Começar a safra com o pé direito exige planejamento, não é mesmo? Mas você sabe qual a melhor época para plantar na sua região?
O Brasil tem uma diversidade climática enorme e o que funciona bem para uma lavoura no sul, pode não ser adequado para o nordeste ou o centro-oeste.
É justamente aqui que entra a importância de um Guia de Plantio regional, que funciona como um mapa, orientando sobre as melhores datas para semear, considerando as condições climáticas e os riscos do seu município.
Ignorar as particularidades regionais e as recomendações técnicas pode levar a perdas na produção, impactando o seu bolso.
Por isso, vamos entender como usar as informações corretas a seu favor e transformar o planejamento em um diferencial para o sucesso da sua lavoura.
Por que o guia de plantio varia no Brasil?
O Brasil é um país muito grande, com diferentes tipo de solo, clima e quantidade de chuva.
Por isso, não dá para usar a mesma recomendação de plantio para uma lavoura em Roraima e outra no Rio Grande do Sul — cada região tem suas próprias necessidades.
É comum que alguns locais tenham longos períodos de estiagem, enquanto outros sofrem com excesso de chuvas e temperaturas médias muito distintas em cada localidade.
Para ajudar o produtor a lidar com as mudanças do clima e plantar com menos risco, o Ministério da Agricultura criou Zoneamento Agrícola de Risco Climático (ZARC).
O ZARC indica as melhores épocas de plantio para cada cultura, de acordo com as condições de clima e solo de cada município.
Com isso, você tem mais segurança para decidir quando plantar, reduzindo o risco de perder a safra por causa do clima.
O que é ZARC?
O Zoneamento Agrícola de Risco Climático (ZARC) é como um guia de plantio que ajuda a reduzir os riscos relacionados ao clima.
O ZARC indica os períodos mais seguros para plantar cada cultura em cada município do Brasil, com base em uma análise de dados climáticos, características do solo e exigências das plantas.
Ou seja, é um modo de entender quando é mais provável que a lavoura se desenvolva em boas condições, com menos risco de perdas por seca, excesso de chuva, geadas e outros problemas climáticos.
Seguir as orientações do ZARC é uma forma inteligente de fazer gestão de risco no campo.
Além de proteger a produção, é também um critério exigido para acessar políticas públicas importantes, como o Proagro e o seguro rural com subsídio do governo.
Guia de plantio por Região
O planejamento agrícola começa com uma análise regional, entender os fatores que mais influenciam o sucesso de uma safra e os principais desafios no campo.
Para simplificar, separamos tudo o que você deve saber no guia de plantio por região a seguir:
Região | Clima | Solos | Culturas Principais | Recomendações / Janelas ZARC | Desafios |
---|---|---|---|---|---|
Sul | Subtropical úmido; Estações definidas; Risco de geadas; Chuvas bem distribuídas (influência El Niño/La Niña). | Férteis: Nitossolos, Latossolos, Argissolos. Planícies: Gleissolos, Planossolos (arroz). | Soja, Milho (1ª safra), Trigo, Arroz, Cevada, Aveia, Feijão, Fumo, Uva, Maçã, Pecuária. | ZARC essencial (geada, seca). Plantio Direto mandatório. Controle de erosão (nível, terraços). Agricultura de Precisão. | Erosão hídrica severa. Riscos climáticos (geadas, veranicos). |
Sudeste | Tropical / Tropical de Altitude; Verão chuvoso, inverno seco; Risco de secas. | Diversos: Latossolos, Argissolos (exigem correção); Nitossolos (férteis). Solos em relevo acidentado. | Cana-de-açúcar, Café, Laranja (dominantes). Milho, Feijão, Soja, Hortifruti. | Seguir calendário agrícola. Manejo da irrigação. Correção de solos (acidez, nutrientes ). Conservação do solo (erosão). Consultar ZARC para grãos. | Crises hídricas. Degradação do solo (erosão, compactação). Competição por terra/água. |
Centro-Oeste | Tropical sazonal; Estação seca e úmida bem definidas. | Predomínio de Latossolos (profundos, ácidos, baixa fertilidade natural). | Soja, Milho (1ª e 2ª safra/safrinha), Algodão. Pecuária (ILPF), Cana-de-açúcar. | Correção intensiva do solo (calagem, gessagem, adubação). ZARC crítico para soja e milho safrinha (janela curta). Manejo da safrinha (risco de seca). Plantio Direto (desafio da palhada). | Dependência climática (janela safrinha). Manutenção da fertilidade. Logística. |
Nordeste | Diversificado: Semiárido (maior parte, chuvas escassas/irregulares); Zona da Mata (úmida); Cerrado (MATOPIBA). | Extrema variabilidade: Semiárido (rasos, pedregosos, Luvissolos, etc.); Áreas úmidas/Cerrado (Latossolos, Argissolos). | Familiar/Sequeiro (Milho, Feijão, Mandioca). Irrigada (Frutas: Uva, Manga, Melão). Cerrado (Soja, Milho, Algodão). | Adaptação por sub-região. Semiárido (convivência com a seca). Irrigadas (manejo água/salinidade). Cerrado (correção solos). Manejo sustentável (matéria orgânica, sistemas integrados). | Seca e irregularidade climática (Semiárido). Degradação solos (erosão, salinização). Acesso à água. |
Norte | Equatorial úmido; Altas temperaturas e chuvas; Período menos chuvoso variável. | Predomínio de Latossolos e Argissolos (profundos, ácidos, baixa fertilidade natural). Várzeas (férteis, inundáveis). | Pecuária bovina (extensiva). Soja e Milho (em expansão). Mandioca, Açaí , Castanha, Cacau, Dendê. | Manejo da fertilidade (correção, adubação). Priorizar Sistemas Agroflorestais (SAFs) e ILPF. Controle de erosão. Evitar desmatamento. Consultar ZARC para grãos. | Baixa fertilidade natural dos solos. Pressão por desmatamento. Logística precária. |
Como transformar o guia de plantio em ações práticas na lavoura?
Com desafios de mudanças climáticas e as flutuações do mercado, os produtores precisam tomar decisões cada vez mais estratégicas.
O guia de plantio, que orienta sobre o melhor período para o cultivo e os cuidados necessários para cada safra, é algo que pode ajudar muito a partir de algumas ações, como:
- Defina a cultura: Escolha o que plantar com base na aptidão agrícola da sua região, oportunidades de mercado, estrutura e na necessidade de rotação de culturas para a saúde do solo;
- Consulte o ZARC: Acesse a portaria do ZARC específica para a cultura escolhida e o seu município. Identifique a janela de plantio que oferece o menor risco climático (idealmente a de 20%) para o tipo de solo predominante na sua área.
- Ajuste com previsões climáticas: Acompanhe as previsões climáticas de curto e médio prazo. Se a previsão indicar um período muito seco ou chuvoso logo no início da janela recomendada, ajuste a data de semeadura dentro dessa janela.
- Planeje as operações: Com a janela de plantio definida, organize todo o cronograma de operações da safra, incluindo compra de insumos, preparo do solo, maquinário e mão de obra;
- Projete a colheita: A data de plantio tem influência direta sobre a época da colheita. Use essa estimativa para planejar a logística de colheita e armazenamento da produção.

Onde encontrar calendário agrícola 2025?
Existem vários lugares na internet com calendários que se baseiam em fases da lua ou em princípios biodinâmicos e que podem ser usados com o guia de plantio.
Para não seguir nenhum fonte errada, separamos uma lista de locais confiáveis para encontrar o calendário de plantio para sua região. Confira:
1. CONAB (Companhia Nacional de Abastecimento)
É a referência principal para dados oficiais sobre a produção agrícola brasileira, estimativas de safra, informações de mercado e cronogramas de divulgação.
A CONAB publica regularmente o calendário de levantamentos das safras de grãos e outros produtos, indicando datas importantes para o setor ao longo do ano.
2. Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária)
É a principal instituição de pesquisa agropecuária do país e uma fonte muito grande de conhecimento técnico.
A Embrapa desenvolve e divulga tecnologias, recomendações de manejo para diversas culturas, informações sobre cultivares adaptadas a cada região, estratégias para manejo de pragas e doenças e práticas de conservação do solo e da água.
As publicações da Embrapa ajudam a entender o como plantar com mais eficiência e sustentabilidade, complementando o quando plantar indicado pelo ZARC.
3. MAPA (Ministério da Agricultura e Pecuária)
O MAPA atua através da divulgação das portarias do ZARC, definindo as janelas de plantio de menor risco climático.
Além disso, se responsabiliza por disseminar informações relacionadas à fitossanidade, controle de pragas e doenças, e práticas de manejo sustentável, visando a manutenção da saúde das lavouras e a segurança alimentar.
Através de suas portarias e diretrizes, o Ministério orienta sobre os melhores períodos para plantio, colheita e manejo, considerando as condições climáticas, as necessidades do mercado e os impactos ambientais.
4. Secretarias Estaduais de Agricultura e Entidades de Extensão Rural (Emater)
Órgãos como a Secretaria da Agricultura e as Ematers estaduais publicam informações adaptadas à realidade local.
Isso inclui boletins agrometeorológicos, notícias sobre o andamento do plantio e da colheita na região, e recomendações técnicas específicas.
Fontes secundárias, como blogs especializados, portais de notícias agrícolas e sites de empresas do agronegócio, podem ser úteis também.
Mas é sempre importante verificar se as informações apresentadas por essas fontes estão alinhadas e se baseiam nos dados das fontes oficiais (CONAB, Embrapa, MAPA).
Planejamento Regional, Colheita Ideal
Fica claro que utilizar um Guia de Plantio específico para a sua região não é apenas uma boa prática, mas sim uma estratégia inteligente e necessária para quem busca sucesso na agricultura.
O Brasil é diverso, e considerar as particularidades climáticas e de solo de cada localidade, com o apoio de ferramentas como o ZARC para reduzir riscos e otimizar o potencial produtivo da lavoura.
Fontes confiáveis como a CONAB, a Embrapa e o MAPA, complementadas pelas informações das Secretarias de Agricultura e Emater locais, são seus maiores aliados na hora de elaborar o planejamento da safra.
Além disso, consultar o calendário de plantio por região e seguir as recomendações técnicas adaptadas à sua realidade faz toda a diferença entre uma safra incerta e uma colheita bem-sucedida.
Lembre-se: investir tempo no planejamento, utilizando dados regionais e ferramentas adequadas, é investir na segurança, na sustentabilidade e na rentabilidade do seu negócio rural.


Engenheiro Agrônomo (UFRGS, Kansas State) e especialista de Novos Negócios na Aegro. Reconhecido como referência em Agricultura Digital, especialização em administração, gestão rural, plantas de lavoura.