Fertilização em excesso? Entenda os riscos da overfert e saiba como evitar que ela ocorra

Overfert: saiba quais são os sintomas e as consequências que a adubação em excesso pode provocar na sua lavoura

A busca por altas produtividades agrícolas pode levar à utilização de adubos em dosagens cada vez mais pesadas.

Mas uma adubação feita em excesso e sem critérios não aumenta a produtividade e, pior, ainda compromete o desenvolvimento da lavoura, podendo também prejudicar o meio ambiente. Além disso, aumenta os custos de produção e traz risco de fitotoxicidade nas plantas.

Entenda quais são os sintomas da overfert (excesso de fertilização), suas consequências e como evitar esse problema na lavoura. Confira a seguir!

O que é overfert?

A overfert ou overfertilization é o excesso de fertilização da planta, provocada pela aplicação de doses de adubos muito acima da exigida pela cultura. Essa condição compromete o desenvolvimento da lavoura, prejudicando a produtividade e causando uma série de outros problemas.

Geralmente, as áreas destinadas ao plantio de grandes culturas, como soja e milho, apresentam solos com baixa fertilidade natural e elevada acidez. E, na busca por alta produtividade, a adubação é feita em dosagens cada vez mais pesadas.

Mas uma fertilização sem critérios e excessiva não melhora a produtividade – pelo contrário. Maiores dosagens de fertilizantes elevam os custos de produção e oferecem riscos, podendo gerar toxicidade nas plantas e queda da produtividade. 

Assim como a carência de determinados nutrientes no solo compromete o desenvolvimento da lavoura, o excesso também pode prejudicar a cultura.

Por essa razão, as recomendações de adubação devem ser feitas em função da fertilidade do solo. Precisamos conhecer a quantidade e quais são os nutrientes disponíveis para as plantas para então definir o quanto será necessário para atender as exigências da cultura. Vou explicar melhor a seguir.

Como determinar a fertilidade do solo?

A fertilidade só pode ser determinada em laboratório. A partir de uma amostra de solo podemos saber quais nutrientes estão em falta ou excesso, e assim, estabelecer um plano de manejo adequado para um bom desenvolvimento da cultura.

É importante que os nutrientes estejam em equilíbrio no solo, pois o excesso ou falta de algum afeta diretamente na disponibilidade e absorção dos demais. Sendo assim, a análise de solo é uma ferramenta indispensável para a tomada de decisão.

Leis gerais da adubação

Abaixo estão descritas duas leis que irão te ajudar a entender melhor como funciona o processo de adubação:

Lei do Máximo

Maiores dosagens de fertilizantes se tornam um limitante para o desenvolvimento da cultura. Em outras palavras, doses elevadas podem causar toxidez nas plantas. O excesso de determinado nutriente também pode levar à não absorção dos demais, causando sintomas de deficiência

A busca pelo equilíbrio dos nutrientes no solo é fundamental para o aproveitamento racional dos recursos e para obter altas produtividades.

Lei dos Incrementos Decrescentes ou Lei de Mitscherlich

A produtividade das plantas decresce à medida em que são fornecidos mais nutrientes via adubação. Maiores doses de fertilizantes resultam em incrementos de produção cada vez menores.

Inicialmente, a planta responde positivamente às doses crescentes e tem ganhos na produtividade. Porém, quando a produção máxima é atingida, não é possível observar resultados positivos e há queda de produtividade.

Vale lembrar que os custos de produção se elevam proporcionalmente ao aumento da dosagem de fertilizantes. Por essas razões, é preciso estar atento às exigências de cada cultura e à época de aplicação.

É essencial conhecer o ciclo de desenvolvimento das plantas para que as adubações sejam realizadas de acordo com as exigências nutricionais nas fases de maior demanda e, assim, explorar o máximo potencial produtivo da cultura.

Representação gráfica da Lei dos Incrementos Decrescentes

Representação gráfica da Lei dos Incrementos Decrescentes

Recomendação de adubação

As altas produtividades atingidas pelo Brasil se devem ao manejo adequado de uma série de fatores, dentre eles a adubação das lavouras

Para uma adubação correta é preciso que seja feita primeiro uma amostragem do solo, em qualquer época do ano. É preciso coletar amostras representativas da área, que variam de acordo com o tamanho e homogeneidade do solo.

Essas amostras devem ser armazenadas em sacos plásticos limpos para evitar a contaminação. Devem ser identificadas com o nome da propriedade e do produtor rural, data, local e profundidade de amostragem para posterior envio ao laboratório.

Importante ressaltar que problemas de amostragem podem implicar em recomendações equivocadas, pois os resultados podem não ser representativos. Assim, é essencial que a coleta de solo seja feita por pessoas qualificadas para essa função.

Para a interpretação dos resultados da análise de solo, consulte um engenheiro agrônomo. 

A análise de solo e os boletins regionais de adubação permitem que o engenheiro-agrônomo determine qual quantidade de fertilizantes atenderá às exigências da cultura, qual a formulação ideal, modo e época de aplicação.

O milho, por exemplo, é bastante exigente quanto aos teores de nitrogênio e potássio. Em caso de recomendações muito altas de adubação, é comum que elas sejam parceladas ao longo do desenvolvimento da cultura para atender os picos de absorção desses nutrientes pela lavoura. 

Como corrigir a overfert?

A adubação em excesso pode ser evitada, mas dificilmente poderá ser corrigida. Por isso, é preciso cautela tanto na recomendação quanto na aplicação dos fertilizantes.

É preciso pautar as recomendações de adubação na análise de solo, além de respeitar as exigências nutricionais de cada cultura. 

Também é preciso considerar a época e a técnica de aplicação dos fertilizantes, visto que a má distribuição do produto na área pode ocasionar toxicidade em pontos específicos da lavoura.  

8 consequências da overfert

Confira algumas consequências que a adubação em excesso pode causar à sua lavoura:

  • toxidez das plantas;
  • diminuição da resistência ao ataque de pragas e doenças;
  • redução da produtividade;
  • alteração do pH do solo;
  • salinização do solo, que pode levar ao estresse hídrico das plantas;
  • deficiência nutricional pela dificuldade de absorção dos demais nutrientes; 
  • contaminação ambiental em função da lixiviação, escoamento superficial e/ou volatilização dos fertilizantes;
  • elevação dos custos de produção.

Sintomas de overfert

Muitas vezes, a toxidez pelo excesso de nutrientes pode ser confundida com sintomas causados por insetos e doenças. Sendo assim, a correta identificação dos sintomas é essencial para o manejo ideal da lavoura, e para isso é preciso conhecer o histórico da área.

Os sintomas da adubação em excesso podem variar de uma espécie para outra, mas, em geral, são verificados visualmente nas folhas mais velhas, que podem apresentar clorose, pontos necróticos e encarquilhamento.

Também pode haver atraso da fase reprodutiva da planta em razão do aumento da fase vegetativa, e as folhas podem apresentar coloração verde-escura

Vale ressaltar que, embora alguns sintomas não sejam visualmente detectados, ainda pode ocorrer redução da produtividade.

Folha de soja com pontos necróticos e clorose pela toxidez por manganês overfert

Folha de soja com pontos necróticos e clorose pela toxidez por manganês
(Fonte: adaptado de Hernandez-Soriano et al.)

foto com sintomas de toxidez por boro em folhas de arroz overfert

Sintomas de toxidez por boro em folhas de arroz
(Fonte: Rice Knowledge Bank)

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Conclusão

O sistema solo-planta tem seu limite e é importante entender que não haverá aumento de produtividade com a superdosagem de fertilizantes. 

Sendo assim, a análise de solo é a ferramenta mais segura para a adoção de práticas de adubação mais sustentáveis.

Doses acima das exigidas pela cultura podem causar danos significativos e comprometer a produtividade.

Resumindo, a adubação em excesso (overfert) não contribui para o melhor e mais rápido desenvolvimento da lavoura. 

Além disso, a adequada correção da fertilidade aumenta as chances do bom estabelecimento da lavoura. 

>> Leia mais:

“9 micronutrientes das plantas: como e quando utilizá-los”

“Como o mapeamento de fertilidade do solo pode gerar economia na fazenda”

“Adubação de sistemas: como fazer para ter mais economia e alta produtividade”

Você já passou por algum problema causado pela overfert em sua lavoura? Ficou com alguma dúvida? Vamos continuar essa conversa nos comentários! 

Como combater o estresse térmico nas plantas?

Estresse térmico nas plantas: saiba como ele pode afetar a produtividade da sua lavoura e o que fazer para contornar esse problema!

Todos nós já passamos por situações estressantes em algum momento da vida, não é mesmo? E as plantas também podem passar por estresses. É claro que o estresse nas plantas não é o mesmo que o nosso, mas a ideia e os efeitos são parecidos.

Quando estamos estressados, muitas vezes não conseguimos pensar ou agir direito, o que afeta diretamente nosso rendimento nas atividades diárias.

O mesmo acontece com as plantas! Quando submetidas a estresses, principalmente por longos períodos, as plantas perdem rendimento. Isso reflete diretamente na produtividade.

Um dos principais estresses pelos quais as plantas passam é o estresse térmico, e você pode aprender um pouco mais sobre ele no texto a seguir!

O que é o estresse térmico?

Estresses são fatores externos que exercem influências desvantajosas sobre as plantas.

O estresse térmico nada mais é que o efeito negativo das condições térmicas, ou seja, da temperatura do ar sobre as plantas.

É natural pensarmos logo nas altas temperaturas e como elas podem causar estresse nas plantas – e isso realmente acontece! 

Também as baixas temperaturas podem ser uma forma de estresse térmico, embora isso seja menos comum para os climas tropicais e subtropicais do Brasil.

Sejam temperaturas altas ou baixas, a duração do estresse também é importante.

Quando o período de estresse é muito prolongado, as lavouras sentirão seus efeitos e isso vai refletir na colheita e na produtividade.

Vamos ver agora como o estresse térmico atua nas plantas?

Como o estresse térmico afeta a lavoura?

Os efeitos do estresse térmico nas plantas podem variar de acordo com o estágio de desenvolvimento em que elas se encontram.

Confira na tabela que preparei para vocês:

Possíveis danos causados pelo estresse térmico nas plantas nos estágios de desenvolvimento

Possíveis danos causados pelo estresse térmico nas plantas nos estágios de desenvolvimento
(Fonte: Tabela elaborada pelo autor, baseada em Ali et al., 2020)

Como podemos ver, independente do estágio em que as plantas se encontram, o estresse térmico traz grandes prejuízos.

Além dos efeitos citados, plantas sob condições de estresse tornam-se mais suscetíveis a doenças, reduzindo ainda mais a produtividade da lavoura.

A influência dos estresses na incidência de doenças

Quando pensamos em doenças de plantas, a primeira coisa em que devemos pensar é no famoso triângulo da doença.

Com base nele, sabemos que a doença é um resultado da interação de 3 fatores: o ambiente, o hospedeiro e o patógeno.

Assim, podemos concluir que mudanças ambientais vão influenciar na relação de nossas plantas com as doenças. E, nesse caso, não só o estresse térmico nas plantas irá afetar a incidência de doenças, mas também outros tipos de estresse, como o hídrico.

ilustração com o triângulo da doença, influências dos estresses na incidência de doenças sendo ambiente, hospedeiro e patógeno.

O triângulo da doença

Estresse hídrico

O estresse hídrico pode ocorrer de duas formas: pelo excesso ou pela falta de água para as plantas.

No caso da falta de água, as plantas crescem menos e tornam-se subdesenvolvidas.

Consequentemente, apresentam menores taxas fotossintéticas, de síntese proteica, de atividade metabólica e enzimáticas.

foto de área com irrigação e área de sequeiro com plantas submetidas a estresse hídrico

Área com irrigação e área de sequeiro com plantas submetidas a estresse hídrico
(Fonte: Café Point)

Muitas dessas enzimas e proteínas têm função primordial no processo de defesa das plantas contra os patógenos. Dessa forma, plantas submetidas a estresses tornam-se mais suscetíveis a doenças.

o excesso de água no solo também torna as plantas mais vulneráveis à ação de patógenos. 

Quando em situação de excedente hídrico, os tecidos radiculares se tornam mais suculentos, o que facilita a penetração dos patógenos.

Se o encharcamento for muito prolongado, as plantas começam a ficar sem oxigênio nas raízes, e isso afeta diretamente a respiração aeróbica (dependente de oxigênio), causando:

  • redução do metabolismo celular;
  • perda da integridade da membrana celular;
  • acúmulo de gases como dióxido de carbono e etileno.

Tudo isso deixa as plantas cada vez mais atrativas aos agentes patogênicos!

Claro que cada patógeno é favorecido por um cenário. Há patógenos que se desenvolvem melhor no excedente do que na escassez (e vice-versa).

Estresse térmico

O estresse térmico nas plantas, assim como o hídrico, favorece a incidência das doenças quando as temperaturas são muito elevadas ou muito baixas.

De modo geral, as plantas que crescem sob condições de estresse térmico têm um desenvolvimento debilitado

Além disso, o estresse térmico nas plantas afeta diretamente a expressão gênica, o que  pode favorecer e/ou inibir genes que atuam diretamente na resistência aos patógenos.

Os estresses térmicos podem influenciar também no ciclo de vida dos patógenos, os acelerando! 

Isso significa que as infestações podem se tornar mais severas do que o normal, e o controle, mais difícil.

Como amenizar os efeitos do estresse térmico nas plantas?

O controle dos causadores do estresse térmico nas plantas é impossível, pois não podemos controlar o clima, não é mesmo?

Existem algumas estratégias que podemos adotar na lavoura para reduzir os efeitos ou a ocorrência do estresse térmico nas plantas.

Se nossa região de plantio apresentar histórico de elevadas temperaturas que podem causar estresse térmico, devemos “de cara” buscar por cultivares de maior tolerância.

Programas de melhoramento genético de diversas culturas de grãos já selecionaram e desenvolveram cultivares mais resistentes.

Nos últimos anos, estudos vêm mostrando efeitos positivos da aplicação de substâncias chamadas osmólitos, como o ácido abscísico, jasmonatos e ainda o ácido ascórbico, para a redução do estresse em plantas.

Claro que essas substâncias não são milagrosas, e podem não surtir efeito em condições extremas de estresse.

O manejo do solo, com aplicação de compostos orgânicos e corretivos de solo (orgânicos e inorgânicos), e outras técnicas agrícolas (culturas de cobertura, mulching e a rotação) podem também promover a redução do estresse térmico nas lavouras.

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Conclusão

Como vimos no decorrer do texto, os estresses das plantas podem causar danos irreversíveis e, como consequência, reduzir a produtividade.

O estresse térmico é um dos mais comuns e com grande potencial de interferir no sucesso das lavouras do Brasil afora. Além dos prejuízos que ele traz, pode servir como facilitador para a incidência de doenças nas lavouras.

Por isso, é importante conhecer como ele pode afetar a lavoura para que possamos combatê-lo da melhor forma possível.

>> Leia mais:

“Como minimizar os impactos e prejuízos da geada no milho”

“Agricultura irrigada ideal e produtiva”

“Entenda os principais fenômenos meteorológicos na agricultura e planeje melhor sua produção”

E você, tem observado perdas por estresse térmico em sua região? Conte pra gente nos comentários como você contorna a situação.

Quando a irrigação de café pode ser uma alternativa rentável para sua lavoura?

Irrigação de café: entenda os benefícios e desafios, custos envolvidos, potencial de ganho e compensação econômica do investimento

O déficit hídrico é um dos fatores de maior impacto na cafeicultura, prejudicando a sobrevivência, o crescimento e a produtividade das plantas. 

Contar apenas com a variação de chuva ao longo do ano aumenta a incerteza e os riscos da cultura do café. 

Por isso, o uso da irrigação tem se tornado uma alternativa bastante interessante, permitindo o aumento da produção do cafeeiro e também da qualidade das bebidas.

Mas quando vale a pena investir na irrigação de café? Qual método pode ser o mais adequado para a sua lavoura? Confira essas e outras respostas a seguir!

Por que irrigar o cafeeiro?

A principal intenção de irrigar o cafeeiro é fornecer uma quantidade de água ideal para o bom crescimento e desenvolvimento das plantas. 

Ao  corrigir a umidade do solo, a planta pode se aproximar do seu potencial produtivo, diminuindo perdas e aumentando a produção.

Essa técnica diminui o risco da atividade agrícola, que passa a não depender apenas dos níveis de chuva naturalmente acumulados. 

Ao manter o fornecimento de água ideal, a planta aumenta a eficiência do seu processo de fotossíntese, que é a sua maior fonte de biomassa.

Além disso, a cultura do café tem seu florescimento estimulado pela precipitação após um período de seca. Nesse caso, o uso de irrigação pode induzir floradas mais homogêneas, gerando maior produtividade, grãos de maior peneira e maturação mais igualitária de frutos.

A cafeicultura irrigada representa 12% da área total de café do país, mas responde por 30% da produção. Isso mostra a vantagem do uso da irrigação na produtividade quando comparada à cultura de sequeiro.

6 principais métodos de irrigação na cultura do café

Existem alguns métodos mais empregados para a irrigação do café. São eles:

  1. canhão hidráulico: é um sistema com alto consumo de energia e pode ainda causar desuniformidade de aplicação e desperdício de água;
  2. malha: é um método simples e efetivo, com baixo custo de implantação;
  3. pivô central: é um sistema preparado para irrigar uma área circular de lavoura e com boa uniformidade;
  4. microaspersores: é um sistema de irrigação localizada com alto rendimento e precisão;
  5. Gotejamento: usado para irrigação localizada, possui custo mais elevado, mas com alto rendimento e precisão;
  6. Tripas: é um sistema de irrigação localizada de custo mais baixo que os microaspersores e gotejamento.

A recomendação do método de irrigação depende de fatores como:

  • topografia da área;
  • disponibilidade de água na propriedade;
  • porosidade do solo;
  • nível tecnológico da fazenda;
  • condições climáticas como pluviosidade, temperatura e velocidade do vento.
gráfico com custo de implantação de sistemas de irrigação de café
Custo de implantação de sistemas de irrigação
(Fonte: Esalq, 2013)

Quando utilizar irrigação no cafeeiro?

As condições climáticas ideais para a cultura do café são temperaturas entre 19℃ e 21℃ e precipitação anual acumulada de 1.400 mm. 

Na maioria das regiões, onde a cultura é mais presente, as condições se aproximam das ideais.

Porém, tem-se verificado a alteração de padrões climáticos em algumas regiões, o que pode ocasionar aumento de temperatura e regime hídrico mais variável. 

O déficit hídrico a partir de 150 mm passa a causar danos no vigor e produtividade de plantas de café.

A recomendação de irrigação está muito ligada às condições climáticas de cada região.  Quanto maiores as limitações climáticas – como temperaturas altas e disponibilidade hídrica baixa – mais benéfica se torna a irrigação. 

Qual o potencial de ganho com uso da irrigação de café?

Assim como a recomendação do uso, o potencial da irrigação do café também depende das limitações climáticas da região.

Em regiões quentes e secas, o uso de irrigação pode aumentar a produtividade em 100%. Nas demais regiões o ganho pode variar de 25% a 60%.

Além disso, a irrigação proporciona uma florada mais homogênea, que pode garantir uma frutificação mais robusta, com grãos maiores e de maior qualidade. Isso aumenta a qualidade do café em termos de classificação de peneira e quantidade de defeitos.

Finalmente, a irrigação pode aumentar a qualidade de bebida do café pelo acúmulo de qualidades sensoriais do produto final.

Compensação econômica

A compensação econômica da implantação de um sistema de irrigação de café vai depender das limitações climáticas da região, da capacitação técnica da propriedade e do sistema escolhido.

Isso definirá os custos de produção e operação e também os ganhos em produtividade e qualidade do café

A tabela a seguir mostra um comparativo financeiro da implantação e produção de cafeeiros em sequeiro e irrigado.

O ganho com o sistema de irrigação no estudo de caso apresentado abaixo foi de 41% de aumento no lucro final por hectare. Esse índice, entretanto, pode ser maior ou menor de acordo com os fatores acima citados. 

Em alguns casos, o investimento na irrigação pode ser pago já na primeira safra  ou em um período maior, de até 2,2 anos, dependendo das realidades dos estudos de caso.

tabela com custos de produção de cafeeiros em sequeiro e irrigado obtidos em estudo de caso
Custos de produção de cafeeiros em sequeiro e irrigado obtidos em estudo de caso
(Fonte: Educampo, 2015)

Quais os desafios para a implementação da irrigação?

Os principais desafios para a implementação da irrigação no cafeeiro estão relacionados ao uso racional de água e energia

O planejamento e execução da irrigação deve ser feita por um profissional especializado. Além disso, a automatização de cálculos de lâmina de irrigação podem auxiliar na eficiência do processo. 

Outro ponto importante é a constante verificação e manutenção dos equipamentos de irrigação para evitar possíveis danos e problemas.

Finalmente, a boa escolha do sistema de irrigação e o conhecimento das legislações referentes à outorga e uso de água são fundamentais para aumentar a porcentagem de sucesso do empreendimento.

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Conclusão

A irrigação do cafeeiro tem se mostrado uma opção viável e rentável. Ela contribui para diminuir os riscos da atividade agrícola, contornar as variações climáticas regionais, aumentar a produtividade da lavoura e racionalizar o uso de recursos vitais como água e energia.

A escolha do sistema de irrigação, sua instalação, manejo e manutenção são atividades primordiais para o sucesso do empreendimento.

Além disso, as recomendações de lâminas de água de acordo com a fase fenológica da cultura, das características climáticas e de solo também são importantes.

Como você viu, essa técnica se apresenta financeiramente viável através do pagamento de investimento por meio do aumento da produtividade do cafeeiro, da qualidade dos grãos e da bebida.

>> Leia mais:

“Poda do cafezal: como fazer para aumentar sua produção”

“Adubação para café: simples e prática (+ planilha)”

Você tem alguma experiência com relação à irrigação de café? Deixe seu comentário e vamos continuar essa conversa!

Passo a passo de como fazer a limpeza de pulverizador agrícola com segurança

Limpeza de pulverizador agrícola: quais cuidados você deve seguir antes e durante o procedimento para aumentar a vida útil e ter melhores resultados com o equipamento

Você sabia que a limpeza correta do pulverizador agrícola aumenta a vida útil do implemento, evita fitotoxicidade e melhora a eficiência das aplicações de defensivos agrícolas?

A limpeza deve ser rígida interna e externamente, além de realizada atendendo diversos procedimentos. 

Tanque, bomba, mangueiras e pontas de pulverização devem ser completamente limpos para evitar contaminação.

A seguir, vou explicar como realizar a limpeza correta do pulverizador. Confira!

Importância da limpeza e descontaminação do pulverizador agrícola

A utilização de produtos como agroquímicos, pesticidas, produtos fitossanitários ou defensivos agrícolas para controlar pragas, plantas daninhas e doenças faz parte do manejo de lavouras. Ela está relacionada à produtividade agrícola.

No século 20, houve um aumento considerável na utilização desses produtos, desenvolvidos comercialmente e em larga escala, movimentando bilhões de dólares no mundo todo.

Existem diversos produtos com variados ingredientes ativos para controle de insetos, fungos, plantas-daninhas, nematoides, ácaros, etc. 

Muitos destes produtos reagem entre si. Portanto, é indispensável conhecer sua natureza e indicações antes de realizar a pulverização.

O alvo, o momento de pulverização, o produto utilizado, o equipamento (pulverizador) adequado e em condições de uso comandam a tecnologia de aplicação do defensivo agrícola.

A preparação do pulverizador para uma aplicação começa bem antes da regulagem (calibração de velocidade de trabalho e/ou pressão de operação). 

É indispensável conhecer o funcionamento do seu pulverizador e entender como alguns produtos reagem com o sistema de pulverização.

A limpeza do tanque de pulverização e o sistema de distribuição da calda são as manutenções mais básicas e frequentes que precisam ser feitas. Caso contrário, o implemento pode ser danificado e ter sua vida útil consideravelmente reduzida.

foto com filtros de pontas do pulverizador agrícola com resíduos de agroquímico

Filtros de pontas do pulverizador agrícola com resíduos de agroquímico
(Fonte: DocPlayer)

Diversos agroquímicos podem se incrustar em partes ocultas do sistema, como mangueiras, filtros, registros, pontas de pulverização, etc.

Veja alguns danos que esses detritos podem causar:

  • contaminação de lavouras;
  • alteração da composição química do produto aplicado;
  • obstrução da tubulação, filtros e pontas;
  • corrosão de partes do sistema;
  • comprometimento do manejo e perdas significativas na lavoura.

Por fim, a limpeza correta deve ser realizada sempre entre operações de modo a minimizar danos ao equipamento, tornar a pulverização mais eficiente e colher bons resultados ao final da safra.

Procedimentos antes da limpeza do pulverizador agrícola

Para limpar o pulverizador agrícola, você deve seguir alguns passos:

Sobrou produto no tanque?

O volume de calda preparada deve ser exatamente a quantidade a ser aplicada no campo.

Se mesmo assim sobrar, o tanque deve ser esvaziado completamente, preferencialmente sobre a mesma lavoura que foi pulverizada.

Irá realizar outra pulverização no dia seguinte?

Se a resposta for sim, e com o mesmo produto, é recomendado colocar água limpa no tanque e pulverizar até o fim. Dessa forma, você evita que resíduos sequem no fundo do tanque e em seus demais componentes.

Caso vá trocar o produto fitossanitário na próxima pulverização, outro procedimento será adotado – e está explicado logo abaixo em 5 passos!

foto de filtro entupido por incompatibilidade de agrotóxicos no tanque - texto sobre limpeza de pulverizador agrícola

Filtro entupido por incompatibilidade de agroquímicos no tanque
(Fonte: Infobibos)

Local de limpeza e descontaminação

O equipamento deve ser levado a um local adequado, onde a limpeza e descontaminação devem ser realizadas com água e solução de limpeza (limpa tanque agrícola).

O local adequado corresponde a uma área:

  • aberta, ampla e isolada;
  • longe de cursos d’água;
  • cercada de modo a ser inacessível a animais e outras pessoas não autorizadas;
  • com acesso à água pressurizada e um piso impermeável com canaletas que direcionam a água da operação para local adequado.

Não há uma legislação específica para isso. Entretanto, algumas recomendações podem ser extraídas do artigo 7.º da IN n.º2 de 2008, que trata deste procedimento para aviões agrícolas.

Equipamentos e proteção

É indispensável que o agente de limpeza e descontaminação esteja protegido de todas as formas de exposição aos agroquímicos.

Há legislação vigente no Brasil que regula o uso de agroquímicos, inclusive tratando sobre a utilização de equipamentos de proteção individual (EPIs)

A NR-31,presente no artigo 13 da Lei n.º 5.889/73, trata da segurança e saúde no trabalho na agricultura.

Operador com EPI de pulverização adequado em uma lavoura de café

Operador com EPI de pulverização adequado
(Fonte: Campo e Negócios)

4 passos para fazer a limpeza interna do pulverizador agrícola

A técnica utilizada difere da tríplice lavagem, onde são feitas limpezas por três vezes com apenas água.

Neste caso, utiliza-se água e um produto químico (limpa tanque). Usualmente no rótulo ou bula dos agroquímicos os fabricantes recomendam princípios ativos específicos para o produto.

Confira abaixo o passo a passo para a limpeza interna:

  1. Coloque meio tanque de água limpa, agite e pulverize por pelo menos 5 minutos, limpando o tanque, mangueiras de linhas e pontas. Deve ser dada atenção aos componentes do circuito hidráulico para notar possíveis peças danificadas ou vazamentos;
  2. Após retirar a água, encha o tanque com água limpa e adicione o limpa tanque específico. Agite o tanque por 15 minutos e opere por tempo suficiente para que as linhas de barra e pontas sejam preenchidas com a água + limpa tanque. 
  3. Mantenha o implemento em repouso por diversas horas, preferencialmente durante a noite e, após esse período, agite o tanque novamente e pulverize a solução.
  4. Complete o tanque com água para o enxágue final e limpe combinando agitação e pulverização por 5 minutos, liberando o restante pelo fundo do tanque.

Como fazer a limpeza externa do pulverizador

Finalizado o procedimento de lavagem interna, remova filtros e pontas, que podem ser deixados em um balde com água e limpa tanque por alguns minutos. Feito isso, lave-os com água limpa e escovas de cerdas macias.

No restante do implemento, utilize um  jato de água pressurizado para remover resíduos. 

Geralmente se usa apenas água, entretanto, dependendo do estado do equipamento, é necessário utilizar agentes de limpeza adicionados à água pressurizada.

foto de limpeza externa com água pressurizada, operador com todos os equipamentos de segurança

Limpeza externa com água pressurizada
(Fonte: HardiSprayer)

Produtos para limpeza

Os mais comuns e recomendados são à base de amônia, pois elevam o pH da solução, facilitando a remoção de resíduos de agroquímicos.

Produtos à base de cloro também são amplamente utilizados. Porém, é preciso ter cuidado para não utilizá-los com produtos amoniacais e nem em tanques onde se utilizou agroquímicos à base de amônia, pois os dois componentes juntos reagem e formam gás tóxico.

planilha Aegro de cálculo de pulverização de defensivos, baixe agora

Conclusão

Planeje a pulverização para não sobrar calda no tanque e, após o manejo, limpe e descontamine o pulverizador.

Use produto limpa tanque recomendado na limpeza do pulverizador agrícola para cada categoria de agroquímico –  e leia sempre o rótulo.

Limpe cuidadosamente as partes da máquina que estiveram em contato com a calda.

Utilize corretamente todos os equipamentos e proteção individual (EPIs).

Sempre siga as recomendações de um profissional agrônomo nas operações de pulverização.

Espero que, com essas dicas, você prolongue a vida útil dos equipamentos e obtenha resultados melhores na sua fazenda!

>>Leia mais:

“Entenda os princípios e benefícios da pulverização eletrostática na agricultura”

Já enfrentou dificuldades na limpeza do pulverizador agrícola? Ainda tem alguma dúvida sobre o assunto? Conte sua experiência nos comentários!

Como garantir a qualidade durante os processos de secagem e armazenamento de trigo

Armazenamento de trigo: confira os principais manejos que você deve adotar na pós-colheita para evitar as perdas e a desvalorização dos grãos.

O cuidado na pós-colheita do trigo é fundamental para garantir a manutenção da qualidade dos grãos e evitar perdas no seu preço de venda.

Mas você sabe quais fatores devem ser observados durante a secagem do trigo e como manejá-los? 

Sabe quais manejos devem ser adotados na armazenagem do trigo para minimizar as perdas e evitar pragas? 

Sabe quais são os principais contaminantes do trigo na pós-colheita e como monitorá-los?

Confira essas e outras recomendações a seguir!

A pós-colheita do trigo

A pós-colheita do trigo compreende a limpeza, a secagem e o armazenamento dos grãos.

A limpeza geralmente não ocasiona danos à qualidade dos grãos de trigo, pelo contrário, pode melhorar a qualidade do lote pela retirada das sujidades e de grãos chochos e quebrados.

Já na secagem e no armazenamento, os grãos de trigo podem sofrer danos se não forem adotados os manejos corretos.

Portanto, como você verá a seguir, cuidados devem ser tomados para que a qualidade dos grãos seja mantida nas operações após a colheita do trigo.

Secagem de trigo

Antes da secagem, os grãos devem passar pela pré-limpeza realizada por uma máquina de ar e peneiras. O objetivo é retirar restos culturais e materiais estranhos como pedras, terra, etc., da massa de grãos.

Essa limpeza facilita a secagem e permite o armazenamento com melhor qualidade.

A secagem dos grãos de trigo serve para reduzir o teor de água, permitindo o armazenamento seguro por maior tempo. 

Esse processo pode ser realizado com ar aquecido ou com ar natural (sem aquecimento). Vou explicar cada um deles a seguir.

Secagem com ar aquecido

O principal aspecto relacionado à secagem de grãos de trigo com ar aquecido é a temperatura do ar de secagem, que vai depender do tipo de secador (estacionário ou intermitente) e do teor de água inicial dos grãos.

Para que a qualidade tecnológica dos grãos de trigo não seja prejudicada, a temperatura da massa de grãos não deve ultrapassar 60 ℃. 

Na secagem estacionária, pelo fato de ser realizada em camadas fixas, pode haver super secagem e aquecimento excessivo da camada inferior. Portanto, é recomendada a utilização de temperaturas mais baixas (45 ℃ a 50 ℃). 

Já em secadores intermitentes, em que os grãos não permanecem o tempo todo em contato com o ar aquecido, a temperaturas deve ficar em torno de 70 ℃.

Quanto ao teor de água inicial, é recomendado que grãos com teor mais elevado (em torno de 20%) sejam secos com temperaturas mais baixas. 

Por outro lado, grãos com teor de água mais baixo (em torno de 15%) podem ser submetidos a temperaturas mais próximas da máxima indicada.

Essa recomendação é importante, visto que a retirada de água dos grãos de forma muito abrupta pode ocasionar fissuras e quebras. Isso reduz a qualidade, o potencial de conservação e o valor comercial dos grãos.

Secagem com ar natural

A secagem com ar natural é realizada em secadores estacionários ou em silos-secadores, sem o aquecimento do ar.

Neste tipo de secagem, os principais parâmetros a serem observados são:

  • temperatura e umidade relativa do ar;
  • teor de água da massa de grãos.

A secagem com ar natural é mais barata e os danos pela temperatura do ar de secagem são inexistentes. 

Por outro lado, é mais demorada e, dependendo das condições do ar e do teor de água inicial dos grãos, o produto pode demorar demais para secar e, consequentemente, sofrer deterioração.

Sendo assim, para regiões com histórico de altas umidades relativas do ar, não é indicado realizar este tipo de secagem. 

Já em regiões de clima mais seco, a secagem com ar natural funciona muito bem.

Principais cuidados no armazenamento de trigo

Os principais fatores que precisam ser observados durante o armazenamento de trigo são o teor de água e a temperatura da massa de grãos.

Grãos armazenados com elevado teor de água e em alta temperatura aumentam suas taxas respiratórias e se deterioram com maior velocidade.

Desta forma, os grãos devem ser armazenados secos (teor de água inferior a 13%) e em temperaturas da massa de grãos baixas (em torno de 18 ℃). 

O monitoramento do teor de água dos grãos pode ser realizado por amostragens sistemáticas. 

Já a temperatura da massa de grãos pode ser monitorada com o auxílio de termopares, que são sensores instalados em meio aos grãos e fazem a medição da temperatura em tempo real.

Sistema de monitoramento da temperatura da massa de grãos por termopares

Sistema de monitoramento da temperatura da massa de grãos por termopares
(Fonte: Fockink)

É importante que os silos destinados à armazenagem de grãos de trigo a granel sejam equipados com ventiladores, visando a aeração.

A aeração proporciona a uniformização da temperatura e do teor de água dos grãos, além de promover a renovação do ar intergranular.

Para realizar a aeração dos grãos, são necessários cuidados quanto às condições de temperatura e umidade relativa do ar.

Pragas do armazenamento de trigo

Durante o armazenamento, os grãos de trigo podem ser atacados por pragas, principalmente fungos e insetos, denominadas pragas de armazenagem.

Estas pragas podem ocasionar perdas significativas. Por isso, é importante conhecê-las, monitorá-las e controlá-las.

Fungos

Os fungos encontrados em grãos de trigo no armazenamento são principalmente a giberela (Fusarium graminearum), os mofos e bolores (Aspergillus spp. e Penicillium spp).

fotos de quatro grãos de trigo contaminados pela giberela (Fusarium graminearum) em estágios diferentes

Grãos de trigo contaminados pela giberela (Fusarium graminearum)
(Fonte: O Presente Rural)

Os fungos de armazenamento são os principais produtores de micotoxinas, que são toxinas produzidas pelo seu metabolismo secundário e que podem causar doenças e a morte de humanos e animais.

O controle de fungos deve ser realizado de forma preventiva. Portanto, recomenda-se que os grãos de trigo sejam armazenados com baixos teores de água (<13%) e a baixas temperaturas (em torno de 18%). 

Além disso, o processo de limpeza e higienização das estruturas de armazenagem e dos grãos antes de serem estocados é indispensável, pois restos culturais e sujeiras podem ser fonte de inóculo para os fungos.

Insetos

As principais espécies de pragas de grãos de trigo no armazenamento são o besourinho dos cereais (Rhyzopertha dominica) e o gorgulho (Sitophilus sp.).

duas fotos de grãos de trigo atacados por insetos de R. dominica e Sitophilus sp.

Grãos de trigo atacados por insetos de R. dominica e Sitophilus sp.
(Fonte: Grupo Líder e Minden Pictures)

Para fazer o controle de insetos em grãos de trigo armazenados, utilize as práticas do MIP (Manejo Integrado de Pragas)

Algumas medidas de controle são:

  • limpeza, higienização e tratamento com inseticidas protetores nas estruturas do armazém (a mais importante);
  • limpeza e secagem adequada dos grãos;
  • armazenamento de grãos secos (<13%) e a baixas temperaturas (18 ℃);
  • monitoramento da presença das pragas ao longo do armazenamento;
  • tratamento dos grãos com inseticidas recomendados no enchimento do silo;
  • expurgo com fosfina (medida corretiva).

Em silos equipados com sistema de termometria, é possível realizar o monitoramento da presença de insetos pelo surgimento de pontos localizados de aquecimento na massa de grãos, típicos da presença destas pragas.

Monitoramento de contaminantes

Devido à importância da cultura do trigo e da forma de consumo, principalmente para os produtos integrais, é importante que se faça o monitoramento dos contaminantes durante o armazenamento, buscando a identificação e as soluções a serem tomadas.

Micotoxinas, fragmentos de insetos e resíduos de agrotóxicos são os principais contaminantes que devem ser monitorados.

O monitoramento da contaminação por micotoxinas pode ser realizado de forma rápida e ágil. Já existem no mercado várias opções de monitoramento com testes rápidos para a detecção de diferentes micotoxinas e concentrações.

Equipamentos utilizados para a detecção de micotoxinas em trigo - armazenamento do trigo

Equipamentos utilizados para a detecção de micotoxinas em trigo
(Fonte: Vicam)

O limite de fragmentos de insetos em farinha de trigo está disposto na RDC N° 14 da Anvisa. O limite máximo considerado é de 75 fragmentos para cada 50 g de farinha.

Já o monitoramento da presença de resíduos de agrotóxicos nos grãos é dificultado devido à necessidade de equipamentos específicos.

Assim, é necessário respeitar o período de carência do agrotóxico e utilizar apenas produtos indicados para a aplicação em grãos armazenados.

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Conclusão

As etapas de pós-colheita do trigo são fundamentais para que o grão não perca qualidade e sofra desvalorização, o que prejudica sua lucratividade.

Vimos que, na secagem, o principal fator a ser considerado é a temperatura, que depende do teor de água inicial dos grãos e do tipo de secador.

Também falamos sobre os cuidados na etapa de armazenamento de trigo e sobre a importância do monitoramento de contaminantes, que deve ser frequente, principalmente com relação às micotoxinas. Assim, é possível identificar rapidamente as alterações e minimizar perdas.

Espero que, com essas informações, você tenha uma excelente pós-colheita do trigo!

Restou alguma dúvida sobre os processos relacionados ao armazenamento de trigo? Deixe seu comentário abaixo!

Entenda as causas da degradação do solo e como evitar sua ocorrência

Degradação do solo: o que causa, quais as consequências para a agricultura, como recuperar um solo degradado e mais!

O solo é a base da agricultura, onde as plantas encontram condições necessárias para crescer e se desenvolver.

Estima-se que 33% dos solos do mundo estão degradados e, por ser um recurso finito, sua perda e degradação não são recuperáveis em um curto período.

Os principais problemas de degradação enfrentados no Brasil são a erosão, perda de carbono orgânico e o desequilíbrio de nutrientes.

Apesar dos dados alarmantes, é possível agir para conservar e restaurar esse recurso através da compensação ambiental e da resolução da degradação do solo.

Reunimos neste artigo as principais informações sobre a degradação do solo para que você mantenha seu solo produtivo. Confira a seguir!

Consequências da degradação do solo para a agricultura

A degradação do solo está relacionada ao manejo inadequado do solo e da água, ocasionando:

  • perdas de solo por erosão;
  • redução da fertilidade natural devido à lixiviação de nutrientes;
  • compactação do solo;
  • acidificação e salinização do solo;
  • poucos indícios de atividade biológica e matéria orgânica;
  • menor retenção e infiltração de água;
  • assoreamento e contaminação de corpos hídricos;
  • perda da capacidade produtiva do solo;
  • destruição da fauna e da flora.

Dessa forma, torna-se essencial a adoção de práticas conservacionistas do solo para restaurar e manter a sua fertilidade, visando o aumento da produtividade das culturas.

Principais causas da degradação do solo

A degradação do solo pode ser causada por diversos fatores que ocorrem de forma natural ou pela ação do homem. Na atividade agrícola, destacam-se:

Erosão

A erosão é a causa mais visível da degradação do solo. Consiste na retirada e transporte de sedimentos da superfície do solo, principalmente por ação do escoamento superficial das águas de chuva.

Ações humanas como o desmatamento, plantio em terreno inclinado, monocultivo, uso excessivo de fertilizantes e defensivos agrícolas podem intensificar a ocorrência de processos erosivos.

foto de erosão do solo ocasionada pelo excesso de chuva e não adoção de práticas conservacionistas do solo

Erosão do solo ocasionada pelo excesso de chuva e não adoção de práticas conservacionistas do solo
(Fonte: Coagril)

Além de prejuízos ao meio ambiente, a erosão acelerada reduz o potencial produtivo do solo, acarretando perdas na produção agrícola.

A remoção da cobertura vegetal sobre a superfície do solo propicia a ocorrência de erosão, por retirar a proteção do solo contra o impacto direto das gotas de chuva, potencializando sua degradação.

Já o solo coberto apresenta menores perdas de água por evaporação, ajuda a conter a erosão e proporciona maior retenção e infiltração de água no solo.

Veja abaixo algumas práticas agrícolas que auxiliam na diminuição de processos erosivos do solo:

A adoção dessas práticas pode prevenir e/ou reduzir a ocorrência de processos erosivos do solo.

Compactação

A compactação do solo é frequentemente associada à pressão excessiva exercida por implementos agrícolas utilizados no manejo das lavouras.

As alterações físicas do solo ocasionadas por conta dessa pressão formam uma camada compactada, popularmente conhecida como “pé-de-grade”.

Esquema de um solo sem impedimentos no qual operações de revolvimento levaram à compactação limitando o crescimento radicular

Esquema de um solo sem impedimentos no qual operações de revolvimento levaram à compactação limitando o crescimento radicular
(Fonte: Embrapa)

Abaixo alguns sintomas visuais do efeito da compactação do solo:

  • presença de crosta e zonas endurecidas na superfície do solo;
  • empoçamento de água;
  • erosão excessiva;
  • maior potência para o preparo do solo;
  • baixa emergência de plântulas;
  • raízes tortas, deformadas e/ou rasas;
  • folhas com coloração anormal;
  • menor retenção e infiltração de água.

Solos compactados são impermeáveis, o que impede a penetração de água e movimentação de nutrientes.

Esse fenômeno faz com que os atributos químicos, físicos e biológicos do solo sejam alterados, influenciando de forma negativa o crescimento e desenvolvimento das plantas.

Salinização

Em regiões áridas e semiáridas, a concentração progressiva de sais é mais frequente, devido à alta taxa de evaporação da água do solo. Quando a água das chuvas ou da irrigação evapora e não carrega os sais, ocorre a salinização do solo.

Embora seja um processo natural, a baixa eficiência da irrigação e a drenagem insuficiente, podem acelerar esse processo.

foto de salinização em solo com plantação

(Fonte: Amazon Fertilizantes)

Essas ações, quando intensificadas por altas temperaturas, promovem grandes evaporações, ocasionando no acúmulo de sais. Isso torna o solo improdutivo em um curto espaço de tempo e, em casos mais graves, leva à desertificação.

Fatores químicos

Os solos podem se degradar em razão da indisponibilidade de nutrientes ou pela presença de elementos tóxicos para as plantas. Assim, esse tipo de dano se dá por falta ou por excesso de determinados elementos no solo.

A adoção de práticas agrícolas inapropriadas podem levar a desequilíbrios químicos do solo como a calagem, adubação e irrigação inadequadas.

A menor disponibilidade de nutrientes devido a alcalinidade, acidez ou alagamentos, contribuem para a degradação da fertilidade do solo. As causas principais são a salinização e a lixiviação de nutrientes no solo, o que prejudica a sua qualidade.

Uso excessivo de defensivos e fertilizantes

O uso indiscriminado de fertilizantes e defensivos agrícolas são as causas mais frequentes da degradação do solo por contaminação química.

Além de provocar alterações químicas na composição do solo, tornando-o improdutivo e prejudicando o seu funcionamento, pode contaminar o lençol freático.

A utilização de fertilizantes químicos sem análise prévia do solo desestabiliza a disponibilidade de nutrientes para as plantas e o uso indiscriminado de defensivos agrícolas pode destruir a biodiversidade do solo.

Para que isso não ocorra, é necessária a realização de análise química do solo a cada safra para repor os nutrientes extraídos pelas culturas, além da adoção do manejo integrado de pragas, doenças e plantas daninhas para diminuir o uso de defensivos agrícolas.

Como evitar a degradação do solo

Existem diversos modos de se evitar a degradação do solo ou corrigir seus efeitos. Algumas delas são: 

  • redução do desmatamento;
  • Sistema Plantio Direto;
  • rotação de culturas;
  • adubação verde;
  • terraceamento;
  • cultivo em contorno;
  • precisão na aplicação de fertilizantes;
  • irrigação de forma correta;
  • controle de queimadas;
  • controle de tráfego.

Essas práticas têm reflexos na qualidade do solo e, consequentemente, no aumento da produtividade das culturas, garantindo a sustentabilidade agrícola.

Além disso, são necessárias políticas públicas e legislações para estimular o produtor na adoção dessas práticas conservacionistas do solo.

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Conclusão

O processo de degradação do solo, bem como suas causas e consequências, ocorre por diversas razões e ocasiona perda de produtividade.

A adoção de práticas conservacionistas do solo é primordial para amenizar os efeitos críticos da degradação, que comprometem a fertilidade do solo, diminuem a área produtiva e causam poluição e assoreamento em corpos d’água.

Adote práticas conservacionistas do solo para garantir o máximo potencial produtivo da sua lavoura.

Agora que você tem essas informações, não deixe de observar sinais de degradação do solo em sua propriedade!

>> Leia mais:

“Prad: entenda o que é o plano de recuperação de áreas degradadas”

Por que a mucuna-preta pode ser uma opção vantajosa para adubação verde

Restou alguma dúvida sobre a degradação do solo? Qual a maior dificuldade em adotar práticas conservacionistas do solo em sua propriedade? Adoraria ler seu comentário abaixo!

Como manter a profundidade uniforme no plantio da soja e do milho e os impactos na produtividade da lavoura

Profundidade uniforme no plantio: entenda sua importância, os fatores que interferem no estabelecimento da lavoura e mais!

Plantio uniforme é quando as sementes são depositadas no solo com a mesma profundidade durante a semeadura.

Isto se reflete em vários aspectos da planta e da lavoura, como no estabelecimento da cultura e, consequentemente, na produtividade.

Essa afirmação parece óbvia para todos, porém, realizar o que é afirmado é bastante complexo.

Você faz o planejamento do seu plantio considerando os fatores que afetam a profundidade de semeadura? Confira o que é importante para tal operação a seguir!

Qual a importância de manter a profundidade uniforme no plantio?

As sementes utilizam inicialmente seu material de reserva para poder germinar e emergir.

Assim, a profundidade de semeadura influencia diretamente na germinação e emergência das plântulas.

A profundidade de semeadura ideal pode variar conforme a espécie, ou seja, soja, milho, feijão, trigo, aveia, entre outras plantas, têm sua regulagem de semeadura adequada.

Além da profundidade ideal, a uniformidade de plantio também é importante, pois está relacionada ao estande da lavoura.

Estandes desuniformes para algumas culturas como o milho apresentam grandes prejuízos, interferindo na produtividade.

Sobre esse assunto, se utiliza muito o termo plantabilidade, que segundo o professor da Unesp e especialista em plantabilidade de grandes culturas Paulo Arbex é: “a capacidade de distribuir sementes no sulco de plantio de modo uniforme, com a máxima equidistância possível e na profundidade adequada, com o objetivo de atingir o estande desejado de plantas”.

Sabendo da importância da profundidade uniforme de plantio, efetuar a semeadura de soja de 3 cm a 5 cm e do milho de 3 cm a 7 cm é o recomendado para uma boa germinação e emergência de plântulas.

foto de emergência de plantas de milho em relação a profundidades diferentes de plantio

Emergência de plantas de milho em relação a profundidades diferentes de plantio 
(Fonte: Cooplantio)

Problemas da desuniformidade de plantio

Com a diferença de profundidade uniforme de plantio, o estabelecimento da cultura é afetado, refletindo na área plantada da lavoura.

Sementes muito profundas não irão germinar e emergir no tempo ideal, assim como sementes sobre a superfície do solo podem não germinar por não conseguirem absorver água suficiente, além de serem atacadas por insetos e pássaros.

Outro fator do plantio em profundidade irregular é a emergência desuniforme de plântulas, gerando competição por espaço, luz, nutriente e água.

Além de ocorrer competição entre as plantas da mesma espécie, sendo mais favorável para a plântula que emergiu primeiro, há competição com as plantas daninhas.

No caso das sementes que ficaram mais profundas, sua emergência é atrasada e haverá competição com as plantas daninhas que irão emergir após a semeadura.

Falhas no estande também podem ocorrer. Se a deposição da semente for muito profunda ou ficar sobre a superfície do solo, ela pode não gerar uma planta.

Esse fator afeta principalmente espécies como milho, que não conseguem compensar essa falha, reduzindo a produtividade da lavoura.

Espécies como a soja conseguem compensar a falta de uma planta aumentando a produção de vagens das plantas ao redor da falha.

Entretanto, mesmo a soja compensando algumas falhas, há redução da produtividade, podendo, com 75% de falha no estande, perder cerca de 400 kg/ha

Já para o milho, uma diferença de 5.000 espigas/ha reduz a produtividade em média de 16 sc/ha.

Compensação das plantas de soja com falhas no estande de 25%, 50% e 75% - profundidade uniforme no plantio

Compensação das plantas de soja com falhas no estande de 25%, 50% e 75%
(Fonte: adaptado de Cunha, 2018)

5 fatores que influenciam na profundidade de semeadura

É necessário considerar alguns pontos no momento da realização da semeadura.

Vários fatores interferem na profundidade uniforme do plantio. Conhecê-los e saber como influenciam no planejamento e execução do plantio é fundamental.

Veja abaixo os principais fatores que determinam a profundidade ideal de plantio.

1. Características da semente

Como vimos acima, a profundidade ideal depende da cultura que se irá semear.

Este fator pode ter relação com o tipo de germinação epígea (soja) e hipógea (milho).

Sementes epígeas podem ser mais prejudicadas pela maior profundidade de semeadura que as hipógeas.

Isso porque as sementes epígeas elevam seus cotilédones acima do solo no momento da emergência. Já na hipógea, o cotilédone fica dentro do solo e a parte aérea sai para a superfície.

Devido a esta diferença, as sementes de germinação hipógea (milho) suportariam maiores profundidades de semeadura.  

ilustração com exemplo de germinação epígea – soja (A) e hipógea - milho (B)

Exemplo de germinação epígea – soja (A) e hipógea – milho (B) 
(Fonte: UFVJM)

Vale lembrar que a qualidade da semente também tem grande fator, se utilizado a profundidade ideal, e a semente for de alto vigor, a germinação e emergência serão uniformes.

2. Tipo de solo

Se o solo for mais pesado, argiloso ou com drenagem deficiente, a profundidade recomendada é de 3 cm a 5 cm, soja e milho.

Em solos mais leves ou arenosos, a semeadura pode ser mais profunda, como 5 cm a 7 cm, devido à perda de umidade desses solos, no caso do milho.

Cada solo tem um tipo de característica. Você precisa conhecer seu solo para planejar corretamente a semeadura.

3. Umidade do solo

Como dito no tópico anterior, o tipo de solo tem relação direta com a perda de umidade do solo.

A profundidade de plantio ideal visa colocar a semente a uma distância da superfície do solo onde ela não fique exposta aos estresses climáticos e onde o solo apresenta um armazenamento de água adequado para que ela germine e emerja rapidamente, caso não ocorra veranico.

4. Tipo de sistema de plantio utilizado

A adoção do tipo de sistema tem que ser observado, se é convencional ou sistema de plantio direto (SPD).

No sistema convencional, como não há presença de palhada, a temperatura do solo é mais elevada e a umidade é menor em relação ao SPD.

Já no SPD, devido à presença de palhada, a emergência pode ser dificultada, pois se os discos de corte não fizerem corretamente sua função, as sementes serão depositadas sobre a palhada.

5. Regulagem da semeadora

Para realizar um bom plantio, a semeadora tem que ser bem regulada e, com isso, não pode deixar para trás as peças responsáveis pela profundidade. 

Nas semeadoras, os discos de corte de palhada no SPD devem ser regulados e, principalmente, fazer a função de cortar a palhada, para evitar perdas de sementes.

Os controladores de profundidade precisam ser ideais para seu solo, assim como as rodas compactadoras, que devem estar bem reguladas para fazer um bom fechamento de linha, entre outros componentes da máquina.

>> Leia mais: “Semeadora mecânica ou pneumática: qual é a melhor opção para a sua lavoura?”

O que fazer para obter uma profundidade uniforme no plantio?

Planejamento é fundamental em todos os processos de uma lavoura e, para a semeadura, que é o início de seus trabalhos em campo, todo cuidado é favorável.

É nesse momento que você colocará no campo sua semente e, mesmo que ela tenha alta qualidade, se a deposição no solo for mal regulada, você poderá ter perdas de estande, maior presença de plantas daninhas e perda de produtividade.

O ideal é que a distribuição das sementes no sulco de plantio tenha profundidade adequada, seja homogênea e com a mesma distância de deposição de uma semente para outra.

Por isso, faça sempre uma lista de coisas que é necessário observar antes do plantio. Alguns pontos devem ser considerados, como:

  • tipo e qualidade da semente;
  • tipo e condição do solo;
  • sistema de cultivo – convencional ou plantio direto;
  • distribuição e estado da palhada (verde ou seco);
  • clima – antes e após o plantio;
  • regulagem da semeadora;
  • velocidade de plantio.

Então, faça um bom planejamento! Cada área de sua fazenda pode necessitar de uma regulagem diferenciada devido à diferença de tipo de solo ou de pedregosidade.

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Conclusão

Profundidade uniforme no plantio é algo importante a ser considerado no momento de semear.

Faça uma boa regulagem de sua semeadora, pois ela irá definir a uniformidade da profundidade escolhida.

Tenha sempre em mente os fatores listados acima, especialmente o tipo e as condições do solo, pois, se muito úmidos ou muito secos, podem ocorrer diferenças na deposição das sementes.

Lembre-se que um bom estande começa por uma boa qualidade de semente e também de uma profundidade uniforme de plantio!

Você já teve problemas de estande por não ter uma profundidade uniforme no plantio? Restou alguma dúvida? Deixe seu comentário abaixo!

Entenda os diferentes métodos de amostragem de grãos e como eles podem impactar a comercialização da sua safra

Métodos de amostragem de grãos: entenda a importância, cuidados e tipos de amostragens para determinação da qualidade dos lotes de grãos e sementes.

Para a comercialização e até mesmo armazenamento seguro dos grãos, análises de qualidade devem ser realizadas.

Após a colheita, os grãos são transportados para unidades de beneficiamento, onde amostragens dos lotes recebidos são realizadas, seguindo metodologias padrões.

O objetivo da amostragem de produtos é indicar a natureza, qualidade e tipo, dando assim destinação aos grãos.

Quer entender como são realizadas as amostragens para as diferentes formas de armazenamento e como estes dados podem auxiliar sua tomada de decisões? Confira a seguir!

Importância da amostragem de grãos

O objetivo da amostragem de grãos é indicar a natureza, qualidade e tipo, dando, assim, uma destinação adequada aos produtos agrícolas.

Ao serem armazenados, especialmente a longo prazo, os grãos ficam sujeitos a alterações provocadas pelo calor, umidade e organismos associados, como insetos e microrganismos. 

Após a colheita, a qualidade dos grãos não pode ser melhorada, apenas conservada. E a interação da qualidade inicial (logo após a colheita) com o ambiente a que estes grãos serão expostos (formas de armazenamento) determinarão a sua conservabilidade, aptidão industrial, de consumo e o valor comercial.

Desta forma, as análises de qualidade dos grãos recebidos é uma etapa importante para determinar o beneficiamento necessário (pré-limpeza, limpeza, secagem). 

Também indicam sob quais condições esses grãos deverão ser armazenados, se devem ser imediatamente comercializados e para qual finalidade (industrial ou de consumo), visando diminuir perdas e otimizar processos.

O objetivo da amostragem é obter uma porção representativa das características do lote.

Quando a amostragem de grãos é realizada

A amostragem consiste na retirada de uma pequena porção de grãos, de diferentes pontos do lote, com o objetivo de determinar sua qualidade. 

A qualidade padrão dos grãos deve obedecer aos limites máximos tolerados quanto aos danos, umidade, impurezas e matérias estranhas, ataque de insetos, regidos pela legislação.

São consideradas análises importantes: 

  • umidade;
  • impurezas e matérias estranhas;
  • classificação de produtos;
  • ataque de insetos, dentre outras.

Essas características indicarão a qualidade dos lotes recebidos e influenciarão nos preços praticados no mercado. Além disso, os resultados obtidos norteiam a tomada de decisão sobre o destino do lote recebido. 

As amostragens devem ser realizadas ainda na recepção da carga, antes da pesagem, e no momento de descarga.

Já durante o armazenamento, são realizadas para verificar a ocorrência de alterações provocadas por pragas e microrganismos, por exemplo, ou alterações de umidade e temperatura.

7 cuidados importantes na amostragem de grãos 

Para que os resultados sejam representativos da realidade, alguns cuidados devem ser tomados:

  1. As coletas devem ser realizadas em diferentes pontos e profundidades. Grãos em camadas superficiais podem sofrer alterações por umidade e temperatura ambiente;
  2. Devido ao peso das impurezas ser menor, estas costumam acomodar-se no fundo da massa de grãos, reforçando a necessidade de amostragens em diferentes profundidades;
  3. Evite realizar as coletas sempre nos mesmos locais. Esta ação pode levar a resultados viciados e não representativos. 
  4. Evite fazer a coleta com equipamentos, roupas e mãos sujas. Os resultados podem sofrer alterações significativas quando não observadas as condições de higiene, principalmente de umidade para grãos e sanitárias para sementes;
  5. Os equipamentos de amostragem devem estar limpos e secos. Quando úmidos, provocam alterações, especialmente na umidade do lote;
  6. Não realize amostragens próximo às paredes/laterais da carroceria, silo e sacarias devido a possíveis interferências do ambiente nas características dos grãos mais próximos da superfície;
  7. As amostras devem ser colocadas em embalagens adequadas e identificadas assim que coletadas, para evitar erros, com envio imediato ao laboratório. Caso não seja possível, deve ser conservada adequadamente (em refrigerador preferencialmente).

Métodos de amostragem de grãos: tipos de amostras 

Segundo o manual de Regras para Análise de Sementes (RAS), diferentes tipos de amostras são realizadas até que seja formada a amostra de trabalho final (aquela analisada em laboratório).

Amostra simples

Pequena porção de sementes ou grãos retiradas de um ponto aleatório do lote.

Amostra composta

É  formada pela junção de todas as amostras simples (retiradas de cada um dos pontos amostrados). Deve ser devidamente reduzida (seguindo metodologia padrão) para envio ao laboratório, uma vez que é formada por uma quantidade superior ao necessário.

Amostra média

É a amostra recebida pelo laboratório para ser submetida à análise. Deve obedecer tamanho mínimo, especificado nas Regras para Análise de Sementes.

Amostra duplicata

É a mesma amostra obtida da amostra composta. É obtida para fins de fiscalização e para casos de reanálise. 

É armazenada nas unidades de beneficiamento e recebimento de grãos por até cinco anos, para eventuais contestações ou problemas associados ao lote comercializado.

Amostra de trabalho

É obtida por homogeneização (mistura) e redução até os pesos mínimos requeridos pelas regras, utilizada em laboratório para as análises.

Tipos de amostragem e equipamentos

As amostragens podem ser realizadas de forma manual ou pneumática.

Amostragens manuais

Para as amostragens manuais podem ser utilizados caladores ou sondas. Veja na imagem que separei: 

Caladores simples para sacarias (esquerda) e sonda manual para amostragem de grãos a granel (direita)

Caladores simples para sacarias (esquerda) e sonda manual para amostragem de grãos a granel (direita)
(Fonte: Conab)

Amostragens pneumáticas 

Comumente utilizadas em silos e graneleiros, onde, através da sucção dos grãos, as amostragens são realizadas, encaminhando diretamente para o local de análise (quando este possuir, por exemplo em portos e unidades de recebimento).

As sondas pneumáticas devem ser utilizadas conforme instruções de uso do fabricante. Caso contrário, erros relacionados principalmente a impurezas e matérias estranhas podem ocorrer, impactando no valor de venda (resultados superestimados).

Para a coleta, o calador deve ser inserido no ponto desejado, com o recipiente de amostragem fechado e com o sistema desligado. O recipiente deve ser aberto para coleta e fechado instantes depois. 

O sistema de sucção deve ser ligado para sucção da amostra e então ser desligado e reposicionado no próximo ponto. Somente quando estiver no ponto a ser amostrado, pode ser religado.

O amostrador pneumático não deve permanecer ligado durante todas as amostragens. Este procedimento não é adequado e não é considerado uma amostragem e sim uma simples coleta.

ilustrações de sonda pneumática portátil (esquerda) e sonda pneumática fixa (direita)

Sonda pneumática portátil (esquerda) e sonda pneumática fixa (direita)
(Fonte: Conab)

Peso das amostras

O peso mínimo das amostras para análise de atributos de qualidade para grãos e sementes é distinto para produtos ensacados/ou granel e para sementes. Veja na tabela abaixo os requisitos para produtos ensacados:

tabela de recomendações de amostragem em navios (carga ou descarga de produtos ensacados ou a granel) pelo Mapa

Recomendações de amostragem em navios (carga ou descarga de produtos ensacados ou a granel) pelo Mapa
(Fonte: adaptado de Mapa)

Já para análises de sementes, os pesos mínimos têm variação dentre as espécies e testes a serem realizados. Os dados podem ser consultados no manual de Regras de Análise de Sementes.

tabela de recomendações de amostras médias para análise de qualidade de sementes

Recomendações  de amostras médias para análise de qualidade de sementes
(Fonte: adaptado de RAS)

O peso mínimo exigido para envio a laboratório é o da amostra composta, devidamente reduzida ao exigido.

Como garantir amostragens aleatórias e representativas

Um procedimento comum realizado nas amostragens de grãos a granel em caminhões é amostrar cinco pontos, um em cada lateral da carroceria e outro no centro. 

Esta forma de amostragem não é a mais correta, pois se perde o critério de aleatoriedade e pode induzir a erros.

Para garantir o critério de aleatoriedade, pode-se identificar a largura de um caminhão e seu comprimento. 

A largura pode ser dividida por seis pontos, em espaçamentos iguais, numerados de 1 a 6. 

O comprimento pode ser dividido em dez pontos, de espaçamento igual, numerados do 1 ao 11.

Essa divisão pode ser realizada uma única vez para cada metragem de caminhões e, à medida que as cargas chegam, respeitando o número mínimo de amostras e peso mínimo, podem ser sorteados e então amostrados, garantindo a aleatoriedade das amostras.

Como as laterais da carga não devem ser amostradas, para a largura, eliminam-se os pontos 1 e 6, e para o comprimento os números 1 e 11, conforme a imagem abaixo:

Pontos amostrais para sorteio, considerando a largura e comprimento de um caminhão. Locais representados pela letra X não devem ser amostrados

Pontos amostrais para sorteio, considerando a largura e comprimento de um caminhão. Locais representados pela letra X não devem ser amostrados
(Fonte: elaborado pela autora)

Neste caso, são 2,60 metros de largura divididos em 6 pontos. O espaçamento necessário entre os pontos deve ser de 43,33 centímetros. 

Para o comprimento são 16 metros divididos pelos 11 pontos amostrais, exigindo distâncias de 1,45 metros entre os pontos.

Para saber quais pontos devem ser amostrados, basta sortear os números de 2 a 4 (largura), para cada ponto sorteado de 2 a 10 (comprimento).

Coleta das amostras

Para todos os métodos de amostragem, a identificação correta das amostras é indispensável.

Na etiqueta deve constar a identificação do lote, número da amostra (número, quantidade, natureza, acondicionamento), nome do proprietário, responsável, data e local de coleta.

Os tipos de amostragem são divididos em pré-amostragem, amostragem (ambos para cargas a granel ou convencionais nas unidades de recebimento), sacarias, silos e transportadores.

Confira a seguir cada uma delas!

Diferentes métodos de amostragem de grãos

Amostragem de grãos a granel: pré-amostragem

Nessa etapa, retiram-se as amostras antes da pesagem do veículo a fim de determinar o percentual de impurezas e umidade do produto recebido. 

Como as impurezas normalmente ficam no fundo da carga e há possível ação de fatores externos durante o transporte, é realizada uma pré-amostragem e, durante o descarregamento, é feita a amostragem propriamente dita.

Também avalia-se a necessidade de pré-limpeza, limpeza e secagem. Além disso, são verificadas situações de anormalidades que possam justificar a recusa do lote.

O peso mínimo para cada ponto amostral para formação da amostra composta é de 2 kg por ponto de amostragem.

Exemplo: recebeu-se uma carga de grãos de 30 toneladas. Para este volume, são necessários 8 pontos amostrais.

Sorteiam-se então as seguintes combinações, conforme exemplificado pelos círculos vermelhos na imagem abaixo:

Ponto 1: 5 para largura e 8 para comprimento;

Ponto 2: 2 para largura e 2 para comprimento;

Ponto 3: 4 para largura e 3 para comprimento;

Ponto 4: 3 para largura e 6 para comprimento;

Ponto 5: 2 para largura e 10 para comprimento;

Ponto 6: 2 para largura e 7 para comprimento;

Ponto 7: 5 para largura e 5 para comprimento;

Ponto 8: 4 para largura e 9 para comprimento.

Pontos amostrais sorteados. Locais representados pela letra X não devem ser amostrados

Pontos amostrais sorteados. Locais representados pela letra X não devem ser amostrados
(Fonte: elaborado pela autora)

Número de pontos amostrados em relação ao peso das cargas:

  • Para vagões ou caminhões de até 15 toneladas: cinco pontos amostrais;
  • Vagões de 15 a 30 toneladas: oito pontos amostrais;
  • Vagões de 30 a 50 toneladas: onze pontos amostrais.

Amostragem de grãos a granel: descarga moega

É realizada durante a descarga, utilizando canecos ou baldes. São retiradas amostras ao acaso e periodicamente nos dutos de saída até que metade da massa de grãos seja descarregada (veículos a granel).

Para caminhões convencionais, realiza-se a amostragem através da retirada de pequenas porções, em diferentes pontos e de ambas as laterais, assim que estas são abertas para o descarregamento dos grãos.

Ambas as amostragens, antes da pesagem e no momento da descarga, são importantes e devem ser homogeneizadas posteriormente para formação da amostra composta, que deve ser enviada para a análise.

ilustrações de amostragem de grãos em caminhão graneleiro e convencional

Amostragem de grãos em caminhão graneleiro e convencional
(Fonte: Conab)

O peso da amostra composta deve ser:

  • 40 kg para cargas de até 500 toneladas;
  • 40 kg para cada série de 500 toneladas, em caso de carregamentos com pesagem superior.

Amostragem de grãos em silos: durante a armazenagem

Durante a armazenagem dos grãos, é indispensável monitoramento frequente.

Pode-se estabelecer a coleta em diferentes pontos, utilizando como referência os pontos cardeais, em diferentes profundidades.

Neste tipo de coleta, é necessário que as coletas e análises posteriores sejam realizadas conforme a profundidade, com objetivo de identificar alterações de temperatura e umidade.

Amostragem de grãos em silo vertical, utilizando os pontos cardeais como referência

Amostragem de grãos em silo vertical, utilizando os pontos cardeais como referência
(Fonte: Conab)

>>Leia mais: “Vender ou guardar a produção em silo de grãos”

Amostragem de grãos: sacarias

Neste método, as amostras são obtidas através da perfuração das sacas com caladores simples.

O calador deve ser introduzido ao saco no sentido de baixo para cima, de forma a estimular o deslizamento do produto.

Os sacos a serem amostrados devem ser escolhidos aleatoriamente e as amostras devem ser realizadas no mínimo em 10% do total dos sacos, em diferentes alturas da pilha e com porções mínimas de 30 gramas por saco.

Essa avaliação deve ser realizada tanto no recebimento das sacarias como durante o período de armazenamento.

Amostragem de grãos: transportadores

Em transportadores por correia ou gravidade, as amostras devem ser coletadas em períodos específicos, utilizando canecas ou baldes.

Em transportadores de parafuso sem-fim, as coletas podem ser realizadas no alçapão localizado na parte inferior da tubulação, que se abre em determinados intervalos.

As amostras podem ser coletadas ainda na saída dos grãos ou nas extremidades do transportador.

Já no elevador de caneca, as coletas podem ser realizadas na saída da moega alimentadora, em períodos pré-determinados (a cada x minutos ou horas, a depender do fluxo de grãos).

O que os resultados das análises podem indicar?

Com os resultados em mãos sobre o real estado dos grãos colhidos, é possível realizar desde um simples beneficiamento (como limpeza) até a secagem, a fim de diminuir os descontos recebidos sobre o produto comercializado.

A secagem pode ser realizada ainda nos limites aceitos pelos estabelecimentos para que não haja perdas de peso desnecessárias dos grãos pela diminuição do teor de água (umidade).

Com umidades superiores ao ideal, há opção de secar o lote de grãos na própria fazenda, quando possível, ou planejar a secagem ainda em campo, desde que as previsões meteorológicas sejam favoráveis.

Também é possível planejar a implantação de locais para armazenamento de grãos na propriedade, calculando os custos operacionais pagos às unidades de armazenamento em relação ao investimento destas estruturas. 

Estima-se que 30% do valor do produto permaneça na unidade de beneficiamento em razão de operações de secagem e armazenamento.

Resultados das análises e comercialização

Na recepção, os preços praticados consideram a umidade da massa de grãos ou teor de água, o que influencia diretamente na conservação da qualidade ao longo do armazenamento.

Os limites máximos tolerados para defeitos na comercialização de grãos são regidos por Instruções Normativas, que estabelecem o regulamento técnico das culturas, com descontos progressivos e até mesmo descarte do lote quando não observados os limites tolerados.

Para descontos em teores de umidade e classificação, estes são praticados pelas unidades de recebimento, possuindo variação dentre as culturas e estabelecimentos.

Para as culturas do milho e trigo, por exemplo, a venda é regulada pelos defeitos de classificação.

Desta forma, a realização da correta amostragem, armazenamento e envio ao laboratório de análise é fundamental para a tomada de decisão quanto ao destino da produção.

Como mencionamos anteriormente, a qualidade do lote de grãos, após a colheita não pode ser melhorada, mas sim conservada. 

calculadora de custos Aegro

Conclusão

Neste artigo, pudemos conhecer a importância de uma amostragem seguindo os padrões exigidos pela legislação.

Abordamos ainda métodos empregados, número e peso das amostras que devem ser coletadas e os cuidados que devem ser tomados durante o processo.

Além disso, vimos um pouco do que esses dados podem indicar para uma tomada de decisão após a colheita, a fim de diminuir descontos e garantir melhores preços de comercialização.

>>Leia mais:

“Entenda melhor a classificação da soja e saiba usá-la para aumentar sua lucratividade”

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