About Bruna Rohrig

Sou agrônoma pela Universidade Federal da Fronteira Sul, mestra em fitossanidade pela Universidade Federal de Pelotas e doutoranda em fitotecnia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul na área de pós-colheita e sanidade vegetal. Tenho experiência em fitopatologia, controle de doenças de plantas e pós-colheita de grãos e sementes.

Por que o controle biológico com Trichoderma pode ser uma boa opção para sua lavoura

Controle biológico com Trichoderma: entenda como o fungo pode auxiliar no controle de doenças, seus mecanismos de ação, cuidados e recomendações de aplicação.

O uso de biopesticidas no controle de pragas e doenças impacta positivamente na produtividade. Ele reduz perdas e custos, e garante uma produção cada vez mais  sustentável.

Fungos do gênero Trichoderma spp. podem promover crescimento às mais diversas culturas, como cereais e grãos. 

Estes microrganismos podem aumentar a produtividade em até 60%, além de melhorar a tolerância das culturas aos estresses. 

Neste artigo, você verá as características desse fungo, os mecanismos de ação, a quais doenças é recomendado e os cuidados necessários na aplicação. Boa leitura!

Características do gênero Trichoderma

Trichoderma é um fungo encontrado naturalmente nos solos, em populações variáveis. 

Eles representam um grupo de diversas espécies de interesse agrícola. São capazes de controlar uma gama de doenças de plantas.

Aspecto visual das estruturas fúngicas de Trichoderma spp. à esquerda e colônias de diferentes espécies à direita, demonstrando variação da coloração entre isolados e espécies

Aspecto visual das estruturas fúngicas de Trichoderma spp. à esquerda e colônias de diferentes espécies à direita, demonstrando variação da coloração entre isolados e espécies
(Fonte: Bhaszcyet al., 2014)

São decompositores de madeiras e matéria orgânica. 

Atualmente, existem mais de 200 espécies do gênero. Elas possuem diferentes potenciais para a proteção dos cultivos, promoção de crescimento e tolerância aos estresses.

Têm alta capacidade de colonizar a rizosfera, região do solo influenciada pelas raízes. Ela tem máxima atividade microbiana, localizada próximo às raízes das plantas.

Esses fungos também colonizam diversos outros substratos, sob diferentes condições ambientais.

Representação visual das raízes de uma planta, e do local onde localiza-se a rizosfera (em marrom). A rizosfera é rica em compostos liberados pelas raízes, atrativos aos microrganismos presentes no solo

Representação visual das raízes de uma planta, e do local onde localiza-se a rizosfera (em marrom). A rizosfera é rica em compostos liberados pelas raízes, atrativos aos microrganismos presentes no solo
(Fonte: Cardoso et al., 2016)

Esse gênero também tem a capacidade de produzir estruturas de resistência no solo. As estruturas permitem a sua sobrevivência por longos períodos e em condições adversas.

Mecanismos de ação para o controle de doenças de plantas

Os mecanismos de ação de controle de fitopatógenos por fungos do gênero Trichoderma incluem:

  • micoparasitismo;
  • antibiose;
  • competição;
  • indução de defesas ou resistência nas plantas.

A seguir, veja um pouco sobre como funciona cada um dos mecanismos de ação.

Micoparasitismo

Os fungos Trichoderma se alimentam absorvendo nutrientes por meio de estruturas chamadas hifas. 

As hifas penetram o tecido do hospedeiro e liberam enzimas que degradam a parede celular dos fitopatógenos.

A grande diversidade de enzimas degradadoras de parede celular, produzidas pelo fungo, impossibilita a defesa dos patógenos alvos.

Essas enzimas interferem na germinação de esporos, crescimento de hifas e desenvolvimento de estruturas de resistência pelos patógenos.

Antibiose

O fungo inibe os demais microrganismos fitopatógenos que também se desenvolvem no solo, a partir da produção de metabólitos secundários (tóxicos).

Os metabólitos, combinados com a ação das enzimas degradadoras, já foram relatados efetivos no controle de pulgões

Eles possuem capacidade entomopatogênica.

Competição

Caracteriza-se pelo comportamento/crescimento desigual de dois organismos.

Ambos competem por recursos essenciais à sobrevivência, como nutrientes, oxigênio, espaço, luz, dentre outros.

Fungos do gênero Trichoderma possuem vantagens no ambiente, como:

  • rápido crescimento e estabelecimento;
  • produção de enzimas (micoparasitismo);
  • produção de compostos metabólitos secundários tóxicos (antibiose).

São considerados ótimos competidores e oportunistas. Apresentam grande adaptabilidade. Eles podem crescer sobre uma gama de fontes de carbono, nitrogênio e diferentes temperaturas.

esquema de mecanismos de ação de Trichoderma no controle de fitopatógenos e produção de compostos relacionados à promoção de crescimento em plantas

Mecanismos de ação de Trichoderma no controle de fitopatógenos e produção de compostos relacionados à promoção de crescimento em plantas
(Fonte: adaptado de Konappa et al., 2020)

Confronto direto in vitro à esquerda, de isolado de Trichoderma (representado pela letra T na figura) e o patógeno Sclerotinia sclerotiorum, causador do mofo branco em diversas culturas, incluindo a soja (representado pelas letras Ss). À direita é possível observar o fungo biocontrolador Trichoderma spp. envolvendo as estruturas de S. sclerotiorum

Confronto direto in vitro à esquerda, de isolado de Trichoderma (representado pela letra T na figura) e o patógeno Sclerotinia sclerotiorum, causador do mofo branco em diversas culturas, incluindo a soja (representado pelas letras Ss). À direita é possível observar o fungo biocontrolador Trichoderma spp. envolvendo as estruturas de S. sclerotiorum
(Fonte: Eriston Vieria Gomes, 2015)

Indução de resistência e promoção de crescimento

Os fungos Trichoderma auxiliam na disponibilização de nutrientes presentes no solo que não estavam prontamente disponíveis às plantas. Como consequência:

  • aumentam a porcentagem e taxa de germinação de sementes;
  • estimulam as defesas das plantas contra estresses;
  • tornam o fósforo absorvível pelas plantas;
  • auxiliam na aquisição de nutrientes, devido ao aumento da expressão de genes relacionados;
  • promovem crescimento pela produção de auxinas e metabólitos que favorecem o desenvolvimento de raízes mais vigorosas e profundas. Através dessa característica, auxiliam na tolerância à seca;
  • incrementam a absorção de nutrientes e desenvolvimento de pêlos absorventes nas raízes laterais do sistema radicular;
  • aumentam a superfície de absorção de nutrientes pelas raízes;
  • provocam diminuição dos níveis de etileno nas plantas, favorecendo seu crescimento;
  • ajudam no incremento da massa seca, conteúdo de amido e açúcares solúveis, e eficiência fotossintética;
  • interferem positivamente na assimilação de nitrogênio;
  • ativam a resistência sistêmica induzida, a partir de fitormônios.

Aplicação de produtos à base de Trichoderma para o controle de doenças de plantas

Diversas espécies de Trichoderma spp. podem ser utilizadas no controle de doenças, especialmente aquelas causadas por fungos e nematoides

É importante que a bula, bem como a dose recomendada pelo fabricante, seja rigorosamente utilizada. 

Embora diversos produtos sejam formulados a partir da mesma espécie de Trichoderma, existem distinções quanto à gama de doenças que eles podem controlar.

Além disso, embora seja um produto biológico, doses excedentes podem causar problemas aos cultivos.

Confira a seguir alguns produtos indicados e para o controle de quais doenças são recomendados:

Espécies do gênero Trichoderma e pragas alvo a quais são recomendados.

tabela com produtos indicados e para o controle de quais doenças são recomendados

(Fonte: elaborada pela autora a partir da consulta do Sistema de Agrotóxicos fitossanitários (Agrofit))

Informações e cuidados importantes: manipulação e aplicação de Trichoderma spp.

  • O mesmo microrganismo, da mesma espécie, pode ter indicações de controle de doenças distintas, conforme o isolado e comprovação pelo fabricante;
  • Condições meteorológicas devem ser ideais para aplicação dos produtos biológicos, para garantir que eles possam se estabelecer adequadamente sobre a cultura. Evite a aplicação em dias muito quentes e secos;
  • A temperatura ideal de aplicação varia entre 20 ℃ a 35  ℃;
  • Faça a aplicação preferencialmente no final da tarde ou à noite, em dias nublados ou com garoa fina;
  • Evite a exposição a dias muito ensolarados e muito quentes ou frios (superior a 35  ℃ e inferior a 20  ℃). Essas condições podem inviabilizar as estruturas do fungo;
  • Consulte sempre a compatibilidade do formulado à base de Trichoderma spp. com defensivos químicos. Assim você evita a redução ou até mesmo ineficiência do produto biológico na cultura;
  • Existem diversos produtos que possuem em sua formulação mais de uma espécie do gênero Trichoderma;
  • Armazene o produto em local seco e fresco (4 ℃) para durabilidade máxima em prateleira (consulte a bula do produto).

Principais vantagens do controle biológico com Trichoderma

A aplicação de biopesticidas, especialmente os do gênero Trichoderma, incluem uma série de vantagens, como:

  • redução da contaminação humana e ambiental pelo uso de moléculas químicas;
  • introdução de agentes benéficos no ambiente agrícola, que ali se estabelecem e promovem uma série de benefícios;
  • controle de diversos fitonematoides, que normalmente são de difícil controle;
  • custo próximo ou inferior ao empregado no uso de defensivos químicos;
  • manejo de resistência de pragas às moléculas químicas, uma vez que esses microrganismos possuem diferentes mecanismos de ação.

Desvantagens

É necessário se atentar a algumas questões, que podem ser desvantajosas em  determinadas situações: 

  • na conduta do fabricante, para que o produto contenha o número de células ou colônias viáveis adequado, para sua correta eficiência;
  • nas condições de armazenamento, tanto enquanto o produto é distribuído entre os fornecedores quanto com o consumidor final. Nessa etapa, é importante que o produto não seja submetido a temperaturas inadequadas;
  • na durabilidade do produto depois de aberto, que é limitada;
  • no tempo de resposta no tratamento, que é variável em função de uma série de fatores, incluindo a temperatura e umidade em que o produto é aplicado. Esse tempo pode não ser imediato (quando comparado ao uso de moléculas químicas). 

Conclusão

Nesse artigo, você conheceu um pouco mais sobre os fungos do gênero Trichoderma

Conheceu os mecanismos de ação envolvidos no controle de doenças de plantas e sua aplicabilidade, inclusive no controle de pragas, como pulgões.

É importante que você tome cuidados antes da aplicação destes produtos. Armazene em locais frescos, secos e arejados conforme indicado na bula do produto, e siga rigorosamente as orientações.

Além disso, vale reforçar que a lista de patógenos que podem ser controlados é grande.

Você sempre deve conferir a bula do produto. Os patógenos que são controlados e as culturas em que a aplicação é recomendada podem variar.

>> Leia mais: “Como o baculovírus pode controlar as pragas na sua lavoura”

Você já realizou o controle biológico com Trichoderma na sua lavoura? Ficou com alguma dúvida? Deixe aqui nos comentários que terei o prazer em te auxiliar. 

Sementes de soja: como escolher a melhor variedade e garantir alta produtividade

Sementes de soja: como escolher a variedade mais produtiva, importância do uso de sementes certificadas, manejo de produção, beneficiamento e doenças associadas a sementes

Fazer uma boa escolha da semente de soja é fundamental e um dos primeiros passos para obter uma lavoura de sucesso. Afinal de contas, o uso de sementes de alta qualidade pode aumentar em até 20% sua produtividade. Não é pouca coisa!

E diante de centenas de cultivares de soja disponíveis no mercado, escolher a melhor semente nem sempre é tarefa simples. É preciso conhecer bem as características e considerar quais pontos são mais importantes para o seu caso: mais resistência a pragas e doenças, ciclo mais longo ou mais curto, por exemplo.

Para alcançar o melhor potencial produtivo é preciso ter atenção a vários pontos, a começar pela alta qualidade das sementes. Saiba mais sobre todo esse processo no artigo a seguir!

O que é uma semente de soja de alta qualidade?

Escolher uma semente de alta qualidade é fundamental para uma boa produção de soja. As sementes são responsáveis pelo estabelecimento adequado do estande inicial das plantas e, consequentemente, por altas produtividades.

Sementes de alta qualidade são aquelas que apresentam todos os atributos fisiológicos, físicos, sanitários, genéticos e de pureza.

No momento da escolha, opte por sementes certificadas. Elas estão dentro do padrão de qualidade estabelecido pela legislação.

Apesar da qualidade da semente ser estabelecida no campo de produção de sementes, alguns cuidados são essenciais para a manutenção dessa qualidade. Isso envolve a escolha da cultivar e outros pontos que veremos neste artigo.

Sementes de soja de alta qualidade

Sementes de soja de alta qualidade
(Fonte: Jovenil José da Silva, 2016)

Como escolher a melhor semente de soja para plantio

Além de observar a produtividade, para escolher a melhor semente de soja para plantio é fundamental observar características como:

A chave para o sucesso da semeadura é planejamento. Planejar e analisar qual a melhor cultivar para sua fazenda, é essencial.

Alguns produtores deixam de lado as recomendações para estar de olho no que o vizinho vai semear; outros estão ligados nas novas tecnologias e há até os que esperam o que a cooperativa vai indicar.

Mas para todos eles e, tenho certeza que para você também, o que mais importa é a produtividade da variedade de soja e adaptação para a região de cultivo. Então esteja muito atento a esses fatores listados e também a questões da sua região.

Quais as variedades de soja mais produtivas para cada região?

Anualmente, ensaios para avaliação da produtividade dos materiais genéticos disponíveis no mercado são publicados. Eles podem ser consultados em sites como Embrapa Soja, Fundação Pró-sementes, Fundação MT e Fundação MS.

A partir desses materiais, é possível consultar quais variedades de soja são mais produtivas nas diferentes regiões sojícolas do país. 

Ano agrícola e oscilações de precipitações e temperaturas também são considerados. 

As cultivares de soja utilizadas devem ser recomendadas para a sua região, de acordo com o zoneamento agrícola.

Manejo das sementes para plantio

Como já dito, a escolha das sementes é fator-chave para o sucesso produtivo da lavoura. Por isso, há pontos muito importantes que devem ser considerados, como:

Sementes certificadas passam por processos rigorosos de produção, controle de pragas, insetos e doenças. Além disso, passam por controle de qualidade, e possuem material genético de elevada pureza.

A germinação mínima que um lote de sementes de soja deve ter para ser comercializado é de 80%.

Porém, lotes com germinação de 90% ou 80% podem ter o vigor semelhante. Por isso, testes são importantes para conhecer o vigor do lote de sementes.

Sementes podem apresentar elevada germinação no teste, mas possuírem baixo vigor.

Inoculação da semente de soja com bactérias como Bradyrhizobium, fixadoras de nitrogênio e o tratamento industrial de sementes (TSCI) são indispensáveis.

Esses cuidados servem para fornecer um bom estande, uniformidade da lavoura e proteção às sementes no solo, que estarão suscetíveis a patógenos.

Nós falamos mais sobre a inoculação de sementes neste vídeo:

Produtividade da soja: tudo sobre inoculação de sementes e adubação nitrogenada

Aplicação de micronutrientes como molibdênio e cobalto, via foliar, no estádio  V4 da soja, são importantes para garantir o sucesso da fixação biológica de nitrogênio.

Mas atenção: o tratamento de sementes de soja deve ser realizado imediatamente antes do plantio. O armazenamento das sementes após o tratamento não é recomendado, pois há redução na qualidade.

Opte sempre pelo tratamento de sementes industrial. Ele oferece maior uniformidade, economia de produtos, menor poluição ambiental, alvo mais controlado e controle de qualidade.

O tratamento de sementes on-farm, ou seja, dentro da fazenda, não é recomendado. Ele pode causar problemas com recobrimento uniforme das sementes, descarte de embalagens, intoxicação, além da falta de controle de qualidade da aplicação.

Danos por estresse em sementes de soja 

É indispensável conhecer quais estresses climáticos podem estar relacionados aos danos observados no campo. Esses estresses podem ser causados por:

  • elevadas temperaturas, especialmente no período de enchimento de grãos
  • restrição hídrica ou excesso de precipitações;
  • umidade;
  • percevejos.

Leia um pouco mais sobre cada um deles:

Excesso hídrico

Especialmente na fase de pré-colheita, o estresse hídrico provoca enrugamento das sementes. Isso acontece por causa da expansão e contração dos tecidos.

Sementes enrugadas devido a deterioração por umidade

Sementes enrugadas devido a deterioração por umidade
(Fonte: José de Barros França-Neto, 2018)

Déficit hídrico e elevadas temperaturas

A temperatura e umidade relativa influenciam no processo de maturação das sementes.

A rápida secagem não degrada a clorofila das sementes no mesmo grau que a secagem lenta. Isso deixa as sementes esverdeadas.

Sementes esverdeadas devido ao déficit hídrico e elevadas temperaturas durante o enchimento dos grãos

Sementes esverdeadas devido ao déficit hídrico e elevadas temperaturas durante o enchimento dos grãos
(Fonte: Danilo Estevão, 2015)

Essas condições durante o enchimento de grãos causam sementes com menor germinação e vigor, pequenas, menos densas, imaturas ou verdes, enrugadas ou deformadas.

Temperaturas elevadas 

As temperaturas elevadas podem causar sementes com depressões nos cotilédones. Além disso, podem gerar abertura parcial dos cotilédones do lado oposto ao eixo embrionário.

Sementes com cotilédones abertos, esverdeadas e sementes com depressão nos cotilédones, danos causados principalmente por altas temperaturas

Sementes com cotilédones abertos, esverdeadas e sementes com depressão nos cotilédones, danos causados principalmente por altas temperaturas
(Fonte: Zorato, 2019)

Umidade

Colheita de sementes com alto grau de umidade (a partir de 18%) provoca amassamento.

Colheita com grau de umidade muito baixo (abaixo de 13%) provoca trincamentos.

Esses trincamentos diminuem o tempo de armazenamento e facilitam a entrada de insetos e fungos.

Há muitas situações que só são visualizadas através do teste de tetrazólio

Esse teste é realizado por laboratórios de análise de sementes, e é um dos mais importantes para avaliação da qualidade de sementes de soja. 

Ele analisa o poder germinativo e o vigor, além de verificar aspectos como:

  • a perda do poder germinativo e vigor;
  • rachaduras no tegumento;
  • quebra das sementes;
  • lesões no eixo embrionário (de onde serão emitidas as raízes e a parte aérea das plântulas);
  • cortes;
  • amassamentos.

A emergência em campo também é um teste bastante utilizado para avaliar o vigor das sementes e seu estande. 

Teor de água das sementes e temperatura de secagem

A cultura da soja é colhida com diferentes umidades ou teores de água. Isso acontece de acordo com a disponibilidade ou finalidade de secadores.

A colheita é realizada assim que as sementes atingem teor de água entre 15% e 18%.

Para que a qualidade da semente de soja seja garantida, realize a secagem artificial.

Para essa operação, você deve se atentar para a temperatura da massa de sementes, de acordo com o teor de água dos grãos. Confira na tabela abaixo!

 Grau de umidade da semente (%) e temperatura da massa de sementes (ºC)

 Grau de umidade da semente (%) e temperatura da massa de sementes (ºC)
(Fonte: Krzyzanowski et al., 2015)

Danos por percevejos

Os percevejos são os insetos que mais causam danos na cultura da soja. Afetam significativamente a qualidade fisiológica do lote de sementes e a qualidade sanitária.

Quando os percevejos picam as sementes, injetam em seus tecidos enzimas e a levedura Nematospora coryli, associada a fungos como Alternaria spp. e Fusarium spp.

A consequência é a deterioração e a redução da viabilidade das sementes durante o armazenamento.

Os danos por percevejo podem ser visualizados diretamente ou pelo teste de tetrazólio.

O teste fornece informações importantes sobre a saúde da lavoura, norteando a tomada de decisão sobre quais estratégias de manejo devem ser adotadas.

Lesões necróticas em sementes de soja, resultante da picada por percevejos

Lesões necróticas em sementes de soja, resultante da picada por percevejos
(Fonte: Krzyzanoeski et al., 2015)

Qual teste é o mais adequado para o monitoramento dos danos na lavoura?

O teste de tetrazólio é o mais indicado, porque fornece informações valiosas. 

Por meio dele, é possível verificar se:

  • a velocidade de colheita está adequada;
  • as sementes estão sendo colhidas com a umidade adequada;
  • a lavoura apresenta infestação por pragas e doenças.

A maioria dos danos não pode ser visualizada a olho nu. 

Pelo teste de tetrazólio, as sementes absorvem (a depender de sua qualidade) o sal que colore seus tecidos, indicando quais fatores estão associados a sua deterioração.

Cuidados com os danos mecânicos

Danos mecânicos influenciam diretamente na qualidade das sementes. Para evitá-los, alguns cuidados devem ser tomados:

  • teor ou grau de umidade em que as sementes são colhidas;
  • velocidade e o tipo de máquina utilizada.

Colhedoras de sistema de trilha axial ou longitudinal podem causar menos dano mecânico às sementes.

Em sistemas tangenciais de trilha, podem ser utilizados sistemas de polias. Isso reduz ainda mais a velocidade do cilindro batedor, a níveis de rotação abaixo de 300-400 rpm.

Colheita entre 12% e 14% de graus de umidade causam menores danos mecânicos.

Beneficiamento e armazenamento de sementes de soja

Há casos de maiores volumes de sementes, onde sementes maiores provocam a retenção de sementes menores e com boa qualidade. Os descartes podem ser superiores a 5%.

Nesses casos, alterne as posições entre o separador em espiral e o padronizador (peneiras de classificação).

Etapas do beneficiamento de sementes de soja

Etapas do beneficiamento de sementes de soja
(Fonte:  Krzyzanoeskiet al., 2015.)

O armazenamento seguro das sementes deve ser realizado em temperaturas inferiores a 25 °C . A umidade relativa do ar deve ser inferior a 70%.

A limpeza das sementes e a remoção de matérias estranhas e impurezas são de extrema importância para a conservação ao longo do armazenamento. 

O controle de temperatura e umidade também é indispensável.

Em armazenamento de longo prazo, recomenda-se temperaturas entre 10°C e 15°C, e umidade relativa do ar entre 50% e 60%.

7 principais cuidados no armazenamento das sementes de soja

Após a compra, as sementes provavelmente ficarão armazenadas em sua fazenda até o momento ideal para a semeadura.

Este armazenamento deve ser realizado de maneira adequada para preservar a qualidade inicial das sementes, evitando sua deterioração.

Você sabe quais cuidados deve ter durante esse período?

  1. opte por um galpão bem ventilado e com piso;
  2. realize a dedetização do ambiente, deixando-o livre de fungos e roedores;
  3. não deixe suas sementes em contato direto com o chão. Você pode colocar os sacos em estrados de madeira;
  4. evite o contato direto de suas sementes com as paredes do galpão;
  5. evite armazenar neste mesmo galpão outros materiais como adubos, calcários e defensivos agrícolas;
  6. evite deixar suas sementes no sol. Lembre-se: sementes são seres vivos;
  7. a temperatura dentro da unidade de armazenamento não deve ultrapassar 25ºC e a umidade do ar deve ficar na faixa de 70%.

Em regiões muito quentes, o indicado é que as sementes sejam armazenadas em unidades construídas para essa finalidade, com controle de umidade e temperatura.

Outra opção é a utilização de galpões com material isolante de calor para evitar elevação acentuada de temperatura.

O maior problema durante o armazenamento é a combinação inadequada de alta temperatura + alta umidade.

Essa situação diminui a qualidade da semente e, consequentemente, a porcentagem de germinação e o vigor.

Quanto melhores as condições de armazenamento, maior a longevidade das sementes.

Durante o período de armazenamento, a inspeção periódica é fundamental para evitar a proliferação de insetos e pragas.

Doenças associadas às sementes de soja

Diversos patógenos podem ser transmitidos por sementes. O controle de qualidade, o tratamento de sementes industrial e a aquisição de sementes certificadas são fundamentais. 

Esses cuidados evitam o estabelecimento de patógenos na cultura, e até mesmo para áreas consideradas livres.

Além disso, fungos de armazenamento podem se desenvolver nas sementes. Isso ocorre especialmente quando elas não possuem controle de qualidade, como no caso das sementes salvas.

Fungos como Cladosporium sp., Aspergillus sp., Fusarium sp. e Penicillium sp., podem reduzir o vigor do lote de sementes. Posteriormente, impactam no estabelecimento das plântulas no campo.

Vale lembrar que sementes vigorosas e de boa qualidade podem tolerar condições adversas durante o processo germinativo e de estabelecimento de plântulas.

Dentre os principais patógenos transmitidos por sementes, destacam-se:

  • Podridão seca/seca da haste (Phomopsis spp. anamorfo Diaporthe spp.);
  • Antracnose (Colletotrichum truncatum);
  • Fusariose (Fusarium pallidoroseum (syn. F. semitectum));
  • Mancha púrpura (Cercospora kikuchii);
  • Mofo branco (Sclerotinia sclerotiorum (confundido com matérias estranhas e impurezas)).
Sementes de soja infectadas pelos fungos Phomopsis sp. (A); Colletotrichum truncatum (B); Fusarium pallidoroseum (sin. F. semitectum) (C) e Cercospora kikuchii (D)

Sementes de soja infectadas pelos fungos Phomopsis sp. (A); Colletotrichum truncatum (B); Fusarium pallidoroseum (sin. F. semitectum) (C) e Cercospora kikuchii (D)
(Fonte: Ademir Assis Henning e José de Barros França-Neto, 2018)

É possível avaliar na propriedade o vigor do lote de sementes?

A resposta é sim, pelo teste de canteiro ou emergência em canteiro. Para que os resultados expressem o potencial verdadeiro do lote de sementes, ele deve ser conduzido seguindo rigorosamente a metodologia padrão.

Além disso, os testes devem ser realizados em temperaturas na faixa de 20°C a 30°C

Temperaturas inferiores a 15°C e superiores a 30°C  poderão comprometer os resultados reais do vigor dos lotes.

A metodologia na íntegra pode ser consultada no Comunicado Técnico 136, elaborado pela Embrapa.

Veja algumas informações que podem te ajudar a realizar o teste de emergência em canteiros:

  • não utilize canteiros de hortas domésticas (podem conter patógenos, causando interferência no teste);
  • utilize solo coletado em lavoura, em camada superficial de 0-20 cm de profundidade;
  • não reaproveite o mesmo solo para outros testes. O solo deve ser trocado.
  • a profundidade de semeadura deve ser a mesma para todas as sementes: 3 centímetros;
  • utilize quatro repetições de 100 sementes para cada lote/amostra testada;
  • cada repetição com 100 sementes deverá ser semeada em um único sulco contínuo, respeitando o espaçamento entre si (para facilitar, você pode usar uma régua guia ou uma trena, para que a semeadura seja em espaçamentos iguais);
  • atente-se para a irrigação, que não deve ser realizada imediatamente a semeadura, evitando assim danos por embebição das sementes;
  • a irrigação deve ser realizada na manhã seguinte (cerca de 10 mm), e nos dias seguintes;
  • as contagens da emergência das plântulas pode ser realizada entre o 5º e 6º dia, correspondendo ao índice de vigor, e do 8º ao 9º dia, calculando a média entre as quatro repetições de sementes. Assim, obtém-se a porcentagem média de emergência de plântulas a campo.

Interpretação dos resultados

  • média igual ou superior a 90%: vigor muito alto;
  • média entre 85% e 89%: vigor alto;
  • média entre 75% a 84%: vigor médio;
  • média igual ou inferior a 74%: vigor baixo.

Em lotes de sementes com vigor baixo, recomenda-se a substituição das sementes. A cada 100 sementes deste lote, aproximadamente 24 serão inviáveis.

Tecnologias utilizadas para aumento da produção

Anualmente, há lançamentos no mercado com o objetivo de melhorar os processos produtivos e incrementar a produção das culturas.

Novas tecnologias, aperfeiçoamento do manejo, materiais genéticos disponíveis, insumos e defensivos são alguns exemplos. Dentre as tecnologias utilizadas, a agricultura de precisão vem se destacando. 

Ela utiliza dados das áreas de produção ao longo dos anos, imagens e softwares geoestatísticos, em uma série de aplicações:

  • análise de solo localizada, com aplicação de fertilizantes em taxa variada, garantindo economia e aproveitamento do potencial produtivo dos diferentes talhões;
  • densidade de semeadura e população de plantas, de acordo com as características e potencial produtivo da área;
  • mapeamento de pragas e doenças, com aplicação localizada de defensivos, conferindo economia e menor impacto ambiental;
  • uso de drones para aquisição de imagens, monitoramento do seu estado nutricional e sanitário, além de utilização na aplicação localizada de defensivos.

Outra tecnologia que vem ganhando notoriedade é o BiomaPhos

Ele é um inoculante desenvolvido com tecnologia nacional para a absorção de fósforo pelas culturas, elemento essencial para o desenvolvimento das plantas. 

Na última safra, lavouras tratadas com o inoculante produziram 4 sacas por hectare a mais do que as não tratadas. 

A estimativa é de que na próxima safra, mais de três milhões de hectares sejam tratados com o produto, com incrementos de produtividade de até 30%.

Banner de chamada para o download da planilha de controle de custos de safra

Conclusão

Neste artigo, você viu a importância da utilização de sementes de alta qualidade.

Viu que estresses estão associados aos danos nas sementes, e que se forem visualizados na lavoura, podem ser mitigados.

A importância do manejo e tratamento de sementes no desempenho da sua lavoura é um ponto importante.

Você conferiu ainda os principais cuidados que devem ser realizados com sua semente de soja e as novas tecnologias disponíveis

Assim, você pode ter uma produtividade melhor em sua lavoura!

>> Leia mais: 

“Como o tratamento de plasma em sementes pode impulsionar a germinação”

Como você escolhe sua semente de soja? Realiza algum cuidado? Quer saber mais sobre o assunto? Deixe seu comentário!

Fungos entomopatogênicos no controle de pragas: o que são e como utilizá-los na lavoura

Fungos entomopatogênicos no controle de pragas: saiba em quais culturas eles vêm sendo utilizados e como podem ser ótimos aliados na proteção do seu cultivo

Os fungos entomopatogênicos são ótimos aliados no controle de pragas

Esses microrganismos, embora passem despercebidos na lavoura, atuam como inimigos naturais de pragas.

Sua eficiência depende de um bom manejo integrado de pragas e doenças, como aplicação de defensivos compatíveis e de forma equilibrada.

Neste artigo, você verá como esses fungos te auxiliam no controle de pragas e quais cuidados devem ser tomados para garantir a eficiência do controle biológico.  Boa leitura!

O que são fungos entomopatogênicos?

Os fungos entomopatogênicos são organismos capazes de colonizar diversas espécies de pragas, causando epizootias (enfermidades que podem causar a morte ou interferir na alimentação e reprodução de insetos e ácaros).

Na cultura da soja,  eles são responsáveis pelo controle biológico de lagartas

Eles também atuam na proteção de diferentes cultivos contra a mosca-branca, cigarrinhas, ácaros, dentre outros insetos.

Beauveria bassiana e Metarhizium anisopliae são os fungos mais estudados e aplicados no controle de pragas, em diversas culturas.

Fungos entomopatogênicos no controle de pragas: atuação e utilização

Geralmente, os fungos entomopatogênicos atacam seus hospedeiros, penetrando e colonizando seus corpos.

A infecção ocorre em 6 etapas:

  • fixação do esporo na parte externa do corpo dos insetos;
  • germinação das estruturas fúngicas sobre o corpo dos insetos;
  • penetração através da cutícula, atingindo o interior do corpo do inseto;
  • desencadeamento de respostas de defesa imunológica pelos insetos ou ácaros hospedeiros, superando-as;
  • proliferação dentro do corpo do hospedeiro, formando suas estruturas fúngicas de disseminação;
  • crescimento no hospedeiro já morto, produzindo novas estruturas de disseminação.

O sucesso da colonização dos entomopatógenos depende do estádio de desenvolvimento do hospedeiro alvo.

No caso das lagartas, por exemplo, quanto mais cedo os fungos colonizam seus corpos, mais efetivo será o controle pelos entomopatógenos.

Para que o fungo possa colonizar com sucesso o hospedeiro, é indispensável a alta umidade no ambiente. 

Em condições muito secas, a germinação dos fungos e a colonização dos hospedeiros pode não ocorrer. 

As condições ambientais no momento da aplicação dos produtos devem ser observadas.

Antes de produzir estruturas de disseminação e causar a morte do hospedeiro, os entomopatógenos podem afetar o inseto por meio de mudanças no comportamento alimentar, redução de peso, esterilidade e malformações.

Ciclo da relação patógeno-hospedeiro de Metarhizium anisopliae sobre a cigarrinha-da-raiz da cana-de-açúcar (Mehanarva fumbriolata)

Ciclo da relação patógeno-hospedeiro de Metarhizium anisopliae sobre a cigarrinha-da-raiz da cana-de-açúcar (Mehanarva fumbriolata)
(Fonte: adaptado de Alves, 1998 e Mascarin, 2010)

Utilização

A crescente demanda por defensivos agrícolas no controle de pragas têm revisitado a discussão sobre o manejo de resistência desses insetos pelas moléculas disponíveis no mercado.

Anualmente, o número de relatos de pragas (insetos e ácaros) e patógenos (doenças) resistentes às moléculas utilizadas no seu controle vem crescendo, preocupando produtores, técnicos e pesquisadores.

Utilizar microrganismos (como fungos) com potencial para controlar as pragas nas áreas de produção é uma alternativa interessante, de menor impacto ao meio ambiente, menor custo e alta eficiência.

Principais programas de controle biológico por fungos entomopatogênicos no Brasil

Os principais programas de controle biológico com fungos entomopatogênicos incluem o controle de pragas em diversas espécies agrícolas:

Cana-de-açúcar

  • cigarrinha-da-cana-de-açúcar (Mahanarva posticata e M. fimbriolata);
  • cupim da cana-de-açúcar (Cornitermes);
  • gafanhotos (Schistocerca pallens, Stiphra robusta e Rhammatocerus schistocercoides). Esses também causam danos em arroz e pastagens.
Mahanarva posticata (cigarrinha-da-cana-de-açúcar) à esquerda e M. fimbriolata  a direita, que causam danos nas folhas e raízes da cana-de-açúcar

Mahanarva posticata (cigarrinha-da-cana-de-açúcar) à esquerda e M. fimbriolata  a direita, que causam danos nas folhas e raízes da cana-de-açúcar
(Fonte: Agrolink)

duas fotos de Cornitermes cumulans (cupim-da-cana-de-açúcar)

Cornitermes cumulans (cupim-da-cana-de-açúcar)
(Fonte: Silva e colaboradores, 2021)

Schistocerca pallens - fungo entomopatogênico no controle de pragas

Schistocerca pallens
(Fonte: Moreira et al., 1999)

Pastagens 

As cigarrinhas-das-pastagens (Mahanarva, Deois e Zulia) podem afetar significativamente a oferta de alimentos na produção de gado de corte e leite em bovinos de leite.

Adulto de Deois flavopicta e sintomas de danos em milho

Adulto de Deois flavopicta e sintomas de danos em milho
(Fonte: Cruz et al., 2010)

Cafeeiro

A broca-do-cafeeiro (Hypothenemus hampei), é uma praga amplamente distribuída nas regiões produtoras de café, e pode ser controlada utilizando o fungo Beauveria bassiana.

A aplicação do produto deve ser iniciada quando 1 a 2% dos frutos estiverem broqueados, atingindo as partes da planta com maior infestação.

Hypothenemus hampei (broca-do-cafeeiro)

Hypothenemus hampei (broca-do-cafeeiro)
(Fonte:  Koppert)

Soja

A lagarta-da-soja (Anticarsia gemmatalis) e a falsa-medideira (Chrysodeixis includens), principais pragas da cultura da soja, podem causar danos em diversas espécies.

Alfafa, amendoim, arroz, ervilha, feijão, feijão-vagem e trigo são atingidos por essas lagartas, podendo sofrer até 100% de desfolha nestas culturas.

O controle de ambas as lagartas pode ser realizado com auxílio do fungo Nomuraea rileyi que, principalmente em anos úmidos, apresenta efeitos satisfatórios no controle de diversas espécies de lepidópteros na cultura da soja.

Mas atenção, Nomuraea rileyi ocorre naturalmente nos campos de produção se as condições ambientais forem favoráveis: umidade superior a 60%, e temperaturas entre 26 °C e 27 °C. 

Além disso, embora possa proporcionar até 90% de controle das lagartas, a aplicação de inseticidas, fungicidas e herbicidas pode diminuir sua efetividade.

Ovos, pupa e larva de quinto ínstar de Anticarsia gemmatalis

Ovos, pupa e larva de quinto ínstar de Anticarsia gemmatalis
(Fonte: Praça, Moraes e Monnerat, 2006.)

Lagarta, fase de pupa e mariposa (Chrysodeixis includens)

Lagarta, fase de pupa e mariposa (Chrysodeixis includens)
(Fonte: Agrolink)

Milho

Controle da lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda) a partir do fungo Beauveria bassiana.

Fases de desenvolvimento de Spodoptera frugiperda - lagarta-do-cartucho-do-milho

Fases de desenvolvimento de Spodoptera frugiperda – lagarta-do-cartucho-do-milho
(Fonte: Carneiro e colaboradores, 2004)

Como você pode utilizar os fungos a seu favor?

O controle das cigarrinhas é realizado através do fungo Metarhizium anisopliae, em concentrações de 500 g de esporos do fungo por hectare.  

Os fungos M. anisopliae e Beauveria bassiana apresentam alta efetividade no controle de cupins-de-montículo e da cana-de-açúcar. 

Aplique diretamente nos ninhos, em concentrações de 6 a 12 gramas da formulação em pó seco.

Para o controle de gafanhotos, utilize o fungo Metarhizium flavoride. Ele é produzido em arroz pré-cozido. 

As vantagens incluem menor uso de defensivos químicos, que podem causar desequilíbrios e contaminações ambientais, menos problemas para os aplicadores, e menor risco de resistência das pragas às moléculas químicas.

Diversidade de fungos entomopatogênicos colonizando diferentes insetos-praga. A) Aschersonia sp. em Bemisia tabaci, B) Lecanicillium longisporum em Orthezia praelonga, C) Isaria fimbriolata, E) Lecanicillium em Coccus viridis, F) Beauveria bassiana em Sphenophorus levis, G) B. bassiana em Hypothenemus hampei, H) B. bassiana em Anaestrpha sp

Diversidade de fungos entomopatogênicos colonizando diferentes insetos-praga. A) Aschersonia sp. em Bemisia tabaci, B) Lecanicillium longisporum em Orthezia praelonga, C) Isaria fimbriolata, E) Lecanicillium em Coccus viridis, F) Beauveria bassiana em Sphenophorus levis, G) B. bassiana em Hypothenemus hampei, H) B. bassiana em Anaestrpha sp
(Fonte: Mascarin & Pauli, 2010)

Na tabela de produtos disponíveis, que podem ser consultados no Sistema Agrofit, é possível observar que estes microrganismos podem ser utilizados para o controle de mais de uma praga de interesse agrícola, demonstrando amplo espectro de ação.

Veja na tabela a seguir os formulados biológicos a partir de fungos entomopatogênicos, recomendados para o controle de pragas.

formulados biológicos a partir de fungos entomopatogênicos, recomendados para o controle de pragas

Atenção: produtos de diferentes fabricantes, formulados a partir do mesmo agente biológico, podem conter cepas não efetivas a todas as pragas listadas.  Consulte a bula do produto previamente.

O que considerar no controle com uso de fungos entomopatogênicos 

Quando a aplicação de entomopatógenos é realizada no campo, diversos fatores podem interferir na sua capacidade de sobrevivência, propagação e infecção nos hospedeiros (pragas).

Compatibilidade com moléculas químicas

A compatibilidade dos agentes de controle biológico com agrotóxicos utilizados no manejo de pragas e doenças das culturas, como inseticidas, fungicidas e até mesmo herbicidas deve ser planejada e avaliada previamente.

Em estudos na cultura da cana-de-açúcar, por exemplo, inseticidas à base de tiametoxam foram considerados compatíveis.

Esses inseticidas não afetaram o crescimento micelial (uma das partes do fungo), a produção e viabilidade dos esporos de Beauveria bassiana e Metarhizium anisopliae.

Em contrapartida, fipronil é considerado parcialmente tóxico para ambos os fungos entomopatogênicos. Aldicarbe, um inseticida e nematicida, foi considerado tóxico para ambos os fungos.

Herbicidas como imazapir, glifosato e metribuzin foram considerados compatíveis a ambos os fungos, podendo ser utilizados no manejo das culturas aos quais são indicados.

Desta forma, em programas de MIP (Manejo Integrado de Pragas), é indispensável o conhecimento sobre a compatibilidade dos agentes de controle biológico, como os fungos entomopatogênicos e os produtos utilizados durante o ciclo da cultura.

Para realizar o MIP na sua lavoura, preparamos uma planilha que pode te ajudar. Baixe gratuitamente clicando na imagem a seguir:

Radiação solar, ultravioleta e temperatura 

A exposição à radiação solar, ultravioleta e temperaturas acima ou abaixo do ideal aos fungos, também podem influenciar no seu desempenho a campo, e devem ser observadas antes da sua aplicação.

A radiação UV pode afetar a sua eficiência, inativando os esporos do fungo, causando mutações e danos letais ao DNA. 

Além disso, causa a dessecação das estruturas dos fungos, impedindo sua germinação e posterior colonização dos insetos pragas.

Estudos simulando a radiação solar e ultravioleta aos fungos Metarhizium anisopliae e Beauveria bassiana identificaram sensibilidade à radiação, com redução da germinação dos esporos dos isolados em até 65%, comprometendo sua eficácia a campo.

Temperaturas entre 23,8 °C e 31 °C favoreceram a germinação dos conídios dos fungos, enquanto temperaturas próximas a 20 °C dificultaram a sua germinação.

Desta forma, antes da aplicação destes produtos a campo, observe as condições ambientais no dia da aplicação e nos subsequentes.

Assim você garante que os microrganismos possam se desenvolver em condições ambientais favoráveis.

Armazenamento, monitoramento da lavoura e aplicações de fungos entomopatogênicos

Os bioinseticidas (formulados a partir de fungos entomopatogênicos) devem ser armazenados em locais frescos, secos e sem luz, para melhor conservação e qualidade.

As pulverizações a campo devem ser realizadas assim que as pragas apresentarem os primeiros sinais de ataque, ou assim que sua presença for detectada.

O monitoramento da área deve ser constante. Os agentes de controle biológico serão mais efetivos se aplicados em estágios iniciais de desenvolvimento das pragas.

A bula, bem como as informações referentes às pragas as quais os produtos são efetivos, devem ser consultados. 

As pulverizações a campo devem ser realizadas preferencialmente após as 16 horas, pela menor incidência de raios ultravioletas que reduzem a efetividade dos microrganismos.

planilha manejo integrado de pragas MIP Aegro, baixe agora

Conclusão

Os fungos entomopatogênicos possuem um grande potencial no controle de diversas pragas de interesse agrícola.

O monitoramento e as aplicações desses ótimos aliados no tempo correto, assim que as pragas são identificadas na lavoura, é muito importante.

Lembre-se dos fatores relacionados ao sucesso deste tipo de controle: monitoramento da praga, das condições ambientais, além do cuidado no armazenamento e aplicação dos produtos.

>> Leia mais:

“Por que o controle biológico com Trichoderma pode ser uma boa opção para sua lavoura”

Você já utiliza algum fungo entomopatogênico no controle de pragas na sua fazenda? Ficou com alguma dúvida sobre o assunto? Compartilhe sua experiência com a gente! 

Cigarrinha-do-milho: danos e como fazer o controle eficiente dessa praga

Cigarrinha-do-milho: entenda sobre o potencial de dano, quais doenças pode transmitir, sintomas e como realizar o manejo preventivo e curativo

A cigarrinha-do-milho é o inseto vetor do enfezamento do milho, que tem se destacado pelo grande potencial de dano. Ela pode causar até 100% de perdas nas áreas de produção.

Você sabe quais são as causas do aumento da ocorrência dessa praga nas áreas de produção de milho safra e safrinha? Sabe como identificar e quando controlar?

Confira a seguir alguns aspectos fundamentais da biologia da praga, como identificar os  sintomas e quais boas práticas você deve adotar para evitar perdas. Boa leitura!

Características da cigarrinha-do-milho

A cigarrinha-do-milho (Dalbulus maidis) é um inseto sugador. Pertence à ordem Hemiptera e à família Cicadellidae, com distribuição geográfica restrita à América do Norte, América Central e América do Sul.

Quando adulto, mede entre 3 mm e 4 mm e possui coloração ligeiramente esbranquiçada, branco-palha ou acinzentada. Ninfas possuem coloração amarelo-pálida.

Seus ovos são depositados dentro do tecido vegetal, na nervura central. Adultos e ninfas sugam a seiva das folhas na região do cartucho, reduzindo o desenvolvimento das plântulas, do sistema radicular e transmitindo doenças.

Doenças transmitidas pela cigarrinha-do-milho

Você já observou alguns dos sintomas abaixo na sua lavoura?

A foto à esquerda mostra o enfezamento pálido. A foto à direita mostra o enfezamento vermelho

(Fonte: Embrapa, 2014)

Esses sintomas são característicos das doenças conhecidas por enfezamentos, causadas por molicutes e disseminadas para áreas de cultivo de milho pela cigarrinha-do-milho.

Enfezamento pálido e vermelho do milho

O enfezamento pálido é causado por um espiroplasma (Spiroplasma kunkelii). Ele desenvolve lesões em forma de estrias cloróticas, que percorrem a base das folhas paralelamente às nervuras.

O enfezamento vermelho é causado por um fitoplasma (Maize Bushy Stunt Phytoplasma). 

Os sintomas nas folhas são lesões avermelhadas no ápice e nas bordas, secamento da margem em direção ao centro das folhas e o desenvolvimento de brotos axilares (novas plantas).

As cultivares também podem apresentar:

  • clorose;
  • amarelecimento das folhas sem avermelhamento;
  • perfilhamento e proliferação de espigas (até seis ou mais por planta);
  • acamamento pelo desenvolvimento de poucas raízes.

Ambas as doenças são sistêmicas e vasculares. Os patógenos se alojam e colonizam os vasos condutores, circulando pelo floema da planta. 

O resultado é o “entupimento” mecânico dos vasos condutores, prejudicando o desenvolvimento da planta.

Vale destacar que no campo não é possível distinguir os dois patógenos, devido à semelhança dos sintomas provocados. Frequentemente, ambos os patógenos ocorrem simultaneamente ao longo da área de produção.

Risca: virose transmitida pela cigarrinha-do-milho

Além dos enfezamentos, a cigarrinha também pode transmitir uma virose conhecida por MRFV (Maize Rayado Fino Virus).
Os sintomas da risca incluem pequenos pontos cloróticosem formato de linhas nas folhas, ao longo das nervuras. Abortamento de gemas florais e redução do crescimento também são observadas na presença do vírus.

Folha de milho com sintomas de MRFV: riscas amareladas, paralelas às nervuras e com aparência pontilhada

(Fonte: Embrapa)

Danos causados pela cigarrinha-do-milho

Os danos são proporcionais ao número de plantas doentes e à época de infestação das plantas. Quanto mais cedo a infestação ocorrer (estádios iniciais de desenvolvimento da cultura), maiores serão danos como:

  • internódios curtos;
  • planta pequena e improdutiva;
  • espigas pequenas;
  • falhas na granação;
  • planta atacada seca precocemente;
  • grãos chochos;
  • proliferação de espigas;
  • brotamento nas axilas das folhas;
  • emissão de perfilhos na base das plantas;
  • má-formação das palhas das espigas;
  • proliferação de radículas;
  • colonização de outros patógenos, causado acamamentos;
  • perda total de produção.

Como identificar a cigarrinha-do-milho?

Existem mais de 44 espécies de cigarrinhas no Brasil. Porém, apenas uma é vetor dos enfezamentos: a Dalbulus maidis.

Ela é diferenciada das demais da espécie pelas duas manchas (pintas negras) entre os olhos.

Identificação da cigarrinha-do-milho (Dalbulus maidis) pela presença de duas pintas pretas entre os olhos, indicada pelas setas na figura

(Fonte: Charles Martins de Oliveira, 2020)

Modo de transmissão

O modo de transmissão da praga pode ser persistente ou propagativo.

No modo persistente, após a aquisição dos patógenos, o inseto permanece infectivo por toda a vida. É importante que o controle seja realizado assim que a praga for detectada na área.

No modo propagativo, os patógenos circulam e se multiplicam na cigarrinha.

Como o inseto adquire o patógeno 

O inseto se alimenta de plantas de milho infectadas, através da sucção da seiva do floema. Durante a alimentação, ele adquire os patógenos, que passam para o seu trato digestivo

Os patógenos atravessam a parede do intestino do inseto, espalhando-se. A multiplicação ocorre principalmente nas glândulas salivares.

Posteriormente, o inseto abandona a planta doente e migra para plantas sadias e mais jovens. Quando ocorre a salivação, ela inocula os patógenos na planta sadia, transmitindo a doença.

Dinâmica populacional e ciclo biológico da cigarrinha-do-milho

Os ovos eclodem aproximadamente 8 dias após a postura e as ninfas passam por 5 instares (fases até se tornarem adultas). A duração da fase jovem é de aproximadamente 17 dias, a depender da temperatura.

A longevidade dos adultos é de 50 a 60 dias. Da fase do ovo até a fase adulta, é em torno de 25 a 30 dias

Sob temperaturas ideais (entre 26 °C e 32 °C), o ciclo pode ser completo em 24 dias, sendo possível a deposição de até 14 ovos por dia.

Entre 75 e 90 dias, a cigarrinha-do-milho completa seu ciclo biológico. Cada fêmea pode depositar entre 400 e 600 ovos, a depender da temperatura.

Problemas maiores são observados em plantios tardios (safrinha), e em temperaturas mais elevadas (entre 21 °C e 26 °C). 

Nessas condições, a cigarrinha-do-milho pode produzir de 4 a 6 gerações de insetos, e população entre 42 milhões e 190 bilhões de indivíduos

ciclo da cigarrinha-do-milho

Ciclo biológico da cigarrinha do milho
(Fonte: Sementes Agroceres)

Características importantes para manejo da cigarrinha-do-milho

Quatro períodos são considerados importantes para o manejo da cigarrinha:

O inseto sobrevive e se reproduz na entressafra em plantas hospedeiras como o milho tiguera, causando maiores problemas em plantios tardios do milho safrinha.

A cigarrinha-do-milho pode permanecer em outras espécies de gramíneas, utilizando-as como abrigo, como a aveia, trigo, plantas daninhas, triticale, cana, braquiária, milheto. O monitoramento destas espécies também deve ser realizado.

Possíveis causas do aumento da ocorrência da cigarrinha-do-milho 

A oferta abundante e ininterrupta do hospedeiro pelo cultivo intensivo do milho safra e safrinha, aliado à rotação de culturas inexistente ou inadequada aumentaram a população da praga.

Temperaturas entre 26 °C e 30 °C também favoreceram a ocorrência da praga e do complexo de doenças transmitidas por ela: enfezamento pálido, vermelho e vírus da risca para novas áreas.

O não controle da cigarrinha-do-milho resulta em populações elevadas e problemas cada vez mais preocupantes.

Segundo o Cepea, o não controle desta praga pode reduzir a produção em 6,6%, impactando diretamente no aumento do preço do produto no mercado.

A identificação da praga (mesmo que em populações baixas) e dos sintomas das doenças na lavoura é fundamental, principalmente nos estádios iniciais da cultura.

Cigarrinhas em folhas jovens de milho

(Fonte: Foto de Fabiano Bastos em Embrapa)

Controle da cigarrinha-do-milho

É importante que você fique alerta, pois utilizar apenas um controle não será o suficiente em casos de altas infestações. O ideal é realizar o MIP (Manejo Integrado de Pragas).

Os manejos mais utilizados são o cultural e o químico, mas também é possível utilizar o biológico.

Vale destacar que, para as doenças, as medidas devem ser preventivas, pois não existem produtos registrados para o seu controle.

Estratégias de manejo 

  • Adeque a época de plantio;
  • evite sobreposição de ciclos da cultura;
  • evite plantios consecutivos;
  • elimine plantas hospedeiras (milho tiguera);
  • sincronize época de plantio;
  • evite semeadura próximo a áreas com plantas adultas que apresentem os sintomas dos enfezamentos ou da risca;
  • escolha híbridos com maior tolerância que seja adaptado a região de cultivo;
  • evite sementes piratas; opte pelas certificadas e com tratamento industrial;
  • faça monitoramento constante, principalmente nos estádios iniciais da cultura (VE e V8);
  • planeje a colheita do milho com regulagem minuciosa das máquinas para evitar que grãos caiam sobre a área e germinem posteriormente;
  • utilize caminhões em boas condições, para evitar a dispersão de milho na beira das estradas.

Medidas isoladas não são eficazes, e nenhuma medida é 100% efetiva. Além disso, não existe tratamento curativo para as doenças descritas, apenas é possível eliminar o inseto vetor. Medidas devem ser baseadas em prevenção!

Escolher o material mais adequado para semeadura é uma estratégia que, aliada às demais, pode reduzir as perdas na lavoura. Alguns híbridos apresentaram maior ou menor grau de suscetibilidade ao enfezamento vermelho. 

Produção de grãos (A) e notas de enfezamento (B) em genótipos de milho plantados em Sete Lagoas-MG. Genótipos com maior severidade representados pela letra D obtiveram menor produção.

(Fonte de: Cota e colaboradores, 2018. )

Controle químico

O melhor método químico é através do tratamento das sementes com inseticidas, o que vai propiciar uma maior proteção às plântulas de milho. A presença do inseto vetor requer a entrada do controle químico na área.

Neonicotinoides, dentre os químicos, possuem os melhores resultados no controle da cigarrinha.

Isso se deve a suas características de sistemicidade (mesmo quando aplicado em uma parte, é absorvido e atinge todos os tecidos da planta) e translocação translaminar (mesmo aplicado na face superior da folha, tem capacidade de penetrá-la e ter ação na face inferior). 

As ninfas se alojam principalmente no verso das folhas, exigindo produtos que possam alcançar este local. Escolha produtos com solubilidade moderada, devido ao maior tempo residual na cultura.

É indispensável rotacionar produtos químicos com modos de ação distintos (observando o número máximo e intervalo de aplicações recomendadas na bula) com produtos registrados para a cultura.

Para saber quais são os produtos químicos registrados e recomendados para a cultura, basta acessar o Agrofit.

Para consultar produtos químicos e biológicos recomendados e informações de como aplicá-los, essa planilha certamente irá te ajudar.

Controle biológico da cigarrinha do milho

Você sabia que além do controle químico, é possível utilizar o controle biológico de forma conjunta?

Ele é feito através de produtos que contenham como ingrediente ativo o fungo Beauveria bassiana. Os fungos podem penetrar na cutícula do inseto e se multiplicar no seu interior.

planilha de planejamento da safra de milho

Conclusão

Conhecer o histórico da sua área é essencial para monitorar a presença da cigarrinha-do-milho.

Apenas o controle químico não vai resolver o problema. Adote também medidas culturais e preventivas.

Quanto antes você detectar a presença da cigarrinha-do-milho e realizar o controle com os produtos recomendados, nas doses especificadas e intervalos de aplicação adequados, menores serão as suas perdas.

Aqui você viu todos os danos que esse inseto pode causar, e como evitá-los. Agora é só não descuidar da sua lavoura de milho e adotar medidas preventivas de controle! 

Leia mais >>

“Mancha-amarela no trigo: veja como manejar a doença”

Restou alguma dúvida sobre a identificação ou manejo da cigarrinha-do-milho? Tem alguma outra dica para acabar com esse problema? Adoraria ver seu comentário abaixo!

O que a cigarrinha-do-milho causa?

A cigarrinha-do-milho é o inseto vetor do enfezamento do milho e tem potencial de causar até 100% de perdas nas áreas de produção. Os danos são proporcionais ao número de plantas doentes e à época de infestação, podendo ser desde plantas pequenas e improdutivas a grãos chochos, falhas na granação, além da perda total da produção.

Como controlar a cigarrinha-do-milho?

Os manejos mais utilizados são o cultural e o químico, mas também é possível utilizar o biológico. Os neonicotinoides possuem os melhores resultados no controle da cigarrinha, mas é indispensável rotacionar produtos químicos com modos de ação distintos. No caso do controle biológico, produtos que contenham o fungo Beauveria bassiana são os mais indicados.

Identifique os sintomas da podridão parda da haste da soja e aprenda a evitar a doença

Podridão parda da haste da soja: entenda o impacto da doença, as condições favoráveis para a sua ocorrência e como controlá-la para evitar perdas

Inúmeras doenças relatadas na cultura da soja são responsáveis pela diminuição da produtividade e qualidade dos grãos e sementes produzidas.

Você conhece a podridão parda da haste da soja? Essa doença pode causar danos, especialmente nos estádios reprodutivos da cultura.

Quer saber mais? Confira neste artigo como evitar perdas pela podridão da haste da soja e quais manejos podem ser utilizados na sua lavoura!

O que é a podridão parda da haste da soja

A podridão parda da haste da soja é causada pelo fungo Cadophora gregata (também conhecido como Phialophora gregata). Sua ocorrência pode reduzir até 25% da produtividade da cultura, principalmente nos estádios reprodutivos.

Cadophora gregata foi relatado ocorrendo na Argentina, América do Norte, distribuído em regiões de temperaturas amenas e umidade relativa do ar e solo altas; em alguns países da Europa, como a Croácia; no Japão e no Egito.

No Brasil, a podridão parda da haste pode ocorrer principalmente nos estados da região sul, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, locais caracterizados pelo clima ameno.

O fungo pode ser disseminado para áreas sem ocorrência da doença em forma de hifas e esporos que não são visíveis a olho nu, através de:

  • irrigação;
  • vento;
  • animais;
  • flores e inflorescências;
  • frutas, vagens e raízes;
  • caules acima do solo;
  • brotos;
  • troncos e galhos;
  • sementes verdadeiras (incluindo grãos).

Outro agravante deste patógeno é que, embora a infecção das plantas ocorra ainda durante os estádios vegetativos, seus sintomas e sinais são observados apenas no período reprodutivo, principalmente durante o enchimento dos grãos.

É importante que você monitore a área, uma vez que o controle mais eficiente é o uso de cultivares resistentes, e diversos patógenos já têm apresentado resistência aos fungicidas disponíveis no mercado.

Sintomas e danos 

Os sintomas podem ser facilmente confundidos com o cancro da haste e da podridão vermelha da raiz.

Porém, distinguem-se principalmente pela alteração da cor da parte interna da haste, o que não ocorre nas demais doenças.

Os sintomas foliares da podridão parda da haste, de folhas “carijó”, podem ser confundidos com os causados pelo nematoide do cisto da soja (Heterodera glycines), mas diferenciam-se por estes estarem associados aos cistos nas raízes.

Esses sintomas são observados a partir do estádio R5, caracterizado pelo início do enchimento dos grãos.

Descoloração de cor marrom-escura pode ser observada no tecido vascular da planta, incluindo raízes e colo. Em casos severos, pode apresentar sintomas de murcha intensa, semelhante à restrição hídrica.

sintomas da podridão parda da haste da soja

Sintomas na haste de plantas de soja causados por Cadophora gregata, causador da podridão parda da haste

(Fonte: Saran, 2017)

O escurecimento interno da haste e do sistema vascular são observados na planta. Eles podem estar associados a sintomas de clorose e necrose internerval, acarretando queda precoce das folhas e vagens.

O ciclo da cultura pode ser acelerado e o enchimento dos grãos prejudicado pela redução da área foliar.

necrose interna do sistema vascular da planta

Alterações características de plantas de soja, com necrose interna do sistema vascular causado por Cadophora gregata

(Fonte: Costamilan, L. M., 2014)

sintomas foliares da podridão parda

Sintomas foliares da podridão parda da haste de soja, com necrose internerval, sintoma de folhas “carijó”, causada por Cadophora gregata

(Fonte: Costamilan, L. M., 2014)

O fungo pode sobreviver por longos períodos no solo e em profundidades de até 30 centímetros.

Condições favoráveis para ocorrência da podridão parda da haste da soja

Temperaturas entre 15°C e 27°C,  associadas à alta umidade do solo após o florescimento, são ideais para o desenvolvimento do fungo.

Temperaturas superiores a 27 °C diminuem os danos pelo patógeno, reduzindo a descoloração do sistema vascular.  Em temperaturas maiores que 32 °C, o desenvolvimento do patógeno é prejudicado, podendo cessar.

A infecção ocorre aproximadamente 30 dias após a germinação, através do sistema radicular.

O inóculo inicial pode ser proveniente dos restos culturais de plantas hospedeiras (como Vigna angularis, do feijão) e plantas de soja, disseminado pelo vento, e encontrado em reboleiras e manchas ao acaso ao longo da lavoura.

Por isso é importante que você fique de olho nos sintomas durante o cultivo.

Manejo da podridão parda da haste da soja

Prevenção

O uso de cultivares resistentes pode diminuir significativamente o inóculo da doença nas áreas de produção ao longo dos anos.

Mas, atenção! É importante que os materiais resistentes sejam utilizados por mais de quatro anos, para que uma cultivar suscetível seja novamente implantada na área

A diminuição dos danos ao longo do tempo está associada ao menor inóculo do patógeno na área e a linhagens menos agressivas.

Sistemas de plantio também interferem na severidade da doença. Sistemas de plantio direto costumam favorecer a intensidade da doença, pela degradação lenta da palhada na superfície do solo.

É importante ressaltar que embora não desenvolva estruturas de sobrevivência no solo, o patógeno pode permanecer viável nos restos culturais por longos períodos, devido à capacidade de hibernar como micélio nos resíduos da cultura que permanecem no solo.

Em sistema de plantio convencional, estudos demonstram que a incorporação da palhada e revolvimento do solo diminuem o inóculo primário do patógeno nas áreas de produção.

Por isso, inspecione e monitore a sua área de produção para a ocorrência dessa e de outras doenças. Realize o planejamento do manejo que pode ser utilizado para diminuir o inóculo primário de doenças.

A rotação de culturas também é eficiente no controle, mas somente após o terceiro ano. Assim, você reduz as perdas e os custos de controle.

Controle

O tratamento de sementes com fungicidas pode evitar o desenvolvimento do fungo nas fases iniciais, conferindo proteção às sementes ainda no solo.

Porém, quando o inóculo primário já se encontra na lavoura, o tratamento de sementes não é eficiente. 

Por ser um patógeno de solo, o controle químico é bastante difícil, não havendo produtos registrados para o seu controle.

Limpeza das máquinas e implementos utilizados em diferentes áreas são medidas eficientes para evitar a disseminação do patógeno para áreas livres da doença.

Conclusão

A podridão parda da haste da soja é uma doença de grande impacto. O manejo adequado, como sistema de plantio e rotação de culturas, pode reduzir perdas. 

Embora a podridão parda da haste da soja seja considerada uma doença de final de ciclo, ela pode reduzir significativamente a produção e qualidade dos grãos colhidos.

É importante que você tente evitar ao máximo a disseminação de doenças para áreas em que elas não estão presentes. Assim você evita os custos aliados ao controle, bem como a resistência de patógenos a fungicidas.

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“Como identificar e manejar a podridão radicular em soja”

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Como identificar e realizar o controle de tripes em soja

Tripes em soja: o que é, danos causados, transmissão de viroses e quais cuidados você deve ter durante o cultivo para evitar perdas

As tripes são pragas secundárias da cultura da soja, o que significa que, apesar de causarem danos, os prejuízos econômicos não são tão expressivos. Porém, esses insetos podem ser responsáveis por uma grande redução de produtividade, especialmente em longos períodos de estiagem e em solos de baixa fertilidade.

Essa praga pode transmitir viroses e deixar lesões que servem de porta de entrada para outros patógenos, como fungos e bactérias

Neste artigo, você lerá sobre as características das tripes e sobre aspectos importantes na tomada de decisão do controle a ser utilizado.

O que são tripes: características biológicas da praga

As tripes são pequenos insetos da família Thripidae, que possui mais de 290 gêneros e duas mil espécies. Podem ser de colorações variadas – marrons, brancas, bege-claras, amareladas ou pretas. Diversas espécies de tripes podem ser encontradas nas plantas de soja, com destaque para Caliothrips brasiliensis, C. phaseoli e Frankliniella schultzei.

As ninfas, que eclodem dos ovos, têm aparência semelhante aos insetos adultos e parte de seu ciclo de vida ocorre no solo

Costumam se abrigar em folíolos novos e interiores e na face inferior das folhas. Atingem a fase adulta entre oito e nove dias após a fase de ninfa.

Se alimentam dos tecidos vegetais e possuem um estilete em seu aparelho bucal raspador. Esse aparelho raspa a epiderme, suga a seiva e causa posterior morte do tecido.

Possuem corpo alongado e asas franjadas, ligeiramente transparentes, medindo entre 1 mm a 3 mm de comprimento.

Corpo característico das tripes: alongado e um par de antenas

Corpo característico das tripes: alongado e um par de antenas
(Fonte: SOSA-GOMEZ et al., 2013)

Caliothrips brasiliensis e Caliothrips phaseoli

Ambas as espécies são encontradas de forma mais abundante na cultura da soja no Sul do Brasil.

Caliothrips phaseoli é uma espécie polífaga, capaz de causar danos em diversas culturas de interesse agrícola, como feijão, soja e outras fabáceas.

Caliothrips brasiliensis causa danos em algodão, feijão, soja, amendoim e ervilha.

Os adultos medem cerca de 1 mm de comprimento, e possuem coloração amarelada. Ninfas e adultos se alimentam da seiva das plantas, que se tornam amareladas e deformadas e sofrem queda prematura.

Quando associados a outras pragas, como ácaros, foram relatadas reduções significativas de 50% na taxa de fotossíntese

Localizados no extrato superior no estádio R5 da cultura (início do enchimento dos grãos) 73 tripes/folíolo ocasionam perdas de 17%  no rendimento da cultura.

Caliothrips brasiliensis causando lesões características prateadas em soja. Adulto (a), ninfa (b) e sintomas de raspagem das folhas (c)

Caliothrips brasiliensis causando lesões características prateadas em soja. Adulto (a), ninfa (b) e sintomas de raspagem das folhas (c)
(Fonte: SALVADORI et al., 2007)

Frankliniella schultzei

Vem sendo relatada com frequência em infestações elevadas em regiões da Bahia, especialmente no oeste.

Ovos de Frankliniella schultzei são introduzidos no interior do tecido epidérmico das folhas, com eclosão em média quatro dias após

As fêmeas ovipositam de 20 a 139 ovos durante o seu ciclo de vida, com duração de 9 a 18 dias, a depender da temperatura e umidade relativa do ar. Em temperaturas mais elevadas, o ciclo é acelerado.

Ambas as fases, adulta e ninfa, provocam danos por raspagem na superfície foliar. Podem causar ainda, danos nas flores, causando sua esterilidade e aspecto de coloração avermelhada.

Na fase reprodutiva, atingem seu maior nível populacional, sendo indispensável o monitoramento prévio.

Vista dorsal de Frankliniella schultzei

Vista dorsal de Frankliniella schultzei
(Fonte: KAKKAR et al., 2010)

Identificação e danos causados pelas tripes em soja

Reduções entre 10% a 25% na produtividade da cultura foram registradas quando o controle adequado das tripes não foi feito.

De forma geral,  elas provocam lesões em faixas ou estrias, de coloração escura ao longo do caule das vagens, curvamento dos ponteiros e bronzeamento das folhas, além das manchas características prateadas.

São disseminadas pelo vento, e embora possuam asas na fase adulta, sua capacidade de voo é considerada baixa.

tripes em folha de soja

Tripes em soja
(Fonte: Manual de Pragas da Soja)

Danos diretos 

As tripes causam manchas esbranquiçadas no feixe, com áreas de coloração prateada, que evoluem para manchas bronzeadas, marrons e posteriormente necrosadas.

Danos e infestações de níveis populacionais diferentes podem ser observados para cultivares distintas. 

Danos indiretos

Um dano indireto é a transmissão do vírus TSV (tobacco streak vírus), responsável pela “queima-do-broto” apical da planta, que pode acarretar até 100% de perdas na lavoura

O TSV afeta o desenvolvimento das plantas, deixando-as com porte reduzido, atrofiado, reduzindo consideravelmente a produtividade. No entanto, apenas as fases adultas são capazes de transmitir o vírus ao longo da área de produção.

Infestação de cravorana em lavoura de soja

Infestação de cravorana em lavoura de soja
(Fonte: KLENJI, C. A., 2020)

A maior ocorrência do TSV é relatada nas regiões do Paraná e São Paulo, devido principalmente à presença de plantas daninhas hospedeiras perenes e semiperenes.

Essas plantas favorecem a reprodução nas demais épocas do ano, como a cravorana (Ambrosia polystachya).

Sintomas do vírus TSV, transmitido por tripes, em vagens de soja (esquerda), com lesões necróticas características em formato de estrias e em grãos (direita)

Sintomas do vírus TSV, transmitido por tripes, em vagens de soja (esquerda), com lesões necróticas características em formato de estrias e em grãos (direita)
(Fonte: MUELLER, D., 2013)

Controle de tripes em soja: quando e de que forma fazer

As tripes em soja reduzem a área fotossinteticamente ativa das plantas, especialmente no terço inferior (baixeiro), nos estádios vegetativo e reprodutivo.

Causam lesões em vagens e prejudicam triplamente o enchimento dos grãos, pela diminuição da área foliar, perda de água pelas lesões, aceleração do ciclo da cultura e redução do peso.

Esses danos diminuem a qualidade dos grãos e aceleram a sua deterioração.

A decisão de controle de tripes através de inseticidas deve considerar alguns pontos importantes, como população da praga, estádio de desenvolvimento da cultura e ingredientes ativos.

Além disso, é necessário considerar que a reinfestação pela praga é rápida, uma vez que seu ciclo é completo em aproximadamente 15 dias.

Acompanhar as previsões meteorológicas de precipitações torna-se importante. Condições de baixa umidade e estresse hídrico, favorecem a reprodução da praga. Porém, ela também pode ocorrer em temperaturas amenas em períodos de estiagem.

Para o controle do vírus da queima-do-broto, é imprescindível a remoção de plantas hospedeiras, realização da rotação de culturas, além do controle das tripes (vetor).

A época de semeadura também deve ser programada para evitar que as fases críticas da cultura coincidam com menor disponibilidade hídrica (final do vegetativo e até o final do enchimento dos grãos).

8 pontos importantes sobre o controle de tripes em soja

  1. controle com populações altas (superior a 50 tripes/folha) – utilizando o método de pano de batida para contagem dos indivíduos;
  2. controle com inseticidas devem atingir as partes inferiores das folhas trifoliadas, onde as tripes normalmente estão localizadas;
  3. em estádios reprodutivos, a população deve se manter abaixo de 25 tripes por folíolo;
  4. controle dificultado pelas características da praga: alto potencial reprodutivo, pequeno intervalo entre gerações e altas populações, especialmente em plantas submetidas a estresses hídricos prolongados;
  5. parte do ciclo de vida ocorre no solo, dificultando o controle efetivo da praga;
  6. monitoramento da população da praga em estádios vegetativos: para evitar perdas de área foliar, que são importantes no período de enchimento de grãos; 
  7. monitoramento da população da praga em estádios reprodutivos: para evitar a senescência e maturação precoce, o que diminui a fase de enchimento de grãos;
  8. planejar adequadamente as plantas utilizadas em bordaduras e plantios subsequentes. O milho é uma espécie hospedeira, e não é recomendada como barreira.

Controle químico: melhores inseticidas para tripes

Além das recomendações de manejo anteriormente citadas, o controle  químico, aliado a detecção precoce da praga antes do estádio reprodutivo são consideradas as estratégias de maior efetividade.

Produtos de ação translaminar são os mais indicados. São aplicados na superfície das folhas e capazes de translocar ao lado oposto, onde ninfas e adultos estão localizados em maiores populações.

Para as três espécies principais, ingredientes ativos como o acefato, cipermetrina, metomil e clorfenapir podem ser empregados e podem ser consultados no Sistema de Agrotóxicos Fitossanitários (Agrofit).

Estudos destacam que o MIP (Manejo Integrado de Pragas) pode ser eficiente, utilizando de uma mesma molécula para controle de diversas pragas alvo

O imidacloprido pode ser utilizado para o controle de tripes, porque apresenta alta eficiência econômica e controle de percevejo-verde, vaquinha-verde-amarela, mosca-branca, percevejo-marrom e percevejo-verde-pequeno.

Observe o momento, dose, intervalo adequado e número máximo de aplicações recomendadas na bula pelo fabricante. 

planilha Aegro manejo integrado de pragas, baixe agora

Conclusão

Neste artigo, você viu quais são as características biológicas das tripes e quais danos diretos e indiretos elas podem causar na lavoura de soja.

Realize o monitoramento e planejamento das culturas implantadas na área e a rotação ao longo do ano agrícola.

Além disso, realize o controle de plantas daninhas, para que espécies hospedeiras não estejam presentes entre os cultivos de soja. 

O MIP (manejo integrado de pragas) pode ser utilizado com sucesso. Além de controlar diversas pragas, o manejo integrado reduz o número de aplicações e aumenta a eficiência econômica dos produtos.

Você está passando por problemas com tripes em soja? Espero que esse artigo tenha te ajudado. Assine nossa newsletter para receber mais conteúdos semelhantes!

O que são fungicidas multissítios e por que você deve passar a utilizá-los

Fungicidas multissítios na cultura da soja: como eles podem ser importantes aliados no controle e manejo de resistência de doenças. 

O Brasil é o maior produtor de soja no mundo. Mas você sabia que a produtividade poderia ser 42% superior com manejos adequados da lavoura?

O controle de doenças é um dos pontos que mais interferem nos resultados da sua safra. Por isso, conhecer as estratégias mais eficientes e fazer a utilização racional de produtos para evitar casos de resistência é fundamental!

Já utilizados com sucesso em diversas culturas, os fungicidas multissítios vêm sendo uma ferramenta importante no manejo de doenças fúngicas, especialmente em soja. 

A seguir, conheça melhor esses fungicidas e saiba por que eles podem fazer uma grande diferença nos resultados da sua próxima safra!

O que são fungicidas multissítios?

Os fungicidas podem ser classificados de acordo com o seu espectro de ação em sítio-específicos ou multissítios.  

Os fungicidas de sítio-específico atuam sobre um único ponto da via metabólica de um patógeno fúngico ou ainda sobre uma única proteína ou enzima necessária para a sua sobrevivência. 

São mais propensos a apresentarem resistência. São absorvidos pelas plantas, e geralmente possuem atuação sistêmica, ou seja, são transportados para outras partes da planta. 

Em contrapartida, os fungicidas multissítios atuam sobre diferentes pontos do metabolismo dos fungos e, devido às suas características, apresentam baixo risco de resistência, geralmente com ação de contato.

Necessitam permanecer sobre a superfície das folhas como camada de proteção contra a germinação dos esporos fúngicos. Logo, normalmente são aplicados de forma preventiva.

Essa característica dos fungicidas multissítios faz com que eles estejam suscetíveis à remoção pela água da chuva, especialmente logo após a aplicação e até mesmo pela degradação causada pela luz solar. Assim, pode conferir menor proteção ao longo do tempo e, por isso, são empregados em associação. 

Quais são os benefícios do uso desses fungicidas?

Os fungicidas multissítios apresentam capacidade de controlar vários patógenos, como demonstrado na tabela que você confere mais à frente no texto.

Por ter uma atuação de modo não específico, dificulta a pressão de seleção de patógenos resistentes. Se um local de atuação for burlado pelo patógeno, de modo que ele possa sobreviver, outros ainda estarão atuando no seu controle.

Podem ser utilizados em misturas com fungicidas de sítio específico a fim de retardar ou evitar o surgimento de resistência,  garantindo níveis de controle satisfatórios e prolongando sua vida útil.

Recomendações para aplicação de fungicidas na cultura da soja

Fungicidas multissítios

Considerando os relatos de menor sensibilidade dos principais grupos de fungicidas (triazois, estrobilurinas e carboxamidas) no manejo da ferrugem asiática da soja no Brasil, alternativas que diminuam a severidade dessa doença devem ser utilizadas. 

Resultados de pesquisa indicaram maior controle da severidade da ferrugem com a associação de picoxistrobina+ciproconazol e oxicloreto de cobre, com severidades próximas a 20%, enquanto o tratamento testemunha, sem aplicação, apresentou 73%.

A utilização de picoxistrobina+ciproconazol e clorotalonil reduziu em aproximadamente 60% a severidade da ferrugem em experimentos de campo.

Clorotalonil e mancozebe também apresentaram reduções na severidade da ferrugem em experimentos na safra 2019/20, de valores entre 40% e 50% em comparação ao tratamento controle, demonstrando potencial de utilização.

O Frac (Comitê de Ação a Resistência a Fungicidas do Brasil) indica que as recomendações de fungicidas sejam baseadas em produtos registrados para o controle da ferrugem asiática. 

Você pode consultar a lista de produtos registrados no Sistema de Agrotóxicos Fitossanitários (Agrofit).

Produtos de sítio-específico

Alguns fungicidas de sítio específico, quando aplicados de forma conjunta, conferem maior proteção e podem se tornar uma opção interessante. 

Estrobilurinas devem ser aplicadas combinadas com triazóis, triazolinthione e ou/carboxamidas. 

Triazóis e triazolinthione não devem ser utilizados de forma isolada por apresentarem níveis de resistência.

Carboxamidas devem ser utilizadas sempre em combinações com estrobilurinas.

O controle deve ser iniciado preventivamente, evitando assim a exposição dos produtos a altas populações dos patógenos.

Novas tecnologias, combinando a aplicação de carboxamidas (sítio específico) e multissítio como oxicloreto de cobre foram disponibilizadas recentemente para o manejo da ferrugem asiática.

A lista completa dos grupos de fungicidas e seus respectivos modos de ação, pode ser consultada na Frac.

Lembre-se que todos esses produtos devem ser utilizados conforme recomendação do fabricante quanto a doses, épocas e intervalos de aplicação. 

Combinações de fungicidas de diferentes sítios de ação (sítio específico e multissítio) no controle de diferentes patógenos causadores de doenças na cultura da soja

Combinações de fungicidas de diferentes sítios de ação (sítio específico e multissítio) no controle de diferentes patógenos causadores de doenças na cultura da soja
(Fonte: adaptado de Agrofit)

Resistência de fungos aos fungicidas: por que ocorre e como evitar?

A resistência ocorre principalmente devido à grande variabilidade de microrganismos existentes, aliada à sua capacidade de multiplicação rápida.

Dessa forma, ao aplicarmos um fungicida de sítio específico de ação, repetidas vezes e sem utilizar táticas de manejo integrado de doenças (MID), estamos realizando uma pressão de seleção.

Alguns microrganismos desenvolvem estratégias de sobrevivência à aplicação dos ingredientes ativos, que são passadas de geração para geração.

A Frac recomenda algumas estratégias para evitar a resistência dos fungos aos fungicidas, incluindo:

  • rotação de ingredientes ativos, com emprego de mecanismos de ação diferentes;
  • utilização de fungicidas na época, dose e intervalos de aplicação recomendados pelo fabricante;
  • emprego de diferentes métodos de controle de doenças, fazendo adoção do MID – Manejo Integrado de Doenças, o que inclui controle cultural, genético e biológico (quando for possível, respeitando a compatibilidade de produtos);
  • consulta a um profissional engenheiro-agrônomo para recomendações dos ingredientes ativos mais apropriados para aplicação na sua realidade.

A avaliação da necessidade de aplicação e momento (preventivo para algumas doenças) também torna-se importante para reduzir o número de tratamentos durante a safra. 

Para evitar a resistência, planeje a utilização de produtos em misturas e com diferentes mecanismos de ação.

Programa de aplicação de fungicidas, estratégia e risco de resistência. A - fungicida com alto risco de resistência; B - fungicida com baixo risco de resistência.

Programa de aplicação de fungicidas, estratégia e risco de resistência. A – fungicida com alto risco de resistência; B – fungicida com baixo risco de resistência.
(Fonte: adaptado de Zambolim, 2008)

9 possíveis causas de “insucesso” no uso de fungicidas

As falhas no controle químico de doenças geralmente são atribuídas aos fungicidas… mas você já pensou que outros fatores podem estar relacionados?

Veja os principais a seguir:

  1. diagnose do agente causal incorreta;
  2. escolha do local de plantio inadequada, com o estabelecimento da cultura em locais extremamente úmidos;
  3. clima favorável a doenças (como o caso de regiões de produção de sementes no Mato Grosso do Sul, onde a cultura da soja é cultivada sob irrigação de pivô central e o vazio sanitário muitas vezes não é adotado, favorecendo a ocorrência de inóculo inicial de ferrugem). 
  4. desconhecimento de fatores de predisposição a doenças como nutrição, clima, umidade do solo, compactação, etc.
  5. utilização de uma única medida de controle, como no caso do controle químico, usando um único ingrediente ativo durante todo o cultivo;
  6. época de aplicação inadequada (fora do estádio fenológico em que é indicada) e local de penetração dos patógenos na planta (verso das folhas, flores, frutos em formação, caules, etc);
  7. aplicação de fungicidas sistêmicos quando os patógenos já estão estabelecidos na cultura em níveis populacionais severos, como no caso da ferrugem asiática da soja; 
  8. uso de doses abaixo ou acima do recomendado, bem como utilização de um único fungicida (princípio ativo);
  9. adjuvantes inadequados e pH da calda, além da tecnologia de aplicação, tipos de bico e regulagem de equipamentos.
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Conclusão

Neste artigo vimos as diferenças entre os espectros de ação sítio-específicos e multissítios, bem como a forma que protege os cultivos. E pudemos entender como eles se tornam aliados quando utilizados em conjunto.

Vimos também as principais causas de resistência dos fungos aos fungicidas e as formas de manejo recomendadas para evitar com que elas ocorram.

Vale lembrar que um bom monitoramento da lavoura, com diagnóstico correto e precoce das doenças, bem como planejamento da utilização de produtos são fatores que determinam o sucesso no controle de doenças.

>> Leia mais:

“Lavoura saudável: como combater as doenças da soja (+ nematoides)”

“Biofungicidas: quando vale a pena usá-los para o controle de doenças na lavoura?”

Restou alguma dúvida sobre como atuam os fungicidas multissítios e por que são importantes no controle de doenças da cultura da soja? Deixe seu comentário!

Entenda os diferentes métodos de amostragem de grãos e como eles podem impactar a comercialização da sua safra

Métodos de amostragem de grãos: entenda a importância, cuidados e tipos de amostragens para determinação da qualidade dos lotes de grãos e sementes.

Para a comercialização e até mesmo armazenamento seguro dos grãos, análises de qualidade devem ser realizadas.

Após a colheita, os grãos são transportados para unidades de beneficiamento, onde amostragens dos lotes recebidos são realizadas, seguindo metodologias padrões.

O objetivo da amostragem de produtos é indicar a natureza, qualidade e tipo, dando assim destinação aos grãos.

Quer entender como são realizadas as amostragens para as diferentes formas de armazenamento e como estes dados podem auxiliar sua tomada de decisões? Confira a seguir!

Importância da amostragem de grãos

O objetivo da amostragem de grãos é indicar a natureza, qualidade e tipo, dando, assim, uma destinação adequada aos produtos agrícolas.

Ao serem armazenados, especialmente a longo prazo, os grãos ficam sujeitos a alterações provocadas pelo calor, umidade e organismos associados, como insetos e microrganismos. 

Após a colheita, a qualidade dos grãos não pode ser melhorada, apenas conservada. E a interação da qualidade inicial (logo após a colheita) com o ambiente a que estes grãos serão expostos (formas de armazenamento) determinarão a sua conservabilidade, aptidão industrial, de consumo e o valor comercial.

Desta forma, as análises de qualidade dos grãos recebidos é uma etapa importante para determinar o beneficiamento necessário (pré-limpeza, limpeza, secagem). 

Também indicam sob quais condições esses grãos deverão ser armazenados, se devem ser imediatamente comercializados e para qual finalidade (industrial ou de consumo), visando diminuir perdas e otimizar processos.

O objetivo da amostragem é obter uma porção representativa das características do lote.

Quando a amostragem de grãos é realizada

A amostragem consiste na retirada de uma pequena porção de grãos, de diferentes pontos do lote, com o objetivo de determinar sua qualidade. 

A qualidade padrão dos grãos deve obedecer aos limites máximos tolerados quanto aos danos, umidade, impurezas e matérias estranhas, ataque de insetos, regidos pela legislação.

São consideradas análises importantes: 

  • umidade;
  • impurezas e matérias estranhas;
  • classificação de produtos;
  • ataque de insetos, dentre outras.

Essas características indicarão a qualidade dos lotes recebidos e influenciarão nos preços praticados no mercado. Além disso, os resultados obtidos norteiam a tomada de decisão sobre o destino do lote recebido. 

As amostragens devem ser realizadas ainda na recepção da carga, antes da pesagem, e no momento de descarga.

Já durante o armazenamento, são realizadas para verificar a ocorrência de alterações provocadas por pragas e microrganismos, por exemplo, ou alterações de umidade e temperatura.

7 cuidados importantes na amostragem de grãos 

Para que os resultados sejam representativos da realidade, alguns cuidados devem ser tomados:

  1. As coletas devem ser realizadas em diferentes pontos e profundidades. Grãos em camadas superficiais podem sofrer alterações por umidade e temperatura ambiente;
  2. Devido ao peso das impurezas ser menor, estas costumam acomodar-se no fundo da massa de grãos, reforçando a necessidade de amostragens em diferentes profundidades;
  3. Evite realizar as coletas sempre nos mesmos locais. Esta ação pode levar a resultados viciados e não representativos. 
  4. Evite fazer a coleta com equipamentos, roupas e mãos sujas. Os resultados podem sofrer alterações significativas quando não observadas as condições de higiene, principalmente de umidade para grãos e sanitárias para sementes;
  5. Os equipamentos de amostragem devem estar limpos e secos. Quando úmidos, provocam alterações, especialmente na umidade do lote;
  6. Não realize amostragens próximo às paredes/laterais da carroceria, silo e sacarias devido a possíveis interferências do ambiente nas características dos grãos mais próximos da superfície;
  7. As amostras devem ser colocadas em embalagens adequadas e identificadas assim que coletadas, para evitar erros, com envio imediato ao laboratório. Caso não seja possível, deve ser conservada adequadamente (em refrigerador preferencialmente).

Métodos de amostragem de grãos: tipos de amostras 

Segundo o manual de Regras para Análise de Sementes (RAS), diferentes tipos de amostras são realizadas até que seja formada a amostra de trabalho final (aquela analisada em laboratório).

Amostra simples

Pequena porção de sementes ou grãos retiradas de um ponto aleatório do lote.

Amostra composta

É  formada pela junção de todas as amostras simples (retiradas de cada um dos pontos amostrados). Deve ser devidamente reduzida (seguindo metodologia padrão) para envio ao laboratório, uma vez que é formada por uma quantidade superior ao necessário.

Amostra média

É a amostra recebida pelo laboratório para ser submetida à análise. Deve obedecer tamanho mínimo, especificado nas Regras para Análise de Sementes.

Amostra duplicata

É a mesma amostra obtida da amostra composta. É obtida para fins de fiscalização e para casos de reanálise. 

É armazenada nas unidades de beneficiamento e recebimento de grãos por até cinco anos, para eventuais contestações ou problemas associados ao lote comercializado.

Amostra de trabalho

É obtida por homogeneização (mistura) e redução até os pesos mínimos requeridos pelas regras, utilizada em laboratório para as análises.

Tipos de amostragem e equipamentos

As amostragens podem ser realizadas de forma manual ou pneumática.

Amostragens manuais

Para as amostragens manuais podem ser utilizados caladores ou sondas. Veja na imagem que separei: 

Caladores simples para sacarias (esquerda) e sonda manual para amostragem de grãos a granel (direita)

Caladores simples para sacarias (esquerda) e sonda manual para amostragem de grãos a granel (direita)
(Fonte: Conab)

Amostragens pneumáticas 

Comumente utilizadas em silos e graneleiros, onde, através da sucção dos grãos, as amostragens são realizadas, encaminhando diretamente para o local de análise (quando este possuir, por exemplo em portos e unidades de recebimento).

As sondas pneumáticas devem ser utilizadas conforme instruções de uso do fabricante. Caso contrário, erros relacionados principalmente a impurezas e matérias estranhas podem ocorrer, impactando no valor de venda (resultados superestimados).

Para a coleta, o calador deve ser inserido no ponto desejado, com o recipiente de amostragem fechado e com o sistema desligado. O recipiente deve ser aberto para coleta e fechado instantes depois. 

O sistema de sucção deve ser ligado para sucção da amostra e então ser desligado e reposicionado no próximo ponto. Somente quando estiver no ponto a ser amostrado, pode ser religado.

O amostrador pneumático não deve permanecer ligado durante todas as amostragens. Este procedimento não é adequado e não é considerado uma amostragem e sim uma simples coleta.

ilustrações de sonda pneumática portátil (esquerda) e sonda pneumática fixa (direita)

Sonda pneumática portátil (esquerda) e sonda pneumática fixa (direita)
(Fonte: Conab)

Peso das amostras

O peso mínimo das amostras para análise de atributos de qualidade para grãos e sementes é distinto para produtos ensacados/ou granel e para sementes. Veja na tabela abaixo os requisitos para produtos ensacados:

tabela de recomendações de amostragem em navios (carga ou descarga de produtos ensacados ou a granel) pelo Mapa

Recomendações de amostragem em navios (carga ou descarga de produtos ensacados ou a granel) pelo Mapa
(Fonte: adaptado de Mapa)

Já para análises de sementes, os pesos mínimos têm variação dentre as espécies e testes a serem realizados. Os dados podem ser consultados no manual de Regras de Análise de Sementes.

tabela de recomendações de amostras médias para análise de qualidade de sementes

Recomendações  de amostras médias para análise de qualidade de sementes
(Fonte: adaptado de RAS)

O peso mínimo exigido para envio a laboratório é o da amostra composta, devidamente reduzida ao exigido.

Como garantir amostragens aleatórias e representativas

Um procedimento comum realizado nas amostragens de grãos a granel em caminhões é amostrar cinco pontos, um em cada lateral da carroceria e outro no centro. 

Esta forma de amostragem não é a mais correta, pois se perde o critério de aleatoriedade e pode induzir a erros.

Para garantir o critério de aleatoriedade, pode-se identificar a largura de um caminhão e seu comprimento. 

A largura pode ser dividida por seis pontos, em espaçamentos iguais, numerados de 1 a 6. 

O comprimento pode ser dividido em dez pontos, de espaçamento igual, numerados do 1 ao 11.

Essa divisão pode ser realizada uma única vez para cada metragem de caminhões e, à medida que as cargas chegam, respeitando o número mínimo de amostras e peso mínimo, podem ser sorteados e então amostrados, garantindo a aleatoriedade das amostras.

Como as laterais da carga não devem ser amostradas, para a largura, eliminam-se os pontos 1 e 6, e para o comprimento os números 1 e 11, conforme a imagem abaixo:

Pontos amostrais para sorteio, considerando a largura e comprimento de um caminhão. Locais representados pela letra X não devem ser amostrados

Pontos amostrais para sorteio, considerando a largura e comprimento de um caminhão. Locais representados pela letra X não devem ser amostrados
(Fonte: elaborado pela autora)

Neste caso, são 2,60 metros de largura divididos em 6 pontos. O espaçamento necessário entre os pontos deve ser de 43,33 centímetros. 

Para o comprimento são 16 metros divididos pelos 11 pontos amostrais, exigindo distâncias de 1,45 metros entre os pontos.

Para saber quais pontos devem ser amostrados, basta sortear os números de 2 a 4 (largura), para cada ponto sorteado de 2 a 10 (comprimento).

Coleta das amostras

Para todos os métodos de amostragem, a identificação correta das amostras é indispensável.

Na etiqueta deve constar a identificação do lote, número da amostra (número, quantidade, natureza, acondicionamento), nome do proprietário, responsável, data e local de coleta.

Os tipos de amostragem são divididos em pré-amostragem, amostragem (ambos para cargas a granel ou convencionais nas unidades de recebimento), sacarias, silos e transportadores.

Confira a seguir cada uma delas!

Diferentes métodos de amostragem de grãos

Amostragem de grãos a granel: pré-amostragem

Nessa etapa, retiram-se as amostras antes da pesagem do veículo a fim de determinar o percentual de impurezas e umidade do produto recebido. 

Como as impurezas normalmente ficam no fundo da carga e há possível ação de fatores externos durante o transporte, é realizada uma pré-amostragem e, durante o descarregamento, é feita a amostragem propriamente dita.

Também avalia-se a necessidade de pré-limpeza, limpeza e secagem. Além disso, são verificadas situações de anormalidades que possam justificar a recusa do lote.

O peso mínimo para cada ponto amostral para formação da amostra composta é de 2 kg por ponto de amostragem.

Exemplo: recebeu-se uma carga de grãos de 30 toneladas. Para este volume, são necessários 8 pontos amostrais.

Sorteiam-se então as seguintes combinações, conforme exemplificado pelos círculos vermelhos na imagem abaixo:

Ponto 1: 5 para largura e 8 para comprimento;

Ponto 2: 2 para largura e 2 para comprimento;

Ponto 3: 4 para largura e 3 para comprimento;

Ponto 4: 3 para largura e 6 para comprimento;

Ponto 5: 2 para largura e 10 para comprimento;

Ponto 6: 2 para largura e 7 para comprimento;

Ponto 7: 5 para largura e 5 para comprimento;

Ponto 8: 4 para largura e 9 para comprimento.

Pontos amostrais sorteados. Locais representados pela letra X não devem ser amostrados

Pontos amostrais sorteados. Locais representados pela letra X não devem ser amostrados
(Fonte: elaborado pela autora)

Número de pontos amostrados em relação ao peso das cargas:

  • Para vagões ou caminhões de até 15 toneladas: cinco pontos amostrais;
  • Vagões de 15 a 30 toneladas: oito pontos amostrais;
  • Vagões de 30 a 50 toneladas: onze pontos amostrais.

Amostragem de grãos a granel: descarga moega

É realizada durante a descarga, utilizando canecos ou baldes. São retiradas amostras ao acaso e periodicamente nos dutos de saída até que metade da massa de grãos seja descarregada (veículos a granel).

Para caminhões convencionais, realiza-se a amostragem através da retirada de pequenas porções, em diferentes pontos e de ambas as laterais, assim que estas são abertas para o descarregamento dos grãos.

Ambas as amostragens, antes da pesagem e no momento da descarga, são importantes e devem ser homogeneizadas posteriormente para formação da amostra composta, que deve ser enviada para a análise.

ilustrações de amostragem de grãos em caminhão graneleiro e convencional

Amostragem de grãos em caminhão graneleiro e convencional
(Fonte: Conab)

O peso da amostra composta deve ser:

  • 40 kg para cargas de até 500 toneladas;
  • 40 kg para cada série de 500 toneladas, em caso de carregamentos com pesagem superior.

Amostragem de grãos em silos: durante a armazenagem

Durante a armazenagem dos grãos, é indispensável monitoramento frequente.

Pode-se estabelecer a coleta em diferentes pontos, utilizando como referência os pontos cardeais, em diferentes profundidades.

Neste tipo de coleta, é necessário que as coletas e análises posteriores sejam realizadas conforme a profundidade, com objetivo de identificar alterações de temperatura e umidade.

Amostragem de grãos em silo vertical, utilizando os pontos cardeais como referência

Amostragem de grãos em silo vertical, utilizando os pontos cardeais como referência
(Fonte: Conab)

>>Leia mais: “Vender ou guardar a produção em silo de grãos”

Amostragem de grãos: sacarias

Neste método, as amostras são obtidas através da perfuração das sacas com caladores simples.

O calador deve ser introduzido ao saco no sentido de baixo para cima, de forma a estimular o deslizamento do produto.

Os sacos a serem amostrados devem ser escolhidos aleatoriamente e as amostras devem ser realizadas no mínimo em 10% do total dos sacos, em diferentes alturas da pilha e com porções mínimas de 30 gramas por saco.

Essa avaliação deve ser realizada tanto no recebimento das sacarias como durante o período de armazenamento.

Amostragem de grãos: transportadores

Em transportadores por correia ou gravidade, as amostras devem ser coletadas em períodos específicos, utilizando canecas ou baldes.

Em transportadores de parafuso sem-fim, as coletas podem ser realizadas no alçapão localizado na parte inferior da tubulação, que se abre em determinados intervalos.

As amostras podem ser coletadas ainda na saída dos grãos ou nas extremidades do transportador.

Já no elevador de caneca, as coletas podem ser realizadas na saída da moega alimentadora, em períodos pré-determinados (a cada x minutos ou horas, a depender do fluxo de grãos).

O que os resultados das análises podem indicar?

Com os resultados em mãos sobre o real estado dos grãos colhidos, é possível realizar desde um simples beneficiamento (como limpeza) até a secagem, a fim de diminuir os descontos recebidos sobre o produto comercializado.

A secagem pode ser realizada ainda nos limites aceitos pelos estabelecimentos para que não haja perdas de peso desnecessárias dos grãos pela diminuição do teor de água (umidade).

Com umidades superiores ao ideal, há opção de secar o lote de grãos na própria fazenda, quando possível, ou planejar a secagem ainda em campo, desde que as previsões meteorológicas sejam favoráveis.

Também é possível planejar a implantação de locais para armazenamento de grãos na propriedade, calculando os custos operacionais pagos às unidades de armazenamento em relação ao investimento destas estruturas. 

Estima-se que 30% do valor do produto permaneça na unidade de beneficiamento em razão de operações de secagem e armazenamento.

Resultados das análises e comercialização

Na recepção, os preços praticados consideram a umidade da massa de grãos ou teor de água, o que influencia diretamente na conservação da qualidade ao longo do armazenamento.

Os limites máximos tolerados para defeitos na comercialização de grãos são regidos por Instruções Normativas, que estabelecem o regulamento técnico das culturas, com descontos progressivos e até mesmo descarte do lote quando não observados os limites tolerados.

Para descontos em teores de umidade e classificação, estes são praticados pelas unidades de recebimento, possuindo variação dentre as culturas e estabelecimentos.

Para as culturas do milho e trigo, por exemplo, a venda é regulada pelos defeitos de classificação.

Desta forma, a realização da correta amostragem, armazenamento e envio ao laboratório de análise é fundamental para a tomada de decisão quanto ao destino da produção.

Como mencionamos anteriormente, a qualidade do lote de grãos, após a colheita não pode ser melhorada, mas sim conservada. 

calculadora de custos Aegro

Conclusão

Neste artigo, pudemos conhecer a importância de uma amostragem seguindo os padrões exigidos pela legislação.

Abordamos ainda métodos empregados, número e peso das amostras que devem ser coletadas e os cuidados que devem ser tomados durante o processo.

Além disso, vimos um pouco do que esses dados podem indicar para uma tomada de decisão após a colheita, a fim de diminuir descontos e garantir melhores preços de comercialização.

>>Leia mais:

“Entenda melhor a classificação da soja e saiba usá-la para aumentar sua lucratividade”

Restou alguma dúvida sobre os métodos de amostragem de grãos? Deixe seu comentário!