Inseticida natural: como ele pode ajudar no manejo da sua lavoura

Inseticida natural: conheça as opções que têm trazido melhores resultados e como fazer as aplicações na sua propriedade.

Cerca de 40% da produção agrícola no mundo é perdida devido ao ataque de pragas, segundo a FAO.

E as notícias sobre as falhas de controle com alguns inseticidas tradicionais já são conhecidas. Isso tem relação com pouco monitoramento, o que intensifica a pressão de seleção dos insetos.

Assim vemos que para otimizar o controle é válido incluir novas estratégias de manejo de insetos.

Neste artigo, compartilho informações sobre o uso de inseticidas naturais que, se bem posicionados, podem dar ótimos resultados. Confira a seguir!

Inseticida natural: como defender minhas plantas

Os mecanismos naturais de defesas das plantas são eficientes: é como nosso sistema imunológico.

A fitopatologia confirma que a resistência é uma regra. A suscetibilidade é exceção.

Esses mecanismos de defesa contra qualquer patógeno e inseto são:

  • Defesa induzida direta: a defesa da planta acontece a partir de algum ataque de inseto.

Ocorre pela produção de compostos repelentes de herbívoros e substâncias químicas que inibem degradação das proteínas ingeridas pelos insetos (inibidores de proteases).

  • Defesa induzida indireta: a planta produz compostos voláteis que atraem inimigos naturais dos insetos.

E esses compostos voláteis são base de algumas formas de controles naturais contra insetos.

No entanto, a entomologia considera que as populações de insetos se multiplicam acima do normal e se transformam em pragas em condições excepcionais.

Além disso, segundo a lei da trofobiose, há forte relação de plantas mais suscetíveis ao ataque de pragas com quantidades maiores de aminoácidos.

Estes seriam os alimentos preferenciais dos insetos, e é o que ocorre nas lavouras atuais devido às práticas que temos hoje.

Mas, então, por onde começamos quando os ataques à lavoura ocorrem? Vou explicar melhor.

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(Fonte: Mais Soja)

Manejo Integrado de Pragas

Não existe um inseticida milagroso para controlar os ataques de pragas. É a integração de diferentes táticas de controle que fará a diferença.

Portanto, adotar o MIP (Manejo Integrado de Pragas) pode reduzir 50% dos seus custos com defensivos agrícolas.

A base do MIP é o monitoramento constante para identificação da espécie que está atacando a lavoura.

Isso se realiza a partir de amostragem, registro e acompanhamento das populações de insetos-pragas e inimigos naturais presentes na cultura.

As orientações corretas de amostragem, além dos níveis de ação necessários, devem ser considerados na tomada de decisão para o MIP.

Lembre-se que um bom monitoramento deve apresentar a realidade de campo!

E faz diferença ter o histórico dessas informações no bolso. Além de facilitar o registro, isso permite ter informações acessíveis para agir na hora certa.

O Aegro permite que o monitoramento e o armadilhamento de pragas sejam feitos de forma fácil e com todos os dados seguros e fáceis de serem interpretados.

inseticida natural
Aegro permite que você coloque o nível de controle por pragas, indicando o momento em que há risco de perdas econômicas na lavoura

A tecnologia é uma ferramenta importantíssima, mas precisa ser integrada a outras práticas.

Aqui no Blog do Aegro nós explicamos os 8 fundamentos sobre Manejo Integrado de Pragas que você ainda não aprendeu”.

Agora que você já sabe mais sobre o MIP, vamos falar sobre inseticida natural para proteger suas plantas.

Inseticida natural: o que você precisa saber

Hoje existem diversas opções de produtos alternativos aos inseticidas químicos no mercado.

Há diferentes tipos: desde produtos à base de micro e macrorganismos até os que têm base de extratos vegetais, como os bioquímicos e semioquímicos (feromônios e aleloquímicos).

Quanto aos feromônios é importante ressaltar que mesmo sendo considerados por muitos um inseticida natural, já que de alguma maneira pode controlar a população de insetos por armadilhas, conceitualmente ele não se trata de um inseticida já que não mata as pragas.

Além disso, o mais comum é utilizar os feromônios sintéticos.

Já falamos sobre todos esses produtos aqui no blog em: “Como utilizar defensivos naturais e diminuir custos”.

Inseticida natural não é somente para a agricultura orgânica. O importante é superar preconceitos e conhecer mais opções, sejam químicas ou naturais. Afinal de contas, o objetivo final é o mesmo!

Os principais inseticidas naturais que eu recomendaria para que você teste em sua lavoura são:

Beauveria bassiana

É um fungo que parasita mais de 200 espécies de artrópodes como mosca branca, ácaros, incluindo carrapatos.

Através, do contato direto com o alvo, o fungo germina na superfície do inseto, penetrando no tegumento e colonizando-o internamente, liberando toxinas. Isso leva os insetos à morte.

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Insetos atacados pelo fungo ficam com aspecto chamado de “mumificação”, acima o exemplo de uma lagarta que sofreu o ataque
(Fonte: Kansas Bugs)

Metarhizium anisopliae

Também é um fungo. Neste caso, os esporos entram em contato com o inseto, penetram sua cutícula, colonizando os órgãos internos do hospedeiro, que para de se alimentar e morre.

Este processo ocorre entre 2 e 7 dias após a aplicação, dependendo das condições climáticas.

Pode ser usado no controle de cigarrinha das pastagens, mas também em larva alfinete ou coró na cultura do milho e outras.

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Cigarrinha das pastagens pode ser controlada com Metarhizium anisopliae
(Foto: Robson Paiva em Emater-RO)

Bacillus thuringiensis

Bactéria que auxilia principalmente no controle de lagartas ao ser ingerida pelo inseto.

É muito conhecida pelas culturas Bt, onde os genes que produzem as proteínas tóxicas às lagartas são incorporados às plantas de soja, algodão ou milho.

Também existe o bioinseticida à base de Bacillus thuringiensis. Mas não devemos utilizar culturas Bt e inseticidas também Bt, já que são dois métodos de controle com a mesma tecnologia.

Isso porque a pressão de seleção de indivíduos resistentes à tecnologia Bt aumentaria muito.

É um produto comercial registrado e de alta qualidade no mercado. A Embrapa inclusive tem promovido formações de capacitações para a produção “on farm” de qualidade.

Chromobacterium subtsugae

É uma bactéria que tem sido relatada para combater pragas como percevejo, mosca branca, pulgões e ácaros.

Através da produção de substâncias como a violaceína, polihidroxialcanoatos, cianeto de hidrogênio, antibióticos e quitinase.

Sua ação ocorre através da ingestão da mesma presente sobre as plantas.

Em pesquisa, houve até 78% de insetos emergidos no controle de caruncho do feijão (callosobruchus maculatus).

Feromônios

O uso de feromônios tem mostrado bons resultados para fazer o controle de pragas nas lavouras.

A Embrapa, por exemplo, conduziu pesquisa com produção de feromônio de percevejo macho em laboratório, usando-o em armadilhas para atração das fêmeas nas plantações de soja e arroz.

Os resultados foram tão bons que as armadilhas à base de feromônios estão patenteadas e à disposição no mercado pela empresa Isca.

Existem muitos outros tipos de feromônios, como para controle de traça na folha de tomate.

E outros como: Isaria fumosorosea (para mosca branca); Baculovirus spp. (para lagartas); e calda bordalesa (que pode ser pulverizada sobre as plantas, funcionando como repelente contra cigarrinha verde, cochonilhas, trips e pulgões).

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Armadilhas para teste de feromônio do percevejo da soja
(Fonte: Embrapa)

Conclusão

Quando o ataque de pragas se inicia, todo mundo quer conhecer todas as alternativas existentes para controle.

E os biopesticidas são uma opção. É uma tecnologia que atua mais a favor do meio ambiente e do bem-estar dos inimigos naturais.

Eles não servem só para sua horta orgânica, pelo contrário!

Vimos aqui que o inseticida natural tem tido cada vez mais resultados comprovados nas lavouras.

Por isso, inclua em seu planejamento agrícola novas estratégias de controle de pragas!

>> Leia mais:

7 pragas de armazenamento de grãos para você combater

“Inseticida piretroide: Como fazer o melhor uso dele”

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Lagarta-do-cartucho do milho: Controle eficiente com as táticas do MIP

Lagarta-do-cartucho do milho: quando e com o que fazer as aplicações e outras medidas simples que dão resultado no combate a essa praga

O que você prefere: tomar remédio sem estar doente ou apenas quando houver necessidade, caso você esteja realmente precisando? É bem provável que você tenha respondido a segunda opção, não é mesmo?

E o ideal seria prevenir que você fique doente. O mesmo pensamento deve ser levado em consideração quando se tratar de uma lavoura.

A “doença” a que me refiro está relacionada a tudo aquilo que acomete perdas significativas na produção. Dentre elas, a incidência de insetos-praga, como a lagarta-do-cartucho do milho, tem grande importância na perda de produção.

Por isso, confira a seguir táticas simples e efetivas que você pode fazer para combater a lagarta-do-cartucho.

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Por que o ataque da lagarta-do-cartucho do milho causa tantas perdas?

Perdas de produtividade ocorrem principalmente pelo ataque de insetos polífagos, ou seja, aqueles que podem atacar várias espécies de plantas.

A lagarta-do-cartucho do milho ou lagarta militar (Spodoptera frugiperda) é um grande exemplo entre os insetos polífagos.

Ela pode atacar cerca de 100 espécies diferentes de plantas em diversos sistemas de produção.

Além disso, pode causar danos em vários estágios de desenvolvimento da cultura, seja no cartucho ou nas plântulas.

Por isso, ela pode ser vista atacando o cartucho, ou nas plântulas, com hábito semelhante ao da lagarta rosca.

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Lagarta-do-cartucho do milho (Spodoptera frugiperda)
(Fonte: EPPO)

Os danos também ocorrem nas espigas e a base da planta pode ser perfurada, provocando o sintoma de “coração morto”.

E como devo agir diante de uma praga tão agressiva como essa?

Com base no que foi falado acima, o ideal é a utilização de várias táticas em conjunto para que a planta não necessite do “remédio” constantemente.

Aqui no nosso caso, o “remédio” seria o uso desenfreado de aplicação de inseticidas sem levar em consideração outras formas de manejo.

As táticas devem fazer parte do Manejo Integrado de Pragas, o MIP, o qual vamos entender melhor como realizar a seguir:

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Spodoptera frugiperda causa danos na planta e também nas espigas do milho
(Fonte: Cabi)

Manejo Integrado de Pragas para a lagarta-do-cartucho do milho

A lagarta-do-cartucho do milho é uma praga que, se não controlada, atinge rapidamente o nível de dano econômico.

É a principal praga do milho, mas ataca diversas culturas devido a sua polifagia. Além disso, tem alto potencial reprodutivo e ciclo curto (período de lagarta é de 12 a 30 dias), o que possibilita muitas gerações ao longo de um ano.

O Brasil por ter clima tropical, possibilita cultivos sucessivos (cultura do milho, soja, feijão, sorgo) durante todas as estações climáticas nas diversas regiões produtoras. Isso acaba contribuindo para a estabilidade da praga na lavoura e por ter alimento disponível o ano todo.

Nas lavouras de milho, causa danos em todos os estágios fenológicos da planta e, caso o único método de controle seja o químico, pode haver um efeito colateral.

Vamos imaginar um exemplo para entendermos melhor.

Por que aplico inseticida e as lagartas persistem na lavoura?

Por exemplo, imagine que você plantou alguns hectares de milho convencional e, logo no início (no estágio fenológico V3), percebeu a presença de algumas lagartas em sua lavoura.

Então, sem realizar nenhum tipo de monitoramento, você aplica um inseticida de amplo espectro e persistente.

Entretanto, algum tempo depois, notou que ainda havia lagartas e aplicou mais uma vez aquele mesmo inseticida.

Com a contínua presença da lagarta na fase reprodutiva, você pode não entender o que estava acontecendo, e, assim, aplica mais uma dose.

No entanto, ao final da produção, a lavoura estava completamente infestada e quase todas as espigas tinham a presença da lagarta-do-cartucho.

Nesse caso, você teria cometido 2 grandes erros no manejo de pragas:

Erro 1 – Não realizou o monitoramento da praga

Primeiramente, ao detectar a presença da praga, é preciso realizar o monitoramento na lavoura para só depois fazer a tomada de decisão.

Este monitoramento pode ser por meio de armadilhas do tipo delta contendo uma pastilha de feromônio de acasalamento, atraindo assim os machos.

O ideal é instalar uma armadilha por hectare e quando 3 ou mais adultos forem capturados, pode-se iniciar o controle.

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(Foto: Thaís Matioli)

Outra maneira de realizar o monitoramento é através de amostragem no campo com caminhamento do tipo zigue-zague ou de perímetro.

Os níveis de dano devem ser mensurados conforme a escala de Davis. Quando for detectado 20% de plantas atacadas com nota igual ou maior do que 3 na escala, deve-se entrar com controle.

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(Fonte: Davis em Pionner)

Erro 2 – Uso inadequado do inseticida

O uso inadequado e excessivo de inseticidas causa, dentre muitas consequências, a pressão de seleção.

Isso induz a resistência da praga àquele inseticida aplicado, morte de inimigos naturais na área, contaminação do ambiente e do produto final, dentre outros fatores.  

As aplicações sucessivas causam pressão de seleção das lagartas. O que seria isso?

O inseticida matou pragas suscetíveis ao ingrediente ativo do inseticida e permitiu que as lagartas com genética resistente continuassem na área.

Isso fez com que apenas a população resistente permanecesse e, por isso, você não conseguiu mais controlar as lagartas.

Neste caso, foi utilizado um inseticida de amplo espectro e alta persistência, ou seja, mata não só a praga, mas também insetos não-alvo e fica por muito tempo na lavoura.

Isso fez com que a população dos inimigos naturais da área fosse completamente reduzida ou extinta, o que contribuiu ainda mais para que a população da praga aumentasse.

Se o inseticida não atingisse os inimigos naturais, haveria uma grande chance de reduzir os danos causados.

Mas então quais as melhores maneiras de controle para evitar o uso errôneo de apenas um tipo de tática?

No MIP existem 4 bases e 6 pilares que sustentam sua estrutura para qualquer cultura em que se deseja implementá-lo.

As bases são a identificação correta das espécies, monitoramento, níveis de controle e condições ambientais.

Já os pilares são as táticas utilizadas para que sejam complementares ao controle de uma praga. São eles:

  • Controle cultural
  • Uso de agentes de controle biológico
  • Controle comportamental
  • Controle genético
  • Controle varietal
  • Controle químico
  • Manejo de resistência. (Conheça mais sobre a estrutura do MIP).
lagarta-do-cartucho do milho

Para saber mais sobre MIP leia este artigo aqui: Tudo o que você precisa saber sobre Manejo Integrado de Pragas

Nas principais culturas de importância econômica (soja e milho) em que a lagarta-do-cartucho causa severos danos, deve-se começar com a base da estrutura do MIP.

Antes de qualquer coisa, é importante conhecer o histórico da área: qual o cultivo anterior e se já houve infestações.

Se já houve a presença da praga, pode-se começar com controle cultural fazendo o tratamento das sementes e retirada de restos culturais.

Em seguida,  identificar a praga, fazer o monitoramento para só depois realizar a tomada de decisão.

Uso de variedades resistentes, tecnologia Bt (Bacillus thuringiensis), agentes de controle biológico e o controle comportamental podem e devem ser utilizados para reduzir o nível populacional desta praga.

Note que a aplicação de inseticidas não deve ser prioridade! E sobre sua utilização temos mais dicas:

Como fazer o controle químico eficiente da lagarta-do-cartucho do milho

Ao utilizar o controle químico é imprescindível o uso de inseticidas seletivos. O que seria isso? São inseticidas que, de alguma forma, não atingem os insetos não-alvo.

Muitos são os insetos benéficos (parasitoides e predadores) que ocorrem ou podem ser liberados no agroecossistema e estes contribuem, e muito, para a redução da lagarta-do-cartucho.

A exemplo desses insetos pode-se citar a tesourinha (Dorus luteipes),  joaninhas (Harmonia axyridis e Coleomegilla maculata) e parasitoide de ovos (Trichogramma pretiosum).

Inseticidas de amplo espectro, normalmente, causam impactos no agroecossistema. Estes agem principalmente no sistema nervoso (SN) dos insetos, por isso, devem ser evitados.

Os principais grupos químicos para SN são piretroides e neonicotides. Então, quando for utilizar esta tática, tenha preferência por outros grupos químicos.

Na imagem, um exemplo de como olhar na bula o grupo químico do inseticida.

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Conclusão

A lagarta-do-cartucho do milho é uma das principais pragas do milho e soja, podendo causar inúmeras perdas sem o devido manejo.

O manejo adequado não é baseado somente em inseticidas, mas sim em um conjunto de táticas que aqui apresentamos.

Além disso, vimos que o monitoramento é fundamental para que nosso controle seja eficiente. Aproveite as dicas e boa safra!

>>Leia mais:

“4 motivos pelos quais você não deve ignorar a cigarrinha-do-milho”
“5 tecnologias para controlar a Helicoverpa armigera eficientemente”
“Pragas do milho: Principais manejos para se livrar delas”

Gostou do texto? Utiliza outra tática de controle para lagarta-do-cartucho do milho que não comentei aqui? Restou alguma dúvida? Deixe seu comentário abaixo!

As principais orientações para se livrar do percevejo barriga-verde

Percevejo barriga-verde: As principais medidas de controle, período crítico do ataque, manejo e boas práticas para controlar essa praga-chave do milho.

O percevejo barriga-verde é uma praga importante na cultura do milho – e pode comprometer em até 50% da produtividade quando mal manejado.

Seu ataque pode prejudicar todo o planejamento agrícola e levar ao replantio em casos críticos.

Atualmente controlar essa praga é uma situação desafiadora para os agricultores, que diante de poucas ferramentas eficazes e aumento nos custos de controle se veem preocupados.

Neste artigo, vamos mostrar as características do percevejo barriga-verde e como fazer um controle eficiente, segundo preceitos do MIP (Manejo Integrado de Pragas). Saiba mais a seguir.

percevejo barriga verde

Percevejo barriga-verde é uma das principais pragas do milho
(Fonte: Roundup Ready)

Percevejo barriga-verde: Conhecendo as espécies e sua importância

O percevejo barriga-verde é uma praga-chave inicial especialmente na cultura do milho safrinha, que sucede a cultura da soja.

Atualmente existem duas espécies de importância econômica: Dichelops furcatus e Dichelops melacanthus.

A primeira está mais adaptada e presente nos estados da região Sul. A segunda predomina na região Centro-Sul do Brasil, como você pode notar na imagem abaixo:

percevejo barriga verde
Distribuição geográfica do percevejo barriga-verde
(Fonte: Agronômico)

Desde o seu primeiro relato, em 1995, somente nos últimos anos o percevejo barriga-verde tornou-se uma praga-chave na cultura do milho.

Mas qual a explicação para isso? Vejamos:

  • Ampla adoção do sistema de plantio direto  (palhada fornece proteção e abrigo à praga, além do efeito “guarda-chuva” aos inseticidas);
  • Falhas na dessecação no pré-plantio do milho (trapoeraba e capim-carrapicho, quando remanescentes, servem como alimento);
  • Sucessão soja-milho ou soja-trigo (os grãos perdidos na colheita da soja também atuam como fonte de alimento);
  • Plantio de milho Bt e a redução do número de pulverizações para lagarta-do-cartucho do milho (favorecimento do percevejo barriga-verde);
  • Plantio de soja Bt e redução do número de pulverizações para complexo de lepidópteros-praga (intensificação dos problemas com percevejo que se estenderam para o milho).

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Planta daninha trapoeraba servindo de alimento e proteção ao percevejo barriga-verde
(Fonte: Rodolfo Bianco)

Ataque do percevejo barriga-verde: Período crítico, sintomas e danos

O período crítico concentra-se nos 30 primeiros dias após a emergência (DAE) das plantas de milho.

Esse é o momento em que a cultura se encontra mais suscetível ao ataque da praga agrícola.

Nessa fase, o milho define o seu potencial produtivo (V3-V4). Portanto, o agricultor deve estar preparado para tomar as melhores decisões e evitar frustrações.

Quanto mais nova as plantas, menos lignificado e espesso é o caule, assim como menor o seu diâmetro.

Portanto, maior é o potencial de injúrias nas plantas de milho quando atacadas pelo percevejo barriga-verde.

Após a colheita de soja e plantio do milho, o percevejo barriga-verde ataca as plantas recém-emergidas na base do caule.

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Local de ataque do percevejo barriga-verde nas plantas de milho recém-emergidas
(Fonte: Pioneer)

Nessa região estão os tecidos meristemáticos, que são responsáveis pelo crescimento e desenvolvimento da planta.

Portanto, ao perfurar essa região, o percevejo causa danos às futuras folhas de milho, provocando alterações fisiológicas na planta.

Assim, nas folhas novas do cartucho, podemos observar pontuações escuras. E, à medida em que as folhas se desenvolvem, percebemos lesões longitudinais com os bordos amarelados.

Um outro sintoma bem típico do seu ataque é o “encharutamento” das folhas do cartucho do milho. As folhas se enrolam e não se expandem normalmente.

percevejo barriga-verde

Injúrias em folhas de milho com ataque do percevejo barriga-verde
(Fonte: Pioneer)

Além disso, como mecanismo de reação ao ataque da praga, a planta emite perfilhos improdutivos (“planta-ladrão”).

Seu vigor é reduzido e, em casos extremos, a planta pode morrer e comprometer o “estande” de plantas.

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Plantas de milho com perfilhos improdutivos e redução do estande de plantas após ataque do percevejo barriga-verde
(Fonte: André Shimohiro)

Amostragem e nível de controle

O período em que se deve intensificar as amostragem são os anteriores à semeadura do milho até o período crítico de ataque da praga no milho (30 DAE).

Segundo o pesquisador Rodolfo Bianco, do IAPAR, o agricultor pode utilizar iscas atrativas com soja umedecida na proporção de 10 iscas por talhão.

A mistura é feita com 300g de soja e ½ colher de sal de cozinha. Mas, para isso, os grãos devem ficar por 15 minutos em água, sendo adicionado sal somente após o escorrimento da água.

O agricultor pode avaliar a presença da praga 24 horas após a instalação.

Se o agricultor detectar 2 iscas/talhão com os percevejos, o nível é considerado baixo e não há necessidade de controle.

No entanto, se entre 3 e 5 armadilhas capturaram percevejos, o nível é considerado moderado. Assim, pode-se optar pelo tratamento de sementes (TS) ou por pulverizações foliares.

Já quando forem detectadas mais de 5 iscas com a presença do percevejo, o nível é alto. Neste caso, a recomendação é realizar o TS e a pulverização do milho em até 3 DAE.

Após a emergência das plantas e a pulverização com até 3 DAE (fases iniciais), é preciso continuar o monitoramento.

Caso o produtor detecte 1 percevejo vivo/10 plantas, é recomendável pulverizar novamente.

Na literatura, o nível de controle (NC) para o percevejo varia de 0,6 a 2,0 percevejos/m².

Vamos falar agora sobre os manejos mais efetivos para controlar o percevejo barriga-verde em sua lavoura.

Percevejo barriga-verde: como manejar

Método químico

A principal estratégia de manejo com efeito curativo é o controle químico.

O uso isolado do tratamento de sementes (TS) com inseticidas sistêmicos do grupo químico dos neonicotinóides tem dado parcial proteção às plantas na fase inicial.

Em campo, a estratégia mais efetiva tem sido combinar TS com pulverizações foliares (basicamente neonicotinóides + piretróides) logo que as plantas emergirem (até 3 DAE).

Dependendo da infestação, pulverizações após esse período não têm evitado os danos, como você pode observar na figura abaixo.

percevejo barriga-verde

Plantas de milho recém emergidas sendo atacadas
(Fonte: André Shimohiro)

Para maximizar as chances de controle durante a pulverização foliar, o agricultor pode iniciar a pulverização nos períodos de maior atividade e exposição da praga (das 7h às 13h e 16h às 19h).

Apesar de adotado por muitos agricultores, a associação de inseticidas na dessecação não possui resultados satisfatórios quando comparado à combinação do TS+pulverização foliar inicial.

Um dos fatores que desfavorecem esse método é o produto atingir a praga que se encontra protegida sobre a palhada (efeito “guarda-chuva”).

Os principais inseticidas comerciais para TS pertencem ao grupo dos neonicotinoides. Para aplicações foliares, a mistura de neonicotinóides e piretróides.

Apesar dos piretroides e neonicotinoides serem nocivos à maioria dos inimigos naturais, no momento, não existem moléculas específicas e seletivas disponíveis.

Métodos complementares

As boas práticas de manejo são consideradas tão importantes quanto o controle químico.

A escolha de cultivares com desenvolvimento vegetativo rápido, associadas a algum grau de resistência à praga, é uma alternativa.

O colmo espesso, por exemplo, dificulta a penetração do aparelho bucal do inseto na planta, auxiliando na redução das injúrias.

Além disso, a dessecação em pré-plantio bem feita, desfavorece o desenvolvimento do percevejo barriga-verde e os ataques no milho.

Ou seja, não deve haver falhas de aplicação, as áreas devem estar livres de plantas daninhas, tigueras ou guaxas de soja, assim como o mínimo de grãos perdidos durante a colheita.

A preservação de inimigos naturais, como tesourinhas, joaninhas e aranhas, também contribuem na redução populacional do percevejo barriga-verde.

>>Leia mais: “Todas as formas de controle para se livrar do percevejo-castanho

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Conclusão

O manejo do percevejo barriga-verde merece atenção especial do agricultor.

Seu ataque pode comprometer todo um planejamento agrícola. E, em casos críticos de ataque, é necessário o replantio.

Devido à escassez de inseticidas comerciais com diferentes mecanismos de ação, você deve se conscientizar de que as boas práticas de manejo cultural são igualmente importantes e devem ser realizadas sempre!

Você tem tido problemas com percevejo barriga-verde na sua lavoura? Restou alguma dúvida? Deixe seu comentário!

7 Pragas de armazenamento de grãos para você combater

Pragas de armazenamento: Identifique os insetos, saiba como preveni-los e conheça os manejos químico e físico para evitar perdas após a colheita.

O ataque de pragas é um problema para lavoura – e ele não termina com a colheita.

Estima-se que até 10% do que é produzido pode ser perdido durante a armazenagem de grãos devido às pragas.

No Brasil, indústrias alimentícias têm negado cargas com a presença de insetos vivos e mortos.

Além disso, requisitos fitossanitários atestando que o produto é livre de pragas têm sido cada vez mais exigido pelos países importadores.

Em unidades armazenadoras, as sementes podem se tornar inviáveis ao plantio e comprometer a safra seguinte caso sejam atacadas por insetos-praga.

Neste artigo vamos tratar as principais pragas de armazenamento e como manejá-las segundo os preceitos do MIP (Manejo Integrado de Pragas). Confira!

Pragas de armazenamento: o que fazer para evitar o ataque

pragas de armazenamento

(Fonte: Unesp)

A cada safra as unidades armazenadoras de grãos e de sementes devem estar preparadas para receber novas cargas.

Esse preparo diz respeito ao local onde os grãos ou sementes ficarão armazenados, que devem estar limpos e isentos de pragas (insetos, ácaros, fungos e roedores).

Nessa etapa pode ser realizada a fumigação do local de maneira preventiva para evitar a presença de pragas de armazenamento. Vou explicar com mais detalhes adiante.

Além disso, é importante que haja ventilação e condições climáticas de temperatura e umidade relativa adequadas para o recebimento dos grãos.

Para a efetividade do MIP nas unidades armazenadoras também é preciso conscientizar os funcionários a respeito dos danos e importância das pragas de armazenamento.

Compreender a relevância das práticas de limpeza e higienização da unidade armazenadora, assim como a identificação de insetos, é essencial para prosseguimento das metas de manejo estabelecidas.

Como identificar as 7 principais pragas de armazenamento

Basicamente existem duas grandes ordens de insetos-praga que atacam os grãos armazenados: Coleoptera (caruncho, gorgulho) e Lepidoptera (traças).

Essas pragas podem ser classificadas, conforme o seu hábito alimentar, em pragas primárias (internas e externas) e pragas secundárias.

As pragas primárias danificam os grãos íntegros ou sadios.

As pragas primárias internas conseguem perfuram o grão. Elas se alimentam do conteúdo interno, se desenvolvem e completam o seu ciclo no interior do grão.

Já as pragas primárias externas se alimentam da parte externa do grão.

Além do dano direto nos grãos ou sementes, as pragas primárias facilitam o ataque de pragas secundárias, que se beneficiam dos grãos danificados para se alimentar.

Vou detalhar as principais características de cada inseto-praga:

Gorgulho dos cereais – Rhyzopertha dominica

Considerada a principal praga de armazenamento na cultura do trigo, esse inseto é popularmente conhecido como o gorgulho ou besouro dos cereais e farinhas.

É uma praga primária interna que, além do trigo, pode atacar cevada, triticale, arroz e aveia.

Adultos e larvas causam danos aos grãos e sementes que ficam perfurados e com grande quantidade de resíduos em forma de farinha.

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Adulto de Rhyzopertha dominica atacando grãos de milho
(Fonte: Adaptado de Defesa Vegetal)

Gorgulhos do arroz e milho – Sitophilus oryzae e S. zeamais

Os gorgulhos do arroz e do milho são espécies muito semelhantes quanto à morfologia e podem ocorrer juntas na massa de grãos ou sementes.

São pragas primárias internas com elevado potencial de reprodução e possuem hospedeiros como trigo, milho, arroz, cevada e triticale.

Essas pragas podem apresentar infestação tanto dos grãos em campo como no armazém.

Os danos decorrentes do ataque dessa praga são a redução de peso e qualidade do grão.

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Adultos de Sitophilus oryzae e Sitophilus zeamais
(Fonte: Defesa vegetal)

Besouro castanho – Tribolium castaneum

O besouro castanho é uma praga secundária. Sendo assim, sua presença indica que os grãos já estão infestados por pragas primárias.

Esses insetos podem causar a deterioração dos grãos e trazer prejuízos superiores quando comparados ao ataque das pragas primárias.

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Larva (a, b), pupa (c) e adulto (d) de Tribolium castaneum
(Fotos: Adriana de Marques Freitas/Embrapa)

Besourinho-do-fumo – Lasioderma serricorne

Conhecida como besourinho-do-fumo, essa praga passou a ocorrer com maior frequência em grãos e sementes de soja durante o armazenamento.

Na soja, perfuram as sementes e grãos causando prejuízos aos armazéns. Por afetar a qualidade do produto final, é uma grande ameaça aos armazenadores.

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Besourinho-do-fumo
(Fonte: Agrolink)

Oryzaephilus surinamensis

É uma praga secundária que ataca grãos de milho, trigo, arroz, soja, cevada, aveia.

Essa praga também pode infestar estruturas de armazenamento como moegas, máquinas de limpeza, elevadores, secadores, túneis, fundos de silos e caixas de expedição.

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Inseto adulto de Oryzaephilus surinamensis
(Foto: Irineu Lorini em Embrapa)

Sitotroga cerealella

É praga que ataca grãos inteiros, porém afeta a superfície da massa de grãos.

As larvas desta praga destroem o grão, alterando o peso e a sua qualidade.

Podem atacar também farinhas causando deterioração do produto final para consumo.

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Desenvolvimento de Sitotroga cerealella nos grãos  
(Fonte: Agronegócios)

Traça-dos-cereais – Ephestia kuehniella

Conhecida como traça-dos-cereais, é uma praga secundária.

Ela infesta principalmente grãos e sementes de soja, milho, sorgo, trigo, arroz, cevada e aveia, além de produtos elaborados, como biscoitos, barras de cereais e chocolates.

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Ephestia kuehniella larva (a) e adulto (b)
(Foto: Adriana de Marques Freitas em Embrapa)

Pragas de armazenamento: como fazer o controle

Entre as pragas mencionadas, de maneira geral, R. dominica, S. oryzae e S. zeamais são as mais importantes.

São as que justificam a maior parte do controle nas unidades de armazenamento.

Método químico de controle

Inseticidas inorgânicos à base de fosfeto de alumínio, precursor da fosfina, é o mais utilizado para expurgar ou fumigar.

Ele atua em todas as fases de desenvolvimento do inseto e consegue penetrar em locais inacessíveis às pulverizações.

No entanto, os fumigantes só devem ser usados ​​quando necessário, pois, além de perigoso, é um método caro e não oferece proteção residual a longo prazo.

Como a fosfina funciona

Durante o processo de fumigação, o calor e a umidade relativa do ar (UR) aceleram a liberação do gás tóxico, sendo o contrário válido para o frio e ar seco.

Assim, o tempo de exposição do produto à massa de grãos em concentrações letais varia conforme as condições ambientais durante a aplicação.

A temperatura de 25℃ é a ideal para realizar a fumigação.

Quando feita em temperaturas entre 15℃ e 25℃, deve-se acrescentar 20% do tempo recomendado na condição ideal.  

Em locais em que a temperatura encontra-se abaixo de 15℃, o expurgo torna-se inviável.

Tempo de exposição do defensivo agrícola

Locais em que há semente a granel devem ficar expostas por 96 horas, sendo 120 horas quando em sacarias.

Já em silos graneleiros, o período de exposição deve ser em média de 240 horas.

Como aplicar

O produto comercial pode vir na forma de pastilhas, comprimidos ou sachês. A dose é dada em função do volume do lote de grãos/silos e praga-alvo.

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Etapas da fumigação em um silo vertical
(Fonte: Bequisa)

Em aplicações curativas, com os silos cheios de grãos, é recomendável nivelar a superfície onde será depositada as pastilhas antes de realizar a fumigação.

O objetivo é  facilitar a vedação com lona e evitar o escape do gás.

Para isso podem ser utilizadas “cobras de areia” para o ajuste da lona junto à massa de grãos.

Além disso, deixar nesses locais pontos de liberação facilita a operação e a correta distribuição do produto sobre a massa de grãos.  

Alerta-se que, por ser altamente tóxico e incolor, é obrigatório o uso de equipamento de proteção individual (EPI) e seguir as normas de segurança durante o expurgo ou fumigação.

Métodos alternativos de controle das pragas de armazenamento

A manipulação da temperatura e umidade relativa do ar em níveis desfavoráveis às pragas é considerado um método físico de controle e pode ser empregado nas UA e UBS.

A única ressalva é com relação aos locais em que já estão armazenadas sementes.

Nesses casos, temperaturas e UR extremas, apesar favorecerem o controle das pragas de armazenamento, mas poderá comprometer a qualidade da semente.

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Efeito da temperatura sobre o desenvolvimento das pragas de grãos armazenados
(Fonte: Embrapa)

Além desses, o método físico mais estudado e eficaz tem sido o emprego do pó inerte à base de terra de diatomáceas.

A terra de diatomácea é um sedimento amorfo obtido a partir de depósitos sedimentares de sílica em organismos aquáticos. Seu efeito assemelha-se aos dos inseticidas.

Ela atua por contato nos insetos e remove as camadas de cera da cutícula. Em contato com ela, os insetos perdem água, desidratam e morrem.  

Diferente dos produtos convencionais, a terra de diatomácea controla as pragas durante longo período após aplicado.

Ela não deixa resíduos nos alimentos e é segura ao ser humano.

Entretanto alguns fatores limitam seu uso, como a aparência branco acinzentada nos grãos e a possibilidade de retirar umidade dos mesmos.

Além desse método físico, outros métodos possíveis de serem utilizados são radiação, uso da luz e do som.

Você pode obter mais detalhes na publicação Manejo Integrado de Pragas de Grãos e Sementes Armazenadas, da Embrapa.

Para fins de monitoramento, no mercado existe uma armadilha adesiva à base de feromônio sexual sintético para o monitoramento de Lasioderma serricorne (bicho do fumo).

Essa armadilha auxilia no monitoramento de pragas nas UA e UBS.

Deve-se realizar amostragens sistemáticas a cada 15 dias nas massas de grãos para verificar a densidade populacional de pragas e a necessidade de controle.

Banner planilha- manejo integrado de pragas

Conclusão

As pragas de armazenamento ou pragas pós-colheita são tão importantes quanto as que ocorrem durante o desenvolvimento da cultura.

Para manejar corretamente, é necessário entender que métodos básicos e preventivos de controle são imprescindíveis e devem ser realizados.

Além disso, é importante conscientizar de que a fumigação somente será necessária quando nenhum outro inseticida ou manejo possa controlar efetivamente os insetos.

Nesse artigo, vimos também como a adoção do MIP auxilia no manejo racional e sustentável das pragas em pós-colheita.

Espero que com essas informações você possa fazer o melhor controle e evitar prejuízos decorrente dos ataque de pragas nos produtos armazenados.

>>Leia mais: “As principais orientações para se livrar do percevejo barriga-verde”
>> Leia mais: “Como fazer o manejo eficiente da mosca-branca

Pragas de armazenamento têm afetado a rentabilidade da sua lavoura? Quais manejos você utiliza? Deixe seus comentários abaixo!

8 dicas de como acabar com as lagartas da sua lavoura

Como acabar com as lagartas: saiba quais são as principais e veja as principais táticas de manejo

Visitar a lavoura e ver as folhas raspadas nunca é um bom sinal. Por isso, as lagartas estão entre as principais pragas agrícolas do Brasil e do mundo.

A ausência de medidas de manejo para o controle de lagartas pode aumentar os custos de produção em até R$ 500 na cultura da soja, por exemplo. Esse valor pode aumentar a depender do ano, da cultura e das altas dos insumos.

Saber como identificar as lagartas e os danos causados por elas é o primeiro passo para evitar perdas na produtividade.

Neste artigo, conheça as lagartas mais perigosas para as culturas agrícolas e saiba como livrar sua lavoura delas. Boa leitura!

O que são as lagartas e suas características gerais

As lagartas são insetos mastigadores da ordem Lepidoptera, que causam danos diretos nas folhas das culturas. Elas são consideradas pragas quando estão em populações capazes de causar danos econômicos maiores do que o custo do seu controle. 

Elas costumam atacar culturas diferentes cultivadas em sucessão em uma mesma área. Recentemente, algumas espécies eram consideradas pragas secundárias, como a lagarta-das-folhas. Ela passou a ser primária na soja, causando danos significativos.

Isso se deu por dois motivos principais: a aplicação desenfreada de inseticidas não seletivos aos inimigos naturais e a ausência ou manejo inadequado, especialmente em áreas com  cultivares resistentes. 

A ausência de área de refúgio e aplicações inadequadas de inseticidas agravam o problema. Produtores de diversas regiões, principalmente do Centro-Oeste, já relatam que as cultivares antes resistentes não têm suportado a pressão das lagartas. 

Principais tipos de lagartas de planta

Embora existam inúmeras espécies de lagartas, algumas são mais danosas às culturas. Afinal, são capazes de se alimentar e completar o ciclo de vida em diferentes espécies cultivadas em uma mesma área, em diferentes épocas do ano.

As principais espécies de lagartas que atacam as culturas agrícolas são as que você verá a seguir:

Lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda

A lagarta-do-cartucho se alimenta de mais de 100 espécies de plantas e por isso, é de difícil controle. Ela tem hábito noturno, e durante o dia pode ser vista próxima ao solo.

Além de plantas adultas, a Spodoptera frugiperda ataca plântulas em estádio inicial de desenvolvimento. Isso provoca falhas no estande e redução da população final de plantas, o que também influencia na produtividade.

Ela se diferencia das demais lagartas por conter um Y invertido na parte frontal da cabeça. Possui coloração preta e verde, a depender do estádio de vida. Ao longo do ciclo da lagarta, a coloração é verde e quando chega na fase adulta, a coloração é escura.

Lagarta-preta-da-soja (Spodoptera cosmioides

A lagarta-preta-da-soja pode provocar a desfolha total da lavoura, atacando ainda as vagens. Isso reduz a produtividade e prejudica a qualidade da produção.

Ela se diferencia das demais pela coloração marrom ou preta, acompanhada de listras amareladas ao longo do corpo que chegam até a cabeça.  Além disso, possui pontuações de cor preta ou branca e triângulos no dorso, ao longo das listras.

Lagarta falsa-medideira (Chrysodeixis includens)

A lagarta falsa-medideira ataca mais de 70 hospedeiros, sendo considerada uma das principais desfolhadoras da soja. Nas plantas, estão localizadas nas porções inferiores.

Diferentemente da lagarta-da-soja, a falsa-medideira consome o limbo foliar. Dessa forma, ela mantém as nervuras intactas. A falsa-medideira possui coloração verde-clara e listras brancas na lateral do corpo, além de pontos pretos distribuídos ao longo do corpo.

Lagarta Helicoverpa armigera 

A lagarta Helicoverpa armigera é capaz de se alimentar de mais de 170 gêneros de plantas. Ela apresenta rápida reprodução, capacidade elevada de dispersão e ótima adaptação a diferentes condições ambientais.

Anualmente, causa prejuízos de mais de 5 bilhões de dólares e é considerada uma das principais ameaças das lavouras na atualidade. Além disso, diversos casos de resistência a diferentes grupos químicos inseticidas já foram relatados.  

Ela se diferencia das demais lagartas pelas listras marrons na lateral do corpo.

planilha pulverização de defensivos agrícolas

Lagarta-das-folhas (Spodoptera eridania

Os adultos da lagarta-das-folhas possuem hábito noturno e provocam o aspecto de esqueletização das folhas a partir da alimentação. Além disso, elas consomem as plantas do estágio inicial até as vagens.

Distingue-se das demais pela presença de um Y invertido na parte superior da cabeça. Por outro lado, essa é uma característica que dificulta diferenciar essa lagarta da Spodoptera frugiperda.

Lagarta-da-soja (Anticarsia gemmatalis

A lagarta-da-soja causa desfolhamento intenso, podendo resultar na destruição de todas as partes da planta. Como consequência, acaba causando danos irreversíveis à produção de soja, principalmente em folhas jovens.

Durante a alimentação, ela injeta toxinas na planta. Essa lagarta é um problema para diversas culturas, especialmente leguminosas, mas também em gramíneas como trigo e arroz. 

8 dicas para acabar com as lagartas na fazenda

Agora que você viu quais são as principais pragas que atacam as culturas, veja como acabar com a infestação de lagartas na sua lavoura.

1. Conheça o ciclo da lagarta presente na sua área

Conhecer o ciclo das lagartas ajuda a saber exatamente o momento correto de agir. Além disso, com conhecimento do ciclo, você consegue identificar essas pragas antes que elas alcancem a fase adulta, onde geralmente causam mais danos. 

Também vale lembrar que o ciclo das lagartas muda conforme a espécie, o que torna necessário que você saiba bem identificar as principais espécies.

2. Conheça sua área e sua cultura

Estude o histórico de ataque de pragas na área e as principais espécies que podem atacar sua cultura. Assim, você consegue planejar quais estratégias de controle usar em conjunto e sabe mais claramente como acabar com as lagartas. 

É importante entender quais cultivos próximos a sua lavoura são realizados. Afinal, a ausência de controle nesses cultivos pode influenciar na migração de pragas para a sua lavoura.

Assim, você visualiza quais as medidas ou estratégias de controle serão mais efetivas a serem utilizadas para conter o ataque das pragas.

É importante que nesse momento você contemple as espécies de pragas comuns ao sistema de cultivo. Por meio disso, trace estratégias de médio e longo prazo para reduzir a pressão populacional.

Entre as espécies comuns ao sistema agrícola brasileiro, podemos citar as lagartas Spodoptera frugiperda e Helicoverpa armigera. Ambas as espécies possuem potencial para atacar a maioria das plantas cultivadas.

3. Faça a semeadura na janela favorável

Semear em janela favorável permite a máxima expressão do potencial produtivo da cultivar utilizada e menor exposição às pragas. Ainda durante o planejamento, siga o zoneamento agrícola da sua região. 

Isso permitirá ao mesmo tempo a semeadura e colheita em épocas favoráveis. O zoneamento agrícola é publicado anualmente pelo Mapa. A semeadura no início da janela de plantio contribuirá para que a cultura não sofra com pressão populacional das pragas.

No caso do manejo de pragas da soja, há uma ressalva. Embora o plantio no início da janela te dê melhores condições climáticas na 2ª safra, em algumas regiões esse período poderá coincidir com períodos de estiagem.

Isso pode favorecer o ataque de algumas lagartas, como a lagarta-elasmo e a lagarta-do-cartucho na fase de estabelecimento da nova cultura. Por isso, é importante conhecer o histórico de pragas, das variáveis climáticas e o planejamento agrícola.

4. Não acabe com todas as lagartas da lavoura

Ao se deparar com lagartas em sua lavoura, esteja ciente que nem todas elas serão pragas do ponto de vista econômico. Para tomar boas decisões no controle das lagartas, monitore as pragas a nível de talhão para verificar sua densidade populacional.

É importante que você monitore semanalmente ou, pelo menos, de duas em duas semanas. Abaixo, veja um exemplo sobre o nível de controle (momento correto da ação) adotado para acabar com as lagartas Helicoverpa armigera, e S. frugiperda na cultura da soja.

níveis de ação para o controle de pragas
(Fonte: Embrapa )

Assim, registre seus monitoramentos da lavoura verificando o nível de ação para cada praga e cultura. Para facilitar esse processo, baixe a planilha grátis de monitoramento de pragas na lavoura. 

Com ela, seus dados ficam muito mais automáticos e fáceis de serem visualizados. Basta clicar na imagem abaixo para acessar o material:

5.  Invista em medidas preventivas de controle

Após verificar a necessidade de uma medida de ação, esteja preparado para isso. Nesse momento, as medidas adotadas são emergenciais com efeito curativo.

Existem outras estratégias preventivas que poderão contribuir para conter esse momento. Uma das mais efetivas é a rotação de culturas, mas não a confunda com a sucessão de culturas. Além da rotação de culturas, há outras medidas preventivas importantes, como:

  • a adubação equilibrada;
  • uso de cultivares de ciclo curto ou de ciclo precoce;
  • a semeadura de materiais genéticos resistentes naturalmente.

Uma estratégia que apresenta bons resultados é o plantio de variedades ricas em silício. Além disso, a aplicação de fertilizantes à base desse nutriente na planta também possui bons resultados.

O silício causa o desgaste mandibular das lagartas e ajuda na redução populacional das pragas e nas injúrias causadas na cultura.

6. Invista em medidas curativas de controle

Após o ataque de pragas, estratégias de controle eficientes devem ser utilizadas para evitar o prejuízo financeiro. A principal estratégia é o uso de inseticidas químicos e microbiológicos.

Na dessecação, você pode associar o inseticida ao herbicida. Também é interessante realizar o tratamento de sementes. Vale lembrar que isso deve ser feito a cada nova cultura implantada.

Se você possui lavoura geneticamente modificada, não é recomendável aplicar inseticidas à base de Bacillus thuringiensis para evitar a evolução da resistência.

Outro ponto importante é manter áreas de refúgio, com uso de sementes convencionais em 10% da área. No entanto, a aplicação de  inseticidas microbiológicos à base de vírus são permitidos e altamente recomendados. 

Além disso, existem diversos outros compostos que podem ser utilizados para acabar com as lagartas, como podemos ver na figura abaixo.

(Fonte: Irac-BR)

O controle biológico aplicado através da liberação de Trichogramma pretiosum é recomendável e já está consolidado. Ele ocorre especialmente em áreas de refúgio e nas regiões que se observam casos de falha de inseticidas.

7. Integre o maior número de estratégias de MIP

Para garantir que as lagartas não sejam um problema em sua lavoura, é importante agregar outras estratégias de Manejo Integrado de Pragas. Por exemplo, o controle comportamental com feromônios sexuais auxiliam no monitoramento populacional.

Junto a ele, as práticas culturais permitem a diversidade e sobrevivência de inimigos naturais na área, auxiliando na mortalidade natural. Para um MIP eficiente, você também deve integrar práticas mecânicas, genéticas, químicas e biológicas.

Não esqueça também de registrar o monitoramento de pragas em local seguro e que facilite a visualização das infestações.

8. Aposte em tecnologia para otimizar o controle e o manejo

Um planejamento estratégico te permite integrar todas essas medidas e a acabar com as lagartas mais facilmente. Por isso, anote o custo total de cada talhão e de cada manejo diferente. No final da safra, não esqueça de registrar a produtividade de cada talhão

Verificando os controles que deram mais certo, você saberá melhor o que fazer na próxima safra. Além disso, terá maior controle dos custos da safra e da rentabilidade da sua área de cultivo.

Monitoramento de pragas eficiente por aplicativo

Com o Aegro você tem seu monitoramento georreferenciado e ainda mais facilitado. Veja como aqui.

Através de softwares de gestão agrícola como o Aegro, você consegue registrar todas as atividades e monitorar a situação de cada talhão.  Ao fazer o MIP com o Aegro, você sabe onde há mais pressão populacional de lagartas, o que te ajuda a agir rapidamente. 

Afinal, você consegue:

  • Planejar as atividades de MIP;
  • Monitorar as pragas orientado por GPS agrícola;
  • Ter registro de amostragens pelo celular;
  • Visualizar mapas com níveis de infestação na lavoura;
  • Receber alertas quando houver alta incidência de lagartas;
  • Acessar o histórico completo dos seus talhões.

Conclusão

Como acabar com as lagartas não é tarefa fácil, especialmente no Brasil, é necessário ficar por dentro das melhores táticas de controle e manejo. 

No entanto, com um bom planejamento e o uso adequado das ferramentas do Manejo Integrado de Pragas, você garantirá sucesso na lavoura.

A integração do maior número de táticas de MIP é necessária, especialmente em um momento de carência de novas moléculas inseticidas no mercado. Aproveite as dicas deste artigo e tenha uma boa safra!

>> Leia mais:

“Pragas do milho: Principais manejos para se livrar delas”

“Tudo o que você precisa saber sobre controle da broca-das-axilas”

Já sabe como acabar com as lagartas da sua lavoura? Aproveite e inscreva-se na nossa newsletter para receber mais materiais como este.

Inseticidas para soja: Faça eles se pagarem

Inseticidas para soja: Veja as principais dicas de defensivos e suas aplicações para que você tenha um manejo de pragas mais eficiente e econômico.

O uso adequado dos inseticidas, com o MIP, economizaria R$ 4 bilhões na produção nacional de soja, segundo Embrapa.

Os produtos corretos, a tecnologia e o momento da aplicação são fundamentais para isso.

No entanto, ao ver a lavoura com percevejos e lagartas fica difícil estimar o quanto podemos esperar para compensar a aplicação, ou mesmo as alternativas de controle.

Por isso, aqui mostramos as mais importantes informações para embasar suas decisões na lavoura e conseguir um manejo que faça os inseticidas se pagarem. Confira:

Entendendo as realidades da soja Bt e não-Bt

Liberada para comercialização desde a safra 2013/2014, a soja transgênica, que expressa a proteína inseticida derivada de Bacillus thuringiensis (Bt), representa a maior parte das lavouras brasileiras.

A tecnologia de soja Bt, comercialmente chamada de INTACTA RR2 PRO, apresenta atividade inseticida e efetividade no controle dos insetos:

  • Lagarta-falsa-medideira (Chrysodeixis includens);
  • Lagarta-da-soja (Anticarsia gemmatalis);
  • Lagarta-das-maçãs( Chloridea (=Heliothis) virescens);
  • Helicoverpa armigera.
inseticidas

Principais pragas alvo da soja Bt
( Fonte: Pioneer)

O que isso quer dizer para o manejo de pragas na cultura da soja?

O uso da tecnologia Bt implica na realização de áreas de refúgio. Elas devem corresponder a 20% da área, e é importante que você a faça para evitar a resistência dos insetos da sua área aos defensivos agrícolas.

Essas áreas tem como objetivo de manter os insetos suscetíveis às proteínas Bt, se acasalando com os insetos resistentes da vindos da lavoura Bt.

Além disso, você preserva essa tecnologia e consegue aumentar o número de safras com ela, o que resulta em economia das pulverizações e sustentabilidade do meio ambiente.

Você pode conferir o passo a passo de como fazer a área de refúgio aqui.

Consequentemente, os insetos alvo da tecnologia Bt serão grandes problemas como pragas nas áreas cultivadas com soja não-Bt (área de refúgio).

O esperado é que nas áreas de soja não-Bt teremos mais lagartas atacando as plantas quando comparado a soja Bt.

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Área semeada com soja não-Bt à esquerda e soja Bt à direita
(Fonte: Monsanto)

No entanto, pragas em comum nas sojas Bt e não-Bt também ocorrerão, como é o caso das lagartas do gênero Spodoptera spp., os percevejos-fitófagos, mosca-branca, ácaros, entre outras pragas.

A pergunta que fica é: Será que esse ataque na parte não Bt vai afetar minha produtividade e rentabilidade?

Se você seguir as recomendações do Manejo Integrado de Pragas (MIP), inclusive as dicas aqui citadas, aplicando somente quando necessário, a resposta dessa pergunta é não.

Aliás, diversos estudos de caso e científicos mostram cada vez mais que a produtividade e economia tendem a aumentar em áreas que seguem essas recomendações do MIP.

Como fazer o manejo nas áreas de soja Bt e não-Bt

Você pode aplicar inseticidas e outros métodos de controle nas áreas de refúgio.

Mas, antes de fazer qualquer aplicação de inseticida nas áreas de soja Bt e não-Bt é fundamental o monitoramento e amostragens dos insetos-praga para verificar se há a necessidade de alguma intervenção.

Monitore sua lavoura constantemente, sendo recomendado a frequência semanal. Anote os danos ou número de inseto que você encontrou em algum lugar e verificar o Nível de Controle (NC).

O NC é o nível de danos ou de insetos que ainda não estão prejudicando economicamente sua produção, mas que indica a necessidade de tomar alguma medida de controle dentro de pouco tempo, evitando o prejuízo econômico.

Os níveis de ação ou de controle das pragas podem ser verificados na figura abaixo.

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Níveis de ação para os principais lepidópteros-praga da soja
(Fonte: IRAC-BR)

No caso dos percevejos na soja, os níveis de ação são os mesmo e podem ser verificados no post “Percevejo marrom: 7 estratégias de controle na soja”.

Para facilitar os registros do seu monitoramento de pragas e verificação do NC, nós preparamos uma planilha de Excel que automatiza mais essas informações e te dá muito mais segurança.

Baixe sua planilha gratuita clicando na imagem abaixo!

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Com o Aegro você tem seu monitoramento georreferenciado e ainda mais facilitado. Veja como aqui.

Dica de manejo antes da decisão de aplicar

A cultura da soja, diferente das demais, consegue compensar níveis de desfolhas sem que haja interferência na sua produtividade.

Na fase vegetativa ela tolera até 30% de desfolha e na fase reprodutiva até 15% sem que haja implicações na produção.

Sendo assim, faça o monitoramento de pragas e também verifique o nível de desfolha na cultura.

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Escala de desfolha em folíolos de soja
(Fonte: NC Soybean)

Principais orientações sobre inseticidas para soja

Uma coisa que você deve estar ciente é que as pragas se diferenciam de local para local.

Ou seja, elas sofrem a influência da cultura anterior e das condições climáticas, entre outros, que poderão favorecer ou não determinado inseto-praga.

Portanto o “segredo” do manejo é amostrar os insetos, antes e durante o plantio, para saber o melhor inseticida a ser utilizado, e o momento correto.

Aqui vamos dividir as pragas e os principais tipos de inseticidas utilizados conforme o momento de ataque na cultura.

Antes disso, confira os grupos químicos e os principais inseticidas em cada um, entendendo melhor as dicas a seguir:

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(Fonte: IRAC)

Pragas iniciais e de solo

Considerado um dos períodos críticos da cultura, esse conjunto de pragas pode comprometer o número de plantas de soja/ha (estande).

Isso porque elas atacam a raiz, o colo da planta e seccionam o caule da planta, implicando em replantio.

As principais pragas nessa fase são:

Aqui pode-se fazer o controle químico com inseticidas do grupo químico dos carbamatos, organofosforados e piretroides no momento da dessecação da área para o plantio.

Após a dessecação da área, pode se fazer o tratamento de sementes com inseticidas do grupo químico dos fenilpirazóis, carbamatos, piretroides, neonicotinoides e diamidas conforme as pragas-alvo da área.

Pragas da parte aérea ou de folhas

Conforme mencionado anteriormente, a cultura da soja pode tolerar 30% de desfolha na fase vegetativa e 15% na fase reprodutiva.

Durante a fase vegetativa os principais grupos de pragas que atacam a cultura são os lepidópteros (lagartas), coleópteros (besouros) e hemípteros (mosca-branca).

Entre as lagartas, as principais espécies são Helicoverpa armigera e Chrysodeixis includens.

Com relação aos besouros, se destaca D. speciosa e Maecolaspis sp. Nas últimas 5 safras tem se verificado o intenso ataque de Bemisia tabaci biótipo B (mosca-branca).

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(Fonte: Mato Grosso Econômico)

Por serem espécies diferentes, com comportamentos distintos, os inseticidas aqui também deverão ser específicos para cada grupo de praga:

Lagartas

Ao atingirem o nível de controle, os principais inseticidas utilizados são representados pelos grupos químicos das benzoilfeniluréias, diamidas, diacilhidrazina, espinosina, oxadiazina e semicarbazone.

Além dos químicos, temos os inseticidas microbiológicos a base de vírus que podem ser utilizados para o controle de C. includens, H. armigera e Spodpotera spp.

Aqui cabe uma ressalva: não utilize inseticidas a base de B. thuringiensis nas áreas de soja Bt e nas áreas de refúgio.

O intuito é não aumentar a pressão de seleção das pragas-alvo da soja Bt e retardar o processo de evolução da resistência.

Vaquinha (fase adulta)

Com relação ao controle de D. speciosa na fase adulta, os principais inseticidas utilizados são do grupo químico dos piretroides e análogo ao pirazol.

Mosca-branca

Para B. tabaci os principais inseticidas são a base de diamidas, éter piridiloxipropílico, cetoenol, feniltioureia, o microbiológico a base de Beauveria bassiana e Tetranortriterpenóide (azadiractina).

Pragas das estruturas reprodutivas ou de vagens

Nessa fase os principais grupos de pragas são os lepidópteros e os percevejos pragas. No primeiro grupo tem destaque as espécies do complexo Spodoptera spp., S. frugiperda, S. eridania e S. cosmioides.

Por danificarem as vagens e os grãos, devem ser eficientemente controladas. Os principais inseticidas utilizados são os mesmos mencionados no item anterior para pragas de parte aérea.

Entre os percevejos-praga, as principais espécies são Euschistus heros, Piezodorus guildinii e Dichelops spp.

Atualmente esse grupo de pragas carece de novas moléculas inseticidas para o seu controle e está limitado basicamente a três principais grupos químicos, que são: neonicotinoides, piretróides e organofosforados.

Por isso, é importante pensar no manejo dos inimigos naturais e no uso de inseticidas naturais. Saiba mais sobre eles nestes artigos:

Como manejar os inimigos naturais de pragas agrícolas da sua área
6 Inseticidas naturais para você começar a usar na sua lavoura

Dicas para uma tecnologia de aplicação ainda melhor

Cada cultivar de soja possui uma arquitetura que favorece ou desfavorece a penetração dos inseticidas.

Assim, o sojicultor pode trabalhar com algumas estratégias de tecnologia de aplicação para maximizar o controle.

Dentre elas, se atente para:

  • Pontas de pulverização;
  • Taxa de aplicação (L/ha);
  • Pressão de serviço;
  • Assistência de ar na barra de pulverização;
  • Momento da aplicação: umidade do ar e temperatura devem ser observadas;
  • Estude o uso de adjuvantes ou surfactantes.

Uso de inseticidas seletivos e manejo da resistência

Priorize inseticidas seletivos na fase inicial da cultura para evitar o desequilíbrio biológico. Esse desequilíbrio prejudica ainda mais a infestação de pragas na sua lavoura.

Faça também o manejo da resistência de inseticidas intercalando grupos de inseticidas diferentes por janela da praga.

Atenção especial deverá ser dada às áreas de refúgio (soja não-Bt). Esteja ciente quanto ao número de aplicações permitidas por janela e o grupo químico do inseticida utilizado para não comprometer o MRI e efetividade da soja Bt.

Veja o quadro informativo abaixo:

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Esquema de manejo de pragas da soja com inseticidas
( Fonte: IRAC-BR)

Os inseticidas se pagaram?

Você utilizou novos defensivos, alguns produtos biológicos, fez talhões com manejos diferentes… mas isso se pagou?

Só a partir dos registros corretos do que foi utilizado na sua área, e do quanto foi produzido, é possível saber se o manejo foi rentável.

Para isso, softwares de gestão agrícola facilitam esses registros e as análises provenientes dos mesmos. Veja o exemplo da rentabilidade de uma safra abaixo:

10-rentabilidade-custo-ganho-por-área
Exemplo de rentabilidade total e por talhão em uma safra. Saiba mais sobre o Aegro aqui.

Além disso, como citamos anteriormente, também temos a planilha de excel para o MIP na soja e milho gratuita que você pode baixar aqui!

Conclusão

Aqui vimos que os inseticidas estão entre as principais estratégias de manejo na cultura da soja. Mas, eles apenas deverão ser utilizados quando detectado o nível de controle da praga em questão.

Tenha em mente que a escolha de inseticidas seletivos é fundamental para preservar a comunidade de inimigos naturais e favorecer o controle biológico de pragas.

O manejo da resistência de insetos na soja Bt e não-Bt também deverá ser realizado para prolongar a vida útil e efetividade dessa ferramenta no MIP na cultura da soja.

Aproveite todas essas dicas e faça seus inseticidas, e todo seu manejo, se pagar!

Como você contabiliza a eficiência dos seus inseticidas hoje? Tem outras dicas que não citei aqui? Restou alguma dúvida? Deixe seu comentário aqui embaixo!

6 Inseticidas naturais para você começar a usar na sua lavoura

Inseticidas naturais: O que são, como usar e quais são os principais produtos para seu manejo ser ainda melhor e menos custoso.

Muitas vezes o uso de inseticidas pode gerar um custo pesado no orçamento da safra.

Por isso, dentro do seu planejamento agrícola inclua novas estratégias de controle de insetos.

Não só os custos, mas também o manejo de pragas como um todo fica muito mais eficiente e o ambiente equilibrado com a diversificação nos métodos de controle.

Uma dessas opções de manejo são os inseticidas naturais. Aqui recomendo os principais produtos e orientações para seu manejo ser ainda melhor e menos custoso.

O que são inseticidas naturais? Eles realmente matam os insetos?

Inseticidas são os produtos ou meios que usamos para combater algum inseto praga. Quando falamos dos defensivos agrícolas químicos, esses são classificados de acordo com a sua composição química. Você pode conferir essa classificação e outros detalhes sobre inseticidas neste artigo sobre os principais tipos de inseticidas para grãos.

Mas, além dos produtos químicos, há outras formas de fazer o controle dos insetos.

Os produtos biológicos de controle de insetos são exemplos disso e estão ganhando cada vez mais adeptos.

No controle biológico nós utilizamos como base os macro e microbiológicos para realizar o controle dos insetos pragas. E os principais são:

  • Microbianos;
  • Insetos predadores;
  • Parasitóides.

Com o aumento do número de resistências aos produtos químicos e novos insetos pragas surgindo, as pesquisas com controladores biológicos tem aumentado.

E acredito que o futuro teremos mais soluções biotecnológicas utilizando os recursos genéticos dos microrganismos, com o descobrimento e desenvolvendo produtos mais seletivos e assertivos com base nos microrganismos.

Mas o que chamamos de inseticidas naturais são produtos botânicos de compostos vegetais secundários ou outros subprodutos de origens orgânicas. Os principais são os de base vegetal como:

  • Piretrina;
  • Rotenona;
  • Nicotina;
  • Cevadinha e Veratridina;
  • Rianodina;
  • Quassinóides.
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(Fonte: Toxicidade dos principais inseticidas botânicos)

A maioria dessas substâncias são derivadas de metabólitos secundários com propriedades inseticidas, fruto da própria evolução natural das plantas.

As vantagens estão na seletividade, prejudicando bem menos insetos benéficos, como os inimigos naturais.

Divulgação do kit de 5 planilhas para controle da gestão da fazenda

Além das pragas: A importância dos inseticidas naturais para outros insetos

Pode até soar distante da realidade de uma grande lavoura falar de inimigos naturais de pragas agrícolas.

Mas não. Os inimigos naturais são em geral bem pequenos, menores que os insetos pragas, e existem em grande quantidades em todos os agroecossistemas.

São tanto nematoides como parasitoides, e à medida em que a safra vai se desenvolvendo o número desses insetos só aumenta.

É bom lembrar as principais leis naturais que regem todo o agroecossistema terrestre.

As plantas cultivadas servem de alimento para os herbívoros, os quais ocupam o segundo nível trófico,  e que por sua vez, servem de alimento para os organismos carnívoros, ocupantes do terceiro nível trófico.

Os carnívoros atuam como agentes reguladores das populações dos herbívoros, sendo esses os ‘inimigos naturais”.

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(Fonte: Embrapa Agrobiologia)

Mesmo com a aplicação de muitos produtos químicos não seletivos, os inimigos naturais continuam a existir nas lavouras.

Porém, nem todos em quantidades adequadas para cumprirem seu papel de reguladores naturais.

Como por exemplo, a Cotesia flavipes é parasitóide que realiza o controle da broca da cana-de-açúcar.

Dentre os inimigos naturais, também consideremos os microrganismos. Cerca de 80% das doenças de insetos são causadas por fungos, e os principais gêneros são:

  • Aschersonia;
  • Aspergillus;
  • Beauveria;
  • Enthomophthora;
  • Erynia;
  • Hirsutella;
  • Metarhizium;
  • Nomurea;
  • Penicillium.

Assim, eles podem ser usados para o combate de diversas pragas.

A Beauveria bassiana, por exemplo,  tem realizado controle da broca do café (Cosmopolites sordidus) e broca do pedúnculo floral do coqueiro (Homalinotus coriaceus). Já o Baculovírus anticarsia apresenta controle eficiente das lagartas na soja.

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(Fonte: Controle Biológico de Pragas: Princípios e Estratégias de Aplicação em Ecossistemas Agrícolas – Embrapa Agrobiologia)

5 Inseticidas naturais para começar a usar

Extrato de nim (Azadirachta indica)

O nim é uma árvore, nativa do continente indiano, muito resistente a seca.

O extrato de nim, tem origem na semente da árvore, e possui em sua composição mais de 30 compostos tóxicos, se destacando a azadiractina.

Sua atuação se dá principalmente retardando o desenvolvimento e repelindo insetos, sendo que nas fases da ecdise em insetos pode impedir ou interromper, causando a morte dos mesmos.

O óleo de nim é extraído por prensagem das sementes, das quais se obtém 47% de óleo com 10% de azadiractina.

Segundo Brechelt (2004) os produtos a base de nim não afetam animais de sangue quente, inclusive o homem, não se acumulam no meio ambiente, e tem pouco efeito sobre os organismos benéficos.

Veja abaixo os efeitos do óleo de Nim em insetos:

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(Fonte: Brechet, 2004)

2. Extrato de Bougainvillea ou primavera (Bougainvillea spp.)

O extrato de primavera realiza um controle preventivo muito eficaz.

Sua principal atuação é sobre o tripes, inseto transmissor de viroses , pois este transmite o vírus causador da doença “Vira Cabeça” do tomateiro.

No tomate, o uso ocorre na emergência das mudas, em intervalos de 2 a 3 dias no desenvolvimento das plantas, até o início do florescimento das mesmas.

3. Extrato de Alho (Allium sativum)

O extrato possui uma composição rica em enxofre, que contribui para a repelência de insetos e, assim, controle de pragas.

Ao ser pulverizado sobre as plantas, o extrato do alho em litros de água, é absorvido pela planta, e seu odor natural “engana” os insetos pragas. Os principais controles são com lagarta das maçãs e pulgões.

4. Óleo de rícino e de citros

Outros inseticidas naturais que têm despertado interesses em mais pesquisas são o óleo de rícino e de citros que causam mortalidade em ninfas de moscas-brancas.

Também nessa linha, o extrato aquoso de cravo da índia, pó de café e de folhas de tomate repelem pulgões e outras pragas.

Esses produtos são de baixo custo e normalmente utilizados em horta orgânica, misturando-os até mesmo com sabão de coco, para combater as pragas.

No entanto, esses tipos de óleo mineral e outros extratos vêm sendo cada vez mais pesquisados para larga escala.

5. Cinamomo (Melia azedarach)

Utilizamos o extrato de folhas de cinamomo para o combate de algumas pragas agrícolas importante.

Estudos indicam, por exemplo, o controle eficiente da lagarta-mede-palmo, mosca-das-frutas, traça-das-crucíferas e outros.

6. Extrato pirolenhoso

O extrato pirolenhoso é um inseticida natural, o qual é um líquido resultante da condensação da fumaça, a partir da carbonização de madeiras.

Mesmo não sendo um produto direto de derivação botânica, sua fonte é orgânica. Este líquido pode conter mais de 200 tipos de compostos diferentes, predominando, porém, o ácido acético.

Sua principal forma de atuação é como repelente aos insetos pragas.

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(Fonte: Pirolenhoso BR)

A defesa é o melhor ataque: silício

Esse elemento será cada vez mais falado na agricultura. Plantas com suprimentos adequados deste elemento, possuem resistência e tolerância a insetos e doenças.

Isso ocorre devido a uma camada protetora formada sobre a epiderme da planta.

A sua ação sobre os insetos é o desgaste das mandíbulas e a atração de inimigos naturais. Veja abaixo o efeito do silício sobre insetos:

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(Fonte: IPNI – Silício: Um elemento benéfico e importante para as plantas)

O silício é um elemento pouco móvel, absorvido na forma de ácido monossilícico, o que vem a contribuir na dinâmica dos elementos no solo.  

Por exemplo, na redução da fixação do fósforo, pois os dois elementos competem pelos mesmo sítios ativos, contribuindo também na saturação de bases do solo.

>> Leia mais: “Por que defensivos biológicos? Conheça mais sobre esses produtos e tire suas dúvidas

Conclusão

Quem não gosta de experimentar novas tecnologias eficazes, mais econômicas e sustentáveis?

Aqui trouxe alguns defensivos naturais que podem ser testados em conjunto com outros manejos de inseticidas nas suas lavouras.

Podem contribuir em economia e te auxiliar a ver outras formas de realizar controle contra pragas.

Os inclua em seu planejamento agrícola e orçamento e faça seu Manejo Integrado de Pragas de forma ainda mais eficiente.

>>Leia mais:

Agrotóxicos naturais: Manejo certeiro mesmo em grandes culturas
O futuro de defensivos agrícolas: as novas tecnologias que veremos no campo
Inseticida piretroide: Como fazer melhor uso dele

Você já tinha ouvido falar de inseticidas naturais? Já usa algum na sua área? Restou alguma dúvida? Deixe seu comentário abaixo!

Como manejar os inimigos naturais de pragas agrícolas da sua área

Inimigos naturais de pragas agrícolas: Obtenha um controle melhor e mais econômico de pragas, sabendo  como manejá-los mesmo utilizando inseticidas.

Sem custos adicionais e com enormes benefícios, os inimigos naturais passam despercebidos na fazenda.

São eles os responsáveis pela mortalidade natural das pragas no campo.

A aplicação dos princípios do Manejo Integrado de Pragas, entre eles os inimigos naturais, o produtor poderia economizar até R$ 4 bilhões na produção nacional de soja.

Portanto, manejar os inimigos naturais é fundamental para sustentabilidade ambiental, agrícola e financeira.

Neste artigo abordaremos sobre a importância dos inimigos naturais e algumas estratégias em como preservá-los no contexto do Manejo Integrado de Pragas (MIP).

O que é um inimigo natural e qual a sua importância?

Inimigo natural ou agente do controle biológico é qualquer organismo (vírus, fungos,

bactérias, determinados insetos, aranhas, ácaros, etc) que exerça o controle sobre a população de insetos praga.

Eles ocorrem naturalmente no ambiente fazer o controle dos insetos, sendo que isso é o que chamamos de controle biológico natural.

Historicamente essa ideia é antiga, sendo os chineses no século III a.C. os primeiros a praticarem o controle biológico. Eles utilizavam formigas para o controle de lagartas e besouros em citros.

Assim, podemos dizer que a  mortalidade natural de pragas em campo provocada pelos inimigos naturais é considerada uma das bases do MIP.

inimigos naturais de pragas agrícolas

Bases e alicerces do MIP, com destaque para a mortalidade natural de pragas e o uso do controle biológico de pragas com inimigos naturais como grandes responsáveis
(Fonte: José Roberto Postali Parra)

Em campo, a ação de inimigos naturais sobre a população de pragas pode ser ilustrada pela figura abaixo.

Eles atuam reduzindo a população da praga e a mantém abaixo do nível de controle e/ou em uma posição geral de equilíbrio dinâmica, na qual as pragas agrícolas não podem causar danos.

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Dinâmica de pragas após a atuação de um inimigo natural
(Fonte: José Roberto Postali Parra)

Atualmente, com a falta de novos inseticidas, o controle biológico aplicado de pragas, por meio da liberação de inimigos naturais, tem crescido vertiginosamente no mercado.

Como preservar os inimigos naturais de pragas agrícolas?

O primeiro passo para conservar os inimigos naturais de pragas agrícolas na lavoura é conhecê-los. É fácil o agricultor confundi-los com outros insetos, então é preciso bastante atenção.

Na figura abaixo temos uma larva de bicho-lixeiro. Ele é um importante predador de ovos e larvas de lepidópteros-praga nos agroecossistemas.

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Larva de crisopídeo (bicho-lixeiro) amostrada durante monitoramento de pragas com pano de batida
(Fonte: Arquivo pessoal do autor)

A sua confusão com alguma praga é muito prejudicial, já que nas lavouras, se o agricultor pulverizar de forma desnecessária, poderá desfavorecer esses inimigos naturais.

Caso haja dificuldades na identificação, na cartilha desenvolvida pela Embrapa o agricultor e o técnico responsável pode identificar os principais inimigos naturais acessando esses aplicativos.

Além disso, a pesquisadora da Embrapa, Alessandra de Carvalho Silva, idealizou o aplicativo Guia InNat que também ajuda na identificação dos inimigos naturais no campo.

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Quem é quem entre os inimigos naturais de pragas agrícolas?

Traçando um paralelo com as pragas-chaves das culturas agrícolas, nós também temos os inimigos naturais chaves (predadores, parasitoides e entomopatógenos).

Os inimigos naturais chaves são os maiores responsáveis pela regulação populacional da praga alvo.

Na cultura do algodão, por exemplo, as joaninhas são consideradas predadores-chave da lagarta-das-maçãs. Elas provocam elevados índices de mortalidade da praga ao  alimentarem dos seus ovos.

Já na cultura da soja, Copidosoma sp. é um parasitoide da lagarta falsa-medideira. Assim como o fungo entomopatogênico Metharizium (=Nomurea) rileyi e o vírus Baculovírus anticarsia, ambos, sobre a lagarta da soja.

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Lagarta falsa-medideira da soja contaminada com baculovirus e o fungo M. riley (doença branca) e ovos de Helicoverpa infectados com o fungo Cladosporium sp.
(Fonte: arquivo pessoal do autor)

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Lagarta Helicoverpa armigera parasitada por Ophion sp. em lavoura de soja
(Fonte: arquivo pessoal do autor)

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Podisus nigrispinus predando a lagarta Spodoptera cosmioides
(Fonte: arquivo pessoal do autor)

Níveis de não-ação (NNA) de pragas

Mas enfim, qual a importância de se conhecer os inimigos naturais de pragas agrícolas e preservá-los na minha lavoura?

No Manejo Integrado de Pragas, o nível de não-ação é a relação dos inimigos naturais-chave/ praga-chave que indica a decisão de não agir contra a praga por previsão da ação do controle biológico efetivo posteriormente.

Como exemplo, temos para a lagarta das maçãs o nível de não-ação de 1 predador-chave para cada ovo da praga.

Além disso, quando 15-20% dos ponteiros da planta de algodão apresentar 1 percevejo predador da família Miridae, prevê-se que 80-100% dos ovos de lagarta das maçãs serão consumidos.

Ainda no algodão, estudo mostraram que até 0,4 formigas da espécie Solenopsis sp. amostrados por ponteiro batido de algodão provoca controle da praga em 90% das vezes.

Ainda pouco difundido e com poucas informações no Brasil, é importante compreender a importância da manutenção dos inimigos naturais na lavoura.

Manejando os inimigos naturais de pragas agrícolas através da paisagem agrícola

Sabendo a importância dos inimigos naturais de pragas agrícolas, sabemos também que devemos preservá-los.

Para isso podemos fazer de diversas maneiras, mas aqui abordarei apenas duas principais.

Assim, entre a 1ª estratégia é a manipulação do ambiente através do plantio de culturas secundárias. Essas culturas podem atrair os inimigos naturais para a cultura principal ou de interesse.

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Estratégia de manipulação ambiental para favorecer o incremento de inimigos naturais na área
(Fonte: Amtecbioagricola)

A 2ª estratégia é o consórcio da cultura principal com outra espécie vegetal (10% ou menos da área cultivada) para atração de inimigos naturais de pragas agrícolas.

Desse modo, podemos citar diversas práticas já testadas e que tiveram bons resultados, como os consórcios de: alfafa, milho e sorgo com algodão e sorgo na cultura do tomate.  Outros exemplos:

  • Milho no algodão: um estudo com milho no México mostrou que a presença de 6 linhas de milho para cada 20 de algodão aumentou a população de Chrysopa carnea 3 vezes ou mais.
  • Sorgo no algodão: o sorgo granífero permitiu a transferência de insetos predadores para o algodão. Assim, controlou mais pragas dessa cultura, como as espécies de pulgão Rhopalosiphum maidis e Schizaphis graminum, uma vez que não ocorrem no algodão mas atacam o sorgo.

Manejando os inimigos naturais de pragas agrícolas através do controle químico

Você provavelmente deve estar se perguntando se possível preservar os inimigos naturais de pragas agrícolas com os inseticidas.

Isso porque na prática sabemos da importância de fazer uso desses defensivos agrícolas no controle de pragas.

Para compatibilizar o controle com inimigos naturais e o químico, o agricultor deve priorizar o uso de inseticidas naturais ou mais seletivos. Eles são mais específicos às pragas e causam baixa toxicidade aos inimigos naturais.

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Quadro geral de seletividade dos inseticidas a favor dos inimigos naturais
(Fonte: Embrapa Agrobiologia)

A possível aplicação de agroquímicos pouco seletivos poderá causar o desequilíbrio biológico, por eliminar os inimigos naturais de pragas agrícolas, comprometendo o manejo.

Isso ocorre porque praga não possui competidores (predadores, parasitoides, entomopatógenos) e tem seu crescimento populacional facilitado.

Assim, o agricultor deve priorizar produtos seletivos, ou seja, tóxicos as pragas e inofensivos aos inimigos naturais,  especialmente na fase inicial de desenvolvimento da cultura.

Recomenda-se utilizar inseticidas pouco seletivos, como os piretróides ou organofosforados, no fim do ciclo da cultura.

No entanto, há casos emergenciais que não podemos optar por algum produto mais seletivo em fase inicial de cultivo.

Nessas situações, busque a seletividade ecológica do produto. Por exemplo, aplique em faixas ou em momentos em que o inimigo natural estará menos exposto à ação direta do agroquímico.

Conclusão

Os inimigos naturais são importantes dentro do contexto do manejo integrado de pragas e devem ser preservados por meio de medidas que lhes favoreça.

Isso inclui tal como o uso de agroquímicos seletivos e manipulação ambiental.

Além disso, é importante lembrar que um programa de controle biológico não deve ser implementado se não estiver em conjunto com outros programas que discutimos aqui.

Com todas essas dicas você conseguirá fazer um manejo muito melhor dos inimigos naturais, obtendo um controle de pragas muito mais efetivo e até mesmo econômico!

>>Leia mais:

11 pragas da soja que podem acabar com sua lavoura”

Pragas quarentenárias: entenda os tipos e o que fazer para impedir sua presença

“Biofungicidas: quando vale a pena usá-los para o controle de doenças na lavoura?”

Como você faz o manejo de inimigo naturais de pragas agrícolas hoje? Tem mais alguma dica? Deseja saber mais sobre o assunto? Deixe seu comentário abaixo!