About Tatiza Barcellos

Sou engenheira-agrônoma e mestra em agronomia, com ênfase em produção vegetal, pela Universidade Federal de Goiás.

Tudo o que você precisa saber sobre plantio de sorgo

Atualizado em 27 de maio de 2022.

Sorgo: entenda quais são as condições ideais de cultivo, principais pragas, doenças e manejo de plantas daninhas

O sorgo, também conhecido como milho-da-guiné, é um cereal de fácil adaptação e de altas produtividades. Ele pode ser aplicado na alimentação animal e humana, na produção de etanol, biomassa e vassouras. 

Para produzir essa espécie, é preciso estar por dentro das especificidades de cada tipo de sorgo. Conhecer detalhes sobre plantio e colheita também.

Neste artigo, você lerá sobre os cinco tipos e suas diferentes aplicações, além de conhecer as principais pragas e doenças do sorgo. Confira!

O que é sorgo e para que serve?

O Sorghum bicolor é uma espécie de cereal que pertence à família Poaceae, a mesma do milho. Mais conhecido como sorgo ou milho-zaburro, ele é versátil e de grande importância econômica.

Trata-se de uma planta cultivada há milhares de anos e com diversas aplicações. No Brasil, a expansão do cultivo de sorgo começou na década de 70 e hoje o país está entre os principais produtores.

Segundo dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, o Brasil ocupa a 9ª posição no ranking dos maiores produtores de sorgo na safra 2020/21. O cereal é o quinto mais produzido no mundo.

O sorgo é bastante utilizado na alimentação animal, sobretudo em países da América do Sul, Estados Unidos e Austrália. Na América Central, Ásia e África, também tem os grãos utilizados na alimentação humana para produção de farinhas e amido industrial, na fabricação de pães e de biscoitos.

Diferentes tipos de sorgo

Existem 5 tipos de sorgo: sorgo granífero, biomassa, forrageiro, sacarino e vassoura. Você conhecerá um pouco sobre cada um desses tipos a seguir:

1. Sorgo granífero

O sorgo granífero possui porte baixo. Os grãos são o principal produto desse tipo de sorgo, produzidos na extremidade superior da planta. 

As plantas têm porte baixo (aproximadamente 170 cm de altura). A panícula é pequena e compacta. Além disso, é possível mecanizar todo o processo do sorgo granífero, do plantio à colheita.

Esses grãos são empregados principalmente na agroindústria de rações, embora também possam ser fornecidos na silagem.  Dentre os tipos de sorgo, o granífero é o que tem maior expressão econômica

2. Sorgo biomassa

O sorgo biomassa tem grande porte, podendo alcançar mais de 5 metros de altura. É muito utilizado na geração de energia, assim como o eucalipto e a cana-de-açúcar.  As plantas apresentam rápido crescimento, além de grande potencial de produção.

A propagação é feita por sementes, o que facilita a implantação das lavouras. Além disso, o processo é 100% mecanizado. Dependendo das condições climáticas, ainda é possível manejar a rebrota do sorgo biomassa.

Homem em plantação de sorgo biomassa. As plantas têm o triplo do tamanho do homem.

Sorgo biomassa

(Fonte: Embrapa; Foto: Marina Torres)

3. Sorgo forrageiro

O sorgo forrageiro é consumido na silagem e também pode ser utilizado para pastejo e corte verde na alimentação animal. As plantas têm grande porte, elevado número de folhas e poucas sementes.

Algumas cultivares de sorgo forrageiro tem dupla aptidão. Isso significa que têm potencial para a produção de forragem e grãos.

>> Leia mais: ‘’Zoneamento Agrícola do Sorgo Forrageiro: O que você precisa saber’’ 

4. Sorgo-sacarino

O sorgo-sacarino é semelhante à cana-de-açúcar devido aos colmos doces, ricos em açúcar fermentescível. 

Ele é utilizado como alternativa para a produção de etanol no período de entressafra da cana-de-açúcar. Além disso, esse tipo de sorgo também pode ser utilizado como forrageiro. 

As características dessas plantas possibilitam a produção de silagem de alta qualidade. Isso gera respostas positivas na produtividade animal.

A China produz uma bebida alcoólica conhecida por “baijiu”. Essa bebida representa 1/3 dos destilados consumidos em todo mundo e é elaborada a partir da fermentação e destilação do sorgo.

5. Sorgo-vassoura

O sorgo-vassoura possui como principal característica a inflorescência com fibras longas. O uso dessas fibras é voltado para a fabricação de vassouras, conhecidas como vassouras melga ou caipira.

Além de ser uma alternativa ecológica, esse tipo de sorgo geralmente é plantado por produtores que complementam a renda familiar com a produção artesanal das vassouras.

O preparo do solo, plantio e tratos culturais podem ser feitos mecanicamente. No entanto, a colheita e limpeza das panículas do sorgo são realizadas manualmente, o que requer muita mão de obra. 

Características da cultura do sorgo

O sorgo é uma planta muito resistente à seca e à salinidade do solo, além de ser uma cultura mecanizável. Seu porte é baixo, com até 170 cm. Seu metabolismo C4 lhe garante elevada eficiência no uso da água.

O sistema radicular pode atingir 150 cm de profundidade, sendo que 80% das raízes são encontradas nos primeiros 30 cm do perfil do solo.

A inflorescência é do tipo panícula, e pode variar quanto ao tamanho e formato. 

O ciclo da cultura varia de 90 a 120 dias.

Veja quais são as fases de desenvolvimento do sorgo.

Estagios de desenvolvimento do sorgo

Estádios de desenvolvimento do sorgo

(Fonte: Traduzido de United Sorghum Checkoff Program)

Condições e melhor época para o plantio de sorgo

As sementes do sorgo são muito pequenas, o que exige plantio superficial. A profundidade ideal é de 3 cm a 5 cm. Para facilitar o desenvolvimento das plântulas, o preparo do solo é fundamental. 

O sorgo deve ser semeado entre setembro e novembro, e essa data depende de quando as chuvas começam. 

Além disso, é importante lembrar que ao ser plantado tardiamente, a planta do sorgo pode sofrer redução de porte. Outra consequência do plantio tardio é a menor produção de matéria seca.

Isso tem maior probabilidade de acontecer em plantios em dezembro. Portanto, planeje bem e com antecedência a semeadura e fique sempre de olho nas previsões climáticas.

Como aumentar a produtividade das lavouras de sorgo?

Além de evitar cultivar o sorgo em áreas com histórico de pragas e doenças e utilizar sementes de qualidade, existem outros aspectos que interferem na produtividade. Veja quais são.

Clima ideal e exigência hídrica

O sorgo é uma espécie de climas quentes e que tolera elevados níveis de radiação.  O intervalo ótimo de temperatura para o desenvolvimento do sorgo é de 26 a 30ºC. 

Sabe-se que temperaturas inferiores a 16ºC e superiores a 38ºC são limitantes para a produção desse cereal.

A tolerância do sorgo ao estresse hídrico faz com que ele seja uma boa opção para o plantio na safrinha. Apesar disso, é importante lembrar que os efeitos do déficit de água podem comprometer a produtividade.  

O consumo de água pela lavoura de sorgo varia em função das condições edafoclimáticas, do ciclo da cultivar e do manejo do solo. 

De acordo com a Embrapa Milho e Sorgo, no decorrer do desenvolvimento da cultura são consumidos de 380 mm a 600 mm de água.

Preparo do solo

De modo geral, no sistema de produção convencional, o preparo do solo é um processo que compreende aração seguida de gradagem.

Esse processo tem o objetivo de melhorar as condições físicas do solo que irá receber a semente. Isso garante uma germinação uniforme, o bom desenvolvimento do sistema radicular e aumenta a infiltração de água.

O sorgo tem melhor desenvolvimento em solos bem drenados e profundos. A acidez e fertilidade devem estar corrigidas, e o pH ideal é entre 5,5 e 6,5.

Plantio

O sorgo é uma planta cultivada em sistema convencional e em sistema de plantio direto (SPD).

Independente do sistema adotado, é importante que o plantio do sorgo seja realizado segundo as orientações do Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc).

Outro ponto importante é que os equipamentos de plantio que você vai utilizar devem estar bem regulados. Isso varia de acordo com o tipo de sorgo.  Abaixo, veja algumas sugestões: 

Tabela com tipo de sorgo e seus respectivos espaçamentos, sementes por metro, consumo e população da colheita.

Sugestões para regulagem de equipamentos de plantio de acordo com diferentes tipos comerciais de sorgo, seus usos e seus espaçamentos recomendados

(Fonte: Paulo Mota Ribas via Embrapa)

Adubação

Em relação à demanda nutricional, o sorgo tem maior exigência por nitrogênio e potássio, seguidos de cálcio, magnésio e fósforo.

A recomendação de adubação para o sorgo deve ser sempre orientada pela análise de solo. É preciso considerar também a quantidade de nutrientes que são extraídos e exportados pela cultura.

Somente a partir dessas informações é possível determinar a quantidade, a forma e em qual momento os fertilizantes serão fornecidos às plantas.

A exigência nutricional varia diretamente com o potencial de produção. Isso quer dizer que a demanda nutricional do sorgo aumenta com o aumento da produtividade. Confira na tabela abaixo!

Valores de nutrientes extraídos pelo sorgo

Extração média de nutrientes pela cultura do sorgo em diferentes níveis de produtividades

(Fonte: Embrapa)

A finalidade de exploração do sorgo (grãos, silagem, fenação, corte verde ou pastejo) também influencia na recomendação de adubação.

Manejo de plantas daninhas

O controle químico é o mais utilizado no manejo das plantas daninhas no sorgo. Apesar disso, um dos problemas da produção é o reduzido número de herbicidas registrados para a cultura. 

Somente um ingrediente ativo é registrado no Mapa para o manejo das plantas invasoras no sorgo: a atrazina. Ela é eficiente no controle das plantas daninhas de folha larga, e tem pouco ou nenhum efeito sobre as de folha estreita.

Dessa forma, é importante fazer a dessecação da área no pré-plantio. O objetivo é fazer a lavoura se estabelecer “no limpo”, sem interferência das plantas daninhas. 

Principais pragas do sorgo

Os danos causados por pragas reduzem a produtividade e a qualidade do produto final.  Alguns insetos-praga têm alta capacidade de destruição e podem comprometer lavouras inteiras.  

Veja as principais pragas que causam prejuízos ao plantio do sorgo:

  • broca-da-cana-de-açúcar (Diatraea saccharalis);
  • mosca-do-sorgo (Stenodiplosis sorghicola);
  • lagarta-elasmo (Elasmopalpus lignosellus);
  • lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda);
  • pulgão-do-milho (Rhopalosiphum maidis);
  • pulgão-verde (Schizaphis graminum).

Recentemente, a Helicoverpa armigera também foi identificada causando prejuízos às lavouras de sorgo. 

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Principais doenças do sorgo

Assim como os insetos-praga, as doenças também podem comprometer a produtividade e aumentar os custos de produção. As principais são:

  • antracnose (Colletotrichum sublineolum);
  • ferrugem (Puccinia purpurea);
  • helmintosporiose (Exserohilum turcicum);
  • míldio (Peronosclerospora sorghi);
  • podridão seca do colmo (Macrophomina phaseolina);
  • doença açucarada do sorgo ou Ergot (Claviceps africana).

Colheita e pós-colheita do sorgo

A colheita do sorgo pode ser realizada de forma manual ou mecânica. 

A colheita manual é indicada para pequenas áreas. Porém, ela apresenta alto custo operacional e demanda muita mão de obra.

A colheita mecânica é a mais usada em grandes lavouras. Ela tem alto rendimento operacional e baixo custo quando comparada ao processo manual.

Quando colher o sorgo?

O momento ideal para a colheita do sorgo deve considerar as condições ambientais, características da cultivar, teor de umidade dos grãos e a finalidade do uso.

Os grãos de sorgo devem apresentar de 17% a 14% de umidade no momento da colheita (com secagem artificial).

Se você não dispõe de meios para realizar a secagem artificial, o interessante é que no momento da colheita os grãos tenham em torno de 12% a 13% de umidade.

No caso do sorgo granífero, a colheita pode ser realizada após os grãos atingirem a maturidade fisiológica. A maturidade fisiológica é observada pela formação de uma camada preta na região de inserção do grão na gluma. 

Esse fenômeno ocorre da ponta da panícula em direção à base. A partir desse momento, não há mais transferência de fotoassimilados para os grãos.

Quando atingem a maturidade fisiológica, os grãos de sorgo apresentam alta umidade. Isso torna necessária a secagem artificial após a colheita.

Para sorgo com finalidade da produção de silagem, o recomendado é que a colheita seja realizada quando as plantas tiverem, no mínimo, 30% de matéria seca.

O sorgo forrageiro pode ser disponibilizado aos animais 30 a 40 dias após a semeadura. As plantas jovens de sorgo não devem ser consumidas pelos animais por apresentarem níveis tóxicos de ácido cianídrico. 

Velocidade de colheita

Em geral, a velocidade de colheita pode variar de 3 Km/h a 5 km/h, no máximo. Velocidades superiores causam perdas no processo e podem levar ao embuchamento da colhedora.

A determinação da velocidade deve considerar a topografia do terreno, a incidência de espécies invasoras e as características da lavoura de sorgo.

Vale ressaltar a importância de realizar periodicamente a manutenção das máquinas e implementos da sua propriedade. Isso garante maior precisão no processo, além de evitar perdas e atrasos na colheita.

Armazenamento

Os grãos de sorgo têm a característica podem ser armazenados por longos períodos sem perder a qualidade. Para isso, o armazenamento dos grãos deve ser feito em local limpo, seco e ventilado. 

Os grãos colhidos devem ser mantidos com 13% de umidade. É preciso estar atento, também, ao ataque de microrganismos, insetos, aves e pequenos roedores. 

A presença de pragas no armazenamento influencia na velocidade de deterioração dos grãos. Além disso, contamina e interfere  na qualidade do produto. As perdas são irrecuperáveis e geram grandes prejuízos econômicos.

Conclusão

O sorgo possui diversas classificações e finalidades. Sorgo granífero, biomassa, forrageiro, sacarino e vassoura possuem particularidades e aplicações distintas. 

Dentre eles, o sorgo granífero é o que apresenta maior importância econômica.

Caso você tenha problemas com plantas daninhas em seu plantio de sorgo, lembre-se que o principal manejo é realizado com herbicidas. 

Mais especificamente, use a atrazina, o  único herbicida registrado no Mapa. Em casos de dúvidas, consulte um especialista.

Você já realizou ou está pensando em realizar o plantio de sorgo? Já conhecia todas as variações da espécie? Adoraria ler seu comentário!

O você precisa entender sobre o encarquilhamento da soja

Encarquilhamento da soja: o que é, como identificar e quais as possíveis causas já estudadas para a ocorrência do problema. 

O encarquilhamento é um problema observado há alguns anos nas plantações de soja, principalmente da região Sul. Ele tem causado preocupação entre os sojicultores em função de sua constante ocorrência.

Os sintomas são mais frequentes no período de pré-florescimento. Ao longo do desenvolvimento da cultura da soja, os sintomas podem desaparecer e as plantas afetadas podem se recuperar.

Informações acerca do potencial de interferência no desenvolvimento da cultura e dos prejuízos causados pelo encarquilhamento ainda são raras

Neste artigo, você lerá sobre as principais características desta deformação foliar, suas possíveis causas e medidas de manejo que podem ser adotadas. Confira!

O que é o encarquilhamento da soja?

O encarquilhamento, também conhecido por encrespamento, é um distúrbio fisiológico que consiste no enrugamento foliar

Essa alteração na estrutura das folhas é resultado do crescimento exagerado das células (hiperplasia).

Plantas de soja com sintomas de encarquilhamento: folhas rugosas e retorcidas

Plantas de soja com sintomas de encarquilhamento: folhas rugosas e retorcidas
(Fonte: Pest & Crop Newsletter – Purdue University)

Nesse caso, as plantas afetadas exibem folhas com aspecto bolhoso e ondulado. Somado a isso, há a redução do crescimento vegetativo. As plantas sintomáticas apresentam porte menor quando comparadas às plantas sadias.

Geralmente, esse fenômeno aparece em reboleiras. Isso significa que o encarquilhamento não é distribuído de forma uniforme na área, mas sim em pontos específicos da lavoura

Além disso, o encarquilhamento tem a característica de se manifestar sempre nas mesmas áreas. No entanto, a severidade dos sintomas pode variar de uma safra para outra e, também, em função da cultivar de soja plantada. 

Algumas cultivares são mais suscetíveis que outras.

Reboleira de soja com sintomas de encarquilhamento

Reboleira de soja com sintomas de encarquilhamento
(Fonte: Fundação MS, Foto: José Fernando Jurca Grigolli)

7 possíveis causas do encarquilhamento já pesquisadas

São vários os fatores que podem causar o encarquilhamento da soja. Doenças viróticas e a fitotoxidez por herbicidas são alguns exemplos. 

No entanto, o encarquilhamento foi detectado mesmo em lavouras que não apresentavam problemas como os citados acima.

Você verá agora as possíveis causas já pesquisadas na tentativa de justificar essa deformação foliar.

1. Doenças viróticas

A princípio, acreditava-se que esse enrugamento foliar estivesse relacionado às doenças causadas por vírus, uma vez que os sintomas são parecidos. Porém, essa teoria foi descartada. 

Alguns pesquisadores, inclusive, se referem ao encarquilhamento da soja como “falsa virose”, pela semelhança com os sintomas de doenças viróticas.

Encarquilhamento causado pelo vírus do mosaico da soja

Encarquilhamento causado pelo vírus do mosaico da soja
(Fonte: Craig Grau, Bugwood.org)

2. Toxidez

Mais uma possível causa já atribuída a esse fenômeno foi a toxidez pela adubação

O desequilíbrio nutricional, seja pelo excesso ou pela carência de determinados elementos, pode retardar o desenvolvimento das plantas e também causar deformações foliares, como o encarquilhamento

Nesse caso, estudos realizados em plantas sintomáticas não conseguiram encontrar relação entre desordem nutricional e o encarquilhamento das folhas da soja.

Encarquilhamento da soja devido à deficiência de boro

Encarquilhamento da soja devido à deficiência de boro
(Fonte: Laborsolo Academy)

3. Deriva

Outro aspecto importante também já considerado foi a possibilidade de deriva

Melhor dizendo, a aplicação de produtos fitossanitários, quando não realizada em condições ideais, pode provocar a deriva das gotas de pulverização para áreas próximas que não são alvo. 

A deriva de herbicidas, por exemplo, pode ocasionar danos diversos nas plantas. Dentre eles podemos citar o enrugamento foliar, que pode ser confundido com esse distúrbio fisiológico. 

Nesse caso, a avaliação da distribuição das reboleiras com sintomas na lavoura e o histórico dos defensivos utilizados nas áreas vizinhas são fundamentais para averiguar essa teoria.

Encarquilhamento da soja causado pela deriva do herbicida Dicamba

Encarquilhamento da soja causado pela deriva do herbicida Dicamba
(Fonte: AgFax; Foto: Ohio State University)

4. Soja Louca 2

Essa deformação foliar também já esteve associada à Soja Louca 2, uma doença que até 2015 tinha causas desconhecidas. No entanto, o nematoide da haste verde da soja (Aphelenchoides besseyi) foi identificado como o causador da enfermidade.

5. Pragas

Do mesmo modo, já foi descartada a ideia de que o encarquilhamento da soja estivesse relacionado à presença de ácaros, tripes e nematoides. Não foi detectada a presença dessas pragas nas lavouras com sintomas.

6. Baixas temperaturas

Outra tese sugerida foi a de que baixas temperaturas seriam a causa da deformação das folhas, porém, até o momento, não há um consenso quanto a isso

É bom ressaltar que essa alternativa não foi totalmente descartada, uma vez que o frio combinado a outros fatores ambientais podem levar ao encarquilhamento das folhas.

7. Tipo de solo

Até o momento, tem sido observada maior incidência dessa anomalia em lavouras estabelecidas em solos basálticos. No entanto, são necessários maiores estudos que confirmem a relação entre a deformação das folhas com a natureza geológica do solo.

Existem medidas de controle para o encarquilhamento da soja?

Em resumo, várias hipóteses já foram levantadas e muitas pesquisas têm sido realizadas. No entanto, a causa dessa anomalia ainda não foi esclarecida. Acredita-se que mais de um fator contribua para o desenvolvimento do encarquilhamento nos plantios de soja.

Sendo assim, a ausência de informações científicas sobre o que causa o encarquilhamento impede que um plano de manejo seja definido. Dessa forma, ainda não há recomendações técnicas quanto à prevenção e o controle do problema em questão.

Medidas de manejo

Como não há medidas de prevenção e controle, é importante que você adote práticas de manejo de modo a fornecer condições ótimas para o crescimento e desenvolvimento da lavoura. 

A adoção de boas práticas contribui para que a cultivar expresse todo o seu potencial produtivo, além de aumentar a resistência das plantas ao ataque de pragas e doenças da soja.

É importante fornecer condições para que as plantas tenham boa resposta de defesa em caso de adversidades.

O que você pode fazer diante desse cenário é registrar informações como:

  • época de surgimento dos sintomas;
  • tamanho da área afetada;
  • tipo de solo;
  • data de semeadura;
  • condições climáticas;
  • adubação;
  • defensivos agrícolas aplicados.

Isso permite que você acompanhe a dinâmica do encarquilhamento na área. 

É interessante ainda que você registre em fotos os sintomas das plantas e a área da lavoura afetada, para efeito de comparação com safras futuras.

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Conclusão

O encarquilhamento da soja se dá pelo enrugamento das folhas e pela redução no crescimento das plantas

Até o momento, não existem recomendações técnicas para o manejo do encarquilhamento da soja, em decorrência de ainda não ter sido esclarecida a causa desse distúrbio fisiológico.

Diante das poucas informações, caso você detecte o encarquilhamento da lavoura, procure monitorar a área afetada

>>Leia mais:

“Doenças de final de ciclo da soja: principais manejos para não perder a produção”

Você já teve problemas com encarquilhamento da soja? O que você fez para resolver essa questão? Deixe sua experiência aqui nos comentários.

Como identificar e manejar o crestamento bacteriano na soja

Crestamento bacteriano na soja: saiba quais são os sintomas da doença, como identificar e como o manejo preventivo pode evitar maiores problemas.

O crestamento bacteriano é uma das mais comuns doenças da soja, mas não tem grande importância econômica. 

Ela tem maior ocorrência em regiões úmidas e de clima temperado, apesar do patógeno estar presente em todas as áreas produtoras de soja no país.

No Brasil, ainda são escassas as informações quanto aos prejuízos causados por essa bacteriose nas lavouras de soja. Nos Estados Unidos já foram relatados danos que chegam a 40%.

Neste artigo, você poderá conferir os principais sintomas e a melhor forma de manejo dessa doença. Confira!

Sintomas do crestamento bacteriano na soja

O crestamento bacteriano na soja é uma doença causada pelo microrganismo Pseudomonas savastanoi.

Os sintomas podem aparecer em toda parte aérea da planta, como folhas, hastes, pecíolos e vagens. É comum que eles sejam observados primeiramente nas folhas jovens. 

Ao contrário de outras doenças foliares, como a ferrugem asiática, os sintomas são mais evidentes no terço médio e superior da planta

As lesões nas folhas começam com pequenas manchas de aspecto encharcado (anasarca), translúcidas e circundadas por um halo amarelo. A largura desse halo está relacionada à temperatura do ambiente.

Sob altas temperaturas, o halo amarelo que contorna as lesões pode ser estreito ou quase inexistente. Em condições mais amenas, é grande e evidente.

Folha de soja com sintomas de crestamento bacteriano causado pela bactéria Pseudomonas savastanoi pv. glycinea

Folha de soja com sintomas de crestamento bacteriano causado pela bactéria Pseudomonas savastanoi pv. glycinea
(Fonte: Daren Mueller, Iowa State University, Bugwood.org)

Com o avanço da doença, as lesões aumentam de tamanho e a área de tecido foliar morto acaba se desprendendo do ferimento. Assim, as folhas ficam com aparência rasgada.  

Folha de soja com severos sintomas de crestamento bacteriano

Folha de soja com severos sintomas de crestamento bacteriano
(Fonte: Daren Mueller, Iowa State University, Bugwood.org)

Plantas jovens, quando severamente atacadas por essa bacteriose, podem apresentar sintoma parecido ao de virose: o enrugamento das folhas.

O correto diagnóstico da doença é fundamental para estabelecer um plano de manejo eficiente.

Folhas de soja com sintomas de crestamento bacteriano: manchas necrosadas e enrugamento das folhas

Folhas de soja com sintomas de crestamento bacteriano: manchas necrosadas e enrugamento das folhas
(Fonte: Howard F. Schwartz, Colorado State University, Bugwood.org)

Como identificar a doença?

A avaliação da face inferior da folha permite realizar o diagnóstico, geralmente exato, da doença. Nas horas úmidas da manhã, você pode observar o exsudato da bactéria sob as manchas angulares e enegrecidas

Esse exsudato é um líquido produzido como reação ao ataque da bactéria. Ele se apresenta como uma película brilhante sob as lesões, o que indica a contaminação.

No entanto, somente a análise laboratorial do material vegetal garante o diagnóstico preciso.

Condições para o desenvolvimento do crestamento bacteriano na soja

A bactéria Pseudomonas savastanoi existe epifiticamente na superfície foliar. Isso quer dizer que ela consegue sobreviver nas plantas sem infectá-las. 

Nessa fase epifítica, as bactérias podem ser localizadas em pontos estratégicos da planta, de modo a garantir sua sobrevivência e multiplicação.

Em dias secos, o exsudato da bactéria é disseminado na lavoura por meio de finas escamas. No entanto, é necessária a presença de um filme de água na superfície vegetal para haver infecção da planta sadia.

O processo infeccioso começa com a entrada da bactéria no interior do tecido vegetal por aberturas naturais (estômatos) e ferimentos

Além disso, esse microrganismo é um patógeno hemibiotrófico, ou seja, coloniza plantas vivas, mas também sobrevive em tecido morto. Sendo assim, os restos culturais são fonte do inóculo de uma safra para outra. 

É importante destacar que a bactéria tem seu desenvolvimento favorecido sob temperaturas amenas, entre 20 °C  e 26 °C, e elevada umidade.

infográfico com ciclo do crestamento bacteriano na soja

Ciclo do crestamento bacteriano na soja
(Fonte: Traduzido de Crop Protection Network)

Manejo da doença

A bactéria pode ser transmitida por sementes e restos culturais contaminados. O fato desse patógeno sobreviver nos restos vegetais fora da época de cultivo aumenta as chances de infecção da próxima safra.

Além disso, as sementes infectadas podem não apresentar sintomas e acabam funcionando como veículo disseminador a longas distâncias da bactéria e também de outros microrganismos patogênicos. 

A qualidade genética, fisiológica e sanitária do material de propagação tem impacto direto na produtividade e nos custos de produção. Para evitar problemas em sua lavoura, aborde a questão sanitária das sementes com rigor.

Tratando-se de doenças, o melhor manejo é o preventivo. Para isso é importante que você adote mais de uma estratégia para reduzir as chances de desenvolvimento e disseminação da doença na área.

Abaixo, você pode conferir algumas medidas preventivas para o crestamento bacteriano na soja:

O controle químico dessa bacteriose é limitado devido à reduzida quantidade de produtos registrados para a doença. Atualmente, podem ser encontrados dois produtos para o crestamento bacteriano na soja: oxicloreto de cobre e óxido cuproso

Porém, é importante lembrar que quando a doença se encontra em estado avançado, o uso desses produtos terá pouco ou nenhum efeito.

Outro ponto relevante é o plantio contínuo de mesmos genótipos de soja resistentes à doença. Essa prática aumenta a pressão de seleção na área e favorece o crescimento populacional de bactérias com resistência natural. 

Ou seja, haverá a seleção de microrganismos adaptados às novas condições ambientais.

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Conclusão

Os principais sintomas do crestamento bacteriano na soja são visíveis nas folhas jovens: manchas de aparência encharcada e translúcida, circundadas por um halo amarelado. 

Você viu que o diagnóstico pode ser feito em campo pela avaliação da face inferior da folha. Porém, para a identificação exata da doença bacteriana, lembre-se de levar o material para ser analisado em laboratório.

Por fim, não se esqueça que o melhor manejo da doença é o preventivo. A adoção de diferentes técnicas de manejo diminui a probabilidade de desenvolvimento e estabelecimento da doença na área. 

Espero que essas informações possam ter te ajudado a identificar a doença a tempo de evitar prejuízos em sua plantação de soja.

>> Leia mais:

“Doenças de final de ciclo da soja: principais manejos para não perder a produção”

Você já teve problemas com crestamento bacteriano na soja? Conte pra gente sua experiência nos comentários!

O que é a mancha alvo do algodoeiro e como ela pode afetar a sua lavoura

Mancha alvo do algodoeiro: saiba quais são os sintomas, como ela afeta a lavoura e como manejar a doença no algodoeiro.

A mancha alvo é uma doença de grande impacto econômico para a agricultura e que tem preocupado muitos produtores de algodão nos últimos anos.

Seu controle não é tão simples, já que a disseminação do fungo na lavoura ocorre pela ação do vento e pelas gotas de água da chuva. Isso favorece a repetição de ciclos da doença na área.

Nesse artigo, vou te mostrar os principais sintomas da mancha alvo do algodoeiro e como fazer o manejo ideal da doença. Confira a seguir!

Importância da mancha alvo do algodoeiro

A mancha alvo é uma doença causada pelo fungo Corynespora cassiicola. Ela tem ampla ocorrência nas áreas agricultáveis e causa prejuízos em diversas culturas, principalmente na soja. Nos últimos anos, também tem ganhado notoriedade na cotonicultura.

O patógeno tem a capacidade de sobreviver em restos culturais e em hospedeiros alternativos, favorecendo repetidos ciclos da doença na área, o que dificulta seu controle. 

Os esporos do fungo podem ser disseminados na lavoura pelo vento e por gotículas de água da chuva.

Principais sintomas da doença

Os sintomas iniciais da mancha alvo no algodoeiro podem ser observados nas folhas do terço inferior da planta. 

É comum que a doença se manifeste após o fechamento da entrelinha. O elevado número de folhas do algodoeiro e os espaçamentos adensados favorecem o desenvolvimento do fungo Corynespora cassiicola, uma vez que as folhas do baixeiro estão sob condições de alta umidade e temperatura. 

Na fase inicial, é possível observar pequenas pontuações escuras com halo amarelo nas folhas. Com o agravamento da doença, essas lesões evoluem e assumem formatos maiores, podendo ser irregulares ou circulares.

As lesões circulares apresentam anéis concêntricos de tecido necrosado em seu interior, o que lembra o formato de um alvo. Por esse motivo, o nome da doença: mancha alvo.

foto de lesão sintomática típica da mancha alvo em folha do algodoeiro

Lesão sintomática típica da mancha alvo
(Fonte: University of Tennessee Institute of Agriculture)

foto de sintomas de mancha alvo nas folhas e brácteas do algodão

Sintomas de mancha alvo nas folhas e brácteas do algodão
(Fonte: University of Tennessee Institute of Agriculture)

Outro sintoma observado é a queda prematura das folhas. A desfolha e as lesões foliares diminuem a capacidade da planta de realizar a fotossíntese. Por consequência, há prejuízos no desenvolvimento das plantas e redução da produtividade. 

foto de desfolha do algodoeiro causada pela mancha alvo

Desfolha do algodoeiro causada pela mancha alvo
(Fonte: University of Tennessee Institute of Agriculture)

Considerando os danos causados pelo fungo, a queda da produtividade está relacionada à perda da área fotossintética da planta. 

Em outras palavras, o tecido necrosado das folhas não é mais capaz de impedir a radiação solar e realizar fotossíntese. Dessa forma, há queda na produção de fotoassimilados e, consequentemente, da produtividade. 

Doenças, nematoides, ataque de insetos e toxidez por fertilizantes ou pelo uso incorreto de produtos fitossanitários também provocam alterações nas folhas, como clorose ou queima

Assim, é importante ter uma diagnose correta da doença para fazer o manejo adequado, como vou explicar melhor a seguir. 

Como fazer o manejo da mancha alvo do algodoeiro

O manejo da mancha alvo no algodoeiro requer monitoramento constante para evitar que a doença evolua e cause prejuízos. 

Dessa forma, o método químico de controle é um dos utilizados no combate a essa doença.

Dentre as moléculas registradas para o controle da mancha alvo no algodão, podemos citar:

  • epoxiconazol + fluxapiroxade + piraclostrobina 
  • protioconazol + trifloxistrobina
  • bixafem + protioconazol + trifloxistrobina
  • fluxapiroxade + piraclostrobina 
  • azoxistrobina + mancozebe + tebuconazol
  • azoxistrobina + mancozebe 

No controle químico, é importante seguir as recomendações técnicas quanto à forma de uso do produto, época e tecnologia de aplicação, dose e volume de calda.

Outra sugestão é a rotação de produtos com diferentes mecanismos de ação para evitar a pressão de seleção na área. 

Além disso, algumas práticas podem ser adotadas junto ao uso de fungicidas para evitar que a doença se estabeleça, como:

  • manejo da altura das plantas de algodão com reguladores de crescimento;
  • controle de plantas daninhas (hospedeiras alternativas);
  • incorporação dos restos culturais;
  • evitar espaçamentos adensados;
  • seguir as recomendações quanto à população de plantas;
  • parcelamento da adubação nitrogenada;
  • rotação de culturas com espécies não hospedeiras;
  • evitar a sucessão de plantio algodão-soja, uma vez que são culturas suscetíveis à mancha alvo.

Ainda não há cultivares de algodão resistentes à mancha alvo. Dessa forma, o manejo deve ser voltado para práticas que desaceleram ou interrompam o desenvolvimento da doença. 

Vale lembrar que quanto antes a doença for detectada, mais eficiente será o controle e menores serão os danos. 

Como o NDVI pode ajudar a monitorar a doença na lavoura?

O NDVI (Normalized Difference Vegetation Index) vem sendo amplamente utilizado para monitorar diferentes aspectos das lavouras. Como a mancha alvo é uma doença que ataca a parte aérea do algodão, essa tecnologia permite observar o comportamento e a evolução da doença pelos mapas. 

É possível também avaliar o nível de desfolha, identificar o foco da doença na área, plantas mortas, quantificar danos e determinar o melhor momento da aplicação de fungicidas. 

A presença da mancha alvo no algodão diminui a cobertura foliar da planta, e consequentemente, altera o valor NDVI. Essa modificação irá resultar em mapas diferentes daqueles gerados para a mesma lavoura antes da presença da doença.

Assim, é possível traçar estratégias de manejo adequadas para o controle da doença, uma vez que irregularidades no campo podem ser detectadas ainda em fase inicial.

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Monitore mais facilmente a saúde da sua lavoura com o Aegro Imagens. Receba mapas atualizados em uma frequência de 3 a 5 dias e visualize os índices de vegetação de cada talhão, juntamente com as operações agrícolas que foram realizadas no local.

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Conclusão

A mancha alvo é uma doença fúngica causada pelo patógeno Corynespora cassiicola e que ataca culturas de interesse agronômico, como o algodão. Os principais sintomas são visíveis nas folhas: lesões e desfolha precoce.  

O manejo da mancha alvo no algodoeiro inclui ações combinadas de modo a preservar a sanidade da lavoura e evitar ou retardar a disseminação da doença na área. 

Tendo em vista os sintomas causados, os mapas NDVI também podem ser uma importante ferramenta no gerenciamento das lavouras. Eles reúnem informações que possibilitam observar padrões na área, avaliar a condição dos plantios e se antever aos problemas. 

Espero que com essas informações você possa fazer um manejo eficiente da doença em sua lavoura!

>> Leia mais:

“6 principais doenças do algodão e como controlá-las na lavoura”

Você já teve problemas com mancha alvo do algodoeiro? Conte pra gente sua experiência nos comentários! 

Fertilização em excesso? Entenda os riscos da overfert e saiba como evitar que ela ocorra

Overfert: saiba quais são os sintomas e as consequências que a adubação em excesso pode provocar na sua lavoura

A busca por altas produtividades agrícolas pode levar à utilização de adubos em dosagens cada vez mais pesadas.

Mas uma adubação feita em excesso e sem critérios não aumenta a produtividade e, pior, ainda compromete o desenvolvimento da lavoura, podendo também prejudicar o meio ambiente. Além disso, aumenta os custos de produção e traz risco de fitotoxicidade nas plantas.

Entenda quais são os sintomas da overfert (excesso de fertilização), suas consequências e como evitar esse problema na lavoura. Confira a seguir!

O que é overfert?

A overfert ou overfertilization é o excesso de fertilização da planta, provocada pela aplicação de doses de adubos muito acima da exigida pela cultura. Essa condição compromete o desenvolvimento da lavoura, prejudicando a produtividade e causando uma série de outros problemas.

Geralmente, as áreas destinadas ao plantio de grandes culturas, como soja e milho, apresentam solos com baixa fertilidade natural e elevada acidez. E, na busca por alta produtividade, a adubação é feita em dosagens cada vez mais pesadas.

Mas uma fertilização sem critérios e excessiva não melhora a produtividade – pelo contrário. Maiores dosagens de fertilizantes elevam os custos de produção e oferecem riscos, podendo gerar toxicidade nas plantas e queda da produtividade. 

Assim como a carência de determinados nutrientes no solo compromete o desenvolvimento da lavoura, o excesso também pode prejudicar a cultura.

Por essa razão, as recomendações de adubação devem ser feitas em função da fertilidade do solo. Precisamos conhecer a quantidade e quais são os nutrientes disponíveis para as plantas para então definir o quanto será necessário para atender as exigências da cultura. Vou explicar melhor a seguir.

Como determinar a fertilidade do solo?

A fertilidade só pode ser determinada em laboratório. A partir de uma amostra de solo podemos saber quais nutrientes estão em falta ou excesso, e assim, estabelecer um plano de manejo adequado para um bom desenvolvimento da cultura.

É importante que os nutrientes estejam em equilíbrio no solo, pois o excesso ou falta de algum afeta diretamente na disponibilidade e absorção dos demais. Sendo assim, a análise de solo é uma ferramenta indispensável para a tomada de decisão.

Leis gerais da adubação

Abaixo estão descritas duas leis que irão te ajudar a entender melhor como funciona o processo de adubação:

Lei do Máximo

Maiores dosagens de fertilizantes se tornam um limitante para o desenvolvimento da cultura. Em outras palavras, doses elevadas podem causar toxidez nas plantas. O excesso de determinado nutriente também pode levar à não absorção dos demais, causando sintomas de deficiência

A busca pelo equilíbrio dos nutrientes no solo é fundamental para o aproveitamento racional dos recursos e para obter altas produtividades.

Lei dos Incrementos Decrescentes ou Lei de Mitscherlich

A produtividade das plantas decresce à medida em que são fornecidos mais nutrientes via adubação. Maiores doses de fertilizantes resultam em incrementos de produção cada vez menores.

Inicialmente, a planta responde positivamente às doses crescentes e tem ganhos na produtividade. Porém, quando a produção máxima é atingida, não é possível observar resultados positivos e há queda de produtividade.

Vale lembrar que os custos de produção se elevam proporcionalmente ao aumento da dosagem de fertilizantes. Por essas razões, é preciso estar atento às exigências de cada cultura e à época de aplicação.

É essencial conhecer o ciclo de desenvolvimento das plantas para que as adubações sejam realizadas de acordo com as exigências nutricionais nas fases de maior demanda e, assim, explorar o máximo potencial produtivo da cultura.

Representação gráfica da Lei dos Incrementos Decrescentes

Representação gráfica da Lei dos Incrementos Decrescentes

Recomendação de adubação

As altas produtividades atingidas pelo Brasil se devem ao manejo adequado de uma série de fatores, dentre eles a adubação das lavouras

Para uma adubação correta é preciso que seja feita primeiro uma amostragem do solo, em qualquer época do ano. É preciso coletar amostras representativas da área, que variam de acordo com o tamanho e homogeneidade do solo.

Essas amostras devem ser armazenadas em sacos plásticos limpos para evitar a contaminação. Devem ser identificadas com o nome da propriedade e do produtor rural, data, local e profundidade de amostragem para posterior envio ao laboratório.

Importante ressaltar que problemas de amostragem podem implicar em recomendações equivocadas, pois os resultados podem não ser representativos. Assim, é essencial que a coleta de solo seja feita por pessoas qualificadas para essa função.

Para a interpretação dos resultados da análise de solo, consulte um engenheiro agrônomo. 

A análise de solo e os boletins regionais de adubação permitem que o engenheiro-agrônomo determine qual quantidade de fertilizantes atenderá às exigências da cultura, qual a formulação ideal, modo e época de aplicação.

O milho, por exemplo, é bastante exigente quanto aos teores de nitrogênio e potássio. Em caso de recomendações muito altas de adubação, é comum que elas sejam parceladas ao longo do desenvolvimento da cultura para atender os picos de absorção desses nutrientes pela lavoura. 

Como corrigir a overfert?

A adubação em excesso pode ser evitada, mas dificilmente poderá ser corrigida. Por isso, é preciso cautela tanto na recomendação quanto na aplicação dos fertilizantes.

É preciso pautar as recomendações de adubação na análise de solo, além de respeitar as exigências nutricionais de cada cultura. 

Também é preciso considerar a época e a técnica de aplicação dos fertilizantes, visto que a má distribuição do produto na área pode ocasionar toxicidade em pontos específicos da lavoura.  

8 consequências da overfert

Confira algumas consequências que a adubação em excesso pode causar à sua lavoura:

  • toxidez das plantas;
  • diminuição da resistência ao ataque de pragas e doenças;
  • redução da produtividade;
  • alteração do pH do solo;
  • salinização do solo, que pode levar ao estresse hídrico das plantas;
  • deficiência nutricional pela dificuldade de absorção dos demais nutrientes; 
  • contaminação ambiental em função da lixiviação, escoamento superficial e/ou volatilização dos fertilizantes;
  • elevação dos custos de produção.

Sintomas de overfert

Muitas vezes, a toxidez pelo excesso de nutrientes pode ser confundida com sintomas causados por insetos e doenças. Sendo assim, a correta identificação dos sintomas é essencial para o manejo ideal da lavoura, e para isso é preciso conhecer o histórico da área.

Os sintomas da adubação em excesso podem variar de uma espécie para outra, mas, em geral, são verificados visualmente nas folhas mais velhas, que podem apresentar clorose, pontos necróticos e encarquilhamento.

Também pode haver atraso da fase reprodutiva da planta em razão do aumento da fase vegetativa, e as folhas podem apresentar coloração verde-escura

Vale ressaltar que, embora alguns sintomas não sejam visualmente detectados, ainda pode ocorrer redução da produtividade.

Folha de soja com pontos necróticos e clorose pela toxidez por manganês overfert

Folha de soja com pontos necróticos e clorose pela toxidez por manganês
(Fonte: adaptado de Hernandez-Soriano et al.)

foto com sintomas de toxidez por boro em folhas de arroz overfert

Sintomas de toxidez por boro em folhas de arroz
(Fonte: Rice Knowledge Bank)

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Conclusão

O sistema solo-planta tem seu limite e é importante entender que não haverá aumento de produtividade com a superdosagem de fertilizantes. 

Sendo assim, a análise de solo é a ferramenta mais segura para a adoção de práticas de adubação mais sustentáveis.

Doses acima das exigidas pela cultura podem causar danos significativos e comprometer a produtividade.

Resumindo, a adubação em excesso (overfert) não contribui para o melhor e mais rápido desenvolvimento da lavoura. 

Além disso, a adequada correção da fertilidade aumenta as chances do bom estabelecimento da lavoura. 

>> Leia mais:

“9 micronutrientes das plantas: como e quando utilizá-los”

“Como o mapeamento de fertilidade do solo pode gerar economia na fazenda”

“Adubação de sistemas: como fazer para ter mais economia e alta produtividade”

Você já passou por algum problema causado pela overfert em sua lavoura? Ficou com alguma dúvida? Vamos continuar essa conversa nos comentários! 

Saiba o que muda com as novas regras de sementes salvas

Sementes salvas: entenda o que diz a nova legislação que passa a vigorar em 21 de março de 2021

O decreto 10.586/2020 entra em vigor no dia 21 de março de 2021 e nele constam algumas alterações no que diz respeito às sementes salvas. 

As novas orientações prometem desburocratizar o processo e facilitar a vida do produtor. Mas também prevê punições mais severas, diferenciando o usuário do produtor ilegal de sementes. 

Quer entender melhor as novas regras para sementes salvas? Confira a seguir!

O que são sementes salvas?

Sementes salvas são aquelas sementes reservadas pelo produtor para serem plantadas exclusivamente na próxima safra, não sendo possível sua comercialização.

Essa reserva é feita somente após a aquisição comercial da semente. Ou seja, o produtor compra as sementes de uma empresa devidamente cadastrada no Renasem (Registro Nacional de Sementes e Mudas) para formar sua lavoura, que terá parte da sua produção reservada para ser plantada na safra seguinte. 

É direito do produtor, previsto em lei, guardar parte da sua produção. No entanto, é preciso estar em concordância com o que preconiza a legislação, que agora tem mudanças. Separei as principais para que você entenda melhor.

Quais alterações foram feitas?

A primeira alteração trazida pelo decreto 10.586/2020 está no aumento do prazo para que o produtor rural solicite junto ao Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) a amostragem para verificação do índice de germinação ou viabilidade, quando for o caso. 

Após o recebimento da semente pelo produtor, o prazo para solicitação de amostragem foi estendido de 10 para até 20 dias. É importante ressaltar que a solicitação deve ser feita mediante justificativa e que a embalagem das sementes não tenha sido violada. 

Outra modificação se refere à documentação que o produtor deve ter sob sua posse. Continua sendo obrigatório, por parte do produtor, manter à disposição da fiscalização a documentação original de aquisição da semente. Porém, a documentação necessária e o tempo de arquivamento ainda serão determinados. 

Outra alteração está relacionada às exigências quanto à identificação da embalagem e local de armazenamento das sementes. O antigo decreto não especificava essas questões.

O novo decreto indica que a semente reservada pelo produtor rural deverá ser identificada em seu local de armazenamento. Entretanto, mais informações precisam ser determinadas em norma complementar a ser divulgada.

Antes, somente as áreas destinadas à produção de cultivares protegidas precisavam ser inscritas pelo produtor. Com a nova legislação, tanto as cultivares protegidas quanto as de domínio público precisam ter suas áreas de produção declaradas.

Reserva técnica

Outra modificação trazida pelo decreto 10.586/2020 refere-se à reserva técnica

Antes, a reserva de sementes para uso próprio era quantificada somente com base na área a ser plantada na próxima safra. 

Já o novo decreto autoriza que o produtor tenha uma reserva técnica com quantidade de sementes maior que a necessária para o plantio da safra seguinte. 

Essa atualização na legislação possibilita que o produtor tenha material de propagação no caso da necessidade de ressemeadura

Apesar disso, é importante lembrar que informações sobre o percentual da reserva técnica terá por base a espécie a ser cultivada e ainda será divulgado.

Confira também: “Melhores práticas para fazer o tratamento de sementes de trigo na fazenda”

Punições previstas

O novo decreto também prevê que o produtor que descumprir as orientações poderá ser enquadrado como produtor ilegal de sementes, estando sujeito às penalidades administrativas, civis e financeiras.

A reserva de sementes não pode ser plantada fora da área de posse do produtor e deve ainda ser utilizada, exclusivamente, na safra seguinte à da sua reserva. 

Além disso, a reserva de semente deve estar em concordância com o tamanho da área a ser cultivada na safra seguinte e de acordo com as recomendações técnicas indicadas para a cultura. 

Já o percentual da reserva técnica não pode exceder o estabelecido pela legislação para a cultura.

Veja mais informações sobre as mudanças nas regras na figura abaixo:

infográfico que mostra todas as mudanças das sementes salvas para o novo decreto

(Fonte: adaptado de Sistema Faep)

Como armazenar sementes com segurança?

Depois de beneficiadas, as sementes salvas podem ser armazenadas em sacos de papel, polipropileno ou juta e também em sacos tipo big bag. 

foto de armazenamento de sementes em sacos de papel

Armazenamento de sementes em sacos de papel
(Fonte: Cocari)

foto de armazenamento de sementes em sacos tipo big bag

Armazenamento de sementes em sacos tipo big bag
(Fonte: Sementes São Francisco)

Outra forma de armazenagem é em silos de madeira com sistema de ventilação para auxiliar no processo de conservação das sementes.

Silos de madeira utilizados no armazenamento de sementes

Silos de madeira utilizados no armazenamento de sementes
(Fonte: Sementes Simão)

As sementes também podem ser armazenadas em contêineres. Essas estruturas metálicas são herméticas, de fácil higienização e podem ser transferidas de um local para outro sem prejuízo para as sementes. 

Container dry utilizado para armazenamento de sementes

Container dry utilizado para armazenamento de sementes
(Fonte: Miranda Container)

Vale lembrar que a escolha de como será o armazenamento deve considerar as características fisiológicas das sementes, bem como fatores econômicos e tecnológicos disponíveis. 

9 dicas para o armazenamento de sementes

Abaixo você pode conferir algumas orientações de como armazenar sementes de forma correta:

  1. o local deve ser seco e arejado;
  2. controle e monitore as condições ambientais do armazém como temperatura e umidade. Para a preservação e conservação das sementes é preciso ambiente com baixa temperatura e baixa umidade. É necessário respeitar as características intrínsecas de conservação de cada espécie.
  3. mantenha os sacos de sementes sob estrados (pallets), de modo que não fiquem em contato direto com o solo;
  4. identifique as sementes por lotes;
  5. não faça pilhas de sacos muito altas e mantenha distanciamento das paredes e do telhado do armazém, facilitando a ventilação;
  6. evite o contato direto das sementes com a luz solar;
  7. não guarde as sementes e outros tipos de insumos como adubos, defensivos agrícolas e ração no mesmo local;
  8. controle insetos e roedores no local de armazenagem e arredores;
  9. mantenha o local limpo, organizado e bem sinalizado.
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Conclusão

A semente é um organismo vivo e seu armazenamento requer cuidados específicos para melhor conservação. 

As corretas condições de armazenamento das sementes salvas, aliadas ao manejo adequado, garantem o bom desenvolvimento inicial da cultura e um estande de plantas uniforme, o que é importante para atingir altas produtividades. 

Diante deste cenário, é preciso estar atento às mudanças na legislação. Como você viu nesse artigo, algumas informações ainda precisam ser divulgadas por meio de normas complementares, que não têm data prevista para serem publicadas.

Enquanto algumas orientações específicas não são determinadas, considere o decreto atual para não sofrer penalidades.

>> Leia mais:

“O que caracteriza sementes piratas e como fugir disso”

“Tratamento de sementes na fazenda ou industrial? Faça a melhor escolha!”

“O que é e por que adotar o sistema de combinação de híbridos”

Restou alguma dúvida sobre as novas normas para sementes salvas? Como você faz em sua propriedade hoje? Deixe seu comentário!

As 6 principais plantas daninhas do algodão e como controlá-las

Plantas daninhas do algodão: confira as espécies mais problemáticas para a cultura e o que fazer para ter um manejo adequado!

O controle das plantas daninhas é de extrema importância, principalmente quando se trata de uma cultura tão sensível à competição quanto o algodoeiro.

Além dos problemas durante a safra e a colheita, as invasoras também podem prejudicar a qualidade da fibra do algodão, contribuindo para o aumento da umidade nos fardos. E isso pode prejudicar significativamente seu lucro com a lavoura, não é verdade?

Quer saber mais sobre as principais plantas daninhas do algodão e como fazer um controle mais efetivo dessas espécies em sua lavoura? Confira essas e outras informações a seguir!

6 principais plantas daninhas do algodão

1. Buva

Muito agressiva e amplamente disseminada por todo o Brasil, a buva (Conyza spp.) também é conhecida por voadeira, rabo-de-foguete e margaridinha-do-campo.

Produz quantidades elevadas de sementes que se dispersam com facilidade na área, o que justifica sua presença em grande parte do país.

A buva é uma das plantas daninhas que já apresentaram resistência ao glifosato, o que a torna de difícil controle.

foto de Buva (Conyza bonariensis)

Buva (Conyza bonariensis)
(Fonte: Manual de Identificação e Controle de Plantas Daninhas, 2006)

2. Corda-de-viola

Também conhecida por corriola, campainha e jetirana, a corda-de-viola (Ipomoea sp.) é uma planta daninha de grande importância econômica na agricultura. 

De hábito trepador, ela se enrola no algodoeiro, podendo causar estrangulamento e acamamento da planta. 

Durante a colheita do algodão, a corda-de-viola também compromete o funcionamento dos componentes móveis da colhedora, causando mau funcionamento da máquina. 

foto de planta daninha Corda-de-viola com flor vermelha (Ipomoea hederifolia)

Corda-de-viola (Ipomoea hederifolia)
(Fonte: Herbário Vale do São Francisco)

3. Capim-amargoso

O capim-amargoso (Digitaria insularis) é uma gramínea que causa danos a diversas culturas de interesse econômico. Dependendo da região, pode ser conhecido como capim-flecha e capim-milhã.

Trata-se de uma planta com metabolismo fotossintético C4, que tem a capacidade de se desenvolver durante todo o ano.

Essa planta daninha forma volumosas touceiras a partir de rizomas e, assim como a buva, é de difícil controle por já ter apresentado resistência ao glifosato.

foto de planta daninha Capim-amargoso (Digitaria insularis)

Capim-amargoso (Digitaria insularis)
(Fonte: Manual de Identificação e Controle de Plantas Daninhas, 2006)

4. Caruru

O caruru (Amaranthus spp.), também conhecido por bredo e crista-de-galo, é outra planta daninha com ampla janela de adaptação, ou seja, se desenvolve mesmo em situações adversas. 

Essa planta tem rápido crescimento e elevada produção de sementes, o que garante sua disseminação por todo o território. É também uma planta de difícil controle devido à resistência ao glifosato.

duas fotos de caruru (Amaranthus hybridus var. paniculatus e Amaranthus hybridus var. patulus), plantas daninhas do algodão

Caruru (Amaranthus hybridus var. paniculatus e Amaranthus hybridus var. patulus)
(Fonte: Adaptado de Manual de Identificação e Controle de Plantas Daninhas, 2006)

5. Leiteiro

Também conhecido por amendoim-bravo e café-do-diabo, o leiteiro (Euphorbia heterophylla) tem trazido grandes prejuízos às lavouras. Sua presença causa diminuição da produção e da qualidade do produto colhido. 

O leiteiro apresenta deiscência explosiva (bolocoria). Isso quer dizer que seus frutos têm a capacidade de lançar as sementes longe da planta-mãe, o que facilita sua disseminação.

Também é uma planta daninha que, ao longo dos anos, adquiriu resistência ao glifosato. 

planta daninha Leiteiro (Euphorbia heterophylla)

Leiteiro (Euphorbia heterophylla)
(Fonte: Embrapa)

Plantas daninhas que interferem na qualidade da fibra do algodão 

Algumas espécies de plantas daninhas também interferem diretamente na qualidade da fibra do algodão, como é o caso do picão-preto (Bidens pilosa), capim-carrapicho (Cenchrus echinatus), carrapicho-de-carneiro (Acanthospermum hispidum) e capim-colchão (Digitaria horizontalis)

As sementes dessas plantas apresentam estruturas que aderem à fibra, reduzindo a qualidade do produto e, consequentemente, seu valor de mercado. 

Além disso, a presença de impurezas aumenta os custos de beneficiamento do algodão.

Da direita para a esquerda: sementes de picão-preto (Bidens pilosa), capim-carrapicho (Cenchrus echinatus), carrapicho-de-carneiro (Acanthospermum hispidiu.) e capim-colchão (Digitaria horizontalis)

Da direita para a esquerda: sementes de picão-preto (Bidens pilosa), capim-carrapicho (Cenchrus echinatus), carrapicho-de-carneiro (Acanthospermum hispidiu.) e capim-colchão (Digitaria horizontalis
(Fonte: Adaptado de Manual de Identificação e Controle de Plantas Daninhas, 2006)

Quando controlar as plantas daninhas do algodão?

É fundamental conhecer o histórico da área em que será implantada a lavoura. O conhecimento prévio da comunidade infestante permite estabelecer um plano de ação eficiente, que deve ser iniciado antes da semeadura e se estender até o momento da colheita. 

Tendo em vista que o algodoeiro é muito sensível à competição, qualquer interferência externa pode comprometer a produtividade. Assim, o cultivo e a colheita devem ser feitos com a área sem plantas invasoras, ou seja, “no limpo”.

Métodos de controle das daninhas do algodão

Controle preventivo

O controle preventivo tem intuito de evitar que novas sementes procedentes de outros locais sejam introduzidas na área cultivada. 

Para isso, é preciso:

  • fazer a limpeza de máquinas e implementos antes de transferi-los de uma área a outra. Essa medida evita que torrões de solo contendo sementes de plantas daninhas sejam levados para outra área de cultivo;
  • utilizar sementes de algodão certificadas;
  • fazer o controle das plantas daninhas também na bordadura das lavouras e nos carreadores, pois o trânsito de animais e até mesmo o vento podem levar sementes indesejadas para a área cultivada.

Controle químico

No mercado, é possível encontrar diversos produtos para o controle de espécies daninhas na cultura do algodão. No entanto, a escolha do herbicida deve ser pautada em alguns fatores, como: 

  • cultivar do algodão;
  • grau de seletividade;
  • espécie e estágio de desenvolvimento das plantas daninhas;
  • tipo de solo;
  • condições climáticas;
  • tecnologia de aplicação.

Também é importante evitar o uso de produtos isolados com resistência comprovada.

Dentre as moléculas disponíveis para o controle de plantas daninhas na cultura do algodão temos:

  • haloxifope-P-metílico;
  • carfentrazona-etílica;
  • diurom;
  • dibrometo de diquate;
  • cletodim.

Mas, o processo de escolha de herbicidas é complexo, o que remete à necessidade de acompanhamento por um engenheiro agrônomo.

Práticas de manejo integrado 

A rotação de herbicidas com diferentes mecanismos de ação é uma das técnicas que deve ser adotada pelo cotonicultor. 

Essa medida amplia o número de espécies controladas, diminui o banco de sementes do solo e dificulta a seleção de biótipos resistentes. 

Outra técnica é a rotação de culturas, que traz inúmeros benefícios como a diversificação da produção, melhoria das qualidades físico-química e biológica do solo e controle de plantas infestantes. 

Cada cultura requer um manejo específico e os efeitos dos diferentes sistemas de produção contribuem para a diminuição do banco de sementes.

Na entressafra, deve ser dada atenção especial ao manejo das plantas daninhas. As medidas adotadas nesse período refletirão diretamente na próxima safra tanto no que se refere ao tamanho da população invasora quanto ao número de aplicações de herbicidas.

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Conclusão

Buva, corda-de-viola, capim-amargoso, caruru, leiteiro, picão-preto, capim-carrapicho, carrapicho-de-carneiro e capim-colchão são algumas das plantas daninhas que causam sérios prejuízos à cultura do algodão.

Como você viu neste artigo, o controle eficiente das plantas daninhas está pautado na adoção de práticas de manejo integradas. Utilize controle preventivo e químico, faça um bom manejo na entressafra, aposte na rotação de culturas e de produtos com mecanismos de ação diferentes.

Vale lembrar que cada área produtora deve ser avaliada isoladamente, considerando fatores técnicos, ambientais e econômicos. Dessa forma, você garante maior produtividade e reduz os custos de produção do algodão!

>>Leia mais:

Capim-rabo-de-raposa (Setaria Parviflora): guia de manejo

Restou alguma dúvida sobre plantas daninhas do algodão? Quais as espécies que dão mais dor de cabeça aí em sua lavoura? Aproveite e baixe aqui um e-book gratuito sobre o controle de plantas daninhas!

Referências

Lorenzi, H. Manual de identificação e controle de plantas daninhas: plantio direto e convencional. 6ª Edição. Nova Odessa, São Paulo. Instituto Plantarum, 2006.

O guia da interpretação da análise de solo

Interpretação da análise de solo: qual a utilidade, como coletar as amostras, aspectos que devem ser considerados e mais!

Para obter grande produtividade agrícola, é importante que a recomendação de calagem e adubação seja determinada pela análise de solo. Além disso, as exigências nutricionais da cultura precisam ser consideradas e devidamente supridas.

Os resultados da análise de solo possibilitam definir o tipo e a quantidade de calcário e fertilizantes, o modo e melhor época de aplicação.

Você sabe interpretar uma análise de solo? Neste artigo, saiba qual é a utilidade da análise de solo, pontos importantes a considerar na análise de terra e muito mais! Boa leitura.

Como é feita uma análise de solo completa?

A análise de solo tem como objetivo averiguar a fertilidade do solo, identificando a presença de acidez e de elementos tóxicos para as plantas. Ela também indica a textura do solo pela relação dos teores de argila, silte e areia. 

É importante que toda recomendação de adubação e calagem seja orientada pela análise do solo. Somente a partir dela é possível determinar a disponibilidade dos nutrientes e a quantidade de corretivos e adubos necessários para o bom desenvolvimento da cultura.

Além disso, os resultados dessa análise contribuem na escolha das espécies mais adaptadas às condições de solo da área amostrada.  

O fornecimento dos fertilizantes na proporção correta contribui para altas produtividades, reduz os custos de produção e também reduz os impactos ambientais causados pela aplicação de adubos em excesso

Na análise de solo completa, são avaliadas as características físicas e químicas da amostra. Veja a seguir quais as análises laboratoriais feitas na caracterização do solo.

Análise física

A análise física caracteriza o solo quanto a proporção entre os teores de areia, silte e argila. Ou seja, nessa avaliação é determinada a textura do solo.  Não há a necessidade de realizar a análise física do solo mais de uma vez

Isso porque a  textura do solo é uma das propriedades que menos sofre alteração ao longo do tempo. Porém, caso você não conheça a textura do solo onde será instalada a lavoura, é recomendado fazer essa avaliação. 

Conhecer a textura do solo é fundamental para fins de manejo. Esse atributo influencia em diversos fatores, como:

  • aeração do solo;
  • nutrição das plantas;
  • interpretação do teor de fósforo;
  • taxa de infiltração de água;
  • capacidade de retenção de água;
  • aderência das partículas do solo.

Análise química

A análise química do solo tem o objetivo de determinar a fertilidade do solo. Ou seja, a capacidade que determinado solo tem de fornecer nutrientes para as culturas agrícolas.  

Nessa avaliação são utilizados extratores químicos que simulam a extração dos nutrientes pelas plantas. Dessa forma, é possível quantificar quais os macro e micronutrientes estão disponíveis. 

Na análise química também são definidas as acidezes ativa, trocável e titulável, a CTC do solo e o teor de matéria orgânica. Assim, as recomendações de calagem e adubação são feitas de acordo com as condições do solo e da exigência nutricional da espécie.

Como fazer análise de solo?

Para que os resultados da análise de solo sejam confiáveis e representativos, alguns cuidados precisam ser tomados. Veja a seguir algumas dicas para não errar na análise de solo.

Qual é a época ideal para o processo?

A análise do solo deve ser realizada alguns meses antes da implantação da lavoura. No caso das culturas anuais, essa avaliação pode ser feita na entressafra, cerca de três meses antes do início do plantio.

Assim há tempo para planejar, adquirir os insumos e executar as operações pré-plantio como calagem e gessagem, conforme os dados da análise. Para as culturas perenes, a análise de solo deve ser realizada logo após a colheita.

Como fazer a coleta do solo para análise?

É fato que não há como analisar todo o solo da propriedade rural. Para isso, são retiradas amostras representativas da área a ser cultivada.  Se a coleta da amostra de solo não for realizada da maneira correta, os resultados da análise não serão confiáveis.

Quanto mais heterogênea a área, maior o número de pontos de amostragem. Para a coleta das amostras é preciso dividir a área em glebas homogêneas de até 20 hectares. Essa divisão deve considerar:

  • textura do solo;
  • coloração;
  • topografia;
  • vegetação;
  • sistema de cultivo;
  • adubação;
  • calagem anteriores. 

De cada gleba serão coletadas 20 subamostras (amostras simples). Elas serão misturadas para formar a amostra composta e a partir dela uma porção será enviada para análise no laboratório.

Passo a passo de como coletar amostras de solo
Passo a passo de como coletar amostras de solo
(Fonte: Calcário Solo Fértil)

Qual a profundidade da amostragem?

Em áreas sob sistema de plantio direto, sistema de integração lavoura-pecuária e pastagens, as amostras devem ser retiradas de forma específica. Faça isso nas camadas de 0 cm a 10 cm e 10 cm a 20 cm de profundidade.

Já em lavouras conduzidas sob o sistema de plantio convencional, a profundidade da amostragem é de 0 cm a 20 cm. Maiores profundidades de amostragem (20 cm a 40 cm e 40 cm a 60 cm) são usadas para detecção de deficiência de cálcio e toxidez por alumínio.

Como escolher o melhor laboratório de análise?

Quem faz a análise do solo são os laboratórios especializados, e escolher o ideal é fundamental para garantir assertividade no processo.

A escolha do laboratório de análise do solo que realizará as análises físico-químicas  também é uma etapa muito importante. Resultados errados levam a erros de interpretação da análise de solo. As amostras devem ser confiadas a um laboratório de confiança

Qual a frequência de análise?

Para as culturas anuais, o ideal é fazer a análise química do solo anualmente. Apesar disso, é comum que alguns produtores façam essa avaliação a cada 2 ou 3 anos. 

Em áreas intensamente cultivadas ou com problemas de fertilidade, a orientação é fazer a análise química do solo com maior frequência.

Como interpretar análise de solo?

A interpretação dos resultados da análise de solo é uma atividade complexa. A recomendação de calagem e adubação deve ser feita considerando alguns fatores como:

  • região da área analisada;
  • histórico da área;
  • profundidade da amostragem;
  • sistema de cultivo;
  • produtividade esperada;
  • exigência nutricional da cultura;
  • recursos financeiros disponíveis.

Erros envolvendo a super ou sub dosagem de corretivos e fertilizantes podem comprometer o desenvolvimento das plantas. Assim, em caso de dúvidas, o melhor a fazer é consultar um(a) engenheiro(a) agrônomo(a).

Agora, veja como interpretar os indicadores da análise do solo.

Acidez ativa ou pH

O pH do solo influencia diretamente na absorção dos nutrientes

Valores mais altos de pH reduzem a disponibilidade de micronutrientes como cobre, ferro, manganês e zinco. O pH mais ácido diminui a disponibilidade de molibdênio, cloro e boro, além de aumentar a solubilidade do alumínio.

Para a maioria das culturas, o índice de pH indicado é entre 6 a 6,5. Confira no gráfico a seguir a disponibilidade dos macro e micronutrientes tendo como referência o pH do solo.

Disponibilidade de nutrientes e alumínio em função do pH do solo
Disponibilidade de nutrientes e alumínio em função do pH do solo
(Fonte: Incaper)

Calagem 

Existem diferentes métodos para determinar a calagem do solo. Esses métodos variam sobretudo de acordo com a porcentagem de argila, teor de cálcio e magnésio e da CTC do solo. Ainda, eles variam conforme o PRNT.

O PRNT (Poder Relativo de Neutralização Total) informa a qualidade do calcário. Esse indicador tem valor diferente de 100% e precisa ser corrigido utilizando o fator de correção (f) como demonstrado na fórmula abaixo:

  • f = 100 dividido pelo PRNT

Para determinar a quantidade de calcário no solo, você pode utilizar planilhas editáveis, como a da Aegro. Clique na imagem abaixo para acessar gratuitamente esse material que te ajuda no cálculo de calagem:

Adubação com NPK

No caso do nitrogênio, a resposta à adubação depende da cultura. Assim, a adubação com NPK é feita com base na produtividade esperada.

O teor de fósforo no solo varia em função do teor de argila, podendo ser classificado como muito baixo, baixo, médio, adequado ou alto. Você pode consultar as recomendações desses nutrientes dependendo da sua região, como o Boletim 100 e a 5a Aproximação.

Essas recomendações te auxiliam no planejamento e na tomada de decisão, mas tenha em mente que cada caso é um caso. Ou seja, não existe receita. As estratégias de correção e adubação dependem da análise de solo e do histórico de manejo da área.

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Conclusão

A análise química do solo é utilizada para determinar a fertilidade e a presença de alumínio tóxico. Já a análise física define a textura do solo.

Para realizar uma boa análise de solo se atente a época da avaliação, ao modo de amostragem, a profundidade de amostragem e ao laboratório que irá fazer as avaliações. 

A correta interpretação dos resultados da análise de solo é fundamental para obter altas produtividades. Somente por essa avaliação é possível determinar a real fertilidade do solo. Em caso de dúvida, não deixe de consultar uma pessoa especialista da agronomia.

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