Como fazer o controle efetivo do ácaro-rajado

Ácaro-rajado: conheça as principais características dessa praga e os métodos de manejo mais adequados.

O ácaro-rajado é uma praga agrícola que vem causando danos expressivos em diversas culturas. 

E por que esse ácaro tem tanto potencial de destruição, sendo um organismo tão diminuto? 

Quais fatores têm contribuído para seu aumento populacional em culturas como soja, algodão e feijão? Qual a forma correta de manejo?

Confira essas e outras respostas sobre essa praga no artigo a seguir!

Características do ácaro-rajado  

Pode ser que você não saiba, mas os ácaros não são insetos. Estão no mesmo filo, Arthropoda, mas são de classe distinta. Os ácaros pertencem à classe Arachnida e subclasse Acari. E, dentre eles, está o ácaro-rajado, Tetranychus urticae, que é um ácaro tetraniquídeo (família Tetranychidae). 

Esse ácaro polífago é a principal espécie de ácaro-praga em uma gama de culturas, atacando mais de 150 espécies diferentes de plantas de importância econômica no mundo. 

Há características muito particulares que irão te ajudar a identificá-lo melhor. Uma delas é a capacidade de formar teias, que têm a função de proteger contra ataque de predadores e cria um microclima ideal para o desenvolvimento da população. 

As ninfas e os adultos produzem teias que podem encobrir a planta por completo. E, quando a infestação está muito alta, ocorre um aumento significativo, sinal de que a população está prestes a dispersar.

duas fotos representativas, uma ao lado da outra de adultos de ácaro-rajado e teia que produzem na planta.

 Adultos de ácaro-rajado e teia que produzem na planta
(Fonte: University of Florida)

Desenvolvimento e reprodução 

O ciclo de vida do ácaro-rajado varia de 7 a 20 dias e depende da condições do ambiente (temperatura e umidade). 

As fêmeas medem entre 0,5 mm e 1 mm de comprimento. Os machos são menores, medindo entre 0,3 mm e 0,5 mm de comprimento. 

Eles se reproduzem de forma sexuada e assexuada, em que ocorre partenogênese, e passam pelas fases de ovo, larva, protoninfa, deutoninfa e adulto. 

As ninfas são incolores, com olhos vermelhos. Com o desenvolvimento, vão se tornando verdes, amarelo-amarronzados e até verde-escuros. Na fase adulta, possuem duas manchas escuras no dorso.

Uma fêmea tem a capacidade de ovipositar cerca de 100 a 300 ovos ao longo da vida, em condições ideais.

Os ovos são esféricos (0,1 mm), de coloração amarela, e quase imperceptíveis a olho nu. São ovipositados na parte inferior das folhas. 

ilustração com Fases do ácaro-rajado Tetranychus urticae passando por ovo, larva, protoninfa, deutoninfa e fêmea adulta.

Fases do ácaro-rajado Tetranychus urticae
(Fonte: Koppert)

Dispersão 

A dispersão pode ocorrer por meio de órgão vegetais transportados pelo homem, levando os ácaros para longas distâncias. 

Outra maneira é pela migração de poucos metros por caminhamento dos ácaros. Quando há alta densidade populacional, abandonam as folhas muito danificadas e migram para outras menos atacadas da mesma planta ou de plantas diferentes. 

A dispersão mais frequente ocorre pelo vento: as fêmeas procuram a periferia da planta hospedeira e deixam-se levar pela corrente de ar. 

Como ocorre o ataque e danos do ácaro-rajado 

O ataque do ácaro-rajado em culturas como algodão, soja e feijão ocorre em condições de altas temperaturas e ausência de chuvas. Inicialmente, em reboleiras, mas, ao longo do tempo, conseguem tomar toda a lavoura. 

O tempo seco é um fator que deixa as células das plantas com maior concentração de nutrientes. O ácaro-rajado se alimenta das células do mesofilo no tecido vegetal, succionando o conteúdo celular. 

Têm preferência pela face inferior de folhas mais velhas, localizadas nas partes medianas das plantas. Mas, em altas densidades, também se alimentam de folhas novas. 

O dano direto consiste na perfuração das células superficiais e consequente redução da taxa fotossintética. Com isso, as folhas ficam com áreas prateadas ou verde-pálidas devido à remoção dos cloroplastos. 

Ocorre também a oxidação das áreas atacadas. Em alta intensidade, os ataques provocam manchas necróticas, chegando a rasgar ou até provocam queda das folhas. 

Esses danos podem colocar em risco a sobrevivência dessas culturas por serem anuais, causando, nos piores cenários, a perda completa da planta. 

Foto de planta com Danos de ácaro-rajado

Danos de ácaro-rajado
(Fonte: ScienceDirect

Manejo do ácaro-rajado 

É preciso destacar que o manejo convencional desta praga com aplicações constantes de acaricidas tem selecionado populações resistentes

Segundo o Comitê Brasileiro de Ação à Resistência a Inseticidas (IRAC BR), o ácaro-rajado tem rápido desenvolvimento de ação aos acaricidas. 

Estudos têm indicado que no Brasil, em culturas com intenso uso de produtos químicos, existem populações resistentes aos acaricidas:

  • abamectina;
  • clorfenapir;
  • dimetoato;
  • enxofre;
  • fenpiroximato;
  • milbemectina; e 
  • propargito.

Esse uso intenso ainda pode causar problemas de ressurgência da praga, devido à eliminação dos inimigos naturais da área. 

Além disso, esse ácaro tem alta capacidade reprodutiva, ciclo curto, se aloja na parte inferior das folhas e tecem as teias que o auxiliam ainda mais para se manter no ambiente. 

Por isso, é importante que o manejo deste ácaro seja realizado de forma integrada. Com o Manejo Integrado de Pragas (MIP) existe uma grande chance de evitar que esses problemas ocorram e controlar o ácaro-rajado de maneira eficiente. 

MIP 

Para que o MIP seja realizado, é importante fazer o monitoramento constante. Isso mostrará se a população do ácaro-rajado está ou não no nível de controle

Cada cultura requer pontos de amostragens diferentes, mas é necessário que esta ação seja feita.

A partir dos resultados, toma-se a decisão de controle que, atualmente, é o uso de produtos químicos e biológicos registrados pelo Mapa e o controle cultural. 

Para uso de acaricidas, é muito importante a rotação com diferentes modos de ação para o manejo da resistência e manutenção da eficiência do controle. 

Tabela indicando uso rotacionado de acaricidas

Tabela indicando uso rotacionado de acaricidas
(Fonte: Irac)

Outro ponto importante para realizar o controle químico é a preferência por produtos seletivos aos inimigos naturais. Como falado anteriormente, quanto mais seletivos, menor o risco de ocorrer pressão de seleção ao ácaro.

E o uso de controle biológico pode conter 80% das infestações

Pode ser realizado com o uso de ácaros predadores da família Phytoseiidae. As espécies Neoseiulus californicus e Phytoseiulus macropilis têm registro no Mapa e são comercializadas por biofábricas. 

Foto de Ácaro predador Neoseiulus californicus com a embalagem do produto

Ácaro predador Neoseiulus californicus 
(Fonte: Koppert)

foto do Ácaro predador Phytoseiulus macropilis com a embalagem do produto

Ácaro predador Phytoseiulus macropilis
(Fonte: Promip)

Esses ácaros predadores devem ser liberados na cultura quando existe uma baixa população da praga para que o controle seja eficiente. 

As liberações massais com essas espécies têm sido a melhor maneira de controle em diversas culturas. 

Um outro produto biológico seria o entomopatógeno Beauveria bassiana, que é também comercializado por biofábricas, aplicado em temperaturas mais amenas e clima mais úmido. 

Outros inimigos naturais ocorrem de forma natural no ambiente. Por isso, seria importante mantê-los na área (controle biológico conservativo) para contribuir com a redução da população da praga. 

Você também pode realizar o controle cultural, com destruição de restos culturais e manejo de plantas invasoras, que podem servir de hospedeiras. 

Ou realizar a destruição das teias com jatos de água sobre as plantas. 

banner planilha manejo integrado de pragas

Conclusão 

O ácaro-rajado é uma praga polífaga que ataca diversas culturas, dentre elas soja, feijão e algodão. 

Não é um inseto, mas esse artrópode possui diversas fases e seu ciclo é bastante rápido, o que contribui para a disseminação. Produz teias e causa danos significativos nas plantas, podendo levá-las à morte.

Existem diversas formas de controle e o mais indicado é fazer o manejo integrado do ácaro-rajado, o MIP. 

Espero que com essas informações você consiga ter um manejo efetivo dessa praga em sua lavoura.

>> Leia mais:

“Saiba tudo sobre o ácaro azul das pastagens, uma praga emergente no Brasil”

Você já teve muito prejuízo com o ácaro-rajado em sua lavoura? Como tem feito o controle? Adoraria ler seu comentário!

Entenda a importância da área de refúgio na lavoura

Área de refúgio: saiba como adotar em sua fazenda e tire também suas dúvidas sobre a tecnologia Bt

As pragas agrícolas são um dos principais limitantes produtivos da lavoura, podendo causar perdas de até 40% na produtividade.

Nas últimas décadas, a tecnologia Bt deu uma grande reviravolta no combate “pragas x  culturas agrícolas”. Mas essa tecnologia corre risco.

Atualmente, 86% das áreas plantadas com grãos e cereais correspondem a culturas já comercializadas com a tecnologia Bt e requerem o plantio de áreas de refúgio por lei. E negligenciá-las pode custar caro no futuro.

Entenda neste artigo a importância da área de refúgio, a tecnologia Bt e como preservar essa importante “arma” no combate às pragas!

O que são áreas de refúgio?

A área de refúgio nada mais é que uma área do talhão, cultivado com culturas com tecnologia Bt, semeada com sementes convencionais. Elas devem ser localizadas a uma distância máxima de 800 metros da lavoura com tecnologia Bt.

Essas áreas garantem que as pragas resistentes que surjam na lavoura Bt possam cruzar com os insetos suscetíveis às proteínas, gerando uma nova geração sem indivíduos resistentes.

É importante ter em mente que, nos primeiros anos da adoção das plantas Bt, o controle das pragas é eficiente. 

Mas, conforme as safras passam, a eficiência do controle diminui exatamente pelo rápido aparecimento de insetos resistentes.

O uso de cultivares convencionais de ciclo parecido com as melhoradas geneticamente é importante também. Isso garante que as pragas estarão presentes nas duas áreas ao mesmo tempo.

O uso das áreas de refúgio é essencial para manter a eficiência e os benefícios da tecnologia Bt.

O importante é sempre distribuir as áreas de refúgio de maneira uniforme, sendo em faixas, bordaduras ou blocos, permitindo que as pragas das duas áreas se encontrem e cruzem entre si.

ilustração com diferentes modelos para adoção da área de refúgio na fazenda

Diferentes modelos para adoção da área de refúgio na fazenda
(Fonte: Corteva)

É importante saber que o percentual da área de refúgio muda entre as espécies. O indicado é manter em 10% para o milho e 20% para a soja, algodão e cana.

Quanto ao manejo da área de refúgio, deve ser realizado de forma semelhante ao restante da lavoura (exceto pelo uso das sementes Bt), evitando o uso excessivo de aplicações de inseticidas, a fim de garantir o cruzamento dos insetos resistentes com os vulneráveis.

A seguir, vou explicar a evolução das plantas com tecnologia Bt e a resistência das pragas agrícolas a ela.

O que é a tecnologia Bt?

O termo Bt se refere ao nome científico da bactéria Bacillus thuringiensis, que é um microrganismo encontrado naturalmente no solo. 

Essa bactéria produz cristais de proteína que apresentam propriedades tóxicas a muitos insetos agrícolas, principalmente a lagartas (lepidópteros), moscas (dípteros) e besouros (coleópteros).

São conhecidos cerca de 70 grupos dessas toxinas, que são classificadas como “Cry, Vip ou Cyt” e que, após serem isoladas e manipuladas geneticamente, são introduzidas ao DNA das plantas de interesse econômico (como a soja ou o milho).

tabela com proteínas Bt disponíveis no mercado para milho, algodão e soja.

(Fonte: Corteva)

Essas toxinas têm um alto grau de especificidade com as pragas alvo. Isso quer dizer que apresentam um baixo dano ambiental aos demais insetos benéficos à lavoura e ao ambiente.

As proteínas Bt que estão presentes nas plantas melhoradas geneticamente precisam ser ingeridas pelos insetos para que entrem em ação. 

Depois de ingerida, a proteína entra em contato com o sistema digestório do inseto (que apresenta pH alcalino) e são quebradas por enzimas. Só então as toxinas entram em ação, matando os insetos alvo.

Os benefícios dessa tecnologia são enormes, porém, para continuar ganhando a batalha contra as pragas, as plantas Bt precisam de um manejo cuidadoso e atento.

Quais os riscos de não se adotar a área de refúgio na fazenda?

Como eu disse, à medida em que as plantas foram sendo melhoradas geneticamente, as pragas também foram evoluindo para esse combate. E isso continua acontecendo.

As pragas podem se adaptar à tecnologia Bt, tornando-a ineficaz e neutralizando mais uma das “armas” nessa batalha.

Outro problema é que o ritmo de surgimento de novos eventos Bt é lento, demanda anos e anos de pesquisa. 

Por outro lado, a resistência das pragas pode ocorrer em algumas safras.

Então, como para desenvolver a tecnologia é trabalhoso e demorado (mas para as pragas acabarem com ela é rápido), é preciso ajudar a tecnologia Bt para que ela se preserve por mais tempo.

Deste modo, é importante focar em boas práticas como um bom programa de Manejo Integrado de Pragas (MIP) e, principalmente, no manejo de resistência de insetos.

Para isso, é necessário ficar atento ao mecanismo de ação dos inseticidas, não fazendo aplicação de inseticidas formulados à base de Bt. Também é preciso realizar a rotação ao longo das safras, impedindo que surjam insetos resistentes.

Outra prática importante do MIP é realizar um monitoramento rígido das pragas junto com a rotação de culturas.

Entre as práticas, é importante também:

O que é o refúgio no saco?

Além da área de refúgio tradicional, há o refúgio no saco. É uma técnica utilizada por empresas, em alguns estados dos EUA, para garantir a utilização do refúgio pelos produtores.

Essa técnica consiste basicamente em adicionar uma porcentagem de sementes convencionais no saco com sementes melhoradas geneticamente (tecnologia Bt).

Contudo, não foi adotada no Brasil e foi banida de algumas regiões dos EUA por motivos técnicos e burocráticos. 

Os motivos técnicos se referem principalmente à eficácia da técnica de refúgio no saco ou RIB em inglês (Refuge in a bag). 

As pesquisas ainda mostram resultados muito contrastantes sobre o refúgio no saco realmente precaver o surgimento de pragas resistentes em longo prazo.

Isso se deve principalmente pela mobilidade das pragas. Insetos que têm o hábito de se deslocar entre plantas apresentam um alto risco para o surgimento de indivíduos resistentes.

E esse tipo de praga é ainda mais comum entre as plantas de soja e algodão, o que inviabiliza, em longo prazo, o uso da técnica de refúgio no saco para essas culturas.

No caso do milho e do algodão, que apresentam em maior ou menor grau polinização cruzada, existe mais um problema. O material genético das plantas Bt podem “infectar” as plantas convencionais, o que pode acelerar o surgimento de pragas resistentes.

Já os problemas burocráticos se devem a como seria fixado um valor ao saco, já que uma quantidade de sementes ali não apresenta a tecnologia Bt, e como seria feita a diferenciação das sementes, já que é uma norma presente na legislação brasileira.

Resumindo, a técnica do refúgio no saco, apesar de ter potencial, ainda apresenta alguns entraves técnicos e burocráticos, que só devem ser solucionados pela ciência no futuro. 

Então a maneira legal e mais eficaz ainda é adotar uma área específica para o refúgio!

Conclusão

A tecnologia Bt é uma poderosa arma no combate às pragas, mas, sozinha, tem prazo de validade.

Principalmente na soja, o número de eventos Bt é limitado ainda, e um possível abandono das práticas de MIP e a não adoção da área de refúgio podem matar a tecnologia ainda no início.

Já vimos esse problema acontecer com as lavouras de milho. As sementes Bt foram ganhando cada vez mais pragas resistentes e perdendo sua eficácia. Por essa razão é que devemos adotar o plantio da área de refúgio.

A área de refúgio ajuda a garantir o futuro das nossas lavouras e as altas produtividades do agronegócio brasileiro! 

Restou alguma dúvida sobre a área de refúgio? Como você faz hoje em sua propriedade? Deixe seu comentário!

Novidade no mercado de defensivos: inseticida Plethora

Inseticida Plethora: saiba o que é importante observar quando há um produto novo no mercado. 

A dinâmica de controle de algumas pragas agrícolas é bastante intensa e, por isso, há maior foco e desenvolvimento de novas estratégias.

Recentemente, a multinacional Adama lançou o inseticida Plethora, que tem sido muito bem aceito pelos produtores.

A novidade tecnológica deste produto é que ele possui combinação de ingredientes ativos inéditos no mercado. Seu registro é para diversas culturas e diferentes pragas. 

Entenda a seguir um pouco mais sobre esse inseticida, considerando tanto os benefícios como os riscos ao utilizá-lo. 

Como funciona o inseticida Plethora

O Plethora foi registrado recentemente pela empresa Adama Brasil S.A. no Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) na categoria agronômica “inseticida”, com número 8920. 

Este defensivo possui em sua formulação os ingredientes ativos indoxacarbe e novaluron, que nunca antes foram combinados. 

Indoxacarbe

Indoxacarbe foi desenvolvido pela empresa DuPont e é do grupo químico da oxadiazina.  Tem como sítio de ação os canais de sódio dependentes de voltagem. O papel da molécula é bloquear o canal. 

Os canais ficam fechados, bloqueando o fluxo de sódio para o interior da célula e os impulsos nervosos. Em consequência, ocorre paralisia e morte. 

Isso quer dizer que indoxacarbe age no sistema nervoso dos insetos. Por isso, é de amplo espectro de ação, ou seja, pode agir também no sistema nervoso de outros organismos que não as pragas. 

ilustração de uma lagarta mostrando em azul o seu sistema nervoso

Sistema nervoso de uma lagarta (em azul)
(Fonte: Canal Jerson Guedes)

Novaluron 

novaluron foi desenvolvido pela própria Adama e é do grupo químico das benzoilureias. Age no crescimento e desenvolvimento das pragas. 

São inibidores da biossíntese de quitina e isso causa uma deposição endocuticular anormal e muda abortiva. O que quero dizer é que causa problemas fisiológicos nas fases jovens dos insetos e a consequência é a morte antes mesmo de se tornarem adultos.  

Não é um ingrediente ativo de amplo espectro, principalmente por agir na fase larval. E é considerado mais seguro por não atingir diretamente organismos não-alvo. 

imagem de cutícula mal formada de lagartas no processo de muda

Cutícula mal formada de lagartas no processo de muda 
(Fonte: Folhetim Basf)

Indoxacarbe + Novaluron 

O inseticida Plethora, contendo esses dois ingredientes ativos, age no sistema nervoso do inseto, inibindo a entrada de íons de sódio nas células nervosas, e também como inibidor da síntese de quitina. 

Tem 24% de indoxacarbe e 8% de novaluron em sua composição. Por essa razão, o produto em si é de amplo espectro. 

Age tanto por ingestão como por contato com atividade translaminar nas folhas. Isso significa que, após pulverizado, o produto permanece em uma subcamada das folhas, o parênquima foliar. 

Além disso, Plethora tem ação sistêmica, pois fica ativo nos vasos condutores de seiva, onde é enviado por toda a estrutura da planta. 

Com essa combinação, tem ação rápida e permite um efeito residual longo. 

É uma ferramenta para o manejo da resistência, já que muitos produtos que estão no mercado para as praga-alvo deste inseticida têm se mostrado ineficientes. 

Pode ser aplicado de maneira terrestre ou aérea. 

ilustração da embalagem do Inseticida Plethora

Inseticida Plethora
(Fonte: Adama)

O que o inseticida Plethora controla?

O que faz com que este produto tenha sido um bom arremate é o seu controle sobre o complexo de lagartas de várias culturas, como soja e algodão,  mas também de pragas do cafeeiro. 

Além disso, seu registro é amplo, abrangendo também controle para pragas das culturas de canola, feijão, gergelim, girassol, linhaça, milheto, milho e sorgo.

As espécies para controle são:

Culturas: algodão, linhaça e soja.

Culturas: algodão, feijão e soja. 

  • Lagarta-da-maçã (Chloridea virescens)

Cultura: algodão.

  • Lagarta-das-vagens (Spodoptera eridania)

Culturas: algodão e soja.

  • Traça-das-crucíferas (Plutella xylostella)

Cultura: canola. 

  • Lagarta-enroladeira (Antigastra catalaunali)

Cultura: gergelim. 

  • Lagarta-do-girassol (Chlosyne lacinia saundersii)

Cultura: girassol. 

Culturas: milheto, milho e sorgo. 

  • Lagarta-da-soja (Anticarsia gemmatalis)

Cultura: soja. 

  • Bicho-mineiro (Leucoptera coffeella)

Cultura: café. 

Cultura: café. 

As doses recomendadas são semelhantes para todas as culturas e pragas: de 200 a 300 mL/ha. Apenas na cultura do café que há diferenças, sendo de 500 a 700 mL/ha para a broca-do-café e de 300 a 400 mL/ha para o bicho mineiro. 

Mesmo com doses semelhantes, é muito importante que você respeite o nível de controle de cada praga e as recomendações que estão na bula. 

Riscos do Inseticida Plethora

Mesmo sendo uma boa ferramenta, o inseticida Plethora apresenta alguns riscos.  

A classificação toxicológica é 5, sendo improvável de causar dano agudo. Porém, sua classificação com relação ao meio ambiente é 2, com indicação de muito perigoso ao meio ambiente. 

Isso quer dizer que deve-se usar o Plethora com prudência, respeitando as especificações do fabricante, dose a ser aplicada, além do número, época e intervalo entre aplicações. 

Uma forma de uso correto é aplicando os preceitos do Manejo Integrado de Pragas (MIP). Com o MIP, é possível fazer as aplicações somente quando o monitoramento mostrar necessário.

Você pode, inclusive, usar um software de gestão agrícola para monitorar focos de infestação na lavoura e controlar a quantidade de inseticida que deve ser aplicada em cada talhão. Assim, você tem um manejo mais efetivo de pragas e evita pulverizações excessivas.

Um erro seria utilizá-lo em pulverizações calendarizadas e sem monitoramento prévio das pragas. Além de causar possíveis contaminações, isso pode reduzir a eficácia do produto e prejudicar a tecnologia em um curto período de tempo. 

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Se for utilizado de maneira correta, poderá contribuir para um bom manejo na sua cultura. 

Consulte um profissional agrônomo para que você tenha maior auxílio ao utilizar este produto. 

Conclusão 

Um novo produto fitossanitário teve registro recente e tem sido muito bem aceito por produtores em todo o Brasil. 

O Plethora é um inseticida de amplo espectro e longo período residual. Tem combinação inédita de dois ingredientes ativos, o indoxacarbe e o novaluron. São de grupos químicos diferentes, agindo tanto no sistema nervoso como no crescimento e desenvolvimento dos insetos. 

Até o momento, seu registro é para uso em 11 culturas e 11 pragas, sendo, em sua maioria, do complexo de lagartas. 

Existem alguns riscos ao utilizar o produto, mas que podem ser manejados de acordo com o MIP. 

Utilizado da maneira correta, esse inseticida poderá contribuir para um bom manejo na sua cultura!

Como você monitora as pragas da sua lavoura hoje? Restou alguma dúvida sobre o inseticida Plethora? Adoraria ler seu comentário!

Como proteger sua lavoura da lagarta-rosca

Lagarta-rosca: como combater essa praga que tem sido problema no período inicial de diversas culturas

Toda praga agrícola é motivo de preocupação, mas existem aquelas que pareciam inofensivas e passam a causar mais dor de cabeça. 

É o caso da lagarta-rosca, que tem afetado diversas culturas de maneira significativa. 

A praga ataca no período inicial e, por isso, pode comprometer todo o desenvolvimento das lavouras.

Para saber como controlar, você deve conhecer as características e comportamentos dessa lagarta. Confira neste artigo os principais aspectos e formas de controle da lagarta-rosca. 

Características da lagarta-rosca

Existe um complexo de lagartas da ordem Lepidoptera que tem por nome comum “lagarta-rosca” pelo fato de se encurvarem ao se sentirem ameaçadas ou quando estão em repouso. 

Entretanto, dentre as várias espécies existentes, Agrotis ipsilon é a principal causadora de danos em diversas culturas por ser polífaga

Ela tem causado uma tensão maior aos produtores de culturas como feijão, algodão, milho e soja

É da família Noctuidae e tem hábitos noturnos. Durante o dia, as lagartas permanecem sob uma pequena profundidade do solo e, durante a noite, atacam as plantas. 

As lagartas têm coloração marrom, podendo também variar para o cinza, com linhas ao longo do corpo e tubérculos nos segmentos. Nos últimos ínstares, podem chegar a 50 mm de comprimento. 

Após o período larval, a pupa é formada e se aloja no solo para desenvolvimento do adulto.

O adulto é uma mariposa de coloração variável, sendo as asas anteriores marrom ou cinza e as posteriores mais claras. A envergadura vai de 35 mm a 50 mm e comprimento de 20 mm. 

A fêmea pode colocar cerca de 1.000 ovos, podendo ser depositados sobre folhas, hastes ou também no solo. 

O ciclo biológico dessa praga varia de 34 a 64 dias, dependendo das condições climáticas da região. 

Os períodos de cada fase de desenvolvimento variam de acordo com a temperatura e, geralmente, são de 4 dias como ovo, de 20 a 40 dias como larva e de 10 a 20 dias como pupa. 

Pupa, lagarta e adulto de Agrotis ipsilon

Pupa, lagarta e adulto de Agrotis ipsilon 
(Fonte: IPM Images)

Danos causados às lavouras

Os ataques da lagarta-rosca ocorrem na fase inicial, desde a emergência das plântulas até o início do florescimento, o que pode comprometer o estabelecimento da cultura.

Quando o solo está mais úmido e tem maior deposição de matéria orgânica, os danos se intensificam devido à preferência da praga por este tipo de ambiente. 

Lagartas menores se alimentam das folhas mais próximas ao solo e de outras plantas hospedeiras próximas à cultura, como as plantas daninhas

Associadas a essas plantas hospedeiras alternativas, as lagartas aumentam o potencial de causar maiores danos por conseguirem ambientes propícios para se manterem por mais tempo na área. 

Um período bastante crítico é quando as lagartas maiores cortam as plântulas rente ao nível do solo. Uma única lagarta é capaz de seccionar várias plantas em uma noite. 

Em plantas mais desenvolvidas, as lagartas abrem galerias na base dos colmos. Esse hábito favorece o tombamento, o sintoma de coração morto e também pode levar a morte das plantas

Dano em milho provocado por lagarta-rosca

Dano em milho provocado por lagarta-rosca 
(Fonte: IPM Images)

Como fazer o manejo da lagarta-rosca

Como o hábito dessa lagarta é noturno e durante o dia permanece sob o solo, táticas e métodos do Manejo Integrado de Pragas (MIP) contribuirão para o controle da população. 

O histórico da área deve ser analisado para que você saiba tomar as decisões corretas. Um bom manejo começa com um bom planejamento.

Um software agrícola pode lhe ajudar a monitorar a incidência da praga na lavoura para decidir o momento certo de entrar com medidas de controle.

Sabendo que há a possibilidade de se deparar com a lagarta-rosca, você poderá se preparar com alguns métodos como: 

Controle cultural

Sendo uma praga polífaga, a presença da lagarta-rosca na safra anterior já é motivo de alarde. 

Por isso, é importante que você faça um bom preparo do solo e elimine antecipadamente as plantas hospedeiras. 

Como os insetos ficam durante o dia sob o solo, um manejo com rolagem rolo-faca irá contribuir para reduzir a população que estiver na área. 

Outro ponto ideal é evitar cobertura morta e restos culturais para que a lagarta-rosca não tenha ambiente favorável para se manter até a chegada na nova safra. 

Controle químico

Existem algumas formas de utilizar o controle químico para lagarta-rosca. 

A primeira delas é fazer o tratamento de sementes com inseticidas sistêmicos para garantir a emergência e estabelecimento da cultura.

Outra maneira seria por meio das iscas tóxicas à base de farelo de trigo, açúcar, água e inseticida (piretroide ou carbamato). A aplicação deve ser distribuída na lavoura como grânulos no final da tarde. 

Além dessas, a forma convencional com aplicação de inseticidas pode ser realizada, mas deve ser feita  no final do dia, bem próximo da base das plantas. 

O registro dos inseticidas para controle de lagarta-rosca deve ser consultado no site do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), o Agrofit. Por isso, é importante que você consulte um(a) engenheiro(a) agrônomo(a) para melhores detalhamentos de acordo com a sua cultura. 

Veja abaixo alguns exemplos de inseticidas registrados no Mapa:

Algodão 

Produto Ingrediente Ativo
(Grupo Químico) 
Titular de Registro 
  Cartarys   Cloridrato de cartape (bis(tiocarbamato)) + Cloridrato de cartape (bis(tiocarbamato))   UPL do Brasil Indústria e Comércio de Insumos Agropecuários S.A. – Matriz Ituverava

Milho

Produto Ingrediente Ativo (Grupo Químico) Titular de Registro 
Capataz  clorpirifós (organofosforado)  Ouro Fino Química S.A. – Uberaba  
Ciclone 48 EC  clorpirifós (organofosforado)  Tradecorp do Brasil Comércio de insumos Agrícolas Ltda  
Cipermetrin 250 EC CCAB  cipermetrina (piretróide)  CCAB Agro S.A. – São Paulo  
Clorpiri 480 EC  clorpirifós (organofosforado)  Sharda do Brasil Comércio de Produtos Químicos e Agroquímicos LTDA  
Clorpirifós Fersol 480 EC  clorpirifós (organofosforado)  Ameribrás Indústria e Comércio Ltda.  
Clorpirifós Nortox EC  clorpirifós (organofosforado)  Nortox S.A. – Arapongas  
Clorpirifos Sabero 480 EC  clorpirifós (organofosforado)  Sabero Organics América S.A.  
Counter 150 G  terbufós (organofosforado)  AMVAC do Brasil Representações Ltda.  
Curanza 600 FS PRO  Ciantraniliprole (antranilamida)  Syngenta Proteção de Cultivos Ltda. – São Paulo  
Dermacor  clorantraniliprole (antranilamida)  Du Pont do Brasil S.A. – Barueri (Alphaville)  
Fortenza 600 FS  Ciantraniliprole (antranilamida)  Syngenta Proteção de Cultivos Ltda. – São Paulo  
Galgotrin  cipermetrina (piretróide)  Prentiss Química Ltda. – Campo Largo/PR  
GeneralBR  clorpirifós (organofosforado)  Ouro Fino Química S.A. – Uberaba  
Karate Zeon 250 CS  lambda-cialotrina (piretróide)  Syngenta Proteção de Cultivos Ltda. – São Paulo  
Karate Zeon 50 CS  lambda-cialotrina (piretróide)  Syngenta Proteção de Cultivos Ltda. – São Paulo  
Lecar  lambda-cialotrina (piretróide)  Syngenta Proteção de Cultivos Ltda. – São Paulo  
Lorsban 480 BR  clorpirifós (organofosforado)  Dow Agrosciences Industrial Ltda. – São Paulo  
Permetrin 384 EC CCAB  permetrina (piretróide)  CCAB Agro S.A. – São Paulo  
Permetrina CCAB 384 EC  permetrina (piretróide)  CCAB Agro S.A. – São Paulo  
Permetrina Fersol 384 EC  permetrina (piretróide)  Ameribrás Indústria e Comércio Ltda.  
Pounce 384 EC  permetrina (piretróide)  FMC Química do Brasil Ltda. – Campinas  
Sparviero 50  lambda-cialotrina (piretróide)  Oxon Brasil Defensivos Agrícolas Ltda.  
Wild  clorpirifós (organofosforado)  Albaugh Agro Brasil Ltda.- São Paulo  

Soja

Produto Ingrediente Ativo (Grupo Químico) Titular de Registro 
Assaris  metomil (metilcarbamato de oxima)  Sinon do Brasil Ltda. – Porto Alegre /RS.  
ÁvidoBR  metomil (metilcarbamato de oxima)  Ouro Fino Química S.A. – Uberaba  
BrilhanteBR  metomil (metilcarbamato de oxima)  Ouro Fino Química S.A. – Uberaba  
Chiave Sup  metomil (metilcarbamato de oxima)  Sipcam Nichino Brasil S.A. – Uberaba/MG  
Chiave 215 SL  metomil (metilcarbamato de oxima)  Sipcam Nichino Brasil S.A. – Uberaba/MG  
Clorpirifós 480 EC Milenia  clorpirifós (organofosforado)  Adama Brasil S.A. – Londrina  
Curanza 600 FS PRO  Ciantraniliprole (antranilamida)  Syngenta Proteção de Cultivos Ltda. – São Paulo  
Extreme  metomil (metilcarbamato de oxima)  Du Pont do Brasil S.A. – Barueri (Alphaville)  
Fortenza 600 FS  Ciantraniliprole (antranilamida)  Syngenta Proteção de Cultivos Ltda. – São Paulo  
Lannate BR  metomil (metilcarbamato de oxima)  Du Pont do Brasil S.A. – Barueri (Alphaville)  
Majesty  metomil (metilcarbamato de oxima)  Du Pont do Brasil S.A. – Barueri (Alphaville) 

Controle biológico 

O controle biológico das lagartas pode ocorrer de maneira natural na lavoura, com inimigos naturais como microimenopteros, dípteros e entomopatógenos. 

Desta maneira, é importante que você utilize inseticidas de maneira seletiva para evitar que os organismos benéficos sejam eliminados da área. 

A seletividade de inseticidas usada pode ser ecológica e fisiológica. Ecológica com o uso dos produtos em horários mais favoráveis para atingir a praga e fisiológica com o uso de inseticidas pouco tóxicos aos organismos benéficos. 

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Conclusão 

A lagarta-rosca é uma praga que tem causado danos em muitas culturas nos últimos anos como feijão, milho, soja e algodão. 

Tem hábito noturno e se aloja sob a terra no período do dia, por isso existe uma dificuldade de controle.

Os danos causados podem levar à morte da lavoura se a praga não for detectada a tempo. 

Existem formas de controlar a lagarta-rosca, sendo os principais controles cultural, químico e biológico (naturalmente). 

>> Leia mais:

Não cometa erros no manejo: 5 métodos de controle da lagarta-do-cartucho

Pragas quarentenárias: entenda os tipos e o que fazer para impedir a sua presença

Perspectivas para o mercado de controle biológico

Mercado de controle biológico cresce cerca de 15% ao ano e pode ser uma alternativa eficaz para sua lavoura.

Quando o assunto é controle de pragas, a primeira solução que vem à cabeça do produtor é o uso de defensivos químicos.

Mas, ao longo dos anos, muita coisa tem mudado. Desde 2011, o mercado de controle biológico vem crescendo cerca de 15% ao ano na agricultura brasileira, de acordo com a Embrapa.

Além de ser um método que tem se mostrado eficaz em muitas realidades brasileiras, é uma forma de utilizar ferramentas mais sustentáveis, principalmente pela alta demanda de alimentos mais seguros aos consumidores.

Você sabe quais as perspectivas e quais são os produtos biológicos que estão no mercado para controle de pragas agrícolas? Confira a seguir!

Mercado de controle biológico

O objetivo do controle biológico é controlar pragas através do uso de inimigos naturais – que podem ser predadores, parasitoides, microrganismos ou outros organismos benéficos. 

Nos últimos anos, o mercado de controle biológico cresceu mais de 70% no Brasil, segundo a Associação Brasileira das Empresas de Controle Biológico (ABCBio). 

Em 2019, especulou-se uma expectativa de movimentação desse mercado de cerca de US$ 5 bilhões para 2020 em todo o mundo. 

Mesmo com esse crescimento, o consumo de produtos biológicos no Brasil corresponde a 2% do faturamento total do mercado para a proteção de plantas. 

Além de ser culturalmente aceito o uso de defensivos químicos – como a calendarização – a falta de informação contribui muito para que o controle biológico de pragas não seja implementado por muitos produtores. 

No Manejo Integrado de Pragas (MIP), preconiza-se o uso consciente de vários métodos de controle e, dentre eles, o biológico, sem eliminar o uso do controle com produtos químicos, por exemplo. 

Por isso, dentre os vários benefícios do MIP, está o uso de táticas visando a sustentabilidade do meio ambiente. Também é mais uma maneira de enfrentar os desafios da agricultura tropical

Mas, para que isso aconteça, é importante que você conheça esse mercado de controle biológico que muito tem contribuído na agricultura brasileira e pode contribuir ainda mais.

Produtos biológicos

Existem diversos defensivos biológicos produzidos por biofábricas em larga escala e comercializados para utilização no campo. 

O intuito é o mesmo com relação aos defensivos químicos: conseguir controlar as pragas agrícolas em uma velocidade ideal para não atingir níveis de dano econômico. 

São classificados como macrorganismos, microrganismos, bioquímicos e semioquímicos. 

Veja abaixo a definição de cada um deles e alguns exemplos de produtos que já são registrados pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). 

Macrorganismos

Os macrorganismos são os parasitoides e predadores – como insetos, ácaros e nematoides – que atuam em liberações massais no campo. 

Cotesia flavipes parasitando lagarta de Diatraea saccharalis

Cotesia flavipes parasitando lagarta de Diatraea saccharalis
(Fonte: Heraldo Oliveira)

  • Trichogramma spp. – parasitoide de ovos de lagartas lepidopteras de várias culturas, como de soja e milho
Trichogramma pretiosum parasitando ovo de lepidoptera

Trichogramma pretiosum parasitando ovo de lepidoptera
(Fonte: Koppert)

  • Neoseiulus californicus – ácaro predador para controle de ácaro-rajado em todas as culturas com presença da praga, principalmente milho e soja. 
Ácaro predador Neoseiulus californicus

Ácaro predador Neoseiulus californicus
(Fonte: Koppert)

Microrganismos 

Os microrganismos são fungos, bactérias e vírus que colonizam e/ou infectam os hospedeiros e os matam. A maioria deles atua em diferentes estágios dos hospedeiros. Veja alguns exemplos: 

Beauveria bassiana colonizando adultos e ninfas de mosca-branca

Beauveria bassiana colonizando adultos e ninfas de mosca-branca
(Fonte: MF Rural)

  • Bacillus thuringiensis – é uma bactéria que possui uma toxina que rompe o intestino de lagartas da ordem Lepidoptera, como Spodoptera frugiperda em milho e Anticarsia gemmatalis em soja. 
mercado de controle biológico

Produto biológico à base de Bacillus thuringiensis 
(Fonte: Simbiose)

  • Trichoderma harzianum – é um fungo que age como fungicida microbiológico para controle de fungos e nematoides presentes no solo. 
Trichoderma harzianum

Trichoderma harzianum 
(Fonte: Koppert)

Bioquímicos 

Os produtos bioquímicos são sintetizados à base de extratos vegetais, algas, enzimas e hormônios. Estes atuam como estimulantes de defesa das plantas e como pesticidas naturais. 

  • Óleo de Neem – produto à base de extrato da planta de nim (Azadirachta indica Juss). 
mercado de controle biológico

Produto à base de óleo de Neem para controle de pragas
(Fonte: Grow Plant)

Semioquímicos

Os semioquímicos são substâncias químicas produzidas por organismos que têm funções de alterar o comportamento de outros organismos. Existem dois tipos deles: 

  • Feromônios – utilizados para comunicação de uma mesma espécie (são produtos específicos para cada espécie em que se requer controle ou monitoramento). 
  • Aleloquímicos – utilizados na comunicação entre insetos de espécies diferentes. 
Feromônio sintético para Spodoptera frugiperda

Feromônio sintético para Spodoptera frugiperda
(Fonte: BioControle)

Novos produtos no mercado de controle biológico

No ano de 2019, o Mapa aprovou o registro de 474 defensivos e, dentre eles, 40 foram produtos biológicos e orgânicos. 

Recentemente, foram aprovados dois defensivos biológicos inéditos. 

Um dos produtos é à base de alho, sendo, portanto, um produto bioquímico. Este poderá ser utilizado para controle de nematoides que atacam raízes das plantas. 

O outro produto é um macrobiológico, o ácaro Amblyseius tamatavensis que controla a mosca-branca (Bemisia tabaci Biótipo B), predando ovos e ninfas da praga.  

Um ponto importante a ser comentado é que, para registro de novos fitossanitários biológicos, o processo é o mesmo que para defensivos químicos. 

Pela Lei 7.802 e Decreto 4.074, é necessário que os produtos passem pela avaliação de três órgãos federais: 

  • Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) – órgão responsável por avaliar a eficiência agronômica dos produtos;
  • Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) – avalia o impacto para a saúde humana;
  • Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) – avalia os impactos no meio ambiente.

Com o aumento da procura pelo biológicos, tudo indica que, nos próximos anos, outros produtos serão registrados e estarão ao alcance do produtor para uso. 

Biofábricas

Se tudo que foi falado aqui é novidade para você e não sabe onde encontrar as biofábricas, o Governo Federal disponibilizou uma plataforma com a localização de todas as biofábricas no território nacional. 

Hoje são mais de 80 empresas em todo o Brasil, incluindo multinacionais. 

Mapa para localização de biofábricas no Brasil

Mapa para localização de biofábricas no Brasil 
(Fonte: Governo Federal)

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Conclusão

Neste artigo você viu que o mercado de controle biológico no Brasil está em crescimento, apesar do maior consumo para proteção de plantas ainda ser de defensivos químicos. 

Os defensivos biológicos podem ser classificados em macrobiológicos, microbiológicos, bioquímicos e semioquímicos. 

Todos os produtos devem ser registrados pelo Mapa e já existem mais de 80 biofábricas por todo o território nacional. 

>> Leia mais:

“O que são bioinsumos e como eles podem ajudar a reduzir custos”

Restou alguma dúvida sobre o mercado de controle biológico? Você já utiliza alguns deles na sua lavoura? Deixe seu comentário!

Pragas quarentenárias: entenda os tipos e o que fazer para impedir a sua presença

Pragas quarentenárias: importância, tipos, estações quarentenárias, como impedir sua entrada e pragas não quarentenárias regulamentadas.

As culturas agrícolas são afetadas por muitas pragas que podem causar sérios prejuízos. Muitas delas entraram no país ao longo dos anos e há constante ameaça da entrada de novos vírus, doenças, daninhas, etc.

Por isso, é extremamente importante o conhecimento de pragas quarentenárias, assim como a fiscalização e o controle de materiais vegetais.

E você sabe o que é necessário para impedir a entrada das pragas quarentenárias? Entende as definições de A1 e A2?

Tire todas as suas dúvidas neste artigo. Confira!

Introdução de pragas quarentenárias no território brasileiro

Quando falamos de pragas, devemos ter o conceito muito bem definido de acordo com a legislação: praga é todo ser vivo nocivo a vegetais! Assim, praga compreende doenças, insetos, ácaros e plantas daninhas.

Nem todas as pragas que afetam as culturas agrícolas cultivadas no Brasil estiveram sempre presentes por aqui. 

Um exemplo disso é o cultivo da soja, que foi introduzido no país em 1961. Mas a ferrugem asiática da soja, que é um grande problema para a cultura, só foi introduzida no território nacional em 2001.

Assim, não são todos os países que têm as mesmas pragas que afetam a cultura. 

Em doenças de plantas (fitopatologia), por exemplo, falamos sempre sobre o Triângulo da Doença. Para uma doença ocorrer deve haver o hospedeiro (cultura), o patógeno e o ambiente favorável.

triângulo da doença

(Fonte: Fitopatologia)

Outro exemplo de praga introduzida no país recentemente, e que foi um grande problema para a agricultura brasileira, é a Helicoverpa armigera.

A lagarta foi identificada em 2013 no Brasil – até então era considerada uma praga quarentenária. A H. armigera causou um grande transtorno e enormes prejuízos, pois não havia preparo para seu manejo. 

Outro agravante dessa praga é que ela é polífaga, ou seja, se alimenta de várias culturas como algodão, soja, milho, tomate, feijão, sorgo, milheto, trigo, crotalária, girassol e outras.

Como vimos, pragas vindas de outros locais podem causar sérios prejuízos na agricultura brasileira. Por isso, é muito importante conhecermos melhor as pragas quarentenárias.

Tipos de pragas quarentenárias

Pragas quarentenárias são aquelas pragas de importância econômica potencial para a área posta em perigo e onde ainda não está presente ou, se está, ainda não se encontra amplamente distribuída e oficialmente controlada. 

Ou seja: são pragas que ameaçam a economia agrícola do país.

Existem dois tipos de pragas quarentenárias:

  • A1: Ausente – são as pragas que não têm ocorrência no Brasil e exóticas.
  • A2: Presente – estão presentes no país, mas não em todas as regiões, e estão sob controle oficial. Então, deve-se ter cuidado de não levar da região de ocorrência para outras que não tem a praga.

Você pode conferir a lista de pragas quarentenárias para o Brasil na Instrução normativa para A1 e A2 do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). 

Alguns exemplos de A2 são pinta preta dos citros, sigatoka negra da bananeira, HLB, entre outras.  

Para definir quais as pragas quarentenárias é realizado uma análise de risco. Nessa análise é feito levantamento dos patógenos de cada espécie de planta que ocorrem no mundo e os que já foram identificados no país. 

Dessa forma, há a relação dos que não existem no Brasil e qual a probabilidade deles se tornarem um problema econômico.

20 pragas quarentenárias ausentes para o Brasil

A Embrapa e o Mapa priorizaram as 20 pragas quarentenárias ausentes para o Brasil e lançaram um livro sobre o assunto. Confira a relação em ordem alfabética:

  1. African Cassava Mosaic Virus – vírus (mandioca)
  2. Anastrepha suspensa – inseto (goiaba)
  3. Bactrocera dorsalis– inseto (frutíferas)
  4. Boeremia foveata – fungo (batata)
  5. Brevipalpus chilensis – ácaro (kiwi, videira)
  6. Candidatus Phytoplasma palmae – fitoplasma (coqueiro)
  7. Cirsium arvense – planta daninha (trigo, milho, aveia, soja)
  8. Cydia pomonella – inseto (maçã)
  9. Ditylenchus destructor – nematoide (milho, batata)
  10. Fusarium oxysporum f.sp. cubense Raça 4 Tropical – fungo (banana)
  11. Globodera rostochiensis – nematoide (batata)
  12. Lobesia botrana – inseto (videira)
  13. Moniliophthora roreri – fungo (cacau)
  14. Pantoea stewartii – bactéria (milho)
  15. Plum Pox Virus – vírus (pessegueiro, ameixeira)
  16. Striga spp. – planta daninha (milho, caupi)
  17. Tomato ringspot virus – vírus (frutíferas e tomate)
  18. Toxotrypana curvicauda – inseto (mamão)
  19. Xanthomonas oryzae pv. oryzae – bactéria (arroz)
  20. Xylella fastidiosa subsp. fastidiosa – bactéria (videira)

Normalmente, as pragas estão associadas ao centro de origem da cultura e podem se distribuir para outros locais pelo intercâmbio de material vegetal (sendo uma das maneiras de introduzir as pragas). 

Além desse meio de introdução, há outros como: pessoas, máquinas, vento, trânsito de animais/aves e bioterrorismo.

Lembrando que, quanto mais movimento, mais pragas estão circulando e, com isso, podem entrar nas regiões. Estima-se que 65% dos patógenos introduzidos no Brasil foram devido a atividades humanas.

Por isso, é preciso realizar a inspeção fitossanitária. Isso pode ser realizado por estações quarentenárias, que podem ser públicas ou privadas, tendo de ser cadastradas e credenciadas ao Mapa.

Estações quarentenárias 

As estações são locais que recebem materiais vegetais que podem ter alguma praga quarentenária associada e fazem as devidas análises.

Isso é importante para reduzir a entrada e o estabelecimento de novas pragas, já que muitas vezes é essencial trazer material vegetal de outros países para programas de melhoramento genético, por exemplo. No Brasil existem algumas estações quarentenárias.

Como impedir a entrada das pragas quarentenárias

Uma das medidas para evitar a entrada de pragas quarentenárias é a prevenção, sendo a exclusão o princípio de controle.

Assim, para prevenir a entrada da praga em uma área, algumas medidas de manejo são: 

  • sementes e mudas sadias;
  • inspeção e certificação;
  • quarentena; e
  • eliminação de vetores.

A prevenção deve ser aplicada no âmbito internacional, pensando nas pragas ausentes, e no cenário estadual, principalmente para as pragas A2. 

Um exemplo de prevenção de pragas A2 ocorreu após a constatação do Cancro Cítrico no país, que proibiu o livre trânsito de material cítrico entre as regiões. 

É muito importante também saber quais os locais mais críticos para a entrada de pragas no país. Para isso, a Embrapa levantou os locais mais suscetíveis à entrada de pragas agropecuárias não presentes no Brasil. Veja na figura abaixo:

No Brasil, o órgão responsável pelas atividades de vigilância agropecuária internacional é o sistema de Vigilância Agropecuária Internacional – Vigiagro. 

Ele é composto por serviços e unidades de vigilância agropecuária localizados nos portos, aeroportos, postos de fronteira e aduanas especiais.

Esse sistema controla e fiscaliza animais, vegetais, insumos, inclusive alimentos para animais, produtos de origem animal e vegetal, embalagens e suportes de madeira importados, exportados e em trânsito internacional pelo Brasil.

Além das pragas quarentenárias, você já escutou sobre pragas não quarentenárias regulamentadas?

Pragas não quarentenárias regulamentadas

Pragas não quarentenárias regulamentadas (PNQR) são pragas que já estão no Brasil (não sendo quarentenárias aqui), mas não é permitido comercializar o produto agrícola com ela.

Exemplo é para batata-semente sem os vírus PVY (Potato virus Y), o PLRV (Potato leafroll virus), o PVX (Potato virus X) e PVS (Potato virus S). 

Assim, em batata-semente deve ser produzida, importada e comercializada sem esses vírus no país, além de outras pragas segundo a legislação.

Conclusão 

Pragas têm potencial de causar prejuízos bilionários à agricultura de um país.

Neste artigo falamos sobre os tipos de pragas quarentenárias e o que é feito para impedir a entrada delas no território nacional.

Você conferiu a lista de pragas quarentenárias ausentes no Brasil.  Além disso, discutimos a importância das pragas não quarentenárias regulamentadas.

>> Leia mais:

Tudo o que você precisa saber sobre Manejo Integrado de Pragas

Ficou com alguma dúvida sobre pragas quarentenárias? Adoraria ver seu comentário abaixo.

Principais pragas do café: prevenção, identificação e controle

Pragas do café: entenda como as principais pragas são favorecidas, como prevenir, identificar e controlá-las corretamente.

O brasileiro adora café e o Brasil é o maior produtor do mundo. Mas, para um café de qualidade chegar até a xícara, é preciso muito esforço!

Você faz tudo certinho, torce para o clima colaborar e, mesmo quando isso “caseia” certinho, vem “uns bichin” encher o saco: as pragas! ? 

São muitas as pragas do café e todas elas causam danos diretos e indiretos à produção e qualidade. A broca sempre foi “a” praga do cafeeiro, título que agora é ocupado pelo bicho mineiro.

Separei alguma dicas sobre as principais pragas do café, como prevenir e minimizar seus danos. Confira comigo a seguir!

O manejo integrado de pragas do café

Antes de falar sobre as características das principais pragas do café, quero que você tenha em mente quando vale a pena controlá-las.

O controle das pragas do café deve ser feito seguindo os preceitos do Manejo Integrado de Pragas (MIP), que é baseado em critérios econômicos, ecológicos e sociais. Isso evita inúmeros problemas e mantém a produção sustentável.

Esquema que mostra a estrutura do manejo de pragas do café
Estrutura do MIP
(Fonte: ABCBio)


Com o MIP, levamos em consideração o custo/benefício da ação de controle e quais os impactos sobre o ambiente, o produtor e a população de demais organismos presentes na lavoura. 

A ideia é manter a população de pragas abaixo do nível que causa dano econômico, sendo controladas somente quando atingem o nível de controle. Veja a figura abaixo:

Gráfico que mostra níveis de dano para mip
(Fonte: ABCBio)

São várias técnicas de manejo empregadas no MIP, algumas preventivas, como controle cultural, uso de armadilhas e variedades resistentes; e outras para controle imediato, como o controle biológico, além do controle químico.

Como veremos a seguir, isso é específico para cada praga do cafeeiro e é baseado em muitas amostragens.

Principais pragas do café

A broca-do-café (Hypothenemus hampei)

Características, comportamento e danos 

Temos relatos dos danos causados pela broca-do-café no Brasil desde 1920.  Elas são besouros que atacam os frutos de café e vivem e se reproduzem dentro dele. 

Foto da broca do café

A broca-do-café 
(Fonte: Koppert)

Além de danificar os grãos e reduzir sua qualidade, seus danos podem favorecer queda e também a entrada de patógenos.

pragas-do-café
Danos causados pela broca-do-café 
(Fonte: Epamig)

Após o acasalamento, os machos permanecem dentro dos frutos e são as fêmeas que saem para colonizar novos frutos, no chamado “período de trânsito”. 

A saída é estimulada pelas condições ambientais e elas são atraídas por compostos voláteis produzidos pelo próprio fruto. 

Condições favoráveis

As infestações de broca são favorecidas por lavouras mais adensadas e locais com maior umidade. Por isso, lavouras nas baixadas ou em anos com invernos chuvosos podem ser mais atacadas.

O principal fator para infestação de broca é deixar frutos caídos na lavoura. A broca usa esses frutos para se multiplicar e aumentar sua população. 

Métodos de prevenção e controle

O controle da broca deve seguir o MIP e com isso temos algumas alternativas. A melhor maneira de prevenir e reduzir a infestação de broca é fazer uma colheita bem feita, repassando para não “deixar grãos para trás” e varrer aqueles caídos.  

Como métodos controle podemos realizar o controle biológico com parasitóides ou com o fungo Beauveria bassiana. 

Controle biológico da broca

Controle biológico da broca com predadores/fungos
(Fonte: Epamig)

Temos também a opção de utilizar armadilhas com atraentes para capturar a broca. Já o controle químico pode ser feito com clorpirifós, de 1 a 1.5L/ha.

Vale lembrar que os métodos de controle devem ser aplicados no período de trânsito da broca, que geralmente vai de outubro a dezembro. As aplicações são embasadas por amostragem previamente feitas e quando houver danos econômicos.

MIP: amostragem e nível de controle

As amostragens para broca devem ser feitas já na primeira florada do cafezal e seguindo as recomendações abaixo. O controle químico, pode ser aplicado conforme os níveis críticos são atingidos.

pragas do café

Recomendações de monitoramento e amostragem para broca-do-café

Pragas do café: Bicho Mineiro (Leucoptera coffeella)

Características, comportamento e danos 

Devido às mudanças sofridas no sistema produtivo do cafeeiro, o bicho mineiro passou a ser a praga mais importante da cultura desde a década de 70. 

Foto do ciclo do bicho-mineiro
(Fonte: Elevagro)

O bicho mineiro ataca exclusivamente o cafeeiro, causando perda de área foliar por cavar galerias nas folhas do cafeeiro. Os danos são causados, em sua maioria, nos terços médio e superior da planta.

Foto da crisálida do bicho mineiro
Crisálida e danos causados pelo bicho mineiro
(Autor: Giovani Belutti Voltolini, 2016)

O adulto é uma mariposa que põe seus ovos no terço superior do cafeeiro, na face superior das folhas. Após eclodir, as lagartinhas penetram na folha e começam a consumi-la.

Atualmente, temos dois picos populacionais de bicho mineiro, como você pode ver na figura abaixo. As medidas de controle devem ser direcionadas para esses dois períodos.

Foto dos picos do bicho mineiro
Picos populacionais do bicho mineiro 
(Fonte: AgroBayer)

Condições favoráveis

O bicho mineiro é favorecido por condições mais secas e temperaturas elevadas. Portanto, podem ser mais problemáticos em lavouras mais espaçadas e nas faces mais ensolaradas do cafezal. Desequilíbrio nutricional do cafeeiro também favorece o bicho mineiro. 

O uso indiscriminado de inseticidas não seletivos e de cúpricos têm grande impacto sobre os inimigos naturais do bicho mineiro, portanto, altas infestações são favorecidas. 

MIP: amostragem e nível de controle do bicho mineiro

A amostragem deve começar já em outubro nas regiões mais quentes, ou com a chegada do período seco em locais mais amenos, conforme a tabela abaixo. 

Vale lembrar que se for observado predação nas minas, acima de 40%, a intervenção com inseticidas pode esperar. Deve ser dada atenção especial às lavouras novas, pois as plantas têm pouca área foliar e os danos podem ser grandes.

Recomendações de monitoramento e amostragem para bicho mineiro
Recomendações de monitoramento e amostragem para bicho mineiro

Métodos de controle

O controle cultural do bicho mineiro pode ser feito com plantios mais adensados e adubações feitas corretamente. Como controle biológico temos parasitóides (Eulophidae e Braconidae) e predadores (Vespidae), estes últimos com maior eficiência de controle. 

O controle químico deve ser realizado quando os níveis de dano forem atingidos, sempre prestando atenção nas amostragens e no histórico de infestação da área.

Pragas do café: Ácaros

O manejo inadequado do bicho mineiro propiciou desequilíbrios no sistema, fazendo com que outras pragas, especialmente os ácaros, se tornassem problemáticas. Eles geralmente são favorecidos por condições mais secas. São três espécies mais problemáticas:

1. Ácaro vermelho (Oligonychus ilicis)

O ácaro vermelho ataca os ponteiros do café, na face superior da folha, dando um aspecto de bronzeamento e pode levar à desfolha.

sintomas do ácaro vermelho no café
Sintomas causados pelo ácaro vermelho
(Fonte: Antonio de Souza)

2. Ácaro branco (Polyphagotarsonemus latus)

Ataca os ponteiros do café, mas a face inferior da folha. É um ácaro que pode causar danos mais significativos em lavouras jovens, pois causa redução, enrolamento e deformação das folhas jovens. 

3. Ácaro da mancha anular (Brevipalpus phoenicis)

Causa manchas cloróticas nas folhas e nos frutos. Isso pode levar à severa desfolha e perda de qualidade do café.

Foto dos danos causados no café
Sintomas causados pelo ácaro da mancha anular
(Fonte: Café Point)

É o mesmo ácaro responsável por transmitir a leprose do citros, portanto, cafezais próximos à áreas com citros podem ter maiores infestações. 

O melhor manejo para os ácaros é o uso de produtos seletivos que não controlem seus inimigos naturais, principalmente os ácaros predadores, responsáveis por grande parte do controle. 

No caso do ácaro vermelho e da mancha anular, os mais problemáticos, os acaricidas mais indicados são avermectinas.

Pragas do café: Cigarras

Há muito tempo, as cigarras causam danos ao cafeeiro. Sua ninfas atacam as raízes e sugam seiva, causando depauperamento progressivo da planta. 

São várias espécies, sendo Quesada spp., Fidicina spp. e Carineta spp., as que causam mais danos.

Foto de lavoura do café
Lavoura depauperada pelo ataque de cigarras
(Fonte: CNA)

Para seu controle, indicam-se inseticidas sistêmicos, mas existem armadilhas sonoras que são eficazes contra Quesada spp.

Outras pragas do café

Existem outras pragas que atacam a cultura do café, algumas delas são secundárias ou podem ser problemas em determinadas situações ou regiões. Como exemplo podemos citar as lagartas, cigarrinhas, cochonilhas da raiz e parte aérea, além das moscas da raiz.

Muitas dessas pragas passaram a ter importância devido ao manejo inadequado do bicho mineiro, por exemplo. Isso ilustra a importância de seguir as diretrizes do MIP para manejo, sempre com monitoramento e amostragem. 

Mais informações sobre o controle das pragas de menor importância  pragas você pode encontrar aqui: Manual do café.

Confira também nossa palestra online e gratuita sobre MIP:  

Conclusão

Ao longo do texto mostramos as principais pragas do café, como prevenir sua ocorrência e controlá-la da maneira correta. Logicamente, existem outras pragas de menor importância, mas o raciocínio utilizado deve ser o mesmo.

O Manejo Integrado de Pragas (MIP) é imprescindível para que o controle seja sustentável e efetivo. O MIP deve ser seguido, sempre com auxílio de um engenheiro agrônomo de sua confiança.  

Com o manejo correto das pragas do café, seu cafezal será mais produtivo e a qualidade dos frutos poderá ser melhor também!

>> Leia mais:

Guia de controle das principais plantas daninhas do café”

“Como grupo cafeeiro realiza o monitoramento de pragas em 5 fazendas com apoio da tecnologia”

Restou alguma dúvida sobre as pragas do café? Deixe os comentários abaixo. Continue nos acompanhando, se cuide e até a próxima! Grande abraço!

Como fazer o manejo integrado do bicudo-do-algodoeiro

Bicudo-do-algodoeiro: saiba como prevenir surtos, identificar os danos e fazer o manejo correto dessa praga. 

As infestações por bicudo-do-algodoeiro estão entre os pesadelos do cotonicultor. E não é para menos: essa praga, se não for controlada, tem capacidade de destruir de 70% a 100% da produção de algodão

Mesmo sendo tão voraz, é possível obter sucesso em seu controle. Mas é necessário saber identificar os danos e conhecer muito bem tudo que envolve o manejo do bicudo. 

Quer saber mais sobre essa praga? Vou explicar melhor! 

Características do bicudo-do-algodoeiro

O bicudo-do-algodoeiro, Anthonomus grandis, é um besouro da família Curculionidae, que está dentro da ordem Coleoptera.

A maior parte dos curculionídeos tem uma característica marcante que é o aparelho bucal em formato de rostro. Por isso, a atribuição a muitos de “bicudo”. 

Essa espécie não tinha ocorrência no Brasil até o início dos anos 80. Em 1983, foi encontrada no estado de São Paulo e se espalhou por outros estados ao longos dos anos. 

Atualmente, é a principal praga da cultura do algodão no país e pode causar danos severos se não for controlada. 

O adulto é um inseto pequeno, podendo medir cerca de 3 a 8 mm, de coloração variável (de castanho ao acinzentado) e alta capacidade de dispersão, embora não voe muito bem. 

É mais comum encontrar adultos em botões florais da porção mediana da planta, mas a alimentação ocorre tanto nas partes superiores como nas medianas. 

imagem do bicudo do algodoeiro
Adulto do bicudo-do-algodoeiro; praga é a principal da cotonicultura 
(Fonte: Boletim de P&D)

A larva do bicudo é ápoda, esbranquiçada e pode chegar a medir até 1 cm de comprimento. Causa sérios danos por se desenvolver no interior dos botões das flores e nas maçãs.

Larva do bicudo do algodoeiro
Larva do bicudo-do-algodoeiro 
(Fonte: Agro Bayer Brasil)

O ciclo de vida, de ovo a adulto, depende das condições climáticas. Em condições de altas temperaturas e alta umidade, o ciclo se completa em 20 dias

Assim, por ter alta capacidade reprodutiva e de destruição, ao longo de uma safra, podem ocorrer até 6 gerações da praga, causando danos irreversíveis. 

Danos causados pelo bicudo

É mais comum que os ataques do bicudo-do-algodoeiro comecem pela bordadura. E as estruturas reprodutivas são os principais alvos dessa praga.

É possível detectá-la quando ocorre separação das brácteas e dos botões florais. Em seguida, ocorre amarelecimento e queda. 

Queda e danos em botões florais de algodão
(Fonte: Agro Bayer Brasil)

Porém, antes mesmo de ocorrerem as quedas, você pode observar se há a presença do bicudo na área pelos orifícios causados tanto pela alimentação dos adultos quanto pela oviposição. 

Normalmente, eles preferem os botões florais de tamanho médios (entre 4 a 6 mm de diâmetro).

O orifício causado por oviposição fica coberto com uma camada de um tipo de cera. Já o orifício de alimentação não tem nenhuma proteção e, geralmente, são vários pontos próximos. 

Ataque do bicudo-do-algodoeiro no botão floral: orifícios de oviposição e alimentação
(Fonte: Boletim P&D)

As flores atacadas são comumente chamadas de “flor em balão”, por ficarem com aspecto de um balão. Não se abrem e apresentam pétalas perfuradas. 

Os capulhos ficam totalmente destruídos internamente, com baixa qualidade de fibras e sementes. 

Além disso, as plantas, quando muito atacadas, crescem e ficam com alto desenvolvimento vegetativo. 

Controle do bicudo-do-algodoeiro 

O Manejo Integrado de Pragas (MIP) é a melhor opção para controle de pragas, principalmente para pragas altamente severas. 

Como comentado anteriormente, o adulto do bicudo-do-algodoeiro fica, na maior parte do tempo, na região mediana da planta. E, além disso, após a oviposição, as larvas permanecem dentro das estruturas da planta. 

Esses fatores dificultam muito o controle. Por isso, existem várias táticas que vão contribuir para a prevenção de surtos e para o manejo correto desse coleóptero. Vou falar melhor sobre outras medidas de controle a seguir:

Monitoramento

Um passo muito importante – e muitas vezes deixado de lado pelos cotonicultores – é o monitoramento dessa praga.

Deve ser iniciado durante a entressafra, pois muitas vezes os insetos conseguem se manter em restos culturais que permanecem na área após a colheita. 

O período que antecede a fase de produção de botões florais é, sem dúvidas, a mais importante para monitorar. 

Uma boa opção são as armadilhas cônicas, de cor verde-limão, com dispersor de feromônio inserido em um compartimento superior, onde o inseto é atraído e aprisionado. 

Para o vistoriamento do talhão, vistoriam-se 250 botões e o nível de controle para tomada de decisão deve ser de até 5% dos botões atacados. 

Controle comportamental

No controle comportamental, pode-se utilizar a técnica atrai e mata por meio do tubo-mata-bicudo (TMB®).

O tubo é feito de papelão, com coloração verde-limão, e é revestido por um atraente alimentar mais a liberação lenta de um inseticida. Na parte superior é colocado um feromônio específico para Anthonomus grandis

Deve ser instalado na bordadura da lavoura nas fases de pré-plantio e após a colheita para atingir adultos do bicudo. 

Tubo mata bicudo
A – tubo-mata-bicudo (TMB®); B – adultos de bicudo capturados por TMB 
(Fonte: Embrapa)

Controle cultural

A época de plantio é algo importante a que o produtor deve se atentar. Em uma mesma região, o ideal é que todos os produtores plantem na mesma época. Isso encurta o período com estruturas reprodutivas viáveis à praga. 

Importante também fazer a destruição de soqueiras logo após a colheita para que não haja plantas de algodão ou rebrota na entressafra. 

Uma outra tática é a catação de botões caídos no solo e destruição dos mesmos de 5 em 5 dias. Isso vai evitar que os insetos continuem o desenvolvimento ao longo da safra seguinte. 

O preparo antecipado do solo e o uso de variedade precoces vão contribuir muito para que o bicudo não atinja níveis populacionais altos. 

Além dessas técnicas, é preciso fazer vazio sanitário de acordo com as recomendações da região produtora. 

Controle químico

O controle químico deve ser baseado nos dados de amostragens no monitoramento. Só é possível controlar a fase adulta, já que as demais fases (ovos, larvas e pupas) ficam dentro das estruturas reprodutivas. 

É muito importante seguir as recomendações do fabricante para não haver falha da tecnologia. 

Os grupos químicos utilizados devem ser rotacionados para evitar pressão de seleção. 

Prefira inseticidas seletivos aos inimigos naturais, pois estes irão permanecer na área e contribuirão para a redução da população de bicudo.

No Agrofit existem 107 produtos registrados.

Controle biológico

Embora muitos não acreditem nesse método para o controle do bicudo-do-algodoeiro, o controle biológico natural pode contribuir para a redução da população

Os parasitoides Catolaccus grandisBracon vulgaris são os que têm maior potencial de redução natural da praga.

Os entomopatógenos Beauveria bassiana e Metarhizium anisopliae também têm grande potencial de controle do bicudo.

Entretanto, nenhum desses agentes têm registro no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) para controle inundativo. Por isso, é importante manter o agroecossistema sustentável, com uso de pesticidas seletivos aos inimigos naturais. 

Software para manejo do bicudo

Uma das melhores maneiras de realizar o manejo integrado do bicudo-do-algodoeiro na sua plantação é utilizando softwares agrícolas especializados.

Com o Aegro, por exemplo, o controle desta praga se torna muito mais eficiente e organizado.

Você planeja as atividades de manejo para garantir que a sua equipe siga um cronograma preciso. Todos os funcionários da propriedade têm perfis de acesso ao software e conseguem utilizá-lo simultaneamente.

Acompanhe os resultados do armadilhamento do bicudo pelo Aegro
Acompanhe os resultados do armadilhamento do bicudo pelo Aegro

Os registros de armadilhamento e monitoramento são feitos diretamente pelo celular. Isso agiliza o trabalho no campo e evita anotações em cadernos que se perdem mais tarde.

Além de automatizar a rotina de manejo, o Aegro ainda facilita o acompanhamento dos resultados. A qualquer momento da safra, você pode checar os níveis de incidência do bicudo através dos mapas do software.

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planilha de produtividade do algodão Aegro

Conclusão 

O bicudo-do-algodoeiro é um inseto pequeno, mas extremamente voraz e capaz de causar perdas significativas no algodão. 

Os ataques começam pela bordadura, onde é possível ver os danos causados nas plantas. 

As estruturas reprodutivas são os principais alvos desta praga, impossibilitando a formação dos capulhos. 

O manejo integrado do bicudo é a melhor maneira de controlar a população. 

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Você tem problemas com o bicudo-do-algodoeiro em sua lavoura? Quais táticas tem usado para controle? Conte sua experiência nos comentários!