7 passos para fazer o descarte de embalagens de agrotóxicos corretamente

Descarte de embalagens de agrotóxicos: entenda os perigos, as leis sobre destinação das embalagens e o passo a passo para realizar corretamente o descarte.

Utilizar defensivos agrícolas é uma prática comum nas lavouras, ajudando em diversos aspectos. Porém, o descarte das embalagens, se não for feito de modo correto, pode trazer sérios prejuízos.

Por isso, saber os procedimentos adequados que se deve adotar após o uso desses produtos é importante para evitar danos à saúde e ao seu bolso.

Venha conferir o que você deve fazer com as embalagens vazias e a importância de se fazer o descarte corretamente!

Descarte de embalagens de agrotóxicos: quais perigos de não fazer corretamente?

Ao utilizar o defensivo, você precisa fazer o descarte da embalagem vazia – e este processo deve ser feito de modo correto.

Além da decomposição das embalagens demorarem mais de 100 anos, os agrotóxicos são produtos químicos fortes que trazem risco ao meio ambiente e ao homem.

O descarte das embalagens, se feito de maneira inadequada, pode contaminar o solo e água, sendo prejudicial para as plantas aquáticas, peixes e animais terrestres.

Além disso, pode ocorrer intoxicação humana aguda ou crônica.

A intoxicação aguda ocorre alguns minutos ou algumas horas após a exposição excessiva ao produto, apresentando efeitos rápidos sobre a saúde. Essa intoxicação pode ser leve, moderada ou grave. Veja na figura abaixo o quadro clínico da intoxicação aguda.

tabela com classificação da intoxicação aguda e quadro clínico

(Fonte: Divast)

A intoxicação crônica decorre de repetidas exposições aos defensivos agrícolas, geralmente durante longos períodos.

Os quadros clínicos dessa intoxicação são indefinidos, pois normalmente a exposição foi com produtos de tipos diferentes.

A manifestação dessa intoxicação pode ocorrer em vários órgãos e sistemas, com destaque para os problemas imunológicos, hematológicos, hepáticos, neurológicos, malformações congênitas e tumores.

De quem é a responsabilidade na devolução das embalagens?

A lei que aborda o destino dos resíduos e embalagens é a Lei nº 7.802, de 11 de julho de 1989, com alterações realizadas pela Lei nº 9.974, de 6 de junho de 2000.

Pela Lei federal nº 9.974/00 a responsabilidade do descarte de embalagens de agrotóxicos é de todos que fazem parte da cadeia de produção e utilização.

Ou seja, das empresas de fabricação, dos lojas de venda, revenda, postos de recebimento  e também de você produtor. Formando assim o ciclo produção-venda-uso-retorno, caracterizando a logística reversa.

No Brasil, o programa de logística reversa é denominado Sistema Campo Limpo, gerenciado pelo Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias (inpEV).

Esse programa tem objetivo de promover a destinação correta das embalagens vazias dos produtos agrícolas por meio da integração dos diferentes elos desse ciclo.

infográfico do sistema campo limpo - descarte de embalagens de agrotóxicos

Funcionamento do Sistema Campo Limpo
(Fonte: inpEV)

Na figura abaixo estão as responsabilidades de cada integrante do ciclo da logística reversa:

tabela com responsabilidades de cada integrante do ciclo da logística reversa - agricultores, canais de distribuição e cooperativas, indústria fabricante, poder público.

(Fonte: adaptado inpEV)

Pela legislação, as embalagens vazias precisam ser devolvidas em até um ano. Ignorar essa medida pode ocasionar pena de reclusão de dois a quatro anos, além de multa.

O valor da multa tem sido definido pela Justiça, podendo variar de R$ 500 a R$ 2 milhões.

Além disso, cada Estado tem suas penalidades.

Em alguns casos, como no Paraná, o descarte de embalagens de agrotóxicos de maneira inadequada como embalagens mal lavadas, geram multas ao produtor.

Passo a passo para descarte correto das embalagens de agrotóxicos

Sabendo das suas responsabilidades e dos perigos do descarte inadequado das embalagens de agrotóxicos vazias, veja os passos para fazer o descarte correto.

1º passo: fazer a limpeza por tipo de embalagem

Existem dois tipos de embalagens, as laváveis e não laváveis. Para cada tipo, a limpeza é realizada de maneira diferente. 

Laváveis

Consiste em embalagens rígidas que contém produto líquido para ser diluído em água. Podem ser plásticas ou metálicas. 

Para limpeza dessas embalagens pode ser feita a tríplice lavagem ou a lavagem sob pressão.

Veja nas figuras abaixo como realizar a limpeza desse tipo de embalagem.

limpeza em embalagens laváveis - tríplice lavagem
limpeza em embalagens laváveis - lavagem sob pressão

(Fonte: inpEV)

Não laváveis

São embalagens de produtos que não utilizam água como veículo de pulverização. Essas podem ser divididas em: flexíveis, rígidas não laváveis e secundárias.

Flexíveis: sacos ou saquinhos plásticos, de papel, metalizadas, mistas ou de outro material flexível.

Rígidas não laváveis: embalagens de produtos para tratamento de sementes, Ultra Baixo Volume – UBV e formulações oleosas.

Secundárias: embalagens rígidas ou flexíveis que acondicionam embalagens primárias, não entram em contato direto com as formulações de agrotóxicos, como: caixas de papelão, cartuchos de cartolina, fibrolatas e embalagens termomoldáveis.

Deve se utilizar todo conteúdo possível das embalagens não laváveis antes de armazenar.

2º passo: cortar ou perfurar as embalagens 

Após lavar as embalagens rígidas, elas têm de ser cortadas ou furadas para poder inutilizar o recipiente.

Atenção: as embalagens rígidas não laváveis não podem ser cortadas ou perfuradas.

foto mostrando modo correto de cortar o fundo das embalagens - Descarte de embalagens de agrotóxicos

Modo correto de cortar o fundo das embalagens
(Fonte: Assocampos)

3º passo: como armazenar

Os dois tipos de embalagens, após o uso e limpeza, devem ser colocadas nas embalagens secundárias ou em embalagens de resgate, que devem ser adquiridas com o revendedor.

Se a embalagem vazia possuir tampa, devem ser tampadas antes de armazenar.

ilustração mostrando Armazenamento adequado para descarte de embalagens de agrotóxicos

Armazenamento adequado para descarte de embalagens de agrotóxicos
(Fonte: Coperama)

4º passo: onde armazenar

O armazenamento das embalagens secundárias ou embalagens de resgate deve ser feito em local ventilado, fechado e de acesso restrito – ou no próprio depósito das embalagens cheias.

>> Leia mais: “Armazenagem de defensivos agrícolas: como fazer e o que é preciso saber

5º passo: destinação dos recipientes, onde levar

O descarte das embalagens de agrotóxicos limpas e prontas para devolução deve ser feito em postos de recebimento indicados pelo revendedor no corpo da nota fiscal.

Se não estiver descrito na nota fiscal, entre em contato com seu revendedor. O prazo para você levar as embalagens no posto de recebimento é de até um ano após a compra.

Em todos os passos, é importante estar sempre com uso de EPIs (Equipamento de Proteção Individual).

6º passo: agendamento

Para devolução nos postos de recebimento de embalagens vazias, é necessário entrar em contato com o local para agendar o dia de devolução.

Caso não tenha o número do local, seu revendedor deverá te fornecer.

O inpEV tem um Sistema de Agendamento, verifique se na região tem um local próximo para receber as embalagens. 

 7º passo: guardar o comprovante

Com a devolução das embalagens vazias nos postos ou centrais de recebimento, você receberá um comprovante de que destinou corretamente suas embalagens

Guarde esse comprovante junto à nota fiscal para ser apresentado quando a fiscalização for à propriedade evitando multas.

>> Leia mais: “Como fazer o controle de estoque de defensivos agrícolas em 5 passos

Planilha de custos com insumos Aegro

Qual papel da central de recebimento das embalagens vazias?

Após fazer sua parte no descarte das embalagens de agrotóxicos corretamente, é a vez dos postos de recebimento de embalagens.

Esses postos têm o papel de recolher as embalagens, verificar se estão limpas e separadas por tipo.

Em seguida, são encaminhadas para as centrais de recebimento de embalagens. Lá, são compactadas e há a emissão de uma ordem de coleta para o inpEV, que providencia o transporte para reciclagem ou incineração, completando o Sistema Campo Limpo da logística reversa.

Conclusão

Neste artigo você leu sobre a importância do descarte correto de embalagens de agrotóxicos. Os problemas que causam diretamente ou indiretamente ao homem.

Viu o passo a passo para se fazer o descarte das embalagens vazias, para cada tipo de embalagem.

Além disso, descobriu que muitos produtos podem ser feitos pela reciclagem das embalagens de agrotóxicos.  

Por isso, faça sua parte, faça a destinação adequada de suas embalagens, ajudando sua saúde, o meio ambiente e evitando multas.

>> Leia mais:

Tudo o que você precisa saber para fazer sua lista de defensivos agrícolas na pré-safra

“Passo a passo de como fazer a limpeza de pulverizador agrícola com segurança”

Você encontra dificuldades para descartar corretamente suas embalagens? Ficou alguma dúvida? Deixe seu comentário abaixo!

Principais sintomas da brusone no arroz e como controlá-la na lavoura

Brusone no arroz: entenda o ciclo da doença, prejuízos que ela pode causar e como fazer o manejo adequado 

A brusone é considerada a principal doença da cultura do arroz, impactando a produção de forma qualitativa e quantitativa.

A lavoura afetada pode ser totalmente comprometida, com perdas de 100%.

Mas como identificar os primeiros sinais da doença no campo? E quando a aplicação de fungicidas deve ser efetuada para um controle efetivo?

Neste artigo, separamos as informações para que você precisa saber para evitar e controlar a brusone no arroz. Confira!

Importância da brusone no arroz

A brusone no arroz é causada pelo fungo Magnaporthe oryzae, sendo considerada a doença mais importante para a cultura em várias partes do mundo. No Brasil, sua distribuição é bastante ampla, sendo encontrada do sul até o norte do país.

A doença é um fator limitante para a produtividade do arroz. Se ocorrer na fase vegetativa (nas folhas), causa redução na altura da planta, no número de perfilhos, no número e na qualidade de grãos.

Além disso, dependendo das condições locais da área, pode ocasionar até 100% de perdas da produção.

Principais sintomas da brusone

A brusone pode ocorrer nas plantas de arroz desde o início do desenvolvimento até a produção de grãos, podendo causar sintomas nas folhas, colmos, panículas e grão.

Como sintomas típicos nas folhas temos pequenos pontos de coloração castanha que evoluem para manchas elípticas. 

Essas manchas podem aumentar de tamanho no sentido da nervura, tendo o centro cinza e os bordos de coloração marrom, podendo apresentar um halo amarelo.

imagem de brusone em uma folha de planta de arroz

(Fonte: Matzenbacher e Funck em Planeta Arroz)

Esse sintoma leva à redução da área fotossintetizante da planta, provocando queda na produção de grão. Se a infecção ocorrer no início do desenvolvimento da planta, pode levá-la à morte.

Já nos entrenós dos colmos, podemos observar manchas elípticas com centro cinza e bordos de coloração marrom. Essas manchas podem atingir grandes proporções do colmo

Além disso, as lesões podem provocar, na região dos nós (região nodal), uma ruptura do tecido, o que causa a morte dessa parte da planta.

Os sintomas podem ainda ser visualizados nas raques ou ramificações, com manchas de coloração marrom. Os grãos originados de partes infectadas ficam chochos.

Também podem ocorrer manchas marrons nas sementes ou grãos.

brusone no arroz

(Fonte: APS)

Se a brusone ocorrer antes do aparecimento de grãos leitosos, podemos observar panículas esbranquiçadas. Esse é um sintoma facilmente identificável no campo.

Mas, se a infecção ocorrer mais tardiamente, pode ocorrer redução no peso dos grãos e quebra da panícula, o que é chamado de “pescoço quebrado”.

O patógeno também pode infectar a semente e ser transmitido internamente, podendo causar sintoma nas plântulas. 

Ciclo da brusone no arroz

O fungo causador da brusone é disseminado por conídio, normalmente, levado pelo vento. Isso é um fator importante para a infecção de novas plantas dentro da mesma lavoura e para lavouras de arroz próximas de uma área infectada.

São condições ideais para seu desenvolvimento temperaturas entre 20℃ e 25℃, com água livre nas folhas (molhamento).

Outro ponto importante do ciclo da doença é que o fungo pode sobreviver em restos culturais, sementes e em plantas de arroz que permaneçam no campo.

A brusone pode ocorrer desde a fase de plântula até a maturação da cultura do arroz, em todos os estádios de desenvolvimento da planta. Mas, a fase de enchimento dos grãos é a mais suscetível à doença.

A severidade da brusone aumenta quando há desequilíbrio nutricional das plantas, principalmente de doses excessivas de nitrogênio.

A brusone pode ocorrer também em outras gramíneas, principalmente trigo e gramados.

Agora que já conhecemos a doença, veja como controlar a doença.

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Controle da brusone do arroz

Quando pensamos em qualquer manejo para as doenças de plantas cultivadas devemos pensar em um manejo integrado, ou seja, que compreenda várias medidas de controle.

Por isso, para te ajudar a reduzir os prejuízos com a brusone do arroz e realizar esse manejo integrado, veja algumas medidas recomendadas:

Uso de variedades resistentes ou moderadamente resistentes

Em sistema irrigado, deve-se utilizar variedades com bom nível de resistência e manter uma lamina de água sobre o solo durante todo o ciclo. Isso pode reduzir o risco da doença.

Já no sistema de sequeiro, pode ocorrer deficiência hídrica, o que torna as plantas mais suscetíveis à brusone. Por isso, é importante a escolha das variedades corretas para cada sistema de cultivo e local.

Atenção às práticas culturais

A aração mais profunda permite o enraizamento mais aprofundado das plantas, reduzindo o efeito de estresse hídrico.

Também deve-se utilizar sementes sadias e certificadas, livres do patógeno.

O excesso de nitrogênio pode aumentar a suscetibilidade da doença, mas a deficiência também pode predispor a planta à brusone. Por isso, é necessário realizar uma adubação nitrogenada balanceada.

Outros pontos que devem ser considerados são a densidade e espaçamento de plantio. Alta densidade de plantas e menor espaçamento podem favorecer o estresse hídrico e a doença na cultura do arroz.

Uso de fungicidas 

Os fungicidas podem ser utilizados no tratamento de sementes (carboxina + tiran) e para pulverização na parte aérea das plantas de modo preventivo.

Efeito do tratamento de sementes de arroz para o controle de brusone. Tratamento químico com 3 fungicidas diferentes (A, B e C) e parcela sem tratamento (figura D).

Efeito do tratamento de sementes de arroz para o controle de brusone. Tratamento químico com 3 fungicidas diferentes (A, B e C) e parcela sem tratamento (figura D)
(Fonte: Lobo)

Caso a lavoura apresente algum sintoma da doença na fase vegetativa, a aplicação de fungicida deve ser realizada imediatamente. 

A proteção das plantas com aplicação de fungicida deve ser realizada quando se utiliza variedades suscetíveis ou moderadamente suscetíveis.

No Agrofit existem 78 produtos comerciais registrados para brusone no arroz.

Lembrando que, caso precise utilizar mais de uma aplicação de fungicida, utilize produtos com modo de ação diferente para reduzir a probabilidade de resistência do fungo.

Para o manejo integrado e para tomar a decisão no momento correto, é necessário que a lavoura seja constantemente monitorada para a diagnose correta.

E, para te auxiliar com o manejo dessa doença, você pode consultar um(a) engenheiro(a) agrônomo(a) para as recomendações.

Conclusão 

A brusone é considerada a doença mais importante do arroz e pode causar grandes prejuízos na lavoura.

Nesse artigo você conheceu os principais sintomas, ciclo da doença e como fazer um controle mais efetivo.

Agora que você tem essas informações, realize o manejo integrado para o controle da doença e proteja sua lavoura!

>> Leia mais:

Dicas para a plantação de arroz: colheita e pós-colheita

Você já teve problemas com brusone no arroz? Como realiza o manejo dessa doença? Adoraria ver seu comentário abaixo!

O que são fungicida sistêmico e de contato e qual utilizar?

Fungicida sistêmico: confira quais as diferenças entre os principais grupos de fungicidas, sua ação e em qual situação cada um deve ser utilizado 

Você sabia que há mais de 2.000 anos já se usavam produtos naturais como fungicidas!? Pois é! Os fungos já dão dor de cabeça ao produtor há muito tempo!

Mas, nesse tempo todo, fungicidas foram evoluindo – e os problemas com fungos também. Desde o uso da calda bordalesa, lá em 1.885, até o surgimento dos primeiros fungicidas sistêmicos no pós-guerra, muita coisa mudou.

Existem fungicidas sistêmicos, de contato, protetores, curativos e por aí vai. Mas será que são todos a mesma coisa e podem ser aplicados para as mesmas doenças?

Separei algumas dicas sobre fungicidas sistêmicos e fungicidas de contato, sobre como eles agem e em que situação devem ser aplicados. Acompanhe!

Como são classificados os fungicidas?

Antes de entrarmos no assunto de fungicidas sistêmicos e de contato, é preciso entender melhor a classificação dos fungicidas para evitar confusão nos nomes e entender por que é melhor utilizar determinado fungicida.

A divisão entre fungicidas sistêmicos e fungicidas de contato é relativa à mobilidade deles na planta. Os sistêmicos são considerados móveis. Já os de contato, imóveis.

Mas os fungicidas também podem ser classificados pelo seu princípio de controle, alvo biológico e modo de ação. Como veremos a seguir, a mobilidade pode interferir nesses outros aspectos. 

Princípio de controle

Essa classificação diz respeito a como o fungicida atua na planta. Nesse sentido, eles podem ser:

  • Protetores: são fungicidas que impedem a penetração do fungo na planta;
  • Curativos: atuam após a penetração do fungo, ou seja, após a infecção ter ocorrido, mas com sintomas ainda não visíveis;
  • Erradicantes: quando já existem sintomas os fungicidas erradicantes seriam os mais indicados, eliminado o inóculo culo (na lesão, nas sementes ou no solo).
infográfico com princípios de controle de fungicidas e fases da infecção por fungos - fungicida sistêmico

Princípios de controle de fungicidas e fases da infecção por fungos
(Fonte: Menten & Banzato, 2016)

Espectro ou alvo biológico

Nesse caso, os fungicidas podem ser uni-sítio (sítio específico) ou multissítio. Em outras palavras, os fungicidas podem atuar em um único ponto ou em vários pontos da via metabólica dos fungos.

Modo de ação

O modo de ação dos fungicidas refere-se ao processo metabólico do fungo no qual o composto químico irá atuar, por exemplo, respiração celular, síntese de substâncias, inibição de enzimas, etc.

Nesse caso, o modo de ação dos fungicidas e os respectivos grupos químicos podem ser divididos como:

  • alteração em processos do núcleo celular (Benzimidazóis e Acilalanina)
  • alterações nas funções da membrana celular (Triazóis e Morfolinas)
  • inibição da respiração – complexos 3 e 2 (Estrobilurinas e Carboxamidas)
  • alterações nas funções da parede celular (Dimetomorfe)

O que são fungicidas sistêmicos?

Fungicidas sistêmicos são móveis na planta, ou seja, eles são absorvidos no local de aplicação, mas podem ser translocados pela planta. 

A absorção se dá pelas raízes ou através da cutícula da planta, quando aplicado via foliar. Sua translocação acontece pelos vasos condutores da planta,  preferencialmente via xilema, mas alguns se movem pelo floema. 

Fungicidas sistêmicos têm grande capacidade de penetração e translocação e podem ser  imunizantes, protetivos, curativos ou erradicantes. Ou seja, têm uma amplitude maior de usos em relação aos de contato.

Contudo, a eficácia depende da aplicação no início da infecção ou de forma preventiva. Aplicações tardias têm pouca efetividade.

Os principais fungicidas sistêmicos são os benzimidazóis, carboxamidas, triazois, imidazóis, morfolinas e algumas estrobilurinas. Porém, existem diferentes graus de mobilidade/sistemicidade dentro dos fungicidas sistêmicos, como ilustram as imagens abaixo para triazóis e estrobilurinas.

gráfico com mobilidade e sistemicidade de fungicidas do grupo químico dos triazóis

Mobilidade e sistemicidade de fungicidas do grupo químico dos triazóis 
(Fonte: Menten & Banzato, 2016)

tabela com mobilidade e sistemicidade de fungicidas do grupo químico das estrobilurinas

Mobilidade e sistemicidade de fungicidas do grupo químico das estrobilurinas  
(Fonte: Menten & Banzato, 2016)

Vantagens e desvantagens do uso de fungicidas sistêmicos

Os  fungicidas sistêmicos geralmente são usados em doses menores e em menor número de aplicações se comparados aos fungicidas de contato. 

Por serem móveis, apresentam baixa fitotoxicidade. Eles também têm alta especificidade, atuando sobre patógenos específicos, causando menos desequilíbrio no sistema e menor contaminação ambiental. 

Contudo, os sistêmicos são mais caros e podem causar aparecimento de resistência no patógeno se usados indiscriminadamente e fora das recomendações. 

Vale destacar que isso pode ser evitado seguindo as recomendações e alternando entre grupos químicos distintos e fungicidas de contato. 

O que são fungicidas de contato?

Os fungicidas de contato não penetram na planta, são apenas adsorvidos e permanecem no local de aplicação. Desse modo, a maioria (mas nem todos) desses compostos não tem ação sobre os tecidos que crescem após a aplicação.

Por essa razão, esses fungicidas podem ser lavados pela chuva, por exemplo, têm ação restrita à proteção e devem ser aplicados de forma preventiva, antes da germinação de esporos e penetração dos fungos. Após a infecção esses produtos não terão efeito. 

Os principais fungicidas de contato são os cúpricos, sulfurados, ditiocarbamatos (Mancozeb) e isoftalonitrila (Clorotalonil). Eles têm amplo espectro de ação, tendo atividade em multi-sítios. Dada a sua baixa especificidade, esses produtos podem causar toxicidade na planta, mas tem menor probabilidade de gerar resistência nos patógenos.

Qual fungicida utilizar?

Dependendo da cultura que se está trabalhando, os fungicidas disponíveis, bem como o manejo para aplicação, será distinto, seguindo as especificidades de cada cultura e suas doenças.

De qualquer maneira, todo manejo de fungicidas deve ser integrado e seguindo as recomendações para evitar problemas de ineficácia e resistência de patógenos.

Assim como no manejo de defensivos agrícolas, as doses recomendadas e a frequência de aplicação dos fungicidas devem ser respeitadas.

Além disso, é importante o uso de diferentes grupos químicos e mecanismos de ação diferentes, bem como mesclar no manejo os fungicidas sistêmicos e os de contato.

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Conclusão

Como pudemos conferir ao longo do texto, os fungicidas sistêmicos e de contato são assim classificados dada a sua mobilidade na planta, mas existem outras classificações também

Os fungicidas sistêmicos são absorvidos, translocam na planta e apresentam alta especificidade. Eles têm princípios de controle mais amplos, podendo ser aplicados logo após a infecção. Contudo, seu uso indiscriminado pode gerar resistência nos fungos. 

Por outro lado, os fungicidas de contato ficam na superfície em que foram aplicados. Por essa razão, têm apenas ação de proteção e devem ser aplicados de maneira preventiva para que tenham eficácia. 

O manejo correto deve usar os dois tipos de fungicidas, respeitando as doses e frequência de aplicação recomendadas conforme a cultura. Com isso, tem-se um controle mais efetivo e reduz-se a probabilidade de induzir resistência nos fungos.

>> Leia mais:

“Biofungicidas: quando vale a pena usá-los para o controle de doenças na lavoura?”

Restou alguma dúvida sobre fungicida sistêmico e de contato? Adoraria ler seu comentário!

O guia do manejo eficiente do picão-preto

Picão-preto: entenda como controlar essa planta daninha e impedir que se torne um problema ainda maior na lavoura.

O picão-preto já foi uma das plantas daninhas mais importantes em área produtoras de grãos.

Com o surgimento de culturas RR, ele se tornou menos problemático. Mas agora um novo alerta se acendeu para os produtores, após a divulgação de população de picão-preto resistente a glifosato no Paraguai.

Quer saber como identificar corretamente e fazer o manejo eficiente dessa planta daninha? A seguir, explicarei tudo isso, além do período ideal para controle e os herbicidas mais indicados. Confira!

Entenda pontos importantes sobre a biologia do picão-preto

O picão-preto (Bidens pilosa ou Bidens subalternans) é uma planta daninha de ciclo anual, com reprodução por sementes, que pode ser encontrada em quase todo o território brasileiro.

É possível realizar a diferenciação entre as duas principais espécies presentes no Brasil pela quantidade de arestas nos aquênios (B. pilosa 2-3 aristas e B. subalternans 4 aristas).

Além disso, a espécie B. pilosa possui flores periféricas com lígulas bem maiores.

fotos das principais características para diferenciação das espécies de picão-preto B. pilosa (figuras à esquerda: A, C, E, G) e B. subalternans (figuras B, D, F, H)

Principais características para diferenciação das espécies de picão-preto B. pilosa (figuras à esquerda: A, C, E, G) e B. subalternans (figuras B, D, F, H)
(Fonte: Hrac)

Essa ampla disseminação está associada a uma grande produção de sementes (3 mil a 6 mil sementes planta-1) e a um mecanismo de dormência. Isso possibilita as sementes emergirem em períodos mais favoráveis. 

As sementes do picão-preto são consideradas grandes e são disseminadas principalmente por animais, máquinas e implementos agrícolas.

A temperatura ideal para germinação é de 15℃, sendo que temperaturas acima de 35℃ podem ser letais.

Essa planta daninha é indiferente à presença de luz para germinar, porém, a luz pode melhorar seu percentual de germinação.  

As sementes podem emergir de grandes profundidades (próximas a 10 cm), além de possuírem uma grande longevidade, germinando mesmo após 5 anos.  

Devido a essas características germinativas, o acúmulo de palhada na área e cultivo do solo não são eficientes para controle de picão-preto.

Apesar da baixa capacidade competitiva com relação aos cultivos, o nível alto de infestação é comum em algumas áreas e pode refletir perdas no rendimento da lavoura. 

Por isso, é muito importante realizar o correto controle do picão na entressafra, pois ele pode ser “ponte verde” para pragas e doenças que afetam as culturas que vem em seguida. 

O picão-preto é uma das principais hospedeiras de nematoides do gênero Meloidogyne.

Picão-preto: histórico da resistência no Brasil 

O picão-preto já foi uma planta que trouxe muita dor de cabeça para os produtores mais experientes, sendo o primeiro caso de resistência de plantas daninhas registrado no Brasil. 

  • 1993 – B. pilosa resistente à ALS (Imazethapyr, imazaquin, pyrithiobac, chlorimuron e nicosulfuron);
  • 1996 – B. subalternans resistente à ALS (Imazethapyr, chlorimuron e nicosulfuron);
  • 2006 – B. subalternans resistente à ALS (Iodosulfuron e foramsulfuron) e à Fotossistema II (Atrazina);
  • 2016 – B. pilosa resistente à ALS (Imazethapyr) e à Fotossistema II (Atrazina).

Antes da utilização da soja RR, os mecanismo de ação ALS e Fotossistema II eram muito importantes para o controle de folhas largas na cultura da soja e do milho, principalmente em pós-emergência. 

Com ampla adoção a soja RR (a partir de 2006), o picão-preto deixou de ser um grande problema nas lavouras de grãos, pois o glifosato forneceu um excelente controle mesmo em plantas mais desenvolvidas. 

Mas uma luz de alerta que se acendeu para os produtores brasileiros foi o registro de picão-preto resistente a glifosato no Paraguai. Por ser fronteira com o Brasil, há alto tráfego de máquinas e implementos agrícolas na região.  

foto com vários vasos que demonstram Dose resposta para populações de picão-preto resistente a glifosato no Paraguai. Dose base 720 g e.a. ha-1 ou 1,95 L ha-1 de Roundup original®

Dose resposta para populações de picão-preto resistente a glifosato no Paraguai. Dose base 720 g e.a. ha-1 ou 1,95 L ha-1 de Roundup original®
(Fonte: Kzryzaniak et al., 2018)

Mesmo que as populações resistentes no Brasil tenham sido controladas por vários anos pelo glifosato, ao coletarmos populações de diversas regiões do Brasil, encontramos padrões muito próximos aos visto no passado para resistência a ALS e/ou Fotossistema II. 

Como evitar a seleção de resistência

Para garantir que não haja seleção de resistência para novos herbicidas ou disseminação de populações resistentes para novas áreas, é muito importante que o você siga estas dicas:    

  • conheça o histórico de resistência da sua área e região; 
  • realize rotação de mecanismo de ação de herbicidas;
  • inclua herbicidas pré-emergentes no manejo; 
  • siga os princípios básicos da tecnologia de aplicação
  • realize aplicações em pós-emergência sobre plantas pequenas; 
  • realize corretamente aplicações sequenciais; 
  • priorize controle na entressafra
  • realize rotação de culturas e adubação verde; 
  • realize a limpeza correta de máquinas ou implementos antes de utilizá-los em novas áreas.

Manejo de picão-preto na entressafra do sistema soja e milho

A entressafra é período ideal para um bom manejo de picão-preto, pois existe um número maior de herbicidas que podem ser utilizados.

É ideal que a aplicação ocorra em plantas de 2 a 4 folhas, pois as chances de sucesso são maiores!

Herbicidas pós-emergentes: 

2,4 D

Utilizado em primeiras aplicações de manejo sequencial, geralmente associado a outros herbicidas sistêmicos (ex: glifosato) ou pré-emergentes, na dose de 1,0 a 1,5 L ha-1

Cuidado com problemas de incompatibilidade no tanque (principalmente graminicidas). 

Quando utilizar 2,4 D próximo à semeadura de soja, deve-se deixar um intervalo entre a aplicação e a semeadura de 1 dia para cada 100 g i.a. ha-1 de produto utilizado. Cuidado com deriva em áreas vizinhas.

Glifosato 

Possui ótimo controle de plantas pequenas (2 a 4 folhas). Pode ser utilizado na primeira aplicação do manejo sequencial (associado a pré-emergentes), na dose de 2,0 a 3,0 L ha-1.

Glufosinato de amônio

Pode ser utilizado em plantas pequenas (2 folhas) ou em manejo sequencial para controle de rebrota de plantas maiores, na dose de 2,5 a 3,0 L ha-1.

Saflufenacil

Pode ser utilizado em plantas pequenas (2 folhas) ou em manejo sequencial para controle de rebrota de plantas maiores, na dose de 35 a 70 g ha-1.

Para manejo em solos arenosos com menos de 30% de argila e menos de 2% de matéria orgânica, é necessário um intervalo mínimo de 10 dias entre a aplicação e o plantio da soja. Não ultrapassar a dose máxima de 50 g/ha.

Triclopir 

Utilizado em primeiras aplicações de manejo sequencial, geralmente associado a outros herbicidas sistêmicos (ex: glifosato) ou pré-emergentes, na dose de 1,5 a 2,0 L ha-1

Quando utilizar triclopir próximo à semeadura de soja, deve-se deixar um intervalo entre a aplicação e a semeadura de no mínimo 20 dias. Cuidado com deriva em áreas vizinhas. 

Herbicidas pré-emergentes:

Flumioxazin

Herbicida com ação residual para controle de banco de sementes utilizado na primeira aplicação do manejo outonal associado a herbicidas sistêmicos (ex: glifosato e 2,4 D) ou no sistema de aplique-plante da soja. Recomendável dose de 40 a 100 g ha-1.

Sulfentrazone

Herbicida com ação residual para controle de banco de sementes utilizado na primeira aplicação do manejo outonal associado a herbicidas sistêmicos (ex: glifosato e 2,4 D). 

Recomenda-se dose de até 0,5 L ha-1, pois apresenta grande variação na seletividade de cultivares de soja

Recomendado principalmente para áreas onde também ocorre infestação de tiririca!

Manejo na pós-emergência das culturas de soja e milho

O manejo de picão-preto na pós-emergência da soja convencional é pouco recomendado, pois existem poucas opções que podem ser utilizadas e, devido ao estádio de desenvolvimento do picão-preto, apenas seguram o seu crescimento.

No caso de soja e milho RR, o glifosato ainda exerce um ótimo controle do picão-preto na pós-emergência. Entretanto, recomenda-se uma boa rotação de princípios ativos e atenção a escapes após aplicação do produto.  

Cloransulam

Utilizado em pós-emergência da soja, na dose de 35,7 g ha-1.

Na pós emergência do milho safrinha, pode-se utilizar bentazon na dose de 1,2 L ha-1 e mesotrione na dose de 0,3 a 0,4  L ha-1

Perspectivas futuras

Nos próximos anos, existe previsão da liberação comercial de novos “traits” de resistência a herbicidas para as culturas soja e milho que poderão auxiliar no controle picão-preto. 

  • Soja: Enlist (2,4D colina, glifosato e glufosinato de amônio) e Xtend (dicamba, glifosato).
  • Milho: Enlist (2,4D colina, glifosato, glufosinato de amônio e haloxyfop).

Conclusão

Neste artigo, você viu a importância econômica que o picão-preto possui em nosso país e como realizar um manejo eficiente em lavouras de grãos. 

Conferiu os principais herbicidas e as recomendações de dose para aplicações na entressafra e na pós-emergência das culturas de soja e milho.

Viu ainda que a realização de algumas práticas são essenciais para não agravar os problemas de plantas daninhas resistentes.

Espero que com essas dicas passadas aqui você consiga realizar um manejo eficiente de picão-preto!

>> Leia mais: “Saiba como a mucuna-preta pode ser uma boa opção para adubação verde”

Como você controla a infestação de picão-preto na lavoura hoje? Já enfrentou casos de resistência? Baixe também aqui o Guia gratuito para manejo de plantas daninhas de difícil controle!

Como controlar a lagarta enroladeira das folhas na sua lavoura

Lagarta enroladeira das folhas: confira as características da praga, em quais estádios podem causar mais problemas e as recomendações de manejo.

A presença de pragas na lavoura é sempre um sinal de alerta. E é fundamental que você esteja sempre atento para evitar gastos e perdas de produtividade.

A lagarta enroladeira das folhas, apesar de não ser uma praga primária, vem ganhando destaque, principalmente em leguminosas.

Neste artigo, separei as informações mais importantes para que você faça um manejo eficiente da lagarta enroladeira das folhas na sua fazenda.

Características da lagarta enroladeira das folhas

Existe um complexo de lagartas da ordem Lepidoptera que causa danos nas lavouras. Dentre as várias espécies existentes, a lagarta enroladeira das folhas (Hedylepta indicata – sinonímias: Bleprosema indicata, Lamprosema indicata, Hedylepta vulgaris e Anania indicata), apesar de não ser uma praga primária, merece cuidados.

Ela ocorre em condições de climas tropicais e subtropicais, sendo que o pico populacional é observado no mês de abril. 

Pode se hospedar nas culturas da soja, feijão, milho, ervilha e amendoim.

A lagarta enroladeira das folhas possui cinco instares larvais que têm duração de aproximadamente 16 dias.

O adulto é de fácil identificação, pois possui coloração castanho-claro, com três estrias transversais escuras nas asas anteriores e envergadura de até 12 mm.

As fêmeas procuram realizar a oviposição nas folhas ou botões novos das plantas hospedeiras. Cada fêmea pode colocar em média 300 ovos.

Já nas lagartas, é possível observar que, logo nos primeiros ínstares, possuem coloração amarela, evoluindo para um verde-claro e, no final de sua fase larval, apresenta como coloração um verde mais acentuado. Seu tamanho pode variar de 12 mm a 15 mm.

O ciclo biológico dessa praga varia de 22 a 31 dias, dependendo das condições climáticas da região. 

Essa praga é facilmente reconhecida no campo por possuir o hábito de enrolar ou unir os folíolos da soja.

uma foto ao lado da outra, em uma tem a lagarta e na outra adulto da lagarta enroladeira das folhas

Lagarta (a) e adulto da lagarta enroladeira das folhas (b)
(Fonte: Embrapa)

Danos causados às lavouras

Os ataques da lagarta enroladeira das folhas ocorrem em diferentes momentos do desenvolvimento da cultura.

Nas fases iniciais, a lagarta raspa o parênquima foliar, rendilhando os folíolos, que acabam secando, sendo possível observar pequenas manchas brancas

Conforme ocorre o desenvolvimento das larvas, as lagartas necessitam de mais alimento, destruindo completamente a área foliar das plantas.

Nessa fase, a praga é considerada um grande problema no campo, pois, em casos de ataque intenso, ocasiona grande desfolha, prejudica a área fotossintética e influência no crescimento e desenvolvimento.

Caso não seja realizado o controle no momento exato, o ataque da lagarta enroladeira das folhas pode danificar até as hastes mais finas.

No campo, para observar a presença da praga nas plantas, fique atento às folhas. A lagarta entrelaça as folhas formando uma massa folhosa por meio de secreções que é utilizada também como alimento.

Caso note a presença dessa praga no final do ciclo da soja, a perda de área foliar não interfere na produtividade. Mesmo assim, é importante realizar o manejo da lavoura.

Para evitar riscos da presença dessas e outras pragas em sua lavoura, utilize sementes de qualidade e não deixe de lado o MIP (Manejo Integrado de Pragas).

Como fazer o manejo da lagarta enroladeira das folhas

Para o manejo adequado da lagarta enroladeira das folhas, o primeiro passo é verificar o histórico de pragas da fazenda. Assim, você consegue realizar o planejamento de manejo

É fundamental também realizar o monitoramento da lavoura com frequência. Isso irá facilitar a tomada de decisão.

Antes de realizar o controle, quantifique a infestação (%) em sua lavoura. Para isso, observe o número de plantas com sintomas.

Separei aqui uma planilha gratuita que pode te ajudar muito neste controle! Clique na imagem abaixo para fazer o download!

Controle cultural

Para evitar problemas com essa praga, realize:

Controle químico

Existem inúmeros produtos disponíveis para o controle químico da lagarta enroladeira das folhas. 

Você pode consultar o registro dos inseticidas no site do Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), o Agrofit

Veja os principais produtos recomendados nas culturas da soja e do feijão:

tabela com produtos recomendados para controle da lagarta enroladeira das folhas em soja, apresentando marca comercial e ingrediente ativo (grupo químico)

Produtos recomendados para controle da lagarta enroladeira das folhas em soja
(Fonte: Mapa)

tabela com produtos recomendados para controle da  lagarta enroladeira das folhas em feijão apresentando marca comercial e ingrediente ativo (grupo químico)

Produtos recomendados para controle em feijão
(Fonte: Mapa)

Contudo, é essencial que você consulte um(a) engenheiro(a) agrônomo(a) para detalhamentos de acordo com a sua realidade.

Controle biológico

O uso de controle biológico pode ser uma alternativa para minimizar os custos com inseticidas e evitar a seleção de resistência dessa praga.

Uma opção é utilizar o parasitoide Trichogramma spp. como estratégia no manejo integrado.

Planilha MIP Aegro. Baixe grátis

Conclusão

A lagarta enroladeira das folhas, apesar de não ser uma praga primária, pode causar danos consideráveis na lavoura, provocando menor produtividade.

Neste artigo, você pôde conferir como identificar essa praga no campo e os principais prejuízos causados à lavoura.

Também falamos sobre as opções de controle químico, cultural e biológico que você pode aproveitar para fazer um manejo adequado dessa invasora. 

Com essas informações, espero que você proteja sua propriedade e não registre prejuízos com essa praga!

>> Leia mais:

11 pragas da soja que podem acabar com sua lavoura

Como acabar com as lagartas da lavoura com estas 5 dicas

Você tem problemas com lagarta enroladeira das folhas na sua lavoura? Quais medidas de prevenção realiza? Adoraria ver seu comentário abaixo!

Como identificar e controlar a giberela no trigo

Giberela no trigo: sintomas, ciclo da doença, micotoxinas e como fazer o manejo adequado em sua lavoura.

A giberela é uma das principais doenças da cultura do trigo e pode causar danos significativos na lavoura.

Além da redução produtiva, ela pode causar micotoxinas, um grande contaminante dos cereais. 

Mas como identificar os sintomas da doença? Quais as formas de manejo mais indicadas? Confira essa e outras respostas a seguir!

Ocorrência e importância da giberela no trigo

A giberela ou fusariose da espiga é causada pelo fungo Fusarium graminearum. É mais frequente em regiões quentes e que coincidam períodos prolongados de chuva com a fase de floração da cultura do trigo.

A doença pode causar redução de até 30% no rendimento dos grãos e está associada à presença de micotoxinas, substância contaminante e tóxica ao homem, como veremos em detalhes mais adiante. 

Além da presença dessas micotoxinas, o fungo pode colonizar uma ampla gama de hospedeiros como aveia, cevada, centeio, milho, triticale e sorgo

Agora veja como identificar a giberela do trigo na lavoura.

Identificação da giberela na lavoura 

Na cultura do trigo, o F. graminearum infecta a flor da planta, que pode ser totalmente destruída e nem chegar a formar grão. Além disso, pode colonizar todos os componentes da espiga.

Caso a infecção do fungo seja lenta, pode ocorrer o desenvolvimento do grão com os seguintes sintomas: coloração rósea (por conta do desenvolvimento do fungo – formação de macroconídeos), que ficam enrugados e chochos.

foto de quatro grãos infectados. Genética amplia resistência à Giberela e Brusone no trigo – O Presente Rural

(Fonte: O Presente Rural)

Já as espiguetas infectadas pelo fungo exibem coloração palha, despigmentada ou esbranquiçadas, apresentando um branqueamento prematuro.

Um sintoma de fácil reconhecimento da doença são as aristas arrepiadas em espiguetas esbranquiçadas ou mortas, sinal bastante característico da giberela.

Assim, como principais danos da doença em trigo, temos o abortamento das flores e a má formação dos grãos, o que interfere na produção da lavoura.

Além disso, o fungo ainda pode produzir micotoxinas. Ou seja, a giberela no trigo provoca danos qualitativos e quantitativos.

Mas, afinal, o que são micotoxinas?

Giberela e a formação de micotoxinas

Micotoxinas são substâncias químicas produzidas por alguns fungos que são nocivas aos homens e animais.

A principal micotoxina formada por este patógeno é desoxinivalenol (DON), que atua na inibição da síntese de proteínas.

Para proteger a saúde, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) exige analises laboratoriais de grãos e produtos à base de trigo, como farinha, farelo, alimentos infantis, pães, massas e biscoitos.

Assim, os limites de DON são 3.000 ppb para grãos de trigo para processamento, 1.000 ppb para farinha integral e 750 ppb para farinha branca.

Tabela de micotoxinas no trigo - legislação brasileira.

Limites de micotoxinas no trigo determinados pela Anvisa
(Fonte: Embrapa)

Agora que você conhece os sintomas e danos da giberela no trigo, veja como é o ciclo da doença na cultura, de forma resumida.

checklist planejamento agrícola Aegro

Ciclo da doença no trigo

O fungo que causa a giberela sobrevive em restos culturais (estrutura de sobrevivência do fungo), quando as condições não são favoráveis para seu desenvolvimento, fato muito importante para determinar as medidas de controle da doença.

Em condições de alta umidade e temperatura (condições ideais para o desenvolvimento do patógeno) ocorre o seu desenvolvimento e os esporos são dispersos no ambiente.

Os conídeos do fungo (ascósporos) são levados a longas distâncias pelo vento, sendo o principal inóculo. Estes atingem as anteras do trigo, germinam e penetram na flor, que inicia o processo de infecção da planta.

Na figura abaixo você pode observar como ocorre o ciclo desse fungo na cultura do trigo.

infográfico com ilustrações do ciclo do fungo da giberela no trigo

(Fonte: APS)

Como comentamos, o fungo que causa a giberela no trigo sobrevive em restos culturais e também tem como fonte de inóculo as sementes.

A suscetibilidade da cultura do trigo é entre o período da floração até a maturação.

As condições para a ocorrência da infecção do fungo na planta são 30 horas de molhamento foliar contínuo e temperaturas em torno de 20℃. Por isso, é preciso ter atenção em épocas de ocorrência de chuva.

Controle da giberela no trigo

A giberela é considerada uma das doenças de mais difícil controle entre as que ocorrem nas culturas de inverno.

No Brasil, ainda não estão disponíveis cultivares tolerantes ou resistentes a ela. Existem algumas pesquisas para a obtenção de cultivares resistentes, mas enquanto isso não está disponível, é importante observar outras estratégias de manejo da doença.

Algumas medidas de manejo para a giberela no trigo são:

  • semeadura antecipada – possibilita que a planta atinja o florescimento (período de ocorrência da doença) em condições menos favoráveis à doença.
  • uso de fungicidas no início da floração – deve-se realizar a pulverização antes da ocorrência de chuva (de maneira preventiva), tendo duração de cerca de 15 dias.

No Agrofit estão registrados 63 fungicidas para o controle da giberela no trigo. A maioria desses fungicidas é dos grupos dos triazóis, benzimidazol e estrubilurina.

Algumas pesquisas indicam que o controle químico da doença pode ser realizado quando as plantas estiverem com 25% a 50% de florescimento para primeira aplicação

Uma segunda aplicação pode ser feita quando as plantas apresentarem 75% de florescimento, tendo um intervalo de 5 a 7 dias entre as aplicações.

Em anos de condições favoráveis para o fungo (chuvoso), pode-se realizar uma terceira aplicação ou diminuir o intervalo entre as duas aplicações. Já em anos secos, uma única aplicação é eficiente.

ilustração mostra o controle químico em três aplicações no espigamento-florescimento da planta.

(Fonte: Embrapa)

Lembre-se de utilizar mais de um tipo de fungicida, com modo de ação diferente, para reduzir a probabilidade de resistência.

Faça também a rotação de culturas com plantas que não são hospedeiras do fungo.

Deve ser feito o manejo integrado, ou seja, utilizar um conjunto de medidas para minimizar os efeitos da doença na lavoura de trigo.

Para te auxiliar com o manejo da giberela no trigo consulte um(a) agrônomo(a) para as recomendações.

e-book culturas de inverno Aegro

Conclusão 

A giberela é de grande importância para a cultura do trigo, podendo causar perdas na produtividade da lavoura e ainda apresentar micotoxinas nos grãos.

Neste texto, falamos da importância da doença, seu ciclo no trigo, os principais sintomas e a presença dessas micotoxinas.

Discutimos ainda as principais medidas de manejo para a giberela no trigo, que devem ser preventivas para que o fungo não se instale na lavoura e cause prejuízos.

Espero que com essas informações você tenha um ótimo manejo da doença em sua propriedade!

>> Leia mais:

O que você precisa saber sobre manejo das viroses no trigo

5 dicas para uma lavoura de trigo mais produtiva

Você já teve problemas com giberela no trigo? Como realiza o manejo dessa doença? Adoraria ver seu comentário abaixo!

O que você precisa saber para fazer a melhor aplicação de 2,4 D em trigo

2,4 D em trigo: por que utilizar, momento ideal de aplicação e principais cuidados para um manejo eficiente. 

Com o surgimento de plantas daninhas resistentes, é importante que você realize o planejamento para a utilização de herbicidas alternativos em sua área. 

Na cultura do trigo, uma importante alternativa para o manejo em pós-emergência de plantas daninhas de folhas largas é o herbicida 2,4 D

Porém, ainda há um grande receio quanto a seu uso, principalmente por parte de quem já teve problemas ao utilizá-lo na lavoura.

Por isso, separei aqui o que você deve considerar para fazer um manejo eficiente de plantas daninhas com 2,4 D, mantendo alta produtividade. Confira!

Por que utilizar 2,4 D em trigo?

Antigamente, o controle de plantas daninhas em pós-emergência na cultura do trigo era realizado prioritariamente com herbicidas do grupo ALS. 

E apesar desses herbicidas serem extremamente eficientes, seu uso indiscriminado selecionou populações resistentes de várias espécies de plantas daninhas. Por isso, foi necessária a utilização de outras opções para controle de folhas largas na pós-emergência do trigo.  

Assim, os herbicidas hormonais ou auxinas sintéticas começaram a ser utilizados com maior frequência no trigo (ex: 2,4 D e MCPA).  

Embora muito eficientes no controle de plantas daninhas, eles demandam uma série de cuidados quanto ao momento de aplicação, dosagem e tecnologia de aplicação, para que não ocorram prejuízos em sua lavoura de trigo ou em áreas vizinhas. 

Vou explicar melhor como o trigo suporta a aplicação de 2,4 D e quais cuidados você deve tomar para um manejo eficiente. 

Mecanismo de seletividade do 2,4 D no trigo

Mecanismo de ação em plantas sensíveis 

Os herbicidas mimetizadores de auxinas têm uma atuação muito semelhante aos hormônios nas plantas.

Entretanto, por serem moléculas exógenas, não possuem um sistema que regula sua atuação como os hormônios endógenos. Assim, provocam mudanças metabólicas e bioquímicas que levam plantas sensíveis à morte. 

Dentre essas mudanças, as principais estão relacionadas ao metabolismo de ácidos nucleicos e a plasticidade da parede celular. 

Essas auxinas sintéticas (ex: 2,4 D) induzem uma intensa proliferação celular em tecidos, ocasionando epinastia de folhas e caule (crescimento anormal), além de interrupção do floema, impedindo o movimento de fotoassimilados das folhas para as raízes.  

Além disso, há um grande aumento na produção de enzimas celulase, principalmente nas raízes. Por isso, o sistema radicular é muito afetado em plantas sensíveis. 

De modo geral, o mecanismo de ação dos herbicidas auxínicos, por atuar em diversos locais da planta, ainda não foi completamente explicado. 

Mecanismo de seletividade em gramíneas

Uma das principais características que possibilita a utilização de 2,4 D em cultura de folha estreita (gramíneas) é que essas espécies possuem seu tecido vascular arranjados em feixes dispersos, que são protegidos pelo esclerênquima. Tal condição previne a destruição do floema pelo crescimento desorganizado das células. 

Além dessa proteção dos feixes vasculares, as gramíneas podem possuir outro mecanismo de seletividade como menor absorção e translocação ou metabolização do herbicida. 

Contudo, no trigo, esses mecanismo de tolerância somente serão efetivados se o estádio e dose recomendados forem respeitados.

Momento ideal para aplicação e principais cuidados

Na cultura do trigo, existe uma janela de aplicação do 2,4 D para que não ocorram injúrias significativas na cultura. 

O melhor momento é durante a fase de perfilhamento até o início da fase elongação, com doses que variam de 806 g e.a. ha-1 a 1200 g e.a. ha-1

Também é importante se informar sobre a resposta da variedade de trigo escolhida ao uso do herbicida. 

infográfico de estádio ideal de aplicação de 2,4 D em trigo

Estádio ideal de aplicação de 2,4 D na cultura do trigo
(Fonte: adaptado de Mais soja)

Caso você realize aplicações antes do período ideal, podem ocorrer danos ao meristema apical da planta (principal zona de crescimento), deformações morfológicas (folhas e espigas) e nanismo (redução do porte do cultivo).

três fotos que mostram sintomas de fitointoxicação de 2,4 D no trigo

Sintomas de fitointoxicação de 2,4 D no trigo 
(Fonte: ORSementes)

Já se a aplicação ocorrer após o período recomendado, podem prejudicar a diferenciação floral do trigo. Isso pode ocasionar perdas de até 60% no rendimento da cultura.   

Além de se preocupar com o momento ideal de aplicação, é importante utilizar um boa tecnologia visando evitar deriva em culturas suscetíveis.

Esses herbicidas apresentam efeitos muito prejudiciais em algumas culturas (como uva, tomate e girassol), mesmo em doses muito reduzidas. 

Ainda que o 2,4 D seja muito efetivo no controle de muitas plantas daninhas de folha larga, não se esqueça que é importante sempre realizar um bom manejo integrado de plantas daninhas!

Utilize rotação dos mecanismo de ação herbicidas e herbicidas aplicados em pré-emergência, pois, infelizmente, já se relatou um caso de buva resistente ao 2,4 D no Brasil. 

Caso você aplique-o em sua propriedade e observe, logo após aplicação, as plantas de buva com uma rápida necrose em suas folhas (sintoma anormal para este herbicida), fique atento, pois sua buva pode ser resistente ao 2,4 D!

Conclusão

Neste artigo, você conferiu a importância da utilização de 2,4 D no trigo para manejo de plantas daninhas resistentes. Também entendeu como esse herbicida atua em plantas sensíveis e por que o trigo o tolera. 

Você agora sabe o momento ideal para aplicação sem prejudicar a produtividade do cultivo. Entendeu ainda quais os principais cuidados para evitar danos em área vizinhas e a seleção de novos casos de resistência. 

Espero que, com essas dicas, você consiga realizar o manejo efetivo de plantas daninhas em sua lavoura.

Você utiliza o herbicida 2,4 D em trigo? Já observou alguma injúria devido a essa aplicação? Aproveite e baixe gratuitamente aqui o Guia do Manejo de Plantas Daninhas!

Ramulária no algodão: entenda mais sobre essa doença

Ramulária no algodão: entenda os principais sintomas, as perdas causadas e como controlar essa doença do algodoeiro.  

A ramulária ou mancha de ramulária tem sido um dos principais problemas fitossanitários da cultura do algodão.

Essa doença tem causado grandes problemas no Cerrado e ataca folhas e até maçãs do algodão, reduzindo a sua produção e também a qualidade da fibra.

Mas em um passado não tão distante assim, a ramularia não era tão problemática. O que aconteceu?

Para te ajudar a entender, separamos algumas informações sobre como a ramulária se desenvolve, como identificá-la e controlá-la. Confira!

O que é a ramulária no algodão e qual sua importância

Ramulária, também chamada de falso-oídio, é uma doença causada pelo fungo Ramularia gossypii – conhecido antigamente como R. aureola – e está presente em todas as regiões produtoras do país desde seu primeiro relato no Brasil, em 1890.

Essa doença era característica de final de ciclo e considerada secundária nas principais regiões produtoras de algodão do passado – Sudeste e Nordeste. 

Contudo, com a migração das lavouras de algodão para o Centro-Oeste, que hoje detém 74% da produção nacional, a ramulária passou a ocorrer durante todo o ciclo e tornou-se a principal doença do algodoeiro.

E por que isso ocorreu?

Bem, de lá para cá, muita coisa mudou. Como veremos a seguir, as mudanças no sistema de produção e a mudança de região produtora favoreceram a ocorrência da ramulária.

gráfico com volume de produção de algodão pelas regiões brasileiras

Volume de produção de algodão pelas regiões brasileiras
(Fonte: Conab)

Condições favoráveis e sintomas da ramulária no algodão

Primeiramente, vamos relembrar alguns conceitos sobre o ataque de doenças nas plantas. A doença ocorre devido à interação de três fatores: o ambiente, o patógeno e o hospedeiro. Para isso, dá-se o nome de triângulo da doença.

Triângulo da doença, mostrando ambiente, patógeno e hospedeiro - ramulária no algodão

Triângulo da doença

O fungo da ramulária (patógeno) necessita de hospedeiros para sobreviver nos sistema e se desenvolver, nesse caso, o próprio algodão e seus restos culturais. Além disso, ele necessita de condições ambientais favoráveis para se disseminar e se desenvolver. A interação desses fatores determinará a intensidade do ataque da doença. 

Portanto, além da grande capacidade do patógeno se desenvolver, o ambiente do Centro-Oeste favoreceu o aumento da doença, além do uso de plantas suscetíveis e mal controle do algodão tiguera (hospedeiro).

Condições favoráveis

O fungo da mancha de ramulária do algodão é favorecido por condições de alta umidade, temperaturas entre 25℃ e 30℃ e alta pluviosidade.

Isso quer dizer que na época chuvosa é que os problemas são mais recorrentes. Além disso, em plantios com maior densidade, onde o microclima favorece a ocorrência dessas condições, os problemas serão maiores

Da mesma forma, o baixeiro da planta será mais atacado.

Sintomas e danos

A ramulária do algodão é disseminada principalmente pelo vento e se manifesta em ambas as faces das folhas da planta de algodão. Inicialmente, têm-se lesões anguladas de 1 mm a 3 mm, delimitadas pelas nervuras das folhas.

Essas lesões têm coloração branca e, conforme a infecção avança, tornam-se amarelas e com aspecto pulverulento, principalmente na face inferior das folhas.

foto de detalhe dos sintomas de ramulária no algodão

Detalhe dos sintomas de ramulária no algodão
(Fonte: Embrapa)

Sintomas de ramulária nas folhas de algodão

Sintomas de ramulária nas folhas de algodão
(Fonte: Embrapa)

Ataques mais severos levam à desfolha e podem causar apodrecimento das maçãs do baixeiro da planta. 

Nas cultivares mais suscetíveis à doença, as perdas em produtividade podem chegar a 70%. Plantas sem controle de ramulária tiveram produtividade 45% menor em relação às que receberam controle químico.

Então, como podemos manejar a mancha de ramulária no algodão?

Manejo da ramulária no algodão

O manejo de qualquer doença deve ser integrado, ou seja, usar de diversas técnicas de controle – cultural e químico, por exemplo – quando os níveis de dano forem economicamente viáveis para realização do controle. 

Vamos lembrar do triângulo da doença: podemos atuar no ambiente, no hospedeiro ou controlando o patógeno! 

Para isso, é necessário monitoramento diário da lavoura e a correta identificação do patógeno da ramulária, observando a ocorrência de seus sintomas característicos.

Controle químico

Constatado o ataque do fungo nas folhas mais velhas (baixeiro), as aplicações podem ser iniciadas. Um critério que otimiza as aplicações é realizá-las quando as lesões atingem 5% da área foliar sem atingir o terço médio da planta.

Utilizando esse critério, recomenda-se três aplicações espaçadas em 15 dias, com produtos eficientes. Isso evita que o problema se intensifique e otimiza as aplicações. 

Vale lembrar que é ideal alternar o uso de fungicidas com diferentes modos de ação para evitar a resistência do patógeno. No Agrofit, existem 136 produtos registrados para combater a mancha de ramulária no algodão.

Além disso, existem outros métodos de controle para serem usados em conjunto.  

Controle cultural

O uso de cultivares suscetíveis à ramulária do algodão é um dos principais responsável pelos grandes danos causados por essa doença. Prefira as cultivares tolerantes/resistentes disponíveis.

Essa informação você pode encontrar no site da Embrapa, que disponibiliza um catálogo das cultivares de algodão disponíveis. Além desses, as empresas de sementes também disponibilizam seus catálogos. 

Exemplo de catálogo de cultivares de algodão mostrando as recomendações e características de cada cultivar
(Fonte: Embrapa)

Lembre-se que espaçamentos mais abertos propiciam um microclima que desfavorece a doença, pois reduz a umidade do sistema. 

Um bom manejo da soqueira, evitando algodão tiguera, propicia que não haja hospedeiro para a sobrevivência do fungo para a próxima safra. Por isso, capriche no manejo! 

planilha de produtividade do algodão Aegro

Conclusão

Como você pôde acompanhar ao longo do texto, a ramulária ganhou importância nos últimos anos devido à migração do algodão para outra região produtora. 

Nessas novas condições, a ramulária encontrou um ambiente favorável para se desenvolver. Além disso, deficiências de manejo, como o uso de cultivares suscetíveis e mal manejo de soqueira possibilitaram maiores danos dessa doença.

O manejo depende de monitoramento e de medidas integradas, como o uso de cultivares resistentes, manejo da soqueira e espaçamentos maiores. 

Como alternativas de controle químico, pode-se  aplicar fungicidas no momento e frequência correta, alterando modos de ação para evitar resistência. 

>> Leia mais:

Como evitar e combater a mela do algodoeiro em sua lavoura

“6 principais doenças do algodão e como controlá-las na lavoura”

Como ter um algodoeiro resistente a doenças e mais econômico com nova cultivar transgênica

Você já teve problemas com a ramulária no algodão? Quais os principais problemas que enfrenta? Conte para gente nos comentários Grande abraço e até a próxima!