Tudo a respeito do novo herbicida terbutilazina

Terbutilazina: saiba quando, onde e como usar esse novo herbicida que promete revolucionar o manejo de plantas daninhas no milho

O controle de plantas daninhas é um desafio nas lavouras de milho.

A terbutilazina é uma molécula nova, como ótima opção de manejo de daninhas de difícil controle.

Ela possui seletividade ao milho e bom controle de diversas espécies invasoras tolerantes ou resistentes a outros mecanismos de ação.

Neste artigo, você irá conhecer essa nova molécula, como age, recomendações de uso e muito mais. Boa leitura!

Terbutilazina: conheça o histórico do herbicida 

O princípio ativo terbutilazina foi desenvolvido na Europa, no final dos anos 1990, com uma molécula do grupo químico das triazinas.

Mas foi só em 2004, com o banimento da atrazina (devido a seu potencial de contaminação) em toda a União Europeia, que maior importância foi dada à terbutilazina.

Entre  2013 e 2016, a companhia detentora da tecnologia fez estudos no Brasil para o registro da terbutilazina para o milho. O registro foi concedido em outubro de 2020.

Os estudos dos efeitos desse herbicida no controle de plantas daninhas do milho duraram 8 anos no Brasil. Houve participação de muitos pesquisadores.

Segundo a indústria fabricante e as pesquisas, esse herbicida substitui a atrazina com alta eficiência na cultura do milho.

Já estão sendo realizados estudos para o registro da terbutilazina em outras culturas. Até o momento, ela mostrou-se eficaz no controle pré e pós emergente inicial de plantas daninhas, com alta seletividade.

Características da terbutilazina

A molécula integra um dos grupos químicos com características herbicidas mais importantes para a agricultura, as triazinas.

Imagem mostra a fórmula química molecular da terbutilazina

Fórmula molecular da terbutilazina

(Fonte: Fitogest)

Terbutilazina é um herbicida seletivo de ação sistêmica. É recomendado para o controle pré-emergente e pós-emergência inicial de plantas daninhas no milho.

É classificado em classe toxicológica 4 (produto pouco tóxico) e classe ambiental 2 (muito perigoso).

Mecanismo de ação

A terbutilazina inibe a fotossíntese no fotossistema 2.

O herbicida mantém-se ativo nos primeiros 5 cm do solo. Por isso, atua no banco de sementes das invasoras, com prolongado residual.

O produto é absorvido pelas folhas e principalmente pelas raízes. Nas folhas, ele interage com a proteína D1, inibe a transferência de elétrons.

Como resultado da ação na planta-alvo, você verá as folhas com clorose (folhas amareladas). Após isso, verá a necrose e a morte da planta daninha.

Foto de uma folha de soja, com sintoma de clorose por inibição do FS II

Sintoma de clorose por inibição do FS II em soja

(Fonte: BoosterAgro)

Eficiência na cultura do milho

O manejo de plantas daninhas do milho, especialmente das fases iniciais, é primordial para que o rendimento seja o melhor possível ao término da safra.

Mas tome cuidado, porque o erro na aplicação de alguns herbicidas faz crescer o número de daninhas resistentes.

A terbutilazina amplia o número de produtos disponíveis para o manejo integrado, com rotação de mecanismos de ação.

O uso desse produto reduz consideravelmente a população de plantas na fase inicial do desenvolvimento do milho. Isso acontece mesmo sob alta pressão de infestação.

Foto de uma lavoura de milho sob alta pressão de infestação de plantas daninhas. Na imagem, diversas daninhas estão no solo, aos pés das plantas de milho.

Lavoura de milho sob alta pressão de infestação de daninhas

(Fonte: Quimiweb)

Estudos demonstram a eficácia desse herbicida no controle de diversas espécies de difícil controle. A terbutilazina é eficiente até mesmo contra plantas daninhas resistentes a outros herbicidas comuns no manejo da cultura.

Espécies controladas pela terbutilazina

Você pode utilizar a terbutilazina para o controle de:

Faça a aplicação da terbutilazina em pré ou pós emergência inicial. Assim, você garante o controle e proporciona um campo limpo na fase crítica de desenvolvimento do milho (a fase inicial).

Como utilizar a terbutilazina?

Tenha conhecimento de quais plantas daninhas estão presentes em sua lavoura. Saiba também qual a pressão de infestação delas.

Para isto, é necessário um bom planejamento, gerenciamento de aplicações e controle da safra.

Para te ajudar a fazer um bom controle da aplicação da terbutilazina, preparamos uma planilha para você. Baixe gratuitamente clicando na imagem abaixo.

Procedimento de aplicação

Antes da aplicação, fique de olho nas condições ideais de solo e clima. Observe principalmente a umidade do solo, para que a eficácia do produto seja a maior possível.

Não aplique a terbutilazina em solo seco. Para maior eficiência do produto, o solo deve estar úmido durante a aplicação.

Aplique a terbutilazina logo após a semeadura, em pré-emergência. Faça isso em área total, via terrestre.

Podem aparecer plantas daninhas de folhas largas e estreitas após o milho germinar. Nesses casos, aplique em pós-emergência quando elas estiverem com até 6 folhas.

Não aplique terbutilazina com o solo seco. A umidade é necessária para que a molécula seja absorvida pelas plantas.

Dose

Utilize a dose de 1-3 L/ha para um volume de calda de 250 a 400 L/ha. Use esse volume para a aplicação tanto em pré quanto em pós emergência.

No preparo da calda, siga todos os procedimentos de segurança. Deixe todo o equipamento de pulverização em perfeita ordem. Aqui no blog,  nós já mostramos como fazer a limpeza do pulverizador agrícola de forma eficiente. Confira!

Durante a aplicação, use todos os equipamentos de proteção indicados e registrados para a tarefa.

Foto de um homem vestindo equipamento de proteção individual indicado para agroquímicos. Ele usa luvas, sapatos, roupa cinza e um capuz na cabeça. No fundo há um campo aberto, e ao lado, ícones em desenho que mostram cada parte da vestimenta adequada para aplicação de defensivos.

Equipamentos de proteção individual indicado para agroquímicos

(Fonte: CropLife)

Para a sua segurança, não entre nas áreas tratadas por pelo menos 24 horas após a aplicação do herbicida.

Esse intervalo de segurança serve para garantir a secagem da terbutilazina e minimizar possíveis intoxicações.

Produtos comerciais

Atualmente, estão registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento três produtos comerciais à base de terbutilazina. São eles:

  • Click;
  • Sonda;
  • Terbutilazina Oxon 500 SC I.

Todos os produtos citados são seletivos para a cultura do milho e apresentam formulação suspensão concentrada.

Na classificação toxicológica, esses herbicidas são considerados pouco tóxicos (Categoria 4).

Do ponto de vista ambiental, eles são classificados como muito perigosos ao meio ambiente (Classe II). Em caso de dúvidas sobre esses produtos, consulte a plataforma Agrofit do Mapa.

Conclusão

A variação de mecanismos de ação é muito importante para reduzir o banco de sementes de espécies daninhas resistentes.

A terbutilazina é uma molécula nova, presente em dois produtos comerciais que prometem revolucionar o manejo de plantas invasoras no milho.

Nesse artigo, você ficou sabendo que o herbicida causa clorose e morte nas folhas. Conferiu qual dose utilizar, o volume de calda ideal e os cuidados que devem ser tomados no momento da aplicação.

Inicie a safra livre da infestação de plantas daninhas, faça os manejos necessários e planeje-se!

E você? Já precisou utilizar a terbutilazina em sua lavoura de milho? Percebeu a eficiência desse herbicida? Adoraria ler seu comentário abaixo!

Tudo o que você precisa saber sobre cobre nas plantas

Cobre nas plantas: qual a importância para a agricultura, como e quando aplicar, sintomas de deficiência ou excesso e mais!

O cobre é um dos elementos necessários para o crescimento, desenvolvimento e reprodução das plantas.

Seu excesso ou sua falta podem causar danos sérios à sua lavoura. Por isso, estar de olho nos sintomas é a primeira medida para evitar problemas.

Você sabe identificar se o nutriente está em equilíbrio? Confira essa e outras informações neste artigo!

Importância do cobre nas plantas 

Os nutrientes exigidos em maiores quantidades pelas plantas são denominados macronutrientes. Os que são exigidos em menores quantidades são os micronutrientes.

O cobre é um micronutriente. As plantas precisam de pouca quantidade dele para suprir as necessidades. Porém, sua falta causa prejuízos na parte nutricional, fisiológica e protetora das plantas.

O cobre participa nos seguintes processos e modos nas plantas:

  • participação em enzimas;
  • fotossíntese;
  • distribuição de carboidratos;
  • metabolismo de proteínas;
  • redução e fixação do nitrogênio;
  • respiração;
  • reprodução das plantas;
  • lignificação da parede celular;
  • aumento da resistência à seca;
  • influência na permeabilidade dos vasos do xilema;
  • influência na floração e frutificação;
  • ajuda no mecanismo de resistência a doenças.

Além de afetar o desenvolvimento das plantas, o cobre está presente em algumas enzimas que interferem na qualidade do produto final.

Uma delas é a polifenoloxidase, em que o cobre está presente no centro ativo. Nos grãos de café, sua presença é essencial para a qualidade da bebida.

São várias as funções desempenhadas pelo cobre nas plantas. 

Você precisa saber se sua área consegue fornecer a quantidade necessária para suprir a necessidade da sua cultura.

Tabela demonstra os teores de cobre nas plantas considerados adequados para as culturas do milho, algodão, café, citros, milho, soja e cana-de-açúcar.

Teores de cobre considerados adequados para algumas culturas

(Fonte: adaptado de Esalq)

Influência do manejo na disponibilidade do cobre

Se o solo tiver a quantidade adequada de cobre disponível, as plantas conseguem absorver o necessário.

Entretanto, devido à sua baixa mobilidade, 98% do cobre fica retido como quelato.

Assim, retém o cobre os:

  • solos de várzea;
  • solos de plantio direto;
  • solos com elevada quantidade de matéria orgânica;
  • ácidos húmicos;
  • ácidos fúlvicos.

O pH é outra característica do solo que afeta a disponibilidade desse micronutriente. Quando pH é acima de 7, há menor disponibilidade e solubilidade do cobre no solo.

Gráfico mostra disponibilidade dos nutrientes em função do pH do solo

Disponibilidade dos nutrientes em função do pH do solo

(Fonte: Sementes Biomatrix)

O tipo de solo também interfere no teor de cobre.  

Solos arenosos tendem a lixiviar este micronutriente. Os solos argilosos tendem a ter maior concentração, devido à retenção dele pela argila.

Entretanto, não são apenas fatores do solo que interferem na disponibilidade e absorção do cobre nas plantas. Há também a relação com outros nutrientes.

Quando as plantas necessitam de cobre, os sintomas da deficiência são agravados quando há altos níveis de nitrogênio.

Pode ocorrer redução na absorção de cobre pelas plantas, seja da raiz ou folhas, devido ao excesso de ferro, alumínio, fósforo e zinco.

Além da falta, pode ocorrer excesso de cobre. Existem produtos que são utilizados nas plantas que contêm o nutriente.

O cobre presente nesses produtos pode acumular no solo, elevando sua concentração a níveis que causam toxidez.

Como identificar a deficiência ou excesso do cobre nas plantas?

Conhecer os sinais através dos sintomas nas folhas, caule e raízes é fundamental para saber o que está em falta ou excesso. Quanto mais rápida a identificação do sintoma, sua ação será mais rápida e efetiva. Veja abaixo os principais sintomas que as plantas apresentam com a falta ou excesso de cobre.

Deficiência de cobre

  • Os sintomas aparecem inicialmente nas folhas novas das plantas. Elas ficam murchas e enroladas.
Imagem de uma planta de trigo com sintomas de deficiência de cobre. A planta está amarelada e enrugada nas pontas.

Sintoma da deficiência de cobre em planta de trigo

(Fonte: Ipni)

  • O pecíolo e talos das folhas mais novas ficam curvados para baixo.
Sintoma de deficiência de cobre na planta de café. As folhas da planta estão curvadas para baixo.

Sintoma da deficiência de cobre em planta de café

(Fonte: Yara)

  • As folhas não apresentam a mesma coloração verde. Ficam com tons amarelados ou verde mais claro, e depois sofrem amarelecimento.
Foto de duas plantas. A primeira mostra uma folha de milho amarelada, e a segunda, uma folha de soja com coloração verde-clara.

Sintoma da deficiência de cobre em planta de (A) milho folha amarelada e (B) soja folha com coloração verde clara

(Fonte: (A) Esalq e (B) Biosoja)

  • Em algumas culturas, como o café, as plantas podem apresentar elevação nas nervuras secundárias. Isso causa deformação na nervura central, que fica em forma de S.
Imagem de uma folha de café com sintoma de deficiência de cobre. A folha está enrugada, e a nervura central está em formato de "s"

Sintoma da deficiência de cobre em planta de café

(Fonte: Yara)

  • Ocorre diminuição do transporte de água e solutos pelo xilema, devido à redução da lignificação.
  • Ocorre abortamento de flores, o que interfere na produção.
Imagem de plantas de milho com deficiência de cobre, ao lado de espigas saudáveis.

Sintoma da deficiência de cobre em planta de trigo, da esquerda espigas saudáveis e direita espiga com deficiência de cobre

(Fonte: Ipni)

Excesso de cobre

Os sintomas de excesso de cobre ocorrem nas raízes, devido à elevada concentração do elemento no solo.

Um indicativo da ocorrência é a lentidão no crescimento das plantas. O desenvolvimento das raízes é afetado, levando à morte dos tecidos.

A planta tem dificuldade para absorver água e nutrientes, refletindo no baixo porte e até morte das plantas.

Foto de plantas de videira em solos com diferentes teores de cobre. Em baixo, há uma imagem de raízes de plantas com excesso de cobre, todas enrugadas e necrosadas.

Plantas de videira em solos com diferentes teores de cobre (A) parte aérea e (B) sintomas de excesso de cobre nas raízes 

(Fonte: Gazeta-RS)

Pode ocorrer também fitotoxicidade nas folhas devido ao uso de produtos feitos à base de cobre. Isso acontece principalmente com os fungicidas cúpricos, causando queima, necrose e deformação das folhas.

Foto de folhas de uva com excesso de cobre, todas enrugadas.

Fitotoxidade em folhas de uva causadas por fungicida cúprico

(Fonte: Embrapa)

O excesso de cobre, além dos sinais visíveis nas plantas, prejudica a fotossíntese. Afinal, o excesso afeta o transporte de elétrons, a formação de enzimas, proteínas e carboidratos.

Outro ponto é saber a sensibilidade da cultura ao excesso ou falta de cobre. Algumas são mais sensíveis, outras mais tolerantes à presença do elemento no solo.

Tabela mostra níveis de sensibilidade das culturas à deficiência de cobre. Está dividida entre alta, média e baixa sensibilidade.

Sensibilidade das culturas à deficiência de cobre

(Fonte: Ipni)

Áreas propensas à deficiência de cobre

A deficiência de cobre não é extremamente comum em todas as áreas. Algumas regiões são mais propensas a ter essas ocorrências. 

Mapa mostra frequência relativa das deficiências de cobre no Brasil. Minas Gerais, São Paulo e Pernambuco possuem muita frequência dessas deficiências.

Frequência Relativa das Deficiências de Cobre no Brasil

(Fonte: Esalq)

São Paulo, Minas Gerais e Pernambuco são os principais lugares sujeitos à deficiência de cobre.

No entanto, há vários fatores que afetam sua disponibilidade. Sempre fique de olho nos sintomas para que sua cultura não seja prejudicada.

Quando aplicar o cobre na lavoura? 

Constatada a deficiência do cobre, existem produtos que podem ser utilizados na lavoura em casos de emergência.

O cobre é um nutriente com pouca mobilidade na planta. Assim, as aplicações foliares, independentemente do tipo de produto, não serão muito eficientes.

Tabela com as principais fontes de cobre existentes no mercado brasileiro.

Principais fontes de cobre existentes no mercado brasileiro

(Fonte: Esalq)

Em caso de culturas perenes, como café e laranja, realizar análise foliar para verificar a concentração deste e outros nutrientes é uma alternativa para evitar a deficiência.

A época de aplicação da adubação foliar, portanto, é quando há presença de sintomas de deficiência ou em uma aplicação preventiva planejada.

A aplicação do nutriente via solo, nas linhas de plantio ou nas áreas perto das raízes, é mais eficiente. Mas tome cuidado, pois as doses não podem ser muito elevadas.

A dosagem dependerá da concentração de cobre no produto aplicado.

De modo geral, para sulfato de cobre, a dose é de 3 kg/ha a 5 kg/ha de cobre. Para os quelatos, a dose é de 0,5 kg/ha de cobre.

Sua disponibilidade pode aumentar durante os anos devido à sua retenção no solo. Por isso, faça a análise do solo com frequência.

Para evitar problemas, busque sempre o acompanhamento e recomendações do engenheiro-agrônomo na sua lavoura!

O que fazer para corrigir o excesso de cobre?

Se o seu problema for o excesso de cobre na área, realize a calagem. Ela causa elevação do pH do solo. Como consequência, reduz a disponibilidade do elemento.

planilha calculo fertilizante milho e soja

Conclusão

Neste artigo você viu que o cobre nas plantas é fundamental para diversas reações, metabolismos, desenvolvimento e prevenção.

Viu que o manejo do solo influencia diretamente na disponibilidade deste micronutriente para as plantas.

Seu excesso é tão prejudicial quanto sua deficiência, e aprender a reconhecer os principais sintomas de cada um destes cenários é fundamental.

Acompanhe a quantidade desse elemento no solo para definir as estratégias de aplicação.

>> Leia mais:

“Boro nas plantas: manual rápido do manejo desse micronutriente”

“Enxofre para as plantas: recomendações de adubação e manejo”

“Potássio nas plantas: tudo que você precisa saber para fazer melhor uso dele”

Você já precisou realizar alguma prática de manejo devido à falta ou excesso de cobre nas plantas em sua área? Ficou com alguma dúvida? Deixe seu comentário abaixo!

Como a coinoculação em soja contribui para o aumento da produtividade

Coinoculação em soja: entenda o que é, quais são os benefícios, como realizar e os cuidados necessários nesse processo 

A inoculação da soja com bactérias fixadoras de nitrogênio é uma prática bem conhecida. Ela eleva a produtividade dos grãos a um baixo custo.

Além da inoculação com essas bactérias, tem se destacado o uso de outro microrganismo associado ao Bradyrhizobium

Essa técnica é conhecida por coinoculação ou inoculação conjunta/mista e pode trazer inúmeros benefícios para a sua lavoura.

Confira a seguir um pouco mais sobre a coinoculação em soja e como garantir a eficiência dessa prática. Boa leitura!

O que é a coinoculação e quais bactérias participam dela?

A coinoculação é uma prática que combina mais de um gênero de bactérias ao sistema de inoculação da soja

Nesse caso, são utilizadas bactérias do gênero Bradyrhizobium e Azospirillum.  As bactérias do gênero Bradyrhizobium têm grande importância econômica na agricultura. 

Elas são responsáveis por captar o nitrogênio atmosférico e transformá-lo em compostos orgânicos. Esses compostos serão utilizados pela planta de soja.

As espécies de bactérias utilizadas na inoculação da soja são Bradyrhizobium japonicum e Bradyrhizobium elkanii.

Já as bactérias do gênero Azospirillum são conhecidas por promover o crescimento das plantas, atuando em processos fisiológicos e metabólicos. Elas já são amplamente utilizadas na cultura do milho e do trigo.

A espécie Azospirillum brasilense atua na produção de fitormônios e no crescimento das raízes. 

Essa espécie também tem a capacidade de solubilizar o fosfato mineral. Isso eleva a concentração de fósforo disponível na solução do solo.

A associação desses dois gêneros de bactérias tem o objetivo de:

  • suprir o fornecimento de nitrogênio para as plantas; 
  • contribuir para o desenvolvimento da soja;
  • melhorar o estado nutricional da lavoura;
  • aumentar a produtividade
Imagem mostra a ilustração de duas plantas de soja e suas respectivas raízes. A primeira, após ter passado por inoculação; a segunda, após coinoculação. A coinoculação se mostrou evidente em condições com ampla variação de solo.

Principais efeitos da coinoculação de Azospirillum brasilense e Bradyrhizobium spp. na soja, com base em 51 publicações com experimentos de campo realizados no Brasil

(Fonte: Physiotek Crop Science; Adaptado de Barbosa et al., 2021)

Benefícios da coinoculação

A coinoculação em soja com Bradyrhizobium + Azospirillum promove maior desenvolvimento do sistema radicular das plantas. Como consequência, temos:

● nodulação precoce e mais abundante;

● aumento da fixação biológica de nitrogênio, em razão da maior nodulação; 

● maior absorção e aproveitamento da água e de fertilizantes;

● maior tolerância a estresses ambientais, como a seca;

● contribui para o vigor das plantas;

● aumento da produtividade.

Além disso, a coinoculação é uma tecnologia ambientalmente sustentável e segura.

Aspectos das raízes de soja inoculada com Bradyrhizobium, sem inoculação e coinoculada com Bradyrhizobium + Azospirillum

Aspecto das raízes de soja inoculada com Bradyrhizobium, sem inoculação e coinoculada com Bradyrhizobium + Azospirillum

(Fonte: Embrapa – Circular Técnica 143)

Inoculantes líquidos x inoculantes sólidos 

Os inoculantes disponíveis no mercado são encontrados na forma líquida e sólida, em turfas. 

Os produtos sólidos são utilizados nas sementes. Os inoculantes líquidos podem ser aplicados tanto no sulco de plantio quanto misturados às sementes

Já é possível encontrar fórmulas que combinam Bradyrhizobium + Azospirillum no mesmo produto. Isso garante maior eficiência e rapidez no processo de coinoculação.

Como fazer a coinoculação

Os produtos contendo as bactérias (inoculantes) podem ser aplicados no sulco de plantio ou misturados às sementes de soja.  

No caso da aplicação nas sementes, é importante que o processo seja realizado à sombra. O produto pode ser misturado às sementes em betoneira, em tambor rotativo ou em máquinas específicas. 

Após esse processo, as sementes devem secar à sombra por 30 minutos.  

Elas precisam estar protegidas do sol e de altas temperaturas. Essas condições podem prejudicar a eficiência da inoculação.

Para melhorar a aderência dos inoculantes sólidos às sementes é possível utilizar, de forma combinada, produtos adesivos recomendados pelo fabricante

Também é possível usar uma solução açucarada a 10%. Existem  produtos com função de proteção das bactérias que podem ser utilizados no processo de inoculação. 

Após a coinoculação das sementes, é importante que toda a superfície esteja recoberta pelo inoculante

Caso haja a necessidade do tratamento das sementes com agroquímicos, a inoculação deve ser realizada após esse processo.

Quando aplicado no sulco de plantio, a inoculação é feita com maiores doses do inoculante misturado à água.

Em relação à dosagem do inoculante, é fundamental seguir as orientações técnicas do fabricante.

Cuidados na coinoculação

Por envolver microrganismos vivos, o processo de coinoculação deve ser realizado com cuidado. Além disso, atenção especial deve ser dada ao transporte e à armazenagem dos produtos. 

Abaixo, você pode conferir algumas medidas para garantir a eficiência da coinoculação:

● utilizar produtos registrados pelo Mapa (Ministério da Agricultura);

● transportar e armazenar os produtos de acordo com as orientações do fabricante;

● seguir as recomendações da bula do inoculante quanto à dosagem e manipulação;

● conferir o prazo de validade dos produtos;

● evitar que os inoculantes e as sementes tenham contato direto com o sol e à altas temperaturas;

● realizar a coinoculação somente após o tratamento químico das sementes;

realizar a semeadura no mesmo dia da coinoculação;

● não realizar a coinoculação dentro da caixa de semeadura;

● não realizar a semeadura em condições de solo com baixa umidade (não plantar no pó).

Vantagens da coinoculação em soja

Dentre as vantagens da coinoculação em soja com Bradyrhizobium + Azospirillum, podemos citar:

● técnica de baixo custo e alto retorno;

● técnica ambientalmente segura e sustentável;

● diminui custos com insumos, principalmente em razão da economia com adubos nitrogenados;

● lavouras bem desenvolvidas;

● aumento na produtividade.

É importante ressaltar que essa tecnologia não apresenta desvantagens. No entanto, somente a coinoculação não é garantia de sucesso. 

Fatores que influenciam o resultado

Vários fatores podem interferir no resultado da coinoculação. 

Por exemplo, é preciso traçar um bom plano de manejo do solo, adubação equilibrada, controle de plantas invasoras e doenças. 

Esteja também de olho na época de semeadura, na qualidade da semente de soja, nas condições climáticas e na cultivar plantada.

Chamada  para baixar a planilha de planejamento de safra da soja, com cálculos automatizados.

Conclusão

A coinoculação é uma técnica em que são utilizadas bactérias dos gêneros Bradyrhizobium e Azospirillum na soja.

Essa prática garante o fornecimento de nitrogênio para as plantas, contribui para o desenvolvimento das plantas e aumenta a produtividade. 

Para a melhor eficiência do processo de coinoculação em soja, não deixe de seguir as recomendações do fabricante dos inoculantes. Em casos de maiores dúvidas, procure um engenheiro-agrônomo.

>> Leia mais:

Seguro soja: por que você deve fazer

“Inoculante para milho silagem: como escolher o melhor”

“Inoculante para feijão caupi: como utilizar na sua lavoura”

Você conhecia os benefícios que a coinoculação proporciona? Já realizou essa prática em sua propriedade? Conte sua experiência nos comentários.

Como funciona o herbicida tembotrione para controle de plantas daninhas

Herbicida tembotrione: conheça como funciona, a quais plantas daninhas atinge, recomendações de uso, sua eficiência em conjunto com outros herbicidas e mais!

O controle de plantas daninhas é um grande desafio na cultura do milho no Brasil.

O tembotrione é um herbicida de bom desempenho no controle dessas plantas e da resistência a certos modos de ação.

Sua alta seletividade ao milho e amplo espectro de controle e eficiência fazem dele uma importante opção de manejo.

Neste artigo, você saberá mais como o herbicida tembotrione age e quais as recomendações de uso ideais. Boa leitura!

O que é o herbicida tembotrione

O herbicida tembotrione ou tembotriona pertence à família das tricetonas.

É um agroquímico seletivo. Ele possui um amplo espectro de controle, com ação sobre várias espécies de folhas largas ou estreitas.

Tembotrione é amplamente utilizado no controle de plantas daninhas do milho. Vêm sendo uma importante ferramenta no manejo de espécies resistentes.

Como o tembotrione age nas plantas

O herbicida tembotrione age interrompendo a biossíntese de carotenóides através da inibição da enzima hidroxifenil-piruvato-dioxigenase (HPPD).

Quando ocorre essa inibição, a planta daninha fica com coloração esbranquiçada. Essa coloração evolui para secamento das folhas e morte da planta.

Aspecto de planta com injúria de tembotrione

Aspecto de planta com injúria de tembotrione
(Fonte: USP)

A coloração esbranquiçada ocorre por causa da degradação da clorofila, o pigmento que dá coloração verde às plantas.

Você verá em poucos dias a coloração esbranquiçada nas plantas. Esse aspecto claramente define a atuação do produto.

A clorofila é responsável por absorver a energia que é usada na fotossíntese

Portanto, sem clorofila não há energia; sem energia não há fotossíntese; sem fotossíntese não há meios da planta sobreviver.

Esse mecanismo de ação é o mesmo do herbicida mesotrione, bastante difundido no mercado.

Importância do tembotrione no manejo de plantas daninhas

A eficácia dos herbicidas no controle de plantas daninhas em grandes culturas é variável. Depende das condições ambientais, da planta daninha e da época de aplicação.

Muitos casos de resistência aos principais herbicidas do mercado surgiram nos últimos anos, e um manejo integrado deve ser feito.

O uso incorreto de herbicidas não controla todas as daninhas. Elas se reproduzem e expressam seus genes de resistência no banco de sementes do solo.

Faça a rotação de herbicidas com o glifosato, atrazina, 2,4-D e tembotrione, por exemplo. Esse é um manejo sustentável ambiental e economicamente.

infográfico com mecanismos de ação que podem ser usados em rotação

Mecanismos de ação que podem ser usados em rotação
(Fonte: Mais Soja)

Tembotrione é um importante herbicida recomendado para uso em pós-emergência do milho. Vêm controlando satisfatoriamente as plantas daninhas da cultura.

Não utilize o tembotrione indiscriminadamente, pois isso pode inviabilizar o seu uso no futuro.

Eficiência na cultura do milho

O sistema do milho é acometido por uma diversidade de plantas daninhas. Fique de olho para que a colheita da cultura antecessora ocorra na ausência de plantas daninhas.

Faça o manejo correto na dessecação pré-plantio do milho. Utilize herbicidas com residual no solo, para a cultura se estabelecer rapidamente sem interferências.

As plantas daninhas podem persistir na lavoura mesmo com o efeito residual pré-emergente

Quando isso ocorrer, realize o manejo químico das plantas daninhas entre os estádios fenológicos  V3 e V5. Assim você evitará a competição e, consequentemente, a redução da produtividade.

Plantas daninhas folha estreita na fase inicial do milho

Plantas daninhas folha estreita na fase inicial do milho
(Fonte: Embrapa)

O tembotrione tem sido peça chave para um efetivo sistema de rotação de mecanismos de ação de herbicidas no milho.

Utilize esse mecanismo de ação também no controle da soja guaxa ou tiguera. Ela sobrevive após a dessecação da lavoura com glifosato.

Na utilização deste mecanismo de ação, respeite o estádio de desenvolvimento da planta daninha:

  • folhas largas: até 6 folhas desenvolvidas;
  • gramíneas: até 2 perfilhos.

Sintomas de fitotoxicidade por tembotrione no milho

Em aplicações com doses maiores ou com sobreposição de produto, as plantas de milho recebem uma quantidade maior de herbicida que podem suportar. Elas podem apresentar sintomas de fitointoxicação.

Os sintomas de intoxicação por tembotrione são branqueamento das plantas de milho com posterior necrose, além de morte dos tecidos vegetais em cerca de 1 a 2 semanas. 

Plantas daninhas controladas pelo tembotrione

O herbicida tembotrione é eficaz para diversas plantas daninhas que afetam a cultura do milho. Veja quais são:

Recomendação de uso do herbicida tembotrione

Utilize este produto como uma opção no manejo de plantas daninhas resistentes a outros mecanismos de ação.

Faça a rotação de princípios ativos de acordo com um planejamento de safra. Essa é uma forma de evitar o desenvolvimento de banco de sementes de plantas daninhas resistentes.

Continue utilizando o tratamento pré-semeadura do milho. Assim as plantas irão emergir e desenvolver inicialmente “no limpo”.

Algumas daninhas podem surgir mesmo com o manejo pré-semeadura

Nesse caso, em uma nova pulverização, use o tembotrione no início do desenvolvimento do milho. Dessa forma você evita a matocompetição e não sofre perdas econômicas.

Apesar de não causar danos, não aplique o herbicida tembotrione com a cultura bem desenvolvida. Ele tem o controle reduzido pelo “efeito guarda-chuva”.

Mistura de tanque

Você pode fazer mistura de tanque com glifosato e atrazina.

Estudos indicam que a mistura com glifosato aplicada em pós-emergência do milho pode gerar algum efeito de fitotoxicidade

No entanto, há um valor máximo de 8% nos 7 dias após emergência, e sem redução de produtividade.

Fique por dentro das doses corretas, para que esse efeito não seja maior e prejudique a sua lavoura.

A mistura de tanque com glifosato e mesotrione apresenta maior fitotoxicidade e menor controle de algumas plantas daninhas importantes.

tabela de eficiência de controle do tembotrione em mistura com atrazine

Eficiência de controle do tembotrione em mistura com atrazine
(Fonte: Mais Soja)

Dose de aplicação

Use um volume de calda de 150 a 200 litros por hectare em aplicação terrestre para todas as situações. Tenha o seu pulverizador em perfeitas condições para a aplicação.

Faça todas as aplicações com segurança e seguindo as recomendações da bula e do receituário agronômico!

Pontos de atenção na aplicação de tembotrione nas plantas

Não aplique o produto em plantas daninhas ou culturas que estejam sob estresse hídrico. Além disso, procure:

  • evitar aplicações quando as plantas daninhas estiverem molhadas ou com presença de orvalho. Isso pode causar escorrimento da calda de aplicação;
  • respeitar um período de 6 horas sem ocorrência de chuvas e orvalho para o adequado funcionamento do herbicida;
  • respeitar o prazo de 30 dias para semeadura de girassol, algodão e feijão, em áreas que receberam aplicações deste herbicida.

Controle da soja guaxa

Para controle da soja guaxa, uma dose de 180 mL de produto comercial por hectare é o recomendado para um controle eficiente.

Controle de plantas daninhas de folha larga

Para demais plantas de folha larga, com duas até 6 folhas desenvolvidas, no máximo, utilize dose de 240 ml/ha.

Controle de gramíneas

No controle de plantas daninhas monocotiledôneas ou gramíneas, use a dose de 240 ml/ha em plantas com até dois perfilhos.

Use uma dose de 180 ml/ha para plantas menores, com duas a seis folhas

Tembotrione no consórcio milho-braquiária

No cultivo do milho consorciado com braquiária é comum o uso de gramicidas. O tembotrione é uma das opções disponíveis no mercado.

Afinal, esse herbicida é seletivo à cultura do milho e é efetivo no controle das gramíneas.

Porém, a aplicação do tembotrione no consórcio milho-braquiária requer um certo cuidado. Isso é necessário para que a braquiária do consórcio não seja eliminada.

Mesmo a aplicação de subdoses de tembotrione pode atrasar o estabelecimento da braquiária e prejudicar a produção de palha do consórcio.

Produto comercial

Atualmente, o Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), em que os produtos são registrados, possui um herbicida comercial com esse princípio ativo.

O Soberan é um herbicida de detenção da empresa alemã Bayer.

Embalagem do Soberan, Tembotrione registrado no Mapa

Embalagem do Soberan, Tembotrione registrado no Mapa
(Fonte: Vila Verde Agro)

Veja as características do produto:

  • composição: Tembotriona – 420g/L; Outros – 783 g/L;
  • classe toxicológica: categoria 4 – produto pouco tóxico;
  • classificação do potencial de periculosidade ambiental: III – produto perigoso ao meio ambiente.
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Conclusão

O controle de plantas daninhas no milho é de grande importância. A utilização de variados herbicidas com diferentes mecanismos de ação é essencial.

O tembotrione age nas plantas causando o branqueamento das folhas antes das daninhas morrerem.

Você conferiu a melhor maneira de aplicar o produto: época, dose, mistura e volume de calda no tanque. Também conheceu o produto comercial que utiliza o ingrediente ativo tembotrione

Planeje-se para a aplicação do herbicida assim que notar a presença das plantas daninhas em sua lavoura.

>> Leia mais:

“Como fazer o manejo de herbicida para milho”

“Vassourinha de botão: como identificar e manejar”

Este conteúdo sobre herbicida tembotrione foi útil para você? Assine nossa newsletter e receba nossos artigos direto em seu e-mail!

Por que o controle biológico com Trichoderma pode ser uma boa opção para sua lavoura

Controle biológico com Trichoderma: entenda como o fungo pode auxiliar no controle de doenças, seus mecanismos de ação, cuidados e recomendações de aplicação.

O uso de biopesticidas no controle de pragas e doenças impacta positivamente na produtividade. Ele reduz perdas e custos, e garante uma produção cada vez mais  sustentável.

Fungos do gênero Trichoderma spp. podem promover crescimento às mais diversas culturas, como cereais e grãos. 

Estes microrganismos podem aumentar a produtividade em até 60%, além de melhorar a tolerância das culturas aos estresses. 

Neste artigo, você verá as características desse fungo, os mecanismos de ação, a quais doenças é recomendado e os cuidados necessários na aplicação. Boa leitura!

Características do gênero Trichoderma

Trichoderma é um fungo encontrado naturalmente nos solos, em populações variáveis. 

Eles representam um grupo de diversas espécies de interesse agrícola. São capazes de controlar uma gama de doenças de plantas.

Aspecto visual das estruturas fúngicas de Trichoderma spp. à esquerda e colônias de diferentes espécies à direita, demonstrando variação da coloração entre isolados e espécies

Aspecto visual das estruturas fúngicas de Trichoderma spp. à esquerda e colônias de diferentes espécies à direita, demonstrando variação da coloração entre isolados e espécies
(Fonte: Bhaszcyet al., 2014)

São decompositores de madeiras e matéria orgânica. 

Atualmente, existem mais de 200 espécies do gênero. Elas possuem diferentes potenciais para a proteção dos cultivos, promoção de crescimento e tolerância aos estresses.

Têm alta capacidade de colonizar a rizosfera, região do solo influenciada pelas raízes. Ela tem máxima atividade microbiana, localizada próximo às raízes das plantas.

Esses fungos também colonizam diversos outros substratos, sob diferentes condições ambientais.

Representação visual das raízes de uma planta, e do local onde localiza-se a rizosfera (em marrom). A rizosfera é rica em compostos liberados pelas raízes, atrativos aos microrganismos presentes no solo

Representação visual das raízes de uma planta, e do local onde localiza-se a rizosfera (em marrom). A rizosfera é rica em compostos liberados pelas raízes, atrativos aos microrganismos presentes no solo
(Fonte: Cardoso et al., 2016)

Esse gênero também tem a capacidade de produzir estruturas de resistência no solo. As estruturas permitem a sua sobrevivência por longos períodos e em condições adversas.

Mecanismos de ação para o controle de doenças de plantas

Os mecanismos de ação de controle de fitopatógenos por fungos do gênero Trichoderma incluem:

  • micoparasitismo;
  • antibiose;
  • competição;
  • indução de defesas ou resistência nas plantas.

A seguir, veja um pouco sobre como funciona cada um dos mecanismos de ação.

Micoparasitismo

Os fungos Trichoderma se alimentam absorvendo nutrientes por meio de estruturas chamadas hifas. 

As hifas penetram o tecido do hospedeiro e liberam enzimas que degradam a parede celular dos fitopatógenos.

A grande diversidade de enzimas degradadoras de parede celular, produzidas pelo fungo, impossibilita a defesa dos patógenos alvos.

Essas enzimas interferem na germinação de esporos, crescimento de hifas e desenvolvimento de estruturas de resistência pelos patógenos.

Antibiose

O fungo inibe os demais microrganismos fitopatógenos que também se desenvolvem no solo, a partir da produção de metabólitos secundários (tóxicos).

Os metabólitos, combinados com a ação das enzimas degradadoras, já foram relatados efetivos no controle de pulgões

Eles possuem capacidade entomopatogênica.

Competição

Caracteriza-se pelo comportamento/crescimento desigual de dois organismos.

Ambos competem por recursos essenciais à sobrevivência, como nutrientes, oxigênio, espaço, luz, dentre outros.

Fungos do gênero Trichoderma possuem vantagens no ambiente, como:

  • rápido crescimento e estabelecimento;
  • produção de enzimas (micoparasitismo);
  • produção de compostos metabólitos secundários tóxicos (antibiose).

São considerados ótimos competidores e oportunistas. Apresentam grande adaptabilidade. Eles podem crescer sobre uma gama de fontes de carbono, nitrogênio e diferentes temperaturas.

esquema de mecanismos de ação de Trichoderma no controle de fitopatógenos e produção de compostos relacionados à promoção de crescimento em plantas

Mecanismos de ação de Trichoderma no controle de fitopatógenos e produção de compostos relacionados à promoção de crescimento em plantas
(Fonte: adaptado de Konappa et al., 2020)

Confronto direto in vitro à esquerda, de isolado de Trichoderma (representado pela letra T na figura) e o patógeno Sclerotinia sclerotiorum, causador do mofo branco em diversas culturas, incluindo a soja (representado pelas letras Ss). À direita é possível observar o fungo biocontrolador Trichoderma spp. envolvendo as estruturas de S. sclerotiorum

Confronto direto in vitro à esquerda, de isolado de Trichoderma (representado pela letra T na figura) e o patógeno Sclerotinia sclerotiorum, causador do mofo branco em diversas culturas, incluindo a soja (representado pelas letras Ss). À direita é possível observar o fungo biocontrolador Trichoderma spp. envolvendo as estruturas de S. sclerotiorum
(Fonte: Eriston Vieria Gomes, 2015)

Indução de resistência e promoção de crescimento

Os fungos Trichoderma auxiliam na disponibilização de nutrientes presentes no solo que não estavam prontamente disponíveis às plantas. Como consequência:

  • aumentam a porcentagem e taxa de germinação de sementes;
  • estimulam as defesas das plantas contra estresses;
  • tornam o fósforo absorvível pelas plantas;
  • auxiliam na aquisição de nutrientes, devido ao aumento da expressão de genes relacionados;
  • promovem crescimento pela produção de auxinas e metabólitos que favorecem o desenvolvimento de raízes mais vigorosas e profundas. Através dessa característica, auxiliam na tolerância à seca;
  • incrementam a absorção de nutrientes e desenvolvimento de pêlos absorventes nas raízes laterais do sistema radicular;
  • aumentam a superfície de absorção de nutrientes pelas raízes;
  • provocam diminuição dos níveis de etileno nas plantas, favorecendo seu crescimento;
  • ajudam no incremento da massa seca, conteúdo de amido e açúcares solúveis, e eficiência fotossintética;
  • interferem positivamente na assimilação de nitrogênio;
  • ativam a resistência sistêmica induzida, a partir de fitormônios.

Aplicação de produtos à base de Trichoderma para o controle de doenças de plantas

Diversas espécies de Trichoderma spp. podem ser utilizadas no controle de doenças, especialmente aquelas causadas por fungos e nematoides

É importante que a bula, bem como a dose recomendada pelo fabricante, seja rigorosamente utilizada. 

Embora diversos produtos sejam formulados a partir da mesma espécie de Trichoderma, existem distinções quanto à gama de doenças que eles podem controlar.

Além disso, embora seja um produto biológico, doses excedentes podem causar problemas aos cultivos.

Confira a seguir alguns produtos indicados e para o controle de quais doenças são recomendados:

Espécies do gênero Trichoderma e pragas alvo a quais são recomendados.

tabela com produtos indicados e para o controle de quais doenças são recomendados

(Fonte: elaborada pela autora a partir da consulta do Sistema de Agrotóxicos fitossanitários (Agrofit))

Informações e cuidados importantes: manipulação e aplicação de Trichoderma spp.

  • O mesmo microrganismo, da mesma espécie, pode ter indicações de controle de doenças distintas, conforme o isolado e comprovação pelo fabricante;
  • Condições meteorológicas devem ser ideais para aplicação dos produtos biológicos, para garantir que eles possam se estabelecer adequadamente sobre a cultura. Evite a aplicação em dias muito quentes e secos;
  • A temperatura ideal de aplicação varia entre 20 ℃ a 35  ℃;
  • Faça a aplicação preferencialmente no final da tarde ou à noite, em dias nublados ou com garoa fina;
  • Evite a exposição a dias muito ensolarados e muito quentes ou frios (superior a 35  ℃ e inferior a 20  ℃). Essas condições podem inviabilizar as estruturas do fungo;
  • Consulte sempre a compatibilidade do formulado à base de Trichoderma spp. com defensivos químicos. Assim você evita a redução ou até mesmo ineficiência do produto biológico na cultura;
  • Existem diversos produtos que possuem em sua formulação mais de uma espécie do gênero Trichoderma;
  • Armazene o produto em local seco e fresco (4 ℃) para durabilidade máxima em prateleira (consulte a bula do produto).

Principais vantagens do controle biológico com Trichoderma

A aplicação de biopesticidas, especialmente os do gênero Trichoderma, incluem uma série de vantagens, como:

  • redução da contaminação humana e ambiental pelo uso de moléculas químicas;
  • introdução de agentes benéficos no ambiente agrícola, que ali se estabelecem e promovem uma série de benefícios;
  • controle de diversos fitonematoides, que normalmente são de difícil controle;
  • custo próximo ou inferior ao empregado no uso de defensivos químicos;
  • manejo de resistência de pragas às moléculas químicas, uma vez que esses microrganismos possuem diferentes mecanismos de ação.

Desvantagens

É necessário se atentar a algumas questões, que podem ser desvantajosas em  determinadas situações: 

  • na conduta do fabricante, para que o produto contenha o número de células ou colônias viáveis adequado, para sua correta eficiência;
  • nas condições de armazenamento, tanto enquanto o produto é distribuído entre os fornecedores quanto com o consumidor final. Nessa etapa, é importante que o produto não seja submetido a temperaturas inadequadas;
  • na durabilidade do produto depois de aberto, que é limitada;
  • no tempo de resposta no tratamento, que é variável em função de uma série de fatores, incluindo a temperatura e umidade em que o produto é aplicado. Esse tempo pode não ser imediato (quando comparado ao uso de moléculas químicas). 

Conclusão

Nesse artigo, você conheceu um pouco mais sobre os fungos do gênero Trichoderma

Conheceu os mecanismos de ação envolvidos no controle de doenças de plantas e sua aplicabilidade, inclusive no controle de pragas, como pulgões.

É importante que você tome cuidados antes da aplicação destes produtos. Armazene em locais frescos, secos e arejados conforme indicado na bula do produto, e siga rigorosamente as orientações.

Além disso, vale reforçar que a lista de patógenos que podem ser controlados é grande.

Você sempre deve conferir a bula do produto. Os patógenos que são controlados e as culturas em que a aplicação é recomendada podem variar.

>> Leia mais: “Como o baculovírus pode controlar as pragas na sua lavoura”

Você já realizou o controle biológico com Trichoderma na sua lavoura? Ficou com alguma dúvida? Deixe aqui nos comentários que terei o prazer em te auxiliar. 

Entenda os princípios e benefícios da pulverização eletrostática na agricultura

Pulverização eletrostática: confira o que é e como ela pode te ajudar a garantir melhores resultados na lavoura

Os agroquímicos são um dos insumos mais importantes para a agricultura, independente de sua categoria. Eles ajudam a preservar a sanidade das lavouras e combatem uma gama de agentes prejudiciais.

Porém, a eficiência de deposição desses agroquímicos sobre as plantas ainda é muito baixa. Essa baixa eficiência eleva a frequência de pulverizações. 

Consequentemente, há gastos exagerados, ocorrência de resíduos nos produtos e aumento dos impactos ambientais.

Buscando uma agricultura mais sustentável, a pulverização eletrostática surgiu como alternativa promissora para contornar esse cenário!

Quer saber mais? Confira neste artigo como a pulverização eletrostática pode te ajudar. Aproveite a leitura!

O que é pulverização eletrostática?

A pulverização eletrostática é diferente da convencional, graças ao processo de eletrificação das gotas.

As gotas pequenas são as que geram os melhores resultados de controle dos problemas fitossanitários nas plantas. Porém, essas gotículas são extremamente suscetíveis à deriva.

Para contornar esse problema, você precisa dar, literalmente, uma força para as gotículas. É aí que entra a pulverização eletrostática.

Nesse tipo de pulverização, uma força elétrica é acrescentada às gotículas, controlando seus movimentos.

Eletrificação de gotas

A eletrificação das gotas torna-as fortemente atraídas pelas plantas.

Através desse processo, as gotículas alcançam partes das plantas que dificilmente seriam atingidas na pulverização convencional. A parte inferior das folhas é um exemplo.

Para você entender mais a fundo a eletrificação das gotas, vale revisar algumas leis da eletrostática.

A primeira é que cargas de polaridades opostas se atraem e semelhantes se repelem:

  • cargas positivas e negativas se atraem;
  • carga positiva com positiva ou negativa com negativa se repelem.

A segunda lei diz que a carga de um corpo (ou partículas) induz a formação de uma carga igual, mas oposta nos corpos aterrados mais próximos.

gráfico de efeito de atração da gotícula eletrificada por sua imagem no objeto aterrado a uma distância ‘d’

Efeito de atração da gotícula eletrificada por sua imagem no objeto aterrado a uma distância ‘d’
(Fonte: adaptado de Chaim, 2006)

No caso da pulverização eletrostática, o corpo aterrado é a planta. Ou seja, a nuvem de gotículas eletrificadas será atraída em direção às plantas.

A eficiência da pulverização eletrostática dependerá diretamente do processo utilizado para eletrificar as gotas.

Processos de eletrificação de gotas

É possível eletrificar as gotas de três formas diferentes: por “efeito corona”, por eletrificação indireta e por eletrificação direta.

Conheça melhor cada uma delas a seguir.

Eletrificação por efeito corona 

Nesse processo, um eletrodo pontiagudo sob tensões elevadíssimas ioniza o ar. 

As cargas livres vão se chocar com as gotas que saem do bico de pulverização, tornando-as carregadas.

Esse processo é adequado para diâmetros de gota inferiores a 20 micrômetros. 

Portanto, não é muito adequado para a agricultura, em que as pulverizações com gotas mais finas são superiores a 20 micrômetros.

Eletrificação indireta 

Na eletrificação indireta, a calda de pulverização permanece inicialmente neutra (ou aterrada).

O eletrodo de indução é posicionado na borda do jato, onde as gotas são formadas.

Assim, as gotas adquirem carga na presença do campo eletrostático presente, conforme o esquema.

Esquema de um sistema eletrificação indireta de pulverização eletrostática

Esquema de um sistema eletrificação indireta de pulverização eletrostática
(Fonte: adaptado de Chaim, 2006)

Esse sistema de eletrificação apresenta a enorme vantagem de ter a calda e as tubulações neutras. Entretanto, há uma desvantagem.

Como as gotas adquirem uma carga oposta à do eletrodo, são atraídas para ele. Elas o molham e causam corrimento, o que torna o sistema ineficiente.

Para solucionar isso é necessário o uso de bicos eletrostáticos pneumáticos. Neles, o ar que pulveriza o líquido também o carrega para longe da zona de atração do eletrodo de indução.

Eletrificação direta

No sistema de eletrificação direta, a calda de pulverização encontra-se sob alta tensão e sem o eletrodo de indução.

Sem ele, a voltagem de eletrificação deve ser alta o suficiente para criar um campo eletrostático bastante intenso. Deve ser algo próximo de 30 mil volts.

Esquema de um sistema eletrificação direta de pulverização eletrostática

Esquema de um sistema eletrificação direta de pulverização eletrostática
(Fonte: adaptado de Chaim, 2006)

A principal vantagem desse sistema de eletrificação direta é a ausência do eletrodo de indução próximo ao bico de pulverização.

Entretanto, como a calda deverá estar sob alta tensão, é necessário isolar o tanque e as tubulações envolvidas no processo.

Vantagens da pulverização eletrostática

Independente da forma de eletrificação da calda a ser aplicada, a pulverização eletrostática é uma tecnologia promissora e apresenta uma série de vantagens, como:

  • melhor combate às pragas, já que as gotículas carregadas conseguem superar a força da gravidade e resistência do ar, alcançando locais que a convencional não conseguiria;
  • ao contrário da convencional, as gotas são atraídas para os alvos e não lançadas ao ar, sujeitas à deriva;
  • melhor deposição de gotas na superfície das folhas;
  • as gotas, por estarem com a mesma carga, não se unem formando gotas maiores;
  • economia de calda de pulverização;
  • menor necessidade de reabastecimento do tanque;
  • economia de mão de obra;
  • redução dos custos operacionais;
  • menor perda por evaporação;
  • menor perda para o solo;
  • menor risco de contaminação de lavouras vizinhas;
  • menor impacto ambiental (devido ao menor uso de produto e diminuição de desperdícios).
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Desvantagens 

Para a agricultura, os resultados têm apresentado baixa consistência, devido à baixa carga aplicada.

Outro ponto importante diz respeito à avaliação do custo benefício deste equipamento. E isso está diretamente relacionado com o custo do equipamento.

Custos e equipamentos para a pulverização eletrostática

A pulverização eletrostática pode ser realizada em pulverizadores costais ou nos pulverizadores de barra, axiais ou até mesmo aéreos.

Pulverizadores com essa tecnologia apresentam preços superiores aos mesmos equipamentos convencionais.

Entretanto, a médio prazo, o valor do equipamento é coberto. Afinal, dentre as vantagens, há economia de calda e redução de custos de produção.

A Embrapa Meio Ambiente desenvolveu um kit de adaptação de baixo custo para pulverizadores do tipo costal.

Kit de adaptação de pulverização eletrostática desenvolvido pela Embrapa

Kit de adaptação desenvolvido pela Embrapa
(Fonte: Embrapa)

Esse kit, na época de seu desenvolvimento, custou cerca de R$ 100. Ele podia ser adaptado a qualquer pulverizador hidráulico do mercado.

Porém, por envolver corrente elétrica, a segurança deve vir sempre em primeiro lugar.

Para isso é interessante adquirir os pulverizadores já adaptados das diversas empresas existentes no mercado.

O tipo de pulverizador a ser adquirido é o que mais influencia no preço.

Um pulverizador costal é muito mais barato do que um pulverizador de barra ou axial, por exemplo.

Dentro da mesma categoria, existem muitas variações nos preços destes equipamentos, desde R$ 200 a R$ 2.000. Isso acontece porque essa é uma tecnologia ainda em desenvolvimento.

>> Leia mais:  “Limpeza de pulverizador agrícola com segurança: Confira passo a passo!

Conclusão

A pulverização eletrostática tem enorme potencial para redução das perdas na aplicação de agroquímicos.

Além de reduzir as perdas, essa técnica pode aumentar os níveis de controle de pragas e doenças.

Seu sucesso depende do desenvolvimento de novas tecnologias, capazes de formar gotas menores e com maiores intensidades de carga.

Considere as vantagens e as desvantagens desse tipo de pulverização de acordo com as necessidades do seu plantio, e faça um bom planejamento.

>> Leia mais:

Aplicação Localizada de Insumos para Otimizar os Custos da sua lavoura

Drone para pulverização: Como funciona e principais modelos do mercado

Você já conhecia a tecnologia de pulverização eletrostática? Já fez o uso em sua propriedade? Deixe seu comentário abaixo!

Uso de Bacillus subtilis no controle de nematoides na soja

Bacillus subtilis no controle de nematoides: veja como utilizar e conheça as vantagens e desvantagens da sua aplicação 

Os nematoides são parasitas presentes no solo. Eles podem causar danos severos à lavoura.

O uso de agentes biológicos, como a aplicação de Bacillus subtilis, é uma ferramenta interessante para o manejo dessas pragas na soja. 

Neste artigo, você saberá mais sobre o Bacillus subtilis e como utilizá-la no manejo de nematoides da sua lavoura.

Nematoides na cultura da soja

Os nematoides são organismos de formato parecido com o de um verme, dificilmente visíveis a olho nu. Eles podem ocasionar danos severos à lavoura quando não controlados.

Por causa de características como formação de estruturas de resistência e por atacarem várias espécies de plantas, são de difícil controle.

Os principais nematoides que atacam a cultura da soja são os formadores de cistos e de galhas.

Os nematoides de cisto (Heterodera glycines) produzem uma estrutura de resistência (cisto). Essa estrutura permite a sobrevivência dos ovos por muito tempo no solo.

Os nematoides das galhas  (Meloidogyne javanica e Meloidogyne incognita) produzem protuberâncias denominadas galhas nas raízes.

Seu ataque na lavoura pode ser identificado pela presença de manchas ou reboleiras, contendo plantas amareladas e com crescimento irregular. 

O manejo é realizado através de técnicas como a rotação de culturas, uso de cultivares resistentes, uso de agrotóxicos e cultivo em áreas livres da praga.

Uma alternativa interessante para o manejo de nematoides na soja é o controle biológico, através do uso de organismos vivos, como bactérias.

O uso de bactérias do gênero Bacillus sp., como Bacillus subtilis, vem sendo empregado com sucesso para o controle desses patógenos

Uso de Bacillus subtilis no controle de nematoides

O Bacillus subtilis é uma bactéria que ocorre naturalmente nos solos, principalmente naqueles bem estruturados e com boa matéria orgânica.

Essa espécie tem a capacidade de colonizar as raízes das plantas, e também pode ser chamada de rizobactéria.

É uma espécie muito estudada para o controle biológico. Ela tem a capacidade de produzir compostos tóxicos aos patógenos, como compostos antimicrobianos e antifúngicos.

Essas substâncias interferem no ciclo reprodutivo da praga, além da indução de resistência na planta.

Outra característica importante desta espécie é sua ação no controle de nematoides.

Sua eficácia já foi verificada em várias culturas agrícolas, como cana-de-açúcar, tomate e soja. 

Na tabela abaixo, você pode observar a redução no número de ovos de nematoides (Meloidogyne spp.) em raízes de plantas de soja após a inoculação das sementes com Bacillus subtilis.

tabela com número de ovos de Meloidogyne spp. em raízes de dois genótipos de soja (BRS 184 e BRS 282), em função do tratamento de sementes com carbofurano e Bacillus subtilis (Alvorada do Sul, PR, 2010)

Número de ovos de Meloidogyne spp. em raízes de dois genótipos de soja (BRS 184 e BRS 282), em função do tratamento de sementes com carbofurano e Bacillus subtilis (Alvorada do Sul, PR, 2010)
(Fonte: Araújo et al.,2012)

Além do controle de patógenos e nematoides, o Bacillus subtilis é uma bactéria promotora de crescimento.

Ao se associar com as raízes das plantas, ela melhora a disponibilidade de nutrientes

Além disso, através de compostos antimicrobianos e fitorreguladores, proporciona melhor sanidade e crescimento à cultura.

Quando e como aplicar o Bacillus subtilis?

Já existem no mercado produtos à base de Bacillus subtilis para aplicação em diversas culturas.

A época e a forma de aplicação dependem do produto usado.

A aplicação pode ser feita em pré-semeadura, como tratamento de sementes ou no sulco de semeadura. 

Também pode ser feita no solo em que será realizado o plantio, no caso de mudas. 

Em pós-semeadura ou plantio, a aplicação pode ser realizada através de pulverizações diretamente sobre as culturas ou no solo.     

Vantagens e desvantagens do uso de Bacillus subtilis no controle de nematoides

Além de vantagens como ação tóxica contra patógenos e nematoides e a promoção de crescimento nas plantas, a aplicação de Bacillus subtilis apresenta outros benefícios, como:

  • baixo custo;
  • fácil aplicação;
  • boa eficiência;
  • baixa toxidez;
  • não deixam resíduos no ambiente;
  • pode ser aplicado em diversas culturas além da soja;
  • não possui período de carência.

 Por outro lado, a utilização desta ferramenta apresenta algumas desvantagens:

  • o ambiente deve ser favorável para o seu desenvolvimento. Sua eficácia depende de fatores como pH, temperatura, aeração e tipo de solo, dentre outros;
  • são necessários maiores cuidados no transporte e armazenamento;
  • pode apresentar incompatibilidade com alguns produtos, principalmente inseticidas e fungicidas utilizados no tratamento de sementes.
planilha de produtividade da soja Aegro, baixe agora

Conclusão

Os nematoides são pragas de difícil controle e que podem ocasionar perdas importantes na lavoura.

O uso de Bacillus subtilis no controle de nematoides pode ser uma excelente ferramenta na soja e em muitas outras culturas.

Além do controle destas pragas, seu uso apresenta inúmeras vantagens: dentre elas a promoção do crescimento das plantas, podendo refletir em maior produtividade.

Por outro lado, por ser um organismo vivo, depende de alguns fatores para que a sua utilização seja eficiente. Também atente-se a eles no momento de realizar o manejo.

>> Leia mais:

“5 maneiras de controlar os nematoides na soja”

“Como a crotalária controla nematoides em sua lavoura”

Restou alguma dúvida sobre o uso de Bacillus subtilis no controle de nematoides em soja? Deixe seu comentário abaixo!

Guia completo de análise e manejo dos principais nematoides no algodão

Nematoides no algodão: conheça as principais espécies e seus sintomas, o que é a análise nematológica e como é realizado o manejo desses parasitas nos algodoais.

Os nematoides podem causar inúmeros danos às lavouras. Além disso, sua presença pode facilitar a entrada de fungos nas plantas.

Saber identificar os nematoides e determinar seu nível populacional é essencial. Assim, você consegue traçar um plano de manejo eficiente no controle desses parasitas.

Neste artigo, você conhecerá os principais nematoides da cultura do algodão. 

Você também terá um guia completo de como realizar a amostragem para análise nematológica, e assim conseguirá se planejar melhor. Confira!

Principais nematoides no algodão

No Brasil, três espécies de nematoides causam grandes prejuízos à cultura do algodão

As espécies de maior importância econômica são:

Esses nematoides estão amplamente disseminados nas regiões produtoras de algodão. Além disso, têm causado prejuízos a diversas outras culturas como soja, feijão, milho e cana-de-açúcar.

A ausência de sintomas evidentes pelo ataque de nematoides faz com que alguns sintomas sejam confundidos com problemas de compactação do solo, desequilíbrios nutricionais e estresse hídrico

Nematoide das galhas (Meloidogyne incognita)

Os nematoides das galhas têm grande importância econômica. Eles afetam diversas espécies de plantas cultivadas e não-cultivadas.

Têm maior ocorrência em condições de clima quente e em solos arenosos e médio-argilosos.

Na parte aérea das plantas atacadas por nematoides das galhas, é possível observar o amarelecimento com aspecto mosqueado das folhas (sintoma de “carijó”). Esses parasitas prejudicam o desenvolvimento das plantas. 

Plantas afetadas apresentam sistema radicular menos desenvolvido e com menor número de raízes secundárias.

Outro sintoma é a formação de galhas nas raízes. Elas ocorrem em função da penetração e infecção pelo nematoide.

O sintoma de galha facilita a identificação em campo.

Galhas nas raízes da planta de algodão provocadas por M. incognita

Galhas nas raízes da planta de algodão provocadas por M. incognita
(Fonte: LSU College of Agriculture)

Nematoide reniforme (Rotylenchulus reniformis)

O nematoide reniforme possui um grande número de hospedeiros. 

Além disso, tem a capacidade de sobreviver em condições adversas. Isso possibilita sua sobrevivência na área mesmo na ausência do hospedeiro.

O nematoide reniforme pode ser encontrado em vários tipos de solo. 

Lavouras de algodão com sintomas provocados por esse parasita podem apresentar plantas de tamanho reduzido e menor volume de raízes.

Dependendo do nível populacional de nematoides e da suscetibilidade da cultivar, pode ser observado o sintoma de “carijó” nas folhas. 

Nesse caso, as folhas apresentam áreas amareladas que necrosam com o tempo.

Sintoma de “carijó” em folha de algodão causado pelo nematoide reniforme

Sintoma de “carijó” em folha de algodão causado pelo nematoide reniforme
(Fonte: Galbieri et al., 2015)

Nematoide das lesões radiculares (Pratylenchus brachyurus

A espécie Pratylenchus brachyurus é conhecida como nematoide das lesões radiculares

Esse nematoide tem ampla gama de hospedeiros (inclusive plantas daninhas). Tem maior ocorrência em solos de textura média.

Ele destrói o sistema radicular das plantas, provocando sintomas como podridão e necrose, diminuindo o número de radicelas. 

As plantas afetadas também podem apresentar clorose e murchamento.

 À esquerda, raízes necrosadas pelo parasitismo do nematoide das lesões radiculares. À direita, galhas provocadas por Meloidogyne incognita (plantas com 80 dias após a inoculação)

 À esquerda, raízes necrosadas pelo parasitismo do nematoide das lesões radiculares. À direita, galhas provocadas por Meloidogyne incognita (plantas com 80 dias após a inoculação)
(Fonte: Boletim P&D – IMAmt)

Interação entre nematoides e fungos de solo

A associação entre nematoides e fungos de solo é bastante comum. 

O ataque dos nematoides aos tecidos radiculares facilita a entrada de fungos fitopatogênicos na planta

Além disso, predispõe fisiologicamente as plantas de algodão a ação do fungo.

Nematoide das galhas, nematoide reniforme e nematoide das lesões radiculares apresentam associação com fungos do gênero Fusarium e Verticillium

Assim, doenças causadas por esses fungos são favorecidas na presença desses nematoides.

Análise nematológica

A análise nematológica tem por objetivo quantificar a população de nematoides e também identificar as espécies parasitas. 

A avaliação é feita somente em laboratório. O eficiente manejo de nematoides está diretamente relacionado à análise nematológica. 

É preciso ter conhecimento das espécies presentes na área e seu nível populacional para estabelecer estratégias de controle. Conhecer o histórico da área também é fundamental.

Quando fazer a amostragem

A amostragem deve ser realizada durante o florescimento da cultura

É nessa fase que as plantas estão em pleno desenvolvimento. Os nematoides podem ser encontrados em elevados níveis populacionais nas raízes e no solo.

No final da fase reprodutiva, as raízes das plantas entram em senescência e a população de nematoides diminui.

Material para amostragem

Confira quais materiais são necessários para a coleta das amostras de solo e raízes:

  • balde;
  • enxada;
  • pá;
  • tesoura de poda;
  • sacos plásticos (previamente identificados);
  • caixa térmica.

Como coletar as amostras

Para a coleta das amostras, caminhe em zigue-zague pela área. A coleta deve ser feita na linha de plantio a uma profundidade de 25 cm.

Em áreas com suspeita de ocorrência de nematoides reniformes, a profundidade de amostragem deve ser entre 20 cm e 40 cm.

O material coletado deve conter solo e raízes finas da cultura de interesse agronômico. 

O solo coletado deve ser aquele que se encontra localizado próximo ao sistema radicular da planta.

Em relação ao número de subamostras, amostre entre 20 e 25 pontos a cada 10 hectares, no máximo.

As subamostras devem ser homogeneizadas em um balde, formando uma amostra composta. 

A amostra composta deve ser formada por aproximadamente 500 g de  solo e 50 g de raiz por área amostrada.  

Armazene as amostras em sacos plásticos previamente identificados com uma ficha de coleta. As raízes e o solo devem estar acondicionados no mesmo saco plástico.

Na ficha de coleta, insira informações como:

  • número da amostra;
  • cultivar plantada;
  • sintomas;
  • tipo de solo;
  • sistema de plantio;
  • data de semeadura;
  • local;
  • data da coleta. 

Transporte as amostras até o laboratório de nematologia o mais rápido possível

Os sacos de amostras podem ser armazenados em caixas térmicas durante esse processo, para melhor conservação do material. 

Caso o material não seja levado rapidamente para o laboratório, você pode armazená-lo em geladeira por um período máximo de 4 dias.

No laboratório, é realizada a extração e isolamento dos nematoides presentes na amostra. Após esse processo, os nematoides são identificados e quantificados.

Esquema de amostragem, homogeneização, acondicionamento, identificação, transporte de amostras de solo e raiz da cultura do algodoeiro para quantificação de fitonematoides

Esquema de amostragem, homogeneização, acondicionamento, identificação, transporte de amostras de solo e raiz da cultura do algodoeiro para quantificação de fitonematoides
(Fonte: Galbieri et al., 2015)

Cuidados na amostragem

Veja alguns cuidados que você deve adotar na coleta das amostras para análise nematológica:

  • não realizar a amostragem quando o solo estiver muito seco ou muito úmido;
  • não molhar o solo para facilitar a coleta;
  • não coletar amostras no centro de reboleiras de plantas com severos sintomas;
  • na presença de reboleira de plantas com sintomas, a amostragem deve ser feita nas plantas da periferia da área afetada;
  • coletar apenas raízes vivas da cultura de interesse agronômico;
  • utilizar sacos plásticos resistentes e limpos para armazenar as amostras;
  • identificar corretamente as sacos plásticos;
  • não deixar as amostras expostas ao sol ou à condições de altas temperaturas;
  • utilizar caixas térmicas para o transporte das amostras até o laboratório;
  • os equipamentos utilizados na amostragem devem ser limpos ao mudar o talhão de coleta.

Manejo de nematoides no algodão

A primeira medida de controle é evitar a contaminação da área. 

Para isso, não esqueça de limpar os implementos agrícolas ao mudar de talhão. Isso evita que torrões de terra contendo nematoides sejam transportados para uma área isenta. 

Para a redução do nível populacional de nematoides na área, a rotação de culturas com espécies que não são hospedeiras desses parasitas é uma boa opção. 

O manejo de nematoides também envolve o uso de genótipos tolerantes e o controle de plantas daninhas no período da entressafra.

A nutrição balanceada da lavoura também é essencial para aumentar a tolerância das plantas ao ataque de nematoides.

O controle biológico com bactérias e fungos nematógafos também é indicado para o manejo. No Brasil, já é possível encontrar no mercado alguns nematicidas biológicos

Outro método de controle é o químico

Abaixo estão listados alguns produtos registrados pelo Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) para o controle de nematoides na cultura do algodão

tabela de nematicidas registrados para a cultura do algodão no Brasil, segundo o Mapa

Nematicidas registrados para a cultura do algodão no Brasil, segundo o Mapa
(Fonte: adaptado de Boletim P&D – IMAmt)

planilha de produtividade do algodão Aegro

Conclusão

Três espécies de nematoides causam danos à cultura do algodão no Brasil: nematoide das galhas, nematoide reniforme e nematoide das lesões radiculares.

Doenças provocadas por fungos do gênero Fusarium e Verticillium são favorecidas na presença desses parasitas.

Caso encontre sinais dos nematoides em sua lavoura, faça a análise nematológica o mais rápido possível. 

Nessa análise, você terá a quantificação e a identificação dos nematoides presentes na amostra. 

Ao realizar o manejo, lembre-se que práticas culturais, controle químico e biológico, e o plantio de cultivares tolerantes são as melhores opções.

>> Leia mais:

“Como a crotalária controla nematoides em sua lavoura”

Você já enfrentou problemas com nematoides no algodão? Realizou a análise nematológica? Quais estratégias de manejo adotou? Conte sua experiência nos comentários.