Semeadura no pó: quando vale a pena arriscar?

Semeadura no pó: riscos, recomendações, qual a importância da água nesse momento e mais!

A escolha do momento da semeadura é fundamental para o sucesso da lavoura.

Apesar disso, entra safra e sai safra e a dúvida é: espero a chuva ou semeio no pó?

Semear no pó é uma decisão arriscada, que pode comprometer o estabelecimento de seu estande, uma vez que a presença de água no solo é essencial para a germinação.

Pensando nisso, separei algumas informações sobre a semeadura no pó e como manejar essa situação no dia a dia no campo. Confira a seguir!

Semeadura no pó: momento de semear

Iniciar a semeadura logo após o fim do vazio sanitário é ideal para se ter uma janela de plantio para realizar a safrinha na mesma área.

Além disso, semear assim que possível auxilia no escalonamento do plantio em grandes áreas.

Contudo, acabou o vazio sanitário, estamos há vários dias sem chuva e o solo continua seco. Nesse momento vem a dúvida: esperar ou não as chuvas para iniciar o plantio?

As sementes são seres vivos, assim, a água é fundamental para realização de diversos processos.

A água tem de estar presente desde a germinação até o enchimento de grãos, sendo o principal fator limitante da produção.

Então, o momento ideal de semear é quando a umidade do solo for o suficiente para que as sementes absorvam a quantidade de água suficiente para poderem germinar e emergir.

Quantidade de água necessária para germinação e emergência

As sementes adquiridas para o plantio apresentam teor de água de 10% a 13%. Contudo, esses valores são adequados para armazenamento e não para a plantio.

Para início e continuidade do processo de germinação, o teor de água das sementes deve aumentar.

Veja abaixo o teor de água que as sementes de milho (albuminosas) e de soja ou feijão (exalbuminosas) precisam ter durante a germinação para emissão da radícula:

gráfico com teor de água que as sementes de milho (albuminosas) e de soja ou feijão (exalbuminosas) precisam ter durante a germinação para emissão da radícula

(Fonte: Esalq/USP)

Para que as sementes absorvam essa quantidade de água, o solo deve ter uma umidade de 50% a 85% de água disponível.

Desse modo, a quantidade de água presente no solo é suficiente para garantir que ocorra germinação e emergência das sementes.

Então, é importante conhecer a capacidade de retenção de água do solo que você irá semear, pois essa quantidade de água varia de acordo com o tipo de solo, compactação, sistema de produção, entre outros.

O que acontece se realizar a semeadura no pó?

Ao semear em solo seco, é como se você estivesse armazenando as sementes em condições de pouca umidade, alta temperatura e presença de microrganismos.

Se as sementes permanecerem nessa combinação de fatores durante um período superior a 15 dias, a germinação é drasticamente afetada.

O calor e falta de água faz com que as sementes respirem mais e se desenvolvam lentamente, ficando mais expostas ao ataque de pragas e microrganismos do solo.

A porcentagem, velocidade e uniformidade de germinação é afetada, podendo ocorrer perdas de 50% da produção.

Além disso, na cultura da soja ocorre perda da eficiência da inoculação, reduzindo a quantidade de bactérias viáveis.

Na prática, semeando no pó você pode perder a sua inoculação.

Outro fator bastante importante é a quantidade de chuva após dias de estiagem.

Se acaso você semear e ocorrer uma chuva de poucos milímetros, as sementes podem absorver água, entretanto, não será o suficiente para completar a germinação e emergir. Assim, ocorre morte das sementes e, consequentemente, falhas no seu estande.

Em casos de muitas falhas no estande, recomenda-se realizar a ressemeadura, resultando em tempo perdido e, principalmente, aumento do custo da lavoura.

foto que mostra falha na emergência de plântulas em campo

Falha na emergência de plântulas em campo
(Fonte: Conesul News)

Estratégias para otimizar a semeadura no pó

Apesar de não ser uma técnica recomendável, caso seja extremamente necessário realizar a semeadura em solo seco, você deve levar em consideração alguns fatores como:

Qualidade das sementes

Utilizar sementes com alta porcentagem de germinação e vigor é fundamental. Sementes de alta qualidade suportam por um período maior condições adversas, como a pouca umidade do solo, neste caso. 

Além disso, apresentam desenvolvimento mais rápido se comparada a sementes de qualidade inferior.

Por isso, é muito importante que você utilize sementes certificadas, que possuam qualidade garantida!

Tratamento das sementes

O tratamento de sementes pode ser um forte aliado caso você deseje realizar a semeadura no pó.

Como o desenvolvimento das sementes é mais lento pela falta de água e alta temperatura do solo, o tratamento com fungicida previne o ataque de microrganismos e pragas, que aceleram a deterioração das sementes.

Veja na figura abaixo sementes com e sem tratamento em condições de baixa umidade do solo:

semeadura no pó - gráfico de emergência e umidade do solo de sementes com e sem tratamento

 (Fonte: SEEDNews)

Inoculação

Para promover uma nodulação adequada em plantas de soja, a semente deve apresentar, no momento da semeadura, de 80 mil a 100 mil células de bactérias.

Ao semear no pó, os solos apresentam alta temperatura e pouca umidade, o que reduz, em menos de uma semana, metade do número de células viáveis, ocorrendo prejuízo no fornecimento de nitrogênio para planta.

Se você realizar a semeadura em solo seco, faça inoculação, mas busque métodos de complementar o fornecimento de N para planta.

Uma opção de complementação é a inoculação via pulverização em cobertura ou uso de fertilizante mineral.

Proximidade das chuvas

Não faça semeadura no pó sem ao menos ter uma previsão de chuva para os próximos 10 a 15 dias.

Mesmo com uso de sementes de alta qualidade e tratamento de sementes, a exposição em solo com pouca umidade por um período prolongado reduz a germinação e emergência das plantas.

Ter acesso a informações meteorológicas de qualidade minimiza esses riscos e permite traçar um planejamento melhor das operações da fazenda. Se esses dados estiverem integrados aos da propriedade, a tomada de decisão fica mais precisa.

Utilizar um software de gestão agrícola como o Aegro reúne as informações da fazenda e a previsão climática por geolocalização da área rural. 

As informações de tempo e temperatura são atualizadas de hora em hora, com dados detalhados dos próximos 3 dias e previsões para os próximos 15 com relação à variação de temperatura, possibilidade de chuva, vento (velocidade e direção) e até janela de pulverização.

O sistema traz ainda dados sobre umidade relativa do ar por 15 dias e histórico das chuvas por geolocalização. 

imagem mostra como funciona o Climatempo no aplicativo Aegro.

A integração do Aegro com o Climatempo está disponível para produtores de todo o Brasil na versão completa do software agrícola. 

Sistema de plantio

Se você se depara todos os anos com esse questionamento de semear ou não no pó, uma opção que auxilia nesse momento é a adoção do sistema de plantio direto.

Em comparação com sistema convencional, a palhada no solo no plantio direto tem várias vantagens, como a manutenção da umidade do solo por mais tempo.

Outro ponto positivo desse sistema é maior facilidade de infiltração de água no solo. Consequentemente, as raízes das plântulas emergidas utilizarão a água presente no perfil do solo.

Diferença visual de solo com sistema de plantio convencional e direto
(Fonte: Integrar)

checklist planejamento agrícola Aegro

Conclusão

Neste artigo vimos que o momento ideal de semear é com a chegada das chuvas, pois a água é fundamental para a formação e manutenção da lavoura.

Semeio em solo seco apenas em situações de extrema necessidade, pois é uma técnica bastante arriscada! Utilize sempre sementes de alta qualidade e realize um bom tratamento.

Como você viu, o recomendável é esperar as condições ideais para realizar a semeadura e, assim, evitar riscos de perdas!

>> Leia mais:

Cálculo de semeadura da soja: 5 passos para a população de plantas ideal no seu sistema

Você já realizou ou realiza a semeadura no pó? Ficou alguma dúvida? Deixe seu comentário abaixo!

Como fazer o manejo e a correção do solo alcalino

Solo alcalino: como identificar e as opções mais efetivas para corrigir o pH em sua propriedade

O pH de um solo tem relação direta com a disponibilidade dos nutrientes. E a nutrição correta das suas plantas é um dos principais fatores para o sucesso da produção.

A correção dos solos pode até parecer um detalhe do manejo, mas a realidade é que ela é uma das principais práticas a ser realizada para a fertilidade do solo.

Em solos ácidos, as práticas são mais conhecidas, pois a maior parte dos solos tropicais é acidificada. Mas a presença de solos alcalinos também é uma realidade brasileira e é necessário ajustar o pH para as plantas. 

Qual corretivo utilizar? Qual o manejo realizar? Confira essa e outras respostas a seguir!

Ph do solo 

O pH é o potencial ou teor de hidrogênio do solo, do H⁺ presente na solução do solo e um dos principais indicadores da sua fertilidade.

A variação do pH se encontra entre 1 e 14, sendo 7 o valor para um solo neutro. 

É considerado um solo ácido aquele com pH abaixo de 5,5, o qual estaria saturado de H⁺ e com maior presença de Al³. Os solos com pH acima de 7 são solos alcalinos. 

A faixa ideal de pH para as plantas gira em torno de 6 a 7, pois nessa faixa os nutrientes se encontram mais disponíveis. 

A relação direta com a fertilidade é no equilíbrio químico de trocas que acontecem e disponibilizam ou complexam os nutrientes no solo. A capacidade de troca de cátions, a CTC do solo, também é pH dependente. 

gráfico com disponibilidade crescente e pH do CTC do solo
(Fonte: Adaptado de Malavolta, 1979. Apresentação Prof. Dr. Gustavo Brunetto)

Como solos alcalinos possuem baixa quantidade de íons de H e Al, os pontos de troca de cargas encontram-se ocupados por bases trocáveis. 

Solos alcalinos

O clima e a morfologia têm interferência direta no tipo de solo. O solo alcalino é característico das regiões com climas mais seco ou semi-árido (ou ainda com processos inundativos), como alguns solos do nordeste e Pantanal. 

A alcalinidade também pode ocorrer devido à calagem feita de forma equivocada, por exemplo. 

Os solos alcalinos possuem um poder tampão forte, ou seja, apresentam resistência à mudança do seu pH.

A presença de carbonatos de cálcio e magnésio no solo promovem a neutralização de adubações acidificantes. 

O acúmulo de sais de cálcio, magnésio, potássio e carbonato de sódio saturam as cargas negativas do solo e diminuem a disponibilidade de micronutrientes como Manganês, Zinco, Ferro, Cobre e do macro P (potássio).

banner da planilha de calagem com uma tela de computador e texto explicativo

Como identificar um solo alcalino? 

A análise de solo é a principal ferramenta para identificar todas as condições do solo. Já falamos aqui no blog sobre o assunto, confira: Análise química do solo: o porquê da sua realização.

Um indicador visível na lavoura de que o solo está alcalino pode ser a clorose promovida pela deficiência de ferro. Isso ocorre pois, no processo da fotossíntese, o ferro é um elemento importante. A clorose se inicia nas folhas jovens com o amarelecimento do limbo foliar. 

quatro fotos da clorose férrica induzida pelo calcário, do dia 01 ao dia 30.
Clorose férrica induzida pelo calcário
(Fonte: Revista Ceres)

Como corrigir o pH do solo alcalino?

Assim como na correção de solos ácidos utilizamos fontes minerais, em solos alcalinos elas também são uma das opções. 

É possível utilizar materiais como enxofre e adubos nitrogenados, mas também a utilização de adição de material orgânico e manejos com leguminosas. 

O planejamento agrícola aqui é fundamental, pois alguns processos de correção são lentos e têm interferência direta com a umidade, temperatura e bactérias presentes no solo.

Enxofre elementar

O enxofre elementar (So) contribui para a regulação do pH do solo e é uma das opções com ótimo custo benefício. 

Alguns fatores são importantes e devem ser considerados no seu uso, como a granulometria do produto, que interfere na reação do mesmo, e o solo possuir umidade para solubilização. 

A liberação do S no solo é um processo de oxidação biológica e, por isso, a presença de bactérias sulfurosas para realizar a transformação do S em sulfato (SO4)² é fundamental.

Ureia revestida com enxofre

O enxofre é uma barreira física, semipermeável que permite que a ureia seja solubilizada de forma gradual.

A sua atuação na diminuição do pH do solo é percebida em cerca de duas a três semanas após a aplicação, por sua reação no solo. 

É um bom fertilizante, pois, com o revestimento, a lixiviação e volatilização diminuem em cerca de 50%. É promovida uma proteção gradual às ureases presentes nos solo e resíduos, auxiliando a lenta disponibilização para o solo. 

Adubações nitrogenadas

O sulfato de amônio é comumente utilizado para a adubação de cobertura. Como esse fertilizante conta com a presença de N e S, seu processo no solo promove a acidificação do mesmo. 

Matéria orgânica

O ciclo natural de decomposição da matéria orgânica promove a geração de ácidos orgânicos. 

Por isso, uma das formas de promover a acidificação do solo é a  adição de matéria orgânica como compostos ou turfa na camada arável do solo, de 0 cm a 20 cm.

O ideal é fazer aplicações graduais, podendo ser seguidas de aplicação de microrganismos benéficos como EM, Bacilus subilits ou biofertilizantes que possam contribuir com a microbiota do solo. Isso favorece a decomposição da matéria orgânica adicionada. 

Adubação verde

Como um dos principais papéis das leguminosas no solo é a adição de nitrogênio, esse passa naturalmente pelo processo de nitrificação e, consequentemente, lixiviação do nitrato, promovendo a acidificação do solo pela liberação maior de íons H+. 

Além disso, o processo de decomposição da massa verde também gera ácidos orgânicos no solo, ou seja, contribuindo para a acidificação do solo. 

solo alcalino - ilustração de Plantas de cobertura no sistema soja-milho-algodão no cerrado
Plantas de cobertura no sistema soja-milho-algodão no cerrado
(Fonte: IPNI)

Conclusão

Sem dúvidas, a correção dos solos alcalinos é fundamental para a produtividade da sua lavoura. 

Neste artigo, você viu diversas possibilidades de corrigir um solo alcalino, como adubação verde, adubação nitrogenada, utilização de enxofre e ureia, por exemplo.

A escolha da melhor prática do ponto de vista técnico e econômico será a chave do seu retorno econômico.

Realize o planejamento agrícola adequado, sem perda de tempo nem desperdícios, e obtenha maior rentabilidade em sua fazenda!

Você tem solo alcalino em sua propriedade? Como tem feito o manejo? Deixe seu comentário abaixo!

Manejos pré-plantio: o que você precisa para começar bem a próxima safra

Pré-plantio: confira as dicas de planejamento, adubação, correção e preparo do solo para as principais culturas agrícolas.

A safra atual está quase no fim e as expectativas para a próxima (2020/21) são grandes. As áreas para cultivo de soja e milho têm previsão de aumento de 2,5% e 1,8%, respectivamente.

Para muitos especialistas, o cenário é favorável e o Brasil poderá inclusive superar a produção da atual temporada.

Mas, antes de chegar à produção final, muito tem de ser feito! E tudo isso começa no pré-plantio!

Você conhece os principais manejos e cuidados que devem ser tomados nessa fase de preparação para a próxima safra? Confira a seguir! 

Principais atividades do pré-plantio

Os manejos pré-plantio diferem de cultura para cultura. Cada uma delas apresenta particularidades.

Nem todos os manejos feitos no pré-plantio da soja ou feijão serão realizados para o pré-plantio do milho ou algodão.

Entretanto, muitas das atividades que devem ser realizadas no pré-plantio são comuns a diversas culturas agrícolas.

Algumas delas são feitas diretamente no campo enquanto outras são feitas ainda no escritório, durante o planejamento agrícola.

Planejamento da safra

O planejamento da safra é o momento para fazer um bom levantamento da capacidade operacional e de ativos da propriedade.

Com base no levantamento, pode-se identificar se há necessidade de alterações ou ajustes nos planos.

Caracterização das condições químicas, físicas e biológicas do solo devem estar em mãos ou já em análise, para que possam ser planejadas as correções necessárias.

Essa caracterização será necessária para a correção do pH do solo e como base para os cálculos de necessidade e parcelamento da adubação.

Feito isso, é possível traçar um plano de ação e, dessa forma, executar todas as operações desejadas sem grandes problemas.

Adubos verdes e culturas de cobertura

Os adubos verdes têm como função principal ciclar e fornecer nutrientes para o solo ao mesmo tempo que atuam trazendo benefícios às características físicas do solo.

Muitas das espécies utilizadas como adubos verdes podem também ser utilizadas como culturas de cobertura, ou seja, para produção de palhada.

foto de exemplo de área com adubo verde e outra sem - pré-plantio

Exemplo de área com adubo verde e outra sem

Além da biomassa que produzem, muitos adubos verdes, principalmente as leguminosas, podem auxiliar na redução do uso de fertilizantes nitrogenados.

Existem diversos outros benefícios do uso de adubos verdes. Algumas espécies, como a crotalária, atua no controle de nematoides no pré-plantio da cultura agrícola.

O uso e a escolha do adubo verde dependerá do sistema de produção trabalhado e das atividades que você verá a seguir.

Adubação, correção e preparo do solo no pré-plantio

Essas três atividades, adubação, correção e preparo do solo estão intimamente relacionadas e dependem muito uma das outras. Portanto, requerem atenção redobrada!

Preparo do solo

O preparo do solo é um manejo que deve vir alinhado às demais atividades que se planeja realizar.

Os diferentes sistemas de produção, convencional, reduzido ou o plantio direto, demandam mais ou menos operações e interferem na forma como devem ser realizadas as demais atividades.

Isso deve ser levado em consideração para não perder o cronograma de atividades no pré-plantio nem errar na realização delas. 

Atenção para as boas práticas agrícolas de modo a evitar a compactação dos solos ou ainda uso excessivo de corretivos e fertilizantes.

Correção e adubação

A correção dos solos no pré-plantio depende muito dos solos que será trabalhado e, muitas vezes, pode exigir parcelamento. Isso deve ser levado em consideração no cronograma.

A adubação no pré-plantio é a primeira etapa do cronograma de adubação elaborado com base nos resultados da análise de solo.

Diferentes culturas apresentam diferentes necessidades: esse ponto é o que mais diverge nos manejos.

Aqui no Blog do Aegro nós já falamos sobre adubação específicas para citros, café, feijão, milho e soja

Dessecação pré-plantio

A dessecação pré-plantio, ou dessecação antecipada, é uma prática recomendada para eliminar toda a vegetação existente em uma área antes da semeadura da cultura.

Isso inclui plantas daninhas e restos de culturas antecessoras.

foto de Dessecação da área pelo menos 30 dias antes do plantio do cultivo agrícola - pré-plantio

Dessecação da área pelo menos 30 dias antes do plantio do cultivo agrícola
(Fonte: Dekalb)

A dessecação pode vir associada com o período de vazio sanitário, quando necessário, e deve ser realizada pelo menos 30 dias antes do plantio.

Seus objetivos são facilitar o plantio, permitir o desenvolvimento inicial das plantas, facilitar o controle de plantas daninhas e, é claro, aumentar a produtividade!

Vazio sanitário

O vazio sanitário é um período de ausência de plantas nas áreas, sejam ela cultivadas ou voluntárias (daninhas).

Portanto, nesse período pré-plantio, principalmente da soja, feijão e algodão, todas as espécies vegetais devem ser retiradas das áreas que serão cultivadas.

A duração desse período de vazio sanitário pré-plantio pode variar de 30 até 90 dias, de acordo com a localização dos plantios.

Tabela com Período de vazio sanitário nos diferentes estado e regiões brasileiras

Período de vazio sanitário nos diferentes estado e regiões brasileiras
(Fonte: Embrapa)

E você pode se perguntar: “Mas pra que eu preciso seguir o vazio sanitário?”

A aplicação desta técnica no pré-plantio visa minimizar a disseminação de pragas e doenças em restos culturais de uma safra para a outra.

Além disso, por ser regulamentado pelo Estado, produtores que descumprirem essa norma estão sujeitos a punições e multas.

De olho no clima

O clima é sempre o fator que mais preocupa, afinal, é muito difícil de prevê-lo, mesmo com os excelentes centros de pesquisa.

O excesso de chuva, ou ainda a falta dela, pode prejudicar e muito as lavouras, sendo fator determinante para o início das atividades, principalmente no pré-plantio.

Por esse motivo, é essencial acompanhar de perto as previsões meteorológicas.

El Niño, La Niña ou neutralidade

Tão importante quanto as previsões de curto prazo é o acompanhamento do fenômeno conhecido como ENOS, que pode se configurar como El Niño, La Niña ou neutralidade.

As perspectivas mais recentes para a primavera/verão de 2020 é de prevalecimento de La Niña seguido de neutralidade.

Projeções de probabilidade de ocorrência de El Niño, La Niña ou neutralidade

Projeções de probabilidade de ocorrência de El Niño, La Niña ou neutralidade
(Fonte: Notícias Agrícolas)

Isso significa que, para a região Sul, há maior possibilidade de escassez de chuvas, enquanto para o Nordeste, as chuvas devem vir em volume pouco acima do esperado.

As regiões Sudeste e Centro-Oeste entram na chamada “zona de transição” que é pouco afetada pelas mudanças trazidas por esse fenômeno.

Previsões do tempo

Você deve estar sempre atento também a mudanças abruptas e pode acompanhar tudo isso pelo Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia).

É preciso estar de olho nas variações climáticas que podem ser adversas, como possibilidade de seca prolongada, tempestades, geadas, etc. 

Você pode planejar corretamente seus manejos no pré-plantio acompanhando as previsões para a sua região aqui.

checklist planejamento agrícola Aegro

Conclusão

Os cultivo agrícolas apresentam particularidades e semelhanças e, muitas vezes, parte das atividades realizadas no pré-plantio destas são similares.

Entretanto, os períodos de realização das atividades podem variar para cada região, como no caso do vazio sanitário da soja.

Estar atento às condições climáticas da região para a próxima safra é essencial para um melhor planejamento das atividades do pré-plantio.

Para todas as atividades propostas é bom estar sempre atento às boas práticas agrícolas, evitando o desperdício de recursos, protegendo o ambiente e as pessoas!

Quais dessas ou outras atividades você realiza no pré-plantio em sua região? Conta pra gente nos comentários!

Qualidade do solo: o que é e como fazer a avaliação em sua propriedade

Qualidade do solo: entenda os indicadores de qualidade química, física e biológica que devem ser considerados.

Na última safra, o Brasil produziu cerca de 255 milhões de toneladas de grãos, um aumento de quase 5% em relação à safra passada.

Todo esse alimento, fibra e combustível produzido tem algo em comum: eles dependem do solo não apenas como como substrato, mas também como fonte de nutrientes, água e oxigênio.

Pode parecer que existe solo para “dar e vender”, mas ele é um recurso importante que é “gerado” a uma velocidade de apenas 0,01 a 0,02 milímetros ao ano, enquanto a média mundial é de perdas de 1,54 mm ao ano. Ou seja, perde-se a camada arável mais rápido do que a natureza consegue formá-la. 

Por isso, é essencial entender o que é qualidade de solo ou saúde do solo, quais os indicadores e como conseguir um solo saudável que possa entregar todo o potencial produtivo da lavoura.

Qualidade do solo

O solo é um ambiente vivo e dinâmico. A ciência ainda não conseguiu entender todos os processos que ocorrem nele, apenas indicadores relacionados a solos saudáveis e que permitem às plantas atingirem altas produtividades.

De forma geral, a qualidade do solo depende de seus próprios atributos, mas também das práticas de uso e manejo, além de interações com o ecossistema. Saber a classificação do solo também é essencial para determinar a qualidade.

As plantas se relacionam com os solos através das raízes e são capazes de selecionar microrganismos no entorno do sistema radicular a fim de auxiliar no seu desenvolvimento e na obtenção de nutrientes por exemplo.

Mas para as relações biológicas acontecerem, plantas e microrganismos precisam de um ambiente química e fisicamente favoráveis.

A seguir vamos falar sobre cada um desses pontos com mais detalhes. 

Qualidade química do solo

Os indicadores da qualidade química do solo são os mais frequentemente utilizados e o que você deve estar mais acostumado.

Normalmente, a atenção maior é dada ao pH do solo e ao teor de macro e micronutrientes. Entretanto, existem alguns outros indicadores extremamente importantes nas análises de solo.

Um deles é o teor de alumínio. Esse elemento é extremamente tóxico para as plantas na sua forma solúvel, inibindo o crescimento radicular. A calagem e o uso de gesso são técnicas já consolidadas para controlar o alumínio no solo.

Outro indicador importante é a CTC do solo. Ela diz qual é a capacidade de nutrientes que o solo pode reter sem sofrer perdas por lixiviação. A CTC dos solos brasileiros está intimamente ligada com outro indicador que também se relaciona com a parte física e biológica: o teor de matéria orgânica.

gráfico com a relação entre o teor de matéria orgânica do solo (MO) e a capacidade de troca de cátions do solo (CTC)

Relação entre o teor de matéria orgânica do solo (MO) e a capacidade de troca de cátions do solo (CTC)
(Fonte: Barbosa, 2017)

A matéria orgânica tem uma altíssima CTC e, quanto maior seu teor no solo, maior a capacidade desse solo reter os nutrientes aplicados. 

Para aumentar a quantidade de matéria orgânica, o jeito é só adicionando material vegetal de decomposição lenta ao solo, ou seja, culturas de cobertura e, principalmente, gramíneas.

Qualidade física do solo

Continuando no assunto matéria orgânica, ela influencia a qualidade física do solo também, melhorando indicadores como: densidade do solo, porosidade e estabilidade dos agregados.

Todos os indicadores da qualidade física do solo têm como objetivo garantir que a planta tenha acesso à água e oxigênio para se desenvolver.

Para crescer, as raízes precisam de um solo que apresente baixa resistência, ou seja, que não esteja compactado.

O problema da compactação

A compactação destrói os poros do solo, que é por onde a água e o ar passam. Dessa forma, um solo compactado inibe o crescimento profundo do sistema radicular, não permitindo que as plantas acessem a água contida nas camadas mais profundas.

Esse problema se torna mais visível em anos com veranicos ou secas prolongadas. As plantas com o sistema radicular profundo conseguem se sair melhor nesses períodos e têm sua produtividade menos afetada por esses eventos climáticos.

O plantio convencional (com arado e grade) parece melhorar as condições físicas do solo em um primeiro momento. 

Contudo, esses implementos quebram os agregados do solo, fazendo com que, após as primeiras chuvas, os poros do solo sejam obstruídos. Isso causa uma camada compactada abaixo de onde esses implementos passam. Essa camada de impedimento físico irá limitar a profundidade do sistema radicular.

Mas aí você pensa: é só usar um subsolador. Infelizmente essa solução é provisória.

O processo de subsolagem faz o mesmo trabalho do arado e da grade, mas em profundidade. Ele quebra a compactação, mas quebra os agregados também, fazendo com que, após alguns meses, as partículas se “assentem” novamente e formem uma nova camada de impedimento.

qualidade do solo

Resistência à penetração do solo; A) 6 meses após a implantação dos tratamentos; B) 18 meses após a implantação dos tratamentos.  DMS – diferença mínima significativa.
(Fonte: Piccin, 2020)

Para evitar esse problema, o melhor é utilizar culturas de cobertura com um sistema radicular amplo e agressivo. Dessa forma, após a subsolagem, as raízes irão estruturar o solo, impedindo que uma nova camada de compactação se forme, além de incorporar matéria orgânica ao solo.

Qualidade biológica do solo

A cobertura do solo e a matéria orgânica estão intimamente relacionadas com a qualidade biológica do solo.

Os microrganismos do solo são os responsáveis pela ciclagem de nutrientes, tornando-os disponíveis para as plantas.

Um caso muito conhecido é o da fixação biológica de nitrogênio (FBN) na soja. Os microrganismos fixadores conseguem suprir uma boa parte do nitrogênio requerido pela planta (50%-70%).

gráfico que mostra Nitrogênio derivado da atmosfera (FBN) ao longo do ciclo da soja

Nitrogênio derivado da atmosfera (FBN) ao longo do ciclo da soja
(Fonte: Zambon, 2020)

Dessa forma, principalmente em lavouras de altas produtividades (acima de 4 toneladas), quem fornece o restante de nitrogênio demandando pela planta é o solo, através dos microrganismos.

Eles irão mineralizar a matéria orgânica, fornecendo nitrogênio para o ambiente do solo. Isso mostra como é de vital importância a qualidade biológica dos solos.

Para se atentar a isso, utilizam-se alguns indicadores como:

  • presença de minhocas e insetos;
  • massa microbiana;
  • taxa de respiração do solo;
  • algumas enzimas específicas (que permitem verificar a existência de organismos que podem aumentar a disponibilidade de fósforo, por exemplo).

Outro indicador visual é a cor do solo. A matéria orgânica tende a “tingir” os solos com tons de marrom escuro, principalmente na superfície.

cálculo de calagem Aegro

Conclusão

A qualidade do solo pode ser acompanhada com diversos indicadores que ajudam a escolher o manejo necessário para sanar possíveis problemas.

Você deve sempre se atentar a esses indicadores, pois eles mostram, com antecedência, de onde o prejuízo pode vir.

Acompanhar a análise química do solo é essencial, mas não é tudo! É preciso considerar os indicadores físicos e biológicos do solo.

Não pense que para isso são necessárias análises caras e complexas: o olho de quem está todo dia no campo consegue perceber esses problemas!

Não são necessárias mais que algumas “cavucadas” para notar um possível problema de compactação na subsuperfície do solo ou a falta de “vida”, como minhocas e insetos.

Então, não há desculpas! Atente-se à qualidade do solo para garantir que ele possa oferecer o ambiente ótimo para o potencial produtivo da lavoura. 

>> Leia mais:

“Como melhorar a qualidade do solo com o terraceamento”

“Como analisar o DNA do solo pode te ajudar a prevenir problemas e fazer um manejo mais efetivo da lavoura

“Como a agricultura regenerativa pode te dar bons resultados a longo prazo”

“O que é e por que investir na análise microbiológica do solo”

Como está a qualidade do solo em sua propriedade? Restou alguma dúvida? Deixe seu comentário!

Como realizar o preparo do solo para plantio de milho

Preparo do solo para plantio de milho: entenda qual é o sistema mais adequado para sua propriedade.

O milho é uma cultura de grande importância no agronegócio brasileiro. Só na temporada 2019/20, mais de 106 milhões de toneladas devem ser produzidas em primeira, segunda e terceira safras.

Para alcançar o melhor potencial da lavoura, vários fatores devem ser considerados. Um dos primeiros é o preparo do solo.

Quais são as condições ideais para o cultivo do milho? Qual é o sistema de preparo do solo mais adequado? 

Confira como realizar o melhor preparo do solo para plantio de milho a seguir!

Preparo do solo para plantio de milho

O preparo do solo abrange um conjunto de operações que visam proporcionar condições favoráveis à semeadura e desenvolvimento adequado da cultura durante seu ciclo.

Alcançar altas produtividades também depende do uso sustentável desse solo, do meio ambiente e dos recursos hídricos.

Para que você decida qual sistema de preparo do solo é mais adequado para sua propriedade, antes precisa conhecer mais a fundo os sistemas de manejo do solo. Vou explicar melhor:

Sistemas de manejo do solo

Sistemas de manejo incluem o preparo do solo (preparo convencional, preparo mínimo/reduzido e preparo conservacionista), culturas de rotação e/ou sucessão e o controle de plantas daninhas.

O preparo convencional é qualquer sistema que deixa menos de 15% da superfície do solo coberta com resíduos após o plantio. 

O preparo reduzido deixa de 15% a 30% de cobertura. Já o preparo conservacionista, como o plantio direto, deve apresentar mais de 30% de cobertura.

esquema de um sistema conservacionista com definições de cultivo: preparo convencional, cultivo mínimo e plantio direto.

Definições de cultivo
(Fonte: adaptado de Corn Agronomy)

O preparo adequado do solo também precisa considerar a época do cultivo – se primeira, segunda ou terceira safras. 

O milho safra é plantado entre outubro e dezembro. Já o milho safrinha pode ser cultivado entre janeiro e abril. Há ainda uma terceira safra incipiente de milho sendo plantada principalmente no nordeste, de abril a junho.

Diferentes épocas refletem condições climáticas diferentes, que interferem no ciclo da cultura e também nas condições de umidade do solo para o preparo.

Para que você faça um bom planejamento do preparo do solo para plantio de milho é preciso entender algumas características e propriedades do solo.

Principais características dos solos do Brasil

O solo é o resultado dos fatores de formação: material de origem, relevo, organismos, clima e tempo. 

Portanto, cada solo possui sua “identidade”, proporcionada pela interação entre estes fatores. No Brasil, ocorre a predominância de solos ácidos e muito intemperizados.

Assim, as práticas de correção do solo são necessárias na maior parte dos casos, pois o milho possui baixa tolerância à acidez. A condição de pH ideal é em torno de 6,0. 

A análise de solo deve ser realizada para que o produtor determine a necessidade de correção e/ou adubação do solo visando a produtividade esperada.  

foto de uma plantação de milho em desenvolvimento com folhas verdes.

(Fonte: Revista Globo Rural)

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Características e propriedades do solo

A textura e a estrutura do solo são essenciais para o entendimento da resistência do solo aos impactos do sistema de preparo adotado.

  • Textura – uma análise física do solo (granulometria) fornecerá dados sobre as proporções entre os diferentes tamanhos de partículas primárias (areia, silte e argila).

    Os resultados dessa análise de solo podem auxiliar na tomada de decisão sobre o preparo do solo para plantio do milho. Há uma tendência de solos mais arenosos serem mais propensos à erosão em comparação aos solos argilosos
  • Estrutura – é o arranjo das partículas primárias do solo formando agregados. Estes agregados definem o sistema poroso do solo. A estrutura do solo pode ser analisada no campo de forma visual (morfologia) e por análise de solo com amostras indeformadas. 

A agregação em solos tropicais é resultante dos constituintes mineralógicos, como os óxidos de ferro e alumínio e a caulinita, matéria orgânica e organismos.

Devido ao maior efeito cimentante dos óxidos, solos com altas proporções desses minerais geralmente são mais resistentes e possuem elevada resiliência física à compactação do solo.

Solos mais resistentes aos processos erosivos, como alguns solos argilosos com altas proporções de óxidos de ferro e alumínio, podem ser recomendados para cultivo do milho em sistema convencional.

Já para solos menos resistentes, como os arenosos, recomenda-se sistemas mais conservacionistas, como o plantio direto.

Compactação do solo

A compactação é um dos efeitos do manejo que afeta diretamente a estrutura do solo. Como consequência, há aumentos da densidade, redução da porosidade e da capacidade de infiltração da água no solo, levando ao aumento da erosão.  

duas fotos, uma apresenta uma mão segurando uma porção da terra e a outra mostra uma quantidade de solo com matéria orgânica

Importância dos óxidos de Fe e Al e da matéria orgânica na formação da estrutura do solo 
(Fonte: arquivo pessoal da autora)

As condições de umidade do solo para o preparo do milho conforme a época do ano também merece destaque por interferir na consistência do solo.

A consistência é importante para se definir o bom preparo, que deve ser realizado quando o solo apresenta conteúdo de água equivalente à consistência friável

Estudos mostram perdas na produtividade do milho 2ª safra em função do estado de compactação do solo, em conteúdo de água equivalente à capacidade de campo com resistência do solo à penetração – RP, equivalente a 2,6 MPa.

Outro estudo mostrou que, em sistema convencional, valores de RP variando entre 0,9 e 2,0 MPa não restringiram a produtividade de grãos de milho.

Preparo convencional x plantio direto na cultura do milho

Diferentes preparos do solo para plantio de milho têm vantagens e desvantagens.

No preparo convencional, pode ocorrer um maior controle de plantas daninhas. Entretanto, há redução dos níveis de matéria orgânica e maior risco de erosão, principalmente em solos arenosos.

No plantio direto, existe uma alta dependência de herbicidas no controle de plantas daninhas. Não há incorporação de corretivos, sendo um sistema pouco recomendado para solos de baixa drenagem.

Quando bem manejado com práticas de rotação, o sistema de plantio direto pode trazer benefícios principalmente durante o cultivo do milho safrinha. Isso porque este sistema pode auxiliar no aumento do conteúdo de água disponível para a cultura e reduzir as perdas por evaporação.

Conclusão

Nesse texto você conferiu as recomendações sobre o preparo do solo para plantio de milho.

Você viu como as características e propriedades dos solos podem interferir nos sistemas de preparo. 

É importante conhecer a textura e estrutura do solo na tomada de decisão de práticas adequadas de manejo.

Espero que este texto tenha ajudado você a pensar um pouco sobre o como está o manejo do seu solo e acertar no preparo para seu próximo plantio!

>> Leia mais:

“O que esperar do milho safrinha em 2021?”

“Tipos de grãos de milho: tudo o que você precisa saber para fazer a escolha certeira”

Qual é sua maior dificuldade no preparo do solo para plantio de milho? Você está usando as técnicas adequadas? Adoraria ler seu comentário!

Como evitar e corrigir a compactação do solo na sua propriedade

Compactação do solo: o que é, como ocorre e o que fazer para contornar esse problema

O solo é a base da produção agrícola e a maior riqueza das propriedades rurais. É ele que fornece sustento e os nutrientes necessários para o desenvolvimento das plantas.

Mas a realização de práticas agronômicas excessivas com maquinário pesado pode causar o desequilíbrio da estrutura do solo, levando-o à compactação.

Você certamente já ouviu falar sobre isso, mas você sabe o que realmente é e como acontece a compactação do solo? Confira a resposta para essa e outras perguntas a seguir!

Qualidade física do solo

Quando se pensa em solos de boa qualidade, normalmente a primeira coisa que vem à mente é a fertilidade do solo, ou seja, um solo bom é um solo rico em nutrientes.

Entretanto, nos últimos anos, temos percebido que, além dos atributos químicos, associados à fertilidade, os atributos físicos também são extremamente importantes.

Existem diversos atributos que podem ser utilizados para mensurar a qualidade física do solo (QFS), como:

  • a porosidade total; 
  • a distribuição e tamanho de poros;
  • a distribuição e tamanho de partículas;
  • a densidade do solo;
  • a resistência do solo à penetração, dentre outros.

É importante lembrar que os solos são compostos de dois componentes: o sólido (minerais e matéria orgânica) e o poroso (ar e água).

E as proporções desses componentes variam de acordo com o tipo de solo que se está trabalhando.

Esquema dos diferentes componentes do solo: sólidos e poroso

Esquema dos diferentes componentes do solo: sólidos e poroso
(Fonte: Imagem da internet)

A avaliação desses atributos é um pouco complexa e muitas vezes demanda análises laboratoriais.

Antes de partir para a análise laboratorial, para facilitar a identificação da QFS, pode-se trabalhar com alguns indicadores: 

  • curva de retenção de água;
  • condutividade hidráulica;
  • porosidade; e 
  • ponto de inflexão.
Esquema de uma curva de retenção de água e seu ponto de inflexão (A); à direita (B), exemplos de curvas de um solo degradado e um solo não degradado.

Esquema de uma curva de retenção de água e seu ponto de inflexão (A); à direita (B), exemplos de curvas de um solo degradado e um solo não degradado.
(Fonte: Stefanoski et al., 2013)

Esses indicadores serão os primeiros indícios para verificação da compactação do solo. 

Já falei sobre os indicadores, mas afinal, o que é a compactação do solo?

O que é e como ocorre a compactação do solo?

A compactação do solo nada mais é do que um rearranjo das frações sólidas e porosas do solo.

Nesse rearranjo, os espaços porosos, com água e/ou ar, são reduzidos e gradualmente substituídos por partículas sólidas. Consequentemente, há uma redução da porosidade do solo e um aumento das partículas sólidas por unidade de volume e, portanto, aumento da densidade do solo.

Esquema do solo e suas frações sob diferentes condições de compactação, desde sem compactação (esquerda) a estágios mais avançados (direita).

Esquema do solo e suas frações sob diferentes condições de compactação, desde sem compactação (esquerda) a estágios mais avançados (direita).
(Fonte: Horn, 2003)

A compactação do solo é frequentemente associada à pressão excessiva exercida pelo maquinário e implementos agrícolas utilizados no manejo das lavouras.

As fontes de pressão no solo variam desde as bordas cortantes dos discos de arados e grades até os sulcadores de semeadoras e os próprios pneus dos tratores.

As mudanças ocasionadas nos atributos físicos do solo por conta dessa pressão excessiva levam à formação de uma faixa compactada, popularmente conhecida como “pé-de-grade” ou “pé-de-arado”.

Tendências e problemas da compactação

Alguns solos são mais suscetíveis à compactação do que outros. Isso se dá principalmente aos teores de matéria orgânica, textura e granulometria do solo.

Solos franco-argilosos a argilosos normalmente têm maior tendência à compactação do que solos arenosos.

Esquema de um solo sem impedimentos no qual repetidas operações de revolvimento levaram à compactação pé-de-grade

Esquema de um solo sem impedimentos no qual repetidas operações de revolvimento levaram à compactação
(Fonte: Embrapa, 2005)

Os problemas decorrentes da compactação do solo variam de acordo com a época do ano e as espécies cultivadas.

Plantas de ciclo anual, como milho e soja, principalmente, tendem a sofrer mais com solos compactados do que plantas perenes.

Na estação seca, a compactação do solo limita o crescimento do sistema radicular e interfere no acesso das plantas à água de camadas mais profundas.

Já na estação chuvosa, a faixa de compactação limita a drenagem de água, podendo ocasionar encharcamentos nas lavouras.

Se não manejada, a compactação do solo pode e irá afetar o desenvolvimento das lavouras, desde o plantio até a colheita. 

Tabela com diferentes sintomas visuais em plantas e no solo do efeito da compactação do solo

Diferentes sintomas visuais em plantas e no solo do efeito da compactação do solo
(Fonte: adaptado de Mantovani, 1987)

Como saber se meu solo está compactado?

Como expliquei anteriormente, solos apresentam alguns sinais clássicos quando estão compactados.

Além disso, existem diversos indicadores que devem ser acompanhados para auxiliar na identificação da compactação.

Porém, para aumentar a certeza sobre o diagnóstico de compactação, a melhor forma é através da análise da densidade global do solo, o que requer análise laboratorial.

Manter um histórico das medidas das análises de diferentes áreas é essencial para o monitoramento da saúde do solo.

Lembre-se, quando se trata de compactação do solo, o melhor é evitá-la. Caso não seja possível, diagnósticos precoces podem evitar enormes prejuízos!

Foto de um Penetrômetro, utilizado para mensurar a resistência do solo à penetração

Penetrômetro utilizado para mensurar a resistência do solo à penetração
(Fonte: Douglas Jandrey)

Manejo de solos compactados

A melhor forma de manejar solos compactados é evitando que a compactação do solo ocorra. Para isso, é importante ter planejado a rotação de culturas, o controle de tráfego das máquinas nas áreas e manter um histórico das características físicas do solo.

Não é uma tarefa fácil, mas é melhor prevenir do que remediar!

Nos últimos anos, o uso de escarificadores e subsoladores tem sido a principal forma de remediação para áreas com compactação do solo. 

Esses equipamentos são utilizados para romper essas faixas de compactação formadas nos solos, buscando aumentar a porosidade, permitir a drenagem e evitar encharcamento.

foto de subsolador (esquerda) e escarificador (direita) de solo

Subsolador (esquerda) e escarificador (direita) de solo
(Fonte: IF Pernambuco)

Trabalhar a fertilidade do solo buscando aumentar os níveis de matéria orgânica dele é outra estratégia importante para se ter em mente.

A matéria orgânica aumenta a porosidade do solo, a distribuição do tamanho dos poros e facilita a infiltração da água.

O uso de culturas de cobertura e também adubos verdes na entressafra pode trazer resultados positivos! 

cálculo de calagem Aegro

Conclusão

Os solos, além de essenciais para a produção agrícola, são um recurso limitado e seus componentes requerem longos períodos de tempo para serem restaurados.

A compactação do solo é um dos muitos problemas que podem ser enfrentados em suas lavouras. 

Felizmente, é possível reverter processos de compactação, entretanto, o melhor caminho é a prevenção.

Fazer o monitoramento dos atributos de qualidade física do solo também é essencial para o bom desenvolvimento das lavouras.

>> Leia mais:

“Entenda as causas da degradação do solo e como evitar sua ocorrência”

“Entenda a importância da construção do perfil do solo e como ela impacta sua produtividade”

“Como tornar o cultivo em terras baixas mais eficiente e lucrativo”

E você, já enfrentou problemas de compactação do solo em sua lavoura? Conta pra gente nos comentários!

5 passos para acertar na semeadura do feijão

Semeadura do feijão: como se planejar e quais cuidados adotar quanto ao manejo da cultura para obter altas produtividades

O feijão é um dos grãos mais cultivados do Brasil, com uma média estimada em 3 milhões de toneladas por ano.

Mas nem sempre a rentabilidade da lavoura é boa, pois a flutuação de preços no mercado também é alta.

Alguns cuidados na semeadura podem te ajudar a ter uma produção melhor e mais lucrativa.

Neste artigo, vou explicar os 5 principais passos para acertar na semeadura do feijão, entre eles como calcular a quantidade de plantas que poderá te dar um ótimo resultado produtivo. Acompanhe!

1- Método de manejo do solo

Adequar as condições de solo é essencial para uma boa semeadura, garantindo uma boa germinação e estabelecimento da cultura. Isso faz parte dos cuidados antes da semeadura do feijão.

Existem três métodos de manejo do solo, sendo eles:

O método que será adotado irá depender das condições do solo, da declividade e até mesmo do tipo de solo. 

O manejo a ser seguido também é baseado na quantidade de resíduo vegetal e na população de plantas daninhas, tudo com enfoque na melhor plantabilidade. 

foto de semeadura de feijão em sistema de plantio direto

Semeadura de feijão em sistema de plantio direto
(Fonte: Embrapa)

Confira também “Como fazer o preparo do solo para plantio de feijão”!

2- Atenção às épocas de semeadura do feijão

Para a semeadura do feijão, existem três épocas, sendo chamadas de feijão das águas, feijão da seca e feijão de inverno. 

Vou explicar melhor cada uma delas a seguir:

Feijão das águas

Semeado normalmente entre os meses de setembro a novembro, podendo ter uma pequena variação de região para região devido às variações pluviométricas.

O feijão semeado nessa época está exposto a condições de veranicos e falta de água no plantio

Quando plantado tardiamente, corre o risco de umidade excessiva na colheita, o que compromete a qualidade do produto final, pois acarretar em muitos grãos brotados. 

Feijão da seca 

Conhecido também por feijão safrinha, o feijão da seca é plantado entre os meses de janeiro a março (também pode haver uma pequena variação). 

Uma das principais dificuldades dessa época é o excesso de chuva na semeadura, diminuindo a eficiência da operação.  

Há ainda possibilidade de sofrer com veranicos em meados do ciclo da cultura (má distribuição da chuva), o que pode comprometer a produtividade esperada.

Quando plantado antecipadamente, pode ter grande umidade na colheita. Quando plantado tardiamente, pode sofrer com geadas. 

Feijão de inverno

O feijão de terceira época é plantado na estação outono-inverno, entre os meses de maio e julho. Ou seja, em uma época de escassez de chuva, requerendo irrigação

Nesse caso, o cultivo do feijão deve ser realizado em regiões onde o inverno é mais brando, com pouca ou nenhuma ocorrência de geadas. 

Nessa época, o feijoeiro apresenta ótima condições para a produção de semente devido à menor incidência de pragas e doenças

Além disso, o feijão de inverno propicia um melhor uso do solo, pois, no inverno, poucas culturas que se adaptam às condições climáticas. E ainda tem bom preço no mercado! 

tabela com épocas de semeadura para a cultura do feijão nos estados da região Central brasileira

Épocas de semeadura para a cultura do feijão nos estados da região Central brasileira
(Fonte:adaptado de Paula Junior et al., 2008, disponível em e-Tec Brasil

Agora que você viu os cuidados que devem ser tomados antes da semeadura, veja agora os cuidados na semeadura do feijão!

3- Velocidade e profundidade da semeadura

A velocidade e profundidade de semeadura são pontos importantes para uma boa produtividade da cultura do feijoeiro. Isso irá garantir homogeneidade de emergência e boa distribuição de semente e adubo.

As velocidades que asseguram boa plantabilidade estão em torno de 4 km/h a 6 km/h. Velocidades inferiores a 4 km/h comprometem o rendimento da máquina. Acima de 6 km/h, provocam não uniformidade de semeadura.  

Existe também diferença de velocidade de plantio quando o cultivo é feito de modo convencional ou pelo SPD.

No SPD, o plantio deve ser mais lento para que haja menor movimentação de solo possível, pois é sabido que, quanto mais rápido a semeadora passar, maior deslocamento lateral de solo. 

Quanto à profundidade, o feijão é semeado, em geral, a profundidades de 3 cm a 6 cm. As oscilações vão variar de acordo com a textura do solo. 

Em um solo arenoso, a semeadura é mais profunda: de 5 cm a 6 cm, com objetivo da semente estar alocada em regiões mais úmidas. 

Já em solo argiloso, a semeadura do feijão pode ser mais superficial: de 3 cm a 4 cm, pois é um solo que segura mais a umidade. 

4- Defina a densidade de plantio adequada

A densidade adequada para uma área é importante pois, com o número ótimo de plantas, conseguimos altas produtividades e rentabilidades. 

Quantidades de plantas inferiores às adequadas significa falhas na lavoura. Já quantidades superiores podem reduzir a produção, tendo em vista a disputa entre as plantas por água, luz e nutrientes.

No caso do feijoeiro, a densidade de plantio adequada é aquela em que as plantas, quando em período de florescimento, possam recobrir toda a área. 

A densidade é reflexo dos espaçamento entre linhas e do número de plantas por metro linear. 

O espaçamento é influenciado pelo hábito de crescimento do feijoeiro, como mostra a imagem abaixo: 

ilustração com hábitos de crescimento do feijoeiro: tipo I Ereto, tipo II Semiereto, tipo III Prostado e tipo IV Trepador.

(Fonte: Embrapa)

O feijão de hábito de crescimento do tipo 4 não é usado em grandes áreas, tendo em vista a sua dificuldade de condução, requerendo um tutor. 

Os maiores espaçamentos são vistos em feijões do tipo 3,  variando de 50 a 60 cm entre linha. Já os do tipo 1 e 2 requerem, normalmente, um espaçamento em torno de 40 a 50 cm entre linha. 

O número de plantas por hectare varia em média de 250 mil a 300 mil plantas/ha. 

Pesquisadores da Embrapa relatam que os melhores rendimentos têm sido obtidos com espaçamentos de 40 a 60 cm entre linhas e com 10 a 15 plantas/m. 

Cálculo de uso de sementes

Para calcular a quantidade de semente necessária em Kg/ha é essencial o levantamento dos seguintes dados: 

  1. Nº de plantas por metro linear (D);
  2. Peso de 100 sementes (gramas) do feijão plantado, lembrando que varia de cultivar para cultivar (P); 
  3. Qual o poder germinativo da semente (%) (PG);
  4. Qual o espaçamento utilizado entre linha, em metro (E). 

Desta forma, torna-se possível a utilização da fórmula que permite a obtenção da quantidade de sementes em Kg/ha (Q):

fórmula de Q(Kg/ha) igual D vezes P vezes 10 dividido por PG vezes E
Características de algumas cultivares de feijão indicadas para o estado de Minas Gerais

Características de algumas cultivares de feijão indicadas para o estado de Minas Gerais
(Fonte: Adaptado de Paula Junior et al., 2008, disponível em e-Tec Brasil)

5- Previna-se com o tratamento de sementes

Sabemos que a antracnose, bacteriose e a mancha angular são doenças bastante comuns no feijoeiro e que são transmitidas por sementes. 

Há também os insetos de solo que podem comprometer severamente o estande plantas em sua lavoura. 

Porém, existe uma forma de lidar com essas enfermidade que é através dos tratamento de sementes

O tratamento de semente é uma forma preventiva de assegurar que a plântula/planta possa crescer e se desenvolver sem que haja empecilho logo no início do seu crescimento. 

Desta forma, conseguimos assegurar o estande de planta ao qual foi planejado uma determinada produção. 

Conclusão

A semeadura do feijão é uma etapa que requer todo cuidado e zelo, pois é o início de todo um sistema produtivo. 

Desta maneira, planejar a semeadura, saber a quantidade de plantas por hectare e tomar os devidos cuidados da operação podem assegurar sucesso produtivo. 

Planeje-se bem, conheça sua propriedade e faça sua semeadura de uma forma segura, sem contratempos. 

>> Leia mais:

Manejos essenciais em cada um dos estádios fenológicos do feijão

Conheça as melhores práticas de adubo para feijão

Você já planejou sua semeadura do feijão? Deixe seu comentário!

Por que realizar a cobertura de solo no inverno

Cobertura de solo no inverno: como escolher a melhor cultura para sua lavoura e as opções que podem ser utilizadas nas diferentes regiões agrícolas

O Brasil é o quinto maior país do mundo, com uma extensão superior a 8,5 milhões de quilômetros quadrados.

Com todo esse tamanho, o potencial agricultável do país é imenso! Mas para atingir todo esse potencial precisamos de uma série de cuidados, a começar pelo solo e pela água.

Garantir uma boa cobertura de solo permite usar toda sua capacidade de armazenamento, favorecendo a lavoura principalmente em tempos de seca.

E por que você deve fazer a cobertura de solo no inverno? Quais as melhores culturas para isso? Entenda a seguir:

Cobertura de solo no inverno: por quê?

A cobertura do solo é essencial na agricultura brasileira. Ela ajuda a diminuir as perdas de água por evaporação e também a conter a erosão, aumentando o percentual hídrico nos poros dos solos.

Mas as plantas cultivadas na safra de verão não fornecem palha em quantidade suficiente para uma cobertura efetiva. Portanto, uma ótima saída é fazer a cobertura de solo no inverno (clima subtropical) ou outono (clima tropical).

Não existe uma única cultura ou melhor espécie a ser escolhida. É preciso considerar uma série de fatores, como vou explicar mais adiante neste texto.

Mas, antes, quero que você entenda melhor alguns pontos sobre o solo e sobre a importância da água para atingir uma alta produtividade!

Solo e água

O solo é constituído de partículas de diferentes tamanhos. Nós as classificamos como:

  • argila (para as partículas pequenas);
  • silte (para as partículas médias);
  • areia (para as partículas grandes).

Essas partículas se juntam para formar o solo e os espaços entre os “aglomerados” de partículas são os chamados poros do solo.

A água fica retida exatamente nesses poros sendo que, quanto menor o poro, mais fortemente a água ficará retida e mais difícil será ela escorrer até o lençol freático.

Pois bem! A quantidade de poros grandes ou pequenos (macro e microporos) está relacionada com a quantidade de cada uma das partículas e de matéria orgânica que compõe o solo.

Tente imaginar uma caixa d’água cheia de bolas de futebol e uma cheia de bolinhas de pingue-pongue. Os espaços existentes entre as bolas de futebol são grandes enquanto que as bolinhas de pingue-pongue deixam pequenos espaços entre si.

Assim funciona nos solos arenosos, que apresentam uma grande quantidade de macroporos (grandes espaços), e nos solos argilosos, que têm uma infinidade de microporos (espaços pequenos).

Assim, fica claro o motivo de plantas cultivadas em solos arenosos sofrerem mais com o estresse hídrico. 

Esses solos perdem muita água por percolação (quando a água desce no solo até o lençol freático) se comparado a solos mais argilosos.

Agora que entendemos onde está a água do solo, vamos ver como ela se perde.

Perdas de água no solo

A água chega até o solo através das chuvas ou pela irrigação. Quando entra em contato com o solo, a água tem basicamente dois caminhos: infiltrar-se no solo ou escorrer pela superfície.

O que irá ditar quanto de água irá para cada caminho é o relevo (quanto mais inclinado, maior o escorrimento superficial) e a cobertura do solo.

Nesse primeiro momento, até 30% da água pode ser perdida por escorrimento superficial e não ficará disponível para as plantas do local.

A parcela da água que se infiltra no solo preencherá os macros e microporos (como visto antes) e estará disponível para as plantas.

Uma grande parte da água do solo (20% a 40%) é perdida por evaporação. Essa água, diferente da que é absorvida e transpirada pelas plantas, é uma perda que não gera produção.

Ilustração de sistema solo-planta-atmosfera

Sistema solo-planta-atmosfera
(Fonte: Esalq)

Como sabemos, a água é essencial para a produção agrícola e, perdê-la em vão, sem que ela sequer auxilie no ciclo da lavoura, pode ser um grande prejuízo. 

Importância de se fazer a cobertura de solo no inverno

O principal manejo que podemos adotar para impedir a perda de água por evaporação é cobrir o solo.

E como eu já expliquei anteriormente, as plantas cultivadas na safra de verão não fornecem palha nas quantidades necessárias para uma cobertura efetiva do solo.

Gráfico sobre a perda diária de água por evaporação em plantio convencional (PC) e plantio direto com 0,3 e 6 toneladas de palha por hectare (PD 0, PD 3 e PD 6 respectivamente).

Perda diária de água por evaporação em plantio convencional (PC) e plantio direto com 0,3 e 6 toneladas de palha por hectare (PD 0, PD 3 e PD 6 respectivamente).
(Fonte: Andrade, 2008)

Dessa forma, as safras de outono (clima tropical) ou de inverno (clima subtropical) são uma ótima saída para o cultivo de culturas de cobertura.

Não existe uma única cultura de cobertura que se adeque a todas as situações. A temperatura, o regime de chuvas e as culturas semeadas em sucessão determinarão a melhor espécie a ser escolhida.

Como regra geral, as culturas de cobertura devem apresentar:

  • fácil estabelecimento;
  • rápido crescimento; e 
  • proporcionar uma boa cobertura do solo. 

Outro fator a se considerar são as doenças e pragas potenciais da espécie e se elas atacam a cultura principal. 

De modo geral, o recomendado é optar por gramíneas em sucessão a leguminosas como a soja. 

Opções de culturas para cobertura do solo no inverno

Nas regiões tropicais do Centro-Oeste, a cultura do milheto é uma ótima opção, juntamente com o consórcio entre milho com forrageiras tropicais como as braquiárias.

Em regiões de maior déficit hídrico no Centro-Oeste, a cultura do sorgo pode ser uma opção mais viável para a segunda safra (consorciado ou em monocultivo).

Nas regiões subtropicais, a aveia tem sido uma das principais plantas de cobertura de inverno adotadas na região sul do Brasil, acompanhada do azevém e do centeio.

O que determina quando utilizar cada uma é a temperatura da região. 

A aveia é extremamente suscetível a geadas, enquanto o centeio é uma opção mais segura em regiões de baixas temperaturas no inverno. 

Essas plantas têm algo em comum: são todas gramíneas. Como já expliquei neste texto sobre plantio direto na palha, as gramíneas fornecem uma palha mais resistente à decomposição e que permanece por mais tempo cobrindo o solo.

Diferente das leguminosas (utilizadas na adubação verde), como o feijão guandu, a ervilhaca, etc., as gramíneas apresentam alta relação entre carbono e nitrogênio (C/N). Isso torna a decomposição do material mais lenta.

A safra de verão

No início do período das chuvas, a água volta a molhar o solo. Mas quando cai em solo descoberto, as gotas d’água irão “quebrar” os aglomerados de partículas que compõem o solo.

Quando ocorre a quebra desses aglomerados, a água que escorre leva junto com ela as partículas mais leves (argilas). E assim acontece a tão famosa erosão do solo.

A cobertura do solo com palha ajuda não só a diminuir as perdas de água por evaporação como também auxilia a conter a erosão e aumentar o percentual de água infiltrada nos poros do solo.

Na figura abaixo podemos ver como a taxa de infiltração no sistema plantio direto se mantém alta ao longo do tempo. 

Isso ocorre devido à proteção que a palha fornece contra o impacto das gotas de chuva, que perdem energia potencial, e pela infinidade de poros que as raízes das plantas de cobertura abrem no solo.

No preparo convencional há a quebra da continuidade desses poros. A camada revolvida fica mais porosa em um primeiro momento, mas, com as chuvas, a água destrói os aglomerados do solo e as partículas menores cimentam os poros.

Dessa forma, quando se utiliza o preparo convencional, está se limitando a capacidade de armazenamento de água do solo praticamente apenas à camada arável.

Imagine um perfil de um latossolo (o mais frequente no brasil) chegando facilmente entre 2 m e 3 metros de profundidade, sendo utilizado apenas nos primeiros 20 cm da camada superficial. Ou seja, um grande desperdício. 

Gráfico da taxa de infiltração de água (TI) em diferentes preparos de solo ao longo do tempo

Taxa de infiltração de água (TI) em diferentes preparos de solo ao longo do tempo
(Fonte: Leite, 2007)

e-book culturas de inverno Aegro

Conclusão

A cobertura do solo permite utilizar toda sua capacidade de armazenamento, o que favorece a lavoura. E essa diferença é sentida principalmente nos períodos de veranicos e de secas.

Neste artigo você viu que, antes de pensar na adubação ou em correção de solo, vale atentar-se à água. Ela é o principal fator limitante de produção, mas frequentemente é deixada de lado.

Nem sempre é preciso buscar soluções em novos produtos: adote novas práticas! A cobertura do solo é essencial na agricultura brasileira e permite aproveitar da melhor forma o ciclo das chuvas

Como muitos dizem: “uma boa safra começa na entressafra”!

>> Leia mais:

Rotação de culturas: vantagens e desvantagens dessa prática

Integração lavoura-pecuária: como implementar e tirar o melhor proveito

O que você precisa saber sobre a cobertura do solo com nabo forrageiro

Restou alguma dúvida sobre a cobertura de solo no inverno? Quais as culturas que você utiliza? Adoraria ler seu comentário!