Manejos essenciais em cada um dos estádios fenológicos do feijão

Estádios fenológicos do feijão: confira o que fazer em cada fase de cultivo para alcançar alta produtividade deste grão.

Erros de manejo são um problema para qualquer lavoura – mas o prejuízo é muito maior quando se trata de uma cultura com ciclo curto, como o feijão.

Além disso, o cultivo é tido como um dos mais arriscados pela grande flutuação de preços no mercado.

Por isso, preparamos este artigo com tudo que você precisa saber a respeito dos estádios fenológicos do feijoeiro para garantir o melhor manejo, produtividade e lucro com sua lavoura. Confira a seguir!

Importância do feijão

O feijão é uma das bases da alimentação do brasileiro, acumulando quase 3 milhões de hectares semeados na safra 2019/20.

Como é uma planta de ciclo curto, o feijoeiro pode ser comumente semeado em três épocas aqui no Brasil: safra de verão, segunda safra (outono) e safra de inverno.

Na safra deste ano, a estimativa é produzir 3,1 milhões de toneladas do grão, sendo que as maiores produtividades ficam para as safras de inverno (1,3 ton/ha) seguida das safras de verão (1,2 ton/ha) e da safra de outono (0,8 ton/ha).

Todos os estádios fenológicos do feijão

O ciclo de vida das plantas pode ser dividido de acordo com as fases de crescimento delas. A divisão mais simples é entre a fase vegetativa e reprodutiva da planta.

Na fase vegetativa podemos dizer que as plantas são “jovens”: elas ainda não atingiram a maturidade reprodutiva, mas estão se preparando para ela, produzindo folhas e raízes

Desta forma, todo a energia produzida vai para garantir uma maior capacidade de gerar energia no futuro. Isso acontece porque a planta logo entrará na fase reprodutiva e então terá de arcar com mais um custo energético, que são os grãos (no caso do feijão). E, para produzi-los, a planta precisa de muita energia! 

Estádios fenológicos do feijão

Escala fenológica do feijoeiro
(Fonte: Embrapa, 2018)

Existem quatro tipos de feijoeiro, divididos de acordo com o hábito de crescimento. Veja:

  • Tipo 1

Tem crescimento ereto e determinado, ou seja, quando entra na fase reprodutiva ele cessa por completo a fase vegetativa.

  • Tipos 2, 3 e 4

Têm crescimento indeterminado e, quando entram na fase reprodutiva, continuarão vegetando e emitindo novas folhas.

Os tipos de crescimento indeterminado variam o quanto irão vegetar após a planta entrar na fase reprodutiva, variando assim a duração do ciclo e a uniformidade da produção.

Variação do ciclo do feijoeiro em diferentes cultivares
(Fonte: CIAT, 1985)

No tipo 4, por exemplo, de crescimento trepador, a planta continua produzindo vagens e folhas por um longo período. Se por um lado a planta pode se recuperar de erros de manejo, por outro, isso torna a produção desuniforme.

A seguir, vou explicar melhor os estádios fenológicos do feijão (fases vegetativa e reprodutiva) e qual a importância no manejo da lavoura.

Estádios vegetativos na escala fenológica do feijoeiro

V0 – Germinação

Começa com a absorção de água pela semente, iniciando o processo de germinação. 

Nesta fase, a lavoura está mais suscetível a pragas como a lagarta-rosca, a larva das sementes, gorgulho-do-solo e larva-alfinete, que atacam diretamente as sementes.

Quanto a doenças, é importante se precaver contra as podridões radiculares com um bom tratamento de sementes, visando fungos e insetos.

Nesse estádio, a lavoura é muito sensível ao estresse hídrico, requerendo 1,3 mm de lâmina d’água diariamente em média. 

V1 – Emergência

Começa com a aparição dos cotilédones até a abertura das folhas primárias (folhas cotiledonares/simples).

O foco de manejo aqui ainda são as pragas que atacam sementes e plântulas e as podridões-radiculares. 

Um bom tratamento de sementes garante que a lavoura passe por esta fase ilesa e saudável. 

V2 – Folhas Primárias

Essa fase se inicia com a abertura das folhas primárias e termina com a abertura da primeira folha trifoliolada

Aqui começam os cuidados com pragas desfolhadoras e sugadoras/raspadoras, que podem atacar a planta até o final do enchimento de grãos (R8).

Nesta fase, o cuidado deve ser redobrado, pois as plantas apresentam pouca área foliar que, se comprometida, pode prejudicar severamente a produtividade.

O foco aqui deve ser as vaquinhas, que podem atacar os meristemas apicais, além da mosca-branca que, apesar de apresentar dano direto baixo, transmite o vírus do mosaico dourado do feijoeiro.

Deste estádio até V4, a cobertura do solo por palha reduz em até 30% a evapotranspiração da lavoura, reduzindo a demanda por água.

V3 – Primeira folha composta aberta

Começa com a abertura da primeira folha trifoliolada (composta) e termina com a abertura da terceira folha.

Da fase V3 a R8, as plantas ficam suscetíveis a ataques de nematoides como o Meloidogyne incognita e javanica, além do famoso P. brachyurus

É importante ficar de olho nas pragas sugadoras, que afetam grande parte do ciclo da cultura, como a cigarrinha-verde, o ácaro-rajado a tripés e o ácaro-branco.

Pragas desfolhadoras como os minadores, as lagartas enroladeira das folhas e a cabeça de fósforo também podem causar grande dano nesse momento.

Em estádios mais avançados, o feijoeiro pode tolerar até 30% de desfolha, mas, como vimos aqui, nos estádios iniciais, essas pragas podem comprometer seriamente a produtividade.

V4 – Terceira folha composta aberta

Inicia-se com a abertura completa da terceira folha trifoliolada.

Esta fase é menor nos feijoeiros de crescimento determinado e maior nos de crescimento indeterminado. 

Aqui começam os ataques de pragas dos caules, como a broca-das-axilas e o bicudo-da-soja.

As principais doenças para iniciar o controle de infestação nessa fase são a antracnose, o mosaico-dourado, o mosqueado-suave e a mela.

Durante esta fase, a planta apresenta uma área foliar maior, o que irá demandar mais água, sendo aqui um dos picos de consumo, com uma média de 56 mm (ao todo) durante a fase.

No início desta fase é recomendado verificar a nodulação das plantas, sendo que, se forem menor que 15 nódulos/planta, é recomendado entrar com adubação nitrogenada de cobertura.

Também é nesta etapa que se inicia o período crítico de prevenção de interferência. De V4 até R6, a lavoura pode sofrer grandes perdas de produção devido à presença de plantas daninhas.

Então, é fundamental realizar o controle de daninhas nesse período para garantir altas produtividades. 

Ainda que esta seja a fase ideal para o controle, o acompanhamento da infestação deve ser feito desde o início do ciclo da cultura, pois caso haja plantas daninhas mais desenvolvidas neste momento, isso iria diminuir o efeito dos herbicidas de controle.

Estádios reprodutivos do feijoeiro

R5 – Pré-floração

Começa com o surgimento dos primeiros botões florais. Desta fase até R7 há outro pico de demanda hídrica do feijoeiro.

Efeito da deficiência hídrica nos diversos estádios de desenvolvimento do feijoeiro sobre a produtividade relativa

Efeito da deficiência hídrica nos diversos estádios de desenvolvimento do feijoeiro sobre a produtividade relativa
(Fonte: Embrapa, 2018)

Os botões florais e as flores são extremamente sensíveis ao clima. Temperaturas maiores que 35℃ e menores que 12℃ podem provocar abortamento das flores.

A época de semeadura deve ser alocada de maneira que a floração ocorra, preferencialmente, com uma temperatura média do ar de 21℃.

A partir desta fase o feijoeiro fica mais suscetível à murcha do fusarium, à ferrugem, ao oídio e à mancha-angular.

O mofo-branco começa sua ocorrência também no início da fase reprodutiva, sendo essencial o controle de infestação dessas doenças.

R6 – Floração

Ocorre quando a planta apresenta pelo menos 50% das flores abertas. Nesta fase, pragas da vagem são a maior preocupação.

Percevejos em geral, lagarta das vagens e a helicoverpa podem ser um problema nesse estádio fenológico.

Nessa época termina o período crítico de prevenção da interferência das plantas daninhas, sendo que, de V4 até aqui (R6), é importante que haja um controle efetivo com herbicidas.

Efeito do controle de daninhas nos diversos estádios de desenvolvimento do feijoeiro sobre a produtividade

Efeito do controle de daninhas nos diversos estádios de desenvolvimento do feijoeiro sobre a produtividade
(Fonte: Kozlowski, 2002)

R7 – Formação das vagens

Neste estádio ocorre a murcha das flores e a formação das primeiras vagens, que irão definir o crescimento em comprimento.

Deficiência hídrica nesta fase induz à queda das vagens novas (canivetinhos) e prejudica a formação de grãos nas vagens, podendo representar perdas de até 68% na produtividade. 

estádios fenológicos de feijão

(Fonte: Embrapa)

R8 – Enchimento das vagens

Esta fase se inicia com o enchimento dos grãos e, consequentemente, do aumento das vagens em volume. 

Ao final desta fase, os grãos perdem a cor verde e mostram as cores características da cultivar.

Inicia-se a queda das folhas, sendo que esse é o momento ideal para a dessecação visando uniformizar e padronizar os grãos.

R9 – Maturação 

Nesta fase as vagens já estão secas e adquirem cor e brilho. Aqui é importante se atentar à aparição de carunchos que prejudicam e desvalorizam o produto durante o armazenamento.

Um dos grandes inimigos climáticos nesse estádio é a chuva, que pode depreciar a qualidade dos grãos e atrasar a colheita. Quando isso ocorre, pode se tornar um problema para a semeadura da próxima safra.

diagnostico de gestao

Conclusão

Conhecer bem os estádios fenológicos do feijão é extremamente importante no manejo da lavoura, já que a partir deles programamos os tratos culturais necessários.

Neste artigo falamos sobre diversas pragas e doenças que, junto com fatores climáticos, podem prejudicar a produtividade do feijão.

Esse é um dos motivos da cultura ser vista como arriscada. Mas, com conhecimento do ciclo da planta, você poderá diminuir os riscos da lavoura para alcançar lucros ao final da safra!

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Em quais estádios fenológicos do feijão você tem mais dificuldade de manejo? Restou alguma dúvida? Deixe seu comentário abaixo!

Tratamento de sementes: on farm ou industrial

Tratamento de sementes: o que é, qual é a importância, como é feito, produtos utilizados e muito mais.

As sementes são um veículo de disseminação de patógenos causadores de doenças de grande relevância econômica. 

Sabendo disso, o tratamento de sementes é uma ferramenta indispensável para a produção agrícola. Essa prática assegura a sanidade das sementes e viabiliza a produção em larga escala de diferentes culturas. 

Confira a seguir um pouco mais sobre essa ferramenta agrícola e como realizá-la. Boa leitura! 

O que é o tratamento de sementes?

O tratamento de sementes é uma prática agrícola utilizada no controle de pragas e doenças na fase inicial de desenvolvimento das plantas. 

Trata-se de uma medida bastante eficiente, de caráter preventivo e de baixo custo. 

Essa prática compreende a aplicação de produtos químicos ou biológicos, inoculantes, micronutrientes, bioestimuladores e polímeros nas sementes. 

O objetivo é proteger as sementes contra o ataque de pragas e microrganismos durante o intervalo entre a semeadura e a germinação. Além disso, esse tratamento tem importante papel no manejo de pragas de armazenamento.

Essa estratégia de manejo vem sendo amplamente utilizada nas principais culturas. No Brasil, quase a totalidade das sementes de soja e de milho plantadas são tratadas, principalmente, com fungicidas e inseticidas.

Importância do tratamento de sementes

O tratamento de sementes é uma prática que garante o estabelecimento da população ideal de plantas e favorece o desenvolvimento inicial da lavoura.

A germinação das sementes atrasa quando as condições de semeadura não são favoráveis. Com o atraso desse processo, as sementes ficam expostas por mais tempo ao ataque de patógenos habitantes do solo, como os fungos Fusarium spp. e Rhizoctonia solani.

Dessa forma, o tratamento de sementes é indispensável no manejo integrado de pragas e doenças. Do ponto de vista ambiental, o tratamento apresenta baixo impacto quando comparado ao controle de pragas e doenças realizado via pulverizações foliares. 

No entanto, além dessa medida, é preciso se atentar a outras práticas de manejo, como o preparo do solo, a época adequada de semeadura, a profundidade de plantio e o vigor das sementes para assegurar o sucesso do plantio.

Essa prática impede a disseminação de fitopatógenos para áreas não infestadas. 

Produtos utilizados no tratamento de sementes

Estes são os produtos utilizados no tratamento de sementes:

● inseticidas;

● fungicidas;

● nematicidas;

inoculantes;

● micronutrientes;

● bioestimuladores;

● polímeros.

No tratamento das sementes, sempre utilize produtos com registro no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) para a cultura.

Composição do tratamento de sementes
Composição do tratamento
(Fonte: CIMMYT em AZ Agronômico)

Como tratar as sementes

Esse tratamento pode ser realizado de duas maneiras: na propriedade, também conhecido como “on farm” (na fazenda); ou de forma industrial (TSI -Tratamento de Semente Industrial).

Abaixo vou explicar melhor sobre cada um desses métodos, confira!

Tratamento de sementes on farm

O tratamento de sementes on farm é realizado na fazenda e apresenta baixo custo quando comparado ao método industrial.

Outra vantagem desse tipo de tratamento é o curto período de exposição das sementes aos produtos químicos. 

Apesar disso, tratar sementes on farm pode apresentar riscos.

Por isso, é importante seguir as normas de segurança e utilizar os equipamentos de proteção individual (EPI). Durante o tratamento das sementes, o local deve estar limpo e arejado. Também é preciso respeitar a dosagem e o modo de aplicação dos produtos. 

Essas medidas evitam a contaminação do meio ambiente, garantem a eficiência do tratamento e reduzem os riscos de contaminação do trabalhador.

Depois de tratadas, não é recomendado que as sementes sejam armazenadas. É importante que elas sejam semeadas o quanto antes. 

No caso da necessidade de realizar a inoculação das sementes, o indicado é que primeiro seja feito o tratamento químico e, então, a inoculação. Essa medida evita que as bactérias inoculadoras tenham o desenvolvimento prejudicado.

Assim, a inoculação só ocorre depois que as sementes estiverem secas.

Em sementes de soja, o tratamento com defensivos químicos, a aplicação de micronutrientes e a inoculação são operações que podem ser feitas de maneira sequenciada.

Sementes de soja tratadas na fazenda
Sementes de soja tratadas na fazenda
(Fonte: Portal do Agronegócio)

Tratamento de sementes industrial (TSI)

O tratamento de sementes industrial envolve alta tecnologia e tem como principal vantagem a eficiência do processo. 

De maneira automatizada, os produtos são distribuídos na dosagem correta e de maneira uniforme, cobrindo toda a superfície das sementes. Isso garante maior precisão do tratamento.

Além disso, o tratamento industrial reduz os danos mecânicos às sementes. 

Trata-se de um método que garante maior segurança e comodidade para o produtor rural. Além de apresentar baixo impacto ambiental.

Do ponto de vista da segurança operacional, o tratamento industrial apresenta vantagem quanto ao método on farm. Isso porque o tratamento de sementes industrial reduz os riscos de intoxicação dos trabalhadores. Porém, apresenta custo mais elevado.

Outra desvantagem diz respeito ao maior tempo de exposição das sementes aos produtos químicos. Nesse caso, as sementes são tratadas e, depois, armazenadas. Assim, se o tempo de armazenamento for prolongado, a viabilidade das sementes pode ser comprometida. 

Por fim, em nenhuma hipótese utilize sementes tratadas para o consumo animal ou humano.

Entenda a biotecnologia na agricultura e confira as novidades que vêm por aí

planilha de planejamento para milho e soja

Conclusão

As sementes estão sujeitas ao ataque de fungos, bactérias, nematóides, vírus e diferentes pragas. Além disso, elas são veículo de disseminação desses patógenos. 

Dessa forma, tratar sementes é uma ferramenta preventiva e que tem o objetivo de proteger as sementes do ataque de pragas e microrganismos. Essa medida também evita que novas áreas sejam infestadas.

O tratamento de sementes pode ser feito on farm, ou seja, na propriedade, ou de forma industrial. Alguns produtos utilizados são fungicidas, inseticidas, nematicidas, polímeros e inoculantes.

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Atualizado em 06 de julho de 2023 por Tatiza Barcellos.

Tatiza é engenheira-agrônoma e mestra em agronomia, com ênfase em produção vegetal, pela Universidade Federal de Goiás.

Como fazer o correto monitoramento da produtividade de culturas

Monitoramento da produtividade de culturas: entenda para que servem, os sensores envolvidos e como confeccioná-los corretamente.

O entendimento das lavouras é essencial para tomada de decisões na hora do manejo dos talhões.

Os mapas de produtividade são um dos melhores indicadores do conhecimento do ciclo das culturas. Com monitoramento é possível entender as manchas da lavoura e otimizar a produção.

Conheça neste artigo como gerar mapas para fazer o correto monitoramento da produtividade de culturas e melhorar os resultados da sua lavoura. 

O que são mapas de produtividade

Os mapas de produtividade são indicadores da quantidade colhida em determinado local (com auxílio de um GPS ou receptor GNSS) em uma determinada distância percorrida.

Eles são considerados o pontapé inicial para aqueles que desejam aplicar técnicas de agricultura de precisão em suas fazendas.

Para simplificar o entendimento, o monitoramento da produtividade de culturas contém as seguintes informações básicas:

  • quantidade de produto colhido;
  • tamanho da área onde foram colhidos os produtos;
  • coordenadas dos pontos onde foram colhidos os produtos;
  • sensores auxiliares.
Monitoramento da produtividade de culturas

Fonte: (Milho Amarelo)

De acordo com estas informações é possível criar mapas de produtividade. Porém, seu processamento em softwares dedicados e análises posteriores exigem certo conhecimento para geração de mapas confiáveis.

Junto com as informações básicas, diversos sensores atuam para que o mapa de produtividade agrícola seja fidedigno ao que encontramos em campo.

A aquisição dos dados de produtividade pode ser realizada de forma direta ou indireta.

De forma direta, sensores mensuram as medições de massa e volume. A aquisição indireta envolve sensores que estimam a quantidade colhida por meio de sinais elétricos ou hidráulicos, como por exemplo, a pressão do picador da colhedora de cana.

Sensores necessários para criar os mapas 

Alguns sensores acessórios são utilizados para confeccionar os mapas de produtividade necessários para o monitoramento de produtividade de culturas.

Eles podem ser ópticos, gravimétricos, volumétricos ou, ainda, uma combinação de alguns deles.

Nas colhedoras de grãos, os sensores mais comuns são os gravimétricos, do tipo “placa de impacto”. São semelhantes às balanças que mensuram a quantidade de grãos colhidos naquela coordenada e área.

Os volumétricos também são bem comuns nas colhedoras de grãos. Eles são sensores ópticos que mensuram o volume de produto em cada talisca do elevador. 

volumétrico Planters Precision

(Fonte: Planters Precision)

Associados a estes sensores, geralmente as colhedoras possuem sensores de umidade dos grãos para calibração para uma umidade padrão, para conversão futura, usando os grãos na mesma umidade. 

Os teores de umidade para colheita de soja e milho podem variar de 12% a 15%, de acordo com as variedades e cultivares utilizadas. Mas, dentro das lavouras, a umidade nos grãos varia e o sensor serve para calibrar todos os valores para um padrão pré-estabelecido.

Em culturas como a da cana-de-açúcar existem ainda opções que mensuram volume do que passa no elevador da colhedora, utilizando câmeras fotográficas. 

Em batata e beterraba, por exemplo, sensores utilizam uma célula de carga (que nada mais é do que uma balança também) que mensura a massa em kg/s.

Como confeccionar os mapas para monitoramento da produtividade de culturas

O monitoramento da produtividade de culturas possui inúmeros sensores que devem estar calibrados no momento anterior à colheita.

Porém, durante a operação, podemos ter os grãos de soja, óleo e sujeira agregados aos sensores, acarretando possíveis erros na coleta dos dados.

O receptor GNSS pode apresentar erros de deslocamento durante a colheita em momento de possíveis perdas de sinal.

Diversas configurações selecionadas no momento da colheita podem ser escolhidas erroneamente como, por exemplo, o tamanho da plataforma, manobras no meio do talhão ou nas bordaduras.

Em resumo, os mapas de produtividade possuem erros no conjunto de dados, por isso, é necessário limpar esses erros durante o processamento para obtermos melhores resultados após a colheita.

Na imagem a seguir vemos a diferença do mapa de produtividade interpolado sem filtrar os dados e o mapa interpolado com os dados filtrados. Este último é mais representativo ao que temos no campo. Veja:

Dados de produtividade de soja originais e após a filtragem utilizando o software MapFilter 2.0

Dados de produtividade de soja originais e após a filtragem utilizando o software MapFilter 2.0

Para o pós-processamento devemos nos atentar a alguns fatores como:

  1. Filtragem dos dados 
  2. Interpolação
  3. Criação dos mapas de recomendação

Para o processo de limpeza dos dados, pode-se utilizar softwares como o Excel, softwares estatísticos ou também o MapFilter 2.0 disponibilizado pelo LAP neste link.

MapFilter 2.0

(Fonte: LAP)

O MapFilter 2.0 é um software para filtragem de dados de alta densidade. Ele analisa globalmente e localmente a qualidade dos dados coletados e utiliza parâmetros estatísticos para classificar um dado ponto no conjunto de dados, analisando seus vizinhos em um raio pré-determinado. 

Mapas de biomassa da vegetação

Uma forma indireta de realizar o monitoramento da produtividade das culturas é por meio das análises dos mapas de biomassa da vegetação.

As análises dos mapas de NDVI da lavoura podem auxiliar a entender regiões mais produtivas dentro dos talhões.

É possível contratar mapas de NDVI dentro do Aegro.

Ative o Aegro Imagens pelo seu software de gestão agrícola e aguarde até que as primeiras imagens de satélite fiquem prontas.

Depois disso, suas imagens poderão ser visualizadas dentro das safras pelo ícone do Aegro Imagens, que fica no canto superior esquerdo do mapa.

Ao clicar em um talhão específico, você verá o histórico de imagens geradas para aquela área. A graduação de cores indicará se o índice de vegetação é alto ou baixo.

Você também poderá analisar os mapas de NDVI juntamente com o histórico de operações realizadas em cada área da plantação, checando se as suas atividades de manejo estão tendo o resultado esperado.

Dentro do Aegro, os mapas NDVI são extremamente úteis para o planejamento de operações nas suas safras e servirão de base para tomadas de decisões assertivas.

Mensurações a campo

Mensurações a campo também podem ser utilizadas para o monitoramento da produtividade de culturas.

Para calcular a expectativa de produtividade de soja, siga os seguintes passos:

1 – Conte o número de vagens em 10 plantas consecutivas e divida o resultado por 10

Ex: 10 plantas ao todo deram 200 vagens, média de 20 vagens por planta (200/10).

2 – Conte o número de grãos nas vagens e divida pelo número de vagens

Ex: 60 vagens ao todo deram 150 grãos, média de 2,5 grãos por vagem (150/60).

3 – Olhe o peso de 1.000 grãos para o híbrido que você utilizou

Ex: 200g é o peso de 1.000 grãos desse híbrido.

Plantas por hectare: 343.750 mil plantas

Vagens por planta: 20 vagens

Grãos por vagem: 2,5 grãos

Peso de mil grãos: 200 gramas

Use a seguinte fórmula:

Monitoramento da produtividade de culturas

Para o nosso exemplo, a produtividade esperada é de 57,29 sc/ha.

As mensurações em campo não conseguem amostrar toda a área da lavoura, sendo, neste caso, estimativas baseadas em modelos estatísticos para tentar estimar a produtividade de cada talhão.

Os mapas de produtividade proveniente das colhedoras são os mais indicados para o correto entendimento das manchas nas lavouras.

Como usar os mapas nas recomendações

O monitoramento da produtividade de culturas pode ser usados para repor os nutrientes exportados anualmente pelas culturas e otimizar as aplicações de insumos nas áreas.

mapa de aplicação de calcário

(Fonte: Unesp)

Os mapas de exportação são criados multiplicando o valor dos pixels no mapa de produtividade pelos valores de exportação daquele nutriente pela cultura, kg de nutriente por kg de produto colhido.

Com os mapas de exportação, é possível criar os mapas de recomendação de acordo com o produto a ser aplicado em cada talhão.

As manchas encontradas nas lavouras podem se repetir ao longo dos anos, ou seja, locais de alta produtividade. Ano após ano, podem apresentar produtividades sempre mais elevadas.

As manchas de baixa e média produtividades podem apresentar as mesmas características. Como devemos proceder nestes casos?

Os talhões que apresentarem manchas que se repetem ao longo do ano podem ser manejados utilizando ferramentas de agricultura de precisão.

Nestes casos, a gestão localizada deve ser utilizada criando recomendações baseadas nas manchas, buscando explorar economicamente as regiões de alta e baixa produtividades das lavouras.

Aplicação dos insumos em doses variadas, neste caso, será muito mais eficiente quando comparado com aplicações pela média.

Áreas de alto potencial devem ser exploradas para atingir maiores produtividades com maiores doses de adubações. Já áreas de baixo potencial devem receber apenas os insumos necessários para a manutenção da produtividade.

Dessa forma, áreas de baixo potencial, com redução de custos com aplicação de insumos desnecessários também gerarão maior retorno econômico.

Conclusão

O monitoramento da produtividade de culturas auxilia a entender melhor a lavoura.

A análise histórica dos mapas de produtividade pode otimizar a aplicação dos insumos em doses variadas, gerando maior retorno financeiro inclusive.

Os mapas de produtividade, desde que bem confeccionados, são os primeiros passos para quem deseja implantar conceitos de agricultura de precisão em suas áreas.

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Software para agricultura de precisão: o guia definitivo para escolher um

Como realizar a aplicação localizada de insumos e otimizar os custos da sua lavoura

Saiba as vantagens da Cafeicultura de Precisão e como aplicá-la

Você já possui os mapas de produtividade das suas lavouras? Restou alguma dúvida sobre o monitoramento de produtividade de culturas? Adoraria ver seu comentário abaixo.

Como e por que usar Azospirillum no milho

Azospirillum no milho: Conheça os benefícios dessa bactéria para a cultura e as dicas de como utilizá-la em sua lavoura.

Com certeza você já escutou falar sobre a fixação biológica de nitrogênio. E, provavelmente, a primeira associação que veio à sua cabeça foi a da soja com a bactéria do gênero Rhizobium

Mas não é só na cultura da soja que isso pode acontecer! Você sabia que o milho também se beneficia da associação com bactérias?

Neste artigo vamos falar sobre a associação de bactérias do gênero Azospirillum no milho, quais os benefícios e como utilizá-la. Confira a seguir!

Qual o papel da Azospirillum brasilense na cultura do milho?

A bactéria do gênero Azospirillum faz parte das bactérias promotoras de crescimento de plantas (BPCP).

As BPCP são microrganismos benéficos às plantas, pois colonizam a superfície das raízes, rizosfera, filosfera e tecidos internos das plantas.

Assim, as BPCPs são capazes de estimular o crescimento das plantas devido a alguns fatores como:

  • fixação biológica de nitrogênio;
  • aumento na atividade da redutase do nitrato;
  • produção de hormônios;
  • solubilização de fosfato e;
  • por atuarem como agente de controle biológico de patógenos.
Efeito da inoculação de milho com as estirpes Ab-V5 e Ab-V6 de Azospirillum brasilense no crescimento radicular

Efeito da inoculação de milho com as estirpes Ab-V5 e Ab-V6 de Azospirillum brasilense no crescimento radicular, coloração verde e altura das plantas em ensaios conduzidos a campo 
(Fonte: Hungria et al. (2011))

Essas bactérias, que são capazes de fixar nitrogênio, associam-se com várias plantas e possuem a capacidade de quebrar a ligação tripla entre os dois átomos de nitrogênio por meio de uma enzima chamada de dinitrogenase.

Deste modo, conseguem reduzir o nitrato para amônia e, assim, as plantas conseguem utilizá-lo. 

Entretanto, bactérias do gênero Azospirillum são consideradas associativas e excretam apenas uma parte do nitrogênio fixado diretamente para a planta associada. Portanto, suprirá parcialmente as necessidades das plantas em nitrogênio.

Aspecto da parcela com milho inoculado

Aspecto da parcela com milho inoculado com Azospirillum e recebendo apenas 24 kg N/ha na semeadura, em ensaio conduzido na safra 2009/10 na Embrapa Soja, Londrina, PR. 
(Fonte: Hungria et al. (2011))

O uso de inoculantes com Azospirillum no milho, portanto, visa reduzir a necessidade de adubação nitrogenada e melhorar a produtividade de grãos. 

Mas isso também vai depender do híbrido utilizado, de condições edafoclimáticas e do manejo adequado, como vou explicar melhor a seguir.

Quais os benefícios da bactéria no milho?

A associação das bactérias com as raízes de gramíneas incluem vários benefícios e vantagens.

Estes benefícios ocorrem devido ao maior desenvolvimento das raízes, que acabam aumentando a absorção da água e minerais.

Através da produção de hormônios vegetais ocorre um estímulo ao desenvolvimento do sistema radicular. 

Assim, com maior volume, comprimento, massa e superfície de raízes, as plantas conseguem explorar melhor o solo, absorvendo mais nutrientes.

Dentre os principais benefícios podemos citar:

  • aumento relativo de massa seca;
  • acúmulo de nutrientes;
  • aumento de produtividade;
  • estímulo do crescimento da planta;
  • síntese de hormônios (ácido indol-acético (AIA), giberelinas e citocininas);
  • melhoria do fornecimento de nitrogênio para a cultura do milho;
  • maior tolerância a estresses (salinidade e seca);
  • maior tolerância a agentes patogênicos de plantas.

Além dos benefícios citados acima, há relatos na literatura de melhora nos parâmetros fotossintéticos das folhas como:

  • maior teor de clorofila;
  • maior condutância estomática;
  • teor maior de prolina na parte aérea e raízes;
  • melhoria no potencial hídrico;
  • incremento no teor de água do apoplasto;
  • maior elasticidade da parede celular;
  • produção maior de biomassa;
  • maior altura de plantas;
  • incremento em pigmentos fotossintéticos (clorofila a, b, e pigmentos fotoprotetores auxiliares, como violaxantina, zeaxantina, ateroxantina, luteína, neoxantina e beta-caroteno);

Além, é claro, da maior produção de raízes, maior altura de plantas e coloração mais verde pelo maior teor de clorofila.

Fatores que afetam a atividade de Azospirillum brasilense no solo

Alguns fatores podem afetar a atividade das bactérias no solo, entre eles podemos citar:

  • pH;
  • umidade;
  • temperatura;
  • disponibilidade de fontes de carbono.

Como vemos, para que as bactérias consigam ter um bom desempenho é preciso que façamos um correto manejo da fertilidade do solo.

Assim, é fundamental fazer a correção de acidez com calcário para elevar o pH e neutralizar alumínio, realizar a rotação de culturas e adotar o sistema de plantio direto.

A palha do sistema de plantio direto, por exemplo, aumenta a retenção de umidade no solo, reduz a amplitude térmica e aumenta o carbono orgânico.

Azospirillum no milho: como fica a produtividade

Vamos ver agora alguns trabalhos que mostram as vantagens no uso de Azospirillum brasilense para produtividade de milho.

Na tabela abaixo você pode ver o efeito da inoculação com estirpes de Azospirillum brasilense e Azospirillum lipoferum no rendimento (kg de grãos ha-1) de milho.

tabela com efeito da inoculação com estirpes de Azospirillum brasilense e Azospirillum lipoferum

(Fonte: Hungria et al. (2011))

A figura abaixo mostra os teores de nitrogênio nas folhas e nos grãos de milho.

teores de nitrogênio nas folhas e nos grãos de milho

(Fonte: Hungria et al. (2011))

No trabalho acima, os autores mostraram que a inoculação com a aplicação de 24 kg/ha de nitrogênio na semeadura do milho resultou em rendimentos de 3.400 kg/ha. 

Já com o adicional de 30 kg/ha no florescimento do milho, foi possível atingir rendimentos de 7.000 kg/ha com a inoculação.

Baixe aqui a planilha gratuita para estimar sua produtividade de milho!

Cuidados com a compra do inoculante contendo Azospirillum

Quando compramos um inoculante deste tipo precisamos ter alguns cuidados diferenciados. Aqui você pode ver alguns deles:

  • Verifique se o produto apresenta o número de registro no Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento);
  • Verifique o prazo de validade do inoculante;
  • Certifique-se que o produto esteve conservado em condições adequadas de umidade e temperatura (máximo 30℃);
  • Conserve o inoculante em local protegido do sol e arejado até a utilização;
  • De acordo com a legislação, inoculantes à base de Azospirillum devem ter concentração mínima de 108 células/g ou mL de inoculante.

Como deve ser feita a inoculação das sementes com Azospirillum

A inoculação das sementes requer alguns cuidados. Separei abaixo alguns itens que você deve se atentar:

  • A distribuição do inoculante líquido nas sementes deve ser uniforme;
  • Sempre verifique a temperatura na hora da semeadura, checando também a temperatura no depósito de sementes da máquina;
  • Evite deixar as sementes expostas ao sol;
  • A inoculação diretamente na caixa semeadora dificulta a cobertura uniforme das sementes;
  • Caso o depósito de sementes na máquina esteja com temperatura superior a 35℃, você precisará parar para resfriar a caixa;
  • Após a inoculação, você deverá semear imediatamente ou, no máximo, dentro de 24 horas;
  • No caso de sementes tratadas com fungicida, inseticidas e/ou micronutrientes, o inoculante deve ser colocado por último.

Você pode usar o Azospirillum brasilense de diversas formas, entre elas estão:

  • inoculação de sementes;
  • sulco de semeadura;
  • pulverizações.

É muito importante aproximar a semente do milho à bactéria, por isso o uso no sulco de semeadura é uma boa opção.

Conclusão

Neste artigo vimos a importância das bactérias do gênero Azospirillum no milho.

Mostramos quais os benefícios e dicas de como utilizar na sua lavoura para auxiliar na fixação biológica de nitrogênio. 

Além disso, citamos técnicas importantes que precisam ser seguidas se você deseja utilizar essa tecnologia.

>>Leia mais:

Plantio de milho: como garantir a alta produção

O que caracteriza sementes piratas e como fugir disso

Como fazer o armazenamento de sementes de soja e assegurar germinação

Você usa Azospirillum no milho? Quais foram seus resultados? Adoraria ler seu comentário abaixo!

Tudo sobre a produção de laranja Pêra

Produção de laranja Pêra: plantio, adubação, doenças e outros manejos da cultivar mais querida da citricultura brasileira.

A laranja Pêra é uma das laranjas mais importantes na citricultura brasileira. Dos quase 400 mil hectares de laranjas plantadas, ela sozinha representa 35% do total de árvores.

A produção de laranja Pêra estimada na safra 2020/21 equivale a um total de 87 milhões de caixas (40,8 kg cada).

Segundo dados do Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus), nos últimos 10 anos, a participação da laranja Pêra em plantios novos foi, em média, de 45%.

A busca elevada pela produção ocorre principalmente por sua dupla aptidão: atende tanto à indústria de processamento para suco quanto o mercado de consumo in natura.

Quer saber um pouco mais sobre a laranja Pêra? Confira a seguir!

Laranja Pêra, a cultivar da meia estação

A laranja Pêra Rio – ou simplesmente laranja Pêra – (Citrus sinensis L. Osbeck), assim como a Valência e a Hamlin, pertence ao grupo das laranjas doces comuns.

Isso significa que o nível de acidez dos seus frutos está em torno de 1%.

Seus frutos têm um formato elíptico, por serem um pouco mais alongados do que os de outras cultivares.

A casca dessa laranja é lisa, fina e de coloração laranja a amarelada, com polpa suculenta e de coloração alaranjada.

Apesar de pertencerem ao mesmo grupo das laranjas doces comuns, a laranja Pêra se diferencia da Hamlin e da Valência pela época de maturação de seus frutos.

Quando falamos em maturação dos frutos de laranjas, podemos separar as cultivares em quatro grupos diferentes:

  • maturação precoce;
  • precoce a meia-estação;
  • meia-estação; e
  • tardia.

Enquanto a Hamlin é uma cultivar precoce e a Valência tardia, a laranja Pêra tem maturação típica de meia-estação.

A produção da laranja Pêra fica concentrada nos meses de julho a outubro. E, além disso, representa cerca de 22% da produção de laranjas do estado de São Paulo.

Confira no gráfico a seguir:

Tempo de colheita da laranja pêra

Período de colheita por grupo de maturação e porcentagem da produção em São Paulo
(Fonte: Markstrat – CitrusBR)

A origem da cultivar

Por ser produzida em grande escala apenas no Brasil, ela é considerada uma cultivar brasileira por excelência, mas pouco se sabe de suas origens.

Apesar de sua grande importância para a citricultura, a origem da laranja Pêra permanece desconhecida.

Diferente de outras cultivares comerciais importantes, como a laranja Valência, e tangerinas Ponkan e Murcott, não foram encontrados possíveis progenitores da laranja Pêra na região de origem desta espécie (no Sudeste Asiático).

Sabe-se que o cultivo e a produção de laranja Pêra se concentravam na Baixada Fluminense e que, no início do século 20, foi trazida para o estado de São Paulo.

A partir daí, seu cultivo se popularizou por todo o cinturão citrícola brasileiro, com os nomes de Pêra Rio, Pêra Coroa ou somente Pêra.

Apesar de não se ter completa certeza, existem suspeitas de que a laranja Pêra está diretamente relacionada a cultivares da Espanha e Portugal. Isso, graças às similaridades existentes entre essas cultivares.

Clones de laranja Pêra

Quando comparada com outras cultivares, a laranja Pêra apresenta uma grande quantidade de clones selecionados e cultivados.

O fato da produção de laranja Pêra ser bem consolidado e espalhado pelo país explica o aparecimento dessa elevada quantidade de novos clones e seleções.

Esses novos clones surgem, em sua maioria, por variações que ocorrem nas gemas das plantas matrizes (borbulheiras).

A ‘Pêra IAC 2000’, ‘Pêra Bianchi’, ‘Pêra Olímpia’, ‘Pêra Mel’ e ‘Pêra Rio’ são algumas cujas borbulhas podem ser encontradas no Centro de Citricultura Sylvio Moreira (IAC).

Plantio e tratos culturais da laranja Pêra 

Plantio

A implantação do pomar de citros não varia muito de uma cultivar para outra, apresentando muitos pontos em comum.

Por exemplo, toda implantação começa bem antes do plantio propriamente dito, que deve ser antecedido da análise e correção do solo.

O planejamento do plantio e a diversificação das cultivares no pomar é essencial para garantir a produção durante o ano todo.

Recomenda-se que cerca de 30% da área de plantio dos pomares de citros esteja destinada à produção de laranja Pêra (meia-estação). 

Em seguida, a correta escolha do porta-enxerto e aquisição de mudas de qualidade são pontos essenciais para a longevidade do pomar.

Para o plantio em si, é importante nos atentarmos ao espaçamento utilizado.

Como o porte da laranjeira Pêra é médio, um espaçamento interessante para essa cultivar é de 6,0 m x 4,0 m.

Mas tudo isso pode variar de acordo com o porta-enxerto e região de cultivo. Portanto, devemos estar sempre atentos e planejar com cautela.

Adubação

Via de regra, a adubação dos pomares cítricos pode ser feita de duas principais formas: via solo ou foliar

A escolha de uma técnica em detrimento da outra depende do nutriente que se deseja fornecer às plantas e do estágio fenológico da planta.

Vale ressaltar que os nutrientes apresentam particularidades, fazendo com que sejam melhor aproveitados pelas plantas por uma via ou outra.

Os nutrientes devem ser fornecidos às plantas nas épocas de maiores exigências da planta (fases críticas).

No estado de São Paulo, isso ocorre de setembro a março e coincide com a estação das chuvas, outro fator essencial para o sucesso da adubação.

Confira aqui 3 dicas para ser ainda mais eficiente na adubação em citros!

Particularidades da produção de laranja Pêra

A produção de laranja Pêra apresenta algumas restrições, principalmente relacionadas ao uso de alguns porta-enxertos e também ao vírus da tristeza dos citros.

Incompatibilidade de enxertia

Apesar de muito desejada e cultivada, a laranja Pêra apresenta incompatibilidade com uma série de porta-enxertos existentes, dentre eles podemos citar:

  • o limão ‘Rugoso da Flórida’ e ‘Volkameriano’;
  • as tangerinas ‘Sunki tropical’ e ‘Sunki maravilha’;
  • o Poncirus trifoliata;
  • alguns citrumelos e citrangeiros.

Atualmente, para que seja possível trabalharmos com esses porta-enxertos, é necessária a utilização de um interenxerto como a laranja Hamlin ou limoeiro cravo, por exemplo.

Além disso, a diversificação dos porta-enxertos tem sido amplamente estudada, buscando novos porta-enxertos para a citricultura.

Suscetibilidade ao vírus da tristeza

São diversas as doenças que acometem os citros. A laranja Pêra, em especial, apresenta elevada suscetibilidade ao vírus da tristeza dos citros.

Esse vírus se desenvolve nos tecidos da planta prejudicando seu metabolismo, reduzindo o vigor, crescimento, tamanho de folhas e frutos.

O principal sintoma que ocorre nas plantas doentes é chamado canelura ou ‘pitting’, como na figura a seguir:

Foto de pé de laranja com tristeza do citrus

Sintoma clássico do vírus da tristeza dos citros em cultivares suscetíveis
(Fonte: M. Manners,FSC)

Para reduzir sua incidência, o ideal é manter o Pulgão preto (Toxoptera citricidus), inseto transmissor, controlado.

Além disso, a obtenção e plantio de mudas pré-imunizadas, ou seja, que foram inoculadas com estirpes fracas do vírus, pode ajudar.

Conclusão

A produção de laranja Pêra tem papel fundamental na citricultura brasileira graças à versatilidade dessa cultivar.

Apesar de não sabermos ao certo sua origem, hoje é a cultivar mais plantada no Brasil.

Alguns cuidados têm de ser tomados na implantação do pomar, especialmente na busca por mudas de qualidade.

É preciso estarmos sempre atentos à ocorrência do vírus da tristeza do citros e de seu vetor em nossos pomares de laranja Pêra.

>> Leia mais:

Florada do citros: 3 manejos essenciais para garantir uma boa produção

E você, como vai a sua produção de laranja Pêra? Conte pra gente nos comentários mais detalhes sobre seus pomares!

Como evitar o embuchamento em plantio direto de soja

Embuchamento em plantio direto de soja: Veja as dicas para a regulagem certeira das máquinas e minimize esse problema em suas operações agrícolas.

O embuchamento, literalmente, significa ficar completamente cheio. No caso das máquinas agrícolas, o embuchamento está relacionado à queda de rendimentos operacionais.

Diversas condições da lavoura, associadas às regulagens incorretas nas máquinas agrícolas, podem causar embuchamentos.

Em plantio direto, solos com muita palhada e discos montados muito próximos podem provocar essa situação.

Acompanhe neste artigo como reduzir o embuchamento das máquinas em plantio direto de soja e também em outras culturas!

Sistema de Plantio Direto

O sistema de plantio direto (SPD) vem sendo muito utilizado no Brasil para melhorias nas condições dos solos e aumento das produtividades da lavoura.

Porém, a adoção desse sistema exige um manejo do solo diferente da qual os produtores estavam acostumados a realizar.

Dentro do sistema de plantio direto, três fatores devem ser considerados: rotação de culturas, manutenção da palhada e o não revolvimento do solo. 

A rotação de culturas e uso da adubação verde podem ser utilizados dentro do SPD inclusive para reduzir problemas de compactação ocasionados pelo tráfego das máquinas dentro das lavouras.

Essa condução diferenciada no manejo requer mais cuidado quanto ao maquinário empregado e suas regulagens para obter melhor retorno operacional e financeiro.

Nos sistemas de plantio direto, é preciso se atentar a:

  • problemas de compactação do solo;
  • presença de água no solo;
  • infiltração de água no perfil;
  • manutenção de matéria orgânica com a utilização de cobertura vegetal;
  • estruturação do solo.

A semeadura na palha deve ser realizada com máquinas com discos para cortar essa cobertura superior do solo e depositar as sementes logo abaixo dessa camada.

Altos volumes de palhada na superfície e espaçamentos menores entre as linhas de plantio de soja, por exemplo, podem afetar o rendimento operacional de campo devido às paradas acarretadas pelo embuchamento das máquinas.

embuchamento em plantio direto de soja

(Fonte: Cotrijuc)

Máquinas utilizadas no Plantio Direto

As máquinas utilizadas no plantio direto possuem, geralmente, discos de corte para cortar a cobertura de palhada nas camadas superficiais do solo. Também têm sulcadores para abertura do sulco e deposição das sementes.

Essas peças encontradas nas semeadoras podem gerar mais ou menos embuchamentos durante o plantio.

Solos mais argilosos e com umidades mais elevada podem aderir e grudar mais nos discos de corte das semeadoras. Tal condição dificulta o corte da palha, resultando em mais embuchamentos e perdas na qualidade na operação.

Outro local propício para causar embuchamento são as hastes sulcadoras e os discos duplos. 

Em solos de mesmo padrão, argilosos e com maior umidade, eles podem acumular agregados de solo e palhada, o que dificulta a operação correta dos equipamentos.

Uma vez que estes discos corta-palha e as hastes sulcadoras estão incrustadas de solo e palhada, a mobilização do solo aumenta, reduzindo a eficácia do SPD.

Frente a isso, erosões e maior incidência de plantas daninhas podem ser observadas nas áreas. Tudo isso compromete a otimização dos processos, reduzindo a produtividade.

embuchamento em plantio direto de soja

(Fonte: Coagril)

As sementes também podem ser depositadas de forma desigual nos solos. Quando isso acontece, pode haver problemas de emergência, falhas no estande desejado e desuniformidade nas linhas de semeadura.

6 dicas para regular máquinas e evitar embuchamento em plantio direto de soja

Com intuito de evitar embuchamentos em plantio direto de soja, milho e outras culturas, algumas ações de manejo podem ser utilizadas. Confira algumas dicas:

1 – Observe a umidade do solo e tente adequar o melhor momento de semeadura na curta janela de plantio. Sei que isso às vezes pode ser um desafio muito grande.

2 – Se a janela de plantio for muito curta e a palhada na superfície não for muito espessa, alguns dizem cerca de 4 a 6 ton/ha (porém, dependendo do tipo da palhada, esses valores podem ser modificados), uma dica é retirar os discos de corte da máquina para minimizar o acúmulo de solo grudado nestas partes.

3 – Se não há muita palhada na cobertura dos talhões e a máquina for semeadora-adubadora, opere somente com os discos duplos na semente e fertilizante.

4 – Espaçamentos maiores entre linhas das semeadoras também ajudam na redução dos embuchamentos no momento do plantio.

5 – Espaçamentos de 45 cm ou 50 cm, no caso da soja, embora apresentem maior retorno em produtividade, podem representar mais embuchamentos na hora do plantio. Isso vai depender da umidade e textura dos solos.

6 – Com semeadoras múltiplas, sem a possibilidade de ajustar as linhas de semeadura para espaçamentos maiores, é preciso checar sempre o melhor arranjo destas máquinas. Assim é possível semear melhor as culturas e evitar paradas desnecessárias acarretadas por embuchamento. 

As multissemeadoras auxiliam no sistema de rotação de culturas dentro do plantio direto e estão ganhando mercado nas fazendas que praticam esse sistema!

custo operacional de máquinas

Embuchamento na colheita

O embuchamento não acontece apenas na semeadura das culturas em plantio direto – pode ocorrer também na hora da colheita.

A secagem natural da soja em campo, por exemplo, pode diminuir custos com a secagem artificial em silos. Porém, à medida em que estas plantas permanecem no campo, há possibilidade da invasão de plantas daninhas na lavoura.

embuchamento em plantio direto de soja

Fonte: (Up. Herb)

A dessecação mal feita pode trazer o mesmo problema, prejudicando o momento da colheita.

Assim, colheitas mecânicas podem perder rendimento operacional quando atingem estas massas de plantas invasoras verdes no meio do talhão. Tal condição representa possíveis embuchamentos das máquinas e perdas na eficiência.

Perdas causadas pelo embuchamento

Conforme comentei, inúmeras podem ser as perdas causadas pelo embuchamento das máquinas.

No momento do plantio, embuchamentos podem acarretar em maior presença de plantas daninhas e emergência desuniforme do estande de plantas.

Com maior incidência de daninhas e estande desuniforme das plantas, a produtividade fica comprometida.

Embuchamentos no plantio e na colheita podem propiciar maior desgaste e quebra das peças das máquinas agrícolas, o que aumentará os custos de produção.

Para evitar essas situações, é importante que sejam feitas manutenções preventivas no maquinário ao longo de toda a safra.

Você pode usar um software agrícola como o Aegro para gerenciar seus equipamentos e programar revisões periódicas, checando a necessidade de trocar peças ou realizar novas regulagens.

Utilizando-se de estratégias assertivas como essa, certamente você otimizará os rendimentos operacionais, o que fará toda a diferença na lucratividade da sua fazenda.

Conclusão

Diversas estratégias podem ser utilizadas para aumentar produtividade e reduzir o embuchamento em plantio direto de soja. 

Aqui mostramos a importância de checar a textura dos solos e a umidade na hora da semeadura. Dessa forma, você evita que os agregados do solo fiquem aderidos aos discos de corte, hastes sulcadoras e discos duplos das máquinas.

Você também viu que aumentar o espaçamento e retirar discos de corte também podem ser opções de arranjo nas semeadoras para otimizar rendimentos e evitar embuchamentos. 

A compra de equipamentos autolimpantes ou confeccionados com materiais menos abrasivos também é uma excelente opção. 

E, lembre-se: o embuchamento também pode ocorrer na colheita se a dessecação for mal realizada ou se a lavoura estiver com muitas plantas daninhas.

>> Leia mais:

Novidades de máquinas e implementos agrícolas que ainda não vemos por aí

Máquinas para culturas de inverno: diferentes tipos e particularidades

Você utiliza outras estratégias de manejo para evitar o embuchamento em plantio direto de soja ou outras culturas? Restou alguma dúvida? Adoraria ver seu comentário abaixo!

Como ter uma produção de mudas cítricas de boa qualidade

Produção de mudas cítricas: Saiba mais sobre as etapas de produção, instalação do viveiro, normas e legislações envolvidas.

A muda cítrica se tornou o principal insumo da citricultura atual. Sua qualidade pode garantir o sucesso da implantação e a longevidade dos pomares comerciais.

Mas o processo de produção envolve várias etapas, além de precisar seguir legislações específicas.

Neste artigo vou explicar melhor o que envolve a produção de mudas cítricas e outras informações que você precisa saber antes de implantar seu pomar. Confira a seguir!

Produção de mudas cítricas

A história da citricultura brasileira iniciou nos tempos em que o país ainda era colônia portuguesa. Os primeiros pomares cítricos em São Paulo e Bahia remontam ao século 16, nos anos de 1540 e 1567.

Nessa época, a produção das mudas cítricas era baseada apenas no uso de sementes, o que dava origem aos chamados pés-francos – plantas grandes, muitas vezes repletas de espinhos e que demoravam anos para produzir.

O cenário começou a mudar no início do século 20, quando foram percebidas vantagens do uso da propagação vegetativa através da técnica de enxertia. Isso possibilitou a formação de pomares mais homogêneos, com produção precoce, plantas menores e menos espinhos. 

A seleção e o uso de diferentes copas e porta-enxertos no decorrer dos anos seguintes possibilitou aos citricultores perceber as diferentes características e adaptabilidade de cada um deles.

produção de mudas cítricas

Uniformidade dos pomares de citros graças ao uso da propagação vegetativa
(Fonte: Fundecitrus)

Assim, a técnica de enxertia de borbulhas de variedades comerciais em porta-enxertos selecionados se consolidou como o principal método para a multiplicação de citros.

Mas, as borbulhas e porta-enxertos podem atuar como fonte de disseminação de patógenos como fungos, vírus, bactérias e nematóides causadores de doenças nos citros.

Para evitar que isso aconteça, algumas medidas de prevenção precisaram ser tomadas. Uso de substrato no lugar da terra e a produção das matrizes e mudas em ambiente protegido foram algumas delas.

Para garantir a fidelidade sanitária e genética, além de padronizar a produção de mudas cítricas, leis e normas foram implantadas no país e nos estados produtores. Vou explicar melhor sobre isso a seguir:

Leis e normas na produção de mudas cítricas

Como sabemos, a legislação pode ser algo complicado e burocrático, mas serve de norte para elaborar o projeto técnico do viveiro.

Devemos estar atentos às exigências para que, nas auditorias, os viveiros de produção de mudas cítricas sejam aprovados.

Dessa forma, todo viveiro deve ser inscrito junto ao Registro Nacional de Sementes e Mudas (RENASEM) do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).

RENASEM

(Fonte: RENASEM)

As cultivares utilizadas devem ser habilitadas no Registro Nacional de Cultivares (RNC).

Outro ponto importante diz respeito à Instrução Normativa 48 do Mapa, que estabelece normas de produção e comercialização de material propagativo de citros.

Tudo isso é válido nacionalmente. Além disso, outras normas podem existir de acordo com o estado onde o viveiro será instalado.

Em São Paulo, por exemplo, além da inscrição no Mapa, produtor, viveiro e borbulheiras (matrizes) precisam ser cadastrados na Coordenadoria de Defesa Agropecuária da Secretaria de Agricultura e Abastecimento (CDA).

Esse cadastro garante informações de fiscalização, infraestrutura e a emissão da Guia de Permissão de Trânsito Vegetal (PTV), que permite a comercialização das mudas.

Isso precisa ser realizado por um Engenheiro Agrônomo vinculado ao CREA e credenciado no Mapa.

Durante o processo de produção de mudas cítricas, três laudos precisam ser emitidos: após a semeadura, após a enxertia e antes da liberação das mudas.

Os lotes de mudas produzidas devem ser testados em laboratórios especializados, reconhecidos pelo Mapa e CDA, para diversas doenças como CVC, Phytophthora, HLB e nematóides.

Isso tudo para garantir a origem e qualidade do material vegetal.

Sei que é muito para entender de uma vez. Mas, aos que pretendem iniciar um viveiro de produção de mudas cítricas, todas as informações podem ser encontradas nos sites oficiais.

Leis, decretos, instruções e portarias referentes à produção de mudas cítricas

Leis, decretos, instruções e portarias referentes à produção de mudas cítricas
(Fonte: RENASEM, Mapa, RNC e CDA)

Instalação do viveiro

Para a instalação do viveiro de mudas cítricas precisamos nos atentar a dois principais aspectos: o local e a infraestrutura necessária.

Local

Quanto ao local de instalação do viveiro, alguns cuidados básicos devem ser tomados com relação ao relevo e solo, que devem favorecer a drenagem da água das chuvas.

É importante conhecer os aspectos climáticos da região como a temperatura e precipitação média e sua distribuição no ano. Isso influenciará no dimensionamento do projeto quanto à necessidade de instalação de telas termorefletoras, ventiladores ou ainda cortinas laterais.

Por último, mas não menos importante, a portaria Nº 5 da CDA (SP) recomenda a instalação de viveiros no mínimo a 20 m de distância de pomares cítricas ou até a 1.200 m caso existam relatos de cancro cítrico.

Existem também regulamentações quanto ao uso da murta (Murraya paniculata) como quebra-vento, que pode servir como hospedeiro alternativo a doenças dos citros.

Infraestrutura

A mesma portaria define os requisitos mínimos que as estufas devem apresentar para serem utilizadas nos viveiros.

Podemos destacar alguns deles:

  • uso obrigatório de tela antiafídica (malha 0,87 mm x 0,30 mm);
  • cobertura plástica impermeável;
  • antecâmara com mínimo de 4 m² contendo pedilúvio e recipientes para desinfecção das mãos;
  • uso preferencialmente de pavimentos de concreto;
  • bancadas elevadas a no mínimo 40 cm;
  • ambiente cercado por muretas para contenção de água externa.

Algumas diferenças podem ser encontradas entre a legislação das estufas de mudas e das borbulheiras – e tudo isso está descrito nos sites oficiais.

Etapas da produção de mudas cítricas

Produção dos porta-enxertos

A produção de porta-enxertos de citros é realizada através da sementes dos porta-enxertos em tubetes com substrato.

Vale lembrar que as sementes de citros apresentam algumas peculiaridades importantíssimas.

Além de serem poliembriônicas, ou seja, apresentarem mais de um embrião por semente, alguns desses embriões são apomíticos.

Embriões apomíticos são formados a partir do tecido nucelar da planta-mãe e, portanto, são clones da planta matriz.

Por isso as matrizes de porta-enxertos que fornecem os frutos para esse processo precisam ser registradas.

Nos tubetes, os embriões apomíticos são mantidos e os demais são retirados e, ao atingir o porte adequado, são transplantado para as sacolas plásticas convencionais.

porta-enxertos

Porta-enxertos semeados em tubetes no início de seu desenvolvimento
(Fonte: Marcelo B. Santoro)

Produção, coleta e processamento dos enxertos

Em citros, o enxerto é formado por uma única gema e, por isso, recebe o nome de borbulha. As plantas matrizes registradas que produzem as borbulhas são chamadas borbulheiras.

Para obtenção da borbulha, o viveirista pode optar por manter em sua propriedade borbulheiras destinadas exclusivamente para a produção de enxertos ou pode comprá-las de outros viveiristas.

As borbulheiras devem ser mantidas em estufas separadas das demais mudas, sendo de uso exclusivo para essa finalidade.

As borbulhas, após colhidas, devem ser utilizadas imediatamente, porém, suportam o armazenamento por até 2 meses, desde que mantidas em sacos plásticos e refrigeradas (5℃ – 10℃).

produção de mudas cítricas

Banco de matrizes de cultivares copa de citros para formação de borbulheiras
(Fonte: O Agronômico)

Produção da muda cítrica: enxertia

A época apropriada para a realização da enxertia é definida pelo porta-enxerto.

O “ponto de enxertia” ocorre cerca de 3 a 5 meses do transplantio dos porta-enxertos, quando estes estão com 0,5 mm a 0,8 mm de diâmetro de caule.

Para a produção de mudas cítricas, a técnica de enxertia mais adequada, e utilizada, é a borbulhia do tipo “T” invertido.

Esse nome diz respeito ao tipo de corte, ou incisão, feito no porta-enxerto para inserção da borbulha, como no esquema a seguir:

Esquema representativo da borbulhia do tipo “T” invertido

Esquema representativo da borbulhia do tipo “T” invertido. Abertura do ‘T’ invertido, retirada da borbulha, inserção e amarração
(Fonte: Fachinello et al., 2005)

Uma vez inserida, a borbulha deve ser amarrada com um fitilho plástico que poderá ser retirado 15 dias após a enxertia ou após a fixação do enxerto.

A parte aérea do porta-enxerto acima da borbulha deve ser “enrolada”, como nas fotos a seguir, para estimular a brotação da borbulha.

E poderá ser cortada 50 dias após a enxertia ou quando o enxerto atingir de 20 cm a 30 cm, o que ocorrer primeiro.

produção de mudas cítricas

Mudas recém-enxertadas (esq.) e mudas com brotação da borbulha (dir.) após a enxertia
(Fonte: Marcelo B. Santoro)

Muda pronta para a comercialização

Muda pronta para a comercialização
(Fonte: Teófilo Citros)

Conclusão

A muda cítrica é considerada o insumo mais importante da citricultura hoje. Portanto, garantir mudas de qualidade é garantir o sucesso da implantação dos pomares.

A produção de mudas cítricas no Brasil e principalmente no Estado de São Paulo é cercada de regras e legislações que garantem a qualidade delas.

O processo de produção de mudas cítricas não é simples, porém, quando feito corretamente, vemos o bom resultado no campo!

Você já sabia tudo sobre a produção de mudas cítricas? Quais as principais combinações que você tem em sua lavoura? Conta pra gente nos comentários!

Superfosfato triplo: o que é e como tirar o máximo proveito desse fertilizante fosfatado

Superfosfato triplo: saiba mais sobre a utilização, eficiência agronômica e aplicação deste e de outros fertilizantes fosfatados.

Os solos brasileiros são reconhecidos como pobres em fósforo (P), elemento que com mais frequência limita a produção agrícola. 

Atualmente, os superfosfatos simples e superfosfatos triplos correspondem a 90% ou mais de todo P2O5 utilizado na agricultura brasileira. 

O superfosfato triplo é um fertilizante fosfatado de origem mineral que pode solucionar esse problema. Conhecer detalhes desse insumo é essencial para não errar na adubação.

A seguir, veja como o superfosfato triplo funciona, como tirar o máximo de proveito dele na sua lavoura e muito mais!

Fósforo nas plantas 

O fósforo nas plantas é essencial. Isso principalmente na fase de estabelecimento das lavouras. Ele é fundamental em vários processos fisiológicos das plantas, como a respiração e a fotossíntese. 

Além disso, ele aumenta a resistência das plantas às doenças e melhora a utilização da água. Plantas deficientes em fósforo apresentam crescimento lento. O desenvolvimento da parte aérea e do sistema radicular é prejudicado. 

Os sintomas de deficiência de fósforo aparecem nas folhas mais velhas. Elas adquirem coloração arroxeada. Quando os sintomas visuais aparecem, a deficiência nas plantas já é crítica.
O fornecimento tardio de adubos fosfatados não terá efeito sob a lavoura. Disponibilizar o fósforo na dosagem e no momento certo é fundamental para garantir qualidade e alcançar altas produtividades.

Quais são as limitações do superfosfato triplo?

O superfosfato triplo é um dos adubos fonte de fósforo mais utilizados na agricultura. Apesar disso, esse insumo apresenta algumas limitações quanto a sua utilização.

Primeiramente, é preciso se atentar à compatibilidade entre os insumos utilizados na correção e fertilização do solo.

Conhecer a compatibilidade desses produtos é de extrema importância para garantir a eficiência do processo de adubação.

Abaixo você pode conferir a compatibilidade entre os corretivos da acidez do solo, os fertilizantes minerais e orgânicos.

Exemplificacão de solubilidade de adubos e nutrientes
Matriz de compatibilidade entre fertilizantes e corretivos
(Fonte: Boletim Técnico IAC)

No caso do superfosfato triplo, deve-se evitar a mistura desse fertilizante com o calcário, pois eles apresentam incompatibilidade. Isso quer dizer que a mistura compromete as propriedades físico-químicas desses insumos e, consequentemente, a sua eficiência.

O superfosfato triplo também apresenta limitada compatibilidade com a ureia, que é utilizada como fonte de nitrogênio para as plantas, e com o fosfato diamônico (DAP). 

Nesse caso, é preciso se atentar à proporção da mistura e ao momento em que ela deve ser realizada. A recomendação é que, em caso de mistura, essa seja feita pouco antes da aplicação.

Além disso, o superfosfato triplo não apresenta problemas de incompatibilidade com o cloreto de potássio, sulfato de potássio, sulfato de potássio e magnésio e com adubos orgânicos.

A acidez do solo também é um parâmetro que merece atenção na aplicação do superfosfato triplo.

Em solos ácidos, com baixo pH, é fundamental que seja feita a correção da acidez antes da aplicação de adubos fosfatados solúveis.

Essa estratégia é recomendada para diminuir os sítios de adsorção do fósforo no solo. Isso melhora a eficiência da adubação e aumenta a quantidade de fósforo disponível para as plantas. 

Adubos fosfatados que apresentam nitrogênio em sua composição, como é o caso do MAP e DAP, têm maior potencial para acidificação do solo. No entanto, essa característica não é observada no superfosfato triplo.

Outro fator limitante diz respeito ao elevado custo dos adubos fosfatados. Isso impacta diretamente no custo total de produção. 

Qual a viabilidade do superfosfato triplo?

A viabilidade da utilização do superfosfato triplo deve levar em consideração a análise de uma série de coeficientes. Para que uma prática de manejo seja viável é preciso que parâmetros técnicos, econômicos e ambientais caminhem lado a lado.

Para isso, todo o cenário deve ser estudado e cada caso deve ser avaliado individualmente.

Por isso é importante realizar a análise físico-química do solo, bem como conhecer as exigências nutricionais da cultura e a duração do seu ciclo. Apenas assim é possível determinar a dosagem correta do adubo e em qual momento deve ser disponibilizado para as plantas. 

No caso da adubação fosfatada, atenção especial deve ser dada à acidez do solo, que tem influência direta na disponibilização do fósforo para as plantas. Não se esqueça de avaliar a compatibilidade do superfosfato triplo com outros insumos. Isso pode ter um impacto direto na eficiência dos produtos.

Solubilidade do superfosfato triplo 

O superfosfato triplo (SPT) é altamente solúvel em água e CNA. Outros adubos solúveis em água e CNA são:

O superfosfato triplo é utilizado principalmente na forma de grânulos. Isso diminui a superfície de exposição do adubo com o solo, diminuindo também o processo de solubilização. 

Além disso, essa forma facilita o manejo e a aplicação.

Como tirar o máximo proveito do super triplo na lavoura

A eficiência da adubação fosfatada vai muito além do fornecimento do nutriente na dosagem correta. Vários fatores devem ser considerados e todo o cenário deve ser avaliado.

Independente do nutriente fornecido para as plantas, é preciso conhecer o histórico de cultivo da área.

O histórico deve conter informações sobre:

  • calagens realizadas na lavoura;
  • quais adubos e em qual quantidade foram utilizados;
  • quais culturas foram plantadas;
  • sistema de manejo adotado;
  • produtividades alcançadas. 

Todas essas informações contribuem com a orientação e eficiência da adubação.

Além disso, conhecer o solo é fundamental. Fatores como o pH e a umidade interferem na disponibilidade dos adubos fosfatados para as plantas, como o super triplo e simples.

A eficiência da adubação também está relacionada à fonte, a solubilidade, a granulometria e ao modo de aplicação dos produtos.

Diferença entre superfosfato triplo e simples

O superfosfato simples é um fertilizante mineral que tem em sua composição 18% de fósforo, 16% de cálcio e 10% de enxofre. 

A diferença entre ele e o superfosfato triplo está na concentração dos nutrientes, principalmente do fósforo. Eles também diferem na forma de obtenção. 

Os dois fertilizantes são produzidos a partir do beneficiamento de rochas fosfáticas

Elas são submetidas a processos químicos. Pela reação com o ácido fosfórico é produzido o superfosfato triplo.

Enquanto isso, a produção do superfosfato simples envolve a aplicação de ácido sulfúrico no processo de beneficiamento da matéria-prima. O superfosfato simples e o superfosfato triplo podem ser encontrados no mercado na forma de grânulos ou em pó

Ambos têm coloração acinzentada e apresentam elevada solubilidade. Isso significa que o fósforo se apresenta na forma mais solúvel.

Esquema que mostra os diferentes tipos de fertilizantes fosfatados
Rota de produção de alguns fertilizantes fosfatados comercializados no Brasil
(Fonte: Teixeira, P. P. de C.)

O que é adubação fosfatada?

A adubação fosfatada é o uso de fertilizantes que têm principalmente o fósforo em sua composição.

O principal objetivo dessa prática é a manutenção do potencial produtivo da área pela elevação dos níveis de fósforo  no solo. Os adubos fosfatados mais utilizados na agricultura são:

  • Fosfato monoamônico ou MAP;
  • Fosfato diamônico ou DAP;
  • Superfosfato simples;
  • Superfosfato triplo.

Solubilidade dos fertilizantes fosfatados

A legislação brasileira determina que a garantia dos adubos fosfatados seja fornecida com base na quantidade de fósforo solúvel em extratores como:

  • água;
  • ácido cítrico; e
  • citrato neutro de amônio + água (CNA + H2O).

A solubilidade de uma substância é a capacidade de se dissolver em outra. A compreensão dessa informação auxilia na tomada de decisão sobre qual a melhor fonte de fósforo e o melhor manejo de adubação a ser adotado. 

No entanto, solubilidade não é sinônimo de disponibilidade do fósforo no solo. Fatores como acidez, teor de argila, umidade do solo e outras condições ambientais interferem na disponibilidade e absorção desse elemento.

Como fazer a adubação fosfatada?

A aplicação dos adubos fosfatados é realizada, principalmente, durante o plantio e diretamente no sulco. Dependendo da cultura, a adubação fosfatada também é feita em cobertura.

O plantio é o melhor momento para que o fósforo seja disponibilizado em profundidade, próximo às raízes. Isso se deve ao fato desse elemento apresentar baixa mobilidade no solo.

Vale lembrar que toda recomendação de adubação deve ser orientada pela análise de solo e pela exigência nutricional da cultura.

Adubos fonte de fósforo

No mercado, é possível encontrar inúmeras fontes de fósforo além do superfosfato triplo. A escolha da melhor fonte de fósforo deve considerar fatores como:

  • as características físico-químicas do solo; 
  • a exigência nutricional da cultura; 
  • o sistema de plantio adotado (convencional, cultivo mínimo, plantio direto);
  • o modo de aplicação;
  • as características do fertilizante. 

Além dos aspectos técnicos, é importante avaliar a viabilidade econômica da adubação.

Confira os principais fertilizantes fosfatados utilizados nas lavouras do Brasil e sua composição:

  • Fosfato monoamônico (MAP): 48% de pentóxido de fósforo e 9% de nitrogênio;
  • Fosfato diamônico (DAP): 45% de pentóxido de fósforo e 17% de nitrogênio;
  • Superfosfato simples: 18% de pentóxido de fósforo, 16% de cálcio e 10% de enxofre;
  • Superfosfato triplo: 41% de pentóxido de fósforo e 10% de cálcio.

Diversas opções de fertilizantes fosfatados podem ser usadas para garantir o suprimento de fósforo às plantas. Porém, considere aspectos técnicos e econômicos destes insumos para definir qual usar.

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Conclusão 

O fósforo é um nutriente essencial para o pleno desenvolvimento dos vegetais. 

Conhecer a composição química de fertilizantes como o superfosfato triplo e como eles reagem no solo é essencial. 

Não deixe de fornecer o fósforo na dosagem e no momento certo. Utilizando as fontes adequadas, você terá a chave do sucesso para grandes produtividades

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Você já usou o superfosfato triplo para suprir a demanda de fósforo da sua lavoura? Vem sendo eficiente? Conte sua experiência nos comentários abaixo!