Tudo o que você precisa saber sobre plantio de sorgo

Atualizado em 27 de maio de 2022.

Sorgo: entenda quais são as condições ideais de cultivo, principais pragas, doenças e manejo de plantas daninhas

O sorgo, também conhecido como milho-da-guiné, é um cereal de fácil adaptação e de altas produtividades. Ele pode ser aplicado na alimentação animal e humana, na produção de etanol, biomassa e vassouras. 

Para produzir essa espécie, é preciso estar por dentro das especificidades de cada tipo de sorgo. Conhecer detalhes sobre plantio e colheita também.

Neste artigo, você lerá sobre os cinco tipos e suas diferentes aplicações, além de conhecer as principais pragas e doenças do sorgo. Confira!

O que é sorgo e para que serve?

O Sorghum bicolor é uma espécie de cereal que pertence à família Poaceae, a mesma do milho. Mais conhecido como sorgo ou milho-zaburro, ele é versátil e de grande importância econômica.

Trata-se de uma planta cultivada há milhares de anos e com diversas aplicações. No Brasil, a expansão do cultivo de sorgo começou na década de 70 e hoje o país está entre os principais produtores.

Segundo dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, o Brasil ocupa a 9ª posição no ranking dos maiores produtores de sorgo na safra 2020/21. O cereal é o quinto mais produzido no mundo.

O sorgo é bastante utilizado na alimentação animal, sobretudo em países da América do Sul, Estados Unidos e Austrália. Na América Central, Ásia e África, também tem os grãos utilizados na alimentação humana para produção de farinhas e amido industrial, na fabricação de pães e de biscoitos.

Diferentes tipos de sorgo

Existem 5 tipos de sorgo: sorgo granífero, biomassa, forrageiro, sacarino e vassoura. Você conhecerá um pouco sobre cada um desses tipos a seguir:

1. Sorgo granífero

O sorgo granífero possui porte baixo. Os grãos são o principal produto desse tipo de sorgo, produzidos na extremidade superior da planta. 

As plantas têm porte baixo (aproximadamente 170 cm de altura). A panícula é pequena e compacta. Além disso, é possível mecanizar todo o processo do sorgo granífero, do plantio à colheita.

Esses grãos são empregados principalmente na agroindústria de rações, embora também possam ser fornecidos na silagem.  Dentre os tipos de sorgo, o granífero é o que tem maior expressão econômica

2. Sorgo biomassa

O sorgo biomassa tem grande porte, podendo alcançar mais de 5 metros de altura. É muito utilizado na geração de energia, assim como o eucalipto e a cana-de-açúcar.  As plantas apresentam rápido crescimento, além de grande potencial de produção.

A propagação é feita por sementes, o que facilita a implantação das lavouras. Além disso, o processo é 100% mecanizado. Dependendo das condições climáticas, ainda é possível manejar a rebrota do sorgo biomassa.

Homem em plantação de sorgo biomassa. As plantas têm o triplo do tamanho do homem.

Sorgo biomassa

(Fonte: Embrapa; Foto: Marina Torres)

3. Sorgo forrageiro

O sorgo forrageiro é consumido na silagem e também pode ser utilizado para pastejo e corte verde na alimentação animal. As plantas têm grande porte, elevado número de folhas e poucas sementes.

Algumas cultivares de sorgo forrageiro tem dupla aptidão. Isso significa que têm potencial para a produção de forragem e grãos.

>> Leia mais: ‘’Zoneamento Agrícola do Sorgo Forrageiro: O que você precisa saber’’ 

4. Sorgo-sacarino

O sorgo-sacarino é semelhante à cana-de-açúcar devido aos colmos doces, ricos em açúcar fermentescível. 

Ele é utilizado como alternativa para a produção de etanol no período de entressafra da cana-de-açúcar. Além disso, esse tipo de sorgo também pode ser utilizado como forrageiro. 

As características dessas plantas possibilitam a produção de silagem de alta qualidade. Isso gera respostas positivas na produtividade animal.

A China produz uma bebida alcoólica conhecida por “baijiu”. Essa bebida representa 1/3 dos destilados consumidos em todo mundo e é elaborada a partir da fermentação e destilação do sorgo.

5. Sorgo-vassoura

O sorgo-vassoura possui como principal característica a inflorescência com fibras longas. O uso dessas fibras é voltado para a fabricação de vassouras, conhecidas como vassouras melga ou caipira.

Além de ser uma alternativa ecológica, esse tipo de sorgo geralmente é plantado por produtores que complementam a renda familiar com a produção artesanal das vassouras.

O preparo do solo, plantio e tratos culturais podem ser feitos mecanicamente. No entanto, a colheita e limpeza das panículas do sorgo são realizadas manualmente, o que requer muita mão de obra. 

Características da cultura do sorgo

O sorgo é uma planta muito resistente à seca e à salinidade do solo, além de ser uma cultura mecanizável. Seu porte é baixo, com até 170 cm. Seu metabolismo C4 lhe garante elevada eficiência no uso da água.

O sistema radicular pode atingir 150 cm de profundidade, sendo que 80% das raízes são encontradas nos primeiros 30 cm do perfil do solo.

A inflorescência é do tipo panícula, e pode variar quanto ao tamanho e formato. 

O ciclo da cultura varia de 90 a 120 dias.

Veja quais são as fases de desenvolvimento do sorgo.

Estagios de desenvolvimento do sorgo

Estádios de desenvolvimento do sorgo

(Fonte: Traduzido de United Sorghum Checkoff Program)

Condições e melhor época para o plantio de sorgo

As sementes do sorgo são muito pequenas, o que exige plantio superficial. A profundidade ideal é de 3 cm a 5 cm. Para facilitar o desenvolvimento das plântulas, o preparo do solo é fundamental. 

O sorgo deve ser semeado entre setembro e novembro, e essa data depende de quando as chuvas começam. 

Além disso, é importante lembrar que ao ser plantado tardiamente, a planta do sorgo pode sofrer redução de porte. Outra consequência do plantio tardio é a menor produção de matéria seca.

Isso tem maior probabilidade de acontecer em plantios em dezembro. Portanto, planeje bem e com antecedência a semeadura e fique sempre de olho nas previsões climáticas.

Como aumentar a produtividade das lavouras de sorgo?

Além de evitar cultivar o sorgo em áreas com histórico de pragas e doenças e utilizar sementes de qualidade, existem outros aspectos que interferem na produtividade. Veja quais são.

Clima ideal e exigência hídrica

O sorgo é uma espécie de climas quentes e que tolera elevados níveis de radiação.  O intervalo ótimo de temperatura para o desenvolvimento do sorgo é de 26 a 30ºC. 

Sabe-se que temperaturas inferiores a 16ºC e superiores a 38ºC são limitantes para a produção desse cereal.

A tolerância do sorgo ao estresse hídrico faz com que ele seja uma boa opção para o plantio na safrinha. Apesar disso, é importante lembrar que os efeitos do déficit de água podem comprometer a produtividade.  

O consumo de água pela lavoura de sorgo varia em função das condições edafoclimáticas, do ciclo da cultivar e do manejo do solo. 

De acordo com a Embrapa Milho e Sorgo, no decorrer do desenvolvimento da cultura são consumidos de 380 mm a 600 mm de água.

Preparo do solo

De modo geral, no sistema de produção convencional, o preparo do solo é um processo que compreende aração seguida de gradagem.

Esse processo tem o objetivo de melhorar as condições físicas do solo que irá receber a semente. Isso garante uma germinação uniforme, o bom desenvolvimento do sistema radicular e aumenta a infiltração de água.

O sorgo tem melhor desenvolvimento em solos bem drenados e profundos. A acidez e fertilidade devem estar corrigidas, e o pH ideal é entre 5,5 e 6,5.

Plantio

O sorgo é uma planta cultivada em sistema convencional e em sistema de plantio direto (SPD).

Independente do sistema adotado, é importante que o plantio do sorgo seja realizado segundo as orientações do Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc).

Outro ponto importante é que os equipamentos de plantio que você vai utilizar devem estar bem regulados. Isso varia de acordo com o tipo de sorgo.  Abaixo, veja algumas sugestões: 

Tabela com tipo de sorgo e seus respectivos espaçamentos, sementes por metro, consumo e população da colheita.

Sugestões para regulagem de equipamentos de plantio de acordo com diferentes tipos comerciais de sorgo, seus usos e seus espaçamentos recomendados

(Fonte: Paulo Mota Ribas via Embrapa)

Adubação

Em relação à demanda nutricional, o sorgo tem maior exigência por nitrogênio e potássio, seguidos de cálcio, magnésio e fósforo.

A recomendação de adubação para o sorgo deve ser sempre orientada pela análise de solo. É preciso considerar também a quantidade de nutrientes que são extraídos e exportados pela cultura.

Somente a partir dessas informações é possível determinar a quantidade, a forma e em qual momento os fertilizantes serão fornecidos às plantas.

A exigência nutricional varia diretamente com o potencial de produção. Isso quer dizer que a demanda nutricional do sorgo aumenta com o aumento da produtividade. Confira na tabela abaixo!

Valores de nutrientes extraídos pelo sorgo

Extração média de nutrientes pela cultura do sorgo em diferentes níveis de produtividades

(Fonte: Embrapa)

A finalidade de exploração do sorgo (grãos, silagem, fenação, corte verde ou pastejo) também influencia na recomendação de adubação.

Manejo de plantas daninhas

O controle químico é o mais utilizado no manejo das plantas daninhas no sorgo. Apesar disso, um dos problemas da produção é o reduzido número de herbicidas registrados para a cultura. 

Somente um ingrediente ativo é registrado no Mapa para o manejo das plantas invasoras no sorgo: a atrazina. Ela é eficiente no controle das plantas daninhas de folha larga, e tem pouco ou nenhum efeito sobre as de folha estreita.

Dessa forma, é importante fazer a dessecação da área no pré-plantio. O objetivo é fazer a lavoura se estabelecer “no limpo”, sem interferência das plantas daninhas. 

Principais pragas do sorgo

Os danos causados por pragas reduzem a produtividade e a qualidade do produto final.  Alguns insetos-praga têm alta capacidade de destruição e podem comprometer lavouras inteiras.  

Veja as principais pragas que causam prejuízos ao plantio do sorgo:

  • broca-da-cana-de-açúcar (Diatraea saccharalis);
  • mosca-do-sorgo (Stenodiplosis sorghicola);
  • lagarta-elasmo (Elasmopalpus lignosellus);
  • lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda);
  • pulgão-do-milho (Rhopalosiphum maidis);
  • pulgão-verde (Schizaphis graminum).

Recentemente, a Helicoverpa armigera também foi identificada causando prejuízos às lavouras de sorgo. 

Banner planilha- manejo integrado de pragas

Principais doenças do sorgo

Assim como os insetos-praga, as doenças também podem comprometer a produtividade e aumentar os custos de produção. As principais são:

  • antracnose (Colletotrichum sublineolum);
  • ferrugem (Puccinia purpurea);
  • helmintosporiose (Exserohilum turcicum);
  • míldio (Peronosclerospora sorghi);
  • podridão seca do colmo (Macrophomina phaseolina);
  • doença açucarada do sorgo ou Ergot (Claviceps africana).

Colheita e pós-colheita do sorgo

A colheita do sorgo pode ser realizada de forma manual ou mecânica. 

A colheita manual é indicada para pequenas áreas. Porém, ela apresenta alto custo operacional e demanda muita mão de obra.

A colheita mecânica é a mais usada em grandes lavouras. Ela tem alto rendimento operacional e baixo custo quando comparada ao processo manual.

Quando colher o sorgo?

O momento ideal para a colheita do sorgo deve considerar as condições ambientais, características da cultivar, teor de umidade dos grãos e a finalidade do uso.

Os grãos de sorgo devem apresentar de 17% a 14% de umidade no momento da colheita (com secagem artificial).

Se você não dispõe de meios para realizar a secagem artificial, o interessante é que no momento da colheita os grãos tenham em torno de 12% a 13% de umidade.

No caso do sorgo granífero, a colheita pode ser realizada após os grãos atingirem a maturidade fisiológica. A maturidade fisiológica é observada pela formação de uma camada preta na região de inserção do grão na gluma. 

Esse fenômeno ocorre da ponta da panícula em direção à base. A partir desse momento, não há mais transferência de fotoassimilados para os grãos.

Quando atingem a maturidade fisiológica, os grãos de sorgo apresentam alta umidade. Isso torna necessária a secagem artificial após a colheita.

Para sorgo com finalidade da produção de silagem, o recomendado é que a colheita seja realizada quando as plantas tiverem, no mínimo, 30% de matéria seca.

O sorgo forrageiro pode ser disponibilizado aos animais 30 a 40 dias após a semeadura. As plantas jovens de sorgo não devem ser consumidas pelos animais por apresentarem níveis tóxicos de ácido cianídrico. 

Velocidade de colheita

Em geral, a velocidade de colheita pode variar de 3 Km/h a 5 km/h, no máximo. Velocidades superiores causam perdas no processo e podem levar ao embuchamento da colhedora.

A determinação da velocidade deve considerar a topografia do terreno, a incidência de espécies invasoras e as características da lavoura de sorgo.

Vale ressaltar a importância de realizar periodicamente a manutenção das máquinas e implementos da sua propriedade. Isso garante maior precisão no processo, além de evitar perdas e atrasos na colheita.

Armazenamento

Os grãos de sorgo têm a característica podem ser armazenados por longos períodos sem perder a qualidade. Para isso, o armazenamento dos grãos deve ser feito em local limpo, seco e ventilado. 

Os grãos colhidos devem ser mantidos com 13% de umidade. É preciso estar atento, também, ao ataque de microrganismos, insetos, aves e pequenos roedores. 

A presença de pragas no armazenamento influencia na velocidade de deterioração dos grãos. Além disso, contamina e interfere  na qualidade do produto. As perdas são irrecuperáveis e geram grandes prejuízos econômicos.

Conclusão

O sorgo possui diversas classificações e finalidades. Sorgo granífero, biomassa, forrageiro, sacarino e vassoura possuem particularidades e aplicações distintas. 

Dentre eles, o sorgo granífero é o que apresenta maior importância econômica.

Caso você tenha problemas com plantas daninhas em seu plantio de sorgo, lembre-se que o principal manejo é realizado com herbicidas. 

Mais especificamente, use a atrazina, o  único herbicida registrado no Mapa. Em casos de dúvidas, consulte um especialista.

Você já realizou ou está pensando em realizar o plantio de sorgo? Já conhecia todas as variações da espécie? Adoraria ler seu comentário!

Por que a ervilhaca para cobertura do solo pode ser uma ótima opção para sua fazenda

Ervilhaca para cobertura do solo: melhores práticas para cultivo e os benefícios para a produção de grãos em sucessão 

Você está procurando uma boa alternativa para cobertura do solo no outono-inverno? A ervilhaca pode ser uma ótima opção!

Essa leguminosa é uma excelente alternativa como cobertura do solo e adubação verde, além de servir como forrageira de alta qualidade nutricional para alimentação animal.

Você sabia que a inserção dessa cultura no sistema produtivo também é interessante para as culturas sucessoras?

Neste artigo, você verá alguns motivos pelos quais você deve investir na cobertura do solo com ervilhaca, além de como e quando utilizá-la. Confira!

Quando e como a ervilhaca pode ser cultivada?

A ervilhaca é uma leguminosa anual de inverno, com hábito de crescimento trepador e boa resistência a períodos de geada. Ela não resiste à seca ou ao calor excessivo.

Sua semeadura ocorre entre os meses de março e junho. Quanto mais tardia for, menor será a produção de biomassa vegetal.

A semeadura pode ser realizada a lanço ou em linhas com espaçamento de 20 cm. A profundidade ideal de semeadura deve ser de 3 a 5 cm, distribuindo 40 a 60 kg de sementes por hectare.

A cultura  não tolera solos ácidos e encharcados. Ela se desenvolve bem em solos argilosos e férteis, e se adapta também a solos arenosos, desde que bem fertilizados.

Ela é utilizada principalmente no Sul do Brasil, antes da semeadura do milho primeira safra, e é uma ótima opção para anteceder o cultivo de grandes culturas como soja e feijão.

O cultivo da ervilhaca pode ser solteiro ou em consórcio com outras espécies como aveia, centeio e azevém.

A importância da consorciação está na decomposição mais lenta e na cobertura residual prolongada dessas gramíneas, ao passo que a ervilhaca contribui com o maior aporte de nitrogênio e rápida decomposição dos seus resíduos.

Também é interessante o consórcio da ervilhaca com plantas como o nabo forrageira, que atua na descompactação do solo e ciclagem de nutrientes.

Essa associação aumenta a proteção do solo, devido ao maior aporte de resíduos vegetais e à supressão de plantas daninhas.

Por que utilizar a ervilhaca para cobertura do solo?

Com a inserção da ervilhaca no sistema produtivo, o cultivo de culturas sucessoras pode ser muito mais vantajoso.

Alguns benefícios do cultivo da ervilhaca são:

  • proteção do solo e diminuição dos riscos de erosão;
  • minimiza os danos causados pelo uso intensivo do solo;
  • eleva as taxas de infiltração e retenção de água no solo;
  • adubação verde (leguminosa que fixa nitrogênio e incorpora ao solo);
  • maior disponibilidade de nutrientes;
  • raízes profundas e ramificadas que reduzem a compactação do solo;
  • boa resistência ao frio;
  • forrageira de excelente qualidade nutricional para alimentação animal;
  • pode ser inserida na sucessão, consorciação e rotação de culturas;
  • eficiente no controle de plantas daninhas;
  • cultura de baixo investimento.

Por ser uma leguminosa de inverno, ela mantém o solo coberto na entressafra, o protegendo de diversos problemas relacionados à erosão e lixiviação de nutrientes.

A ervilhaca, solteira ou em consórcio, produz volume considerável de resíduos vegetais para cobertura do solo.

tabela com produção de massa seca da parte aérea de ervilhaca solteira e consorciada com aveia-preta ou nabo forrageiro

Produção de massa seca da parte aérea de ervilhaca solteira e consorciada com aveia-preta ou nabo forrageiro
(Fonte: Adaptado de Forte et al. 2018)

Essa cobertura proporciona melhorias na fertilidade do solo, além de auxiliar na supressão de plantas daninhas.

A importância da consorciação com essas espécies gramíneas está na baixa relação C/N da ervilhaca, com rápida decomposição dos seus resíduos vegetais, deixando o solo descoberto e sujeito a erosão.

Por outro lado, essa rápida decomposição dos resíduos vegetais é benéfica para as culturas sucessoras, devido à rápida liberação dos nutrientes no solo.

Como a ervilhaca impacta a produção de grãos em sucessão

Manter o solo coberto durante a entressafra é a melhor forma de garantir a produtividade da lavoura em sucessão.

A ervilhaca é uma excelente planta de cobertura do solo e beneficia as culturas em sucessão, já que reduz a utilização de adubos nitrogenados devido a sua capacidade de fixar nitrogênio da atmosfera e incorporá-lo ao solo.

A utilização dessa espécie como cobertura do solo produz em torno de 20 a 30 toneladas de massa verde por hectare e 4 a 6 toneladas de massa seca por hectare. Por isso, é uma alternativa rentável e sustentável para a sua propriedade.

tabela com produção de massa verde e seca da parte aérea de ervilhaca

Produção de massa verde e seca da parte aérea de ervilhaca
(Fonte: Ademir Calegari, 2016)

Além disso, é uma ótima opção para o Sistema Plantio Direto e rotação de culturas, pois os nutrientes da planta permanecem na palhada e favorecem a fertilidade da cultura em sucessão.

Veja o aumento da produtividade de grãos de milho e feijão após o cultivo de ervilhaca.

tabela com a cobertura do solo com ervilhaca contribui consideravelmente no aumento da produtividade de grãos de milho e feijão em sucessão

A cobertura do solo com ervilhaca contribui consideravelmente no aumento da produtividade de grãos de milho e feijão em sucessão
(Fonte: adaptado de Forte et al. 2018)

Essa é uma espécie de ampla versatilidade, podendo ser utilizada como cobertura do solo, adubação verde e como forragem para alimentação animal.

Aqui no blog da Aegro também já falamos sobre outras culturas que podem ser interessantes para cobertura de solo no inverno. Faça download gratuitamente clicando na imagem abaixo!

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Conclusão

A ervilhaca para cobertura do solo é uma alternativa com inúmeras vantagens

Ela pode ser utilizada na rotação e/ou sucessão de culturas como cobertura do solo e adubação verde, além de ser uma excelente forrageira para alimentação animal.

Ela aumenta o aporte de nitrogênio pela fixação biológica e reciclagem de nutrientes. Suas raízes profundas e ramificadas auxiliam na descompactação de solos adensados.

Além disso, é ótima na supressão de plantas daninhas por formar um “colchão” sobre o solo. A produtividade das culturas geralmente é mais elevada em sucessão à ervilhaca.

Agora que você tem essas informações, utilize a ervilhaca como cobertura do solo no outono-inverno em sua propriedade e garanta a produtividade da sua lavoura!

>> Leia mais:

Perspectivas para a safra de inverno!

“Saiba como o estilosante pode ser uma boa opção para a cobertura do solo”

Restou alguma dúvida sobre o tema? Você já utilizou ervilhaca para cobertura do solo em sua propriedade? Adoraria ler seu comentário abaixo!

O que fazer para minimizar os impactos da geada no café e evitar prejuízos

Geada no café: como ocorre, como identificar os tipos, como pode afetar suas plantas e quais as melhores medidas preventivas

O café é uma cultura importante no Brasil, o maior produtor e exportador do grão.

Vários dos estados destaques em grandes áreas cafeeiras são localizados em regiões propensas à geada.

E a ocorrência desse fenômeno climático pode provocar até 100% de perdas no cafezal.

Neste artigo, tire suas maiores dúvidas sobre a geada no café e entenda como proteger sua lavoura para evitar prejuízos. Confira!  

Impactos da geada no café

A geada causa sérios prejuízos à agricultura por poder gerar morte da planta ou de parte dela (folhas, ramos e frutos).

Ela possui dois tipos: a branca e a negra, classificadas pelo aspecto visual.

A geada branca ocorre devido à baixa temperatura e alta umidade do ar. O vapor da água presente na atmosfera condensa e forma o orvalho. O orvalho (gotículas de água na superfície das folhas) congela e há formação de gelo.

A geada negra não forma cristais de gelo na superfície das folhas, pois as condições de ocorrência são de baixa temperatura e baixa umidade do ar. A água presente no interior das células congela, causando a morte da célula, do tecido vegetal e de toda a planta. 

É o tipo mais severo. 

fotos de geada branca (A) e geada negra (B) em plantas de café
Geada branca (A) e geada negra (B) em plantas de café 
(Fonte: CaféPoint e Londrinando)

As geadas podem ser classificadas como de canela ou de capote, de acordo com a parte da planta que afetam.

A geada de canela ocorre com temperaturas do ar abaixo de -2 °C. O ar frio desce para a superfície terrestre, para perto do tronco das plantas. Por isso, esse tipo de geada é presente em áreas de plantio em morros.

Essas condições na base das plantas, principalmente de cafezais de até 1,5 anos, causam o congelamento da seiva nos vasos condutores. Assim, não há fornecimento de nutrientes para a parte aérea da planta, ocasionando sua morte.

Na geada de capote, somente a parte externa das plantas é atingida, queimando as folhas e os ramos superiores.

duas fotos com rebrota da planta atingida pela geada de canela (A) e uma de capote (B) em plantas de café
Rebrota da planta atingida pela geada de canela (A) e capote (B) em plantas de café
(Fonte: Unesp e Jornal Dia de Campo)

Riscos nos cafezais do Brasil

A geada é um fenômeno atmosférico natural que ocorre devido à queda da temperatura do ar. Existem plantas mais suscetíveis a ela, como o café.

Atualmente, alguns dos principais estados produtores de café ainda sofrem com as geadas, como Minas Gerais (principalmente o Sul de Minas), São Paulo e Paraná.

Veja as principais regiões brasileiras afetadas:

mapa com frequência das geadas nas regiões do Brasil
Frequência das geadas nas regiões do Brasil
(Fonte: Esalq)

Para as plantas de café, a temperatura ideal é entre 18 °C e 22 °C. Elas não suportam temperaturas abaixo de 10 °C.

Temperaturas abaixo de 18 °C  prejudicam a floração por causa da prolongação da fase vegetativa, o que reduz a produção.

Além disso, as geadas causam amarelecimento das folhas, e dependendo da intensidade, pode ocasionar a morte, assim como dos galhos. Se a geada for leve, somente as folhas e ramos secundários são afetados.

Se for intensa, pode causar queda da parte aérea da planta (folhas e ramos secundários), rebrota (como no caso da geada de canela) ou morte de toda a planta, como na ocorrência de geada negra.

Desse modo, se você não realizar medidas para evitar ou prevenir a ocorrência nos seus cafezais, certamente perderá produtividade.

Onde há maior e menor ocorrência de geadas?

A geada no café ocorre com maior frequência em algumas regiões e em determinadas épocas do ano. Para evitar que elas afetem sua lavoura, é necessário realizar o planejamento antes mesmo do plantio das mudas.

Áreas de baixadas e espigões muito planos e extensos devem ser evitados, porque o frio fica estagnado nesses locais e propicia a ocorrência das geadas.

gráfico com locais com acúmulo de ar frio com alta probabilidade da ocorrência de geada
Locais com acúmulo de ar frio com alta probabilidade da ocorrência de geada
(Fonte: Unesp)

Em regiões de morros, se houver vegetação alta e densa abaixo da lavoura de café, você deve fazer corredores nessas vegetações para que o frio não seja mantido.

Por outro lado, se a vegetação for alta e densa acima da lavoura, você deve mantê-las para que o frio não desça para as plantas.

Disposição correta da lavoura de café, com vegetação densa acima e vegetação rala abaixo das plantas
Disposição correta da lavoura de café, com vegetação densa acima e vegetação rala abaixo das plantas
(Fonte: Esalq)

Locais em que a face do terreno está voltada para sul ou sudeste, no inverno, ficam menos expostos à radiação solar. Dê preferência a terrenos voltados para norte ou nordeste.

ilustração de recomendação da área com face do terreno voltada para norte ou nordeste
Recomendação da área com face do terreno voltada para norte ou nordeste
(Fonte: Gonçalves)

Como evitar os riscos da geada na lavoura de café

Em áreas onde a lavoura está com plantas de até 6 meses, em caso de alerta de geada, você deve fazer o enterro das mudas em campo

Veja como fazer o procedimento:

Enterro de mudas de café na véspera da geada e desenterro no dia posterior
Enterro de mudas de café na véspera da geada e desenterro no dia posterior
(Fonte: adaptado de Fundação Procafé)

Quando as plantas já estão maiores, para evitar a ocorrência de geada de canela, você deve colocar terra na base do caule do café. Essa prática é conhecida como chegamento de terra.

Exemplo de chegamento de terra em plantas de café
Exemplo de chegamento de terra em plantas de café
(Fonte: Caramori e colaboradores)

Em áreas de cafezal já formado, mantenha as entrelinhas limpas, sem palhada e plantas daninhas, deixando o solo exposto para retenção de calor do sol. Essas práticas reduzem seus efeitos.

Faça adubação foliar com potássio antes da ocorrência de geada, porque este nutriente aumenta o ponto de congelamento da seiva. Assim, a planta fica mais tolerante à massa de ar frio.

Se houver sistema de irrigação em sua área, o funcionamento em noite de geada é uma prática que evita e reduz seus efeitos, pois a água da irrigação umidifica o ar e eleva o ponto de congelamento da seiva.

Outro aspecto importante são os ventos que carregam as massas de ar frio. Utilizar barreiras de vento, como árvores, pode ser viável.

Em áreas de maior acúmulo de frio, a utilização de árvores ou plantas de porte alto como o guandu, quando o café ainda é pequeno, também é uma alternativa.

Arborização em cafezal
Arborização em cafezal
(Fonte: Emater-MG)

Caso a geada tenha afetado sua lavoura de modo leve, realizar desbrotas pode ser o suficiente.

Se ocorreu uma geada severa e grande parte da planta foi comprometida, talvez seja necessária a recepa

Mas antes de tomar qualquer decisão, veja o nível de dano causado na sua lavoura.

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Conclusão

A geada no café pode causar sérios prejuízos nas lavouras, porque gera perda ou redução drástica de produtividade.

É importante que você saiba quais são os diferentes tipos de geada e as áreas de maior probabilidade de ocorrência, para poder evitar seus efeitos na planta.

Além disso, lembre-se das medidas necessárias para prevenir os danos e o que fazer caso as plantas já tenham sido afetadas.

Ficar por dentro das previsões climáticas da sua região também te ajuda a estar preparado(a) para tomar as medidas preventivas! 

>> Leia mais:

Entenda como a umidade do grão de café pode impactar a qualidade do produto final

Você já teve perdas devido à geada no café? O que você fez para resolver o problema? Adoraria ler o seu comentário aqui em baixo.

Por que o uso da glicina betaína na agricultura é uma aliada da produtividade

Glicina betaína na agricultura: sua importância em resposta a estresses em plantas, sua formação e o potencial uso na lavoura

A produtividade agrícola depende de diversos fatores importantes, como os estresses abióticos. Esses estresses são grandes causadores da diminuição da produtividade.

Existem duas maneiras de lidar com essa situação: prevenindo que aconteça e amenizando seus efeitos nas plantas.

Prevenir estresses não é uma prática agrícola simples, apesar de você poder usar técnicas como a irrigação em casos de seca ou altas temperaturas. 

Neste sentido, a glicina betaína pode ajudar muito!

Quer entender melhor como ela age nos cultivos agrícolas e como você pode fazer o máximo aproveitamento em sua lavoura? Confira a seguir!

O que é a glicina betaína?

A glicina betaína é uma molécula classificada como uma amina quaternária. Ela contém em sua fórmula elementos químicos como oxigênio, hidrogênio, carbono e nitrogênio.

Fórmula química de uma glicina betaína

Fórmula química de uma glicina betaína
(Fonte: FCiências)

A glicina betaína é sintetizada nos cloroplastos das plantas a partir da colina, um nutriente com metabolismo similar ao de aminoácidos.

Ela é uma molécula presente inicialmente em folhas, mas que pode ser transportada pela planta.

Ela não é o final da cadeia de reações e pode ser precursora de outras moléculas como o piruvato, o hormônio etileno e o aminoácido metionina, através de outras vias metabólicas.

Qual a função da glicina betaína?

A glicina betaína, como molécula isolada, tem função de osmoproteção nas células vegetais. 

Osmoprotetores são moléculas capazes de se acumular em células, evitando a perda excessiva de água para as células vizinhas, atuando no ajuste osmótico.

O princípio de ação dos osmoprotetores é aumentar a quantidade de solutos dentro de uma célula para evitar que a água saia dessa célula para outra, por meio da osmose.

Existem alguns tipos de moléculas com função de osmoproteção, como: as betaínas (de onde deriva a glicina betaína), os aminoácidos (como a prolina) e açúcares (como a trealose).

Quando a osmoproteção é necessária em plantas?

A osmoproteção é normalmente necessária em plantas quando, por algum motivo, o teor de água nas células vegetais vivas começa a diminuir

Esse processo evita a perda excessiva de água e a dessecação da célula vegetal.

Os estresses abióticos, como seca, temperatura alta e salinidade causam diversas reações nas plantas, desde processos bioquímicos, fisiológicos ou físicos, alterando seu metabolismo e diminuindo sua eficiência.

Esses estresses acabam sendo indutores dessas alterações, como:

  • seca: a diminuição da água no solo pode acontecer por um balanço negativo entre evapotranspiração do sistema solo-planta e a pluviosidade. Isso diminui o potencial hídrico do solo e gera diminuição da entrada de água nas células das raízes;
  • alta temperatura do ar: aumento da temperatura do ar causa maior pressão para a transpiração pelos estômatos para diminuir a temperatura foliar, além de aumentar também a evaporação de água do solo. Isso agrava ainda mais os efeitos da seca;
  • salinidade: solos com elevados níveis de sal tem um potencial hídrico reduzido, causando maior retenção de água em suas partículas e aumentando a dificuldade das raízes em retirar água do solo, causando um efeito similar ao da seca.

A combinação dos três fatores normalmente causa um estresse de maior impacto, elevando os riscos de desidratação das células das plantas e aumentando a necessidade de mecanismos de osmoproteção.

Como a água é transportada nas plantas?

O fluxo de água pela planta se dá pela diferença de potencial hídrico na trajetória solo-planta-atmosfera. Os valores, normalmente, são muito maiores no solo, depois na planta são muito menores no ar atmosférico.

O potencial hídrico é sempre um valor negativo. Abaixo você verá valores comuns para o potencial no solo, no interior da planta e na atmosfera.

Perceba que os valores são muito maiores (próximos a zero) no solo e muito mais negativos no ar, definindo o fluxo de água.

Esquema do potencial hídrico no sistema solo-planta-atmosfera

Esquema do potencial hídrico no sistema solo-planta-atmosfera
(Fonte: USP)

Qualquer diminuição no teor de água no solo poderá causar uma diminuição no conteúdo de água interno da planta. 

A diminuição nos teores internos de água inicia um processo de sinalização ao longo da planta, desencadeando a síntese de diversas moléculas e a alteração de vários processos, bioquímicos, fisiológicos e físicos.

Qual o modo de ação da glicina betaína?

A busca por soluções para uma resposta mais eficiente de plantas a estresses abióticos tem passado pelo uso de substâncias com efeito protetor aos danos causados nos processos bioquímicos, fisiológicos e físicos do metabolismo vegetal.

A síntese de glicina betaína é aumentada após a sinalização de diminuição do teor de água na planta. O aumento desses compostos causam uma série de efeitos na planta em diversos níveis e locais.

Inicialmente, esses efeitos são relacionados à manutenção da turgescência, ou seja, evitando a murcha celular, mas também apresentam funções específicas. 

Veja quais são as mais importantes:

  • diminuição de radicais livres sintetizados em resposta ao estresse;
  • proteção dos sistemas de recepção de luz das plantas;
  • manutenção da fotossíntese e da atividade de enzimas relacionadas a ela;
  • manutenção da integridade de membranas;
  • homeostase iônica;
  • proteção de órgãos de reprodução;
  • osmorregulação e osmoproteção;
  • acúmulo de outras moléculas de resposta a estresses, como a prolina.

Qual é a utilidade da glicina betaína na agricultura?

A síntese de glicina betaína é inerente às plantas em condições de estresses abióticos, mas sua aplicação no sistema pode trazer benefícios. 

Ela pode ser utilizada como um bioestimulador, causando um efeito inicial na planta.

Ao se aplicar a molécula de maneira externa, é causada uma indução de estado de alerta da planta, prévio ao evento de estresse. 

Isso pode gerar uma resposta mais rápida e eficiente dos mecanismos de proteção à diminuição do teor de água nas células, seja qual for o estresse responsável por isso.

Já foram reportados efeitos positivos da aplicação de glicina betaína na agricultura, via solo, foliar ou por fertirrigação.

Dentre elas há grãos, hortaliças, oleaginosas e forrageiras, como arroz, feijão, soja, cevada, trigo, milho, aveia e azevém.

Além disso, existem produtos registrados para aplicação de glicina betaína, como Vegetal B60, Amino Proline, e outros com presença de precursores da molécula, como o Biopower Gold.

Recomendações de uso da glicina betaína

Aqui apresentamos a recomendação de uso dos produtos Amino Proline  e Bipower Gold para algumas culturas agrícolas de interesse:

tabela com recomendações de uso de produtos

Recomendações de uso de produtos
(Fontes: Bulas de Amino Proline e Biopower Gold)

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Conclusão

O uso de bioestimulantes é uma opção viável para diminuir os impactos causados por fatores não-ideais.

A previsão futura é de que a atividade agrícola estará cada vez mais à mercê de eventos climáticos pouco previsíveis e que podem causar severas perdas à agricultura mundial. 

O uso da glicina betaína na agricultura tem sido visto como uma opção viável para reduzir os impactos da diminuição do teor de água em células vegetais. 

Sua ação pode manter o potencial produtivo de culturas agrícolas, mesmo em condições não-ideais de cultivo.

>>Leia mais:

“Saiba como funcionam os bioativadores e quais são os tipos disponíveis no mercado”

Você já conhecia os potenciais do uso da glicina betaína na agricultura? Assine nossa newsletter para receber mais conteúdos como esse!

O você precisa entender sobre o encarquilhamento da soja

Encarquilhamento da soja: o que é, como identificar e quais as possíveis causas já estudadas para a ocorrência do problema. 

O encarquilhamento é um problema observado há alguns anos nas plantações de soja, principalmente da região Sul. Ele tem causado preocupação entre os sojicultores em função de sua constante ocorrência.

Os sintomas são mais frequentes no período de pré-florescimento. Ao longo do desenvolvimento da cultura da soja, os sintomas podem desaparecer e as plantas afetadas podem se recuperar.

Informações acerca do potencial de interferência no desenvolvimento da cultura e dos prejuízos causados pelo encarquilhamento ainda são raras

Neste artigo, você lerá sobre as principais características desta deformação foliar, suas possíveis causas e medidas de manejo que podem ser adotadas. Confira!

O que é o encarquilhamento da soja?

O encarquilhamento, também conhecido por encrespamento, é um distúrbio fisiológico que consiste no enrugamento foliar

Essa alteração na estrutura das folhas é resultado do crescimento exagerado das células (hiperplasia).

Plantas de soja com sintomas de encarquilhamento: folhas rugosas e retorcidas

Plantas de soja com sintomas de encarquilhamento: folhas rugosas e retorcidas
(Fonte: Pest & Crop Newsletter – Purdue University)

Nesse caso, as plantas afetadas exibem folhas com aspecto bolhoso e ondulado. Somado a isso, há a redução do crescimento vegetativo. As plantas sintomáticas apresentam porte menor quando comparadas às plantas sadias.

Geralmente, esse fenômeno aparece em reboleiras. Isso significa que o encarquilhamento não é distribuído de forma uniforme na área, mas sim em pontos específicos da lavoura

Além disso, o encarquilhamento tem a característica de se manifestar sempre nas mesmas áreas. No entanto, a severidade dos sintomas pode variar de uma safra para outra e, também, em função da cultivar de soja plantada. 

Algumas cultivares são mais suscetíveis que outras.

Reboleira de soja com sintomas de encarquilhamento

Reboleira de soja com sintomas de encarquilhamento
(Fonte: Fundação MS, Foto: José Fernando Jurca Grigolli)

7 possíveis causas do encarquilhamento já pesquisadas

São vários os fatores que podem causar o encarquilhamento da soja. Doenças viróticas e a fitotoxidez por herbicidas são alguns exemplos. 

No entanto, o encarquilhamento foi detectado mesmo em lavouras que não apresentavam problemas como os citados acima.

Você verá agora as possíveis causas já pesquisadas na tentativa de justificar essa deformação foliar.

1. Doenças viróticas

A princípio, acreditava-se que esse enrugamento foliar estivesse relacionado às doenças causadas por vírus, uma vez que os sintomas são parecidos. Porém, essa teoria foi descartada. 

Alguns pesquisadores, inclusive, se referem ao encarquilhamento da soja como “falsa virose”, pela semelhança com os sintomas de doenças viróticas.

Encarquilhamento causado pelo vírus do mosaico da soja

Encarquilhamento causado pelo vírus do mosaico da soja
(Fonte: Craig Grau, Bugwood.org)

2. Toxidez

Mais uma possível causa já atribuída a esse fenômeno foi a toxidez pela adubação

O desequilíbrio nutricional, seja pelo excesso ou pela carência de determinados elementos, pode retardar o desenvolvimento das plantas e também causar deformações foliares, como o encarquilhamento

Nesse caso, estudos realizados em plantas sintomáticas não conseguiram encontrar relação entre desordem nutricional e o encarquilhamento das folhas da soja.

Encarquilhamento da soja devido à deficiência de boro

Encarquilhamento da soja devido à deficiência de boro
(Fonte: Laborsolo Academy)

3. Deriva

Outro aspecto importante também já considerado foi a possibilidade de deriva

Melhor dizendo, a aplicação de produtos fitossanitários, quando não realizada em condições ideais, pode provocar a deriva das gotas de pulverização para áreas próximas que não são alvo. 

A deriva de herbicidas, por exemplo, pode ocasionar danos diversos nas plantas. Dentre eles podemos citar o enrugamento foliar, que pode ser confundido com esse distúrbio fisiológico. 

Nesse caso, a avaliação da distribuição das reboleiras com sintomas na lavoura e o histórico dos defensivos utilizados nas áreas vizinhas são fundamentais para averiguar essa teoria.

Encarquilhamento da soja causado pela deriva do herbicida Dicamba

Encarquilhamento da soja causado pela deriva do herbicida Dicamba
(Fonte: AgFax; Foto: Ohio State University)

4. Soja Louca 2

Essa deformação foliar também já esteve associada à Soja Louca 2, uma doença que até 2015 tinha causas desconhecidas. No entanto, o nematoide da haste verde da soja (Aphelenchoides besseyi) foi identificado como o causador da enfermidade.

5. Pragas

Do mesmo modo, já foi descartada a ideia de que o encarquilhamento da soja estivesse relacionado à presença de ácaros, tripes e nematoides. Não foi detectada a presença dessas pragas nas lavouras com sintomas.

6. Baixas temperaturas

Outra tese sugerida foi a de que baixas temperaturas seriam a causa da deformação das folhas, porém, até o momento, não há um consenso quanto a isso

É bom ressaltar que essa alternativa não foi totalmente descartada, uma vez que o frio combinado a outros fatores ambientais podem levar ao encarquilhamento das folhas.

7. Tipo de solo

Até o momento, tem sido observada maior incidência dessa anomalia em lavouras estabelecidas em solos basálticos. No entanto, são necessários maiores estudos que confirmem a relação entre a deformação das folhas com a natureza geológica do solo.

Existem medidas de controle para o encarquilhamento da soja?

Em resumo, várias hipóteses já foram levantadas e muitas pesquisas têm sido realizadas. No entanto, a causa dessa anomalia ainda não foi esclarecida. Acredita-se que mais de um fator contribua para o desenvolvimento do encarquilhamento nos plantios de soja.

Sendo assim, a ausência de informações científicas sobre o que causa o encarquilhamento impede que um plano de manejo seja definido. Dessa forma, ainda não há recomendações técnicas quanto à prevenção e o controle do problema em questão.

Medidas de manejo

Como não há medidas de prevenção e controle, é importante que você adote práticas de manejo de modo a fornecer condições ótimas para o crescimento e desenvolvimento da lavoura. 

A adoção de boas práticas contribui para que a cultivar expresse todo o seu potencial produtivo, além de aumentar a resistência das plantas ao ataque de pragas e doenças da soja.

É importante fornecer condições para que as plantas tenham boa resposta de defesa em caso de adversidades.

O que você pode fazer diante desse cenário é registrar informações como:

  • época de surgimento dos sintomas;
  • tamanho da área afetada;
  • tipo de solo;
  • data de semeadura;
  • condições climáticas;
  • adubação;
  • defensivos agrícolas aplicados.

Isso permite que você acompanhe a dinâmica do encarquilhamento na área. 

É interessante ainda que você registre em fotos os sintomas das plantas e a área da lavoura afetada, para efeito de comparação com safras futuras.

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Conclusão

O encarquilhamento da soja se dá pelo enrugamento das folhas e pela redução no crescimento das plantas

Até o momento, não existem recomendações técnicas para o manejo do encarquilhamento da soja, em decorrência de ainda não ter sido esclarecida a causa desse distúrbio fisiológico.

Diante das poucas informações, caso você detecte o encarquilhamento da lavoura, procure monitorar a área afetada

>>Leia mais:

“Doenças de final de ciclo da soja: principais manejos para não perder a produção”

Você já teve problemas com encarquilhamento da soja? O que você fez para resolver essa questão? Deixe sua experiência aqui nos comentários.

Resistência do solo à penetração: entenda as causas e como evitar sua ocorrência

Resistência do solo: quais são as causas, consequências, como avaliar o problema e como evitar que ele aconteça na sua lavoura

A resistência do solo à penetração das raízes é um processo grave de degradação que afeta a produtividade das culturas e, com toda a certeza, merece a sua atenção.

A identificação e correção dos níveis críticos de resistência são essenciais para um bom desenvolvimento das raízes da sua lavoura.

Neste artigo, você terá informações sobre como evitar esse problema e como ele afeta a produtividade das culturas. Confira a seguir!

Causas da compactação do solo

Esse processo de degradação causa limitações ao sistema radicular, que não encontra espaço, água e ar suficientes para se desenvolver. Consequentemente, há redução da produtividade das culturas.  

O intenso tráfego de máquinas agrícolas em condições inadequadas de manejo causa a compactação do solo. As alterações físicas do solo formam uma camada compactada (pé-de-grade). 

Elas são causadas devido à pressão feita por máquinas e implementos agrícolas.

Solo sem impedimentos que passou por operações de revolvimento e, consequentemente, se tornou compactado e com crescimento radicular limitado

Solo sem impedimentos que passou por operações de revolvimento e, consequentemente, se tornou compactado e com crescimento radicular limitado
(Fonte: Embrapa)

Sintomas visuais de um solo compactado:

  • menor infiltração de retenção de água;
  • folhas com coloração fora do normal;
  • raízes deformadas, tortas e/ou rasas;
  • baixa emergência das plântulas;
  • potência maior para o preparo do solo;
  • erosão acentuada;
  • empoçamento de água;
  • presença de crostas e zonas endurecidas sob o solo.

Como evitar a resistência do solo à penetração das raízes?

São várias as formas de evitar a resistência do solo:

Essas práticas auxiliam na melhoria da qualidade do solo e no aumento da produtividade das culturas, garantindo a sustentabilidade do sistema produtivo.

Consequências da resistência do solo à penetração das raízes 

No período de desenvolvimento inicial, as plantas são bastante afetadas pela compactação do solo. Isso acontece devido ao desenvolvimento das raízes, e ao fato de a parte aérea estar atrelada à ocorrência ou não de restrições físicas no solo.

tabela com consequências da resistência do solo à penetração das raízes com classes e limites.

(Fonte: adaptado de Canarache)

Os valores críticos de resistência do solo à penetração de raízes variam de acordo com a classe de solo e com a espécie cultivada.

Porém, de modo geral, é considerado que 2,0 MPa seja o valor crítico de resistência ao crescimento radicular das culturas.

Você verá abaixo algumas consequências do aumento da resistência do solo:

  • menor germinação de sementes;
  • crescimento atrasado e não uniforme da lavoura;
  • crescimento radicular lento, reduzindo a produtividade das culturas;
  • aumento dos custos com combustível em operações de descompactação do solo;
  • maior suscetibilidade das culturas à veranicos;
  • predisposição do solo a erosão;
  • menor aeração do solo.

Conhecer os limites críticos de resistência do solo à penetração é importante para empregar o manejo do solo adequado, viável e sustentável para o sistema produtivo.

O manejo deve favorecer o crescimento, desenvolvimento e a produtividade das culturas.

Como avaliar a resistência do solo à penetração?

O penetrômetro é um equipamento muito utilizado para avaliar a resistência do solo à penetração de raízes. Ele perfura o solo para medir sua resistência à penetração e detectar quaisquer camadas compactadas em seu perfil.

Por meio da avaliação, é possível obter informações sobre as condições físicas do solo de sua propriedade, auxiliando no diagnóstico de quão compactado está o perfil do solo.

Além disso, a avaliação informa onde o problema se encontra, permitindo que você tome a decisão de manejo o mais rápido e precisamente possível. Assim, você evita gastos excessivos com a subsolagem do solo, onde o procedimento não é necessário.

Veja alguns benefícios dos medidores de compactação do solo:

  • identificação de camadas compactadas no solo;
  • simples e de fácil utilização;
  • torna possível o manejo adequado para eliminar a compactação do solo;
  • ajuda a assegurar uma melhor estrutura do solo;
  • a identificação precoce da compactação do solo evita perdas de produtividade das culturas.
ilustração de medidor eletrônico de compactação do solo

Medidor eletrônico de compactação do solo
(Fonte: Falker)

Além da precisão de onde fazer a correção, o resultado pode indicar a adoção de práticas agrícolas sustentáveis.

Como corrigir um solo resistente à penetração de raízes?

Algumas técnicas podem te ajudar a corrigir a resistência do solo à penetração. A principal delas é o uso de subsoladores e escarificadores.

Com a utilização desses dois equipamentos é possível romper, de forma mecânica, as camadas compactadas do perfil do solo.

A utilização de culturas de cobertura, adubos verdes e rotação de culturas também podem diminuir a resistência do solo à penetração das raízes.

De preferência, essas culturas devem possuir sistema radicular abundante e agressivo para romper as camadas compactadas e contribuir para a agregação do solo.

Veja abaixo algumas espécies que podem ser utilizadas para esta finalidade:

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Conclusão

O aumento da resistência do solo à penetração limita o crescimento das raízes e a absorção de água e nutrientes, além de afetar a produtividade das culturas. 

O tráfego excessivo de máquinas e implementos agrícolas, dependendo das circunstâncias, é uma das causas do aumento da resistência do solo à penetração.

Utilizando o penetrômetro, você terá acesso a informações de quão compactado está o perfil do solo. 

Ao observar a resistência do solo em sua propriedade, você pode garantir a máxima produção potencial da sua lavoura.

>>Leia mais:

“Entenda o Diagnóstico Rápido da Estrutura do Solo (Dres) e como ele pode ser útil para sua lavoura”

Você já passou por problemas com a resistência do solo em sua lavoura? Conte-nos a sua experiência aqui nos comentários!

Guia rápido da adubação de boro e zinco no café

Boro e zinco no café: entenda a importância desses nutrientes para a sanidade, vigor e produtividade do cafeeiro e as opções de produtos 

A nutrição de plantas é, junto do clima e da interação de microrganismos, um dos fatores primordiais para a produção vegetal. 

Cada tipo de nutriente apresenta particularidades com relação às suas fontes, modo de absorção, teores recomendados, mobilidade no solo e na planta, pH ideal para absorção, dentre outros.

Por isso, fazer o manejo adequado de micronutrientes pode te ajudar a garantir a produtividade do café.

Neste artigo, você verá  a importância de micronutrientes específicos como boro e zinco para a cultura do cafeeiro e as suas formas de correção na lavoura. Acompanhe!

O que são micronutrientes e qual a sua importância?

Os nutrientes minerais se dividem entre macro e micronutrientes, conforme a quantidade necessária para o desenvolvimento vegetal.

Apesar de serem requeridos em menores quantidades, os micronutrientes são tão limitantes para a produtividade quanto os macronutrientes. 

Conforme a lei do mínimo, a produção é definida pelo elemento mais limitante no solo, seja ele um macro ou micronutriente.

foto de um barril de madeira com as siglas dos nutrientes  e no meio onde estão N, P e K tem uma abertura saindo grãos de soja e espalhando para fora - Lei do mínimo para a produção vegetal
Lei do mínimo para a produção vegetal
(Fonte: AgroFácil)

Nutrientes podem ser considerados essenciais para as plantas quando se encaixam nos critérios de essencialidade. São eles:

  • ser parte de um composto vital para a planta; 
  • ser necessário para que a planta complete seu ciclo de vida;
  • não pode ser substituído por outro nutriente ou elemento.

Os micronutrientes vegetais são: boro (B), cloro (Cl), cobre (Cu), ferro (Fe), manganês (Mn), molibdênio (Mo) e zinco (Zn). 

Cada um desses elementos tem funções específicas no metabolismo de plantas. As deficiências de boro e o zinco são frequentes na agricultura brasileira.

O boro no cafeeiro

Funções

O boro é um micronutriente essencial para plantas e atua em múltiplas funções, como:

  • germinação do grão de pólen e crescimento do tubo polínico: isso faz com que o boro seja primordial para o desenvolvimento e pegamento de florada, influenciando no potencial de produção de frutos;
  • divisão e diferenciação celular, síntese de celulose e lignina, e síntese de parede celular: isso aumenta a resistência das plantas ao ataque de pragas e doenças;
  • translocação de açúcares da folha para outros órgãos;
  • crescimento de meristemas.

Sintomas da deficiência

A deficiência de boro nas plantas é comum em condições de campo devido à sua alta mobilidade no solo e potencial lixiviação.

Os principais sintomas dessa deficiência nutricional no cafezal aparecem em folhas novas e regiões de crescimento. Os mais comuns são: 

  • folhas menores, verde-claras e com deformações;
  • diminuição do crescimento radicular; 
  • morte da gema apical e superbrotação;
  • baixo pegamento de florada.
três fotos com sintomas da deficiência de boro em café: folhas verde-claras, deformadas e superbrotação
Sintomas da deficiência de boro em café: folhas verde-claras, deformadas e superbrotação
(Fonte: Emater)

Correção

O boro é um nutriente com alta mobilidade no solo, porém com baixa mobilidade na planta, sendo imóvel no floema. Sendo assim, a recomendação é de correção de boro via solo.

Os teores ideais desse nutriente são de 40-80 ppm em nível foliar, ou acima de 0.5 mg/dm3 no solo. Em valores abaixo desses, a correção é recomendada.

As principais fontes de boro para aplicação no solo são o ácido bórico, o Boráx e a ulexita. Os dois primeiros são solúveis em água, e a solubilidade da ulexita depende da razão entre sódio e cálcio, que também fazem parte desse composto.

As recomendações para a produção do cafeeiro são de 6,5g de B por saca de café ou, para 30 sacas/ha, seriam necessários cerca de 200 g/ha de B, o que representa cerca de 1 kg/ha de ácido bórico. 

Porém, devido à alta lixiviação e perda, não é incomum que doses maiores sejam recomendadas, como de 2 a 6 kg/ha de boro.

Toxidez

Níveis de boro com cerca de 100 ppm em nível foliar são considerados tóxicos. Os sintomas de toxidez são folhas rajadas de verde e amarelo com bordas deformadas.

O zinco no cafeeiro

Funções

O zinco também é um micronutriente essencial para plantas e atua em múltiplas funções, dentre elas:

  • componente de enzimas: são importantes como facilitadores de reações da fotossíntese durante a formação da glicose;
  • atua na síntese do triptofano: esse aminoácido é precursor da molécula de auxina, um importante regulador do crescimento de plantas;
  • importante na síntese de proteínas.

Sintomas da deficiência

A deficiência de zinco é comum no cafeeiro. Os sintomas aparecem normalmente em folhas novas, devido à sua baixa mobilidade na planta, assim como o boro. Os mais comuns são: 

  • folhas alongadas, finas e com bordas enroladas;
  • destaque das nervuras verdes pelo amarelecimento do limbo foliar; 
  • encurtamento de internódios nas pontas dos ramos com formação de roseta;
  • redução de tamanho dos frutos.
Sintomas da deficiência de boro em café: folhas alongadas e finas, nervuras verdes e limbo amarelado
Sintomas da deficiência de boro em café: folhas alongadas e finas, nervuras verdes e limbo amarelado
(Fonte: Yara)

É importante ressaltar que os sintomas de deficiência de zinco são semelhantes aos sintomas de toxidez por glifosato, sendo primordial detectar sua origem para decidir o melhor manejo.

Correção

A correção de zinco pode ser feita via solo ou foliar no cafeeiro. Os teores ideais são de 8 a 20 ppm em folhas e em torno de 3 mg/dm3 no solo.

A recomendação de 6 kg/ha de zinco é comum para a adubação via solo. Nesse caso, você deve se atentar a alguns fatores que podem diminuir a disponibilidade de zinco para a planta. São eles:

  • presença de fósforo (P) em excesso;
  • solos mais arenosos;
  • aumento do pH do solo.

Toxidez

Os níveis de toxidez de zinco podem variar conforme a fase de desenvolvimento da cultura. Porém, valores acima de 20 ppm nas folhas são normalmente considerados como tóxicos. 

O excesso de zinco em época de florada pode causar abortamento de flores

O monitoramento das quantidades de zinco no solo e na folha, assim como o acompanhamento preciso das atividades de manejo da lavoura, são importantes para detectar a possibilidade de toxidez desse nutriente.

A importância do manejo correto de boro e zinco no café

O manejo dos teores de nutrientes no solo é crucial para o bom andamento da lavoura e expressão máxima do potencial produtivo da cultura.

No caso dos micronutrientes, seu uso tem que ser ainda mais cuidadoso visto que, por serem requeridos em menor quantidade, um erro de cálculo ou falha na aplicação pode facilmente causar deficiência ou toxidez.

gráfico com relação entre disponibilidade de nutrientes e produção de plantas
Relação entre disponibilidade de nutrientes e produção de plantas
(Fonte: Faquin, 2002)

Isso acontece normalmente com o zinco e o boro, e suas concentrações têm de ser bem manejadas e monitoradas através de análises de solo e foliares.

Abaixo, você verá valores de referência para teores foliares dos dois nutrientes ao longo do ano, para café arábica em produção

Valores adequados de boro e zinco, em teores foliares, para cafezais com produção de 30 a 40 sacas/ha
Valores adequados de boro e zinco, em teores foliares, para cafezais com produção de 30 a 40 sacas/ha
(Fonte: Potafos)
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Conclusão

O manejo adequado de nutrientes no solo é fator primordial para o sucesso do cultivo

Realize o manejo no momento da correção dos teores presentes no solo ou na fertilização para viabilizar o crescimento, desenvolvimento e produtividade do cafeeiro.

As recomendações de produtos, doses e épocas de aplicação também são muito importantes para o manejo de micronutrientes, principalmente o zinco e o boro.

Uma consulta a seu assistente técnico é o procedimento ideal para sanar dúvidas e obter os melhores resultados em sua lavoura.

>> Leia mais: 

“Acerte no adubo líquido para café e não jogue dinheiro fora”

“Tudo o que você precisa saber sobre a produção de cafés especiais”

Você já precisou realizar o manejo de boro e zinco no café? Conte sua experiência nos comentários, e assine nossa newsletter para receber mais artigos como este.

O que é evapotranspiração e como ela pode te ajudar a explorar o potencial máximo de produção

Evapotranspiração: o que é, como é sua participação no ciclo da água e qual a sua importância para agricultura

Conhecer a movimentação da água no planeta, assim como sua influência na vegetação, te auxilia a tomar decisões mais assertivas

A evapotranspiração é um fator que está diretamente ligado à presença da água na lavoura, e pode te ajudar a realizar a irrigação de maneira mais sustentável e econômica.

Seu entendimento a respeito pode ajudar a explorar o potencial máximo de sua produção, porque a falta de água durante o desenvolvimento da cultura gera queda de produtividade.

Quer entender melhor tudo isso e saber por que determinar esse parâmetro é importante na agricultura? Veja a seguir!

O que é evapotranspiração? 

A evaporação é a somatória de dois processos: a evaporação e a transpiração das plantas.

Evaporação é o processo de passagem de um líquido ao estado de vapor. Por exemplo, a água superficial (como de rios e lagos) é aquecida pela radiação solar e evapora.

Já a transpiração acontece quando a água que as plantas absorvem do solo é eliminada pelas folhas na forma de vapor d’água, por meio dos estômatos.

A evapotranspiração é toda a movimentação da água da forma líquida retornando à atmosfera.

É a combinação da passagem da água para o ar, que ocorre com a água presente tanto no solo (rios, lagos, mares, entre outros), quanto nas plantas.

Exemplificação de evapotranspiração

Exemplificação de evapotranspiração
(Fonte: Árvore, ser tecnológico)

Relação com o ciclo hidrológico 

A água do mundo está em constante mudanças de estado, seja líquido, sólido ou gasoso.

Essas mudanças de estados e sua movimentação no planeta configuram o ciclo hidrológico (ciclo da água).

O ciclo hidrológico, como você verá na figura abaixo, envolve vários processos que fazem a movimentação da água no subsolo, solo e ar.

infográfico com ciclo hidrológico

Ciclo hidrológico
(Fonte: USGS)

A evapotranspiração tem grande importância no ciclo hidrológico, porque é nesse processo que a água passa do estado líquido para o de vapor.

Além disso, estudos indicam que aproximadamente 70% da água precipitada é devolvida para a atmosfera em seu processo.

O conhecimento da evapotranspiração é importante para vários estudos da água no planeta.

Determiná-la tem diversos propósitos, como verificar o rendimento de bacias hidrográficas, acompanhar a capacidade de reservatórios ou aquíferos, além de ser de grande necessidade na agricultura pela irrigação.

Influência da evapotranspiração na agricultura 

Na agricultura, o conhecimento da evapotranspiração é fundamental, pois é a movimentação da água no solo e na planta.

O solo e a planta são os elementos chaves de produção, e desse modo, não ocorreria produção sem a quantidade de água mínima exigida pelas culturas.

É pela evapotranspiração que se estima a exigência de água pelas culturas, e por esse conhecimento é possível definir com maior precisão a irrigação.

Saber a demanda hídrica das culturas é importante para conseguir explorar o potencial máximo de produção. Isso porque a falta de água durante o desenvolvimento, na maioria das culturas, resulta em quedas de produtividade.

tabela com demanda hídrica aproximada de algumas culturas

Demanda hídrica aproximada de algumas culturas
(Fonte: adaptado de Carvalho et al., 2013)

Assim, conhecer a demanda hídrica das culturas, sabendo regularmente os dados de precipitação, evapotranspiração, temperatura, umidade relativa do ar, torna a irrigação mais eficiente.

A irrigação desempenha um grande papel no uso da água. Cerca de 67% da água consumida no Brasil é utilizada nos sistemas de irrigação.

Desse modo, para fazer uma irrigação de modo sustentável e econômico, a determinação da evapotranspiração é uma das medidas fundamentais. 

Fatores como tipo e manejo do solo, dossel das plantas, velocidade do vento, temperatura e umidade do ar interferem nela.

Sendo assim, essa relação pode variar conforme a área, a época, o clima, entre outras influências.

infográfico com total de água consumida no Brasil (média anual)

Total de água consumida no Brasil (média anual)
(Fonte: ANA)

Determinação da evapotranspiração

Há fatores que interferem na evapotranspiração, como você acabou de ler, sendo principalmente consideradas as condições climáticas.

4 tipos diferentes usualmente presentes na agricultura brasileira, dependendo das condições calculadas. Você os verá a seguir.

1. Evapotranspiração de referência (ETo) ou potencial (ETp) 

A evapotranspiração de referência e potencial são iguais. Antigamente o termo utilizado era potencial, hoje é de referência.

Para ela são consideradas condições climáticas como radiação solar, temperatura, umidade relativa do ar e velocidade dos ventos, além da cobertura vegetal de referência.

Para a determinação da evapotranspiração de referência, a cultura vegetal de referência não tem restrição hídrica, e apresenta uma área de bordadura para evitar perda de calor no solo.

Desse modo, a ETo considera apenas as condições climáticas do momento.

Representação da evapotranspiração de referência (ETo)

Representação da evapotranspiração de referência (ETo)
(Fonte: Decivil)

2. Evapotranspiração real (ETR)

É determinada pelas condições reais de evaporação e transpiração.

Sua determinação é realizada da mesma forma que a ETo, com a diferença de que a cultura de referência pode ou não estar em deficiência hídrica.

A área de determinação também é delimitada com uma área de bordadura, assim como na evapotranspiração de referência.

Representação da evapotranspiração real (ETR)

Representação da evapotranspiração real (ETR)
(Fonte: Decivil)

3. Evapotranspiração da cultura (ETc)

É a fase de desenvolvimento em que a cultura se encontra, em ótimas condições de crescimento e desenvolvimento.

Para a determinação, os parâmetros são: sem restrição e ampla área de bordadura.

A a ETc é calculada pela ETo x KcKc é o coeficiente de cultura, que varia conforme a área foliar da cultura.

Ou seja, valores de Kc menores geralmente são de início e final de ciclo, onde a área foliar é menor.

Representação da evapotranspiração da cultura (ETc)

Representação da evapotranspiração da cultura (ETc)
(Fonte: Decivil)

4. Evapotranspiração da real da cultura (ETr)

Como diz o nome, esse tipo é determinado pela condição real de campo.

Assim, a cultura pode estar com ou sem restrição hídrica, e não há área de bordadura, ocorrendo a influência do solo.

Para o cálculo, é considerado, além da ETo e Kc, o Ks: o coeficiente de solo, sendo ETr = ETo x Kc x Ks.

Para resumir os tipos possíveis na agricultura, temos:

  • Evapotranspiração de referência (ETo): considera apenas as condições meteorológicas, sem restrição hídrica;
  • Evapotranspiração real (ETR): considera as condições meteorológicas reais, ou seja, com ou sem restrição hídrica;
  • Evapotranspiração da cultura (ETc): considera condições meteorológicas e condições da cultura;
  • Evapotranspiração da real da cultura (ETr): considera condições meteorológicas, condições da cultura e manejo do solo.
Representação dos tipos de evapotranspiração

Representação dos tipos de evapotranspiração
(Fonte: UTFPR)

Conclusão

Como você viu ao longo do texto, a evapotranspiração é a combinação dos processos da transpiração e evaporação.

Determiná-la é fundamental na tomada de decisão de modo rentável e sustentável da irrigação.

Ela ocorre a todo momento na sua lavoura e é dependente da quantidade de área foliar da cultura. 

E, por fim, existem vários modos de calcular esse parâmetro – e cada um tem algo a ser considerado.

Espero que as informações aqui apresentadas te ajudem a conhecer melhor a evapotranspiração e, assim, aumentar a produtividade da sua lavoura.

>> Leia mais:

“Entenda como a fertirrigação pode aprimorar sua produção”

“Como ocorre e quais os efeitos do estresse hídrico nas plantas”

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