Como melhorar a aplicação de defensivos para pragas do milho

Aplicação de defensivos para pragas do milho: Veja a melhor maneira de utilizar inseticidas, além da época e condições ideais para controle efetivo. 

A cultura do milho possui diversas pragas e, por isso, muitas vezes é necessário recorrer ao uso de defensivos agrícolas. 

As lagartas do milho, por exemplo, se não controladas podem causar até 50% de perdas na produtividade.

Mas você sabe a melhor maneira de utilizar os inseticidas? E o momento ideal da aplicação?

Essas perguntas podem até parecerem irrelevantes, mas são ideais para que se conheça todo o processo que envolve a aplicação de defensivos para pragas do milho.

Vou te explicar com mais detalhes a seguir, além do melhor manejo, o uso da tecnologia e época de aplicação. Confira! 

As pragas do milho

Na cultura do milho podemos detectar a presença de diversas pragas e doenças que prejudicam a produtividade agrícola. 

O uso de defensivos agrícolas tem o objetivo de controlar tanto insetos como ácaros, fungos, nematoides e plantas daninhas

Sendo assim, vamos falar sobre o controle de insetos-praga com o uso de inseticidas na cultura do milho. 

Os principais insetos que podem causar injúrias nesta cultura são:

  1. Corós (família Melolonthidae)
  2. Larva-arame (Conoderus scalaris)
  3. Lagarta-rosca (Agrotis ipsilon
  4. Lagarta-elasmo (Elasmopalpus lignosellus)
  5. Larva-alfinete (Diabrotica speciosa
  6. Lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda
  7. Lagarta-da-espiga (Helicoverpa zea
  8. Broca-da-cana (Diatraea saccharalis)
  9. Percevejos (Dalbulus sp. e Dichelops spp.) 

Como você já deve saber, essas pragas não ocorrem ao mesmo tempo na cultura. Algumas causam maiores problemas no período inicial, outras na fase vegetativa e outras na fase reprodutiva. 

pragas-cultura-milho

E o que isso tem a ver com o controle químico desses insetos? 

Saber a época dos ataques dessas pragas é fundamental para garantir o controle efetivo da população da espécie que se deseja reduzir. 

Quando aplicar os inseticidas?

No passado, era costume que muitos produtores rurais fizessem aplicações de inseticidas de maneira calendarizada. 

Haviam épocas pré-determinadas para realizar as pulverizações na lavoura de milho. Porém, essa forma de aplicação não é aconselhável, pois pode gerar efeitos indesejáveis ao produtor. 

Hoje, com o manejo integrado de pragas (MIP), a ideia não é excluir o uso do método, mas utilizá-lo de uma forma que não seja banalizado e que se faça o uso correto da tecnologia. 

No MIP, recomenda-se a integração de vários métodos para reduzir as populações das pragas. 

O controle químico é um desses procedimentos e pode ser utilizado com base no nível de dano da praga.

O ideal é entrar com aplicação inseticida no momento em que a população atingir o nível de controle. 

Veja abaixo alguns níveis em que há necessidade de medidas de controle das pragas, podendo optar pelo controle químico. 

níveis de controle pragas do milho

Para saber o nível de controle de cada praga é necessário fazer o monitoramento. Você pode conferir as principais formas neste texto: Por que você deve fazer monitoramento de pragas e como iniciá-lo?”.

Após o monitoramento, pode-se fazer a tomada de decisão.

Da mesma maneira deve acontecer com o controle biológico para que o uso dos produtos seja efetivo.

Aplicação de defensivos para pragas do milho: Áreas com tecnologia Bt

O uso da tecnologia Bt (Bacillus thuringiensis) para controle de lagartas na cultura requer alguns cuidados e, por vezes, é necessário complementar com a aplicação de defensivos para pragas do milho.

É muito importante que você saiba como fazer o manejo da resistência de pragas e junto  com o monitoramento e as práticas do MIP, com certeza, terá grandes chances de sucesso na lavoura.

Mas se mesmo com todos os cuidados for necessário o controle químico, fique atento a algumas diferenças do controle convencional. Como, por exemplo, o nível de dano em que se deve entrar com controle. 

Lembre-se que a tecnologia Bt não controla percevejos, por isso, o nível de controle para esses insetos deve ser o mesmo das áreas convencionais. 

aplicação de defensivos para pragas do milho

Nível de controle para lagartas em milho – em áreas de refúgio e Bt
(Fonte: Pioneer Sementes)

Condições para aplicação de defensivos para pragas do milho

Bom, você fez todos os passos, observou sua lavoura de milho, fez monitoramento e chegou à conclusão que vai utilizar inseticidas para controle da praga (ou das pragas) que está causando problemas na sua plantação

Mas qual seria a melhor forma de aplicar? Alguns aspectos importantes devem ser observados.

Estágios da planta

Como as pragas não atingem a planta ao mesmo tempo, o estágio fenológico deve ser levado em consideração no momento da aplicação. 

O melhor momento é no período para controlar a geração da praga, normalmente, chamado de janela de aplicação

Grupos químicos dos inseticidas

Os inseticidas têm modos de ação distintos que podem ser utilizados para controlar uma mesma praga. 

Para evitar que a tecnologia do produto se perca é importante rotacionar o modo de ação dos inseticidas, ou seja, não utilizar o mesmo produto por muito tempo e intercalar com aqueles de modo de ação diferentes. 

Não é recomendado que se repita a mesma mistura pronta de inseticidas e, caso utilize mistura, não use inseticidas que apresentem o mesmo modo de ação na próxima janela de aplicação. 

Prefira os defensivos seletivos aos inimigos naturais, devido à ação desses organismos no agroecossistema com o controle biológico natural.

Além disso, consulte um(a) engenheiro(a) agrônomo(a) para lhe fornecer todas essas informações. 

Veja abaixo algumas recomendações para o momento correto da aplicação (quando a praga estiver no nível de controle), para milho não-Bt (ou convencional), milho Bt e área de refúgio. 

milho não Bt
milho bt
refúgio mínimo 10% da área
aplicação de defensivos para pragas do milho

(Fonte: IRAC – Brasil (Comitê de Ação à Resistência a Inseticidas – Brasil)

Condições climáticas

Outro fator muito importante no momento de fazer as aplicações com inseticidas é saber o momento certo do dia, em que as condições climáticas favoreçam e não prejudiquem o efeito dos produtos sobre as pragas.

No momento da aplicação é ideal que a temperatura esteja entre 20 a 30 °C, a umidade do ar entre 60 a 90% e a velocidade do vento não ultrapassando os 10 km/h – para que não ocorra desperdício e deriva do produto. 

Tecnologia de aplicação dos produtos

Por último e não menos importante: esteja sempre atento à tecnologia de aplicação dos produtos. 

A deposição correta do produto sobre a planta vai garantir o controle efetivo na redução populacional da praga e também vai evitar que ocorra desperdício. 

Por isso, verifique sempre se o equipamento utilizado está com as pontas ideais para aquela aplicação e se o tamanho e a densidade das gotas estão corretas e uniformes. 

Na cultura do milho são muitos os insetos que, se não controlados no momento ideal, vão causar grandes problemas por permanecerem, em grande parte do desenvolvimento, dentro da planta. 

Como no caso das espécies Spodoptera frugiperda, a lagarta-do-cartucho, e Diatraea saccharalis, a broca-da-cana. 

Dessa forma, a tecnologia de aplicação vai contribuir, e muito, para a eficácia do controle químico. 

Conclusão

A cultura do milho possui diversas pragas que, se não controladas, podem causar sérios prejuízos ao produtor.

O controle com aplicação de inseticidas é um dos métodos que pode ser utilizado no manejo integrado de pragas.

Vimos neste artigo que para saber a real necessidade de controle das pragas, o monitoramento deve ser feito tanto nos cultivos convencionais de milho como para áreas em que se utiliza milho-Bt e áreas de refúgio

E, também, que para um controle efetivo é importante saber quando, como e quais produtos devem ser utilizados. 

>> Leia mais: 

7 dicas dos especialistas para uma safra de milho verão ainda melhor

Essas dicas te ajudaram? Como você realiza aplicação de defensivos para pragas do milho? Conte para a gente nos comentários.

Como fazer o melhor manejo da broca da cana-de-açúcar

Broca da cana-de-açúcar: características, sintomas da praga no canavial e diferentes formas de controle para evitar prejuízos.

A broca da cana-de-açúcar é considerada praga-chave da cultura por estar presente em todo o território nacional e em outros países do continente Americano.

Sua presença na lavoura pode representar perdas significativas na produtividade, além de afetar a qualidade da produção de açúcar e de etanol.

Mas como fazer para identificar esta praga? Qual parte da planta ela ataca e como fazer um controle eficaz? Veja a seguir! 

Importância da broca da cana-de-açúcar

Esta praga é pertencente à ordem Lepidoptera e as principais espécies são Diatraea saccharalis e Diatraea flavipennella. A primeira pode ser encontrada em todo o território brasileiro enquanto a segunda é mais frequente na região nordeste do Brasil.

Daremos maior ênfase aqui para a espécie Diatraea saccharalis

A mariposa tem coloração amarelo-palha com manchas escuras nas asas anteriores e cor branca nas asas posteriores. 

 Diatraea saccharalis

Adulto de Diatraea saccharalis; broca-da-cana é importante praga da cultura 
(Fonte: Invasive.org)

Os ovos são colocados nas folhas, tanto na parte abaxial como adaxial, de forma imbricada (coberta parcialmente)

Após a eclosão, as lagartas (de coloração branco-leitosa e com pontos escuros ao longo do corpo) permanecem por um tempo nas folhas e se alimentam do parênquima foliar, por meio da raspagem.

Ovos de broca-da-cana

Ovos de broca-da-cana podem ser observados nas partes abaxial e adaxial folhas
(Fonte: Panorama Fitossanitário) 

Entre o segundo e o terceiro ínstar, as lagartas migram para o colmo da planta, o perfurando. Ali permanecem consumindo o conteúdo interno e formando galerias abertas.

broca da cana-de-açúcar

Lagarta de Diatraea saccharalis dentro do colmo 
(Fonte: Agro Bayer) 

Além disso, o ciclo total da broca da cana-de-açúcar dura até 90 dias, por isso pode haver ocorrência de quatro a cinco gerações por ano na lavoura. 

Danos da broca-da-cana

Esta praga causa danos diretos e indiretos na cultura da cana. 

Os danos diretos são causados pelo ataque da praga no colmo, formando galerias longitudinais e transversais. Isso impede o fluxo da seiva e pode, pela ação do vento, causar a quebra ou tombamento das plantas. 

Também podem ocorrer problemas como perda de peso, morte das gemas, secamento dos ponteiros (conhecido como coração morto), enraizamento aéreo e brotações laterais. 

Danos diretos causados por broca da cana-de-açúcar
(Fonte: Manual de Identificação de Pragas da Cana

De maneira indireta, a abertura de orifícios torna a planta mais suscetível ao ataque de microrganismos como Colletotrichum falcatum e Fusarium moniliforme, que causam doenças como a podridão vermelha. Isso diminui a pureza do caldo pela inversão da sacarose. 

podridão vermelha

Danos indiretos causados por broca-da-cana – podridão vermelha
(Fonte: Manual de Identificação de Pragas da Cana)

Controle da broca da cana-de-açúcar

Uma praga que fica, na maior parte de seu desenvolvimento, dentro do colmo, parece ser impossível de ser controlada.

Mas existem diversos métodos de controle capazes de reduzir a população da broca da cana-de-açúcar de maneira efetiva dentro do Manejo Integrado de Pragas (MIP)

E, como em qualquer outra cultura, é essencial realizar o monitoramento. 

Monitoramento

O controle deve ser baseado na intensidade de infestação da praga. Para isso, é necessário fazer cortes dos colmos da cana. 

É importante que sejam feitos levantamentos de 2 a 4 meses após o plantio (cana-planta) ou após o corte da cana (cana-soca). 

O ideal é fazer dois pontos de amostragem por hectare em sistema de mosaico:

  • Duas ruas de 5 metros cada (total de 10 m por ponto); 
  • Cada ponto amostrado deve ter um espaçamento de 50 m x 100 m;
  • Devem ser coletados cerca de 100 colmos por talhão. 
levantamento populacional da broca da cana-de-açúcar

Esquema de levantamento populacional da broca da cana-de-açúcar
(Fonte: Socicana) 

Para calcular a intensidade de infestação (IF), deve-se contar o número de internódios e o número de internódios atacados e usar a seguinte fórmula:

IF= 100 x n° internódios atacados
n° total de internódios

Se o IF estiver em nível igual ou maior do que 3%, é imprescindível entrar com controle. 

Veja as formas de controle a seguir.

Controle biológico 

Quando existe infestação em nível igual ou maior do que 3%, a maneira ideal de controlar as lagartas é por meio da liberação da vespa parasitoide Cotesia flavipes. 

Cotesia flavipes e lagarta da broca-da-cana

Cotesia flavipes parasitando lagarta da broca-da-cana
(Fonte: Defesa Vegetal) 

Muitas usinas têm produção própria, mas também existem muitas biofábricas que produzem este parasitoide em larga escala. 

A liberação vai depender da população da broca no campo. 

bula de Cotésia Biocontrol

Tabela com informações da bula de Cotésia Biocontrol
(Fonte: Agrofit

Um outro parasitoide muito utilizado é a espécie de microvespa Trichogramma galloi. Ela também tem registro de várias empresas no site do Mapa (Agrofit).

O Trichogramma galloi, diferente da Cotesia flavipes, parasita ovos da broca da cana-de-açúcar. 

Trichogramma galloi

Trichogramma galloi parasitando ovos da broca-da-cana
(Fonte: Defesa Vegetal) 

Juntos, esses dois parasitoides podem controlar até 60% da infestação da broca da cana-de-açúcar.

Existem outros inimigos naturais que ocorrem naturalmente nos canaviais. O ideal é que sejam conservados para que possam contribuir na redução da população da praga.

Controle cultural 

O controle cultural também pode ser feito para prevenir que a praga atinja o nível de controle. 

Alguns métodos são bastante difundidos e têm tido sucesso, alguns deles são:

  • Eliminar plantas hospedeiras;
  • Corte da cana sem desponte;
  • Moagem rápida da cana.

Variedade resistente

Utilizar variedade com uma boa tolerância ou resistência à praga pode contribuir muito no controle da broca-da-cana. 

Como, por exemplo, a variedade CTC9001BT que foi aprovada pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) no final do ano de 2018. 

Controle químico

Embora não atinja a broca quando já está alojada dentro do colmo, os inseticidas podem contribuir na redução das lagartas neonatas, logo após a eclosão. 

Logo após a eclosão, as lagartas ficam um período se alimentando das folhas por raspagem. Esse período pode durar de 2 a 6 dias. E é nesse momento que, se necessário, pode entrar com o controle químico.

Existem 45 produtos registrados para o controle de Diatraea saccharalis pelo MAPA que estão no site Agrofit

Produtos registrados pelo MAPA para controle de Diatraea saccharalis
(Fonte: Agrofit)

É importante que os inseticidas sejam seletivos aos inimigos naturais presentes no agroecossistema. Além disso, fazer rotação de ingrediente ativo impede que ocorra seleção de insetos resistentes. 

Veja alguns exemplos de inseticidas mais seletivos:

  • Altacor (clorantraniliprole)
  • Atabron (clorfluazuron)
  • Certero (triflumuron)
  • Mimic (tebufenozida)
  • Rimon (novaluron)

As doses e caldas podem ser encontradas na bula dos produtos de acordo com cada fabricante. 

Sempre consulte um engenheiro agrônomo.

Conclusão

A broca da cana-de-açúcar é a principal praga da cultura canavieira.

Os danos causados podem ser tanto diretos como indiretos e prejudicar muito a produção final.

A lagarta passa a maior parte do seu desenvolvimento dentro do colmo, por isso o monitoramento é importante. 

Existem diversos métodos de controle pelo manejo integrado de pragas que podem ser utilizados de forma concomitante, como você viu aqui.

Com essas informações, ficará mais fácil fazer o manejo adequado da broca e evitar prejuízos na lavoura.

>> Leia mais:

Nematoides na cana-de-açúcar: como reconhecer e manejar

Plantação de cana-de-açúcar: maior produtividade e ponto ótimo de renovação

Colheita de cana: 5 dicas para otimizar a sua

Restou alguma dúvida sobre a broca da cana-de-açúcar? Você já enfrentou problemas com essa praga na sua lavoura? Adoraria ler seu comentário!

Como fazer o MIP da soja?

MIP da soja: Como fazer o manejo integrado das pragas da cultura da soja e como isso irá trazer benefícios tanto econômicos como ambientais. 

Quando você ouve alguém falando sobre o Manejo Integrado de Pragas (MIP), considera algo impossível de ser feito na cultura da soja?

E se eu te disser que existem muitos casos de sucesso ao utilizar esse método, você acreditaria?

Embora seja um manejo menos facilitador do que aquele convencional, o MIP vai te garantir maior rentabilidade a longo prazo e contribuir para uma produção mais sustentável.

Mas, acredito que muitas dúvidas ainda precisam ser respondidas. Por isso, nosso artigo de hoje é sobre como fazer o MIP na soja. Confira!

Por que fazer o MIP?

Antes de falarmos sobre o MIP na cultura da soja, precisamos entender melhor alguns aspectos sobre esse tipo de manejo e por que é tão importante que ele seja implementado na agricultura de uma forma geral. 

Com o advento dos inseticidas na década de 1930, o mercado agrícola passou a produzir mais, justamente por ter formas mais rápidas de controlar as pragas.

Mas, desde então, não houve uma forma equilibrada de se fazer o uso dos pesticidas. Por isso, muitos problemas começaram a ocorrer, como, por exemplo:

  • resistência de pragas-chave a pesticidas;
  • uso irracional dos pesticidas;
  • Pragas antes secundárias se tornando as principais da cultura;
  • Ressurgência de pragas em níveis muito mais altos;
  • Toxicidade para humanos e organismos não-alvo;
  • Contaminação do ambiente;
  • Pesticidas incompatíveis com o controle biológico

Com esses e outros problemas que foram surgindo, na década de 1960, pesquisadores de diversas áreas propuseram um manejo com outras formas de controle que não somente o químico.

Então, mais do que uma forma de reduzir os custos, o MIP visa muitos outros aspectos nos âmbitos sociais e ambientais.

E o que é o MIP?

O MIP é um conjunto de medidas de controle que objetiva manter as pragas abaixo do nível de dano econômico quando estas chegam no nível de controle.

Todas as medidas adotadas devem ser feitas de formas coordenada e harmônica, com base no custo/benefício, levando em consideração aspectos econômicos, sociais e ambientais. 

Mas, é importante lembrar que o MIP não visa eliminar as pragas do agroecossistema. O principal objetivo é manter essas pragas abaixo do nível de controle de maneira equilibrada.

Como começar o MIP da soja?

Antes de entrar com os métodos de controle, você precisa conhecer o histórico da área e quais pragas podem vir a lhe causar prejuízos ao longo da safra.

Mas, para conhecer, é preciso saber identificar as principais pragas da soja. Dessa forma, você terá como monitorá-las. 

O monitoramento é uma prática que deve se tornar parte da sua rotina. Há a necessidade de que toda semana você verifique a densidade populacional das pragas. 

Com o monitoramento semanal, será possível ter uma melhor tomada de decisão, optando por métodos mais adequados para aquela ou aquelas pragas que poderão causar danos econômicos. 

As maneiras mais comuns utilizadas pelos produtores de soja para monitorar as pragas são pano de batida e armadilhas atrativas. 

Pano-de-batida

No pano-de-batida, é possível verificar a presença de lagartas desfolhadoras – como lagarta-da-soja (Anticarsia gemmatalis); falsa-medideira (Chrysodeixis includens); percevejos, como percevejo marrom e percevejo verde (Nezara viridula); e dos inimigos naturais presentes na área. 

Com isso, será possível calcular níveis de ação e de não-ação. Ao fazer o pano-de-batida é importante que você tenha em mãos uma ficha para monitoramento dos insetos. A Embrapa Soja desenvolveu uma ficha que você pode utilizar para te auxiliar neste momento.

Armadilhamento

Uma outra maneira seria o monitoramento das mariposas (fase adulta das lagartas que atacam a soja) por atratividade utilizando feromônio da espécie, com armadilhas do tipo delta

A quantidade de armadilhas vai depender da espécie de mariposa que está sendo monitorada. Por isso, siga as instruções do fabricante. 

MIP da soja: Diferentes métodos para reduzir as pragas

Ao longo da safra, realizando o monitoramento, você percebe a necessidade de controlar algumas pragas que poderão lhe causar prejuízos caso você não as controle.

controle pragas da soja

E aí: qual seria a melhor forma de controle?

No MIP, você poderá utilizar não somente um, mas vários métodos para controlar as pragas. Vou te indicar alguns deles abaixo:

Controle cultural

O controle cultural é um ótimo aliado para reduzir a densidade populacional das pragas. O interessante deste tipo de controle é que, de uma forma geral, vai contribuir para aumentar ainda mais sua produtividade.

Por exemplo, escolher uma semente de qualidade, fazendo uma boa irrigação, eliminando restos culturais e plantas utilizadas como hospedeiras alternativas dos insetos-praga. 

Controle comportamental 

Existem algumas maneiras de mudar o comportamento das pragas de modo a reduzir suas densidades populacionais. 

Os feromônios podem ser utilizados no monitoramento, mas podem também atuar para confundir os insetos no momento do acasalamento. 

Controle biológico

O controle biológico na cultura da soja é de extrema importância e tem tido resultados muito expressivos. 

Uma forma é fazer o controle biológico natural, conservando os inimigos naturais presentes na área. 

Também pode-se utilizar o controle biológico inundativo, fazendo liberações massais de organismos fornecidos por biofábricas.

Como no caso dos microhimenopteros Trichogramma pretiosum (controle de ovos de mariposas) e Trissolcus basalis (controle de ovos de percevejos).

Um micro-organismo que tem sido muito recomendado para controle de Helicoverpa armigera é o Baculovirus para evitar casos de ataques severos, como os de 2012/2013. 

Controle utilizando plantas resistentes 

O uso de plantas transgênicas é uma maneira bastante efetiva de combater as principais pragas da cultura (lagartas desfolhadoras).

No MIP da soja, é importante que, ao utilizar esse tipo de manejo, se tenha a área de refúgio para contribuir no manejo de resistência das pragas.

Lembre-se: utilizar planta transgênica não vai lhe deixar isento de fazer monitoramentos e outras táticas do MIP.

Controle químico

Ao contrário do que muitos imaginam, o MIP permite sim o uso do controle químico, mas de forma racional e equilibrada. 

O ideal é utilizar inseticidas seletivos aos inimigos naturais para manter a sanidade do ambiente.

Existem diversos inseticidas registrados para controle de pragas na cultura da soja, mas nem todos são seletivos e podem permanecer por muito tempo na lavoura.

O custo dos inseticidas mais seletivos pode significar um empecilho de início, porém, a longo prazo, irá garantir redução de custos. 

Alguns erros cometidos no MIP da soja

Muitas vezes, no intuito de aproveitar alguma operação, acabamos cometendo erros. E eles podem tornar o custo mais alto de forma desnecessária.

Um exemplo bem comum é aplicar inseticidas junto com fungicidas para aproveitar o uso das máquinas que já irão rodar no campo de qualquer jeito. 

Mas essa decisão é, na maioria das vezes, impensada e sem monitoramento prévio

Além disso, pode aumentar os custos e causar aqueles fenômenos comentados anteriormente como: resistência das pragas aos inseticidas, ressurgência de pragas, dentre outros problemas.

Imagine só… 

João tem dois filhos. Um deles está com infecção na garganta e o outro não. Para aproveitar os remédios, João decide medicar os dois filhos ao mesmo tempo. 

O que João fez, foi uma imprudência, porque o filho que não está doente poderá ter problemas com o medicamento. Sem contar que João gastou sem necessidade.

Levando para o contexto da lavoura, acontece mais ou menos a mesma coisa.

Por isso, mesmo que seja um pouco mais complicado fazer o MIP, as táticas são necessárias para garantir maior sanidade do sistema de plantio. 

Conclusão

O MIP da soja não é algo impossível de ser feito e existem muitos casos de sucesso. 

É importante que você faça o MIP na sua lavoura para evitar problemas com relação ao abuso no uso de inseticidas.

Para começar esse manejo é importante conhecer o histórico da área e fazer monitoramentos semanais.

Discutimos aqui os principais métodos de controle e alguns erros cometidos no MIP da soja.

Com essas informações, espero que você tenha condições de tomar a melhor decisão no controle de pragas da sua lavoura.

Restou alguma dúvida sobre o MIP da soja? Quais tipos de controle você adota em sua lavoura hoje? Adoraria ler seu comentário!

Lagartas na soja: como identificar e controlar

Lagartas na soja: principais diferenças entre elas, fases em que ocorrem danos na lavoura e os melhores métodos de controle.

Você já sabe que as lagartas causam muitos prejuízos quando não controladas. Nesta safra, por exemplo, estamos vendo surtos da Helicoverpa armigera em áreas de soja.

Você saberia identificar cada lagarta que afeta a cultura da soja, seus hábitos, coloração e danos que causam?

Tudo isso é muito importante para que você saiba exatamente quando e como agir para manter a fitossanidade da cultura.

Veja tudo isso neste artigo e faça um manejo ainda melhor na sua propriedade!

Lagartas que ocorrem na soja

As lagartas são a fase jovem dos insetos da ordem Lepidoptera, em que estão as borboletas e mariposas.

Nas lavouras, as lagartas das mariposas são as principais responsáveis por causar injúrias.

São diversas as espécies que ocorrem desde a fase inicial até a fase reprodutiva. 

As principais lagartas que atacam a cultura da soja são:

Vamos conhecer melhor cada uma delas a seguir!

Lagarta-elasmo (Elasmopalpus lignosellus

Lagarta-elasmo

Lagarta-elasmo
(Fonte: Bayer)

A lagarta-elasmo ou broca-do-colo é uma praga que ataca a soja logo no plantio. E, se não for controlada, pode danificar muito sua lavoura.

É importante saber que essa lagarta ocorre, preferencialmente, em solos mais arenosos. Além disso, ela necessita de períodos prolongados de seca para se estabelecer na fase inicial da cultura. 

As lagartas têm coloração inicial esverdeada, mas tornam-se mais amarronzadas conforme vão aumentando de tamanho (que pode chegar a 2 cm).

Possuem faixas transversais amarronzadas ou avermelhadas no dorso. 

Os sintomas de ataque são murcha e secamento das folhas, levando a planta à morte.

Isso ocorre devido ao seu hábito de fazer cortes e broqueamento nas plantas novas.

Lagarta-elasmo soja

Período de ocorrência da lagarta-elasmo
(Imagem adaptada de Instituto Phytus)

Lagarta-rosca (Agrotis ipsilon)

Lagarta-rosca

Lagarta-rosca
(Fonte: TD Monsanto) 

Assim como a lagarta-elasmo, a lagarta-rosca também ocorre na fase inicial da cultura. Porém, ela ocorre em solos mais úmidos e com grandes concentrações de matéria orgânica. 

Tanto os adultos como as lagartas possuem hábitos noturnos. As mariposas têm coloração parda ou marrom com envergadura das asas anteriores de cerca de 5 cm.

As lagartas, com coloração variável (sendo a mais comum a pardo-acinzentada), podem chegar a 4,5 cm de comprimento. Durante o dia, ficam abrigadas no solo. 

Elas se alimentam principalmente das hastes, mas atacam as sementes recém-germinadas da soja.

Podem causar sintomas como reboleiras com falhas na germinação, coração morto e plântulas com murchamento. 

Lagarta-rosca soja

Período de ocorrência da lagarta-rosca
(Imagem adaptada de Instituto Phytus)

Lagarta-da-soja (Anticarsia gemmatalis

É a lagarta desfolhadora mais comum em todo o território nacional. E, por ser desfolhadora, a lagarta-da-soja começa a aparecer no estádio vegetativo V2

As lagartas menores possuem coloração verde e podem ser confundidas com a lagarta-falsa-medideira, pois também costumam medir palmos. 

Lagartas maiores, com cerca de 1,5 cm de comprimento, podem ter coloração tanto esverdeadas como amarronzadas. Elas ainda apresentam três linhas brancas longitudinais no dorso. 

A lagarta-da-soja se alimenta do terço superior das plantas e, conforme vão se tornando maiores, a desfolha aumenta. Dependendo da densidade da população, podem se alimentar até mesmo de flores e vagens. 

lagarta-da-soja

Período de ocorrência da lagarta-da-soja
(Imagem adaptada de  Instituto Phytus)

Lagarta-falsa-medideira (Chrysodeixis includens)

Lagarta-falsa-medideira

Lagarta-falsa-medideira
(Foto: Bayer)

Outra lagarta desfolhadora é a lagarta-falsa-medideira. Ela tem sido um problema grande nas lavouras de soja, principalmente quando seus surtos ocorrem junto com a lagarta-da-soja.

Quando eclodem, as lagartas têm coloração verde-clara e, ao se alimentarem, podem apresentar uma cor mais verde-amarronzada.

Possuem listras longitudinais brancas com pontuações pretas no dorso

Esta lagartas são assim conhecidas porque se locomovem “medindo palmo”, com dois pares de pernas abdominais. 

Localizam-se no terço inferior das plantas e consomem as folhas sem atingir as nervuras, deixando um aspecto rendilhado. 

Lagarta-falsa-medideira soja

Período de ocorrência da lagarta-falsa-medideira
(Imagem adaptada de Instituto Phytus)

Lagarta-das-maçãs (Chloridea (=Heliothis) virescens)

Lagarta-das-maçãs

Lagarta-das-maçãs 
(Fonte: Pioneer Sementes)

A lagarta-das-maçãs é a principal praga do algodoeiro, mas se tornou extremamente polífaga nas últimas décadas, atacando diversas outras culturas, como a soja. 

As lagartas inicialmente têm coloração verde-claro e, com o tempo, se tornam mais amarronzadas, podendo atingir até 2,5 cm de comprimento. 

Elas se alimentam dos ponteiros das plantas, começando pelas folhas novas, passando para as brácteas até atingir flores e botões florais.

Os sintomas típicos são diminuição das flores e consequente redução da produção de vagens. 

Lagarta-das-maçãs soja

Período de ocorrência da lagarta-das-maçãs
(Imagem adaptada de Instituto Phytus)

Lagarta-do-cartucho (Spodoptera spp.)

Lagarta-do-cartucho

Complexo de Spodoptera spp.
(Fonte: Lavoro)

As lagartas do complexo de Spodoptera têm uma grande importância econômica na soja, devido à voracidade das espécies.

A espécie Spodoptera frugiperda causa danos, principalmente, nas plântulas. Spodoptera eridania e S. cosmioides atacam tanto na fase vegetativa como na reprodutiva. 

As espécies possuem características morfológicas distintas e, por isso, há a necessidade de melhor detalhamento na identificação. 

Podem atacar desde as plântulas até as vagens. Inicialmente, causam sintomas semelhantes à lagarta-rosca, pois cortam as plântulas rente ao solo.

E, quando atacam na fase reprodutiva, se abrigam no interior das plantas. 

Período de ocorrência da lagarta-do-cartucho
(Imagem adaptada de Instituto Phytus)

Como controlar as lagartas na soja?

Para controlar as lagartas na soja, não existe apenas um método que irá acabar com todas elas.

No Manejo Integrado de Pragas (MIP), você deve iniciar com a base, que é o monitoramento, e partir para o controle após a tomada de decisão

Após realizar o monitoramento, você poderá utilizar vários métodos de controle das lagartas que podem prejudicar sua lavoura.

Dentre os métodos, podemos citar controle cultural, controle genético, controle biológico e controle químico. Mas você poderá decidir por outros métodos também.

Vamos ver melhor cada um deles a seguir:

Controle cultural 

Em diversas culturas é possível realizar a rotação de culturas para controlar lagartas. Porém, na soja, as lagartas são muito polífagas e a rotação não surtiria muito efeito.

Mas você poderá utilizar técnicas que vão melhorar a sanidade da lavoura, que ficará mais resistente ao ataque dessas pragas

Algumas ações que irão te ajudar nisso:

  • Destruição de restos culturais;
  • Adubação de maneira correta;
  • Plantar na época adequada;
  • Destruição de hospedeiros alternativos;
  • Tratamento de sementes. 

Controle genético

Existem variedades de soja modificadas geneticamente, como a Intacta RR2 PRO®, e variedades selecionadas com resistência natural a insetos. 

As tecnologias com a proteína Bt (Bacillus thuringiensis) conferem resistência à maioria das lagartas aqui citadas. 

É importante lembrar que, quando você for utilizar uma variedade resistente, é necessário que se faça o plantio da área de refúgio, para não haver seleção de insetos resistentes.

Controle biológico 

O controle biológico dos lepidópteros-praga na cultura da soja pode ser feito com micro e com macroorganismos.

Pode ocorrer de forma natural, com organismos presentes na cultura, ou você pode aplicar, de forma inundativa, adquirindo em empresas especializadas na produção desses agentes. 

Alguns exemplos de organismos para controle de lagartas na soja:

  • Baculovirus;
  • Beauveria bassiana;
  • Bacillus thuringiensis
  • Trichogramma pretiosum

Controle químico

Não mais importante que os demais tipos de controle, no manejo integrado de pragas você pode realizar o controle com inseticidas, desde que seja de forma consciente. 

Aplicar de forma calendarizada de nada vai contribuir para a redução das pragas a longo prazo. Pelo contrário, você talvez irá gastar mais do que precisava e ainda poderá piorar a situação das pragas. 

Então, sempre que for utilizar um inseticida para controle das lagartas, consulte um Eng. agrônomo(a) e leia a bula.

Existem vários inseticidas registrados no Agrofit (MAPA), mas aconselho você a optar por aqueles mais seletivos aos inimigos naturais.

E também fique atento à tecnologia de aplicação, pois, como você viu, algumas lagartas ficam mais no terço inferior e outras no terço superior das plantas.

Nos artigos a seguir, temos mais orientações sobre o controle químico:

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Conclusão

Neste artigo, você viu as principais lagartas na soja. Algumas podem atacar apenas na fase inicial da cultura e outras atacam desde a fase inicial até a fase reprodutiva.

Foi possível ver que os sintomas são bastante característicos, o que vai te ajudar a identificar melhor as pragas.

Para controlar as lagartas, o ideal é que você faça o manejo integrado de pragas com várias táticas em conjunto para melhor resultado.

>> Leia mais:

“Novidade no mercado de defensivos: inseticida Plethora”

Como fazer o MIP da soja

Como você faz o controle das lagartas na soja hoje? Qual sua maior dificuldade? Adoraria ler seu comentário! 

MIP (Manejo Integrado de Pragas): tudo o que você precisa saber sobre ele

Manejo Integrado de Pragas: o que é, como monitorar, níveis e principais tipos de controle, + planilha grátis!

O Manejo Integrado de Pragas (MIP) é o uso de táticas de controle de pragas, isoladamente ou associadas, numa estratégia baseada em análises de custo/benefício, que levam em conta o interesse e/ou o impacto sobre os produtores, sociedade e o ambiente.

É crescente a demanda dos consumidores por alimentos mais saudáveis, o que exige uma racionalização na utilização de defensivos. Por esse motivo, o MIP é um assunto que está constantemente em alta. 

E para o produtor, traz resultados benéficos no controle de pragas agrícolas e, principalmente, na economia na aplicação de defensivos.

O que é MIP (Manejo Integrado de Pragas)?

O MIP (Manejo Integrado de Pragas) é a otimização de controle de pragas agrícolas, como insetos, fungos, nematoides e plantas daninhas. Ele associa o ambiente e a dinâmica populacional das pragas.

É um sistema de manejo que considera o uso de todos os métodos de proteção de plantas disponíveis.

A função do MIP é buscar integrar diversas medidas de controle para manter o nível populacional das pragas abaixo do nível de dano econômico. Isso tudo de forma econômica, ambiental e ecologicamente viável. 


O que é o Manejo Integrado de Pragas e Doenças? 

O MIPD (Manejo Integrado de Pragas e Doenças)  é a associação de estratégias de controle tanto de pragas quanto de doenças. O MIPD pode ser utilizado para o manejo de insetos, doenças e plantas daninhas, seguindo os mesmos princípios do MIP. 

Mas, é claro, cada um tem suas particularidades e, por isso, o MIPD foi criado.

O Manejo Integrado de Pragas e Doenças busca diminuir as chances dos insetos ou doenças de se adaptarem a alguma prática defensiva em especial. 

Quando bem empregado, o MIPD limita os efeitos potenciais prejudiciais dos defensivos químicos utilizados para proteger os cultivos.

Você também pode ter interesse:

3 etapas do Manejo Integrado de Pragas (MIP)

O MIP segue 3 etapas básicas:

  • Avaliação do agroecossistema;
  • Tomada de decisão;
  • Seleção dos métodos de controle a serem adotados.

As duas primeiras etapas podem ser consideradas o alicerce para a definição das estratégias de gestão integrada das pragas agrícolas na propriedade. A terceira irá garantir o sucesso do cultivo. Veja, a seguir, cada uma delas:

1. Avaliação do agroecossistema

A avaliação do agroecossistema consiste em, simplesmente, avaliar e conhecer a lavoura. Nessa etapa, você vai identificar as principais pragas agrícolas que podem causar danos à sua cultura. 

É importante entender em qual momento cada praga pode causar mais prejuízos, e quando é necessário ficar alerta para a tomada de medidas preventivas.

Identificar o estádio de desenvolvimento das plantas também é essencial. Essa prática garante que os métodos de controle, especialmente o químico, sejam feitos no momento certo, evitando danos à lavoura.

A identificação das pragas permite conhecer características específicas sobre seus hábitos e seus respectivos inimigos naturais. A presença dos inimigos naturais é vantajosa, pois colabora com a redução dos custos.

Você pode se fazer as seguintes perguntas para evitar erros no processo:

  • A lagarta ou outro inseto tende a ficar escondido embaixo das folhas durante o dia?
  • Esse é um inseto com hábito subterrâneo, que fica no solo?
  • Esse é um inseto de hábito noturno?

Dessa maneira, você conhecerá os hábitos da praga e entenderá quais são os melhores horários para instalar iscas ou até mesmo monitorar. Além disso, você saberá quais métodos de controle podem ser utilizados. 

Outro ponto importante: as condições climáticas são vitais para ter uma ideia da infestação. Temperaturas mais altas aceleram o ciclo de vida dos insetos, resultando em mais gerações em uma mesma safra.

2. Monitoramento de pragas e nível de controle

A avaliação do agroecossistema é realizada por meio de amostragens e monitoramento. A  partir dela, é feita a tomada de decisão. 

O monitoramento requer vigilância constante para conhecer a densidade populacional ou nível de danos de uma praga na lavoura. Ele é feito por meio de amostragens

O número de pontos de amostragem vai depender do tamanho da área. Cada ponto corresponde ao exame de, no mínimo, 5 ou 6 plantas. O monitoramento ainda permite coletar as seguintes informações:

  • NE (Nível de Equilíbrio): densidade populacional média, durante um longo tempo, sem que ocorram mudanças permanentes;
  • NC (Nível de Controle): densidade populacional que requer medidas de controle para evitar prejuízos;
  • ND (Nível de Dano): menor densidade populacional do inseto capaz de causar perdas econômicas ao produtor. 

Após o monitoramento, é tomada a decisão sobre realizar ou não o controle de pragas na lavoura.

3. Tomada de decisão

Nesta etapa, são analisados todos os aspectos econômicos da cultura, além  da viabilidade para realizar o controle integrado de pragas.

Caso no monitoramento sejam constatados níveis de danos igual ou superior ao nível de controle, você deve iniciar o controle.

O NDE (Nível de Dano Econômico) é a densidade populacional da praga ou de danos que causa prejuízos à cultura iguais ao custo de adoção de medidas de controle.

Para simplificar, é a menor densidade populacional capaz de causar perdas econômicas, redução da produtividade ou qualidade da cultura. O NDE pode ser calculado através da fórmula:

NDE (%) = (Valor da produção da cultura/ Valor da aplicação) x 100. Para melhor compreensão, vamos a um exemplo:

  • Valor da produção da cultura = R$ 1.000;
  • Valor da aplicação = R$ 100

NDE (%) = (100/1000) x 100 = 10%

O controle se justifica somente quando a densidade populacional atingir nível suficiente para ocasionar perda de 10% na produção.

Vale ressaltar que o NDE não será o mesmo para as diferentes espécies de insetos na mesma cultura, nem mesmo para uma espécie em várias culturas.

No entanto, as medidas de controle são e devem ser adotadas antes que se atinja o NDE, pois há um certo tempo para que as medidas adotadas se tornem efetivas. O controle deve ser realizado em um nível abaixo do NDE, no chamado nível NC (nível de controle).

O nível de controle é o sinal para decidir quais as estratégias de MIP poderão ser aplicadas na lavoura. Muitos estudos também estão sendo realizados para encontrar o NC de cada espécie e cultura. 

Manejo Integrado de Pragas (MIP) em áreas de grãos e fibras

Métodos de controle de pragas

Os métodos de controle utilizados são considerados os pilares do MIP. São eles:

  • Controle cultural;
  • Controle biológico;
  • Controle comportamental;
  • Controle genético;
  • Controle varietal;
  • Controle químico.

O MIP permite o controle químico, mas também envolve outros tipos de controle. Isso resulta em diminuição no uso de defensivos agrícolas e da população dos organismos nocivos. Confira abaixo os principais métodos de controle adotados pelo MIP:

1. Controle cultural de pragas

É o uso de práticas agrícolas que diminuem a incidência das pragas e/ou que promovem uma lavoura sadia.  Algumas dessas práticas são: 

  • Época de plantio adequada;
  • Irrigação ou drenagem; 
  • Destruição de plantas hospedeiras alternativas;
  • Mobilização do solo ou revolvimento: pode ser utilizada para expor os organismos nocivos ao ambiente, especialmente à radiação solar e a altas temperaturas. Isso acaba por reduzir a sua população. 
  • Rotação de culturas: indispensável para quebrar o ciclo das pragas e doenças, inviabilizando seu desenvolvimento e reprodução. Afinal, a cultura hospedeira destas não estará presente.

Mas atenção: o método de rotação de culturas não é eficiente para todas as pragas e doenças de plantas. Diversas delas são polífagas, e se alimentam de diferentes famílias botânicas.

  • Destruição de restos culturais: consiste em destruir os restos da cultura anterior. Isso pode ser feito antes do próximo cultivo ou durante o próprio cultivo (no caso de cultivos perenes, como café);
  • Adubação correta: o equilíbrio da nutrição é importante, pois alguns nutrientes favorecem a tolerância das culturas às pragas. Alguns também podem deixá-la suscetível, como é o caso do Nitrogênio em excesso.

Por isso, análises de solo da sua área são importantes. A avaliação de macro e micronutrientes presentes também. A partir destes resultados, você terá maior assertividade na quantidade e fórmula de fertilizante necessário para a cultura;

2. Controle biológico

O controle biológico é a ação de inimigos naturais sobre as pragas, contribuindo na redução do nível populacional. Ele pode ser natural, clássico ou aplicado.

O natural visa à conservação dos inimigos naturais presentes na área agrícola. Para isso, é importante o uso de inseticidas seletivos, como alguns inseticidas naturais

O clássico tem a finalidade de controlar pragas exóticas. Por isso, são utilizados inimigos naturais importados de diferentes regiões. O aplicado é quando são feitas liberações de inimigos naturais advindas de criações massais em biofábricas.  

Quanto maior a diversidade do agroecossistema, maiores as chances dos inimigos naturais permanecerem na cultura e contribuírem no controle das pragas.

3. Controle de pragas comportamental (armadilhas)

Este método de controle é baseado no uso de armadilhas que são capazes de atrair algumas pragas, como pulgões, moscas-brancas, tripes e minadoras. Esses insetos são atraídos pelas cores amarelo e azul.

As armadilhas são painéis adesivos azuis ou amarelos, instalados na área agrícola para capturar insetos em deslocamento. Os amarelos são recomendados para detecção e monitoramento de cigarrinhas, mosca-minadora, mariposas e pequenos besouros. 

Os azuis, por sua vez, são indicados para tripes. A utilização de plantas iscas ou plantas repelentes também é uma alternativa interessante para o controle de lepidópteros e besouros em alguns cultivos.

As armadilhas luminosas são dispositivos para atração e captura de insetos com asas, que possuem atividade noturna. Eles são atraídos pela luz entre as 19h e 5h da manhã.

A armadilha luminosa tem a função de monitoramento ou controle da população de insetos. Esse método funciona para besouros, mariposas, percevejos, cigarrinha-do-milho, cigarras, gafanhotos, grilos, moscas e mosquitos.

As armadilhas devem ser colocadas entre as fileiras de plantio e, principalmente, na bordadura da lavoura, se for o caso de início da safra. Para o monitoramento, são recomendadas de 100 a 200 armadilhas por hectare.

4. Controle de pragas varietal

O controle varietal se baseia no uso de plantas resistentes. Ele tem sido cada vez mais comum.  As próprias plantas utilizam recursos para controlar determinada praga através da resistência genética

Por isso, é importante que você conheça as cultivares disponíveis, para poder optar pelas resistentes. Uma outra forma de uso de plantas resistentes seria com o uso das plantas transgênicas. Nelas, um gene de alguma outra espécie é transferido para a planta.

É o caso da tecnologia Bt, utilizada em cultivares de milho, soja, algodão e cana-de-açúcar. 

5. Controle mecânico de pragas (ou controle físico)

O controle físico é baseado no uso de medidas específicas para impedir danos das pragas de forma bastante direta.  Algumas boas práticas seriam:

  • Esmagamento de ovos;
  • Catação manual de lagartas;
  • Modificação da temperatura e/ou luminosidade;
  • Inundação de áreas;
  • Formação de barreiras físicas. 

Na fruticultura, por exemplo, é muito utilizado o uso de barreiras físicas com o ensacamento dos frutos ainda na planta.

6. Controle de pragas genético

As ferramentas da engenharia genética têm sido estudadas para contribuir para uma agricultura mais sustentável. Elas contribuem com organismos geneticamente modificados

Atualmente, existe um grande número de plantas modificadas geneticamente para controle de insetos. Além das plantas, os insetos também podem ser manipulados para controle da espécie que está causando danos. 

Um exemplo da nossa atualidade é a esterilização híbrida, como no caso do mosquito transmissor da dengue (Aedes aegypti). 

7. Controle químico de pragas

O controle químico acontece, basicamente, com o uso de defensivos agrícolas. Para o uso desse tipo de controle, é necessário muito cuidado, sobretudo na aplicação dos defensivos

Consultar um(a) engenheiro(a)-agrônomo(a) é essencial para evitar super ou subdosagem, além de evitar riscos de tornar os insetos resistentes à substância.

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Vantagens do controle de insetos com MIP

O Manejo Integrado de Pragas mantém o agroecossistema o mais próximo possível do nível de equilíbrio. Isso quer dizer que tudo pode funcionar melhor, já que tudo na agricultura está integrado.

A lavoura sadia e sem os prejuízos das pragas com certeza resultará em maiores produtividades. E, melhor ainda, melhores rentabilidades, já que com o MIP é possível diminuir o uso de inseticidas.

Além disso, quem nunca esteve em dúvida entre fazer ou não uma aplicação? Por meio do monitoramento do MIP, você sabe com certeza quando o controle é realmente necessário. É você no comando de sua fazenda.

Controle biológico de pragas agrícolas: Como funciona esse método

Controle biológico de pragas agrícolas: Saiba mais sobre esse método de manejo muito eficaz e que ainda vai te ajudar a reduzir os custos na lavoura

O controle biológico tem como objetivo controlar as pragas agrícolas a partir do uso de seus inimigos naturais, que podem ser insetos benéficos, parasitoides, fungos, vírus ou bactérias, por exemplo.

É um método de controle racional e sadio, que pode ser natural ou induzido. Além disso, pode contribuir para reduzir os custos com o controle químico da lavoura.

A tática tem crescido no mercado agrícola brasileiro, mas ainda existe receio por parte de muitos produtores em usá-la.

Vou te apresentar os principais tipos de controle biológico para que você entenda melhor como vai te ajudar na redução dos custos da sua lavoura. Veja a seguir!

O que é controle biológico de pragas agrícolas?

O controle biológico de pragas é definido como um fenômeno que acontece naturalmente no ambiente por meio dos inimigos naturais, que regulam o número de plantas e animais.

No Manejo Integrado de Pragas (MIP), o controle biológico é um dos métodos que pode ser utilizado de forma natural ou induzida para reduzir a população das pragas. 

No caso do controle biológico de insetos-praga na agricultura, os inimigos naturais podem ser predadores, parasitoides e entomopatógenos.

Os predadores matam as presas e as consomem. São insetos maiores que as presas, têm vida livre e necessitam de um número alto de indivíduos para completar seus ciclos. 

controle biológico de pragas agrícolas
Joaninha predando pulgão
(Fonte: Portal Paisagismo)

Os parasitoides são os insetos que vão parasitar a praga. Os adultos são de vida livre e as larvas parasitam a praga se alimentando do hospedeiro para completar seu ciclo de vida. O hospedeiro morre ao final do ciclo. 

controle biológico de pragas agrícolas
Cotesia flavipes parasitando broca-da-cana
(Fonte: Heraldo Negri de Oliveira)

Os entomopatógenos são microrganismos que causam doenças nos insetos-praga e os matam. Como exemplo, podemos citar fungos, vírus, bactérias, nematoides e protozoários

Artrópodes infectados por Beauveria bassiana
Artrópodes infectados por Beauveria bassiana
(Fonte: Mascarin e Jaronski, 2016)

Tipos de controle biológico

O controle biológico é uma prática natural para o manejo de pragas e doenças, utilizando organismos vivos para controlar ou reduzir populações de pragas.

Existem três tipos principais de controle biológico, cada um com suas características específicas. Confira abaixo:

1. Controle biológico natural

Refere-se ao controle que ocorre naturalmente no ambiente para equilibrar o ecossistema. A principal ação do produtor para garantir esse tipo de controle é na conservação dos inimigos naturais na área. 

Para isso, é importante que você manipule o ambiente de maneira que preserve os organismos benéficos.

Por exemplo, se for fazer aplicação de produtos químicos, opte por aqueles que forem seletivos aos inimigos naturais da área.

Outra maneira seria manter plantas atrativas próximas ao cultivo para que, na ausência da praga na cultura, os inimigos naturais possam se alimentar de presas ou hospedeiros alternativos presentes nessas plantas.

controle biológico de pragas agrícolas
Esquema de como podem ser distribuídas as plantas para atrair inimigos naturais
(Fonte: Documentos 283 Embrapa)

2. Controle biológico clássico 

Esse tipo visa uma medida de controle a longo prazo, por isso é indicado que seja realizado em cultivos de plantas perenes ou semiperenes

Para o controle de pragas exóticas (aquelas que não são nativas) são realizadas importações e colonizações de seus inimigos naturais.

Ao longo do tempo, são feitas liberações inoculativas, ou seja, liberações de um pequeno número de organismos por uma ou mais vezes no mesmo local. 

Por haver introdução de outro organismo, vários estudos devem ser realizados para assegurar que não ocorra nenhum tipo desequilíbrio no meio ambiente. 

3. Controle biológico aplicado 

Esse é o tipo de controle biológico mais utilizado comercialmente. Os inimigos naturais são criados de forma massal em laboratório para serem liberados no campo. 

As liberações são inundativas e visam a redução das populações das pragas em um curto período de tempo; são os chamados “inseticidas biológicos”. 

Controle biologico: Exemplos

O controle biológico é uma técnica de manejo de pragas que utiliza organismos vivos para controlar ou reduzir populações de pragas, sem o uso de produtos químicos.

Esse método é mais sustentável e pode ser muito eficaz, quando bem planejado. Aqui estão alguns exemplos mais comuns:

1. Insetos predadores

  • Joaninhas (Coccinellidae): São predadores naturais de pulgões, ácaros e outros insetos pequenos. Ao introduzir joaninhas na lavoura, é possível reduzir as populações de pragas sem agredir o meio ambiente.
  • Crisopas (Chrysopidae): As larvas da crisopa são predadoras de pulgões, ácaros e larvas de insetos. Elas são comumente usadas em hortas e cultivos de frutas.

2. Parasitoides

  • Vespas parasitoides: Algumas vespas colocam seus ovos dentro de outros insetos, como moscas ou lagartas. As larvas da vespa se alimentam da praga hospedeira, matando-a. Um exemplo é a Trichogramma, que parasita ovos de várias espécies de lepidópteros (como as lagartas).
  • Nematóides: Certos tipos de nematóides, como o Steinernema e o Heterorhabditis, parasitam insetos do solo, como larvas de besouros. Esses nematóides infectam e matam as pragas, sendo uma alternativa eficaz para o controle de pragas subterrâneas.

3. Microrganismos

  • Bacillus thuringiensis (Bt): Uma bactéria que produz toxinas que matam lagartas de várias espécies. O Bacillus thuringiensis é amplamente utilizado em cultivos de soja, milho e algodão para controlar lepidópteros (como a lagarta-do-cartucho).
  • Fungos entomopatogênicos: Fungos como o Beauveria bassiana ou o Metarhizium anisopliae infectam e matam insetos, como percevejos e formigas. Esses fungos são aplicados na lavoura para combater pragas de maneira natural.

4. Controle Biológico com Micro-organismos do Solo

  • Trichoderma spp.: Um fungo que pode ser usado para controlar outras doenças fúngicas no solo, como as causadas por Fusarium, Rhizoctonia e Sclerotinia. Ele age competindo com esses patógenos e produzindo substâncias que os inibem.
  • Pseudomonas fluorescens: Bactéria benéfica que ajuda no controle de doenças causadas por patógenos do solo, como Fusarium e Pythium, além de estimular o crescimento das plantas.

5. Competidores

  • Insetos competidores de alimentos: Um exemplo de controle biológico indireto é quando se introduzem espécies de insetos que competem com as pragas por alimento. Isso pode reduzir a população de pragas naturalmente, como é o caso de alguns bichos-preguiça que consomem as mesmas folhas que algumas pragas.

6. Controle com Plantas

  • Plantas repelentes: Algumas plantas atuam como repelentes naturais de pragas. O uso de plantas como alcatrão ou manjericão pode ajudar a afastar insetos como mosquitos e moscas, reduzindo a necessidade de controle químico.
  • Plantas que atraem inimigos naturais: Cultivar plantas que atraem insetos benéficos, como flores que atraem joaninhas ou abelhas, pode ajudar a aumentar o controle biológico na lavoura.

7. Controle com Predadores Naturais

  • Pássaros: Alguns pássaros podem ser usados para controlar pragas em áreas agrícolas, como gafanhotos, lagartas e até mesmo pequenos roedores. Embora não seja uma técnica direta como os insetos predadores, o incentivo à presença de aves benéficas pode ajudar no controle biológico.

Formas de liberação dos inimigos naturais 

Existem três formas que você pode optar no momento da liberação da população de inimigos naturais, que vão depender da praga-alvo em questão:

  • Inoculativa: é o tipo de liberação típico do controle biológico clássico em que os inimigos naturais são liberados em um número bastante limitado, visando o controle da população da praga em longo prazo.
  • Inoculativa estacional: esse tipo de liberação é mais comum em casas-de-vegetação em períodos de ocorrência da praga. Os efeitos serão a curto e longo prazos, com a liberação de altas densidades inicialmente. 
  • Inundativa: é utilizado de maneira efetiva para controle de pragas em cultivos anuais ou bianuais em que há a necessidade do controle da praga a curto prazo. São feitas criações massais em biofábricas. 

Inimigos naturais utilizados comercialmente no controle biológico de pragas 

O uso de controle biológico aplicado tem a necessidade da produção dos inimigos naturais em larga escala, ou seja, devem ser realizadas criações massais.

Essas criações são possíveis devido ao investimento de diversas biofábricas que produzem esses organismos para que você, produtor, possa adquirir e utilizar na sua lavoura. 

Muitos são os produtos biológicos registrados pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), que podem ser consultados no site Agrofit.

Além disso, a tecnologia de aplicação tem avançado bastante. E, como você já deve ter visto por aí, muitos produtores têm feito as liberações com o auxílio de drones. 

Veja no vídeo abaixo, a liberação de vespas parasitoides para o controle de lagarta-do-cartucho, Spodoptera frugiperda, em lavoura de milho com o uso de drones

Como você viu no vídeo, quando os produtos biológicos são utilizados em um Manejo Integrado de Pragas (MIP), o uso de defensivos químicos será reduzido e, consequentemente, há uma redução nos custos

Além do mais, o uso intensivo de inseticidas pode causar ressurgência de pragas, selecionando aqueles indivíduos resistentes na população. 

Com a compatibilização dos métodos de controle, você poderá obter redução das pragas agrícolas de forma sustentável. Sem contar que vai diminuir os resíduos químicos no meio ambiente. 

Sempre opte por produtos seletivos aos inimigos naturais, independente do tipo de controle biológico que for fazer. Isso vai permitir que o manejo seja efetivo e você não terá problemas futuros, como a eliminação dos organismos benéficos do meio. 

Exemplos de produtos biológicos comercializados

O Brasil tem crescido muito nesse setor, cerca de 15% ao ano, e já existem muitos produtos registrados no site do MAPA, o Agrofit. Veja alguns exemplos:

Cotesia flavipes

Essa vespinha é liberada de forma inundativa em canaviais para o controle de lagartas da broca-da-cana, Diatraea saccharalis

Exemplos de produtos registrados: Cotesia Biocontrol.

cotesia flavipes em cana
Liberação de adultos Cotesia flavipes em cana-de-açúcar
(Fonte: Defesa Vegetal)

Trichogramma pretiosum

Essa é uma vespa menor ainda e é muito efetiva no controle de ovos de diversas lepidópteras-praga, como Spodoptera frugiperda em milho e Crysodeixis includens em soja.

Exemplo de produto registrado: Pretiobug.

controle biológico de pragas agrícolas
Fêmea de Trichogramma pretiosum parasitando ovo de mariposa
(Fonte: Defesa Vegetal)

Beauveria bassiana

Este é um inseticida microbiológico em que os fungos entomopatogênicos atuam sobre diferentes estágios de desenvolvimento dos hospedeiros. O fungo coloniza o inseto e o leva à morte. 

Exemplo de produto registrado: Boveril WP PL63.

Fungo Beauveria bassiana
Fungo Beauveria bassiana colonizando adulto de broca-do-café 
(Fonte: Terra Viva)

Sempre consulte um(a) agrônomo(a) antes de tomar qualquer decisão na sua lavoura!


As melhores formas de controle para cigarrinha-das-pastagens

Cigarrinha-das-pastagens: Principais características e como se livrar dessa praga com controle cultural, químico e biológico.

Você já reparou que, logo após os períodos chuvosos, algumas áreas de pastagens ou do consórcio milho-braquiária, costumam ficar amareladas? 

Eu te dou 99% de certeza que a cigarrinha-das-pastagens é a maior culpada desses sintomas. 

Mas como esses sintomas aparecem e o que fazer para evitar?

Respondemos essas e outras perguntas a seguir! Confira e entenda mais sobre a cigarrinha-das-pastagens!

Características da cigarrinha-das-pastagens

Existem várias espécies de cigarrinha-das-pastagens que provocam danos em gramíneas forrageiras utilizadas na pecuária para alimentação animal.

Algumas são pragas também em milho safrinha, principalmente quando consorciado com braquiárias

cigarrinha-das-pastagens

Presença de cigarrinha-das-pastagens, Deois flavopicta, em milho
(Fonte: Ivan Cruz)

As espécies são da família Cercopidae que pertence à ordem Hemiptera

As principais são Deois schach, Deois flavopicta, Deois incompleta e Zulia entreriana.

Todas elas têm hábitos muito semelhantes e suas diferenciações se dão por características morfológicas. 

Tanto os adultos como as ninfas (fase jovem) causam danos, pois sugam a seiva da planta e injetam toxinas. Isso provoca aquele amarelecimento característico, chamado de “queima do pasto”.

cigarrinha-das-pastagens

Sintoma provocado pela infestação de cigarrinha-das-pastagens
(Fonte: Giro do Boi)

As cigarrinhas adultas ficam na parte aérea, enquanto as ninfas ficam na base do capim protegidas por um tipo de espuma que permite manter o ambiente úmido. 

Já os ovos são colocados no solo e, em períodos secos, permanecem inativos. Quando começa a estação chuvosa, eclodem.

Agora você consegue entender melhor porque a “queima das pastagens” ou aquele amarelecimento acontece após o início de períodos chuvosos?

cigarrinha-das-pastagens

Espuma característica para proteção das ninfas de cigarrinhas-das-pastagens 
(Fonte: Bioseeds)

Como manejar a cigarrinha-das-pastagens

O pesquisador da Embrapa, Roni de Azevedo, sugere que a melhor forma é fazer o Manejo Integrado de Pragas (MIP), compatibilizando várias táticas. 

Para isso, é necessário que você fique atento, principalmente, com a temperatura e com a umidade. Veja a imagem abaixo. 

cigarrinha-das-pastagens

Incidência das cigarrinhas e épocas de controle 
(Fonte: Gallo et al., 1988)

Quando começam as primeiras chuvas, os ovos que estavam em diapausa (ou inativos) iniciam uma primeira geração. Se não forem tomadas as decisões corretamente, podem ocorrer até três gerações que causarão prejuízos. 

Para evitar que ocorram os danos, podem ser feitos os controles cultural, químico e biológico. Vou explicar melhor a seguir:

Controle cultural da cigarrinha-das-pastagens

Dentre as táticas de controle cultural, a diversificação de espécies de gramíneas é essencial. 

Você deve utilizar cultivares resistentes à cigarrinha (Brachiaria brizantha cv Marandu, Panicum maximum cv Massai) e cultivares suscetíveis (Brachiaria decumbens cv Basilisk, Brachiaria ruziziensis). 

Dessa maneira, você evita a seleção de insetos resistentes. 

Além disso, o manejo correto do solo antes e durante a utilização dos pastos vai permitir que as plantas sejam mais vigorosas e resistam mais ao ataque das pragas

Uma outra tática é a divisão de piquetes que vai te permitir evitar o superpastejo, mantendo as pastagens em uma altura ideal para a não proliferação das cigarrinhas.

cigarrinha-das-pastagens

Pastagem dividida em piquetes 
(Fonte: Gabriel Faria/Embrapa)

Controle biológico

Naturalmente, no próprio meio ambiente, existem muitas espécies de insetos benéficos que reduzem as populações das cigarrinhas-das-pastagens. 

Os principais predadores são as espécies de moscas Porasilus barbiellinii e Salpingogaster nigra e várias espécies de formigas. E também pode ocorrer o parasitoide de ovos Anagrus urichi. 

E ainda você pode fazer o controle com aplicação de fungos entomopatogênicos Metarhizium anisopliae, o fungo verde, na segunda e terceira geração das cigarrinhas. 

Para o uso do fungo Metarhizium anisopliae é ideal que você monitore a área e faça aplicações somente quando forem observados entre 6 e 25 ninfas ou 20 a 30 adultos por m². 

cigarrinha-das-pastagens

Incidência das cigarrinhas e épocas de controle
(Fonte: Gallo et al., 1988)

Controle químico

Antes de decidir pelo controle químico, você deve estar atento ao nível de controle dessa praga. Para isso, é necessário que você faça o monitoramento

Se no seu monitoramento, você observar mais do que 25 ninfas ou 30 adultos por m², entre com a aplicação de inseticida

Os animais que estiverem na área devem ser retirados para os tratamentos e você pode retorná-los após o período especificado pelo fabricante do produto. 

Veja abaixo alguns inseticidas registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA):

  • Clorpirifós – (Lorsban 480 BR)
  • Carbaril – (Sevin 850 WP)
  • Tiametoxam + Lambdacialotrina – (Engeo Pleno)

Sempre consulte um engenheiro agrônomo antes de fazer qualquer aplicação.

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Conclusão

Na maioria das vezes, o amarelecimento das pastagens em épocas chuvosas se dá pela alta incidência das cigarrinhas-das-pastagens. 

Fazer o monitoramento vai te auxiliar a entrar com controle, quando necessário.

Nesse artigo, falamos sobre as opções de controle cultural, químico e biológico.

Escolha diferentes cultivares de pastagens, tanto resistentes como suscetíveis: isso irá lhe ajudar com o controle desta praga a longo prazo. 

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Percevejos: você conhece tudo sobre esses insetos?

Atualizado em 29 de junho de 2022.

Percevejos: entenda os hábitos, os danos e como manejar melhor esses insetos em sua propriedade.

Os percevejos são insetos fitófagos que se alimentam de partes das plantas como raízes, caule, folhas, grãos e frutos. Pertencem à subordem Heteroptera e ordem Hemiptera, com mais de 40 mil espécies. 

Essas pragas agrícolas causam danos diretos, pela sucção nos tecidos da planta e principalmente nos grãos. Danos indiretos também são causados pela disseminação de doenças.

Neste artigo, confira o que são percevejos, suas principais características, tipos de percevejos e sua identificação visual. Boa leitura!

O que são percevejos?

Os percevejos são pequenos insetos sugadores, com aparelho bucal do tipo labial tetraqueta. Isso possibilita que eles insiram o rosto na planta para sugar seus nutrientes.

Existem diversas famílias e espécies desta subordem Heteroptera. Elas variam muito quanto ao hábito alimentar, e podem ser predadores, hematófagos, zoofitófagos ou fitófagos.

Os predadores se alimentam de outros insetos. Os hematófagos se alimentam de sangue. Os zoofitófagos são carnívoros, mas utilizam de produtos de plantas como pólen, néctar e seiva para complementação nutricional.

Os percevejos fitófagos são os que causam danos nas culturas agrícolas, e se alimentam de diferentes partes das plantas. Os percevejos mais importantes incluem:

  • Família Pentatomidae: considerados sugadores de grãos. As principais espécies desta são: Nezara viridula (percevejo-verde), Piezodorus guildinii (percevejo-verde-pequeno), Euschistus heros (percevejo-marrom), Dichelops Spinola (percevejo barriga-verde), Edessa meditabunda (percevejo da soja);
  • Família Cydnidae: são polífagos e sugadores de raízes, principalmente em lavouras sob sistema de plantio direto. As principais espécies são: Scaptocoris castanea e Scaptocoris carvalhoi;
  • Família Alydidae: também sugadores de grãos: Neomegalotomus parvus (percevejo-formigão)

Principais características dos percevejos

A principal família de percevejos que causa danos em diversas culturas e principalmente na soja é a família Pentatomidae. Ela possui mais de 4.123 espécies.

Esta família tem antenas com cinco segmentos, medem cerca de 7 mm e tem a parte superior do corpo grande e em formato triangular. Eles podem ou não ter a presença de espinhos nas laterais superiores.

Foto de dois percevejos, lado a lado
Adultos do percevejo barriga-verde. A cabeça deste inseto possui duas projeções pontiagudas e a parte anterior do tórax apresenta margens dentadas e as laterais possuem expansões espinhosas, conforme indicação na figura.
(Fonte: Panizzi, 2015)

A coloração dos percevejos é variada, e mudam conforme o estádio de vida (ovo, ninfa e adulto).  A depender da espécie, a alimentação das ninfas, principalmente de primeiro ínstar, ocorre em conjunto. 

Isso acontece pelo tamanho reduzido do seu aparelho bucal. Além disso, a soma da saliva dos indivíduos em grupo facilita a dissolução de frutos e dos tecidos das plantas.

Ovos de percevejo sobre folhas
Ninfas de primeiro ínstar (c) e ninfa de quinto ínstar do percevejo-marrom (Euschistus heros) se alimentando nos tecidos vegetais de soja
(Fonte: Panizzi)

A partir do terceiro ínstar, como é o caso de Nezara viridula (percevejo-verde), o inseto se dispersa pela área de cultivo. Afinal, neste estádio, o tamanho do seu aparelho bucal já permite que ele se alimente separadamente.

Nas espécies fitófagas, o rosto é bastante alongado na fase adulta, o que facilita o consumo do conteúdo mais interno da planta. A profundidade alcançada pelos percevejos para sucção do conteúdo interno das plantas varia a depender da espécie.

O ciclo de vida desses insetos passa pelas fases de ovo, ninfa e adulto.

Ciclo do percevejo marrom
Ciclo de desenvolvimento do percevejo-verde (Nezara viridula) em soja. A duração de cada uma das etapas do ciclo (ovo, 1º instar, 2º instar, 3º instar, 4º instar, 5º instar e adulto), tem variação a depender da espécie de percevejo, da espécie de plantas hospedeiras, da temperatura e umidade
(Fonte: Panizzi, 2012)

Por que os percevejos são um problema na agricultura?

Algumas características desses insetos fazem com que eles possam se adaptar e invadir culturas que antes não eram tão comuns. 

Por exemplo, eles atacam um grande número de espécies de plantas. Isso faz com que as populações de uma espécie-praga de percevejo aumente e se propague rapidamente. 

Esses insetos têm alta mobilidade e, antes mesmo do final do ciclo da cultura, se dispersam para outros hospedeiros e para hospedeiros alternativos. Eles podem continuar o ciclo de reprodução ou sobrevivência nesses hospedeiros.

Afinal, podem não se reproduzir em uma determinada espécie de plantas, mas conseguem sobreviver nelas.

Eles também sobrevivem por bastante tempo em condições desfavoráveis. Na falta do hospedeiro, esses insetos conseguem sobreviver em hospedeiros alternativos, sobretudo em leguminosas.  Plantas daninhas e até restos culturais de entressafra são exemplos. 

Além disso, podem hibernar por um tempo, até que as condições sejam ideais ao seu desenvolvimento. 

Danos causados por percevejo marrom
Percevejo sobrevivendo na entressafra em plantas daninhas e restos vegetais na área de cultivo
(Fonte: André Shimohiro, 2018)

A alimentação da maioria das espécies ocorre em diversas espécies de plantas. Isso pode apresentar problemas na sucessão de culturas, principalmente de trigo/soja e milho/soja.

Por exemplo, na sucessão soja-milho safrinha, essa preocupação cresceu. Isso se deu sobretudo pelo aumento da soja transgênica, com tecnologia Bt (Bacillus thuringiensis). 

O uso dessa tecnologia tem como principais alvos as lagartas desfolhadoras, mas não os percevejos. Consequentemente, eles passaram a ter vez na lavoura de soja Bt como principais pragas.  

Por isso, no milho safrinha, esses insetos também têm sido frequentes. Afinal, estavam atacando a soja anteriormente. 

Mesmo que seja feito o tratamento de sementes, as plântulas das culturas não suportam o ataque de uma grande população de percevejos.

Danos causados por percevejos

Além dos danos diretos pela sucção da seiva, os percevejos também podem disseminar doenças. 

Nas sementes, prejudicam o enchimento e formação, afetando a qualidade. Sementes e grãos tornam-se chocos e enrugados. Isso acelera a deterioração de sementes e grãos durante o armazenamento.

Ainda, a saliva dos percevejos contém enzimas que alteram a fisiologia e bioquímica dos tecidos próximos a inserção do estilete. Isso provoca a morte dos tecidos vegetais e necrose (escurecimento dos tecidos).

Essas substâncias dissolvem as porções sólidas e semi-sólidas das células, obtendo assim os lipídios, carboidratos e demais nutrientes necessários. Isso resulta na degeneração da parede celular dos tecidos atacados.

Na soja, os percevejos podem disseminar o fungo causador da mancha de levedura (Nematospora coryli). Também podem causar distúrbios fisiológicos, retardando a senescência da cultura.

Isso significa que as folhas permanecem verdes e retidas na planta por mais tempo, causando o fenômeno da “soja louca”. A consequência é que a colheita é dificultada.

Já no milho, a presença de percevejos reduz o porte (altura) e o perfilhamento.

Em alguns casos, os danos nos estádios vegetativos podem ser compensados, sem afetar a produtividade da cultura. Afinal, no caso da soja, por exemplo, a cultura consegue compensar emitindo novas vagens ou produzindo grãos mais pesados.

No entanto, quando ocorre no período reprodutivo, afeta diretamente a qualidade e produtividade das culturas. Para que isso não ocorra, os percevejos devem ser monitorados e controlados em fases anteriores ao período reprodutivo, para evitar altas populações.

Principais tipos de percevejos 

Um bom controle começa pela identificação correta do percevejo na lavoura. Além disso, as diferentes espécies de percevejos são controladas por diferentes produtos químicos, o que torna a identificação ainda mais necessária.

Percevejo-marrom (Euschistus heros

O percevejo-marrom é uma das principais espécies que causam danos em soja. 

Eles podem atacar as hastes e os ramos da cultura, mas causam maiores danos atacando as vagens em formação. Eles podem migrar para o milho safrinha em seguida. 

No algodão, se alimentam das cápsulas em maturação e reduzem a qualidade dos fios, bem como a produtividade da cultura. As principais plantas hospedeiras do percevejo-marrom são:

  • Leguminosas;
  • Solalaceae;
  • Brassicaceae;
  • Ervas daninhas, principalmente o leiteiro ou amendoim-bravo (Euphorbia heterophylla) e carrapicho-de-carneiro (Acanthospermum hispidum).

Eles possuem coloração marrom-escura e espinhos nos prolongamentos laterais do pronoto. No verão, os espinhos tornam-se mais longos e mais escuros.

Seu ciclo de vida pode ser de até 116 dias. Os ovos são de coloração amarelada e são ovipositados principalmente nas folhas e vagens da soja. As ninfas deste percevejo tem coloração cinza a marrom, dependendo do seu ínstar.

A depender da temperatura, a duração média dos ovos é de 28,4 dias. A temperatura ideal é de 25°C.

Ciclo do percevejo marrom visto de perto
Percevejo-marrom (Euschistus heros). Na figura (a) pode-se observar as características dos adultos, (b) massa de ovos, (c) ovos e ninfas recém eclodidas, e (d) ninfa de 5º instar
(Fonte: Panizzi, 2012)

Percevejo-verde-pequeno (Piezodorus guildinii)

Eles causam maiores lesões em profundidade na soja, em comparação às demais espécies de percevejos-praga. Isso acontece devido ao tipo de picada nos tecidos da planta.  As principais plantas hospedeiras são:

  • Feijão;
  • Alfafa;
  • Ervilha;
  • E em determinadas situações algodão;
  • Pastagens próximas às lavouras de soja também podem ser hospedeiras na entressafra (ervilhaca, nabo forrageiro e tremoço, principalmente na região Sul do Brasil);
  • Crotalária.

Os adultos medem em torno de 9 mm e tem coloração verde-clara a amarelada (ao final do ciclo de vida do inseto). Isso é o que o distingue de outras espécies de coloração verde.

Além disso, possui uma lista transversal de coloração marrom-avermelhada perto da cabeça. Os ovos são pretos e têm formato de “barril”. São ovipositados em fileiras duplas e preferencialmente em vagens, mas também em outras partes da planta. 

As ninfas são pequenas, com cerca de 1 mm e se alimentam em grupos. Sua coloração inicial é preta e avermelhada, e posteriormente esverdeada. O tempo médio entre ovo e adulto é em torno de 24,4 dias

percevejo-verde-pequeno-da-soja adulto
Percevejo-verde-pequeno-da-soja adulto, com sua lista transversal de coloração marrom-avermelhada (próxima a cabeça)
(Fonte: Agro Bayer Brasil)

Percevejo-verde (Nezara viridula)

Ataca principalmente as partes reprodutivas da cultura da soja. Provoca o chochamento dos grãos, além de injetar toxinas nas plantas.  As principais plantas hospedeiras são:

  • Feijão;
  • Arroz;
  • Algodão;
  • Macadâmia;
  • Nogueira-pecã;
  • Carrapicho-de-carneiro;
  • Nabo-bravo ou nabiça;
  • Mostarda;
  • Trigo;
  • Mamona.

Esses percevejos possuem tamanho superior aos demais, entre 10 mm e 17 mm. Possuem coloração verde, verde-escuro. 

As antenas são avermelhadas e a parte inferior é de coloração clara. Os ovos são ovipositados nas partes inferiores das folhas, e tem coloração amarelada. A cor dos ovos do percevejo fica rosada, quando prestes a eclodir.

As ninfas mais jovens são alaranjadas. Já no primeiro e segundo ínstares, tem cor preta e manchas brancas no dorso. Os danos deste percevejo se iniciam quando as ninfas encontram-se no terceiro instar.

Adulto (a), ovos (b) e ninfas de primeiro (c) e quinto (d) ínstar do percevejo-verde (Nezara viridula)
(Fonte: Panizzi, 2012)

Percevejo-barriga-verde (Dichelops furcatus e Dichelops melacanthus)

O percevejo-barriga-verde causa maiores prejuízos devido à sucessão soja-milho. Eles provocam o amarelecimento das plantas e lesões semelhantes a pontos nas folhas. Esses danos também são observados em trigo, mas em intensidade reduzida.

Dentre as plantas hospedeiras, encontram-se:

  • Milho;
  • Trigo;
  • Aveia-preta;
  • Triticale;
  • Trapoeraba;
  • Crotalária;
  • Braquiária;
  • Alfafa;
  • Feijão.

Os adultos medem entre 9 mm e 11 mm. Eles têm coloração que pode variar do castanho amarelado ao acizentado, mas com o abdômen sempre verde. Esta espécie também possui espinhos nas expansões laterais do pronoto.

Percevejo barriga verde visto de perto
Adulto de percevejo-barriga-verde
(Fonte: Agro Bayer)

Em milho safrinha, o grande problema é a migração desses insetos para a cultura. O percevejo-barriga-verde tem causado danos consideráveis e, por isso, deve haver maior atenção. 

Danos causados por percevejos em milho
Danos severos de percevejo-barriga-verde em milho
(Fonte: Pioneer Sementes) 

Percevejo-asa-preta-da-soja (Edessa meditabunda)

Esta espécie tem se tornado um problema cada vez mais frequente na cultura da soja. Ela tem como plantas hospedeiras principalmente:

  • Solanáceas;
  • Leguminosas;
  • Algodão;
  • Tabaco;
  • Girassol;
  • Uva.

Esses percevejos medem aproximadamente 13 mm e tem o corpo em formato oval. Seu corpo é de coloração verde, e suas asas marrom escuras. 

Os ovos são postos em duas fileiras e tem coloração verde-claro. As ninfas têm coloração verde-amarelada.

Um aspecto interessante desta espécie é que durante a alimentação, permanecem com a cabeça baixa, provavelmente por possuírem o estilete mais curto. Isso explica também a alimentação principalmente em hastes e não em vagens.

Embora não se alimentem das vagens, o potencial de dano desta espécie é significativo. Ela pode reduzir a produtividade e a qualidade dos grãos (por desviar os nutrientes durante o enchimento de grãos).

Percevejo-castanho (Scaptocoris spp.)

No Brasil, ocorrem três espécies de percevejo castanho. Eles causam danos principalmente em pastagens, mas também já foram associados a outras culturas, incluindo:

  • Algodão;
  • Arroz;
  • Cana-de-açúcar;
  • Eucalipto;
  • Café;
  • Feijão;
  • Milheto;
  • Sorgo;
  • Pastagens;
  • Plantas daninhas.

São considerados polífagos. Além disso, são pragas subterrâneas, o que dificulta o seu controle, pois encontram-se principalmente em profundidade no solo. Estão distribuídos por todo território nacional.

As três principais espécies de percevejo castanho são Scaptocoris carvalhoi, Scaptocoris castanea e Scaptocoris buckupi, pertencentes à ordem Hemiptera: Cydnidae e subfamília Scaptocorinae.

A depender do nível populacional dos percevejos castanhos, em uma área de cultivo, é possível identificar a sua presença pelo odor característico exalados por eles, que assemelha-se ao do percevejo popularmente conhecido como “maria fedida”.

Os danos são observados em reboleiras, e dependem do tamanho da população. Em populações maiores, ocorre o murchamento das plantas, com posterior amarelecimento e morte das plantas. 

Em populações menores, observa-se retardamento do crescimento das plantas.

Os adultos do percevejo castanho medem entre 5 e 10 mm, possuem coloração castanha, e corpo convexo. As ninfas possuem coloração branca. 

Os ovos são ovipositados próximos às raízes, para que assim que eclodam, as ninfas possam se alimentar das raízes das plantas de forma facilitada.

Adultos e ninfas podem ser encontrados em grandes profundidades no solo, independentemente da umidade deste, sendo relatados até 1,8 metros de profundidade. 

No entanto, os danos mais severos são observados em épocas chuvosas (novembro a março), onde migram para a superfície, para se alimentar das raízes.

Ovos, ninfas e adultos do percevejo castanho, em imagens separadas
Ovo, ninfas e adulto do percevejo castanho.
(Fonte: Torres 2020).

Como acabar com percevejo?

Após identificar as principais espécies, você precisa saber como eliminar percevejo da sua área de cultivo.

Estratégias que englobam além do controle químico e biológico são essenciais para a redução dos danos causados pelos percevejos. Monitoramento, uso de armadilhas, rotação de culturas e manejo das épocas de semeadura são os principais exemplos.

Armadilhas

As armadilhas podem funcionar tanto para o monitoramento da população de percevejos quanto para auxiliar no controle, quando cultivos armadilhas são realizados.

Os cultivos armadilhas são caracterizados pela implantação de uma cultura, em blocos, faixas, ou nas bordaduras da cultura principal, que seja mais atrativa aos percevejos. Isso, é claro, em relação à cultura agrícola que está sendo cultivada.

Deste modo, os percevejos são atraídos para ela, e o controle é concentrado em pontos estratégicos. Outras armadilhas podem ser instaladas ao longo do cultivo, a depender da espécie de percevejo.

Para o percevejo marrom da soja, por exemplo, armadilhas eficientes são elaboradas a partir da urina de bovina.

Outra possibilidade é o uso de armadilhas com feromônio sexual, localizadas a 30 e 40 cm do solo, para captura e monitoramento do percevejo marrom e também de outras espécies de percevejos.

Rotação de culturas

A rotação de culturas em uma área com alta infestação de percevejos, deve ser planejada em função da espécie de ocorrência, utilizando plantas que sejam ou resistentes, ou não hospedeiras.

Para isto, é indispensável a correta identificação da espécie de percevejo que está ocorrendo na área de cultivo, bem como o conhecimento dos seus aspectos biológicos.

Além disso, o sistema de cultivo, convencional, ou plantio direto, bem como época do ano, interferem na ocorrência e consequentemente, no potencial de danos provocados pelos percevejos.

Manejo das épocas de semeadura

Da mesma forma, para o manejo das épocas de semeadura, é indispensável a identificação da espécie de percevejo. No entanto, sabe-se que em semeaduras precoces, ou tardias, a ocorrência e danos de percevejos são maiores. 

Isto ocorre porque nas semeaduras precoces, os percevejos que estão na área de cultivo, se alimentando de hospedeiros alternativos, rapidamente migram para as culturas hospedeiras principais. Eles as utilizam para se reproduzir.

Já em semeaduras tardias, as populações de percevejos encontram-se altas.

Para percevejos de hábito subterrâneo, o controle mais eficiente é realizado nas épocas chuvosas. Nesse período, eles migram de grandes profundidades do solo para a superfície.

Monitoramento

Para que o controle seja realmente efetivo, você deve considerar o monitoramento de pragas de uma forma geral.

Em soja, é imprescindível que você faça o pano-de-batida semanalmente. Além disso, é importante considerar o nível de ataque na planta. Fique bastante atento à fase fenológica da planta.

Entre com controle quando houver 2 percevejos por metro linear (para grãos) e 1 por metro linear (para semente).

Eliminar restos culturais e hospedeiros alternativos da área 

Como os percevejos podem se manter nos restos culturais, é ideal que você faça a limpeza da área antes de iniciar o cultivo da cultura seguinte.

Também é importante eliminar os hospedeiros alternativos, como as plantas daninhas capim-carrapicho, capim-amargoso e trapoeraba

Tratamento de sementes

Uma forma de evitar ataques logo no início da lavoura é a utilização de inseticidas sistêmicos para tratar as sementes.  Dentre os inseticidas, os neonicotinoides são os mais indicados. 

Controle biológico

O controle biológico é uma tática importante para a redução da população dos percevejos nas culturas. Alguns agentes de controle são comercializados por biofábricas

Os parasitoides Trissolcus basalis e Telenomus podisi podem contribuir muito na redução dos percevejos-praga

Controle químico

O controle químico é a tática mais utilizada para controle, mas você deve considerar os métodos de controle anteriores. Associar mais de um tipo de controle é fundamental.

Além disso, escolha inseticidas seletivos aos inimigos naturais para que eles possam se manter na cultura. Assim, eles não serão eliminados junto das populações dos percevejos.

Faça rotação de ingredientes ativos para não causar pressão de seleção e inviabilizar a tecnologia do produto químico.  Algumas sugestões de inseticidas com diferentes ingredientes ativos são:

  • Acetamiprido + Fenpropatrina (Bold – Ihara)
  • Imidacloprido + Beta-ciflutrina (Connect – Bayer)
  • Tiametoxam + Ciproconazol (Verdadero – Syngenta) 

Porém, vale destacar: antes de utilizar o controle químico, consulte um especialista.

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Conclusão

Os percevejos são um grupo amplo de insetos com hábitos alimentares diversos. Os fitófagos têm causado danos em culturas de importância econômica.

Em soja-milho safrinha, há uma preocupação grande devido às infestações constantes dos últimos anos.

Monitore as populações das pragas frequentemente na sua lavoura. Essa é a melhor tática para não haver surtos.

Você já teve problemas com percevejos em sua lavoura? Como fez o controle? Deixe seus comentários!

Atualizado em 29 de junho de 2022 por Bruna Rhorig.

Bruna é agrônoma pela Universidade Federal da Fronteira Sul, mestra em fitossanidade pela Universidade Federal de Pelotas e doutoranda em fitotecnia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul na área de pós-colheita e sanidade vegetal.