Entenda a biotecnologia na agricultura e confira as novidades que vêm por aí

Biotecnologia na agricultura: o que é, importância no setor, organismos geneticamente modificados e mais!

Plantas mais nutritivas, cultivares mais resistentes ao ataque de pragas… Se tudo isso já é uma realidade no campo, só é possível graças ao avanço da biotecnologia na agricultura.

Ela é uma realidade muito mais próxima do que pode parecer e não para de evoluir na busca de soluções mais sustentáveis para os problemas do campo e desafios alimentares que estão por vir.

Hoje, dezenas de produtos com biotecnologia estão em desenvolvimento e devem ser lançados em breve, como a soja tolerante à seca. Quer entender melhor tudo isso e conhecer as novidades? Confira a seguir!

O que é biotecnologia?

Conceitualmente, o termo biotecnologia consiste na união da biologia com a tecnologia. É um conjunto de técnicas que utiliza organismos no desenvolvimento de produtos ou processos.

Embora muitas vezes se pense que a biotecnologia é uma técnica recente, ela está presente em nosso dia a dia há muito tempo! A biotecnologia surgiu por volta de 1.800 a.C., com a utilização de microrganismos para os processos fermentativos para produção de vinhos, pães, queijos e cervejas.

Com o passar dos anos, essa técnica foi aprimorada e ganhou espaço em diversas áreas como a medicina, a farmácia e a agricultura.

Contudo, o fato mais marcante foi quando pesquisadores descobriram que podiam manipular o material genético dos organismos (DNA).

Mas você deve estar pensando: qual a ligação dessa teoria com a prática?

A biotecnologia veio para revolucionar diversos setores! Com ela, os pesquisadores podem manipular o DNA de uma planta ou de um microrganismo, por exemplo, retirando ou acrescentando alguma característica de importância. De modo geral, essa técnica abrange principalmente o uso do DNA. 

organograma dos principais produtos da biotecnologia

Principais produtos da biotecnologia
(Fonte: Embrapa)

Agora vamos entender a aplicabilidade e importância dessa técnica na agricultura?  

Importância da biotecnologia na agricultura

A biotecnologia na agricultura ganhou lugar de destaque por tornar a produção mais eficaz. Estudos nessa área permitem identificar e selecionar genes de interesse, obtendo características agronômicas desejáveis como tolerância a clima adverso, resistência a doenças e outras necessárias para reduzir perdas e alcançar altas produtividades.

Na prática, a biotecnologia juntamente com a engenharia genética já desenvolveu plantas tolerantes a herbicidas, como é o caso da soja RR e resistentes a insetos, como a tecnologia Bt.

A biotecnologia possibilita a criação de organismos geneticamente modificados (OGMs), ou seja, transferindo genes de uma espécie para outra. Vou explicar melhor:

Organismos geneticamente modificado (OGMs) – transgênicos

Os organismos geneticamente modificados ou transgênicos, como são popularmente conhecidos, são frutos da biotecnologia. Foram criados visando solucionar problemas do dia a dia no campo.

Trazem inúmeros benefícios como maior produtividade, maior qualidade dos produtos e, consequentemente, maior rentabilidade.

Além disso, proporcionam facilidade no manejo de plantas daninhas, pragas e doenças.

Isso se reflete em menos aplicações de herbicidas, inseticidas e fungicidas, auxiliando na preservação do meio ambiente.

O algodão, por exemplo, é uma das culturas que mais necessita de aplicação de produtos químicos. O número de pulverizações é de aproximadamente 20 aplicações por safra.

A utilização da tecnologia Bt facilitou o Manejo Integrado de Pragas (MIP) da lavoura de algodão, diminuindo o número de aplicações de inseticidas.

Estudos realizados na China indicam que essa tecnologia pode reduzir em até 67% a aplicação de inseticida.

Os cultivos transgênicos, quando bem manejados, podem ainda diminuir as perdas no campo.

Vale lembrar que, antes de chegar a você, todos os produtos transgênicos passaram por inúmeros testes, tanto de campo quanto de laboratório, para avaliar eficiência e segurança.

foto de uma espiga de milho vista com uma lupa e identificando sua fórmula - biotecnologia na agricultura

(Fonte: Tecnologia Cultura)

Biossegurança

Após os diversos testes, os produtos transgênicos devem ser aprovados legalmente. A Lei 11.105/05 é a que regulamenta as atividades com biotecnologia em geral, inclusive com plantas transgênicas.

Ela indica que um transgênico deve ser obrigatoriamente testado desde a sua descoberta até liberação como produto comercial.

Todos esses estudos levam em média 10 anos para serem concluídos e visam garantir que o produto é seguro tanto para a produção de alimentos quanto para o meio ambiente.

São inúmeras etapas, bastante criteriosas, ligadas à biossegurança. Depois de analisado e aprovado pela CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança), é que o produto vai para o mercado. 

organograma complexo com as etapas da biossegurança do CTNBio

(Fonte: CTNBio)

Os membros da CTNBio são pesquisadores especializados, de diversas partes do país. A Comissão avalia os organismos geneticamente modificados detalhadamente, observando as possíveis vantagens e desvantagens, além de impactos à saúde humana, animal, meio ambiente e à agricultura. 

Ao final das análises, um parecer sobre o organismo geneticamente modificado é expedido, indicando se o produto pode ou não ser liberado para comercialização.

Apesar dessas tecnologias auxiliarem muito no manejo, quando utilizadas sem planejamento, podem ser uma desvantagem no campo.

Um exemplo clássico, é a utilização da soja RR, que possibilita a utilização do herbicida glifosato no manejo de plantas daninhas da soja

Com a chegada dessa tecnologia no campo, o produtor começou a utilizar muito esse herbicida em seu manejo, sem utilizar uma rotação de mecanismos de ação. Isso acarretou na seleção de inúmeras plantas daninhas resistentes ao glifosato.

Por isso, o uso das tecnologias deve ser feito de maneira consciente para não selecionar organismos resistentes.

Próximos avanços da biotecnologia na agricultura

Existem muitos outros produtos geneticamente modificados em fase de desenvolvimento ou em fase final para comercialização.

Separei algumas informações sobre o que vem por aí:

Soja tolerante à seca

A CTNBio já aprovou essa tecnologia de soja tolerante à seca, mas o lançamento comercial da característica HB4® no Brasil depende de aprovações dos principais países importadores de grãos de soja.

Além da característica HB4® sozinha, um outro evento combinando HB4® com tolerância ao herbicida glifosato também foi aprovado. Esse processo, juntamente com o registro de variedades, está em andamento. 

Esse novo evento permitirá aos produtores de soja proteger os rendimentos sob condições de estresses climáticos, proporcionando maior estabilidade ao cultivo.

Algodão: WideStrike 3 

A CTNBio também já aprovou essa tecnologia e o lançamento comercial da empresa TMG aconteceu nesse mês de agosto de 2020.

É uma tecnologia que visa proteção contra os insetos. Contém três eventos:

proteínas Cry1Ac e Cry1F e uma proteína inseticida vegetativa (Vip3A) do Bacillus thuringiensis (Bt). 

WideStrike oferece proteção superior durante todo o ciclo da cultura do algodão, protegendo a plantação de uma grande variedade de pragas importantes.

Outras tecnologias

Outras tecnologias vêm sendo desenvolvidas pela Embrapa como: 

  • soja Cultivance resistente a herbicida AHAS;
  • método para a produção de plantas sem sementes;
  • produção de plantas transgênicas que produzem proteínas inseticidas;
  • produção de plantas transgênicas mais tolerantes ao déficit hídrico e estresse salino;
  • métodos para o biocontrole de insetos;
  • método de produzir planta de soja com composição diferenciada de ácidos graxos na semente.

Nesta página da Embrapa você consegue acompanhar essas e outras novidades que estão sendo estudadas e podem ser lançadas em breve!

Conclusão

A biotecnologia é peça-chave na agricultura moderna, sendo forte aliada para altas produtividades.

Mostramos neste artigo o que é a biotecnologia, sua importância na agricultura e como ela está inserida no dia a dia do campo.

Você pôde conferir também informações sobre a biossegurança e novas tecnologias que chegarão em breve ao campo.

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O que você precisa saber sobre o melhoramento genético do milho

Tudo o que você precisa saber sobre qualidade de sementes

“Entenda como a biotecnologia no algodão pode melhorar o controle de Spodoptera e Helicoverpa na sua lavoura

Você costuma acompanhar as novidades da biotecnologia na agricultura? Já utilizou algumas nas suas lavouras? Adoraria ver seu comentário abaixo! 

Como evitar e corrigir a compactação do solo na sua propriedade

Compactação do solo: o que é, como ocorre e o que fazer para contornar esse problema

O solo é a base da produção agrícola e a maior riqueza das propriedades rurais. É ele que fornece sustento e os nutrientes necessários para o desenvolvimento das plantas.

Mas a realização de práticas agronômicas excessivas com maquinário pesado pode causar o desequilíbrio da estrutura do solo, levando-o à compactação.

Você certamente já ouviu falar sobre isso, mas você sabe o que realmente é e como acontece a compactação do solo? Confira a resposta para essa e outras perguntas a seguir!

Qualidade física do solo

Quando se pensa em solos de boa qualidade, normalmente a primeira coisa que vem à mente é a fertilidade do solo, ou seja, um solo bom é um solo rico em nutrientes.

Entretanto, nos últimos anos, temos percebido que, além dos atributos químicos, associados à fertilidade, os atributos físicos também são extremamente importantes.

Existem diversos atributos que podem ser utilizados para mensurar a qualidade física do solo (QFS), como:

  • a porosidade total; 
  • a distribuição e tamanho de poros;
  • a distribuição e tamanho de partículas;
  • a densidade do solo;
  • a resistência do solo à penetração, dentre outros.

É importante lembrar que os solos são compostos de dois componentes: o sólido (minerais e matéria orgânica) e o poroso (ar e água).

E as proporções desses componentes variam de acordo com o tipo de solo que se está trabalhando.

Esquema dos diferentes componentes do solo: sólidos e poroso

Esquema dos diferentes componentes do solo: sólidos e poroso
(Fonte: Imagem da internet)

A avaliação desses atributos é um pouco complexa e muitas vezes demanda análises laboratoriais.

Antes de partir para a análise laboratorial, para facilitar a identificação da QFS, pode-se trabalhar com alguns indicadores: 

  • curva de retenção de água;
  • condutividade hidráulica;
  • porosidade; e 
  • ponto de inflexão.
Esquema de uma curva de retenção de água e seu ponto de inflexão (A); à direita (B), exemplos de curvas de um solo degradado e um solo não degradado.

Esquema de uma curva de retenção de água e seu ponto de inflexão (A); à direita (B), exemplos de curvas de um solo degradado e um solo não degradado.
(Fonte: Stefanoski et al., 2013)

Esses indicadores serão os primeiros indícios para verificação da compactação do solo. 

Já falei sobre os indicadores, mas afinal, o que é a compactação do solo?

O que é e como ocorre a compactação do solo?

A compactação do solo nada mais é do que um rearranjo das frações sólidas e porosas do solo.

Nesse rearranjo, os espaços porosos, com água e/ou ar, são reduzidos e gradualmente substituídos por partículas sólidas. Consequentemente, há uma redução da porosidade do solo e um aumento das partículas sólidas por unidade de volume e, portanto, aumento da densidade do solo.

Esquema do solo e suas frações sob diferentes condições de compactação, desde sem compactação (esquerda) a estágios mais avançados (direita).

Esquema do solo e suas frações sob diferentes condições de compactação, desde sem compactação (esquerda) a estágios mais avançados (direita).
(Fonte: Horn, 2003)

A compactação do solo é frequentemente associada à pressão excessiva exercida pelo maquinário e implementos agrícolas utilizados no manejo das lavouras.

As fontes de pressão no solo variam desde as bordas cortantes dos discos de arados e grades até os sulcadores de semeadoras e os próprios pneus dos tratores.

As mudanças ocasionadas nos atributos físicos do solo por conta dessa pressão excessiva levam à formação de uma faixa compactada, popularmente conhecida como “pé-de-grade” ou “pé-de-arado”.

Tendências e problemas da compactação

Alguns solos são mais suscetíveis à compactação do que outros. Isso se dá principalmente aos teores de matéria orgânica, textura e granulometria do solo.

Solos franco-argilosos a argilosos normalmente têm maior tendência à compactação do que solos arenosos.

Esquema de um solo sem impedimentos no qual repetidas operações de revolvimento levaram à compactação pé-de-grade

Esquema de um solo sem impedimentos no qual repetidas operações de revolvimento levaram à compactação
(Fonte: Embrapa, 2005)

Os problemas decorrentes da compactação do solo variam de acordo com a época do ano e as espécies cultivadas.

Plantas de ciclo anual, como milho e soja, principalmente, tendem a sofrer mais com solos compactados do que plantas perenes.

Na estação seca, a compactação do solo limita o crescimento do sistema radicular e interfere no acesso das plantas à água de camadas mais profundas.

Já na estação chuvosa, a faixa de compactação limita a drenagem de água, podendo ocasionar encharcamentos nas lavouras.

Se não manejada, a compactação do solo pode e irá afetar o desenvolvimento das lavouras, desde o plantio até a colheita. 

Tabela com diferentes sintomas visuais em plantas e no solo do efeito da compactação do solo

Diferentes sintomas visuais em plantas e no solo do efeito da compactação do solo
(Fonte: adaptado de Mantovani, 1987)

Como saber se meu solo está compactado?

Como expliquei anteriormente, solos apresentam alguns sinais clássicos quando estão compactados.

Além disso, existem diversos indicadores que devem ser acompanhados para auxiliar na identificação da compactação.

Porém, para aumentar a certeza sobre o diagnóstico de compactação, a melhor forma é através da análise da densidade global do solo, o que requer análise laboratorial.

Manter um histórico das medidas das análises de diferentes áreas é essencial para o monitoramento da saúde do solo.

Lembre-se, quando se trata de compactação do solo, o melhor é evitá-la. Caso não seja possível, diagnósticos precoces podem evitar enormes prejuízos!

Foto de um Penetrômetro, utilizado para mensurar a resistência do solo à penetração

Penetrômetro utilizado para mensurar a resistência do solo à penetração
(Fonte: Douglas Jandrey)

Manejo de solos compactados

A melhor forma de manejar solos compactados é evitando que a compactação do solo ocorra. Para isso, é importante ter planejado a rotação de culturas, o controle de tráfego das máquinas nas áreas e manter um histórico das características físicas do solo.

Não é uma tarefa fácil, mas é melhor prevenir do que remediar!

Nos últimos anos, o uso de escarificadores e subsoladores tem sido a principal forma de remediação para áreas com compactação do solo. 

Esses equipamentos são utilizados para romper essas faixas de compactação formadas nos solos, buscando aumentar a porosidade, permitir a drenagem e evitar encharcamento.

foto de subsolador (esquerda) e escarificador (direita) de solo

Subsolador (esquerda) e escarificador (direita) de solo
(Fonte: IF Pernambuco)

Trabalhar a fertilidade do solo buscando aumentar os níveis de matéria orgânica dele é outra estratégia importante para se ter em mente.

A matéria orgânica aumenta a porosidade do solo, a distribuição do tamanho dos poros e facilita a infiltração da água.

O uso de culturas de cobertura e também adubos verdes na entressafra pode trazer resultados positivos! 

cálculo de calagem Aegro

Conclusão

Os solos, além de essenciais para a produção agrícola, são um recurso limitado e seus componentes requerem longos períodos de tempo para serem restaurados.

A compactação do solo é um dos muitos problemas que podem ser enfrentados em suas lavouras. 

Felizmente, é possível reverter processos de compactação, entretanto, o melhor caminho é a prevenção.

Fazer o monitoramento dos atributos de qualidade física do solo também é essencial para o bom desenvolvimento das lavouras.

>> Leia mais:

“Entenda as causas da degradação do solo e como evitar sua ocorrência”

“Entenda a importância da construção do perfil do solo e como ela impacta sua produtividade”

“Como tornar o cultivo em terras baixas mais eficiente e lucrativo”

E você, já enfrentou problemas de compactação do solo em sua lavoura? Conta pra gente nos comentários!

Aplicação noturna de defensivos agrícolas: quando vale a pena?

Aplicação noturna de defensivos agrícolas: saiba em quais situações pode ser utilizada e quais cuidados tomar para ter alta eficiência.

O aumento da eficiência da aplicação de defensivos agrícolas vem sendo muito discutida nestes últimos anos e pode ser crucial para o aumento de produtividade. 

Mas um grande problema é conciliar as recomendações de período ideal de aplicação com as condições ideais de clima. E essa situação é agravada nas regiões mais áridas do país, pois apresentam dias muito secos e quentes. 

Desta forma, as aplicações noturnas podem ser uma ótima opção, desde que sejam tomados os cuidados necessários para garantir sua eficiência. 

Quer saber mais sobre os cuidados e precauções para a aplicação noturna de defensivos? Confira a seguir! 

Boas práticas na tecnologia de aplicação de defensivos

Mesmo utilizando toda a tecnologia de aplicação de defensivos, o clima ainda possui uma influência muito grande em sua eficiência. 

Para que uma aplicação seja bem-sucedida, recomenda-se que: 

  • a temperatura no momento da aplicação esteja abaixo de 30℃;
  • a umidade relativa do ar esteja acima de 60%;
  • a velocidade do vento esteja entre 3 km h-1 e 6,5 km h-1, não ultrapassando os 10 km h-1.

Entretanto, vivemos em um país com uma variação climática muito grande nas diferentes regiões. E nas regiões mais áridas, é muito difícil a ocorrência destas condições durante o dia. 

Além disso, o momento de aplicação é fundamental para o controle eficiente de pragas, doenças e plantas daninhas

Por exemplo, para controle de plantas daninhas, recomenda-se aplicação de herbicidas em plantas de folhas largas com até 4 folhas e folhas estreitas com até 3 perfilhos. Assim, às vezes se entra em um dilema: realizar aplicação no momento ideal ou esperar as condições climáticas ideais? 

Para poder aplicar o defensivo na época ideal, uma opção é realizar aplicações noturnas, pois, nesse horário, as condições climáticas tendem a ser mais favoráveis. 

Mesmo essa aplicação sendo viável em muitos casos, é preciso responder a uma série de perguntas antes de optar por essa modalidade. E é sobre isso que falarei a seguir:

foto de aplicação noturna de defensivos agrícolas

Aplicação noturna de defensivos agrícolas 
(Fonte: FPA)

O que considerar para a aplicação noturna de defensivos agrícolas?

Tecnologia e capacitação do aplicador

A primeira dificuldade de se realizar uma aplicação noturna de defensivos é o nível de visibilidade no momento da aplicação. Por isso, para optar por esta aplicação, é preciso ter um pulverizador que se adapte a essas condições. 

Para isso, é essencial um bom sistema de iluminação, preferencialmente com implementação de sistema de iluminação complementar. Ainda assim, para o aplicador realizar a operação com sucesso, o pulverizador deve possuir luzes extras em locais estratégicos, caso ocorram falhas no funcionamento. 

Caso uma ponta de pulverização não funcione corretamente ou uma mangueira se solte, o aplicador deve ter plenas condições de visualizar o problema e consertá-lo, se for possível, no campo.

Além disso, uma importante ferramenta para essa modalidade é um bom sistema de posicionamento global (GPS). Ele vai auxiliar o operador em condições de menor visibilidade. 

O aplicador deve ser treinado para operar neste período, sabendo os procedimentos de segurança, para garantir a eficiência da aplicação e a integridade da máquina e de sua saúde.

O gestor da fazenda deve planejar a jornada de trabalho desse aplicador para que seja compatível com essa prática. Isso porque, devido ao nosso relógio biológico, nesse período o aplicador tem maior propensão a sono e cansaço. 

Posição do alvo

Antes de realizar uma aplicação noturna deve-se ter certeza de acertar o alvo neste período. Muitas lagartas, por exemplo, têm hábitos noturnos de alimentação e estão mais suscetíveis neste período. 

Já na aplicação de fungicidas que necessitam uma boa cobertura foliar, deve-se levar em conta o movimento natural das folhas (nictinastia) – elas estarão mais anguladas no período da noite, o que pode dificultar a deposição da calda. 

Por outro lado, essa angulação das folhas pode ser uma excelente oportunidade de atingir alvos na parte inferior da planta ou no solo, sendo uma boa estratégia no controle de lagartas (ex: lagarta-rosca). 

Também devido a essa maior angulação das folhas, o uso de gotas maiores ou adjuvantes com muita capacidade tensoativa (organosiliconados) podem proporcionar maior escorrimento e menor cobertura da folha. 

Movimentação das folhas de soja

Movimentação das folhas de soja
(Fonte: AgroPrecisão)

Necessidade de luz para funcionamento do produto

Alguns produtos como o glifosato tem melhor eficiência na presença de luz, pois o produto tem como característica uma rápida absorção e translocação logo após aplicação. 

Na ausência de luz, a cadeia transportadora deste produto não estará funcionando plenamente. 

Já outros produtos, mesmo precisando de luz para agir (ex: paraquat, diquat, inibidores da protox), podem ser aplicados no período noturno desde que o dia seguinte não amanheça nublado ou chuvoso. 

No caso destes produtos que possuem uma ação muito rápida, a aplicação noturna pode proporcionar um maior espalhamento do produto na folha. E, no dia seguinte, com as primeiras luzes do dia, os herbicidas irão apresentar um melhor controle. 

Condições climáticas no momento e após a aplicação noturna de defensivos

Os principais problemas na aplicação noturna de defensivos são os fenômenos de inversão térmica e ocorrência de orvalho.  

No começo da manhã e final da tarde, principalmente em áreas baixas ou próximas a matas, em situações de pouco vento, a atmosfera pode ficar estável. Isso mantém gotas pequenas em suspensão, impedindo que elas cheguem ao alvo, aumentando muito as chances de deriva em cultivos vizinhos.

Por isso, no momento de aplicação, certifique-se que ocorram ventos de pelo menos 3 km h-1.  

Além disso, a ocorrência de orvalho no momento ou logo após a aplicação pode ser muito prejudicial à deposição do produto na folha, favorecendo o escorrimento das gotas.  

Sendo assim, de modo geral, a aplicação noturna pode ser um ótima técnica, porém, certifique-se de estar atento a todos esses itens antes de utilizá-la.

Como saber a hora certa de aplicar defensivos

Para evitar gastos excessivos com defensivos agrícolas, é importante que você faça o monitoramento de pragas e doenças. Essa rotina de controle pode ser operacionalizada com a ajuda de um software de gestão agrícola como o Aegro.

O Aegro te ajuda a identificar focos de infestação na lavoura, gerando relatórios de controle das pragas-alvo. Você consegue identificar os talhões da propriedade que estão suscetíveis a dano econômico e planejar uma pulverização localizada

Além disso, você pode organizar todo o seu calendário de atividades de safra no Aegro. Defina a data de realização das operações e a quantidade de produto que será aplicada em cada área.

Exemplo de controle de atividades de safra pelo software Aegro

Exemplo de controle de atividades de safra pelo software Aegro

O registro da atividade é feito pelo celular, diretamente do campo, mesmo sem internet. Com o uso de tecnologia de georreferenciamento, você marca pelo aplicativo o ponto em que foi realizada a aplicação.

Assim, seu registro se torna mais preciso e detalhado para que você possa avaliar os resultados da aplicação noturna de defensivos na plantação. Clique aqui e comece a usar o Aegro de graça!

Conclusão 

Em muitas regiões existe um dilema entre realizar a aplicação no momento ideal ou esperar condições climáticas adequadas. Como alternativa a esse problema, há a opção das aplicações noturnas de defensivos.

Esse método pode ser excelente em algumas situações, mas é necessário se atentar a alguns fatores para obter alta eficiência. A boa capacitação do aplicador, adaptação do pulverizador à operação são alguns exemplos. 

Além disso, deve-se ter certeza de que irá atingir o alvo e o que o produto utilizado manterá sua atividade na ausência de luz.

Tendo cumprido esses requisitos, cuidado com os fenômenos de inversão térmica e formação de orvalho, e faça uma excelente aplicação!

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Como fazer o controle de estoque de defensivos agrícolas em 5 passos

5 novas tecnologias envolvendo defensivos agrícolas

Você realiza aplicação noturna de defensivos agrícolas? Já teve algum problema quanto à eficiência de produtos? Adoraria ver seu comentário abaixo!

5 passos para acertar na semeadura do feijão

Semeadura do feijão: como se planejar e quais cuidados adotar quanto ao manejo da cultura para obter altas produtividades

O feijão é um dos grãos mais cultivados do Brasil, com uma média estimada em 3 milhões de toneladas por ano.

Mas nem sempre a rentabilidade da lavoura é boa, pois a flutuação de preços no mercado também é alta.

Alguns cuidados na semeadura podem te ajudar a ter uma produção melhor e mais lucrativa.

Neste artigo, vou explicar os 5 principais passos para acertar na semeadura do feijão, entre eles como calcular a quantidade de plantas que poderá te dar um ótimo resultado produtivo. Acompanhe!

1- Método de manejo do solo

Adequar as condições de solo é essencial para uma boa semeadura, garantindo uma boa germinação e estabelecimento da cultura. Isso faz parte dos cuidados antes da semeadura do feijão.

Existem três métodos de manejo do solo, sendo eles:

O método que será adotado irá depender das condições do solo, da declividade e até mesmo do tipo de solo. 

O manejo a ser seguido também é baseado na quantidade de resíduo vegetal e na população de plantas daninhas, tudo com enfoque na melhor plantabilidade. 

foto de semeadura de feijão em sistema de plantio direto

Semeadura de feijão em sistema de plantio direto
(Fonte: Embrapa)

Confira também “Como fazer o preparo do solo para plantio de feijão”!

2- Atenção às épocas de semeadura do feijão

Para a semeadura do feijão, existem três épocas, sendo chamadas de feijão das águas, feijão da seca e feijão de inverno. 

Vou explicar melhor cada uma delas a seguir:

Feijão das águas

Semeado normalmente entre os meses de setembro a novembro, podendo ter uma pequena variação de região para região devido às variações pluviométricas.

O feijão semeado nessa época está exposto a condições de veranicos e falta de água no plantio

Quando plantado tardiamente, corre o risco de umidade excessiva na colheita, o que compromete a qualidade do produto final, pois acarretar em muitos grãos brotados. 

Feijão da seca 

Conhecido também por feijão safrinha, o feijão da seca é plantado entre os meses de janeiro a março (também pode haver uma pequena variação). 

Uma das principais dificuldades dessa época é o excesso de chuva na semeadura, diminuindo a eficiência da operação.  

Há ainda possibilidade de sofrer com veranicos em meados do ciclo da cultura (má distribuição da chuva), o que pode comprometer a produtividade esperada.

Quando plantado antecipadamente, pode ter grande umidade na colheita. Quando plantado tardiamente, pode sofrer com geadas. 

Feijão de inverno

O feijão de terceira época é plantado na estação outono-inverno, entre os meses de maio e julho. Ou seja, em uma época de escassez de chuva, requerendo irrigação

Nesse caso, o cultivo do feijão deve ser realizado em regiões onde o inverno é mais brando, com pouca ou nenhuma ocorrência de geadas. 

Nessa época, o feijoeiro apresenta ótima condições para a produção de semente devido à menor incidência de pragas e doenças

Além disso, o feijão de inverno propicia um melhor uso do solo, pois, no inverno, poucas culturas que se adaptam às condições climáticas. E ainda tem bom preço no mercado! 

tabela com épocas de semeadura para a cultura do feijão nos estados da região Central brasileira

Épocas de semeadura para a cultura do feijão nos estados da região Central brasileira
(Fonte:adaptado de Paula Junior et al., 2008, disponível em e-Tec Brasil

Agora que você viu os cuidados que devem ser tomados antes da semeadura, veja agora os cuidados na semeadura do feijão!

3- Velocidade e profundidade da semeadura

A velocidade e profundidade de semeadura são pontos importantes para uma boa produtividade da cultura do feijoeiro. Isso irá garantir homogeneidade de emergência e boa distribuição de semente e adubo.

As velocidades que asseguram boa plantabilidade estão em torno de 4 km/h a 6 km/h. Velocidades inferiores a 4 km/h comprometem o rendimento da máquina. Acima de 6 km/h, provocam não uniformidade de semeadura.  

Existe também diferença de velocidade de plantio quando o cultivo é feito de modo convencional ou pelo SPD.

No SPD, o plantio deve ser mais lento para que haja menor movimentação de solo possível, pois é sabido que, quanto mais rápido a semeadora passar, maior deslocamento lateral de solo. 

Quanto à profundidade, o feijão é semeado, em geral, a profundidades de 3 cm a 6 cm. As oscilações vão variar de acordo com a textura do solo. 

Em um solo arenoso, a semeadura é mais profunda: de 5 cm a 6 cm, com objetivo da semente estar alocada em regiões mais úmidas. 

Já em solo argiloso, a semeadura do feijão pode ser mais superficial: de 3 cm a 4 cm, pois é um solo que segura mais a umidade. 

4- Defina a densidade de plantio adequada

A densidade adequada para uma área é importante pois, com o número ótimo de plantas, conseguimos altas produtividades e rentabilidades. 

Quantidades de plantas inferiores às adequadas significa falhas na lavoura. Já quantidades superiores podem reduzir a produção, tendo em vista a disputa entre as plantas por água, luz e nutrientes.

No caso do feijoeiro, a densidade de plantio adequada é aquela em que as plantas, quando em período de florescimento, possam recobrir toda a área. 

A densidade é reflexo dos espaçamento entre linhas e do número de plantas por metro linear. 

O espaçamento é influenciado pelo hábito de crescimento do feijoeiro, como mostra a imagem abaixo: 

ilustração com hábitos de crescimento do feijoeiro: tipo I Ereto, tipo II Semiereto, tipo III Prostado e tipo IV Trepador.

(Fonte: Embrapa)

O feijão de hábito de crescimento do tipo 4 não é usado em grandes áreas, tendo em vista a sua dificuldade de condução, requerendo um tutor. 

Os maiores espaçamentos são vistos em feijões do tipo 3,  variando de 50 a 60 cm entre linha. Já os do tipo 1 e 2 requerem, normalmente, um espaçamento em torno de 40 a 50 cm entre linha. 

O número de plantas por hectare varia em média de 250 mil a 300 mil plantas/ha. 

Pesquisadores da Embrapa relatam que os melhores rendimentos têm sido obtidos com espaçamentos de 40 a 60 cm entre linhas e com 10 a 15 plantas/m. 

Cálculo de uso de sementes

Para calcular a quantidade de semente necessária em Kg/ha é essencial o levantamento dos seguintes dados: 

  1. Nº de plantas por metro linear (D);
  2. Peso de 100 sementes (gramas) do feijão plantado, lembrando que varia de cultivar para cultivar (P); 
  3. Qual o poder germinativo da semente (%) (PG);
  4. Qual o espaçamento utilizado entre linha, em metro (E). 

Desta forma, torna-se possível a utilização da fórmula que permite a obtenção da quantidade de sementes em Kg/ha (Q):

fórmula de Q(Kg/ha) igual D vezes P vezes 10 dividido por PG vezes E
Características de algumas cultivares de feijão indicadas para o estado de Minas Gerais

Características de algumas cultivares de feijão indicadas para o estado de Minas Gerais
(Fonte: Adaptado de Paula Junior et al., 2008, disponível em e-Tec Brasil)

5- Previna-se com o tratamento de sementes

Sabemos que a antracnose, bacteriose e a mancha angular são doenças bastante comuns no feijoeiro e que são transmitidas por sementes. 

Há também os insetos de solo que podem comprometer severamente o estande plantas em sua lavoura. 

Porém, existe uma forma de lidar com essas enfermidade que é através dos tratamento de sementes

O tratamento de semente é uma forma preventiva de assegurar que a plântula/planta possa crescer e se desenvolver sem que haja empecilho logo no início do seu crescimento. 

Desta forma, conseguimos assegurar o estande de planta ao qual foi planejado uma determinada produção. 

Conclusão

A semeadura do feijão é uma etapa que requer todo cuidado e zelo, pois é o início de todo um sistema produtivo. 

Desta maneira, planejar a semeadura, saber a quantidade de plantas por hectare e tomar os devidos cuidados da operação podem assegurar sucesso produtivo. 

Planeje-se bem, conheça sua propriedade e faça sua semeadura de uma forma segura, sem contratempos. 

>> Leia mais:

Manejos essenciais em cada um dos estádios fenológicos do feijão

Conheça as melhores práticas de adubo para feijão

Você já planejou sua semeadura do feijão? Deixe seu comentário!

Como prevenir a perda de grãos por geada

Perda de grãos por geada: saiba como se planejar, como obter o histórico climático da sua área e acertar a janela de plantio.

Todo ano, as geadas tiram o sono de muitos produtores. Embora esse fenômeno seja mais comum na região Sul, São Paulo, sul de Minas Gerais e Mato Grosso do Sul também sofrem com geadas.

Existe mais de um tipo de geada e seus danos dependem da região, relevo e cultura em questão. 

Mas existem medidas que podem ser tomar e, quando usadas em conjunto, ajudam na prevenção e redução de danos nas lavouras.

Reuni alguns pontos que devemos considerar quando o assunto é prevenção das perdas de grãos por geada. Confira!

O que é a geada?

A geada é um fenômeno meteorológico que ocorre quando a temperatura atinge 0℃ e há umidade no ar. Os danos podem ser causados por ventos frios soprando por várias horas ou mesmo pelo acúmulo de ar frio. 

Por esse motivo, conforme se caminha para o inverno, maiores são as chances de ocorrência de geada. 

Do ponto de vista da produção vegetal, considera-se que ocorreu geada quando a temperatura no abrigo meteorológico fica abaixo de 2℃ e representa morte da planta ou de suas partes devido ao congelamento. 

Tipos de geada

As geadas podem ser classificadas quanto à sua formação:

  • advecção;
  • radiação;
  • mista; 
  • de canela. 

ou por seu aspecto visual: 

  • geada branca; 
  • geada negra. 

No Brasil, o mais comum é que ocorram geadas brancas de radiação, em geral, menos severas. 

duas fotos ilustrativas de geada negra e geada branca em lavouras

Geada negra e geada branca
(Fonte: adaptado de Marco Hisatomi e Gaúcha Zh)

3 passos para prevenir a perda de grãos por geada

Os danos causados pela geada podem ser minimizados ou prevenidos com um bom planejamento, escolha de variedades e manejo adequado:

1- Observe o histórico de geadas da região

Para um bom planejamento visando minimizar a perda de grão por geada é necessário conhecer o histórico de ocorrência desse fenômeno no seu local. Existe mais de uma base de dados que fornece essas informações.

Veja abaixo três exemplos de onde você pode acessar informações sobre geadas e se planejar.

Na primeira imagem, há o mapa de previsão de geadas do Sisdagro, do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia). Note que ele informa um maior risco de geada no Rio Grande do Sul e parte de Santa Catarina, enquanto o Paraná tem menos riscos.

Ilustração com exemplo de mapa de risco de geada no Brasil

Exemplo de mapa de risco de geada no Brasil
(Inmet)

O Cptec/Inpe também tem um sistema de previsão de geadas que gera um mapa mostrando as condições de ocorrência. Os pontos vermelhos indicam maior probabilidade de ocorrência de geada.

Mapa de ocorrência de geada, no exemplo para a madrugada do dia 30 de julho de 2020 com pontos vermelhos na região Sul e azul na região Sudeste.

Mapa de ocorrência de geada 
(Cptec/Inpe)

Mais especificamente para o estado do Paraná, o Iapar disponibiliza um histórico de geadas e gera mapas como o abaixo:

Mapa de geada no estado do Paraná, no exemplo temperatura mínima no abrigo em 08 de julho de 2019.

Mapa de geada no estado do Paraná
(Fonte: Iapar)

Independentemente da base de dados utilizada, essas informações são úteis para o planejamento do plantio de culturas de inverno. Outro fator a se levar em conta, são as espécies de planta.

2- Escolha cultivares adequadamente

As perdas nas lavouras por geada dependem da espécie e cultivar, estádio de desenvolvimento, fitossanidade e estado nutricional da plantação. 

A tabela abaixo mostra a temperatura letal para diferentes culturas. Observe:

Tabela com a temperatura letal de culturas anuais sendo trigo, aveia, feijão, soja, milho, sorgo e arroz.

Temperatura letal de culturas graníferas 
(Fonte: adaptado de Sentelhas e Angelocci)

Veja que trigo e aveia têm mais tolerância à geada. Mas isso não quer dizer que uma lavoura de trigo não sofra perdas por geada! Elas só “aguentam mais o tranco”.

Mas isso também depende da cultivar, pois dentro de uma mesma espécie existem cultivares mais ou menos resistentes ao frio. 

Milho e soja, culturas tipicamente de verão, são menos tolerantes às baixas temperaturas e não dispõem de cultivares que sejam resistentes à geada. 

Para o trigo, existem opções de cultivares mais resistentes ao frio. 

Em locais onde o risco de geada é maior, opte por variedades mais resistentes.

Note também, que mesmo para trigo e aveia, a fase de floração e enchimento de grãos é crítica, pois as plantas são menos tolerantes ao frio. Por isso, para evitar dor de cabeça, outro fator é importante de se levar em conta: a data de semeadura.

3- Não erre na data (nem no local) de semeadura

Data de semeadura

Baseado no histórico de ocorrência de geadas, mês a mês, e no ciclo da cultivar, é possível escalonar o plantio para que a fase reprodutiva não caia na época de maior ocorrência de geadas do local. 

O governo disponibiliza o Zoneamento agrícola de risco climático (Zarc), onde é possível encontrar a janela de plantio ideal para minimizar os riscos da cultura e região em que se deseja plantar. O aplicativo desenvolvido pela Embrapa facilita a visualização dessas informações do Zarc.

Plantar na janela ideal é primordial para obtenção de crédito rural e seguro agrícola também. Fique atento!

Topoclima e relevo

A intensidade e frequência de geadas também está relacionada às condições do topoclima ou relevo. As geadas são mais intensas e frequentes em locais onde há pouca circulação da massa de ar frio, como nas baixadas

Ilustração sobre problema do acúmulo de ar frio de acordo com relevo e vegetação

O problema do acúmulo de ar frio de acordo com relevo e vegetação 
(Fonte: Sentelhas e Angelocci)

Além disso, quando a face Sul/Sudoeste dos terrenos está menos exposta à luz do sol no inverno, os riscos são maiores!

Considerando a combinação de fatores – relevo, data de semeadura e cultivar – o ideal é que se deixe as cultivares menos resistentes para o fim da  janela de plantio e para as partes mais altas do relevo, reduzindo, assim, a perda de grãos por geada. 

Como alternativa de manejo na lavoura já instalada, a irrigação por aspersão durante a noite da geada ajudar a minimizar os danos.

banner e-book guia de planejamento para milho e soja

Conclusão

Como acompanhamos no texto, a geada é um fenômeno meteorológico como qualquer outro e, como tal, sua ocorrência está fora do alcance do produtor. 

Mas existem “cartas na manga” que, quando utilizadas em conjunto, podem facilitar o convívio com esse fenômeno

Dentre as possibilidades, o maior impacto na redução da perda de grãos por geada vem do bom planejamento na instalação da lavoura. É preciso evitar áreas de baixada – onde o ar frio se acumula –  e plantar na época correta do zoneamento de risco climático

Além disso, recomenda-se escolher cultivares que tenham maior tolerância nas áreas onde o histórico de ocorrência de geada for maior. A cultura do trigo dispõe de várias alternativas. Já milho e soja, não. Fique atento! 

>>Leia mais:

Qual a relação entre clima e agricultura?

“Como combater o estresse térmico nas plantas?”

“Como minimizar os impactos e prejuízos da geada no milho”

Como você se previne da perda de grãos por geada na sua propriedade? Deixe suas dúvidas ou comentários no espaço abaixo. Grande abraço, se cuide e até a próxima!

Como funciona o novo Intacta 2 Xtend para a cultura da soja

Intacta 2 Xtend: conheça essa tecnologia, saiba o que ela traz de novidades e quando estará disponível no Brasil.

Alcançar altas produtividades na lavoura é sempre uma meta!

E um dos passos para isso é manejar bem as pragas e plantas daninhas na plantação. Sem um controle eficiente, toda a produção pode ser posta a perder.

Ao longo dos anos, algumas tecnologias surgiram para auxiliar nesse manejo. No caso da cultura da soja, há uma novidade no mercado: a plataforma Intacta 2 Xtend, que traz proteção contra mais lagartas e tolerância ao dicamba.

Ficou curioso sobre essa nova tecnologia? Confira mais informações sobre a Intacta 2 Xtend a seguir!

Afinal, o que é essa tecnologia para soja Intacta 2 Xtend?

A Intacta 2 Xtend é uma nova biotecnologia desenvolvida pela Bayer para a cultura da soja. O produto tem como escopo a proteção de lagartas dos gêneros Helicoverpa e Spodoptera, além de ser tolerante aos herbicidas dicamba e glifosato.

Com o uso dessas moléculas de herbicidas, pode ser facilitado o manejo de plantas daninhas como buva, caruru, corda-de-viola e picão-preto, que são importantes para a cultura da soja. Além, é claro, do aumento de produtividade das lavouras.

Fernando Adegas - Buva é uma das plantas daninhas que apresenta resistência a herbicidas

(Fonte: Fernando Adegas em Embrapa)

A Intacta 2 Xtend é a terceira geração em soja, o que promete uma alta eficiência no controle das pragas e daninhas, como já explicamos.

A primeira geração, a RR (Roundup Ready), foi lançada em 1998 e trouxe como tecnologia a tolerância ao herbicida glifosato

Já a segunda geração, a Intacta RR2 Pro, em 2013, teve como nova tecnologia a proteção contra algumas lagartas. 

Mas, quando a tecnologia Intacta 2 Xtend chega ao país?

Lançamento da plataforma no Brasil

O lançamento comercial da plataforma Intacta 2 Xtend no mercado brasileiro está previsto para a safra 2021/22.

Essa plataforma deve proporcionar ao produtor uma série de ferramentas de forma integrada, tendo um manejo inteligente com uma variedade de germoplasmas, variedades específicas para refúgio e novas formulações químicas para manejo de plantas daninhas. Ou seja, combina a utilização de sementes com alta tecnologia, produtos químicos eficientes e equipamentos adequados.

intacta 2 xtend

(Fonte: Plataforma Intacta 2 Xtend)

Essa tecnologia já foi aprovada no Brasil pela CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança) em março de 2018. Desde então, vários testes vêm sendo realizados por produtores de diversas regiões do país. 

Recentemente, o ministério da agricultura da China liberou o certificado de importação dessa tecnologia para uso de alimentos e ração, em que realizou o processo de revisão e aprovação da tecnologia. Ou seja, o Brasil vai poder produzir e vender soja com essa tecnologia para a China após seu lançamento. 

Essa aprovação é importante, pois um dos maiores consumidores de soja do mundo é o mercado chinês. Sem a aprovação desse país, a soja plantada com essa nova tecnologia teria sua comercialização prejudicada. Agora a tecnologia aguarda a aprovação da União Europeia.

E quais são as novas tecnologias da Intacta 2 Xtend?

Novidades trazidas pela Intacta 2 Xtend

Proteção contra lagartas:

Essa biotecnologia expandiu sua proteção para soja em relação às lagartas Helicoverpa armigera e Spodoptera cosmioides. Isso se soma às outras quatro que já estavam no escopo da tecnologia Intacta RR2 PRO. A Intacta 2 Xtend protegerá contra: 

  • Helicoverpa armigera;
  • lagarta da vagem (Spodoptera cosmioides);
  • falsa-medideira (Chrysodeixis includens);
  • lagarta-da-soja (Anticarsia gemmatalis);
  • lagarta-da-maçã (Chloridea virescens);
  • broca-das-axilas (Crocidosema aporema).

A Helicoverpa armigera é uma lagarta que pode atacar muitas culturas e foi identificada pela primeira vez no país em 2013.

Sebastião José de Araújo/Embrapa - Helicoverpa armigera

(Fonte: Sebastião José de Araújo em Embrapa)

A Spodoptera cosmioides, que também é conhecida como lagarta da vagem, pode atacar a soja no estabelecimento da cultura e também na fase reprodutiva, danificando as vagens. Essa lagarta também é considerada polífaga, se alimentando de várias culturas e de plantas daninhas.

Spodoptera cosmioides

(Fonte: Irac)

Tolerância a alguns herbicidas

Além da resistência a lagartas e ao glifosato, a Intacta 2 Xtend tem tolerância a mais uma molécula de herbicida: o dicamba.

Dicamba é um herbicida pós-emergente com alvo de controle para daninhas de folhas largas que pertence ao mecanismo de ação das auxinas sintéticas.  

Este herbicida tem baixa absorção pelas folhas de gramíneas e a translocação é limitada pelo floema. Assim, é seletivo a essas plantas. Mas seu uso era complicado em culturas como a soja.

Por isso, é muito importante essa nova tecnologia que foi preparada para soja.

As plantas daninhas comprometem a produtividade da soja porque competem por espaço, água, nutrientes e luz. Além disso, ainda podem dificultar a colheita e servir de hospedeiras para algumas pragas e doenças da cultura.

Há relatos que as plantas daninhas podem causar perdas de até 70% quando não controladas adequadamente. A buva, por exemplo, pode reduzir a produtividade em até 12%.

Infestação de buva em plantação de soja na região do oeste do Paraná

Infestação de buva em plantação de soja na região do oeste do Paraná
(Fonte: Andherson Matuczak em UFRRJ)

Quer saber como identificar e controlar melhor as principais plantas invasoras da soja? Baixe gratuitamente aqui o Guia para manejo de plantas daninhas!

Conclusão

Plantas daninhas e lagartas podem impactar muito a produtividade da soja. Por isso, novas tecnologias são desenvolvidas para realizar o manejo mais eficiente.

Neste artigo comentamos as novidades que chegarão com a Intacta 2 Xtend e a previsão de seu lançamento no Brasil.

Conhecer as tecnologias disponíveis é muito importante para pensar o melhor manejo de pragas e plantas daninhas visando aumento da produtividade e rentabilidade da lavoura de soja.

>> Leia mais:

“Como a tecnologia Enlist na soja pode tornar sua lavoura mais produtiva”

Lagartas na soja: como identificar e controlar

Calcule sua produtividade de soja antes da colheita

Você já conhecia a tecnologia Intacta 2 Xtend? Ficou com alguma dúvida? Adoraria ver seu comentário abaixo.

Enxofre para as plantas: função, adubação e outras recomendações de manejo

Enxofre para as plantas: função do nutriente, formas de absorção e exigências na cultura do milho e da soja

O enxofre é fundamental para a planta, pois é um macronutriente com papel estrutural em diversas moléculas – a exemplo do grupo dos aminoácidos, como metionina e cistina, necessárias para a formação de proteínas.

E, apesar da maior reserva do enxofre estar no solo como S-orgânico, adições desse elemento vêm demonstrando incrementos em produtividade, principalmente em solos arenosos e pobres em matéria orgânica. 

Veja como fazer o manejo do enxofre na sua lavoura e as principais recomendações a seguir!

Importância e função do enxofre para as plantas

O enxofre (S) é um dos nutrientes mais requeridos pelas plantas, fundamental em processos metabólicos e na produção de proteínas, o que influencia o desenvolvimento e enchimento dos grãos, por exemplo. Também está vinculado a processos metabólicos da fotossíntese, presente em coenzimas como a ferredoxina, e associado à fixação de nitrogênio.

Além dessas funções, o S também manifesta importância quanto às funções fungistáticas, acaricidas e inseticidas

O enxofre, assim como o cálcio e o magnésio, é conhecido como um macronutriente secundário, e precisa estar disponível à planta durante todo seu ciclo. Na maioria das culturas, a necessidade de enxofre gira em torno de 10 kg a 30 kg/ha. 

Mas existe diferença da necessidade entre leguminosas e gramíneas. Normalmente, as leguminosas são mais exigentes quando comparada às gramíneas. Isso se deve ao fato do teor de S em suas sementes ser maior.

Extração e exportação de S pelas culturas

Extração e exportação de S pelas culturas
(Fonte: Pauletti, 2004)

O solo fornece o enxofre para as plantas por meio da matéria orgânica – representando até 90% do total requerido pelas culturas agrícolas. Mas, para obter uma melhor produtividade, pode ser necessário incremento do S por meio da aplicação de fertilizantes

Esse nutriente é aplicado indiretamente, via alguns adubos como o superfosfato simples, sulfato de amônio e sulfato de potássio, por exemplo, e também através do gesso agrícola.

Na natureza, as rochas ígneas são a fonte primária de enxofre, normalmente como sulfato.

Absorção, transporte e redistribuição

As plantas absorvem o enxofre via sistema radicular, na forma de sulfato SO42+ , mas também de uma forma pouco eficiente pode ocorrer a absorção do SO2 atmosférico através dos estômatos foliares. 

Alguns ânions (como o cloreto e o selenato) podem atrapalhar o processo de absorção desse nutriente, tendo em visto que ocorre a inibição competitiva, acarretando menor eficiência quanto à absorção. 

O transporte deste nutriente é via xilema, seguindo das raízes para a parte aérea. O movimento inverso é muito pequeno, ou seja, sua redistribuição é bem reduzida. 

Por causa desse reduzido transporte via floema, a maioria da manifestação de carência de enxofre nas plantas ocorre em órgãos mais novos, como brotações e folhas mais novas.  

Tipo de solo e adsorção

Os solos argilosos, com altos teores de óxidos de ferro, apresentam grande capacidade de adsorção de SO4, o que diminui a sua movimentação no perfil do solo.

Já em solos arenosos e bastante intemperizados, a movimentação do SO4 é maior e, com isso, pode ser perdido por percolação, além de já ter menor reserva de S orgânico

Nota-se que as maiores respostas à aplicação de S são vistas em solos intemperizados, com baixo teores de matéria orgânica e baixo teor de argila.

Sintomas e problemas da deficiência de enxofre

Como o enxofre é pouco redistribuído nos tecidos vegetais, em caso de carência do elemento, os sintomas aparecem primeiro nas folhas mais novas, como uma clorose generalizada no limbo foliar.

Além dessa clorose, há o comprometimento da síntese de proteínas que requerem os aminoácidos cistina, cisteína e metionina. Também pode haver crescimento retardado e acúmulo de antocianina. 

A fixação biológica do N2 atmosférico também é bastante diminuída sob condições de deficiência de S, assim como a síntese de gorduras (óleos), que fica afetada nestas condições.

Por participar de uma série de reações e de um grande número de compostos, a carência de enxofre para as plantas provoca uma série muito grande de distúrbios metabólicos.

A deficiência de enxofre nas plantas não é comum, pois geralmente os solos possuem quantidade suficiente deste nutriente. Mas, devido à utilização intensiva dos solos, isso pode ser notado.

Fontes e opções de aplicação de enxofre para as plantas

O solo fornece de 60% a 90% do total de enxofre necessário para as plantas. Para ser aproveitado pelas plantas, o S-orgânico deve ser mineralizado, o que depende da relação C/S. 

Entretanto, sabe-se que a adição de enxofre nas plantas é feita normalmente de uma forma indireta, ou seja, via alguns adubos que o apresentam em sua constituição. 

Normalmente, os fertilizantes fosfatados estão na forma de sulfato e suas diversas combinações. 

O sulfato de amônio é uma boa opção para adição de enxofre para plantas, e também nitrogênio, sendo usado para adubação de cobertura, tendo em vista que o S contido está prontamente disponível e o N é pouco volatilizado.

O superfosfato simples apresenta como vantagem a presença de cálcio e enxofre, possibilitando a melhoria das condições subsuperficiais do solo. 

Outra fonte de S, o gesso também é uma alternativa, mas requer cautela quando usado, pois pode causar desequilíbrio de bases na camada de 0 cm a 20 cm. 

O S elementar apresenta alta concentração de enxofre, porém de uma forma ainda não disponível, dependendo da atuação de microrganismos. Mas, por seu custo ser relativamente baixo, desperta interesse a sua utilização. 

O sulfato de potássio é muito utilizado em culturas sensíveis ao cloro e que são exigentes quanto ao potássio. Também é bastante empregado em solos salinos, pois é um fertilizante com índice salino mais baixo

O sulfato de magnésio e potássio são muito utilizados em áreas com limitações quanto à chuva e/ou irrigação

Fontes de fertilizantes contendo enxofre

Fontes de fertilizantes contendo enxofre
(Fonte: Informações Agronômicas nº 129)

Exigência de enxofre em milho e soja

Adubação e manejo de enxofre para milho 

A extração de enxofre pela planta de milho é pequena: varia de 15kg a 30 kg/ha para produção de grãos em torno de 5 t/ha a 7 t/ha.

No milho, os sintomas de deficiência são amarelecimento do caule e das folhas mais novas, início nas bordas até a nervura central das folhas e as folhas mais velhas permanecem verdes.

Desta maneira, tem-se utilizado o enxofre no solo na forma de sulfato para prever respostas ao elemento. 

Assim, em solos com teores de enxofre inferiores a 10 ppm (extração com fosfato de cálcio), o milho apresenta grande probabilidade de resposta a esse nutriente. Neste caso, recomenda-se a aplicação de 30 kg de S por hectare

Para acompanhar a extração e exportação de nutrientes e obter mais produtividade na lavoura, baixe aqui a planilha gratuita de adubação do milho!

Adubação e manejo de enxofre para soja

A cultura da soja requer, em média, 10 kg de S para cada tonelada produzida.

O S é um nutriente fundamental para rendimentos maiores da soja por ser, principalmente, um elemento catalisador das principais reações que envolvem o fósforo nas transformações bioquímicas na cultura.

Plantas deficientes de S apresentam amarelo pálido nas folhas mais novas, tornando toda a planta na tonalidade amarela, além das folhas ficarem pequenas.

diferença de plantas com e sem enxofre

(Fonte: Pauletti e Sloboda)

Para conhecer os teores de enxofre na sua lavoura é importante fazer a análise de solo e, em seguida, o ajuste à quantidade produzida, como mostra a tabela a seguir: 

Indicação de adubação de correção e de manutenção com enxofre (S)

Indicação de adubação de correção e de manutenção com enxofre (S), conforme as faixas de teores de S no solo (mg dm-3), a duas profundidades no perfil do solo, para a cultura da Soja no Brasil. 2ª aproximação
(Fonte: Embrapa)

banner para baixar a planilha de cálculo de fertilizantes para milho e soja

Conclusão 

O enxofre é essencial ao desenvolvimento vegetal e está intimamente ligado à matéria orgânica do solo. 

Neste artigo, falamos sobre sua forma de absorção (SO42-) e elencamos algumas fontes desse nutriente para a lavoura.

O fornecimento em doses adequadas depende da cultura e de uma análise de solo.  

Com essas informações, espero que você consiga melhores resultados na produtividade da sua lavoura!

Leia mais:

Descubra qual o melhor adubo para a sua lavoura

9 micronutrientes das plantas: como e quando utilizá-los

Como ter mais eficiência na adubação com ureia agrícola

Como você tem manejado o enxofre para as plantas em sua lavoura? Já notou efeitos positivos em produtividade? Conte pra gente nos comentários!

Tudo que você precisa saber sobre a produção de cafés especiais

Produção de cafés especiais: entenda melhor esse mercado e veja as dicas de como implantar ou adaptar sua lavoura para esse tipo de bebida

O consumo de cafés especiais no Brasil cresce 15% ao ano, ritmo quatro vezes maior que o dos cafés tradicionais! No mundo, a tendência também é de aumento.

O mercado de cafés especiais, portanto, é um nicho a ser explorado. Os preços pagos são maiores e a qualidade final do produto também. 

Mas para focar na produção de cafés especiais é preciso mudar o modo como se pensa a cafeicultura. Alterações são necessárias desde à lavoura até a comercialização do produto.

Separei algumas dicas sobre como produzir cafés especiais e como não errar na transição de uma produção de cafés convencionais para os especiais. Confira!

O que são cafés especiais

O Brasil é o maior produtor de café do mundo e só perde para os Estados Unidos em consumo. Mas apenas 10% do consumo de cafés no nosso país fica por conta dos especiais. Isso por enquanto, pois esse mercado vem mudando rapidamente e o crescimento é inevitável.

Mas, afinal, o que são esses café especiais?

A SCA (Specialty Coffee Association – Associação de Cafés Especiais) padroniza a metodologia para classificação de cafés em nível mundial.

Segundo a SCA, os cafés especiais em grão verde são 100% arábica e não podem apresentar nenhum defeito primário (grãos pretos, ardidos, fungados, material estranho, etc) e, no máximo, dois defeitos secundários (defeitos parciais). 

Defeitos dos cafés em grão verde

Defeitos dos cafés em grão verde
(Fonte: Mexido de ideias.com)

Ela também considera como especiais aqueles cafés com 80 pontos ou mais em sua avaliação de bebida (que vai de 0 a 100) e analisa diversos parâmetros como mostra o vídeo explicativo abaixo.

No Brasil, a BSCA (Cafés especiais do Brasil) se baseia nessas diretrizes também. 

A seguir, veremos como produzir cafés especiais que atendam a esses parâmetros. 

Como produzir cafés especiais

É importante lembrar que a produção de cafés especiais deve visar, acima de tudo, atender à demanda do mercado consumidor desses cafés. É ele que vai direcionar as ações do produtor.

Portanto, vamos começar de trás para frente, mostrando primeiramente o que o consumidor quer e, depois, abordando como produzir café para atendê-lo.

Entenda o mercado

Segundo levantamento do Sebrae, os consumidores de cafés especiais no Brasil querem saber a origem do café e se a produção é sustentável, além de exigir qualidade, é claro

Do ponto de vista do consumo em si – do café na xícara – o mercado busca toda uma experiência de consumo, com ampla variedade de cafés e métodos de preparo, um ambiente agradável e maior proximidade com a origem do café, com o produtor.

Formas de atender à demanda

Partindo desse princípio, o produtor tem alguns caminhos a tomar, por exemplo:

  1. Produzir cafés de qualidade e se associar a cooperativas para venda.
  2. Criar a própria marca de café e vender o produto final diretamente ao varejo/consumidor final.
  3. Fornecer a experiência de se tomar um café especial, com um espaço para receber os clientes, servir, vender e contar como foi produzido aquele café.
Exemplo de cafés especiais com produção artesanal e, consequentemente, maior valor agregado

Exemplo de cafés especiais com produção artesanal e, consequentemente, maior valor agregado
(Fonte: Cafezal em Flor)

Não é o intuito deste texto entrar em detalhes sobre cada um desses modelos, pois a prosa seria longa e são apenas modelos gerais para ilustrar. Mas algumas considerações cabem aqui.

Transição de lavouras convencionais para produção de cafés especiais

Perceba que cada um desses três exemplos acima representam níveis de complexidade e detalhamento do negócio diferentes.

No primeiro caso, a transição para a produção de cafés especiais é mais fácil e necessita apenas de algumas modificações no sistema produtivo convencional.

Nos outros dois, o produtor tem que dominar as técnicas de cultivo e processamento, e entender a fundo o mercado, os canais para acessar o cliente e, mais importante, como lidar diretamente com esse público. 

O desafio é ainda maior caso se deseje explorar o competitivo mercado internacional de cafés. De qualquer maneira, todo bom café parte de boas práticas em sua produção!

Plantio, escolha de variedades e manejo da lavoura

Como os consumidores se preocupam com as origens dos cafés especiais, é importante haver a rastreabilidade da semente à xícara. 

Portanto, no plantio ou renovação da lavoura é fundamental comprar mudas de viveiristas certificados e que sigam boas práticas na produção.

Teoricamente, qualquer variedade pode produzir cafés especiais, por isso, não é necessário que se troque a variedade já existente no local. 

No caso de lavouras novas ou em reforma, opte por escalonar a produção, com variedades precoces, médias e tardias. 

Dessa maneira a sua colheita será gradual, permitindo dedicar mais tempo à ela e colher somente os frutos realmente maduros, reduzindo a porcentagem dos verdes. 

A partir daí, o manejo pode ser convencional ou até orgânico. De qualquer maneira, o manejo sempre deve seguir boas práticas de manejo nutricional, de pragas e doenças, para uma produção sustentável de café.

Colheita e pós-colheita de cafés especiais

Talvez essa seja a parte mais importante de toda essa conversa!

Quando se fala em cafés especiais, todo capricho é pouco na hora da colheita e do processamento. É necessário padronização, uniformidade.

Primeiramente, deve-se evitar a colheita de grãos verdes, selecionando só os cerejas. No caso de colheita mecanizada, é indicado manter os verdes abaixo de 20% e separá-los após a colheita.

Cafés no ponto ideal para colheita

Cafés no ponto ideal para colheita
(Fonte: World Coffee Research)

Também é ideal dividir os cafés colhidos em lotes menores, de acordo com a variedade, expectativa de produção do talhão e também histórico da área, por exemplo. Isso facilita o controle dos cafés e a obtenção de lote mais homogêneos e melhores. 

Separação de cafés em microlotes para secagem

Separação de cafés em microlotes para secagem
(Fonte: agenciaminas.mg.gov.br)

Após a colheita, existem inúmeras possibilidades de processamento e pós-colheita para a obtenção de diversos tipos cafés especiais. Tudo é bem controlado e detalhado.  

Já falamos especificamente sobre esse processo aqui no Blog do Aegro! Confira aqui as tendências e perspectivas na pós-colheita para um café de qualidade.

Vale lembrar que nem toda a produção da lavoura será especial, mesmo que tudo seja controlado. Por isso, é tão importante a separação de lotes e um controle rígido sobre os cafés.

Custo de produção de cafés especiais

Quando o assunto é custo de produção, cada caso é um caso. Para cada situação podem existir diferentes questões que reduzem ou aumentam os custos.

No caso dos cafés especiais, a transição de uma produção focada no convencional para o especial pode ser mais custosa, dependendo do nível de detalhamento já empregado no manejo e gerenciamento da propriedade. 

Mas, de modo geral, os custos da produção de cafés especiais são mais elevados, pois demandam maior investimento tanto na lavoura como no pós-colheita. 

É preciso investir mais em análises de solo, foliar, no monitoramento de pragas/doenças (que precisa ser mais frequente) e no gerenciamento de talhões. Na colheita/pós-colheita, paga-se o preço de uma colheita mais seletiva, separação de lotes distintos e secagem diferenciada, por exemplo.

Contudo, devido ao maior preço pago pelo café especial, as receitas também são maiores, o que pode aumentar a lucratividade da produtividade.  

Dependendo do nicho de mercado que se quer explorar, sabemos que cafés especiais podem atingir preços elevadíssimos, onde micro-lotes equivalem a muitas e muitas sacas do convencional. Duvida que isso seja possível? Vamos lá!

Concursos de qualidade

Anualmente, a BSCA realiza o “Cup of Excellence – Brazil”, o principal concurso de qualidade de café do mundo. Uma forma de premiar os melhores cafés, melhorar a imagem do café do Brasil internacionalmente e incentivar a produção de café especiais.

Na edição do ano passado, 2019, o ganhador era da região Sul de Minas Gerais e vendeu seu café por “míseros” US$ 7.900 a saca! Isso mesmo! E, na média dos competidores do concurso, nenhum café saiu por menos de US$ 1.500 a saca.

Regiões brasileiras produtoras de café arábica e robusta

Regiões brasileiras produtoras de café arábica e robusta
(Fonte: BSCA)

Esse exemplo ilustra muito bem como a produção de cafés especiais pode ser uma solução, especialmente em tempos de baixo preço do café na bolsa de Nova York.

Logicamente, essa qualidade não se fez da noite para o dia. Houve muita dedicação e trabalho por parte desses produtores para chegar a isso. Mas se eles conseguiram, por que você também não pode conseguir? E aí, o que me diz?

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Conclusão

O mercado de cafés especiais é um nicho a ser explorado pelo cafeicultor brasileiro. São várias opções a seguir, mas, para fazê-lo, é necessário tomar cuidados adicionais, desde o campo até a xícara. 

Nesse quesito, o produtor brasileiro está com a “faca e o queijo na mão” ou melhor “com o “coador e a xícara na mão”! Já sabemos produzir café muito bem, basta alguns ajustes para obter maior qualidade no produto. 

A produção de cafés especiais deve ser voltada para as exigências do mercado. Assim, embora tenha um maior custo associado, a produção pode ser vantajosa, pois os preços pagos pelo produto também são maiores.

Não existe uma receita pronta sobre como produzir cafés especiais. Para cada realidade, o mercado desses cafés pode ser explorado de forma distinta e igualmente válida!

>> Leia mais:

10 dicas para melhorar a gestão da sua lavoura de café

Adubação para café: simples e prática (+ planilha)

Você já pensou em adaptar sua lavoura para a produção de cafés especiais? Quais as maiores dificuldades para isso? Conte para gente nos comentários. Grande abraço e até a próxima!