doenças que podem causar danos na flora do cafeeiro, dentre elas, a mancha de Phoma. 

A mancha de Phoma é uma das principais doenças que atacam a florada do café, mas seu monitoramento e controle deve começar ainda antes desse período.

Separei alguns pontos importantes para entender essa doença e o que fazer para prevenir e controlá-la. Confira a seguir!

Doenças da florada do café

Antes de falar da mancha de Phoma no cafeeiro propriamente dita, é importante relembrar que existem diversas doenças que podem acometer o cafeeiro durante seu ciclo produtivo, como mostra a figura abaixo.

Se repararmos bem nessa figura, podemos observar que as principais doenças que acometem o cafeeiro durante o período da florada são a mancha de Phoma e a mancha aureolada. 

Embora o assunto desse artigo seja a mancha de Phoma, é importante destacar que essas duas doenças geralmente ocorrem ao mesmo tempo no cafeeiro. 

A mancha de Phoma no cafeeiro

O primeiro registro da mancha de Phoma no Brasil se deu nos anos 70. Desde então, ela foi disseminada pelas principais regiões produtoras do país. A doença é causada pelos fungos do gênero Phoma spp., daí vem seu nome. 

Esses fungos penetram nas folhas, frutos e brotações do café, infeccionando-os. E isso pode ser facilitado por lesões mecânicas pré-existentes, como as que a colheita mecanizada pode ocasionar. 

Condições ambientais favoráveis

A mancha de Phoma é disseminada por respingos de chuva/irrigação e é favorecida por temperaturas amenas e alta umidade. Portanto, regiões mais altas e amenas apresentam mais problemas.

Isso não significa dizer que a doença não pode ocorrer em situações de baixa altitude, já que, se as condições favoráveis ocorrerem, a doença pode se manifestar. Mas que condições são essas?

  • Temperaturas próximas a 18℃;
  • Alta umidade;
  • Ventos frios.

Períodos prolongados com essas condições, associados ao ataque de pragas e danos de geada podem favorecer a ocorrência da Phoma, mesmo em locais mais baixos ou até em viveiros.

Sintomas da mancha de Phoma

São vários órgãos atacados e sintomas distintos provocados pela Phoma, já que ela pode atacar folhas, ramos e frutos. 

Nas folhas mais novas, observa-se geralmente manchas escuras e circulares, que se expandem e tomam a folhas, encurvando-a. 

Sintomas de mancha de Phoma em folhas
Sintomas de mancha de Phoma em folhas
(Fonte: Vicente Luiz de Carvalho/Epamig)

A mancha de Phoma também pode causar danos aos botões florais, morte ascendente dos ramos produtivos (die-back) e a mumificação dos chumbinhos no pós-florada. 

Seca dos ponteiros por mancha de Phoma
Seca dos ponteiros por mancha de Phoma
(Fonte: Agrolink)
Mumificação dos chumbinhos
Mumificação dos chumbinhos
(Fonte: Vicente Luiz de Carvalho/Epamig)

Portanto, a mancha de Phoma pode impactar diretamente na produção do cafeeiro, matando o crescimento vegetativo e também as flores e os frutinhos já formados.

Formas de controle da mancha de Phoma no cafeeiro

Geralmente, é utilizado o controle químico preventivo, mas existe a possibilidade de se realizar o controle cultural da Phoma. 

Cabe destacar também que  uma nutrição correta e bem dimensionada, além do controle de pragas, são práticas fundamentais para a resiliência de qualquer lavoura. 

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Controle cultural

Como vimos anteriormente no artigo, ventos frios podem favorecer a ocorrência de Phoma. Por isso, o uso de quebra-ventos pode ser uma maneira de prevenir que isso ocorra.

Além disso, em áreas com condições favoráveis, espaçamentos mais adensados vão contribuir para o agravamento do problema. Melhor será utilizar espaçamentos maiores.

Controle químico

Em áreas onde as condições são favoráveis para o desenvolvimento da mancha de Phoma, o controle químico deve ser feito de forma preventiva, iniciando no outono-inverno, visando a pré-florada.

O controle deve seguir até a fase de chumbinho, já que o cafeeiro apresenta várias floradas. Isso garante uma boa proteção no pós-florada. 

Qual produto utilizar?

No caso da Phoma, o ingrediente ativo mais utilizado é a Boscalida, do grupo das carboxamidas, na dose recomendada em bula. Mas existem outros ingredientes ativos disponíveis:

  • triazóis: difenoconazol, epoxiconazol, flutriafol, triadimenol, ciproconazol, propiconazol, fluquinconazol, etc.
  • dicarboxamidas: iprodione.

Essa variedade, permite o uso de diferentes produtos e isso é importante, pois pode ser que existam focos de ferrugem (Hemileia vastatrix) e mancha aureolada na lavoura

Assim, se faz necessário utilizar outros fungicidas, como misturas de estrobilurinas, triazóis e/ou carboxamidas para a ferrugem; e adição de cúpricos para a mancha aureolada.

Como aplicar?

Geralmente, 4 a 5 aplicações são realizadas. Mas a frequência de aplicações depende de monitoramento, do residual do fungicida e das condições de cada lavoura.

Aplicações com as flores presentes podem atrapalhar atingir o alvo adequadamente. Por essa razão, as aplicações pré e pós-florada (quando as pétalas já caíram) são capazes de atingir e proteger os botões florais e os chumbinhos mais facilmente.

É preciso evitar a aplicação com as flores presentes, pois as pétalas impedem que o fungicida atinja o alvo adequadamente.

Conclusão

Como pudemos acompanhar ao longo do texto, a mancha de Phoma é causada por um grupo de fungos que leva esse mesmo nome e está presente nas principais regiões produtoras de café do Brasil.

Esses fungos são favorecidos por temperaturas amenas e umidade relativa alta, portanto, ocorrem em maior frequência em plantios adensados e plantios em altitudes mais elevadas. 

Os sintomas se apresentam em folhas novas, ramos, flores e frutos e podem afetar a produtividade da lavoura de café.  

Como controle, temos que começar já no planejamento do plantio de café, incluindo quebra ventos e evitando lavouras mais adensadas nas regiões com condições predominantemente favoráveis. 

Além disso, o controle químico deve iniciar antes mesmo da florada, no outono-inverno e continuar até a fase de chumbinho, já no pós-florada. 

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Como reduzir os impactos da seca no plantio de café

Impactos da seca no plantio de café: entenda como a seca afeta o cafeeiro e quais atitudes podem contornar essa situação.

Historicamente, a cafeicultura brasileira sofre com episódios de seca severa. Isso vem se agravando dada a expansão dos cultivos para áreas marginais e as mudanças climáticas que acontecem no planeta.

A seca e as temperaturas inadequadas são as principais limitações climáticas da produção de café. Geralmente, elas andam de mãos dadas, o que agrava ainda mais seus impactos negativos.

Os impactos da seca no café podem ser mais ou menos severos dependendo do tipo de solo, sistema de cultivo, espécie, variedade e estágio da produção de café.

Separei algumas dicas sobre os impactos da seca na produção cafeeira, o que podemos esperar nos próximos anos e medidas para lidar com esse problema. Confira!

Impactos da seca sobre as espécies de café

Antes de falarmos sobre os impactos da seca sobre o café, precisamos entender um pouco sobre o ambiente de origem do cafeeiro e como ele molda as respostas das plantas às adversidades climáticas.

O ambiente de origem do cafeeiro

A produção mundial e brasileira de café é baseada em duas espécies: café arábica (Coffea arabica L.) e canephora (C. canephora Pierre). Contudo, essas espécies têm ambientes de origem distintos.

O café arábica tem origem na Etiópia, em condições de temperatura mais amena e altitude superior a 1.600 m. 

O canephora, por outro lado, vem de regiões equatoriais bacia do Rio Congo, mais quentes e com ar saturado de umidade

Mas, por que isso é importante para o manejo nos dias atuais?

Embora o melhoramento genético de café tenha possibilitado a produção de café a pleno sol e em áreas marginais, é certo que as condições em que a planta evoluiu têm influência direta sobre seu comportamento frente a estresses como a seca.

Dada a grande disponibilidade de água em sua origem, o cafeeiro não desenvolveu mecanismos robustos para lidar com déficit hídrico. Isso significa dizer que os cafeeiros, de modo geral, não lidam bem com o déficit hídrico.

Existe variabilidade entre variedades quanto à tolerância à seca, mas dificilmente a produção não é afetada. Ressalta-se que o impacto negativo da falta de água pode variar com as cultivares, estádio fenológico e as condições do local de produção.

Impactos da seca sobre o café

No ambiente tropical, a seca é agravada por altas temperaturas e alta incidência de radiação solar. Dependendo do tipo de solo, haverá mais ou menos água armazenada também.

Fato é, que quanto mais tempo durar o déficit hídrico e menos água armazenada o solo tiver, maiores serão os danos. Dependendo da fase de desenvolvimento da cultura, os danos podem ser piores.

Os impactos da seca sobre o plantio do café são grandes, já que podem levar as mudas recém-plantadas à morte. 

As lavouras em formação, embora maiores e mais resistentes, podem sofrer com desfolha, seca de ramos e até morte de plantas.

Já em lavouras em produção, dependendo do estádio fenológico (ilustrados na figura abaixo), os danos podem ser distintos. 

Esquematização das seis fases fenológicas do cafeeiro arábica, durante 24 meses, nas condições climáticas tropicais do Brasil.
Esquematização das seis fases fenológicas do cafeeiro arábica, durante 24 meses, nas condições climáticas tropicais do Brasil.
(Fonte: Camargo & Camargo, 2001)

A seca na fase vegetativa pode comprometer a produção da safra seguinte e a atual, dependendo da severidade, perdendo folhas e ramos.

Embora um período de déficit moderado seja importante para maturação das gemas florais, uma seca severa pode abortar/secar as gemas e as flores, comprometendo a produção que viria. 

Na fase de chumbinho, o pegamento pode ser reduzido e os grãos podem ser pequenos e chochos caso a seca venha na fase de enchimento de grãos. 

Medidas para minimizar os efeitos da seca

Existem medidas que podem minimizar os efeitos da seca. Sua efetividade depende do momento de uso da técnica, mas principalmente da severidade dos danos já causados pela seca.

Irrigação

Quando o assunto é seca, com certeza a primeira coisa que vem à cabeça para resolver o problema é irrigação, não é mesmo?

Pois bem. É claro que a irrigação é uma medida para conviver com a seca, que permite o fornecimento de água na quantidade certa e na época correta para o cafeeiro. 

Contudo, nem sempre é possível instalar um sistema de irrigação, dada a indisponibilidade de fontes de água no local ou o alto custo envolvido. 

Existem medidas que devem ser tomadas antes mesmo de se pensar em irrigar e que podem beneficiar todos os sistemas de produção, sejam eles de sequeiro ou irrigados. 

Preparo profundo de solo

Enquanto as camadas mais superficiais do solo podem estar secas, o subsolo pode representar um reservatório de água ainda disponível. Para que essa água seja acessada, é necessário que as raízes do cafeeiro cheguem até essas camadas mais profundas

No entanto, as recomendações de correção e adubação são focadas nas camadas mais superficiais do solo e as camadas mais profundas podem apresentar limitações químicas e físicas ao desenvolvimento de raízes.

Uma solução possível seria o preparo profundo de solo na hora do plantio do café. Esse assunto foi abordado em mais detalhes no nosso artigo sobre o plantio do café. Dê uma conferida lá, pois vale a pena!

Uso de culturas intercalares e arborização

Como geralmente as entrelinhas do café ficam expostas ao sol, a perda de água por  evaporação é alta. 

Uma maneira de evitar essa perda, aumentar a infiltração de água e manter mais água disponível no solo é o uso de culturas intercalares. 

Nesse aspecto, é preferível utilizar culturas perenes, com sistema radicular vigoroso e boa produção de biomassa, mas que ao mesmo tempo sejam de fácil manejo e não atrapalhem o cafeeiro se bem manejadas. 

Nesse quesito, as braquiárias são campeãs.

Há ainda a possibilidade de produzir café sombreado, sistema no qual o cafeeiro está submetido a condições mais similares a de seu ambiente de origem e, portanto, sofre menos estresses. 

A arborização pode ser benéfica principalmente em áreas marginais à produção. Contudo, sua adoção deve considerar outros critérios para ser viável. Falamos com mais detalhes sobre isso no nosso texto sobre o plantio do café também.

Café e mudanças climáticas: o que o futuro nos reserva?

Considerando as previsões científicas quanto ao aquecimento global, o cenário não era muito agradável para a produção de café. 

Contudo, em recente revisão publicada pelo professor Fabio DaMatta e colaboradores, o cenário apresentado parece mais otimista. 

Os dados mostram que o CO2 elevado pode ajudar a reduzir os efeitos negativos das elevadas temperaturas e estresse hídrico sobre a produtividade do cafeeiro.

Entretanto, as incertezas do clima, a possibilidade de maior ocorrência de eventos extremos (tempestades, altas temperaturas, etc.) e a interação disso com pragas, doenças e genótipos de café tornam qualquer previsão complicada e mais estudos são necessários sobre o assunto.

De qualquer maneira, fica o registro do que se tem de recente na literatura científica e sobre a necessidade de pesquisas futuras quanto à produtividade e qualidade de café no contexto de mudanças climáticas.

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Conclusão

Como pudemos acompanhar no texto, os cafeeiros arábica e canephora podem sofrer impactos negativos com a seca, principalmente em regiões marginais, onde as condições são naturalmente mais estressantes à planta de café.

Dependendo da severidade da seca, duração e do estádio fenológico no qual a planta se encontra, a produção atual e a da safra seguinte podem ser comprometidas.

Além da irrigação, existem medidas que podem ajudar a reduzir os impactos negativos da seca e tornar o sistema de produção mais resiliente. 

Entre essas medidas destacam-se o preparo profundo de solo, o uso de culturas de cobertura nas entrelinhas dos cafezais e em alguns casos, a adoção da produção arborizada.

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Principais doenças do café: como identificar os sintomas e fazer o melhor manejo

Atualizado em 19 de julho de 2021.
Doenças do café: conheça melhor os danos e como controlar a ferrugem, manchas, cercosporiose, seca dos ponteiros e nematoides de galhas

Várias doenças afetam a cafeicultura. Muitas delas causam danos sérios, reduzindo ou anulando a produtividade do cafezal se mal controladas.

Um bom manejo passa, primeiramente, pelo conhecimento dos sintomas que elas provocam nas plantas e das condições que as favorecem. Assim, você pode estabelecer os métodos de controle viáveis.

Conheça as principais doenças do café, o que observar na lavoura e como fazer um controle mais eficiente. Confira!

O que favorece a ocorrência das doenças do café?

Quando se fala em doenças, um conceito é fundamental: o do triângulo da doença. 

Esse conceito mostra que para a ocorrência de determinada doença é necessário que se tenha:

  • ambiente favorável a seu desenvolvimento; 
  • hospedeiros para o agente causal; 
  • patógeno, o responsável por causar aquela doença.

Há oportunidades de manejar os três lados desse triângulo.

Você pode alterar o ambiente escolhendo o local de plantio, os sistemas de cultivo (sombreado ou pleno sol), o espaçamento da lavoura e o manejo. 

Com isso, você altera principalmente a umidade, a temperatura, luminosidade e estado nutricional da planta.

Quanto ao hospedeiro, é possível manejar a escolha de variedades resistentes a determinadas doenças, a remoção de restos culturais e controle de invasoras que possam ser hospedeiras.

Com relação ao patógeno, você pode utilizar métodos de controle – como os defensivos agrícolas – que atuam na redução de sua população. É o controle químico, propriamente dito.

Conhecer como atuar no sistema é importante no controle de doenças do cafeeiro, como você verá a seguir.

Principais doenças do café

A importância das doenças do café pode variar de região para região, bem como a época de sua ocorrência devido às variações nas condições ambientais.

Por isso, existem inúmeras doenças que podem causar problemas. As principais são:

A ocorrência de determinadas doenças do café se relaciona com determinadas épocas do ano ou estádio fenológico do cafeeiro, pois coincide com as condições ambientais que a favorecem.

Ferrugem do cafeeiro (Hemileia vastatrix Berk. & Br)

A ferrugem do cafeeiro é favorecida por condições de:

  • alta umidade relativa;
  • temperaturas entre 20 ℃ e 24 ℃;
  • baixa luminosidade;
  • desbalanços nutricionais.

Ela causa desfolha da planta e até seca de ramos, comprometendo a produção. O monitoramento da ferrugem é feito com a coleta de 100 folhas do terço médio para cada talhão. 

Comumente, são utilizados agentes químicos para o controle de ferrugem. 

Eles podem ser aplicados de forma preventiva durante o período chuvoso ou quando constatada a doença e os danos atingirem o nível de dano econômico. Nesse caso, 5% das folhas infectadas.

Detalhe numa folha do sintoma de ferrugem do cafeeiro
Detalhe do sintoma de ferrugem do cafeeiro
(Fonte: Agrolink)

Uma alternativa para evitar os danos por ferrugem é o uso de variedades resistentes, como exemplifica a tabela abaixo. Além disso, espaçamentos maiores e nutrição adequada desfavorecem a ferrugem.

Mancha de phoma ou de ascochyta (Phoma spp.)

Também conhecida por requeima, a mancha de phoma é uma doença causada por algumas espécies de fungo do gênero Phoma

As espécies de maior importância para a cultura do café são: Phoma tarda e Phoma costarricensis.

A doença tem maior incidência em regiões com ventos fortes e altitude elevada (acima de 1000 m), alta umidade e temperaturas próximas a 20 ºC.

O florescimento do cafezal é o período mais suscetível para a ocorrência da doença.  

Os sintomas são observados em toda parte aérea da planta. São visíveis primeiro nas folhas mais novas. 

A doença causa desfolha da planta e seca dos ramos. Além disso, a mancha de phoma causa deformações e lesões necróticas nas folhas, flores e frutos.

A mancha de phoma provoca a morte de brotações novas, botões florais e a mumificação dos chumbinhos. Isso compromete diretamente a produtividade.

O controle da doença envolve a adoção de práticas culturais e o controle químico

Algumas medidas podem ser adotadas no manejo da mancha de phoma no cafeeiro:

  • uso de mudas certificadas;
  • maior espaçamento de plantio;
  • adubação balanceada;
  • instalação de quebra-ventos.
Sintomas de mancha de phoma em ramos e frutos de café (imagens A e B) e nas folhas (imagens C e D)
Sintomas de mancha de phoma em ramos e frutos de café (A e B) e nas folhas (C e D)
(Fonte: Revista Cafeicultura)

Mancha aureolada do cafeeiro (Pseudomonas syringae pv. garcae)

A doença mancha aureolada do cafeeiro também é conhecida por crestamento bacteriano ou mancha bacteriana. 

O patógeno da doença é a bactéria Pseudomonas syringae pv. garcae

A doença tem maior ocorrência em lavouras:

  • com até 4 anos de idade;
  • instaladas em áreas de elevada altitude;
  • sujeitas a ventos frios;
  • temperaturas amenas e alta umidade. 

Nas folhas, os sintomas são manchas necróticas que podem ou não serem circundadas por um halo amarelado. Ramos, flores e frutos também apresentam lesões necróticas. 

A mancha aureolada causa a queda de flores e frutos. Em estado avançado, a doença pode levar à desfolha, além de comprometer a produção.

O manejo da mancha aureolada no café consiste na aplicação de fungicidas cúpricos, no plantio de mudas sadias e na instalação de quebra-ventos.

primeira imagem com lesões de mancha aureolada em folhas de café; segunda imagem com ramo de café atacado pela mancha aureolada e terceira imagem com lavoura em primeira produção com incidência de mancha aureolada em ramos novos
Lesões de mancha aureolada em folhas de café (a); ramo de café atacado pela mancha aureolada (b) e lavoura em primeira produção com incidência de mancha aureolada em ramos novos (c).
(Fonte: Revista Visão Agrícola)

Mancha anular do cafeeiro (Coffee ringspot virus – CoRSV)

A mancha anular do cafeeiro é uma doença causada pelo vírus CoRSV. Ela pode se desenvolver em qualquer fase fenológica da cultura.

A transmissão e disseminação do vírus é feita pelo ácaro plano Brevipalpus phoenicis. Esse ácaro também é o vetor da doença conhecida como leprose nas culturas de citros.

Os sintomas da mancha anular são visíveis nas folhas e frutos do café

Nas folhas, os sintomas são manchas cloróticas circulares com a presença de anéis concêntricos.

Os sintomas são observados tanto em frutos verdes quanto maduros. Frutos maduros afetados pelo vírus apresentam manchas amareladas em baixo relevo.

Plantas infectadas podem apresentar desfolha, queda e maturação irregular dos frutos. A desfolha tem a característica de acontecer de dentro para fora, conferindo uma aparência oca à copa da planta

Como o vetor da doença é um ácaro, a principal medida de controle é o manejo com o uso de acaricidas.

primeira imagem com frutos sadios de café; outras imagens com sintomas de mancha anular: depressão na casca e maturação irregular dos frutos
Frutos sadios de café (a); sintomas de mancha anular: depressão na casca e maturação irregular dos frutos (b,c,d)
(Fonte: Boari, A. de J.; Embrapa Amazônia Oriental)

Cercosporiose (Cercospora coffeicola)

Também conhecida como mancha-olho-de-pomba, a cercosporiose é favorecida por condições quentes, úmidas e situações de déficit hídrico e/ou nutricional.

Os danos são causados em mudas e plantas adultas. Vão desde a desfolha da planta até danos diretos aos frutos. É potencializada por desbalanços nutricionais e alta carga de frutos.

Danos por cercosporiose nas folhas de café
Danos por cercosporiose nas folhas de café
(Fonte: Coopercam)
doença Cercosporiose em frutos
Cercosporiose em frutos
(Fonte: Vicente Luiz de Carvalho/Epamig)

O controle se dá pelo manejo de irrigação e aplicação de fungicidas via foliar, com acompanhamento visual dos sintomas. 

Além disso, adubações adequadas em nitrogênio e boa aclimatação das mudas antes do plantio ajudam a evitar essa doença. 

A planilha abaixo pode te ajudar a realizar uma boa adubação de café. Baixe gratuitamente clicando na imagem!

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Seca dos ponteiros

A seca dos ponteiros é causada por um complexo de agentes como Colletotrichum spp.; Phoma spp., Hemileia spp., Cercospora spp., Ascochyta spp.  

O ataque é fruto de desbalanceamento nutricional e condições úmidas. Pode causar perda de produção, pois causa a morte dos ramos.

Recomenda-se o manejo com fungicidas cúpricos, logo após a colheita em áreas com histórico da doença. Quebra-ventos e nutrição equilibrada ajudam a reduzir os problemas também.

Confira mais informações no vídeo:

Seca de Ponteiros | No Pé do Café

Nematoides das galhas (Meloidogyne spp.)

O gênero de nematoides com maior importância econômica para a cultura do café é o Meloidogyne.

Três espécies de nematoides das galhas se destacam pela patogenicidade e ocorrência nas áreas produtoras de café: 

  • Meloidogyne exigua;
  • Meloidogyne incognita;
  • Meloidogyne paranaensis. 

Na tabela abaixo, você pode conferir a distribuição geográfica das principais espécies de Meloidogyne que causam prejuízos às lavouras de café no Brasil.

tabela com principais espécies de Meloidogyne associadas ao cafeeiro no Brasil e sua distribuição geográfica
Principais espécies de Meloidogyne associadas ao cafeeiro no Brasil e sua distribuição geográfica
(Fonte: Boletim Técnico – Nematoides Parasitos do Cafeeiro

 A ocorrência dos nematoides de galhas é maior em solos arenosos e com pouca matéria orgânica.

Esses nematoides causam a formação de galhas no sistema radicular das plantas. Isso prejudica a absorção de água e nutrientes

Dependendo do nível de infestação e da susceptibilidade da cultivar, pode haver clorose, murcha e queda das folhas. Em casos de severas infestações, as plantas podem morrer.

Os sintomas do ataque por nematoides são mais evidentes em períodos de seca.

tabela de espécies de Meloidoginoses em cafeeiros no Brasil
Meloidoginoses em cafeeiros no Brasil
(Fonte: Boletim Técnico – Nematoides Parasitos do Cafeeiro)

O ideal é evitar a entrada dos nematoides na área. Para isso é essencial usar mudas de café certificadas e também limpar o maquinário agrícola ao mudar de talhão. 

Dessa forma, você evita que torrões de solo contaminados entrem em áreas isentas.

Em áreas em que os nematoides já são um problema fitossanitário, o manejo é realizado pela aplicação de nematicidas químicos e pelo plantio de cultivares de café resistentes.

Importante ressaltar que o controle de nematoides é difícil e caro. É fundamental adotar um conjunto de práticas de manejo, visando a reduzir o nível populacional de nematoides na área

Conclusão

Várias doenças podem afetar a produção de café. Para manejá-las é fundamental conhecer cada uma delas, seus sintomas, quando ocorrem normalmente e as condições que as favorecem. 

Um bom manejo das doenças do café começa pelo monitoramento, para que se possa agir na hora certa. Existem vários métodos para manejo, embora o mais comumente aplicado seja o químico.

Além disso, a prevenção ainda é o melhor remédio. Portanto, evitar condições favoráveis aos patógenos, quando possível, é sempre uma boa estratégia. 

E, na possibilidade de utilizar variedades resistentes – como no caso da ferrugem -, opte por isso.

Assim, aliando diversas técnicas de manejo, é possível tornar o sistema produtivo mais resiliente e sustentável.

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Tudo o que você precisa saber sobre a mancha de mirotécio no café

“Como o uso de drones na pulverização do cafeeiro pode trazer economia e eficiência nas aplicações”

E você, conhecia as principais doenças do café? Já precisou lidar com alguma delas? Adoraria ler sua experiência aqui nos comentários!

redatora Tatiza Barcellos

Atualizado em 19 de julho de 2021 por Tatiza Barcellos.
Engenheira-agrônoma e mestra em agronomia, com ênfase em produção vegetal, pela Universidade Federal de Goiás.

Fique de olho na cantoria da cigarra-do-cafeeiro e faça o controle certeiro

Cigarra-do-cafeeiro: características da praga e as formas de manejo mais efetivas para sua lavoura.

Se a cantoria das cigarras incomoda a maioria das pessoas, para os produtores de café é sinal de alerta.

A cigarra-do-cafeeiro é uma praga que causa sérios danos à cultura e seu manejo deve ser feito de forma eficiente. 

Quer entender melhor sobre essa praga e suas principais características? Confira a seguir!

Cigarra-do-cafeeiro

As espécies popularmente conhecidas como cigarras-do-cafeeiro são Quesada gigas, Fidicinoides sp. e Carineta sp. Elas pertencem à ordem Hemiptera e família Cicadidae.

Entretanto, a espécie Q. gigas é a que causa maior dano na cultura, pois suas ninfas são maiores e sugam a seiva das raízes ininterruptamente e por um longo tempo.

foto de adulto da espécie Quesada gigas

Adulto da espécie Quesada gigas 
(Fonte: UOV)

E essa espécie, por ser mais severa, deve ser muito bem manejada. Vamos à algumas características dela.

Características da cigarra-do-cafeeiro – (Quesada gigas

Uma característica marcante dessa espécie é seu ‘canto’, que, na verdade, é uma maneira do macho atrair a fêmea para cópula. E o som emitido vem de órgãos estridulatórios que ficam no abdome dos machos.

Segundo o pesquisador da Epamig, Júlio César de Souza, existe um período específico do ano em que os adultos se dispersam para o acasalamento – normalmente entre agosto e outubro

Diferente do que o senso comum diz, as cigarras não cantam até estourar. Aquelas ‘cascas’ que ficam nos troncos das árvores são as exúvias do último ínstar ninfal. Isso quer dizer que os adultos emergem e as exúvias ficam nos troncos. 

Os adultos têm o corpo robusto, coloração amarronzada, grandes olhos compostos com três ocelos entre eles e os machos são maiores que as fêmeas. 

Mas como as ninfas chegam no tronco?

Após o acasalamento, as fêmeas colocam os ovos sob ramos das árvores do cafeeiro de forma endofítica. Os ovos são de coloração esbranquiçada e tem forma alongada. 

Quando as ninfas eclodem, elas produzem um filamento para descer até o solo em busca das raízes da planta. 

Essas ninfas se alimentam da seiva elaborada (do floema) das plantas inserindo o aparelho bucal sugador nas raízes. E é aí que está o problema. Essa fase pode ficar de um a dois anos consumindo o conteúdo, o que causa severos danos. 

Ninfas móveis de Quesada gigas

Ninfas móveis de Quesada gigas
(Fonte: Embrapa)

As que se fixam nas raízes são ninfas móveis e após esse tempo se alimentando da seiva, saem do solo, deixando um orifício individual, e vão, novamente, para o tronco das árvores onde ficam imóveis até a emergência dos adultos e se inicia um novo ciclo da praga. 

Por isso, a fase que causa danos no cafeeiro é de ninfas móveis. 

Sintomas e danos

Os primeiros sintomas são fraqueza na parte aérea, que se acentua em épocas de déficit hídrico, por acarretar a morte das raízes. 

Em seguida, começam a aparecer sintomas na parte aérea como clorose, queda precoce de folhas, complicações na granação de frutos e diminuição da vida útil das lavouras.

Já houve relatos de, em uma única planta, haver de 200 a 400 ninfas móveis causando severos danos. É praticamente impossível ter uma boa produção com um ataque nesse nível. 

Pode-se observar indícios de que existe população de cigarras pela presença das exúvias ou ‘cascas’ nos troncos das plantas de café ou em plantas próximas ao cafezal.

Por ser um arbusto, o cafeeiro vai definhando conforme a população da praga vai aumentando. Se não houver controle efetivo, as lavouras passam a não responder aos tratos culturais que normalmente são feitos, deixando que as floradas fiquem bastantes escassas. 

foto de Exúvia de cigarra em um tronco

Exúvia de cigarra
(Fonte: Pixabay)

>>Leia mais: “Broca-do-café: veja as principais alternativas de controle

Manejo da cigarra-do-cafeeiro 

Quando os sinais da presença das cigarras forem aparecendo, é o momento de começar a fazer o monitoramento das ninfas móveis, que ficam se alimentando das raízes. 

Para o monitoramento, a primeira coisa a ser feita é dividir a lavoura em talhões.

Em cada talhão deverão ser feitas amostragens após observação dos orifícios de saída das ninfas móveis no solo próximas às copas do cafeeiro e das exúvias nos troncos. 

Ao encontrar esses indícios, devem ser feitas trincheiras em algumas covas para contagem de ninfas. O ideal é entrincheirar 10 covas por talhão.

A trincheira deve ser aberta de um dos lados da planta até atingir a raiz principal, que é o local de maior concentração dos insetos para succionar a seiva. 

Como a trincheira é feita apenas de um lado da planta, ao final da contagem, deve-se multiplicá-la por dois para se ter um valor aproximado do total de indivíduos naquela planta.

O nível de controle para a cigarra-do-cafeeiro Q. gigas é de 35 ninfas móveis por cova. Porém, hoje em dia já é recomendado que se faça o controle antes mesmo de atingir esse nível. 

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Atualmente, o único controle realmente eficiente é o químico, aplicado no solo, que deve ser feito no início do período chuvoso, momento em que se iniciam os enfolhamentos no cafeeiro. 

Os inseticidas utilizados devem ser sistêmicos para que atinjam o sistema vascular da planta, chegado na seiva elaborada, onde as ninfas móveis se alimentam. 

Dentre esses inseticidas, os mais indicados são os do grupo químico dos neonicotinoides, podendo ser em formulações de granulado dispersível (WG), granulado (GR), suspensão concentrada (SC) ou técnico concentrado (TK). 

Existem 10 produtos registrados no Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) para controle da cigarra-do-cafeeiro. 

Conclusão

Quando as cigarras começam a ‘cantar’, o produtor de café deve estar muito atento, pois esse é o período em que a praga vai se reproduzir.

Existem três espécies de cigarras que atacam o cafeeiro, mas a Quesada gigas é a que causa maiores danos se não for controlada. 

As ninfas se alojam sob o solo para sugar a seiva elaborada e causam danos ao cafezal, podendo deixá-lo improdutivo. 

O manejo deve ser feito com o monitoramento e, em seguida, com aplicação de inseticidas no solo, quando constatado o nível de controle. 

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Você tem problemas com a cigarra-do-cafeeiro na sua lavoura? Como faz o manejo? Adoraria ler seu comentário!

Como evitar a fitotoxicidade por herbicidas no café e o que fazer caso ela ocorra

Fitotoxicidade por herbicidas no café: entenda os principais pontos para evitar os danos da deriva de herbicidas e como atuar em lavouras afetadas por isso

Como evitar a fitotoxicidade por herbicidas no café e o que fazer caso ela ocorra

As plantas daninhas do café dão a maior dor de cabeça na lavoura, não é mesmo? Principalmente nas fases iniciais de implantação do café, estamos sempre de olho nas invasoras.

Para controlá-las podemos recorrer ao uso de consórcios na entrelinha, ao controle mecânico com trincha ou roçadora e, mais comumente, aos herbicidas.

Embora os herbicidas tenham facilitado o manejo de diversas daninhas no café, quando erramos o alvo, o tiro pode sair pela culatra. Com isso, essa ferramenta pode se tornar um problema, atrapalhando o crescimento e desenvolvimento da lavoura. 

Separei algumas dicas de como evitar a fitotoxicidade por herbicidas no café e como proceder caso ela ocorra. Confira!

Entenda a fitotoxicidade por herbicidas no café

Quando aplicamos herbicidas no café, nosso alvo são as plantas daninhas. Portanto, as aplicações devem atingi-las para que o controle seja efetivo.

Quando erramos o alvo, temos uma eficácia de controle reduzida, gastos desnecessários – pois estamos “jogando produto fora” – mas também podemos causar danos ao cafeeiro. É isso que chamamos de fitotoxicidade por herbicidas, aquela história de “deu uma fito na lavoura”. 

A fitotoxicidade por herbicidas no café é fruto de aplicações feitas em condições ambientais impróprias, com má regulagem do equipamento e/ou sem as devidas precauções durante o processo, causando deriva do herbicida. 

Isso é relativamente comum no caso de aplicações de glifosato, herbicida bastante utilizado e não seletivo. Mas esse problema ocorre para outros herbicidas também.

Mas, então, como evitar que a aplicação de herbicidas cause fitotoxicidade no cafeeiro? Veremos isso a seguir!

3 passos para evitar a fitotoxicidade por herbicidas no café

O alvo das aplicações de herbicida são as plantas daninhas, não o café. Mas, por mais que estejamos “mirando” o alvo, alguns pontos devem ser levados em conta para garantir o sucesso da aplicação e evitar a fitotoxicidade no café.

Fatores do ambiente, da regulagem do equipamento e da experiência do operador podem afetar a aplicação.

1 – Aplique nas melhores condições possíveis

O ambiente influencia o sucesso das aplicações de herbicida. 

Condições de umidade relativa abaixo dos 50%, temperaturas acima de 30℃ e velocidade dos ventos acima de 10 km/h inviabilizam a operação!

Os dois primeiros fatores (temperatura e umidade) podem favorecer a volatilização dos compostos, os quais podem atingir o café. Os ventos podem, por si só, causarem a deriva da aplicação até o cafeeiro

Isoladamente, cada um desses fatores afeta negativamente a operação, mas a combinação deles é pior

Por isso, prefira horas mais amenas do dia, com pouco vento e dias com umidade do ar maior. 

É claro que, na prática, dificilmente esse cenário ideal é alcançado para todos os fatores, mas é sempre necessário buscar as melhores condições.

2 – Regule bem os implementos

O ambiente é importantíssimo, mas a maior responsável pela fitotoxicidade por herbicidas no café é a má regulagem dos equipamentos ou uso de equipamentos errados. 

Seja na aplicação manual ou mecanizada, regule a vazão correta de acordo com a recomendação de aplicação. A regulagem também deve levar em conta as condições ambientais, como mostra a figura abaixo.

tabela com informações de regulagem do tamanho de gota de acordo com as condições ambientais

Regulagem do tamanho de gota de acordo com as condições ambientais
(Fonte: Jacto)

Prefira bicos antideriva com indução de ar para evitar problemas e mantenha a barra de aplicação mais baixa e próxima ao dossel das invasoras, para evitar deriva ao café.

Não comece a aplicação sem antes ter tudo bem regulado e pare a aplicação se verificar algum problema!

Proteja o cafezal

Uma maneira de evitar deriva e fitotoxicidade por herbicidas no café é o uso de protetores. Eles são utilizados principalmente em aplicações manuais e evitam que o produto se espalhe fora do local de aplicação desejado. 

imagem de Chapéu protetor para evitar a deriva da aplicação de herbicidas

Chapéu protetor para evitar a deriva da aplicação de herbicidas
(Fonte: Jacto)

3 – Utilize outros métodos de controle

É importante ressaltar que existem opções para reduzir os efeitos negativos de herbicidas que não estão diretamente relacionadas à sua aplicação. O uso de métodos de controle alternativos, reduz o uso de herbicidas e, consequentemente, as possibilidades de deriva.

O controle de plantas daninhas (assim como o de pragas e doenças) deve ser feito dentro de um programa de manejo integrado. 

Assim, o uso de herbicidas não é (ou não deveria ser…) o único método de controle de daninhas no cafezal. Podemos e devemos lançar mão, sempre que possível, de controle mecânico e cultural.

O controle mecânico está relacionado ao uso de trincha e/ou roçadora na entrelinha do cafezal. 

Já o controle cultural está relacionado ao espaçamento da lavoura e uso de culturas intercalares. 

Menor espaçamento reduz a incidência de luz e, consequentemente, de daninhas. Já as culturas intercalares “abafam” as daninhas e tornam-se as espécies dominantes. 

Existem várias opções de espécies, mas as braquiárias têm se mostrado eficientes nesse quesito, pois são perenes e tem grande produção de biomassa, reduzindo as infestações. 

Manejo pós-fitotoxicidade na lavoura

Ainda é incerto qual é o melhor manejo após a ocorrência da fitotoxicidade de herbicidas. Afinal, existem vários herbicidas que podem causar esse problema e vários graus de fitoxicidade que o cafeeiro pode ter sofrido. 

Além disso, cultivares de café têm diferentes tolerâncias aos danos por herbicidas.

Em sua dissertação de mestrado, Alecrim (2016) estudou os efeitos da aplicação de sacarose na recuperação e desintoxicação de mudas de café atingidas por deriva de glifosato

O autor conclui que a aplicação de sacarose na concentração de 2% em até uma hora após a ocorrência da deriva pode ajudar na recuperação do cafeeiro.

Outros estudos devem ser feitos para verificar outras alternativas e efeitos sobre outros herbicidas.

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Conclusão

Como pudemos acompanhar ao longo do texto, existem alguns herbicidas disponíveis para serem utilizados no manejo de daninhas na cultura do cafeeiro. Todos ele têm potencial para causar fitotoxicidade no café.  

De qualquer maneira, existem boas práticas que podem ser empregadas para evitar a deriva e a fitotoxicidade por herbicidas no café. O importante é acertar o alvo, ou seja, as daninhas!

Condições ambientais ideais devem ser preferidas para a aplicação dos herbicidas. Além disso, a vazão de aplicação deve ser ajustada e os bicos devem estar bem regulados! 

Vimos que, caso ocorra danos ao cafeeiro, uma alternativa pode ser a aplicação foliar de sacarose. Mas ainda são necessários novos estudos sobre esse tema. 

De qualquer forma, por algum tempo o café irá sentir a fitotoxicidade por herbicidas até que se recupere.

>>Leia mais:

10 dicas para melhorar a gestão da sua lavoura de café

Tudo o que você precisa saber sobre a produção de cafés especiais

Você já teve problemas de fitotoxicidade por herbicidas no café? Como você faz para evitar ou remediar essa situação? Conte para gente nos comentário!

Tudo que você precisa saber sobre a produção de cafés especiais

Produção de cafés especiais: entenda melhor esse mercado e veja as dicas de como implantar ou adaptar sua lavoura para esse tipo de bebida

O consumo de cafés especiais no Brasil cresce 15% ao ano, ritmo quatro vezes maior que o dos cafés tradicionais! No mundo, a tendência também é de aumento.

O mercado de cafés especiais, portanto, é um nicho a ser explorado. Os preços pagos são maiores e a qualidade final do produto também. 

Mas para focar na produção de cafés especiais é preciso mudar o modo como se pensa a cafeicultura. Alterações são necessárias desde à lavoura até a comercialização do produto.

Separei algumas dicas sobre como produzir cafés especiais e como não errar na transição de uma produção de cafés convencionais para os especiais. Confira!

O que são cafés especiais

O Brasil é o maior produtor de café do mundo e só perde para os Estados Unidos em consumo. Mas apenas 10% do consumo de cafés no nosso país fica por conta dos especiais. Isso por enquanto, pois esse mercado vem mudando rapidamente e o crescimento é inevitável.

Mas, afinal, o que são esses café especiais?

A SCA (Specialty Coffee Association – Associação de Cafés Especiais) padroniza a metodologia para classificação de cafés em nível mundial.

Segundo a SCA, os cafés especiais em grão verde são 100% arábica e não podem apresentar nenhum defeito primário (grãos pretos, ardidos, fungados, material estranho, etc) e, no máximo, dois defeitos secundários (defeitos parciais). 

Defeitos dos cafés em grão verde

Defeitos dos cafés em grão verde
(Fonte: Mexido de ideias.com)

Ela também considera como especiais aqueles cafés com 80 pontos ou mais em sua avaliação de bebida (que vai de 0 a 100) e analisa diversos parâmetros como mostra o vídeo explicativo abaixo.

No Brasil, a BSCA (Cafés especiais do Brasil) se baseia nessas diretrizes também. 

A seguir, veremos como produzir cafés especiais que atendam a esses parâmetros. 

Como produzir cafés especiais

É importante lembrar que a produção de cafés especiais deve visar, acima de tudo, atender à demanda do mercado consumidor desses cafés. É ele que vai direcionar as ações do produtor.

Portanto, vamos começar de trás para frente, mostrando primeiramente o que o consumidor quer e, depois, abordando como produzir café para atendê-lo.

Entenda o mercado

Segundo levantamento do Sebrae, os consumidores de cafés especiais no Brasil querem saber a origem do café e se a produção é sustentável, além de exigir qualidade, é claro

Do ponto de vista do consumo em si – do café na xícara – o mercado busca toda uma experiência de consumo, com ampla variedade de cafés e métodos de preparo, um ambiente agradável e maior proximidade com a origem do café, com o produtor.

Formas de atender à demanda

Partindo desse princípio, o produtor tem alguns caminhos a tomar, por exemplo:

  1. Produzir cafés de qualidade e se associar a cooperativas para venda.
  2. Criar a própria marca de café e vender o produto final diretamente ao varejo/consumidor final.
  3. Fornecer a experiência de se tomar um café especial, com um espaço para receber os clientes, servir, vender e contar como foi produzido aquele café.
Exemplo de cafés especiais com produção artesanal e, consequentemente, maior valor agregado

Exemplo de cafés especiais com produção artesanal e, consequentemente, maior valor agregado
(Fonte: Cafezal em Flor)

Não é o intuito deste texto entrar em detalhes sobre cada um desses modelos, pois a prosa seria longa e são apenas modelos gerais para ilustrar. Mas algumas considerações cabem aqui.

Transição de lavouras convencionais para produção de cafés especiais

Perceba que cada um desses três exemplos acima representam níveis de complexidade e detalhamento do negócio diferentes.

No primeiro caso, a transição para a produção de cafés especiais é mais fácil e necessita apenas de algumas modificações no sistema produtivo convencional.

Nos outros dois, o produtor tem que dominar as técnicas de cultivo e processamento, e entender a fundo o mercado, os canais para acessar o cliente e, mais importante, como lidar diretamente com esse público. 

O desafio é ainda maior caso se deseje explorar o competitivo mercado internacional de cafés. De qualquer maneira, todo bom café parte de boas práticas em sua produção!

Plantio, escolha de variedades e manejo da lavoura

Como os consumidores se preocupam com as origens dos cafés especiais, é importante haver a rastreabilidade da semente à xícara. 

Portanto, no plantio ou renovação da lavoura é fundamental comprar mudas de viveiristas certificados e que sigam boas práticas na produção.

Teoricamente, qualquer variedade pode produzir cafés especiais, por isso, não é necessário que se troque a variedade já existente no local. 

No caso de lavouras novas ou em reforma, opte por escalonar a produção, com variedades precoces, médias e tardias. 

Dessa maneira a sua colheita será gradual, permitindo dedicar mais tempo à ela e colher somente os frutos realmente maduros, reduzindo a porcentagem dos verdes. 

A partir daí, o manejo pode ser convencional ou até orgânico. De qualquer maneira, o manejo sempre deve seguir boas práticas de manejo nutricional, de pragas e doenças, para uma produção sustentável de café.

Colheita e pós-colheita de cafés especiais

Talvez essa seja a parte mais importante de toda essa conversa!

Quando se fala em cafés especiais, todo capricho é pouco na hora da colheita e do processamento. É necessário padronização, uniformidade.

Primeiramente, deve-se evitar a colheita de grãos verdes, selecionando só os cerejas. No caso de colheita mecanizada, é indicado manter os verdes abaixo de 20% e separá-los após a colheita.

Cafés no ponto ideal para colheita

Cafés no ponto ideal para colheita
(Fonte: World Coffee Research)

Também é ideal dividir os cafés colhidos em lotes menores, de acordo com a variedade, expectativa de produção do talhão e também histórico da área, por exemplo. Isso facilita o controle dos cafés e a obtenção de lote mais homogêneos e melhores. 

Separação de cafés em microlotes para secagem

Separação de cafés em microlotes para secagem
(Fonte: agenciaminas.mg.gov.br)

Após a colheita, existem inúmeras possibilidades de processamento e pós-colheita para a obtenção de diversos tipos cafés especiais. Tudo é bem controlado e detalhado.  

Já falamos especificamente sobre esse processo aqui no Blog do Aegro! Confira aqui as tendências e perspectivas na pós-colheita para um café de qualidade.

Vale lembrar que nem toda a produção da lavoura será especial, mesmo que tudo seja controlado. Por isso, é tão importante a separação de lotes e um controle rígido sobre os cafés.

Custo de produção de cafés especiais

Quando o assunto é custo de produção, cada caso é um caso. Para cada situação podem existir diferentes questões que reduzem ou aumentam os custos.

No caso dos cafés especiais, a transição de uma produção focada no convencional para o especial pode ser mais custosa, dependendo do nível de detalhamento já empregado no manejo e gerenciamento da propriedade. 

Mas, de modo geral, os custos da produção de cafés especiais são mais elevados, pois demandam maior investimento tanto na lavoura como no pós-colheita. 

É preciso investir mais em análises de solo, foliar, no monitoramento de pragas/doenças (que precisa ser mais frequente) e no gerenciamento de talhões. Na colheita/pós-colheita, paga-se o preço de uma colheita mais seletiva, separação de lotes distintos e secagem diferenciada, por exemplo.

Contudo, devido ao maior preço pago pelo café especial, as receitas também são maiores, o que pode aumentar a lucratividade da produtividade.  

Dependendo do nicho de mercado que se quer explorar, sabemos que cafés especiais podem atingir preços elevadíssimos, onde micro-lotes equivalem a muitas e muitas sacas do convencional. Duvida que isso seja possível? Vamos lá!

Concursos de qualidade

Anualmente, a BSCA realiza o “Cup of Excellence – Brazil”, o principal concurso de qualidade de café do mundo. Uma forma de premiar os melhores cafés, melhorar a imagem do café do Brasil internacionalmente e incentivar a produção de café especiais.

Na edição do ano passado, 2019, o ganhador era da região Sul de Minas Gerais e vendeu seu café por “míseros” US$ 7.900 a saca! Isso mesmo! E, na média dos competidores do concurso, nenhum café saiu por menos de US$ 1.500 a saca.

Regiões brasileiras produtoras de café arábica e robusta

Regiões brasileiras produtoras de café arábica e robusta
(Fonte: BSCA)

Esse exemplo ilustra muito bem como a produção de cafés especiais pode ser uma solução, especialmente em tempos de baixo preço do café na bolsa de Nova York.

Logicamente, essa qualidade não se fez da noite para o dia. Houve muita dedicação e trabalho por parte desses produtores para chegar a isso. Mas se eles conseguiram, por que você também não pode conseguir? E aí, o que me diz?

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Conclusão

O mercado de cafés especiais é um nicho a ser explorado pelo cafeicultor brasileiro. São várias opções a seguir, mas, para fazê-lo, é necessário tomar cuidados adicionais, desde o campo até a xícara. 

Nesse quesito, o produtor brasileiro está com a “faca e o queijo na mão” ou melhor “com o “coador e a xícara na mão”! Já sabemos produzir café muito bem, basta alguns ajustes para obter maior qualidade no produto. 

A produção de cafés especiais deve ser voltada para as exigências do mercado. Assim, embora tenha um maior custo associado, a produção pode ser vantajosa, pois os preços pagos pelo produto também são maiores.

Não existe uma receita pronta sobre como produzir cafés especiais. Para cada realidade, o mercado desses cafés pode ser explorado de forma distinta e igualmente válida!

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10 dicas para melhorar a gestão da sua lavoura de café

Adubação para café: simples e prática (+ planilha)

Você já pensou em adaptar sua lavoura para a produção de cafés especiais? Quais as maiores dificuldades para isso? Conte para gente nos comentários. Grande abraço e até a próxima!

Principais pragas do café: prevenção, identificação e controle

Pragas do café: entenda como as principais pragas são favorecidas, como prevenir, identificar e controlá-las corretamente.

O brasileiro adora café e o Brasil é o maior produtor do mundo. Mas, para um café de qualidade chegar até a xícara, é preciso muito esforço!

Você faz tudo certinho, torce para o clima colaborar e, mesmo quando isso “caseia” certinho, vem “uns bichin” encher o saco: as pragas! ? 

São muitas as pragas do café e todas elas causam danos diretos e indiretos à produção e qualidade. A broca sempre foi “a” praga do cafeeiro, título que agora é ocupado pelo bicho mineiro.

Separei alguma dicas sobre as principais pragas do café, como prevenir e minimizar seus danos. Confira comigo a seguir!

O manejo integrado de pragas do café

Antes de falar sobre as características das principais pragas do café, quero que você tenha em mente quando vale a pena controlá-las.

O controle das pragas do café deve ser feito seguindo os preceitos do Manejo Integrado de Pragas (MIP), que é baseado em critérios econômicos, ecológicos e sociais. Isso evita inúmeros problemas e mantém a produção sustentável.

Esquema que mostra a estrutura do manejo de pragas do café
Estrutura do MIP
(Fonte: ABCBio)


Com o MIP, levamos em consideração o custo/benefício da ação de controle e quais os impactos sobre o ambiente, o produtor e a população de demais organismos presentes na lavoura. 

A ideia é manter a população de pragas abaixo do nível que causa dano econômico, sendo controladas somente quando atingem o nível de controle. Veja a figura abaixo:

Gráfico que mostra níveis de dano para mip
(Fonte: ABCBio)

São várias técnicas de manejo empregadas no MIP, algumas preventivas, como controle cultural, uso de armadilhas e variedades resistentes; e outras para controle imediato, como o controle biológico, além do controle químico.

Como veremos a seguir, isso é específico para cada praga do cafeeiro e é baseado em muitas amostragens.

Principais pragas do café

A broca-do-café (Hypothenemus hampei)

Características, comportamento e danos 

Temos relatos dos danos causados pela broca-do-café no Brasil desde 1920.  Elas são besouros que atacam os frutos de café e vivem e se reproduzem dentro dele. 

Foto da broca do café

A broca-do-café 
(Fonte: Koppert)

Além de danificar os grãos e reduzir sua qualidade, seus danos podem favorecer queda e também a entrada de patógenos.

pragas-do-café
Danos causados pela broca-do-café 
(Fonte: Epamig)

Após o acasalamento, os machos permanecem dentro dos frutos e são as fêmeas que saem para colonizar novos frutos, no chamado “período de trânsito”. 

A saída é estimulada pelas condições ambientais e elas são atraídas por compostos voláteis produzidos pelo próprio fruto. 

Condições favoráveis

As infestações de broca são favorecidas por lavouras mais adensadas e locais com maior umidade. Por isso, lavouras nas baixadas ou em anos com invernos chuvosos podem ser mais atacadas.

O principal fator para infestação de broca é deixar frutos caídos na lavoura. A broca usa esses frutos para se multiplicar e aumentar sua população. 

Métodos de prevenção e controle

O controle da broca deve seguir o MIP e com isso temos algumas alternativas. A melhor maneira de prevenir e reduzir a infestação de broca é fazer uma colheita bem feita, repassando para não “deixar grãos para trás” e varrer aqueles caídos.  

Como métodos controle podemos realizar o controle biológico com parasitóides ou com o fungo Beauveria bassiana. 

Controle biológico da broca

Controle biológico da broca com predadores/fungos
(Fonte: Epamig)

Temos também a opção de utilizar armadilhas com atraentes para capturar a broca. Já o controle químico pode ser feito com clorpirifós, de 1 a 1.5L/ha.

Vale lembrar que os métodos de controle devem ser aplicados no período de trânsito da broca, que geralmente vai de outubro a dezembro. As aplicações são embasadas por amostragem previamente feitas e quando houver danos econômicos.

MIP: amostragem e nível de controle

As amostragens para broca devem ser feitas já na primeira florada do cafezal e seguindo as recomendações abaixo. O controle químico, pode ser aplicado conforme os níveis críticos são atingidos.

pragas do café

Recomendações de monitoramento e amostragem para broca-do-café

Pragas do café: Bicho Mineiro (Leucoptera coffeella)

Características, comportamento e danos 

Devido às mudanças sofridas no sistema produtivo do cafeeiro, o bicho mineiro passou a ser a praga mais importante da cultura desde a década de 70. 

Foto do ciclo do bicho-mineiro
(Fonte: Elevagro)

O bicho mineiro ataca exclusivamente o cafeeiro, causando perda de área foliar por cavar galerias nas folhas do cafeeiro. Os danos são causados, em sua maioria, nos terços médio e superior da planta.

Foto da crisálida do bicho mineiro
Crisálida e danos causados pelo bicho mineiro
(Autor: Giovani Belutti Voltolini, 2016)

O adulto é uma mariposa que põe seus ovos no terço superior do cafeeiro, na face superior das folhas. Após eclodir, as lagartinhas penetram na folha e começam a consumi-la.

Atualmente, temos dois picos populacionais de bicho mineiro, como você pode ver na figura abaixo. As medidas de controle devem ser direcionadas para esses dois períodos.

Foto dos picos do bicho mineiro
Picos populacionais do bicho mineiro 
(Fonte: AgroBayer)

Condições favoráveis

O bicho mineiro é favorecido por condições mais secas e temperaturas elevadas. Portanto, podem ser mais problemáticos em lavouras mais espaçadas e nas faces mais ensolaradas do cafezal. Desequilíbrio nutricional do cafeeiro também favorece o bicho mineiro. 

O uso indiscriminado de inseticidas não seletivos e de cúpricos têm grande impacto sobre os inimigos naturais do bicho mineiro, portanto, altas infestações são favorecidas. 

MIP: amostragem e nível de controle do bicho mineiro

A amostragem deve começar já em outubro nas regiões mais quentes, ou com a chegada do período seco em locais mais amenos, conforme a tabela abaixo. 

Vale lembrar que se for observado predação nas minas, acima de 40%, a intervenção com inseticidas pode esperar. Deve ser dada atenção especial às lavouras novas, pois as plantas têm pouca área foliar e os danos podem ser grandes.

Recomendações de monitoramento e amostragem para bicho mineiro
Recomendações de monitoramento e amostragem para bicho mineiro

Métodos de controle

O controle cultural do bicho mineiro pode ser feito com plantios mais adensados e adubações feitas corretamente. Como controle biológico temos parasitóides (Eulophidae e Braconidae) e predadores (Vespidae), estes últimos com maior eficiência de controle. 

O controle químico deve ser realizado quando os níveis de dano forem atingidos, sempre prestando atenção nas amostragens e no histórico de infestação da área.

Pragas do café: Ácaros

O manejo inadequado do bicho mineiro propiciou desequilíbrios no sistema, fazendo com que outras pragas, especialmente os ácaros, se tornassem problemáticas. Eles geralmente são favorecidos por condições mais secas. São três espécies mais problemáticas:

1. Ácaro vermelho (Oligonychus ilicis)

O ácaro vermelho ataca os ponteiros do café, na face superior da folha, dando um aspecto de bronzeamento e pode levar à desfolha.

sintomas do ácaro vermelho no café
Sintomas causados pelo ácaro vermelho
(Fonte: Antonio de Souza)

2. Ácaro branco (Polyphagotarsonemus latus)

Ataca os ponteiros do café, mas a face inferior da folha. É um ácaro que pode causar danos mais significativos em lavouras jovens, pois causa redução, enrolamento e deformação das folhas jovens. 

3. Ácaro da mancha anular (Brevipalpus phoenicis)

Causa manchas cloróticas nas folhas e nos frutos. Isso pode levar à severa desfolha e perda de qualidade do café.

Foto dos danos causados no café
Sintomas causados pelo ácaro da mancha anular
(Fonte: Café Point)

É o mesmo ácaro responsável por transmitir a leprose do citros, portanto, cafezais próximos à áreas com citros podem ter maiores infestações. 

O melhor manejo para os ácaros é o uso de produtos seletivos que não controlem seus inimigos naturais, principalmente os ácaros predadores, responsáveis por grande parte do controle. 

No caso do ácaro vermelho e da mancha anular, os mais problemáticos, os acaricidas mais indicados são avermectinas.

Pragas do café: Cigarras

Há muito tempo, as cigarras causam danos ao cafeeiro. Sua ninfas atacam as raízes e sugam seiva, causando depauperamento progressivo da planta. 

São várias espécies, sendo Quesada spp., Fidicina spp. e Carineta spp., as que causam mais danos.

Foto de lavoura do café
Lavoura depauperada pelo ataque de cigarras
(Fonte: CNA)

Para seu controle, indicam-se inseticidas sistêmicos, mas existem armadilhas sonoras que são eficazes contra Quesada spp.

Outras pragas do café

Existem outras pragas que atacam a cultura do café, algumas delas são secundárias ou podem ser problemas em determinadas situações ou regiões. Como exemplo podemos citar as lagartas, cigarrinhas, cochonilhas da raiz e parte aérea, além das moscas da raiz.

Muitas dessas pragas passaram a ter importância devido ao manejo inadequado do bicho mineiro, por exemplo. Isso ilustra a importância de seguir as diretrizes do MIP para manejo, sempre com monitoramento e amostragem. 

Mais informações sobre o controle das pragas de menor importância  pragas você pode encontrar aqui: Manual do café.

Confira também nossa palestra online e gratuita sobre MIP:  

Conclusão

Ao longo do texto mostramos as principais pragas do café, como prevenir sua ocorrência e controlá-la da maneira correta. Logicamente, existem outras pragas de menor importância, mas o raciocínio utilizado deve ser o mesmo.

O Manejo Integrado de Pragas (MIP) é imprescindível para que o controle seja sustentável e efetivo. O MIP deve ser seguido, sempre com auxílio de um engenheiro agrônomo de sua confiança.  

Com o manejo correto das pragas do café, seu cafezal será mais produtivo e a qualidade dos frutos poderá ser melhor também!

>> Leia mais:

Guia de controle das principais plantas daninhas do café”

“Como grupo cafeeiro realiza o monitoramento de pragas em 5 fazendas com apoio da tecnologia”

Restou alguma dúvida sobre as pragas do café? Deixe os comentários abaixo. Continue nos acompanhando, se cuide e até a próxima! Grande abraço!

Variedades de café mais produtivas: como escolher a melhor para sua propriedade

Variedades de café mais produtivas: entenda como seu sistema produtivo influencia  e o que considerar para eleger a cultivar adequada

Quais variedades de café são mais produtivas? Qual eu devo plantar aqui na minha propriedade? Qual você recomenda?

Se você já fez ou ouviu essa pergunta, sabe que não é tão fácil respondê-la. E, na maioria das vezes, é um grande “depende”. Mas, e aí, será que existe a tal da variedade de café mais produtiva

Olha, são mais de 130 variedades de café arábica disponíveis! Algumas velhas conhecidas do produtor, como Mundo Novo e os Catuaís, mas temos também as mais recentes. Quais produzem mais?

Separei alguns pontos a se considerar quando o assunto é variedade de café e produtividade. Mas, já adianto… depende! Confira comigo a seguir!

Variedades de café mais produtivas 

Ao longo dos anos, inúmeras cultivares de café foram lançadas pelas instituições de pesquisa brasileira. Hoje, são mais de 130 variedades no RNC (Registro Nacional de Cultivares) do Mapa.

Essas variedades proporcionaram grande evolução da cafeicultura brasileira em produtividade e em outros aspectos como tolerância a estresses e resistência a doenças. 

Com tantas opções, quais as variedades de café mais produtivas? Não é uma resposta simples!

E o que complica ainda mais é o seguinte: 90% da cafeicultura brasileira é feita sobre as variedades do IAC, Mundo Novo e Catuaí, que já estão conosco desde os anos 50 e 70.

Mas, se a produtividade nacional ainda vêm crescendo nos últimos anos, como explicar esse fato se os materiais genéticos mais usados ainda são os mesmos?

Gráfico que mostra variedades produtivas de café
Série histórica da produtividade média da cafeicultura nacional; Catuaí e Novo Mundo têm sido as principais variedades há décadas

É o que vamos abordar ao longo desse texto para dar “uma luz” quanto à pergunta: “quais as variedades de café mais produtivas?”

Como veremos a seguir, a produtividade é relativa ao sistema de produção (ambiente), não somente à genética da planta; e outros fatores devem ser levados em conta na hora da escolha da variedade.

Potencial produtivo e sistema de produção

O desenvolvimento e a produtividade de uma lavoura de café é função da interação de dois fatores: o material genético (variedade) e o ambiente (clima/solo/sistema de produção).

Cada variedade tem um potencial produtivo – umas maiores que as outras. Mas, para esse potencial ser expresso, precisamos de um ambiente favorável, afinal, as variedade têm adaptabilidade diferentes às condições ambientais. 

Desse modo, o resultado final “produtividade” pode ser visto como a  expressão do potencial produtivo da variedade regulado/limitado pelo ambiente. 

Baseado nisso é possível fazer colocações importantes:

1 – A mesma variedade em ambientes distintos pode ter produtividades diferentes.

2 – Uma variedade pode ser mais produtiva em determinado ambiente e menos produtiva em outro.

Portanto, na prática, não existe “A” variedade de café mais produtiva, mas variedades que se adaptam melhor e produzem mais em determinado ambiente/sistema de produção.

Assim, ambiente e genética devem andar de mãos dadas para se obter os melhores resultados!

Critérios para escolha de variedades de café mais produtivas

A escolha de uma variedade é como um “cabo de guerra” entre as exigências dela para expressar seu potencial e o que o seu sistema produtivo pode oferecer.

Ou você escolhe a variedade que melhor se adapta às suas condições ou terá de mudar seu sistema de produção. 

Foto de grãos de café bourbon, com grãos vermelhos
Café Bourbon Vermelho
(Fonte: World Coffee Research.com)

Variedades de café: genética 

Além do potencial produtivo, alguns aspectos devem ser observados. São eles: 

  • porte (baixo, médio ou alto);
  • vigor;
  • diâmetro da copa;
  • ciclo de maturação;
  • resistência a pragas e doenças;
  • aspectos relativos à qualidade da bebida e tamanho do grão.

A tabela abaixo mostra informações relativas a algumas variedade de café em aspectos como capacidade produtiva. Como já dissemos, são muitas! 

Se você quiser informações mais detalhadas e específicas de cada cultivar, recomendo acessar o site do Consórcio Pesquisa Café.

Tabela com variedades produtivas de café
Características de algumas variedade de café arábica

Vigor, porte e diâmetro 

São importantes, considerando se o seu sistema de cultivo é adensado, se a colheita e os tratos culturais são mecanizados. 

Plantas de menor porte são preferíveis, pois muito grandes dificultam todas as operações e aumentam a necessidade de podas.

Pragas e doenças 

As variedades que dominam o parque cafeeiro nacional são suscetíveis à ferrugem e nematoides. 

A escolha de cultivares resistentes reduzem os gastos com essas enfermidades e são de vital importância em sistemas limitados, como os cultivos orgânicos.  

Novos materiais, como os Siriemas, têm múltipla resistência: são resistentes ao ataque do bicho mineiro, ferrugem, phoma e também tolerantes à seca; segundo os dados da Fundação Procafé.

>> Leia mais: “Como reduzir os impactos da seca no plantio de café”

Ciclo de maturação 

O ciclo de maturação é de extrema importância, pois define a época da colheita, bem como as operações que a precedem e sucedem. 

Por isso, a relação desse ciclo com altitude/temperatura é fundamental, pois regiões mais altas e amenas tendem a alongar o ciclo, deixando-o mais tardio.

E isso pode ser um grande problema!

Em propriedades onde predominam temperaturas frias ou em regiões mais altas, opte por variedades mais precoces.

variedades de café mais produtivas

Comparação entre a maturação de três variedades distintas de café. A maior presença de grãos verdes em relação ao Catuaí vermelho mostra o ciclo de maturação muito tardio dos Obatãs
(Fonte: Consórcio Pesquisa Café)

Qualidade de bebida

Em teoria, todas as cultivares têm potencial para gerar boas bebidas se colhidas no ponto certo. 

Algumas delas, como o Bourbon, ganharam fama de bons bebedores, mas produzem menos. Além disso, a qualidade do café depende também do pós-colheita.

O ambiente: sistemas de produção

Devemos nos perguntar: o que o meu sistema pode oferecer para que o cafeeiro se desenvolva bem?

A comparação que eu faço é a de um Fusca e uma Ferrari. Será que uma Ferrari vai andar bem naquela estrada de terra esburacada que o fuscão tira de letra? Não! Mas, ao mesmo tempo, se colocarmos os dois numa rodovia, a Ferrari sai “voando baixo”…

De nada adianta colocar um excelente material genético (a nossa Ferrari),  exigente e produtivo, se você não der as condições necessárias. Talvez seja melhor um material mais rústico, que tolere mais adversidades (o nosso Fusca).

Ambos são bons materiais, mas cada um dentro da sua realidade, em seu ambiente!

Esse entendimento do sistema possibilitou os aumentos ainda crescentes da produtividade nacional. Estamos cuidando melhor dos nosso cafeeiros e isso explica por que as antigas cultivares ainda são competitivas: o ambiente melhorou!

Fotos de folhas de café sadias
Folhas sadias do cafeeiro
(Fonte: World Coffee Research.com)

Como alteramos o nosso ambiente para melhor produção de café?

Ora, clima e tipo de solo não podemos mudar. Mas, a fertilidade do solo, o manejo e a irrigação (onde disponível) podem ser alteradas para melhor atender o cafeeiro. É nisso que devemos focar!

Uma variedade mais exigente em nutrição deve ter sempre nutrientes disponíveis, assim como as variedades suscetíveis à ferrugem devem ser sempre pulverizadas para controle. 

Da mesma forma, uma variedade que é considerada vigorosa irá necessitar de mais podas para se adequar à colheita mecanizada. E por aí vai…

Conhecendo nosso sistema e as características da variedade que pretendemos adotar, conseguiremos os melhores resultados. Ambiente e genética de mãos dadas!

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Conclusão

Existem inúmeras variedades de café à disposição do produtor, mas não existe uma “receita de bolo”, apenas recomendações gerais que devem ser adaptadas a cada situação. 

A variedade que irá desempenhar melhor na minha fazenda, pode ser diferente da sua. 

Como vimos, fatores como porte, diâmetro de copa, ciclo de maturação e resistência a pragas/doenças da variedade devem ser levados em conta para que ela se encaixe no seu sistema de produção. A não ser que você esteja disposto a mudar para atender às necessidades da variedade…

Por isso, as variedade de café mais produtivas são aquelas que atendem à demanda do seus sistema e expressam seu potencial produtivo nesse ambiente.

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Ficou com alguma dúvida sobre as variedades de café mais produtivas? Qual tipo você tem em sua propriedade hoje? Conte para gente nos comentários! Grande abraço e até a próxima!