Broca-do-café: veja as principais alternativas de controle

Broca-do-café: como identificar em sua lavoura, métodos de controle e de realização do manejo integrado de pragas

Por ter a característica de sobreviver de uma safra para a outra, a broca-do-café é um inseto importante a ser combatido na cultura.

Isso porque o impacto de seus danos podem chegar a perda de 20% do peso dos grãos na colheita. 

Por isso, nesse artigo vamos entender melhor o ciclo dessa praga e as principais formas de controles sustentáveis/biológicos. Veja a seguir!

Importância da broca-do-café – Hypothenemus hampei

A broca é um dos principais insetos causadores de perdas significativas de grãos, sendo o responsável direto pela diminuição de qualidade do café.

Existem diferenças entre os tipos de espécies de cafés e sua suscetibilidade à broca. 

O café arábica, por exemplo, é um dos mais prejudicados enquanto o café conilon é mais afetado por outros insetos como a cochonilha e a lagarta dos cafezais (Eacles imperialis magnifica).

Entretanto, os prejuízos são grandes quando ocorre o ataque pela broca-do-café, pois a perda de qualidade dos grãos causa diversos danos, até mesmo para a exportação em que a tolerância é de 10% de grãos brocados. 

Ou seja, quanto mais café brocado, menos rentável a produtividade será.

Danos da broca-do-café

A broca causa danos diretos e indiretos na cultura do café.

De maneira direta ocorrem pelo ataque da praga ao grão e a redução do peso de grãos de café pode chegar a 20%, além de causar queda prematura dos frutos e depreciação dos grãos nas classificações. 

Com isso, apresenta grande quantidade de brocados/quebrados e pode promover a diminuição da qualidade do produto e, consequentemente, do valor comercial.

Já os danos causados de forma indireta ocorrem pela abertura de orifícios que torna a planta mais suscetível ao ataque de microrganismos.

Identificação da broca-do-café 

A broca-do-café (Hypothenemus Hampei) é um pequeno besouro e são as fêmeas adultas que atacam a coroa do fruto, os perfuram e ali depositam seus ovos. 

Elas possuem cerca de 1,7 mm de comprimento e 0,7 mm de largura e seu ciclo de vida tem duração de 22 a 35 dias, seguindo a metamorfose de: ovo>larva>pupa>adulto.

Assim que nascem, as larvas começam a se alimentar dos grãos de café, danificam ou destroem completamente os grãos. E a melhor forma de evitar que o ciclo da praga se complete é durante a colheita.

Com aspectos bioecológicos e comportamentais particulares, o primeiro ataque da broca-do-café ocorre na época entre os 80 a 90 dias após a floração, no qual realiza somente um furo de marcação no fruto. Após 50 dias, o inseto retorna para a oviposição.

Como a broca passa quase todo o seu ciclo de vida no interior do fruto, ela é classificada como de natureza críptica

Isso porque a cópula ocorre também dentro do fruto e a razão sexual na faixa de fêmeas para machos se encontra em 10:1. Sendo que somente fêmeas acasaladas e adultas saem do fruto para realizar a colonização de novos frutos.

(Fonte: Embrapa)

Condições ambientais

As condições ambientais têm papel fundamental no desenvolvimento do inseto na cultura.

Altas precipitações, acima de 100 mm, promovem o controle da broca-do-café e o clima mais seco também auxilia no ressecamento do fruto, o que inibe a oviposição. 

Já os cultivos adensados, a pouca ventilação na lavoura e a baixa incidência de luz promovem um ambiente adequado para a proliferação do inseto.  

Como o produtor rural não tem como prever a maior parte das condições ambientais como o clima, por exemplo, o ideal é sempre realizar a monitoramento da cultura.

Monitoramento ideal 

O controle bem sucedido da broca-do-café só será possível com o monitoramento correto da lavoura e uma verificação bem realizada. 

A orientação dada pela Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig) é que essa verificação se inicie na época de trânsito, ou seja, nos 80 a 90 dias após a florada

Sendo assim, a forma correta de trabalho é a divisão da área, talhão ou hectare, em pontos amostrais, quantidade representativa de aproximadamente 20 a 30 plantas, em forma de “ziguezague” – para ser mais homogêneo possível da área.

O ideal é realizar a primeira avaliação somente em uma amostra representativa da área e, nas plantas amostradas, realizar a divisão no terço inferior, terço médio e terço superior. 

Após isso, escolha um ramo em cada terço para análise – a sugestão é que sejam seis ramos por planta. 

O objetivo é visualizar em cada ramo cerca de 10 frutos nas diferentes rosetas e fazer a contagem dos que estão perfurados, anotando em uma planilha ou aplicativo de monitoramento.

Para calcular a intensidade de infestação (IF), some os subtotais e divida por 18 (fator fixo), se o resultado for maior ou igual a 3%, o controle já deve ser iniciado. 

Caso tenha realizado o controle, é muito importante dar continuidade no monitoramento após a primeira pulverização, repetindo de 25 a 30 dias. 

Na segunda avaliação, colete os frutos para análise por contagem e identificação da presença da broca-do-café. 

A porcentagem deve ser pela quantidade de adultos vivos x 100/frutos perfurados abertos.

(Fonte: Agro Bayer Brasil)

Se o IF estiver em nível igual ou maior do que 3%, é imprescindível entrar com controle.

Broca-do-café: formas de controle

Controle cultural 

Os frutos remanescentes nas plantas ou no solo são os principais meios de sobrevivência e de multiplicação da broca-do-café de uma safra para outra.

Por isso, durante a colheita é importante ser feito a retirada de todos os frutos da planta e recolher os frutos que caem no chão.

Em áreas nas quais a colheita é mecanizada, a prática do repasse manual continua sendo muito importante, porque somente assim se reduz a possibilidade de sobrevivência da broca até a próxima safra.

Controle biológico

Um bom controle biológico da broca-da-café pode ser feito por meio da vespa de uganda e do parasitóide Prorops nasuta.

Mas o grande destaque é da Beauveria bassiana, fungo que parasita mais de 200 espécies de artrópodes. 

Através do contato direto com o alvo, esse fungo germina na superfície do inseto penetrando no tegumento e colonizando-o internamente, liberando toxinas e levando o inseto à morte. 

Além do controle da broca-do-café, a aplicação da Beauveria b. controla também as cochonilhas e o ácaro vermelho na cultura. 

Essa aplicação é recomendada em momentos mais frescos, como no fim do dia e com umidade acima de 65%, sendo condições que favorecem o estabelecimento da Beauveria b. na lavoura. 

A- Broca-do-café com orifício de entrada, B – Danos ao fruto, C- Beauveria bassiana infectando a broca-do-café
(Fonte: Esalq/USP – Visão Agrícola)

É importante lembrar que a aplicação de qualquer microrganismo na lavoura deve estar fora do período de carência de qualquer aplicação química na mesma.

Controle com armadilhas

Uma das armadilhas que já apresentou redução de 80% do nível de infestação é uma isca de atração à broca-do-café que utiliza garrafa pet com coloração avermelhada.

É isso mesmo e o material é muito simples! Para construir essa armadilha, os materiais que você precisa são:

  • Garrafa pet de dois litros;
  • Tinta vermelha;
  • Álcool etílico;
  • Álcool metílico;
  • Pó de café;
  • Detergente e água;
  • Pequeno frasco de vidro de 20 a 30 ml.

Siga o passo a passo:

Corte uma abertura lateral na garrafa pet – ela será utilizada de cabeça para baixo com a tampa de plástico fechada.

Faça uma mistura da substância atrativa na proporção para cada litro da mistura de: 250 ml de etanol, 750 ml de metanol e 10 gramas de pó de café. 

Na parte inferior da garrafa, coloque uma mistura de água com detergente sendo 1 ml de detergente para cada 200 ml de  água.

Assim, distribua as armadilhas em uma proporção de 25 armadilhas por hectares e fixadas a cerca de 1,5 m de altura na planta.

Confira neste vídeo, do canal Agro Mais Unaí, a orientação mais detalhada de como realizar a construção da armadilha. 

Controle químico 

O Endossulfan era o principal produto utilizado nas lavouras para o combate à broca-do-café, mas por ser um produto extremamente tóxico foi banido em 2013.

Atualmente, segundo o manual de prevenção e combate à broca do café existem outros princípios ativos que são utilizados como:

  • Azadiractina (tetranortriterpenóide);
  • Cyantraniliprole (antranilamida);
  • Abamectina (avermectina) + Clorantraniliprole (antranilamida);
  • Clorpirifós (organofosforado);
  • Espinosade (espinosinas);
  • Etofenproxi (éter difenílico).

Lembrando que na escolha de um manejo você deve solicitar uma recomendação técnica para a rotação de princípios ativos e aplicação racional do defensivo agrícola. 

Além disso, respeite a dose recomendada e o período de carência que são pontos importantes para o sucesso de sua produção.

Manejo Integrado de Pragas 

O Manejo Integrado de Pragas (MIP) é o método racional e preventivo em que você se baseia na identificação correta das espécies, monitoramento constante e avaliação dos níveis de necessidade de controle.

Na broca-do-café, o monitoramento deve continuar até próximo da colheita em avaliações de 30 em 30 dias, caso necessário um novo controle deve ser realizado.

Portanto, o MIP permite a prevenção e diagnóstico, orientado na tomada de decisão do controle efetivo em sua lavoura.

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Conclusão

Vimos que a broca-do-café é sinônimo de prejuízo direto por causar os frutos broqueados e diminuir a qualidade do café e perda de peso dos grãos.

Agora você já conhece mais sobre como é a biologia desse inseto e como você pode controlá-lo: fazendo o monitoramento e realizando os controles necessários.

>> Leia mais:

Fique de olho na cantoria da cigarra-do-cafeeiro e faça o manejo certeiro

“Como o uso de drones na pulverização do cafeeiro pode trazer economia e eficiência nas aplicações”

Como você realiza o manejo da broca-do-café em seu cafezal? Restou dúvidas? Conta pra gente nos comentários abaixo. 

Adubação para café: simples e prática (+ planilha)

Adubação para café: as principais dicas para melhorar a produção nas diferentes fases do cafezal + planilha para cálculo automático de adubação!

Na hora de fazer a adubação do café surgem várias dúvidas, não é mesmo?

Ainda existe muita desinformação e picaretagem por aí, o que muitas vezes leva o produtor ao erro na adubação. E isso pode significar prejuízos tanto na produção como no bolso.

Confira no artigo a seguir as dicas para adubação nas diferentes fases do cafezal, exigências nutricionais e outras informações para não fazer feio na adubação para café! 

Princípios da adubação para café 

A adubação de café deve levar em conta três princípios básicos: exigência e estado nutricional do cafeeiro, a disponibilidade de nutrientes no solo e a eficiência da adubação.

1 – Exigência e estado nutricional do café

A demanda de nutrientes do cafeeiro depende da sua produção de biomassa: frutos + vegetação. Isso vale tanto para café arábica como conilon.

Os frutos demandam mais nutrientes. Portanto, a frutificação é a época de maior demanda.

E, quanto maior a produção, maior será a demanda nutricional do cafeeiro.

Nos anos de baixa, quando o café vegeta e produz menos, a demanda por nutrientes também é menor!

O estado nutricional da planta na cultura de café é indicado pela análise foliar do 3º ou 4º par de folhas totalmente expandidas.

teores foliares para café

2 – Disponibilidade de nutrientes no solo

Ao longo dos anos, a pesquisa determinou classes de teores de nutrientes no solo para a produção de café. Existe mais de um tipo de classificação, mas vamos focar nas recomendações do Novo Boletim 100.

nutrientes no solo para café

Esses teores servem de base para comparar os resultados da nossa análise de solo e sabermos como está a fertilidade da lavoura de café.

O ideal é manter os teores de nutrientes na faixa “adequada”.

Abaixo dessa faixa, pode haver deficiência nutricional no cafezal e devemos fazer a adubação de correção na cultura. 

Acima dela, não há resposta à adubação, portanto, basta repor os nutrientes exportados na colheita.

Veja que não existem valores para o nitrogênio (N). A adubação nitrogenada é feita de acordo com a expectativa de produção da área e teor foliar de N.

3 – Eficiência de adubação

A fonte, modo e época de aplicação dos adubos influenciam na eficiência da adubação. 

O cálculo dessa eficiência não é tão simples, mas podemos dizer que, em geral, a eficiência da adubação química é de 50% para o N; 70% para o K; e de menos de 20% para o P.

Adubos de liberação lenta/controlada, com inibidores ou adubos orgânicos/organominerais, podem aumentar essa eficiência em alguns casos por liberar os nutrientes de forma gradual. 

Contudo, isso não necessariamente é verdade ou resulta em maior produtividade e lucro. Fique com o pé atrás com “produtos milagrosos”…

Adubação para café em diferentes fases

Aqui no Blog do Aegro, já mostramos as recomendações de adubação no plantio no artigo “Todas as recomendações para o melhor plantio do café”!

Nos resta então comentar sobre as adubações de café em formação e em plena produção.

As tabelas de adubação são bons guias, contudo, conhecendo o histórico de nossa lavoura e sua resposta à adubação, podemos refinar esses valores e adaptar a dose para nossa realidade.

Não há segredo: temos que fornecer nutrientes que atendam à demanda das plantas de café na dose e na época correta.

Considerando que a calagem e a gessagem foram bem feitas, não teremos problemas com pH, alumínio e teores de cálcio (Ca) e enxofre (S). 

Adubação para cafeeiros em formação

Cafeeiros em formação estão vegetando, formando suas raízes e parte aérea. Nessa fase, as exigências de nutrientes são menores e diferentes de uma lavoura em produção.

Cafeeiro em formação
Cafeeiro em formação 
(Fonte: Arquivo do autor)

É muito importante que tenhamos P, Ca e Boro (B) para o desenvolvimento das raízes e que não falte N para vegetar. A aplicação destes nutrientes é sempre via solo, para melhor aproveitamento. 

Os demais nutrientes devem ser mantidos em níveis adequados para não comprometer o desenvolvimento vegetativo e reprodutivo dos cafeeiros em formação.

É considerada adubação de formação a realizada após o plantio até o primeiro ano produtivo do cafeeiro. Ela geralmente é concentrada no período chuvoso.

adubação para café

Adubação para cafeeiro em produção

O cafeeiro produzindo tem uma maior exigência nutricional. Para cada saca produzida são necessários: 6,2 kg de N; 0,6 kg de P; e 5,9 kg de K para vegetar e frutificar.

Cafeeiros em produção plena
Cafeeiro em produção plena
(Fonte: Arquivo do autor)

Para o N, a dose será definida com base na produção esperada e análise foliar. Já para P e K, o que manda é a análise de solo e a produção esperada.

recomendação para adubação de café

Adubação para café: macro e micronutrientes

Nitrogênio (N)

Como referência prática, até o final de janeiro, devemos fornecer 70% de todo o N que vamos aplicar. 

A aplicação deve antecipar a florada principal e o novo ciclo vegetativo e ir até a granação dos frutos de forma parcelada.

Prefira nitrato de amônio à ureia para evitar perdas por volatilização do N.

As doses variam de acordo com a produtividade do sistema, como podemos ver na tabela acima.

Fósforo (P)

O fósforo é pouco exportado pela colheita: apenas 60 g por saca produzida. Portanto, sua importância maior está no plantio e formação do cafezal, pois este elemento é essencial no crescimento das raízes do cafeeiro.

Com os teores de P adequados no solo, basta adubar com a quantidade exportada.

Adubação P (kg/ha) =  
sc/ha produzidas x 0,06 kg de P/sc x 0,2 (eficiência da adubação)

Do contrário, deve-se realizar a adubação corretiva de P para elevar seus teores para a faixa adequada, entre 15 e 30 mg.kg-1. 

Feita a correção, a adubação de P para café segue como na conta acima.

Fontes menos solúveis de fósforo são preferíveis na instalação da lavoura e na adubação corretiva. Para os cafés em produção, prefira fontes solúveis como o super simples e triplo, MAP, DAP, etc.

Potássio (K)

A maior parte do potássio é exigida da floração à formação dos frutos. Portanto, na época da floração, já deve haver K disponível para a planta.

A primeira parcela deve anteceder a floração e a adubação deve seguir até a granação dos frutos.

O parcelamento deve ser maior em solos mais arenosos, onde o risco de lixiviação de K é maior.

Atenção redobrada na relação entre a disponibilidade de K e Mg. Ela deve ser 1:2 para que não haja deficiência de Mg devido à inibição de sua absorção pelas altas doses de K.

Uma fonte rica de Potássio (e também de Nitrogênio) é a palha do café. Fazer a adubação de macronutrientes com esse resíduo pode ser uma boa opção.

Micronutrientes

Os micronutrientes que demandam maior atenção na adubação para café são boro e zinco.

As doses de Zn ficam entre 1 e 4 kg.ha-1 fornecidos entre outubro e março, mas podem variar de acordo com a cultivar e análise foliar.

O boro deve ser aplicado no solo. Na forma de ácido bórico pode ser fornecido junto da calda de herbicidas. Recomenda-se 2 a 3 aplicações de 1 kg.ha-1 de B. 

Boro foliar somente para correções pontuais, pois ele não se move na planta. O correto é aplicar sempre no solo.

Adubação em café sombreado

Será que cafés sombreados devem receber a mesma adubação que os cultivados a pleno sol? 

A resposta é: depende do nível de sombreamento!

Pesquisas mostram que, com um sombreamento de até 30%, a produção do café é igual a do pleno sol. Portanto, a exigência nutricional e a adubação seriam equivalentes.

Para maiores níveis de sombra, a conversa é outra.

A diferenciação em gemas florais seria menor e, consequentemente, a produção de frutos também.

Além disso, menos luz significa menos fotossíntese, menos energia para a planta produzir, vegetar e assimilar N.

Portanto, se a adubação fosse feita com a dose do cultivo a pleno sol, estaria em excesso e o produtor estaria perdendo dinheiro, principalmente no caso do N.

A dose deve ser reduzida de acordo com as característica de sua lavoura sombreada.

>> Leia mais: “Broca-do-café: veja as principais alternativas de controle

Planilha de cálculo de adubação para café

Para te ajudar nas contas de adubação para seu café, nós fizemos uma planilha para cálculo de adubação baseada nas recomendações do Novo Boletim 100 do IAC.

Nela você pode inserir as informações de suas análises de solo e foliar, além da produtividade esperada e automaticamente visualizar os valores recomendados para lavouras em produção.

O download você pode fazer clicando na imagem abaixo! 

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Conclusão

Como pudemos acompanhar no texto, a adubação para café deve ser feita de acordo com parâmetros da planta e do solo, bem como o histórico de produção e manejo da área.

A exigência nutricional do cafeeiro deve ser suprida na quantidade e na época certas para termos maior eficiência de uso dos adubos e melhor produção.

É importante ressaltar que, dependendo do sistema, as adubações para café serão distintas. 

Por isso, as tabelas de adubação são apenas um guia que devemos adequar à realidade de nossa propriedade.

>> Leia mais:

Acerte no adubo líquido para café e não jogue dinheiro fora

Pós-colheita do café: Tendências e perspectivas para cafés de qualidade (+ cuidados com a lavoura)

Restou alguma dúvida sobre adubação para café? Conte para gente nos comentários! Grande abraço!

Plantação de café: 7 passos fundamentais + planilhas grátis

Atualizado em 16 de agosto de 2022.

Plantação do café: escolha da área, espaçamento certo, melhor cultivar, calagem, adubação, preparo do solo e custos de plantação

Cafezal é o nome da plantação do café, que como toda cultura precisa de um bom planejamento e uma boa execução para seu sucesso.

O primeiro passo para execução é o plantio, que tem que ser realizado com cuidado.

Erros neste momento podem prejudicar toda sua produção, necessitando, às vezes, de renovação total da lavoura de café.

Para evitar problemas na plantação, confira neste artigo algumas recomendações para alcançar boas produtividades no cafezal. Boa leitura!

Plantação de café: importância de um plantio bem feito

Para uma plantação de café de sucesso, as exigências climáticas precisam ser atendidas. O cafezal se desenvolve melhor em temperaturas entre 18 °C e 23 °C, e temperaturas acima dos 30 °C podem causar danos na cultura. Além dessas, há outras exigências.

A escolha da área, espaçamento (população de plantas), cultivar, altitude e topografia também são pontos fundamentais para evitar a morte das plantas. Isso tudo também garante uma boa implantação da lavoura.

Erros nesta etapa só serão corrigidos na renovação do cafezal.  Considerando uma vida útil de 20 anos para a lavoura, é muito tempo e dinheiro investidos de maneira errada. Esses erros levam à redução da produtividade e consequentemente do seu rendimento.

O planejamento, tanto da implantação quanto da renovação do cafezal, é fundamental para garantir sucesso na safra. Para te ajudar, disponibilizamos uma planilha gratuita para essa etapa tão importante. Clique na imagem abaixo para baixá-la.

Para iniciar a plantação do café, alguns passos devem ser seguidos. Veja-os a seguir.

1. Escolha da área para plantio de café

O cultivo de café se inicia pelo planejamento. O primeiro passo é a escolha de uma área para plantio do café. Para isso, você deve considerar, em primeiro momento, o clima da região e a topografia (ou topoclima) da área. 

Em áreas onde já se cultivavam plantas de café, teoricamente, as áreas de renovação já seguiram esses critérios quando foram instaladas.

No entanto, caso seja preciso (em casos de implantação de um novo cafezal), avalie muito bem essas condições. Elas são definidas pelo clima, altitude, solo e topoclima.

Clima

Para o cafezal ter bom aproveitamento, pelo zoneamento agroclimático do café arábica, a faixa de temperatura ideal é de 18°C a 23°C. Para o café conilon/robusta, a temperatura pode ser superior, entre 22°C e 26°C. A precipitação anual deve ser entre  1.200 mm e 1.800 mm.

A plantação de café tem exigências climáticas para que a cultura tenha o melhor desenvolvimento. Quanto mais adequado for o clima da região, melhor aproveitamento energético das plantas, que refletem na produção.

Isso não significa que não seja possível cultivar café em áreas que não se enquadrem nesses parâmetros. Afinal, no Brasil há cultivos de café até na Bahia, que está bem fora desses limites climáticos.

Isso significa dizer que áreas marginais ou inaptas terão maior chance de insucesso, pois o cafeeiro “sofre” mais.  Em alguns casos, será necessário irrigação, noutros, sombreamento, preparo profundo de solo, dentre outras medidas.

Em outras palavras: no plantio realizado em áreas fora do zoneamento recomendado para o café, serão maiores os gastos com tratos culturais, e a produtividade e a qualidade podem ser afetadas.

Os dados climatológicos para sua cidade/região podem ser encontrados no site do Inmet ou Agritempo.

Altitude

A altitude influencia diretamente na temperatura. A cada 100m de altitude a mais, menos 1°C na temperatura média.

Se a temperatura é mais amena, maior será a umidade e mais lenta será a maturação do café. Ainda, maior será a incidência de pragas e doenças favorecidas por essas condições. 

Além disso, o acúmulo de ar frio e ocorrência de geadas no café pode ser maior. Mas isso também depende de fatores do topoclima.

Topografia e fatores do topoclima

O topoclima diz respeito aos fatores climáticos condicionados pelo relevo. Geralmente, é relacionado à configuração do terreno e exposição ao sol.

Embora quase 40% da produção de café brasileira possa vir de áreas montanhosas, é preferível que se escolha áreas mais planas para o plantio do café. Além de facilitar a mecanização, o controle de erosão e a proteção do solo são facilitados.

A cafeicultura em áreas de alta declividade demanda mais mão de obra e aumenta os riscos de erosão. No entanto, hoje existem técnicas de microterraceamento que viabilizam a cafeicultura nas montanhas e podem aumentar a lucratividade nesses sistemas. 

Nas áreas mais baixas, há acúmulo de ar frio, o que favorece a ocorrência de geadas. No caso de encostas, a face sul também sofre desse problema, principalmente no sul e sudeste do Brasil.

Foto de plantação de café com danos por geada
Danos provocados pela geada
(Fonte: Abic)

O ideal é evitar áreas de baixada, plantar na face norte e, após ocorrência de uma geada, observar a linha da geada. Plante sempre nas áreas acima dela para evitar riscos. A arborização pode ajudar em alguns casos.

Segundo o Iapar, a adição de 30 a 70 árvores de café por hectare de Grevilha (Grevillea robusta) é capaz de reduzir os efeitos negativos da geada. Isso ainda contribui com a produtividade do cafeeiro.

Para o café canephora o ideal são altitudes de até 800m. Para o café arábica, são recomendadas maiores altitudes.

Exposição à luz solar

O relevo também regula a exposição à luz solar. Isso interfere em dois aspectos práticos: a exposição ao sol poente e o acúmulo de ar frio. O caminhamento do sol se dá de leste para oeste. 

Sendo assim, ao fim da tarde – período mais quente e seco do dia – o sol incide vindo do oeste. É importante que se evite que esse sol incida diretamente sobre um dos lados do café. Isso causa escaldadura nas folhas e frutos.

plantio do café
Danos por escaldadura 
(Fonte: CN Café)

As linhas de plantio do café devem estar no sentido leste-oeste, paralelas à incidência do sol. Isso evita que o sol poente se concentre sobre um lado da planta.

Solo

Solos profundos, bem drenados e aerados são os ideais para a plantação do café. Entretanto, se o solo não apresentar estas características ainda pode ocorrer o plantio. 

Porém, há maior necessidade de manejo, como por exemplo realizar a descompactação a 120 cm.

2. Variedades de café

Coffea arabica L. e Coffea canephora Pierre, este último também conhecido como robusta ou conilon, são as duas variedades de cafés mais produzidas no Brasil e no mundo.

Para definir qual variedade plantar, é necessário saber das condições onde cada uma se desenvolve e produz melhor. A temperatura do café arábica e do canephora são diferentes, assim como a altitude.

No Brasil, o café arábica é o mais produzido, principalmente nos estados de Minas Gerais e São Paulo. O canephora é mais presente no Espírito Santo e Bahia. O café arara também tem sido cada vez mais plantado no país.

Escolhido a variedade, dentro de cada uma existem diferentes tipos de cultivares, como você pode ver na figura abaixo.

Tabela com exemplos de cultivares de café
Exemplo de alguns cultivares de C. arabica e canephora
(Fonte: Adaptado de Consórcio Pesquisa Café)

As especificidades de cada cultivar são muitas. Busque informações para utilizar os cultivares mais adaptados na sua área.

Escolha das mudas para plantio de café

Definida a cultivar, é necessário adquirir mudas sadias e vigorosas, sem misturas com mudas de outras cultivares. 

Na cafeicultura brasileira, a plantação do café ocorre por mudas feitas por viveiristas. Eles ficam responsáveis por realizar todos os processos de formação das mudas.

Prefira viveiristas registrados, que sejam idôneos, com boas práticas na produção de mudas de café. O uso de solo para produção de mudas é um grande responsável pela disseminação de doenças e pragas

Com o substrato autoclavado, isso é reduzido drasticamente. No estado de São Paulo, o uso de solo na produção e comercialização de mudas de café já é proibido.  Dê preferência às mudas produzidas em substrato sem solo.

3. Amostragem de solo 

Seja na instalação da lavoura ou durante a produção, conhecer a fertilidade do perfil do solo te ajuda a corrigir problemas. Isso te ajuda até a explorar esse solo em maior profundidade.

As recomendações de correção e adubação para o café estão todas pautadas na camada entre 0 cm e  20 cm do solo. Em alguns casos, pode ficar entre 20 cm e 40 cm

Por ser uma planta perene, as raízes do cafeeiro podem se aprofundar mais de 1 metro. Desse modo, com o desenvolvimento da cultura, pode-se fazer de 60-80 cm ou até mesmo de 80-100 cm.

profundidade para plantio do café

Faça análise de solo pelo menos até a camada de 40 cm a 60 cm. Como veremos a seguir, isso pode ser muito importante para a produção e resiliência de sua lavoura de café.

Essas amostras mais profundas não precisam ser feitas todo ano. Elas podem ser feitas a cada 2 ou 3 anos para fins de monitoramento da fertilidade. Uma amostragem de solo bem feita vai direcionar as correções e adubações de plantio do café.

4. Preparo profundo de solo

Como as raízes das plantas de café conseguem explorar em profundidade o solo, o ideal é prepará-lo corretamente para que o desenvolvimento radicular seja facilitado.

A ideia é aplicar calcário, gesso e nutrientes como fósforo em profundidade. Isso vai facilitar o crescimento radicular do cafeeiro. Por isso a amostragem de solo em profundidade maior que 40 cm é tão importante.

Com o preparo do solo, as mudas recém-plantadas conseguem se desenvolver melhor e, ao longo do tempo, explorar o solo em profundidade. Em longo prazo, você terá uma lavoura em produção que sentirá menos os efeitos de uma seca ou veranico.

5. População de plantas e mecanização da lavoura de café

Outro passo importante antes da plantação do café é a definição da população de plantas, com base no espaçamento utilizado. Pode-se ter um espaçamento de plantas de café de 50 cm – 100 cm e de entrelinhas variando de 1,5 m – 4,0 m.

Desse modo, a população de plantas de café pode variar de 3 a 20 mil pés de café por hectare. O sistema de plantio influencia diretamente no método de colheita.

Em sistemas mais adensados, com menores espaçamentos e maior população de plantas, a colheita é praticamente toda manual. Em sistemas mais espaçados, já é possível a colheita mecanizada do café.

Definida a área de plantio do café, variedade/cultivar plantar, o espaçamento e população de plantas, podemos então começar o preparo do solo. Para isso, é necessário uma correta amostragem.

6. Correção e adubação para plantar café

Com a análise de solo em mãos, você poderá avaliar a necessidade de calagem e gessagem, bem como as adubações. 

Calagem e gessagem

O novo Boletim 100 recomenda elevar a saturação por bases (V%) para pelo menos 70% na camada 0 cm – 20 cm. Para isso, é necessário usar calcário dolomítico, para fornecer mais magnésio.

A dose deve ser aumentada se o V% estiver abaixo de 25% nas camadas mais inferiores. A calagem deve ser feita em área total. Além dela, deve-se aplicar mais 500g de calcário por metro de sulco.

O gesso agrícola deve ser aplicado de acordo com a análise de solo das camadas abaixo dos 20 cm, baseando se na saturação por alumínio e no V%. Alguns produtores vêm tendo bons resultados com uso de altas doses de gesso (> 10 ton.ha-1). 

Seu efeito condicionador no subsolo possibilita que as raízes se desenvolvam mais em profundidade. Isso favorece o crescimento do cafeeiro.

Adubação na cafeicultura

Com as correções feitas, é necessário cuidar dos nutrientes disponíveis no solo. O ideal é que se mantenha os níveis de nutrientes na faixa adequada, como indicado na tabela abaixo. Acima desses teores, não há resposta do cafeeiro.

Foto de tabela com interpretação de nutrientes do solo
Interpretação nutrientes no solo para café
(Fonte: Adaptado de Novo Boletim 100 (Quaggio e colaboradores 2018) 

No plantio ou renovação do cafezal, é possível colocar fósforo em profundidade. Afinal, esse nutriente é praticamente imóvel nos nossos solos.

Assim, independentemente da análise química de solo, recomenda-se aplicar 60g de P2O5, em formas solúveis, por metro de sulco de plantio.

No sulco, também é indicado o uso de adubação orgânica. Escolha a opção de maior disponibilidade e melhor custo-benefício em sua região/propriedade. Abaixo, veja as recomendações para cada adubo orgânico. 

Nesse caso, a dose se refere à aplicação de cada adubo separadamente.

Tabela com recomendação de adubação no sulco
Recomendação de adubação no sulco
(Fonte: Adaptado de Novo Boletim 100 (Quaggio e colaboradores, 2018) 

Após estabelecido o plantio do café, o produtor deve fornecer nutrientes para a formação da lavoura. 

Preparamos para você uma planilha gratuita, que te ajudará no cálculo das recomendações de adubação do cafezal de forma precisa.

7. Controle de plantas daninhas e doenças no cafeeiro em formação

Plantas daninhas

A muda de café é sensível à competição por plantas daninhas. Seu sistema radicular ainda é pequeno, a taxa de crescimento é relativamente lenta se comparada a das daninhas e há pouco sombreamento na rua.

Deixar a entrelinha sem plantas de cobertura, como por exemplo braquiária, não é concebível. Isso acontece porque aumentam-se os riscos de erosão e diminui-se a infiltração de água, por exemplo.

O que se faz, geralmente, é limpar uma faixa próxima ao café e manter o centro da rua controlado.

Na prática, isso se faz com uso de enxadas ou aplicações de herbicidas, geralmente Verdict, Select, Clorimuron e Goal, além do glifosato.

Verdict mais Select (500ml/ha) e Clorimuron (200ml/ha) são uma boa opção para esse fim quando o mato está pequeno. O Goal (3L/ha) é uma boa opção como pré-emergente.

Com plantas um pouco maiores, pode-se utilizar o glifosato, com aplicação protegida.

A aplicação deve ser feito com cuidado para evitar a fitotoxidade por herbicidas no cafezal.

O consórcio com braquiária também é uma alternativa, pois a forrageira abafa o mato. Para evitar que ela compita com o café, mantenha uma faixa de 50 cm a 70 cm da linha, controlando com glifosato.

A braquiária é perene e fica todo o ano cobrindo o solo. Periodicamente, é roçada e seus resíduos depositados próximos à saia do cafeeiro.

Foto de plantação de café
Consórcio café-braquiária desde o plantio até a produção
(Fonte: Arquivo pessoal do autor)

Os problemas físicos do solo podem ser corrigidos pelas raízes da forrageira também, pois elas favorecem a agregação, a infiltração de água e oxigênio. Além disso, favorecem a vida microbiana do solo.

Doenças

Outro ponto de atenção é a presença de pragas e doenças do café, tanto na área quanto nas mudas adquiridas.

Ao comprar as mudas, algumas doenças e pragas já podem vir junto. Do mesmo modo, sua lavoura pode conter nematoides que poderão levar à morte das suas mudas.

Como principais doenças que podem estar presentes nas mudas e vir a causar danos, há:

  • Cercosporiose / Mancha de Olho Pardo ou Olho de Perdiz causado pelo fungo Cercospora coffeicola;
  • Mancha aureolada ou bacteriana, causada por Pseudomonas syringae pv. garcae;
  • Rhizoctoniose, causado por Rhizoctonia solani;
  • Escaldadura das folhas ou queima abiótica;
Foto de danos em plantas de café
(Fonte: Adaptado de Embrapa)

Estas doenças podem ocorrer tanto em viveiros como em campo, em cafezais novos ou adultos. O controle das doenças citadas acima, com exceção da última, deve ser feito com produtos recomendados para seu controle.

Os nematoide-das-galhas (Meloidogyne incognita; Meloidogyne spp.) são uma das principais nas lavouras cafeicultoras.

Se sua área já tem a presença de nematoides, faça um bom manejo. Nas entrelinhas do café, você pode realizar o plantio de plantas que reduzem a população dos nematoides, como algumas espécies de crotalaria.

O uso de mudas enxertadas também é outra opção em áreas que já têm a presença dos nematoides.

Quanto custa para plantar café?

O custo de implantação e formação do cafezal, considerando até o segundo ano, gira entre 20 e 30 mil reais. Este custo varia conforme o preço dos produtos e local de produção, podendo se tornar mais barato ou mais caro.

Diversos itens devem ser considerados nos custos da plantação de café. Alguns exemplos são:

  • valor do óleo diesel utilizado nas operações de preparo do solo;
  • custo do calcário e gesso
  • fertilizantes e produtos;
  • mudas;
  • mão de obra, etc.

Outro fator que tem que considerar é que uma planta de café demora dois anos para começar a produzir. O custo gasto para implantação e formação neste período deve ser diluído no custo de produção ao longo dos anos.

Para te ajudar, separamos uma planilha de custos de safra. Nela, você poderá contabilizar todos os seus custos com o cafezal de forma mais fácil.

Recomendações de colheita

Após os grãos se encontrarem no ponto ideal de colheita de café, é o momento de retirá-los do campo. O ponto ideal é o estádio de cereja, quando os grãos encontram-se avermelhados.

A colheita pode ocorrer de três modos: mecanizado, semi mecanizado e manual

A escolha do modo de colheita irá depender de alguns fatores. Declividade do terreno, espaçamento entre linhas e mão de obra são pontos que precisam ser avaliados antes da decisão sobre o método de colheita.

Independente do método escolhido, planeje bem a colheita para que ela aconteça no momento correto, quando o grão tiver os teores de umidade ideais (entre 55% e 70%). A colheita adiantada ou tardia pode influenciar negativamente no sabor dos grãos colhidos.

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Conclusão

Para cada localidade, as recomendações de plantação do café podem mudar. As boas práticas que envolvem a instalação da lavoura devem ser respeitadas em qualquer circunstância.

Seja na renovação de uma lavoura de café ou na plantação em uma nova área, fique de olho nas características do local e nas boas práticas de manejo.

Não se esqueça dos gastos durante a plantação do café e sua formação, e de controlá-los com cuidado.

Este artigo foi útil para você? Restou alguma dúvida sobre a plantação de café? Deixe seu comentário abaixo!

Atualizado em 16 de agosto de 2022 por Carina Oliveira.

Carina é engenheira-agrônoma formada pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), mestre em Sistemas de Produção (Unesp), e doutora em Fitotecnia pela Esalq-USP.

Florada do café: cuide bem das flores e colha bons frutos

Florada do café: os principais cuidados nesta etapa, como controle de doenças, irrigação e outros para garantir melhor produção na próxima safra.

“Meu cafezal em flor, quanta flor, meu cafezal…” Imortalizada na música de Cascatinha e Inhana, a florada do café é mesmo um momento sublime!

As flores brancas e perfumadas embelezam o campo e nos dão esperança de uma colheita farta.

Mas, como diz o ditado, “nem tudo são flores”. Muitos são os cuidados que o produtor deve ter para garantir que a florada do café venha a dar bons frutos. Confira comigo no artigo!

A florada do café

A florada do café é resultado de uma série de processos que acontecem na planta e também da interação com fatores ambientais.

Nas axilas foliares dos ramos plagiotrópicos do cafeeiro existem gemas seriadas vegetativas que, com o estímulo ambiental adequado, são evocadas a se tornarem reprodutivas.

Isso ocorre a partir de janeiro e se intensifica com a chegada do outono. Quando maduras, as gemas reprodutivas entram em dormência, permanecendo nesse estado até que as primeiras chuvas cheguem.

florada do café
Escala fenológica do cafeeiro no momento da floração. O auge da florada dura três dias
(Fonte: Pezzopane et. al., 2003)

Com as águas, as gemas se hidratam, os botões florais crescem e, cerca de 11 dias depois, temos a abertura floral propriamente dita. 

Em anos normais, a florada do café arábica geralmente ocorre entre setembro e novembro.

Mas engana-se aquele que pensa que o manejo visando a florada começa só aí. Ele deve começar muito antes, de forma preventiva. Vamos falar sobre a importância desse manejo a seguir.

Cuidados com a florada do café

A época da florada é crítica para a determinação do potencial produtivo da lavoura de café. De modo geral, quanto mais nós nos ramos, maior quantidade de flores pode surgir. E, quanto mais flores, mais frutos podemos produzir.

É lógico que até a colheita muita coisa pode acontecer, mas o potencial produtivo é definido assim, simplificadamente.

florada do café
Ramo plagiotrópico de café. Quanto mais nós nos ramos, maior quantidade de flores que darão origem aos frutos
(Fonte: Pinterest)

Mas calma, nem tudo que reluz é ouro…

Embora a florada seja muito bela, deixando a lavoura toda branca, “nevada”,  sabemos que nem sempre é um bom sinal quando as flores ficam muito visíveis.

Isso porque flores muito à mostra indicam que as plantas estão pouco enfolhadas. 

Se temos poucas folhas, temos menor área fotossintética na planta e, portanto, menos suprimento aos grãos. No fim das contas, o pegamento daquelas flores que estão aparecendo não será tão alto e a produção de café será menor. Fique atento!

Principais doenças da florada

As duas principais doenças da florada do café são a mancha-de-phoma, causada por fungos do gênero Phoma; e a mancha-aureolada, causada pela bactéria Pseudomonas syringae pv. Garcae. 

mancha-de-phoma
Mancha-de-Phoma
(Fonte: Vicente Luiz de Carvalho/Epamig)
mancha-aureolada
Mancha-aureolada 
(Fonte: CN Café)

São vários órgãos atacados e sintomas distintos, como podemos ver nas figuras acima. 

Ambas doenças podem impactar diretamente na produção, pois causam a morte ascendente dos ramos produtivos (die-back) e a mumificação dos chumbinho no pós-florada. 

chumbinhos
Mumificação dos chumbinhos 
(Fonte: Vicente Luiz de Carvalho/Epamig)

Elas são favorecidas por temperaturas amenas e alta umidade. Portanto, regiões mais altas e amenas, terão mais problemas.

Formas de controle

Geralmente é utilizado o controle químico para essas duas doenças.

Em áreas onde as condições são favoráveis para o desenvolvimento dessas doenças, o controle deve visar a pré-florada, iniciando já no outono-inverno, de forma preventiva.

Como o cafeeiro pode apresentar várias floradas, esse controle deve seguir até a fase de chumbinho para uma boa proteção no pós-florada.

Qual produto utilizar?

No caso da Phoma, o ingrediente ativo mais utilizado é a Boscalida (Cantus) na dose de 150 g do produto por hectare. 

Com a presença da mancha-aureolada, recomenda-se adicionar cobre na mistura a 0,3%, realizando assim o controle simultâneo das duas doenças.

Não é raro que existam focos de ferrugem (Hemileia vastatrix) já ocorrendo na lavoura durante a florada. Assim, se faz necessário utilizar outros fungicidas, geralmente misturas de estrobilurinas, triazóis e/ou carboxamidas. 

Como aplicar?

Vale lembrar que a frequência de aplicações depende de monitoramento, do residual do fungicida e das condições de cada lavoura, utilizando um volume mínimo de calda de 400 L para  aplicação.

As aplicações devem visar a pré-florada, para atingir os botões florais e o pós-florada, quando as pétalas já caíram, a fim de proteger os chumbinhos que virão.

Devemos evitar a aplicação com as flores presentes, pois as pétalas impedem que o fungicida atinja o alvo adequadamente.

Considerações sobre a adubação na florada do café

O cafeeiro deve estar equilibrado nutricionalmente, sem exageros e desequilíbrios entre N (nitrogênio) e K (potássio). Só esse cuidado já reduz a incidência de várias doenças, por exemplo.

Além disso, a fase reprodutiva, mais especificamente a frutificação, exige atenção especial quanto à nutrição, pois é a fase de maior demanda do cafeeiro.

Os nutrientes devem estar à disposição do cafeeiro quando o mesmo entrar nessa fase.

Quando adubar?

Com a chegada das águas, começa a florada do café, o que marca o início da fase reprodutiva propriamente dita.

Portanto, o momento ideal de adubação para café é anterior à florada, quando temos a expectativa da chegada das águas. Em outras palavras: o adubo deve estar esperando as chuvas no campo! Assim, o fertilizante terá melhor aproveitamento pela planta, atendendo o momento de maior demanda desde o início.

Uniformizando a florada do café: o controle de irrigação

A abertura e uniformidade da florada, o pegamento e a boa frutificação são totalmente dependentes de água. 

É também na fase reprodutiva que temos a maior demanda do cafeeiro por água (evapotranspiração).

Em lavouras irrigadas, onde há o controle fino sobre a quantidade de água aplicada, temos oportunidade de interferir nisso, visando maior potencial produtivo e uniformidade da florada.

A ideia é diminuir ou suspender a irrigação nos meses de inverno, a fim de uniformizar a maturação das gemas florais. Após esse período, retornamos com a irrigação, mantendo-a durante a frutificação.

Com isso, “forçamos” a planta à abertura floral uniforme, evitando vários fluxos de floração por conta de chuvas espalhadas.  

É lógico, podem ocorrer chuvas que interfiram nesse processo, mas o controle da irrigação pode, sim, trazer bons resultados.

Com a continuidade da irrigação, garantimos um melhor pegamento e enchimento de grãos de café também.

Assim, os produtores de café irrigado têm a oportunidade de conseguir um café de mais qualidade e uniforme, com o mesmo custo de produção, apenas regulando a irrigação. 

>> Leia mais: “Broca-do-café: veja as principais alternativas de controle

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Conclusão

Pudemos conferir no artigo como é importante o cuidado com o cafezal em flor.

Mesmo antes das flores aparecerem, o produtor deve estar atento e atuar preventivamente, principalmente em áreas que favoreçam a incidência de doenças como phoma e mancha-aureolada.

A irrigação e adubação podem ser diferenciadas na época da florada, sempre visando a obtenção de melhores colheitas e eficiência.

Com um bom manejo na florada do café, a possibilidade de se ter uma lavoura saudável e produtiva são maiores. Fique sempre atento!

>> Leia mais:

Poda do cafezal: Como fazer para aumentar sua produção

Pós-colheita do café: Tendências e perspectivas para cafés de qualidade (+ cuidados com a lavoura)

Todas as recomendações para o melhor plantio do café

E você, que cuidados toma na florada do café? Conte para a gente nos comentários. Grande abraço!

Pós-colheita do café: tendências e perspectivas para cafés de qualidade (+ cuidados com a lavoura)

Atualizado em 04 de agosto de 2020.
Pós-colheita do café: como ela pode contribuir para a qualidade da bebida e quais cuidados tomar com a lavoura nesta fase.

A fase de pós-colheita do café é crítica para a qualidade da bebida (e também de sua rentabilidade)!

São várias as opções de processamento e, portanto, pode-se obter cafés dos mais variados tipos e qualidades.

Mas de nada adianta caprichar na colheita e errar no processamento de café depois dela!

Confira comigo algumas perspectivas, além de alguns cuidados essenciais com a lavoura de café nessa época.

A pós-colheita do café

A pós-colheita do café compreende as etapas de processamento e armazenamento do café.

Enquanto no armazenamento as recomendações são bem definidas, no processamento existe uma infinidade de opções disponíveis.

Essas dicas são aplicáveis para café arábica e robusta, embora ainda não haja um mercado que priorize a qualidade do segundo.

Como veremos a seguir, a escolha por um ou outro método depende do objetivo de cada produtor. É um mundo a ser explorado.

A qualidade do café

A qualidade do café é estabelecida lá na roça. Ela é definida por características como o tamanho, cor e integridade do grão, além da qualidade na xícara, é claro.

Isso é fruto de uma interação complexa entre variedade, clima, manejo da lavoura,  processo de colheita e pós-colheita.

O clima é próprio do local, não temos controle sobre ele – muito embora variações climáticas entre os anos possam alterar a qualidade.

Todo o resto – variedade, manejo, colheita e pós-colheita – são decisões do produtor: 

A escolha da variedade, nutrição, controle de pragas e doenças, a colheita de frutos cereja e uma pós-colheita adequada devem ser bem avaliados se quisermos produzir com qualidade.

O processamento de café

É recomendável que se comece a processar o café logo após a colheita, para evitar perdas e manter a qualidade!

Mas… a pós-colheita cria qualidade? Essa pergunta é muito comum. Então, vamos esclarecer as coisas:

A pós-colheita não cria qualidade. Embora não a crie, ela pode alterar ou destruir a qualidade do café.

Etapas do processamento de café

Imagem ilustrativa com etapas do processamento de café
Etapas do processamento de café 
(Fonte: QNInt)

Um bom processamento é fundamental para a qualidade do produto, mas dentre as etapas do processamento, a maioria apenas preserva a qualidade ou retira impurezas/defeitos.

Somente as etapas de despolpamento, remoção da mucilagem e secagem alteram a qualidade. Essas etapas afetam diretamente a qualidade do café na xícara, alterando corpo, aroma, acidez, além de outras características. 

Devido a esse efeito sobre a qualidade do café, existem inúmeras possibilidades de atuar sobre essas etapas. Vou explicar a seguir:

Possibilidades do processamento de café

Há um mundo de possibilidades à nossa disposição para cafés especiais. A ideia é passar alguns pontos básicos, afinal, esse assunto é extenso e, para cada realidade, uma técnica pode se encaixar melhor que outra. 

Não existe uma decisão perfeita, nesse caso. Cada tipo produz cafés diferentes de um mesmo café colhido. Tudo dependerá do mercado que se deseja atender. Também podemos optar por fazer vários tipos na propriedade.

Mas, antes de tudo, devemos optar pela separação dos frutos maduros dos cafés verdes. A partir daí, temos alguns caminhos a seguir:

Despolpar ou não? Os cafés naturais

Podemos optar pelo processamento dos frutos via seca, sem despolpamento, obtendo cafés naturais. Nesse caso, os café são secos com “casca e tudo”, como na figura abaixo.

foto de grãos de café processados por via seca
Processamento por via seca é uma das possibilidades para o produtor
(Fonte: Ensei Neto – Paladar Estadão)

A bebida gerada pelos cafés naturais geralmente tem maior corpo e doçura, pois os grãos de café absorvem mais características do fruto. Esse tipo de processamento de café é bastante utilizado no Brasil.

Despolpamento

Ao despolpar o café, temos um dilema: removo a mucilagem ou não? Quanto removo? Depende!

Existe uma variedade de cafés que podemos produzir a partir disso, cada qual com uma característica diferente.

Com o despolpamento, removemos a casca e obtemos outros tipos de café, como o cereja descascado (CD) ou os cafés desmucilados/lavados.

Ao despolpar, também é possível separar os frutos verdes, regulando o despolpador para que eles não sejam despolpados e se misturem.

Cereja descascado

O cereja descascado seria um meio termo entre o natural e o desmucilado, pois retira-se a polpa (casca)  mecanicamente, mas o café é colocado para secar com toda ou alguma mucilagem. 

Assim, o cereja descascado seca mais rápido que o natural e tem bebida mais encorpada que os desmucilados.

É bom ressaltar que o cereja descascado é uma inovação do processamento de café nacional, mas que depois foi adotado como outro nome em outros países, os tais “honeys”, o que particularmente tem grande apelo no mercado internacional de cafés.

foto com diferentes tipos de café - descascados, naturais e lavados
Diferentes tipos de café – descascados, naturais e lavados
(Fonte: Di Bartoli)

Cafés desmucilados ou lavados

O processo de remoção de mucilagem pode ser feito com uso de desmucilador (remoção mecânica) ou com a fermentação dos grãos (com ou sem água). 

Geralmente, o café que resulta desse processamento tem menos corpo e acidez pronunciada.

Fermentação de cafés

É bom lembrar que fermentações podem ocorrer naturalmente nos cafés colhidos ou ainda no pé. Mas aqui vamos tratar das fermentações controladas, que têm mostrado bons resultados para cafés especiais.

Esse tipo de processamento de café pode ser feito em tanques de fermentação específicos, mas muitos acabam optando por colocar naquelas bombonas de 200l.

Para consistência no processo, é necessário que se monitore a temperatura, pH, brix, tempo de fermentação e outros parâmetros. Se não, é apenas sorte e talvez não se obtenha aquele café novamente.

É importante lembrar que podem ocorrer fermentações indesejadas, que acabam com o café. Por isso, alguns parâmetros devem ser respeitados.

Geralmente queremos fermentações anaeróbicas (sem oxigênio no tanque), portanto, não podemos deixar que o oxigênio entre e cause problemas. 

Por isso, colocam-se “air lockers” na tampa do fermentador para evitar a entrada. Pode ser feita uma versão caseira com basicamente um pedaço de mangueira e uma garrafinha.

Ilustração do sistema de um “airlocker” caseiro. A água na garrafinha impede a entrada do ar no tanque de fermentação
Ilustração do sistema de um “airlocker” caseiro. A água na garrafinha impede a entrada do ar no tanque de fermentação
(Fonte: Blog do Breda)

Além disso, o tempo máximo de fermentação deve ficar entre 48h e 72h dependendo da temperatura do local, pois fermentações indesejadas podem ocorrer fora desse período.

Respeitadas essas regras, temos mais liberdade para sermos criativos. Tem gente fermentando café com polpa de maracujá, com leveduras de cerveja, de vinho… Em cada caso obtém-se um perfil sensorial para um mesmo café! 

Por isso, as oportunidades para o produtor são imensas e o mercado está aceitando novos cafés. Fique atento e não tenha medo de fazer testes em lotes pequenos!

Secagem do café

Assim como nas etapas anteriores, temos mais de um caminho a seguir na fase de secagem do café. Podemos optar pela secagem ao sol, como tradicionalmente se faz em terreiros ou optar por secadores rotativos ou secagem à sombra.

terreiro para secar café
Terreiros para secar café
(Fonte: Canal Rural)
ilustração de um secador rotativo
Secadores rotativos 
(Fonte: Pinhalense)

Uma nova tendência (nova pelo menos aqui no Brasil) é o uso de terreiros suspensos, como as chamadas camas africanas. Nesse caso, eles podem ficar ao sol ou à sombra. Veja:

foto de terreiros suspensos
Terreiros suspensos, também chamados de camas africanas
(Fonte: Perfect Daily Grind)

Se o objetivo é rapidez, talvez o secador seja a melhor opção. 

Se o volume é muito grande, talvez valha usar o terreiro.

Mas, caso o foco seja a qualidade, resultados promissores vêm sendo obtidos com terreiros suspensos

A circulação de ar nos terreiros suspensos é facilitada, evitando fermentações indesejadas. Além disso, como está afastado do solo, menores são os riscos de contaminação.

A torra do café

A torra do café deve ser realizada o mais próximo da venda possível, isso porque após esse processo podem haver perdas de qualidade do grão.

Uma torra errada pode pôr a perder todo o trabalho, desde a lavoura até o pós-colheita e  processamento de café. Dito isso, é necessário que a torra seja uniforme, sem passar do ponto.

O sabor do café é definido pela interação entre o processamento em si e a torra. Existem basicamente três tipos de torra e cada uma pode ser escolhida para satisfazer determinada necessidade ou bebida que se deseja obter. 

  • Torra clara: produz menos amargor nas bebidas, que ficam suaves, com acidez acentuada e menos encorpadas. Bom para café expresso.
  • Torra média: cafés mais equilibrados, com mais corpo. Geralmente dão melhores resultados para cafés coados.
  • Torra escura: cafés menos ácidos e encorpados, com amargor – o tal do café forte.  Cuidado para não torrar demais.
Foto de grãos de café apresentando pontos de torra do café, da clara para a escura
Pontos de torra do café, da clara para a escura 
(Fonte: Grão Gourmet)

Logicamente, entre esses três tipos básicos de torra podem existir nuances e variações. Fica a critério seu qual utilizar.

A qualidade como diferencial de mercado

Em tempos de baixos preços pagos pelo café, como os atuais, a busca pela qualidade pode ser uma solução para o cafeicultor.

Enquanto o mercado é inundado com cafés comerciais de qualidade, há todo um mercado de cafés especiais e diferenciados à espera.

Os compradores nesses mercados prezam pela qualidade do café e fidelidade do produtor, e, por isso, estão dispostos a pagar muito mais pelo produto.

Podem pagar desde algumas centenas a mais pela saca até algumas centenas de reais pelo quilo, no caso dos especiais. O céu é o limite, nesse caso.

Como vimos, a qualidade de um café é complexa. 

Portanto, o produtor que quiser a qualidade como um diferencial do café deve planejar cada passo, desde da escolha da variedade até – e principalmente – seu pós-colheita e processamento.

Armazenamento do café

Existem regras e recomendações para o armazenamento de cafés bem estabelecidas. 

Contudo, o mercado de cafés especiais e novas técnicas de processamento podem alterar isso.

Tradicionalmente, o café é armazenado em sacaria de juta ou em big bags. Mas, embora possamos controlar o ambiente do armazém, perdas de qualidade são inerentes ao processo.

Ao longo de um ano de armazenamento, por exemplo, um café pode deixar de ser especial devido a essas perdas. 

Assim, há uma tendência em buscar novas embalagens ou uso de atmosfera modificada para o armazenamento de cafés especiais.

São novas tendências e possibilidades! Cada qual pode atender a um nicho distinto, mas com certeza veremos algumas novidades neste sentido nos próximos anos.

Cuidados com a lavoura após a colheita do café

Nosso café já está colhido e sendo processado, logo estará pronto para a venda. Mas o que fazer com a lavoura após a colheita?

Primeiramente, devemos fazer a varrição, para coletar os grãos caídos e evitar que a broca se multiplique.

Próximo ao término da colheita, também devemos realizar as podas. O tipo de poda adequado deve se indicado por um engenheiro agrônomo. Aqui no blog nós já falamos sobre a “Poda do cafezal: Como fazer para aumentar sua produção”. Confira!

Monitore o ataque de pragas e doenças do cafeeiro e realize as aplicações caso seja necessário. 

Fique atento também aos danos causados pelas podas, os quais facilitam a entrada de patógenos. Nesses casos, pode-se fazer o uso de cúpricos.

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Conclusão

Como pudemos conferir, a qualidade do café é fruto da interação de alguns fatores, dentre eles o pós-colheita.

O pós-colheita do café pode não criar qualidade, mas pode mantê-la ou alterá-la.

As várias opções disponíveis permitem que um mesmo produtor tenha diversos tipos de café em sua propriedade e devem ser vistas com uma oportunidade de diferencial para o nosso café.

Além disso, não podemos nos esquecer de cuidados importantes com a lavoura após a colheita. Isso possibilitará o bom desenvolvimento e uma melhor safra seguinte!

Leia mais

Florada do café: Cuide bem das flores e colha bons frutos

Adubação para café: Simples e prática (+ planilha)

E você, amigo, como é sua pós-colheita do café? Já pensou nas várias opções que podemos seguir? Deixe sua dúvida ou comentário abaixo. Grande abraço e até a próxima!

Poda do cafezal: como fazer para aumentar sua produção

Cafezal: esqueletamento, decote e outras… Saiba quando é melhor fazer e qual tipo de poda é mais adequado para alcançar ganhos de produtividade.

Na cafeicultura moderna, as podas são essenciais para um bom manejo do cafezal.

São vários tipos de podas possíveis e a mais adequada para cada talhão pode ser diferente.

É preciso conhecer detalhadamente seu cafezal para escolher a poda correta e não sair “quebrando galho por aí”.

A seguir, confira algumas dicas de como realizar as podas no seu cafezal e mantê-lo produtivo por mais tempo!

Tipos de podas: como escolher a melhor para a lavoura

Podas como decote e desponte são consideradas leves, enquanto o esqueletamento e a recepa são mais drásticas.

O ideal é que se comece pelas podas mais leves, progredindo até podas mais drásticas, conforme a necessidade da lavoura.  

Mas cada caso é específico. Dependendo da situação do cafezal, medidas mais drásticas devem tomadas imediatamente.

Vou falar mais sobre as indicações e como fazer cada uma dessas podas:

Decote

O decote é uma “poda alta” e leve, onde os cortes são feitos na parte superior da copa da planta.

A altura de corte depende do estado da lavoura e da cultivar utilizada, mas geralmente é feita entre 1,2 m e 2 m de altura.

Quanto mais alto o corte, maior será a produção no ano seguinte.

O decote é utilizado principalmente reduzir a altura da planta e facilitar a mecanização, além de corrigir deformações e diminuir o fechamento.

Dependendo do decote executado, a produção seguinte será mais baixa e, portanto, o custo de colheita relativo a esses frutos será alto. O produtor deve se atentar.

Caso as plantas estejam com produção apenas nas pontas dos ramos laterais, o decote não terá bom resultado.

Nesse caso, é necessário partir para outro tipo de poda: esqueletamento/desponte.

cafezal
Cafeeiro decotado (A) e cafeeiro decotado com condução dos brotos (B)
(Fonte: Boletim Técnico Cati em Esalq/USP)

Esqueletamento/Desponte

Ambos consistem no corte dos ramos plagiotrópicos em direção ao ortotrópico (tronco).

Enquanto no esqueletamento o corte é mais drástico, feito a cerca de 30 cm de distância, no desponte ele é mais leve, feito a cerca de 60 cm.

A finalidade dessa poda é renovar os ramos produtivos e diminuir o fechamento da rua no caso de lavouras mais adensadas.

A dica é associar essas podas a um decote. Assim, quebra-se a dominância apical da planta e estimula-se brotações laterais.

Após um ano de safra alta, realiza-se esqueletamento/desponte.

No primeiro ano, a safra será zerada e o cafezal terá apenas seu crescimento vegetativo.

cafezal

Cafeeiro após esqueletamento (A) e cafeeiro após brotação (B)
(Fonte: Boletim Técnico Cati em Esalq/USP)

No segundo ano, devido a todo esse crescimento, o cafezal irá produzir uma safra alta.

Essa combinação: safra zero, seguida de safra alta reduz as operações de colheita pela metade e, consequentemente, os custos dessa operação.

Ao mesmo tempo, ela mantém uma média de produtividade elevada para os dois anos, o que pode compensar financeiramente.

Isso porque colheita e mão de obra podem representar mais de 30% dos custos anuais de uma lavoura.

Esse comportamento é a base do chamado “Sistema Safra Zero ou Safra Cem”, adotado por muitos produtores. Vou falar especificamente sobre isso mais a frente!

Recepa

A recepa é uma poda drástica e consiste no corte do tronco próximo ao solo para renovar toda a copa do cafeeiro.

Na recepa baixa, corta-se a 30 cm a 40 cm do solo; na alta, a 60 cm.

Ela deve ser utilizada somente quando o cafezal estiver com poucos ramos produtivos da saia ou danos severos de geada.

A recepa bem-feita garante bom rebrote do café, sem morte de plantas.

Recomenda-se a realização do corte inclinado, para que não acumule água no tronco, o que pode ser porta de entrada para patógenos.

O cafezal só voltará a produzir no segundo ano após a realização da recepa, portanto deve-se avaliar muito bem a necessidade dessa poda, talhão a talhão.

A recepa é o último recurso do cafeicultor antes da renovação do cafezal.

Em casos onde a lavoura é velha ou tem histórico de baixa produtividade, a renovação terá melhor custo-benefício.

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Primeira produção após a recepa
(Fonte: Humberto Filho, Aiba)

Sistema safra zero

Esse sistema consiste na utilização da prática do esqueletamento periódica, a cada dois anos, como forma de manejo.

Para evitar ficar um ano sem produzir na propriedade, a dica é escalonar a poda nos talhões para que se tenha uma parte da propriedade em alta e outra na safra zero.

Desse modo, colhemos café todo ano e ainda temos os benefícios do sistema safra zero.

A adoção do safra zero deve ser avaliada caso a caso, pois nem sempre ele será vantajoso.

Depende de cada sistema de produção, por isso é necessário conhecer bem seu cafezal.

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Florada no segundo ano do cafezal submetido ao sistema safra zero
(Foto: Giovani Voltolini, em Revista Agronegócios)

Quando optar pela poda do cafezal

As podas não podem ser realizadas ao acaso. No planejamento, alguns pontos devem ser observados para se obter o resultado esperado.

Lavouras velhas não respondem bem às podas, portanto, a idade da lavoura de café deve ser considerada.

Cultivares mais vigorosas exigem podas mais frequentes e se recuperam melhor de podas mais drásticas.

Também temos que observar a sanidade da lavoura.

O ataque de pragas, doenças, a presença de plantas daninhas e o depauperamento  (enfraquecimento) podem prejudicar a recuperação do cafezal após a poda.

No caso de lavouras antigas ou onde já existem falhas e a população de plantas é baixa, provavelmente a renovação do cafezal será o melhor caminho.

E qual a melhor época do calendário agrícola para fazer a poda do cafezal?

As podas do cafezal devem ser realizadas preferencialmente em anos de alta produção, logo após o fim da colheita.

Quanto mais cedo elas forem realizadas, mais tempo o café tem para se recuperar, crescer e produzir.

Em locais onde há risco de geada, indica-se a realização das podas no mês de maior risco, para evitar perdas.

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Época ideal para poda esqueletamento + decote
(Fonte: Garcia, 2007, em Epamig)

Além da melhor época, algumas outras práticas são necessárias para o sucesso da poda do cafezal:

Desbrota: prática fundamental para o sucesso das podas

A desbrota deve ser realizada desde o início da lavoura, com a retirada de ramos ladrões.

Ela também garante o sucesso das podas, eliminando as brotações excessivas que possam aparecer.

A desbrota deve ser realizada com as brotações ainda jovens, deixando-se apenas o número adequado de hastes por planta.

Geralmente conduz-se apenas uma haste, mas esse número pode variar com espaçamento.

Um caso à parte: Poda no café conilon

Por ser uma planta multicaule, não há emprego da desbrota e, embora as finalidades das podas possam ser as mesmas, o café conilon tem podas distintas das do arábica.

Isso seria um tema para outro texto!

Para mais informações sobre poda em café conilon você pode acessar aqui a publicação da Embrapa sobre o assunto.

Atenção após a poda do cafezal

A poda, apesar de ser uma ferramenta de manejo, também causar estresse ao cafeeiro.

A planta tem que mobilizar suas reservas para retomar o crescimento das partes podadas, o que acarreta na morte de raízes e até de plantas, se já estiverem depauperadas.

Isso é tanto pior, quanto mais drástica for a poda.

Cafezais podados recentemente devem ter cuidado especial quanto à nutrição e controle fitossanitário.

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(Foto: Claudio Bezerra Mello em Embrapa)

Importância da poda para seu cafezal

A cafeicultura passou por um processo de modernização a partir dos anos 1970/80.

Foram introduzidas variedades mais vigorosas e produtivas e o cafezal passou a ser cultivado em renques.

Isso gerou um grande aumento na população de plantas e na produtividade.

Contudo, alguns problemas que não ocorriam com frequência começaram a aparecer: perda dos ramos produtivos inferiores, exaustão das plantas devido à alta produção, fechamento da lavoura, entre outros.

Nesse cenário, a técnica da poda passou a ser uma importante aliada do produtor.

Se no início de sua adoção a finalidade era apenas corrigir o erro de manejo, hoje ela já é incorporada ao planejamento do cafezal.

Ela ajuda a corrigir os problemas, mas principalmente, auxilia na condução e renovação da lavoura como forma de prevenção.

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Poda do cafezal é estratégica para alcançar melhor produtividade
(Fonte: Revista Globo Rural)

Finalidade das podas do cafezal

O uso das podas como ferramenta de manejo tem várias finalidades:

  • Renovar os ramos produtivos;
  • Adequar a arquitetura da planta para tratos culturais;
  • Atenuar a bienalidade;
  • Reduzir os danos causados por eventos climáticos (geadas, vento, etc), pragas agrícolas e doenças;
  • Alterar o microclima (luminosidade, aeração);
  • Revigorar plantas debilitadas.

Cada tipo de poda irá atuar em alguns desses pontos. A escolha do tipo de poda correta para o cafezal é fundamental! Mais adiante, vou explicar melhor cada uma delas.

Peça auxílio a um consultor agrícola de sua confiança a fim realizar as podas corretamente e alcançar o objetivo desejado.

planilha adubação de café

Conclusão

Como pudemos conferir, cada tipo de poda representa uma ferramenta com finalidade distinta.

A ferramenta correta deve ser utilizada para alcançar o objetivo do trabalho.

Por isso, o cafeicultor deve conhecer cada um dos tipos de poda, sua finalidade e a utilizá-la na época correta. Assim, obtemos os melhores resultados.

Vimos aqui que o manejo correto das podas promove a renovação do cafezal, ganhos em vida útil e até melhorias na produtividade do cafezal!

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Acerte no adubo líquido para café e não jogue dinheiro fora

Pós colheita do café: Tendências e perspectivas para cafés de qualidade (+ cuidados com a lavoura)

“Como o uso de drones na pulverização do cafeeiro pode trazer economia e eficiência nas aplicações”


Restou alguma dúvida sobre as podas do cafezal? Conte pra nós nos comentários abaixo! Forte abraço e até a próxima.

10 dicas para melhorar a gestão de sua lavoura de café

Lavoura de café: planejamento, adubação, podas e outras orientações para melhorar sua gestão e conseguir rendimentos ainda maiores!

Produzir café no Brasil é desafiador, o clima nem sempre colabora e o mercado consumidor exige mais qualidade e sustentabilidade para produzi-lo.

Cada detalhe pode fazer a diferença no resultado final!

Desde antes do plantio até a venda do café é importante que se tenha tudo bem organizado para alcançar seus objetivos.

Para isso é necessário uma boa gestão de sua lavoura.

A seguir, listo 10 dicas para melhorar sua gestão que podem fazer toda a diferença na sua lavoura de café.

1) Tenha um bom plano.

Um planejamento agrícola bem feito pode garantir o sucesso de sua lavoura, da implantação até a venda do café.

É necessário que você conheça detalhadamente a sua área (dados de condições climáticas, análise de solo, produtividade, disponibilidade de irrigação, condição do meio ambiente da região, etc) e saiba qual mercado pretende explorar (commodity, orgânico e cafés especiais).

Com esses dados em mãos e auxílio de um engenheiro(a) agrônomo(a) você poderá montar e seguir um cronograma de suas atividades, aumentando a eficiência e alcançando melhores resultados.

É lógico, dificuldades podem surgir pelo caminho. Mas com um bom plano você será capaz de encontrar as melhores soluções e superar qualquer problema.

Se atente para o fato de que o planejamento contempla a parte agrícola e financeira. Para te ajudar na gestão financeira você pode baixar gratuitamente a planilha de fluxo de caixa aqui.

2) Atenção para a implantação da lavoura do café

A implantação deve ser feita corretamente! Alguns erros nessa etapa só poderão ser corrigidos na renovação do cafezal.

Para começar com o pé direito a sua lavoura cafeeira as dicas são:

I. Realizar as correções necessárias com base na análise de solo da área;

II. Preparar o solo e ter bem definido o tipo de colheita, se mecânica ou manual, pois isso irá determinar o espaçamento da lavoura. Atenção quanto ao espaçamento, já que você deve ter em mente se irá optar pela lavoura convencional ou adensada (se em uma área comporta 3 mil mudas, na adensada esse número pode ser até 5 vezes maior);

III. Orientar o plantio de acordo com o relevo e a exposição ao sol;

IV. Realizar corretamente a adubação para café no sulco/cova. É o momento de adicionar nutrientes em profundidade para o café;

V. Escolher cultivares de café resistentes à ferrugem, o que evitará gastos com o controle dessa doença neste ano e nos anos futuros;

VI. Outro fator importante, é ter atenção e treinamentos adequados quanto à sua mão de obra.

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(Fonte: Cambucitros)

3) Conheça sua lavoura de café

A ideia aqui é mostrar a importância de se monitorar a lavoura, coletando o maior número de informações possível.

Dados climáticos, análises de solo e folha, incidência de pragas e doenças, produtividade, tempo até a colheita…e por aí vai.

É ideal monitorar cada talhão individualmente no dia a dia da lavoura.

Com o passar do tempo teremos um histórico detalhado do cafezal que definirá ações de manejo como adubação, aplicação de defensivos, podas e renovação.

Isso se traduz em maior eficiência de uso de recursos e dos tratos culturais.

4) Atenda a demanda do seu café

A época de maior demanda por energia e nutrientes é durante a fase reprodutiva do café.

Ao mesmo tempo em que está frutificando, o cafeeiro também está produzindo folhas, ramos e raízes que serão responsáveis por nutrir os frutos da safra seguinte.

A dose aplicada deve atender a demanda do cafeeiro e ser embasada na análise de solo, foliar, além  da expectativa de produção agrícola.

Os nutrientes devem estar disponíveis em quantidades adequadas no início da fase reprodutiva. Sendo assim, a adubação deve ser antecipada a esse período.

Para saber mais sobre esse tema você pode conferir este artigo e baixar esta planilha de recomendação de adubação para café gratuitamente.

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5) Fique de olho na incidência de daninhas, pragas e doenças

As condições ambientais e a época em que cada praga/doença é favorecida e causa maiores danos já são bem conhecidas. O mesmo vale para as daninhas.

O produtor precisa monitorar antecipadamente para na infestação crítica tome as devidas ações de manejo.

No caso das plantas daninhas, embora não elimine o uso de outros métodos de controle, recomenda-se o uso de plantas de cobertura na entrelinha. Além de reduzirem a incidência do mato, controlam a erosão e reduzem a temperatura do solo.

Com monitoramento e seguindo o cronograma corretamente obtém-se melhor controle, reduz-se gastos desnecessários, tornando o sistema mais lucrativo, sustentável e produtivo.

6) Capriche na colheita! E varra toda a sujeira…

A dica é monitorar cada talhão, mantendo um histórico de produtividade da área, do tempo até o ponto de colheita e, se possível, da qualidade.

Assim, você será capaz de planejar melhor a colheita, evitando problemas de logística e colhendo no ponto certo.

Outra questão importante é a eficiência do processo de colheita.

Todos os frutos devem ser retirados do pé, fazendo repasse quando necessário e varrição dos frutos caídos no solo.

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(Fonte: BBMNet)

Colheita e varrição bem feitas reduzem as perdas e diminuem de infestação de broca na safra seguinte, sendo uma medida importante no controle dessa praga.

Como vimos, a colheita pode maximizar o potencial de qualidade do café ainda no campo e tornar a próxima safra menos problemática.

Mas o trabalho não acaba aí. Agora temos que tratar corretamente de todo esse café colhido…

7) Tome uma decisão consciente sobre o grão colhido

Temos um leque de opções para decidir o que fazer com café recém colhido.

Não existe uma única receita certa!

Para o objetivo de cada produtor, para cada lavoura ou lote, a melhor opção a se seguir pode ser diferente. Afinal, mesmo lote de café pode gerar bebidas diferentes se processado de maneira distinta.

Por isso é tão importante o planejamento!

Com base no histórico de cada área, na infraestrutura da propriedade e sabendo-se o mercado que se deseja explorar, você poderá decidir por uma ou outra técnica de processamento do café, escolhendo aquela que melhor atende os seus objetivos.

8) Conheça suas ferramentas: o manejo de podas da lavoura de café

Após a colheita e decisão de processamento, a poda é a atividade da lavoura de café que devemos prestar atenção.

A poda é uma importante ferramenta para auxiliar os produtores de café. Como qualquer ferramenta, ela deve ser usada do modo correto para que se obtenha os melhores resultados.

Cada tipo de poda tem uma finalidade distinta. Eles também diferem entre café arábica e café conilon.

Confira a poda do café arábica passo a passo no vídeo abaixo:

(Fonte: Incaper – Todos os direitos reservados)

Você pode ver como realizar a poda programada de ciclo para café Conilon aqui.

Devemos avaliar cada talhão e agir somente quando necessário, pois dependendo do tipo de poda, a lavoura só voltará a produzir café no segundo ano após sua realização.

A época de realização também é importante. A pesquisa mostra que quanto mais próximo após fim da colheita forem realizadas as podas, melhor será a recuperação da lavoura de café.

9) Devo renovar a lavoura de café?

Essa pergunta deve ser respondida avaliando o histórico individual do talhão, especialmente para cafezais mais velhos.

Vale a pena manter cafezais com bons índices de produtividade, do contrário a renovação se faz necessária.

Lembre-se que a área renovada só voltará a produzir após o terceiro ano aproximadamente e por isso a decisão deve ser bem fundamentada.

Por isso, tenha em mente a sua gestão de custos e todas as informações das últimas produções de café, além do orçamento de quanto ficará a renovação da lavoura de café.

Comparando essas informações você saberá se compensa ou não a renovação.

10) Gestão de risco: a venda do café

O levantamento mais recente feito pela CNA indicou que mais de 60% dos cafeicultores optam por vender o café no momento da colheita, ou optam pelo armazenamamento do café para vender no mercado físico.

Nesse caso, corre-se o risco excessivo de perder dinheiro caso o preço pago pelo café na época da colheita estiver em baixa .

Uma forma de minimizar o risco é fazer a venda no mercado futuro.

Como o preço é fixado antecipadamente, o produtor já sabe exatamente quanto vai receber independentemente do mercado.

A dica é fazer a venda futura para a maior parte da sua produção de café, mas guardar uma parcela para vender no mercado físico, para o caso de o mercado estar em alta.

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Conclusão

Como você pôde conferir, uma gestão bem feita aumenta as chances de sucesso da lavoura de café permitindo alcançar melhores resultados desde o campo até a xícara.

Na agricultura sempre podemos interferir para melhorar o sistema. Até mesmo quanto ao clima, melhor do que “combinar com São Pedro” é ter um planejamento e uma boa gestão, os quais permitem alguns atrasos e modificações, garantindo a sua lavoura.

Isso permite que as ações de manejo sejam as mais adequadas para cada situação, aumentando a eficiência de uso dos insumos e fazendo com que seu tempo e esforço produzam os melhores resultados.

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“Como grupo cafeeiro realiza o monitoramento de pragas em 5 fazendas com apoio da tecnologia”

Saiba as vantagens da Cafeicultura de Precisão e como aplicá-la

E você, como faz a gestão da sua lavoura de café? As dicas lhe foram úteis? Tem mais alguma orientação que não comentei aqui? Conte pra gente nos comentários abaixo!

Acerte no adubo líquido para café e não jogue dinheiro fora

Adubo líquido para café: Veja como utilizá-lo corretamente, conseguir máxima eficiência e saber se essa prática irá valer a pena na sua fazenda.

A adubação pode representar 20% dos custos de produção de café. Como você faz a sua?

O uso de adubos líquidos na cafeicultura iniciou-se na década de 80 e se expandiu, ganhando espaço no mercado brasileiro.

Eles prometem maior eficiência na nutrição da planta, redução nos custos da fertilização e outros benefícios.

Mas é preciso atenção para que essa técnica realmente compense financeiramente.

Por isso, entenda mais sobre os adubos líquidos, sua utilização correta e como saber se eles vão valer a pena.

O que são adubos líquidos? Quais as diferenças para os adubos convencionais?

O adubo líquido para café é um fertilizante fluído, segundo a legislação brasileira.

Contudo, a maioria do produtores e técnicos envolvidos na produção de café os trata como adubos líquidos, o que facilita o entendimento.

Os adubos líquidos são basicamente adubos convencionais dissolvidos em água, embora possam diferir na fonte do nutriente utilizada para formulação.

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(Fonte: G1)

Eles podem ser fonte de um nutriente específico, mas geralmente fornecem desde os macronutrientes N, P e K, até micronutrientes. Alguns também contêm bioestimulantes como aminoácidos e ácidos orgânicos.

Vantagens e desvantagens dos adubos líquidos

Adubação básica de NPK pode ser reduzida em até 15% em produto, já que a eficiência de absorção é maior do adubo líquido em relação ao sólido.

Outra vantagem é a aplicação nos períodos exatos em que o café precisa, sem depender da água da chuva para que os nutrientes sejam aproveitados pelas plantas.

Os nutrientes dissolvidos em água estariam prontamente disponíveis ao cafeeiro, o que garantiria rápida absorção, reduzindo as perdas como volatilização e lixiviação, e daria maior eficiência ao adubos líquido para café.

A distribuição mais uniforme também é outro lado positivo dessa técnica.

Mas nem tudo são maravilhas. Muitos vendem adubos líquidos prometendo doses muito menores do que as indicadas, resultando em uma nutrição totalmente inadequada.

Além disso, é preciso prestar atenção no produto que você utiliza pois pode ocorrer a formação de borras no tanque, entupimentos e incompatibilidade entre alguns fertilizantes.

Por isso, sempre consulte um profissional e compre fertilizantes de confiança, sempre questionando quais produtos agrícolas podem ser misturados.

Como realizar a adubação do seu cafezal corretamente

A eficácia de qualquer adubação, seja ela líquida ou convencional, depende de fatores básicos: fonte do nutriente, dose, época e local de aplicação.

No caso dos adubos líquidos, a fonte do nutriente deve ser solúvel em água. Isso é um problema no caso do P, pois as fontes mais comuns têm baixa solubilidade.

Para se obter os melhores resultados, os nutrientes devem estar disponíveis para o cafeeiro na época de maior demanda, o que ocorre durante o período reprodutivo de floração.

Cada nutriente tem um comportamento específico no solo e na planta. Portanto, a escolha do local de aplicação, seja no solo próximo à planta ou via foliar pode mudar toda a eficiência da adubação.

Mas o fator mais importante é que a dose deve atender a exigência nutricional da lavoura de café.

Você vai saber qual é essa dose ao realizar a análise de solo, de folhas e no caso de cafezais em produção, também definir uma produtividade esperada.

Confira abaixo a interpretação de resultados de análise de solo para macro e micronutrientes para o cafezal em geral:

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(Fonte: IPNI)

Porém, as demandas nutricionais do cafeeiro variam se elas estão em formação ou produção.  A seguir você confere a demanda de nutrientes nesses dois casos.

Adubação para cafezal em formação

As exigências nutricionais do café em formação são menores que as do cafezal produtivo.

Por isso, até o 3º ano, o cafezal recebe os nutrientes em menores quantidades, suficientes para o crescimento vegetativo.

Vamos tomar como exemplo as recomendações de adubação para N, P e K da última atualização do Boletim 100 do Instituto Agronômico de Campinas (IAC).

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Recomendação de adubação para café em formação, segundo Quaggio et. al. 2018

Você pode encontrar a planilha com essas recomendações, e ainda o cálculo automatizado da recomendação da adubação nesta planilha gratuita.

Recomendação de adubação para cafezais em produção

Para o cafezal em produção as doses aumentam e temos que ter em mente o nível de produção que desejamos atingir.

Isso porque quanto maior for a produção de frutos grãos, maior será a demanda de nutrientes. Veja abaixo a tabela de recomendação:

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Recomendação de adubação para café em produção, segundo Quaggio et. al. 2018

Dessa forma, se considerarmos uma produtividade entre 30 a 40 sacas/ha, com teores adequados de N nas folhas e de P e K no solo, teremos a seguinte recomendação:

160 kg.ha-1 de N, 20 de P2O5 e 120 de K2O

Como você pode ver esses cálculos podem ficar complicados, especialmente se formos fazer por talhão.

Para facilitar, colocamos as recomendações e o cálculo automático das doses em uma planilha gratuita que você pode baixar aqui!

planilha adubação de café

Como utilizar um adubo líquido para café corretamente?

A adubação foliar é uma maneira comum de se empregar os adubos líquidos, mas os mesmos também podem ser associados à fertirrigação na adubação de cobertura ou aplicados juntamente herbicidas e defensivos agrícolas.  

Contudo, uma busca rápida pela internet pode revelar alguns equívocos.

Isso porque há recomendações de adubação líquida de poucos litros/ha que não supririam a demanda de macronutrientes de uma única saca de café!

Não existe milagre. A adubação deve ser bem feita e atender as demandas nutricionais do café. Qualquer recomendação que fuja disso não funcionará.

Mas não é para desacreditar de todo adubo líquido para café. Eles podem ser efetivos se utilizados de maneira correta.

A seguir trago alguns exemplos de como a adubação por via fluída pode contribuir para a produtividade do seu cafezal.

Fertirrigação

Algo interessante é associar a adubação com a irrigação do cafezal. Como os adubos são dissolvidos na água, a fertirrigação é uma forma de adubação líquida.

A vantagem da fertirrigação é a possibilidade de parcelar mais vezes a adubação. Dessa forma você proporciona nutrientes nas épocas mais exatas de exigências.

Com isso, a eficiência da sua adubação aumenta, com consequência positivas na produtividade.

A irrigação por gotejamento em conjunto com a adubação é a técnica de fertirrigação mais utilizada, já que é a mais indicada.

Ela dá maior uniformidade na fertilização, mantendo o teor de água adequado para a planta absorver os nutrientes.

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(Fonte: Hidro Sistemas)

Quanto à época de aplicação, é a mesma da adubação sólida: durante o período reprodutivo, normalmente de outubro a março.

A frequência recomendada é quinzenal para solos com textura média, sendo que em regiões mais quentes pode ser incrementada.

Boro via aplicação de herbicidas

O Boro (B) é necessário para a reprodução das plantas e transporte dos açúcares. Plantas de café com bom suprimento deste nutriente têm maior tolerância às pragas e doenças.

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Planta de café saudável à esquerda e com deficiência de boro à direita
(Fonte: Emater)

O boro deve ser aplicado no solo. Somente em alguns casos de deficiências pontuais ele pode ser fornecido via foliar para amenizar o problema.

Na forma líquida, a maneira mais prática de se fornecer B é na forma de ácido bórico junto da calda de herbicidas, especialmente o glifosato. Recomenda-se 2 a 3 aplicações de 1 kg.ha-1 de B dessa maneira.

Zinco foliar

O zinco é essencial para o crescimento da parte aérea da planta de café. Devido ao seu comportamento no solo, recomenda-se o fornecimento via foliar para melhor aproveitamento.

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Planta de café com sintomas de deficiência de zinco: ramos curtos, folha menor e mais alongada
(Fonte: Grupo Cultivar)

As doses variam de acordo com a cultivar e as análises foliares, mas ficam entre 1 e 4 kg.ha-1 de Zn fornecidos entre outubro e março, geralmente na forma de sulfato de Zn.

>> Leia mais: “Guia rápido da adubação de boro e zinco no café”

O uso de adubo líquido para café vale a pena?

Essa pergunta só pode ser respondida individualmente para cada fazenda.

E outras questões devem ser respondidas antes disso:

  • Como está a situação do seu cafezal? Se ele sofreu com seca nos anos anteriores, pode ser uma boa saída;
  • Qual seu custo real da fertilização convencional atual?;
  • Qual sua margem de lucro com o manejo atual?;
  • Quanto seria gasto a mais se fosse implementar o adubo líquido? Lembre-se que se for fertirrigação terá o custo da implantação da irrigação, tenha em mente a dose real necessária do adubo líquido para café, o custo de mão-de-obra, combustível, etc.

Anote todas essas informações e faça as contas. Você pode até mesmo pegar uma área pequena do seu cafezal e fazer um teste, verificando os ganhos na margem de lucro com o adubo líquido.

O que não vale é não medir os seus ganhos e custos e ficar “às cegas” quanto ao que vale ou não a pena fazer.

Conclusões

Como pudemos conferir, a adubação do café deve atender às demandas da planta, sempre se baseando em análises de solo, de folha e na expectativa de produção agrícola.

Partindo desse princípio, o adubo líquido para café pode ser uma alternativa interessante, especialmente quando associados a fertirrigação.

No entanto, todos esses custos devem ser bem avaliados dentro da sua gestão da fazenda, colocando tudo em dados para verificar o que compensa mais.

Agora que você conhece os benefícios, e as doses corretas para a adubação do café, pode começar essa avaliação!

>> Leia mais:

Todas as recomendações para o melhor plantio do café

“Colheita do café: Evite perdas e mantenha a qualidade co estas 7 dicas”

Pós-colheita do café: Tendências e perspectivas para cafés de qualidade (+ cuidados com a lavoura)

Como você faz a adubação do seu cafezal? Utiliza adubo líquido para café? Deseja saber mais sobre café? Deixe seu comentário abaixo!