Entenda como a biotecnologia no algodão pode melhorar o controle de Spodoptera e Helicoverpa na sua lavoura

Biotecnologia no algodão: como novas cultivares Bt podem ser eficientes e trazer resultados mais positivos à produção

Diversos desafios são enfrentados pelo produtor para tirar da lavoura o máximo lucro. 

Os custos com aplicações de defensivos no controle de pragas e doenças podem representar uma fatia grande do orçamento, isso sem contar com possíveis danos ambientais e de saúde dos trabalhadores. 

Na cotonicultura, a tecnologia Bt pode ajudar a controlar duas pragas que dão muita dor de cabeça: Spodoptera frugiperda e Helicoverpa.

A seguir, entenda melhor como a biotecnologia no algodão pode ser benéfica para diminuir custos e melhorar a produtividade da sua lavoura!

A biotecnologia e o controle de pragas da lavoura

A biotecnologia vem auxiliando de forma estratégica no melhoramento de diversos setores. Com o setor primário não seria diferente. 

Plantas tolerantes à seca, ao ataque de pragas, resistentes a doenças, entre diversas outras características que vemos em inúmeras cultivares, estão ligadas aos processos de melhoramento vegetal e ao avanço da biotecnologia na agricultura.

Mas e o que é biotecnologia? A biotecnologia é um conjunto de técnicas que utilizam organismos no desenvolvimento de novos produtos, em geral modificando o material genético do produto foco. Daí vem o nome Organismos Geneticamente Modificados, os famosos OGMs.

A biotecnologia ocupa espaço importante na produção de novas cultivares. Estudos na área permitem a identificação e seleção de genes de interesse que são capazes de expressar características agronômicas desejáveis e melhorar a produção e a produtividade.

Como o avanço das pragas e doenças no campo é muito rápido, assim também precisa ocorrer o desenvolvimento de plantas que sejam resistentes e/ou tolerantes a determinado organismo. 

Além desta maior rapidez, a biotecnologia auxilia em transformações mais estáveis, o que pode conferir maior duração das características desejadas no campo. 

Não podemos esquecer que pragas e doenças também evoluem com o passar dos anos e desenvolvem estratégias genéticas para superar a resposta do sistema imune das plantas.

A tecnologia Bt utiliza os genes da bactéria de solo Bacillus thuringiensis. Essa bactéria produz proteínas tóxicas que determinam a morte de determinados tipos de insetos. Quando introduzido no material genético da planta, essas proteínas conferem ação inseticida.

imagem que representa laboratório - biotecnologia no algodão

(Fonte: Tecnologia Cultura)

Biotecnologia no algodão

A cotonicultura é uma cultura de alto valor no Brasil, sendo nosso país o quinto maior produtor e segundo maior exportador do mundo. 

Diversas pragas e doenças atacam as plantas do algodoeiro, mas as que causam danos diretos, no botão floral, são as de maior importância na cultura.

A lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda) e a lagarta Helicoverpa (Helicoverpa armigera) são dois exemplos de pragas que determinam enormes perdas na lavoura.

Essas lagartas podem danificar tanto plantas jovens quanto folhas, botões florais e as maçãs em desenvolvimento. 

Esses danos irão acarretar diminuição da produção e redução da qualidade das fibras.

foto de Helicoverpa em maçã de algodão

Helicoverpa em maçã de algodão 
(Fonte: Embrapa)

O algodão Bt traz em seu material genético a resistência ao ataque destas pragas de forma mais estável e duradoura. 

Mas não é de hoje que o algodão Bt está no campo. O primeiro algodão transgênico foi aprovado no Brasil em 2005 pela CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança). 

De lá para cá, muitas proteínas foram descobertas e, recentemente, novas cultivares foram lançadas no mercado.

Vantagens do algodão Bt

O algodão Bt traz vantagens para quem está no dia a dia na lavoura:

  • possui ação inseticida permanente na planta;
  • menores custos de aplicações;
  • menores danos nas plantas e, consequentemente, menor a perda econômica do cultivo;
  • menor agressão ambiental e de exposição dos trabalhadores rurais devido aos menores volumes de inseticidas aplicados.

Desvantagens do algodão Bt

  • mais investimento para aquisição das sementes.
  • manejo específico na aplicação da tecnologia.

Algodão Bt e controle das pragas Spodoptera e Helicoverpa

Recentemente foi lançada a biotecnologia Widestrike®3, na verdade em sua terceira geração.

Desenvolvida pela Corteva Agriscience e a Tropical Melhoramento & Genética (TMG), chega aos produtores na safra 2020/2021 com a promessa de alta produtividade e controle de amplo espectro das lagartas que atacam a cultura. 

As cultivares trazem no código genético modificado três proteínas das bactérias Bacillus thuringiensis, ou seja conteúdo Bt. 

A ação conjunta das proteínas Cry1F, Cry1Ac e Vip3A conferem às plantas potencial inseticida à Spodoptera e à Helicoverpa, simultaneamente.

Serão duas cultivares oferecidas no mercado com esta tecnologia: 

  • TMG 50WS3 – mais precoce, alto potencial produtivo, tolerância à ramulária e qualidade de fibra
  • TMG 91WS3 – alto teto produtivo, ampla adaptabilidade e elevado peso de capulho.

Estas cultivares são indicadas para os estados do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Bahia, Piauí, Maranhão, Minas Gerais e São Paulo.

Ao utilizar desta tecnologia, existem ainda recomendações fundamentais quanto ao manejo destas plantas no campo:

Consulte sempre o técnico responsável pelo acompanhamento da sua lavoura para maiores orientações!

Como escolher a melhor cultivar de algodão para sua lavoura

Para escolha da melhor cultivar para plantio do algodão, existem diversas características edafo-climáticas que devem ser consideradas. 

Abaixo listamos algumas das mais importantes:

  • rendimento de fibra
  • produtividade ou rendimento de pluma
  • nível de resistência e tolerância a doenças e ao ataque de insetos
  • adaptabilidade ao clima da região
  • necessidades nutricionais 
  • necessidades de rega
  • rusticidade

Uma condição bastante relevante que você pode considerar na sua tomada de decisão é a presença de ensaios técnicos e de campos experimentais na sua região. 

Observe quais cultivares deram certo nestes casos e apresentaram bons resultados das características citadas acima. Isso pode ajudar a escolher a melhor cultivar de algodão para sua propriedade.

E lembre-se: o cultivo dentro do zoneamento agroclimático também deve ser considerado na sua escolha. Isso porque, além de já atestadas as melhores condições para produção, irá influenciar na tomada de seguro agrícola no caso de sinistro.

planilha de produtividade do algodão Aegro

Conclusão

O desenvolvimento da biotecnologia vem avançando a passos largos para auxiliar os produtores de algodão no seu sucesso na lavoura. 

Como vimos neste artigo, novas cultivares já trazem tecnologia suficiente para controlar de forma eficaz pragas como a Spodoptera frugiperda e a Helicoverpa.

Discutimos ainda as características que você deve considerar para a escolha de melhor cultivar para a lavoura.

Com as informações passadas aqui, espero que você aproveite todo o esforço científico investido, otimize as atividades rotineiras no campo e maximize seus ganhos no final da safra!

Você já utilizou cultivares Bt na sua fazenda? Restou alguma dúvida sobre biotecnologia no algodão? Vamos continuar essa conversa nos comentários abaixo!

O que você precisa saber sobre o mecanismo de ação dos inseticidas neonicotinoides, organofosforados e carbamatos

Mecanismo de ação dos inseticidas neonicotinoides e outros: como eles funcionam no combate às pragas da sua lavoura

Você sabe como exatamente funcionam inseticidas do tipo neonicotinoides, organofosforados e carbamatos?

O mecanismo de ação de um inseticida neurotóxico varia de acordo com o princípio ativo e grupo químico. 

Aqui você irá compreender melhor sobre os mecanismos de ação dos neonicotinoides, organofosforados e carbamatos. Eles agem no sistema nervoso dos insetos e é importante que você entenda o que os diferencia. Confira a seguir!

O que são os inseticidas neurotóxicos?

Existem diversos inseticidas no mercado agrícola com diferentes grupos químicos, que podem atuar sobre:

  • sistema nervoso e/ou a musculatura;
  • desenvolvimento e crescimento;
  • intestino médio;
  • respiração;
  • e alguns que têm ação desconhecida.

Os inseticidas neurotóxicos são aqueles que agem no sistema nervoso dos insetos. Mas não existe somente uma forma e sim várias delas.

O sistema nervoso é composto por células nervosas chamadas de neurônios, responsáveis pelas funções de sensação, coordenação e condução

Imagem ilustrativa de um neurônio

Imagem ilustrativa de um neurônio
(Fonte: Larry Keeley – YouTube)

Além dos neurônios, existem as células gliais que dão suporte, proteção e nutrição aos neurônios. 

O sistema nervoso central dos insetos fica localizado na parte ventral do corpo e consiste do cérebro ou gânglio, localizado na região central da cabeça, e uma série de gânglios da corda nervosa ventral ao longo do corpo. 

Imagem ilustrando o sistema nervoso central de um inseto ortóptero (em amarelo) - artigo sobre mecanismo de ação dos inseticidas neonicotinoides

Imagem ilustrando o sistema nervoso central de um inseto ortóptero (em amarelo)
(Fonte: Larry Keeley – YouTube)

Os inseticidas neurotóxicos vão atuar no corpo dos insetos, perturbando as funções elétricas do sistema nervoso, como nas sinapses, por exemplo, onde agem os neurotransmissores para transmitir os impulsos nervosos. 

Dentre os inseticidas, existem vários grupos químicos com diferentes modos ou mecanismos de ação em alguma parte desse sistema. 

Além disso, dentre os grupos químicos, são diversos os ingredientes ativos, ou seja, diferentes estruturas moleculares para atuar com aquele mesmo princípio ativo.

Vou te explicar melhor sobre eles.

Mecanismo de ação dos inseticidas neonicotinoides

Os neonicotinoides são inseticidas de ação sistêmica e de contato. Devido às suas características físico-químicas, podem penetrar nos tecidos das plantas após aplicação e translocar por todas as partes por meio dos vasos condutores de seiva. 

Independente da forma de aplicação, conseguem atingir toda a planta e agem nos organismos, principalmente, naqueles que se alimentam succionando os tecidos.

O mecanismo de ação dos neonicotinoides é a atuação como agonistas da acetilcolina. 

O que acontece é que, após ocorrer a sinapse (onde ocorre comunicação entre os neurônios), as moléculas inseticidas se ligam aos receptores nicotínicos da acetilcolina localizados no neurônio pós-sináptico. 

O resultado disso, é um estímulo constante da mensagem da acetilcolina no sistema, o que gera impulsos nervosos transmitidos continuamente, levando à hiperexcitação do sistema nervoso, com consequente paralisia e morte do organismo. 

Existem diferentes ingredientes ativos no grupo químico dos neonicotinoides que são: 

  • Acetamiprido;
  • Clotianidina;
  • Dinotefuran;
  • Imidaclopride;
  • Nitenpiram; 
  • Tiaclopride;
  • Tiametoxam. 
captura de tela da tabela de ingredientes ativos de neonicotinoides registrados no site do Mapa

Ingredientes ativos de neonicotinoides registrados no site do Mapa
(Fonte: Mapa)

Os mais utilizados e que têm maior número de produtos registrados no Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) são acetamiprido, imidaclopride e tiametoxam.  

São utilizados em culturas muito distintas pelo fato de controlarem insetos polífagos, como mosca-branca, pulgões, cigarrinhas e percevejos. 

Como agem os inseticidas organofosforados e carbamatos

São inseticidas que agem por contato e ingestão, e inibem a ação da enzima acetilcolinesterase (que é responsável pela eliminação da acetilcolina no momento no estímulo nervoso).

As moléculas destes inseticidas apresentam conformações estruturais que permitem um encaixe na molécula de acetilcolinesterase.

Organofosforados: por meio do grupamento fosfato.

Carbamatos: por meio do grupamento carbamila.

A hidrólise, ou quebra, da molécula de acetilcolina no corpo do inseto acontece de forma lenta devido ao grupamento fosfato (organofosforados) e ao grupamento carbamila (carbamatos).

Em consequência, há acúmulo de moléculas de acetilcolina na sinapse, que também leva o inseto a uma hiperexcitação, com consequente morte de maneira rápida. 

Esses inseticidas foram muito utilizados até a década de 1990. Entretanto, com a descoberta de diversas outras moléculas atuando no sistema nervoso central dos insetos, e com risco de toxicidade mais baixo, o uso desses grupos químicos foi sendo reduzido.

Hoje, no site do MAPA, é possível encontrar diversos ingredientes ativos registrados dos organofosforados, mas um número bem reduzido de carbamatos. 

Principais ingredientes ativos dos organofosforados disponíveis comercialmente no mercado:

  • Acefato;
  • Cadusafós;
  • Clorpirifós;
  • Dimetoato;
  • Etoprofós;
  • Fenamifós;
  • Fenitrotiona;
  • Fosmete;
  • Fostiazato;
  • Malation.

Para o grupo químico dos carbamatos, existe apenas um ingrediente ativo disponível que é cloridrato de propamocarbe

Todos esses inseticidas são utilizados para o controle de um vasto número de pragas por agir de maneira bastante generalizada.

Além disso, os organofosforados agem como inseticidas, acaricidas, nematicidas e formicidas. 

captura de tela com tabela de ingredientes ativos de organofosforados registrados no site do Mapa

(Fonte: Mapa)

Vantagens e desvantagens dos inseticidas neurotóxicos

Mesmo sendo muito úteis na agricultura, os neonicotinoides, os carbamatos e os organofosforados têm suas vantagens e desvantagens. 

É importante que você se atente a essas informações para não cometer equívocos ao utilizar esses produtos.

Vantagens

  • Costumam ser baratos e de fácil aquisição;
  • São rapidamente absorvidos pela camada de cera da cutícula para entrar no corpo do inseto;
  • Rápida ação em pragas-alvo;
  • A maioria dos produtos tem boa persistência no campo;
  • Têm amplo espectro de ação e podem atingir várias espécies de insetos-praga.

Desvantagens

  • Por terem amplo espectro de ação, podem atingir organismos não-alvo como predadores e parasitoides. Isso quer dizer que, em sua maioria, não são inseticidas seletivos aos inimigos naturais;
  • Podem afetar o Manejo Integrado de Pragas (MIP) se forem utilizados de maneira irracional;
  • Também podem causar distúrbios neurológicos em animais vertebrados, incluindo o homem;
  • A maioria persiste no ambiente e pode afetar os organismos não-alvo;
  • A exposição constante das pragas a esses inseticidas pode causar seleção de insetos resistentes;
  • Muitos neonicotinoides têm causado problemas em polinizadores, o que pode gerar um grande desequilíbrio. 
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Conclusão 

Aqui você viu um pouco sobre três grupos químicos que agem no sistema nervoso dos insetos. Aprendeu sobre o mecanismo de ação dos inseticidas neonicotinoides, organofosforados e carbamatos.

São inseticidas de rápida ação, mas que o seu uso tem vantagens e desvantagens.

Por isso, é muito importante que você analise bem a sua cultura, as reais necessidades de controle das pragas e quais as doses necessárias para aplicação no campo.

Lembre-se que utilizar inseticidas sem necessidade pode te causar alguns problemas. Se utilizados da maneira correta, podem te auxiliar na redução das pragas da área. 

>> Leia mais:

“Como fazer o melhor uso de inseticida na dessecação da lavoura”

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Como evitar e controlar a mancha de Phoma no cafeeiro

Mancha de Phoma no cafeeiro: entenda as condições para ocorrência e os principais cuidados para prevenção e controle.

Inúmeras doenças podem ocorrer em diferentes estágios da lavoura de café. Não é fácil!

Além da conhecida ferrugem, temos algumas doenças que podem causar danos na flora do cafeeiro, dentre elas, a mancha de Phoma. 

A mancha de Phoma é uma das principais doenças que atacam a florada do café, mas seu monitoramento e controle deve começar ainda antes desse período.

Separei alguns pontos importantes para entender essa doença e o que fazer para prevenir e controlá-la. Confira a seguir!

Doenças da florada do café

Antes de falar da mancha de Phoma no cafeeiro propriamente dita, é importante relembrar que existem diversas doenças que podem acometer o cafeeiro durante seu ciclo produtivo, como mostra a figura abaixo.

Se repararmos bem nessa figura, podemos observar que as principais doenças que acometem o cafeeiro durante o período da florada são a mancha de Phoma e a mancha aureolada. 

Embora o assunto desse artigo seja a mancha de Phoma, é importante destacar que essas duas doenças geralmente ocorrem ao mesmo tempo no cafeeiro. 

A mancha de Phoma no cafeeiro

O primeiro registro da mancha de Phoma no Brasil se deu nos anos 70. Desde então, ela foi disseminada pelas principais regiões produtoras do país. A doença é causada pelos fungos do gênero Phoma spp., daí vem seu nome. 

Esses fungos penetram nas folhas, frutos e brotações do café, infeccionando-os. E isso pode ser facilitado por lesões mecânicas pré-existentes, como as que a colheita mecanizada pode ocasionar. 

Condições ambientais favoráveis

A mancha de Phoma é disseminada por respingos de chuva/irrigação e é favorecida por temperaturas amenas e alta umidade. Portanto, regiões mais altas e amenas apresentam mais problemas.

Isso não significa dizer que a doença não pode ocorrer em situações de baixa altitude, já que, se as condições favoráveis ocorrerem, a doença pode se manifestar. Mas que condições são essas?

  • Temperaturas próximas a 18℃;
  • Alta umidade;
  • Ventos frios.

Períodos prolongados com essas condições, associados ao ataque de pragas e danos de geada podem favorecer a ocorrência da Phoma, mesmo em locais mais baixos ou até em viveiros.

Sintomas da mancha de Phoma

São vários órgãos atacados e sintomas distintos provocados pela Phoma, já que ela pode atacar folhas, ramos e frutos. 

Nas folhas mais novas, observa-se geralmente manchas escuras e circulares, que se expandem e tomam a folhas, encurvando-a. 

Sintomas de mancha de Phoma em folhas
Sintomas de mancha de Phoma em folhas
(Fonte: Vicente Luiz de Carvalho/Epamig)

A mancha de Phoma também pode causar danos aos botões florais, morte ascendente dos ramos produtivos (die-back) e a mumificação dos chumbinhos no pós-florada. 

Seca dos ponteiros por mancha de Phoma
Seca dos ponteiros por mancha de Phoma
(Fonte: Agrolink)
Mumificação dos chumbinhos
Mumificação dos chumbinhos
(Fonte: Vicente Luiz de Carvalho/Epamig)

Portanto, a mancha de Phoma pode impactar diretamente na produção do cafeeiro, matando o crescimento vegetativo e também as flores e os frutinhos já formados.

Formas de controle da mancha de Phoma no cafeeiro

Geralmente, é utilizado o controle químico preventivo, mas existe a possibilidade de se realizar o controle cultural da Phoma. 

Cabe destacar também que  uma nutrição correta e bem dimensionada, além do controle de pragas, são práticas fundamentais para a resiliência de qualquer lavoura. 

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Controle cultural

Como vimos anteriormente no artigo, ventos frios podem favorecer a ocorrência de Phoma. Por isso, o uso de quebra-ventos pode ser uma maneira de prevenir que isso ocorra.

Além disso, em áreas com condições favoráveis, espaçamentos mais adensados vão contribuir para o agravamento do problema. Melhor será utilizar espaçamentos maiores.

Controle químico

Em áreas onde as condições são favoráveis para o desenvolvimento da mancha de Phoma, o controle químico deve ser feito de forma preventiva, iniciando no outono-inverno, visando a pré-florada.

O controle deve seguir até a fase de chumbinho, já que o cafeeiro apresenta várias floradas. Isso garante uma boa proteção no pós-florada. 

Qual produto utilizar?

No caso da Phoma, o ingrediente ativo mais utilizado é a Boscalida, do grupo das carboxamidas, na dose recomendada em bula. Mas existem outros ingredientes ativos disponíveis:

  • triazóis: difenoconazol, epoxiconazol, flutriafol, triadimenol, ciproconazol, propiconazol, fluquinconazol, etc.
  • dicarboxamidas: iprodione.

Essa variedade, permite o uso de diferentes produtos e isso é importante, pois pode ser que existam focos de ferrugem (Hemileia vastatrix) e mancha aureolada na lavoura

Assim, se faz necessário utilizar outros fungicidas, como misturas de estrobilurinas, triazóis e/ou carboxamidas para a ferrugem; e adição de cúpricos para a mancha aureolada.

Como aplicar?

Geralmente, 4 a 5 aplicações são realizadas. Mas a frequência de aplicações depende de monitoramento, do residual do fungicida e das condições de cada lavoura.

Aplicações com as flores presentes podem atrapalhar atingir o alvo adequadamente. Por essa razão, as aplicações pré e pós-florada (quando as pétalas já caíram) são capazes de atingir e proteger os botões florais e os chumbinhos mais facilmente.

É preciso evitar a aplicação com as flores presentes, pois as pétalas impedem que o fungicida atinja o alvo adequadamente.

Conclusão

Como pudemos acompanhar ao longo do texto, a mancha de Phoma é causada por um grupo de fungos que leva esse mesmo nome e está presente nas principais regiões produtoras de café do Brasil.

Esses fungos são favorecidos por temperaturas amenas e umidade relativa alta, portanto, ocorrem em maior frequência em plantios adensados e plantios em altitudes mais elevadas. 

Os sintomas se apresentam em folhas novas, ramos, flores e frutos e podem afetar a produtividade da lavoura de café.  

Como controle, temos que começar já no planejamento do plantio de café, incluindo quebra ventos e evitando lavouras mais adensadas nas regiões com condições predominantemente favoráveis. 

Além disso, o controle químico deve iniciar antes mesmo da florada, no outono-inverno e continuar até a fase de chumbinho, já no pós-florada. 

>> Leia mais:

“Colheita do café: evite perdas e mantenha a qualidade com estas 7 dicas”

“Tudo o que você precisa saber sobre a mancha de mirotécio no café”

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Ácaro na soja: tudo que você precisa saber

Ácaros na soja: entenda o que são, principais espécies, danos causados e como realizar o manejo eficiente para evitar a perda de produtividade da sua lavoura.

Os ácaros são pragas consideradas secundárias que, a depender das condições climáticas vigentes da safra, podem se tornar pragas primárias, requerendo seu controle adequado para evitar perdas de produtividade da soja.

Os danos causados pelos ácaros são variáveis e dependem do genótipo, região de cultivo e ano agrícola, podendo ser de mais de 400 kg/ha e representando até 33% de redução na produtividade da soja.

Isso exige atenção quanto ao seu monitoramento e ações de controle para evitar perdas maiores de produtividade na lavoura.

Mas você sabe como identificar as principais espécies de ácaros na soja? E como as amostragens de ácaros devem ser realizadas, bem como os danos causados por cada uma das principais espécies? Sabe fazer o manejo necessário para controlar as pragas na sua lavoura? 

Confira essa e outras informações a seguir!

O que são os ácaros na soja, afinal?

Os ácaros são aracnídeos, de tamanho pequeno e que podem se tornar um grande problema para as lavouras de soja.

As principais espécies de ácaros que ocorrem na soja pertencem à família Tetranychidae, incluindo:

  • Ácaro-rajado (Tetranychus urticae);
  • Ácaro-verde (Mononychellus planki);
  • Ácaro vermelho (Tetranychus desertorum, T. gigas e T. ludeni);
  • Ácaro-branco (Polyphagotarsonemus. latus).

Dessas espécies, o ácaro-rajado e o ácaro-verde são os ácaros mais encontrados nas lavouras. Mas as espécies podem variar de região para região e ano agrícola.

Os ácaros são consideradas pragas secundárias pois dependem das condições ambientais para que ocorram, no entanto, em condições favoráveis, atingem altas populações rapidamente, causando prejuízos significativos às lavouras de soja.

Quais as condições climáticas favoráveis a ocorrência de ácaros?

Essa resposta pode parecer óbvia, mas depende, pois em um cenário, em que espécies diferentes de ácaros tem causado problemas na soja, as condições ambientais de alta e baixa umidade relativa do ar podem favorecer uma ou outra espécie.

De modo geral, as principais espécies de ácaros, à exceção do ácaro-branco, são favorecidos por baixa umidade relativa do ar, associada a ocorrência de altas temperaturas, condições essas registradas em períodos de estiagem.

Essas condições aceleram não somente o ciclo dos ácaros-praga, mas também estimulam a sua alimentação, desfavorecendo por outro lado, importantes inimigos naturais, que manteriam a população de ácaros sob certo equilíbrio em condições favoráveis.

No Brasil, mais de 44 espécies de ácaros já foram relatados. Os primeiros relatos de danos ocorreram a partir da década de 1990, e desde então, danos são registrados safra após safra em diferentes regiões do país.

A maior ocorrência dos ácaros se dá por alguns motivos principais, incluindo:

  • aumento das áreas cultivadas;
  • uso de genótipos ou cultivares geneticamente modificados;
  • introdução de novos genótipos de soja;
  • ocorrência de veranicos ou secas prolongadas, associadas a altas temperaturas.

Mas quais são os danos causados pelos ácaros nas lavouras de soja? E como identificar esses pequenos aracnídeos que muitas vezes passam despercebidos aos nossos olhos?

Danos causados pelos ácaros na soja

Os ataques de ácaros em lavouras de soja podem ocorrer em diferentes momentos do desenvolvimento da cultura.

Inúmeros estudos indicam que boa parte das espécies é comumente encontrada na fase vegetativa e de enchimento de grãos, sendo favorecidos principalmente pelas condições climáticas.

Nas fases vegetativas, os ácaros prejudicam a atividade fotossintética da folha por causarem minúsculas pontuações que evoluem rapidamente para manchas contínuas. Isso influencia no crescimento e desenvolvimento das plantas.

Fios de seda característico do ácaro-rajado cobrindo o ponteiro da planta em soja em estádio reprodutivo
Fios de seda característico do ácaro-rajado cobrindo o ponteiro da planta em soja em estádio reprodutivo
(Fonte: Tamai et al., 2020)

A intensidade do ataque dos ácaros  varia de acordo com a espécie presente na lavoura.

Em áreas com a presença de ácaro-verde, por exemplo, as folhas de diferentes posições na planta podem apresentar intensidade de ataque semelhante entre si.

Já para áreas com ácaro-rajado, as folhas de uma mesma planta podem apresentar intensidades de ataques muito diferentes entre si. 

Esse pode ser um detalhe importante para auxiliar a diferenciar os ácaros no campo, apesar de ambas as espécies ocorrerem em reboleiras.

Apesar de não serem consideradas pragas primárias na maioria dos anos agrícolas, a presença de  ácaros na lavoura pode refletir em perdas acentuadas de produtividade.

Por isso, realizar o monitoramento constante da sua lavoura é fundamental para tomada de decisão a respeito do controle de ácaros.

O manejo preventivo é sempre a melhor saída, por isso utilize sementes de qualidade e realize o MIP (Manejo Integrado de Pragas).

Principais espécies de ácaros na soja 

Ácaro-verde

Os ácaros-verdes apresentam o corpo com coloração verde e pernas de cor amarelo-ouro.

Os ovos são depositados pela fêmea na superfície da folha, normalmente próximo às nervuras e possuem coloração variada de translúcida a branca.

O ataque dessa espécie ocorre em épocas de estiagem, na fase de enchimento de grãos. Normalmente, se concentra nas proximidades das nervuras e se distribui de acordo com a intensidade do ataque por toda a folha.

Ácaro-verde (Mononychellus planki) - ácaros na soja

Ácaro-verde (Mononychellus planki)
(Fonte: Agrolink)

Ácaro-rajado

O ácaro-rajado apresenta manchas dorsolaterais típicas em seu corpo, o que sugere o nome da espécie. 

Apresenta ainda setas dorsais mais longas e finas que as do ácaro-verde. 

Seus ovos são depositados pela fêmea na superfície da folha, normalmente próximo às nervuras, e tem coloração que varia de translúcida a branca. 

Essa espécie vive em colônias abrigadas sob sua teia em todas as fases de desenvolvimento.

O ataque dessa espécie também ocorre em épocas de estiagem e é bastante sensível à chuva.

Diferente do ácaro-verde, o ácaro-rajado se aloja nas plantas de forma concentrada, formando pequenas manchas.

Ácaro-rajado
Ácaro-rajado em diferentes colorações que podem ser encontradas na lavoura, padrão rajado (A) e padrão rajado (B)
(Fonte: Fasolin et al., 2015 )

Ácaro-vermelho 

Os ácaros-vermelhos apresentam o corpo com coloração vermelho-carmim que, com o passar da vida, pode se tornar vermelho-escuro.

Suas características morfológicas e hábitos se assemelham muito com o ácaro-rajado.

Ácaro-vermelho (Tetranychus ludeni)
(Fonte: Roggia, 2018 Yourlevyatwork)

Ácaro-branco

Diferentemente das demais espécies, o ácaro-branco é favorecido pela ocorrência de chuvas. Sua coloração é creme-brilhante em todas as fases de desenvolvimento.

São pequenos e difíceis de ser vistos a olho nu. Geralmente detectados apenas com lupa de aumento de pelo menos 20 vezes.

O principal diferencial entre esta espécie e as demais é a não produção de teias.

Normalmente, essa espécie ataca a face inferior de folhas novas em processo de expansão e, nas últimas safras, tem aparecido em diversas regiões de cultivo da soja.

Ácaro-branco (Polyphagotarsonemus latus) - ácaros na soja

Ácaro-branco (Polyphagotarsonemus latus)
(Fonte: Sosa-Gómez et al., 2014)

Como proteger a lavoura da soja dos ácaros?

Apesar de os ácaros serem considerados pragas secundárias na soja, eles vêm ganhando atenção em muitas regiões devido à instabilidade climática e ao uso intensivo de pesticidas, como inseticidas e acaricidas. 

Períodos prolongados de estiagem são muito favoráveis ao crescimento e desenvolvimento desta praga, e vêm sendo muito comum em algumas regiões do país nos últimos anos.

Além disso, a ausência de inimigos naturais, como ácaros benéficos (ácaros que predam ácaros-praga) e fungos (Neozygites floridana), é determinante para a ocorrência de surtos de ácaros nas lavouras. 

Por isso, a maneira mais efetiva de controlar os ácaros na soja é utilizar um manejo integrado de pragas e doenças, utilizando os defensivos de forma equilibrada, em doses adequadas, e de forma estratégica, prezando inclusive por aqueles de menor impacto aos inimigos naturais.

Manejos alternativos como controle biológico e cultural também são medidas importantes no controle da população de ácaros. 

Assim, você terá uma maior incidência de predadores naturais em sua lavoura, o que dificulta que os ácaros atinjam níveis de dano econômico.

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Controle químico

Existem alguns produtos disponíveis para o controle químico dos ácaros na cultura da soja, entre inseticidas com ação acaricida e acaricidas, que podem ser consultados no Sistema de Agrotóxicos Fitossanitários (Agrofit).

O controle de ácaros deve levar em consideração o manejo antirresistência e, para isso, é imprescindível a rotação de ingredientes ativos e a observação a campo do desempenho dos acaricidas utilizados no controle.

Para o ácaro-rajado, ainda, há a problemática da resistência. Mais informações sobre o manejo de resistência desta e demais pragas, com relatos ou atenção à sua resistência, podem ser consultados no Comitê de Ação à Resistência a Inseticidas (IRAC).

Acaricidas que contenham misturas, de abamectinas a outros grupos químicos, são frequentemente utilizados no manejo. 

Atualmente, existem mais de 44 produtos registrados para controle da cultura da soja, no caso do ácaro-rajado. Para o ácaro-branco, no entanto, a lista é mais restrita — são apenas oito.

Controle biológico

O controle biológico de ácaros com espécies como Phytoseiulus persimilis e Neoseiulus californicus é muito utilizado em outros países. 

No Agrofit é possível encontrar produtos registrados para o controle biológico – mais de 51 acaricidas classificados como microbiológicos, principalmente para o ácaro-rajado, a partir do fungo Beauveria bassiana.

Para encontrar os produtos disponíveis, é necessário clicar na aba produtos formulados (parte superior) e então em classe, e selecionar a opção Acaricidas Microbiológicos.

Controle cultural

Para evitar problemas com essas pragas, você precisa eliminar possíveis espécies hospedeiras. Nesse sentido, realize o controle dos ácaros ou sua eliminação após identificar a espécie que ocorre na sua lavoura. 

A rotação de culturas também pode ser uma alternativa para redução da população da praga. No entanto, é necessário conhecimento técnico sobre quais espécies não são hospedeiras da praga.

Conclusão

Os ácaros podem causar danos consideráveis à lavoura, podendo se tornar pragas primárias e resultando em menor produtividade da soja.

Neste artigo, você pôde conferir as características dos principais tipos de ácaros, assim como os problemas que eles podem causar.

O controle de ácaros deve seguir todas as recomendações do manejo antirresistência, para evitar a redução ou até mesmo a perda total da eficiência dos acaricidas disponíveis no mercado.

A rotação de ingredientes ativos e o uso de defensivos de forma estratégica (ou seja, quando necessário), baseado no monitoramento de pragas, priorizando o uso de acaricidas seletivos e de menor impacto aos inimigos naturais presentes na lavoura, são medidas necessárias e indispensáveis para um manejo preciso de ácaros.

>>Leia mais:

“Como identificar e realizar o controle de tripes em soja”

“Saiba tudo sobre o ácaro azul das pastagens, uma praga emergente no Brasil”

Conhece alguma fazenda com problemas com ácaros na soja? Compartilhe com os responsáveis pelo manejo de pragas da lavoura e assine nossa newsletter, para receber mais artigos como este!

Atualizado em 12 de junho de 2023 por Bruna Rhorig.

Bruna é agrônoma pela Universidade Federal da Fronteira Sul, mestra em fitossanidade pela Universidade Federal de Pelotas e doutoranda em fitotecnia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul na área de pós-colheita e sanidade vegetal.

Como funciona e o que fazer sobre a resistência de plantas daninhas a herbicidas

Resistência de plantas daninhas a herbicidas: o que é, quais os principais mecanismo e como evitar esse problema em sua lavoura. 

Atualmente, o Brasil apresenta 28 espécies de plantas daninhas com resistência simples ou múltipla a vários herbicidas.

E, novos casos surgem todos os anos, enquanto pouquíssimos herbicidas novos entram no mercado.   

Por isso, é essencial saber identificar e manejar plantas daninhas resistentes em sua lavoura, pois sua presença pode diminuir a produtividade da cultura e aumentar o custo de manejo em mais de 200%.

Pensando nisso, separei algumas informações sobre resistência de plantas daninhas. Confira!

O que é resistência de plantas daninhas? 

A resistência de plantas daninhas a herbicidas pode ser definida como habilidade hereditária de uma planta sobreviver e se reproduzir após a exposição a uma dose de herbicida normalmente letal para o biótipo selvagem da planta.

Isso ocorre devido a mutações que aumentam a variabilidade genética das plantas daninhas, tratando-se de um processo natural para assegurar a sobrevivência da espécie. 

Na prática, podemos pensar que, de maneira natural, surgiu em sua lavoura uma planta daninha com uma mutação, tornando-se resistente a um herbicida.

Assim, conforme esse herbicida é utilizado em sua lavoura, as plantas suscetíveis morrem e as resistentes sobrevivem e geram descendentes. 

Com o passar dos anos utilizando esse mesmo manejo, baseado em apenas um determinado herbicida, o produto perderá a eficiência. 

Esse fenômeno foi facilmente observado com o uso intensivo do glifosato em sistema RR, em que plantas como a buva desenvolveram resistência e se espalharam pelo Brasil inteiro pela falta de manejos alternativos. 

Agora vamos entender melhor como funcionam essas mutações e porque possibilitam que uma planta daninha sobreviva ao herbicida. 

O que é mecanismo de resistência de plantas daninhas a herbicidas?

Antes de falarmos sobre como as plantas sobrevivem a um herbicida, precisamos entender primeiro por que um herbicida mata uma planta.

Cada herbicida possui um modo de ação que determina como ele vai atuar na planta e quais injúrias irá causar. 

O mecanismo de ação do herbicida é o primeiro passo bioquímico ou biofísico no interior celular a ser inibido pela atividade herbicida.

Somente esse processo pode ser suficiente para matar plantas daninhas suscetíveis. Entretanto, geralmente são necessárias diversas outras reações ou processos para matar uma planta, cujo somatório é denominado modo de ação

Os mecanismos de ação geralmente estão associados à inibição de uma rota metabólica vital para as plantas ou à produção de espécies reativas tóxicas que degradam as células da planta. 

Por isso, para entendermos o mecanismo que torna uma planta daninha resistente a um herbicida é importante conhecer o modo de ação daquele herbicida. Assim, podemos compreender quais alterações poderiam impedir que o herbicida atue na planta.  

Essas alterações fisiológicas e/ou morfológicas que impedem que o herbicida controle uma planta daninha naturalmente suscetível são denominadas mecanismo de resistência de plantas daninhas a herbicidas. Eles podem ser classificados em dois grupos:

Mecanismos de resistência no sítio de ação ou específicos 

São mecanismos que estão ligados diretamente com o local de ação do herbicida, por exemplo, uma alteração na enzima que impede sua inibição.  

Mecanismos de resistência fora do sítio de ação ou não específicos

São mecanismos que não estão ligados diretamente ao sítio de ação, mas interferem no modo de ação do herbicida, impedindo sua atividade no local alvo, por exemplo, metabolização do herbicida.  

Principais mecanismos de resistência de plantas daninhas a herbicidas

Atualmente existem pelo menos seis mecanismos que conferem a plantas daninhas resistência a herbicidas. 

Contudo, é importante entender que, em uma mesma planta, podem ocorrer mais de um destes mecanismos, proporcionando resistência a herbicidas de um ou mais modos de ação.   

Mecanismos de resistência no sítio de ação

Alteração no sítio de ação do herbicida

Esse mecanismo altera a conformação ou forma do sítio de ação (geralmente uma enzima ou proteína) de modo que a molécula herbicida fica incapaz de se ligar apropriadamente ao local onde atua como agente inibidor. 

Desta forma, a rota metabólica segue seu curso natural e a planta não é mais afetada pelo herbicida. 

Este tem sido o mecanismo de resistência que ocorre com maior frequência nas populações resistentes de plantas daninhas. 

Amplificação gênica

Esse mecanismo ocorre devido a uma alteração genética que aumenta significativamente o número de cópias da sequência de DNA que codifica a expressão gênica de síntese da enzima relacionada à ação do herbicida. 

Assim, as plantas daninhas com esse mecanismo sintetizam inúmeras cópias da enzima alvo do herbicida, o que torna a dose utilizada ineficiente para inibir todas as cópias.

Devido à quantidade muito maior de cópias, geralmente, o aumento de dose do produto fica inviável do ponto de vista econômico e ambiental, inviabilizando o herbicida. 

Metabolização ou desintoxicação do herbicida

Esse mecanismo ocorre devido ao metabolismo da molécula herbicida a compostos não tóxicos. As principais enzimas envolvidas neste mecanismo são as mono-oxigenases do citocromo P450 e a glutationa.  

Absorção foliar e translocação diferencial do herbicida

Esse mecanismo promove menor absorção e translocação do herbicida na planta, retendo o máximo possível do produto nas folhas tratadas. 

Esse processo se dá muitas vezes por alterações morfológicas na superfície foliar (espessamento de cutícula, maior acúmulo de cera, maior número de tricomas e menor número de estômatos), que prejudicam a absorção do herbicida. 

Devido a essas barreiras desenvolvidas pela planta, a quantidade de herbicida que chega no sítio de ação não é suficiente para ocasionar sua morte. 

Translocação diferencial de herbicida de biótipos de azevém resistente (R) e suscetível (S) a glifosato - resistência de plantas daninhas a herbicidas

Translocação diferencial de herbicida de biótipos de azevém resistente (R) e suscetível (S) a glifosato
(Fonte: Fernández-Moreno et al, 2017)

Sequestro ou compartimentalização do herbicida

A base deste mecanismo é aprisionar as moléculas de herbicida em locais onde não tenham contato com o sítio de ação. Assim, as plantas sequestram o herbicida e acumulam em organelas onde não têm atividade, geralmente os vacúolos.  

Rápida necrose 

Esse mecanismo de resistência foi registrado recentemente no Brasil para um biótipo de buva. Como estratégia de defesa, a planta necrosa os tecidos que tiveram contato com o herbicida rapidamente, impedindo que o mesmo transloque pela planta. 

Devido à grande capacidade de rebrota da buva, poucas semanas após tratamentos, as plantas recuperaram os tecidos necrosados pelos herbicidas. 

RÁPIDA NECROSE DE 2,4-D EM BUVA em até 8 horas após aplicação

Como identificar a ocorrência de plantas resistentes em sua lavoura

Sempre que houver a suspeita de um novo caso de resistência em uma lavoura, é importante descartar totalmente a possibilidade de falhas no controle. 

Por isso, ao identificar um possível caso de resistência de um planta daninha, é preciso se fazer as seguintes perguntas: 

  • Os herbicidas e doses recomendados tem um bom histórico de controle daquela planta daninha? 
  • O produto foi aplicado no estádio ideal de controle?
  • A tecnologia de aplicação utilizada proporcionou uma boa cobertura do alvo? 
  • A calda de aplicação não teve problemas com incompatibilidade de produtos, dureza da água ou pH?
  • As falhas de controle ocorreram apenas para uma espécie de planta daninha?
  • Em anos anteriores, já vinha notando escape de algumas plantas da espécie ou escutava reclamações de controle em áreas vizinhas? 

Caso a resposta para todas essas perguntas seja afirmativa, é interessante que você contate uma instituição de pesquisa próxima de sua região para obter mais informações sobre possíveis casos de resistência. 

Confirmado o caso de resistência, esse contato rápido acelera os estudos de combate à resistência e facilita a contenção e manejo deste novo problema.  

9 dicas para evitar novos casos de resistência 

Para garantir que não haja seleção de resistência para novos herbicidas ou disseminação de populações resistentes para novas áreas, é muito importante que o você siga estas dicas:    

  1. Conheça o histórico de resistência da área e região;  
  2. Realize rotação de mecanismo de ação de herbicidas;
  3. Inclua herbicidas pré-emergentes no manejo;
  4. Siga os princípios básicos da tecnologia de aplicação;
  5. Realize aplicações em pós-emergência sobre plantas pequenas;
  6. Realize corretamente aplicações sequenciais;
  7. Priorize controle na entressafra;
  8. Realize rotação de culturas e adubação verde;
  9. Realize limpeza correta de máquinas ou implementos antes de utilizá-los em novas áreas.
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Conclusão

Neste artigo vimos o que é a resistência de plantas daninhas a herbicidas e conceitos importantes desta área.

Também vimos os principais mecanismos que ocasionam resistência e entendemos quais as principais perguntas para saber se há um novo caso de resistência na lavoura. 

Além disso, acompanhamos as principais dicas para manejar plantas daninhas resistentes e evitar o surgimento de novos casos. 

>> Leia mais:

“Como funciona o novo herbicida Luximo para controle de plantas daninhas resistentes”

“Como reduzir os custos da gestão de herbicidas e tornar o manejo mais eficiente”

Como funciona o herbicida tembotrione para controle de plantas daninhas

“Capim-rabo-de-raposa (Setaria Parviflora): guia de manejo”

Você enfrenta ou enfrentou casos de resistência de plantas daninhas a herbicidas em sua lavoura? Quais as mais problemáticas? Adoraria ver seu comentário abaixo!

Como prevenir e manejar o enfezamento do milho

Enfezamento do milho: principais sintomas, medidas de prevenção à doença e as formas de controle mais indicadas

O enfezamento do milho vem ganhando cada vez mais importância devido aos plantios consecutivos da cultura.

A doença pode reduzir muito a produção de grãos, colocando todo o resultado da safra a perder.

Por isso, é importante conhecer as medidas de prevenção e controle da doença, que envolvem também o manejo correto da cigarrinha-do-milho, principal transmissora dos enfezamentos. Confira!

Importância do enfezamento do milho

Há alguns anos, o enfezamento não era considerado uma doença de grande importância para as lavouras de milho.

Mas, com a expansão da área cultivada e plantios contínuos, que proporcionam ter a cultura durante boa parte do ano, essa doença começou a ter alta incidência e perdas consideráveis na lavoura.

Há relatos de que o enfezamento do milho pode causar perdas e reduzir a produção de grãos em até 70%. Algumas publicações falam até em perda total da produção. 

O enfezamento é causado por patógenos da classe dos molicutes e tem como vetor a cigarrinha-do-milho Dalbulus maidis.

Em 2020, houve vários relatos das altas populações de cigarrinha nas lavouras, o que favorece sua disseminação em plantios tardios (até de uma safra para outra) e a ocorrência da doença.

Existem dois tipos de enfezamento na cultura do milho:

  • enfezamento vermelho, causado por fitoplasma (Maize bushy stunt phytoplasma – MBSP) – Candidatus Phytoplasma asteris;
  • enfezamento amarelo, causado por espiroplasma Spiroplasma kunkelii.

Vou explicar melhor os sintomas e características de cada um deles a seguir!

Enfezamento vermelho do milho

Como sintoma do enfezamento vermelho, pode ser observada a clorose marginal nas folhas do cartucho, que depois segue para avermelhamento das folhas inferiores e diminuição das mesmas.

duas fotos com sintomas enfezamento vermelho nas folhas do milho – A- estrias cloróticas, B – Estrias avermelhadas

Sintomas enfezamento vermelho – A- estrias cloróticas, B – Estrias avermelhadas
(Fonte: Janine Palma em Mais Soja)

Nas plantas infectadas também pode ser observado maior número de espigas, que produzem pouco ou nem produzem grão

Também podem ser observadas redução do porte da planta e redução do tamanho dos entrenódios.

Enfezamento pálido do milho

O enfezamento pálido, também chamado de enfezamento amarelo tem sintomas iniciais de clorose mais acentuada na base foliar (estrias cloróticas claras da base para o ápice das folhas). Este é o sintoma que o difere do enfezamento vermelho.

Os sintomas dos enfezamentos podem ser confundidos, mas também podem ocorrer simultaneamente, pois a planta pode desenvolver o enfezamento vermelho e pálido ao mesmo tempo.

foto de enfezamento pálido do milho

(Fonte: Rodrigo Véras da Costa em Embrapa)

Sintomas dos enfezamentos vermelho e pálido:

Os principais sintomas de ambos os enfezamentos são:

  • redução do porte das plantas;
  • avermelhamento ou estrias cloróticas claras nas folhas;
  • maior espigamento, mas as espigas têm pouco ou nenhum grão;
  • grãos chochos;
  • encurtamento de entrenódios;
  • falhas na granação dos grãos;
  • redução da produtividade.

Enfezamento e o problema da cigarrinha-do-milho

Como já mencionei acima, a cigarrinha-do-milho é o vetor dos enfezamentos. Além disso, sua presença também pode causar danos nas plantas de milho pela sucção de seiva (dano direto – inseto sugador). Mas é como vetor que ela apresenta sua maior importância (dano indireto).

Além dos enfezamentos vermelho e pálido que a cigarrinha transmite, ela também pode ser vetor do vírus da risca do milho (Maize rayado fino virus – MRFV).

Na fase adulta, a cigarrinha apresenta coloração amarelo-palha, de tamanho pequeno com cerca de 4 mm. 

Como característica para a diferenciar de outras cigarrinhas da cultura do milho, ela apresenta duas manchas circulares negras bem marcadas no alto da cabeça.

O ciclo da cigarrinha, de ovo a adulto, é influenciado pela temperatura, mas dura em média 25 dias, como você pode conferir no esquema abaixo:

ciclo da cigarrinha do milho em infográfico

(Fonte: Grupo Cultivar)

Mas como ocorre a transmissão do enfezamento pela cigarrinha-do-milho? 

Explicando de forma breve, quando a cigarrinha se alimenta de plantas doentes com enfezamento, pela sucção da seiva, adquire o espiroplasma, fitoplasma ou os dois.

Depois disso, em três semanas, os molicutes se multiplicam, circulam no corpo da cigarrinha e atingem sua glândula salivar, permitindo a transmissão do enfezamento para plantas sadias quando as cigarrinhas vão se alimentar. Assim, recomeça o ciclo da doença.

A infecção normalmente ocorre em plantas jovens, mas os sintomas aparecem quando já estão adultas.

Um ponto importante é que as cigarrinhas podem migrar para longas distâncias, inclusive de uma lavoura para outra de milho, transmitindo o enfezamento,

O hospedeiro da cigarrinha é o milho, por isso, o cultivo durante vários períodos do ano e as plantas tigueras favorecem a presença do vetor e da doença na cultura.

Agora que conhecemos mais sobre os sintomas e o vetor do enfezamento do milho, vamos discutir como prevenir e manejar a doença!

Como prevenir o enfezamento do milho na sua lavoura

No planejamento da lavoura de milho, é muito importante pensar em como prevenir as doenças da cultura. Algumas medidas preventivas do enfezamento do milho são:

  • evitar o plantio próximo de áreas com milho mais velhas, que podem favorecer a presença da cigarrinha e da doença;
  • evitar plantios consecutivos de milho na mesma área;
  • sincronizar a época de semeadura do milho (em regiões com histórico de enfezamento);
  • evitar plantios tardios, para que o desenvolvimento vegetativo das plantas não coincida com o período de maior infestação da cigarrinha;
  • eliminar a presença de plantas voluntárias (tigueras) na área, pois elas servem como hospedeiras e favorecem a sobrevivência do vetor e da doença;
  • utilizar rotação de culturas, para não ter áreas com cultura de milho após milho.

Como controlar o enfezamento do milho

O manejo do enfezamento do milho tem que englobar medidas preventivas e de controle. Entre as medidas de controle estão:

  • uso de cultivares tolerantes ou resistentes ao enfezamento do milho;
  • monitoramento do vetor na plantação;
  • controle químico para o vetor, lembrando que esse manejo pode não ser eficiente para a cigarrinha do milho. Isso ocorre devido à rapidez da transmissão da doença para as plantas de milho, pois o vetor pode infectar plantas antes do controle da cigarrinha e pela entrada contínua na plantação;
  • controle biológico do vetor;
  • tratamento de sementes com inseticida;

Ou seja, recomenda-se realizar o manejo integrado, utilizando várias medidas de controle e de prevenção da doença na lavoura de milho.

Para te ajudar no monitoramento e controle da cigarrinha-do-milho, separei uma planilha gratuita. Para baixar, clique na imagem a seguir!

planilha controle da cigarrinha do milho

Caso vá utilizar inseticidas para controle, verifique quais são registrados no Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) para a doença e para a cultura (Agrofit). Para te auxiliar no manejo, procure um(a) agrônomo(a).

Conclusão

Muitas doenças podem afetar a cultura do milho. Mas, nos últimos anos o enfezamento vem ganhando importância, principalmente devido a plantios consecutivos da cultura.

Neste artigo, abordamos os dois tipos de enfezamento do milho: pálido e vermelho.

Você conferiu quais são os sintomas que permitem identificar a doença na lavoura e o que fazer como medida de prevenção.

Também aprendeu sobre a transmissão do enfezamento através de seu principal vetor, a cigarrinha-do-milho, e as medidas de controle do inseto e da doença.

Com essas informações, espero que você faça o manejo adequado e reduza as perdas na sua lavoura com enfezamento do milho.

>> Leia mais: “Tudo o que você precisa saber para o manejo da mancha-branca do milho”

Você tem problema com enfezamento do milho? Quais medidas preventivas são utilizadas? Vamos continuar essa conversa nos comentários!

O que você precisa saber para fazer aplicação de fungicidas na soja no momento ideal

Aplicação de fungicidas na soja: aplicação zero, posicionamento adequado dos produtos preventivos, curativos e muito mais!

As mesmas condições climáticas que favorecem o crescimento e desenvolvimento da cultura da soja acabam favorecendo também o desenvolvimento de algumas doenças.

A ferrugem-asiática, por exemplo, pode ser responsável por quedas de até 90% na produtividade e possui um custo médio de manejo de US$ 2,8 bilhões por ano no Brasil. 

Por isso, é preciso ter sempre atenção a novas tendências de manejo que facilitem o controle de doenças, evitem novos casos de resistência e preservem o potencial produtivo das cultivares.  

Pensando nisso, separamos as principais informações sobre aplicação de fungicidas na soja, com as novas tendências de manejo para te ajudar a alcançar altas produtividades. Confira!

Principais doenças da soja

Antes de pensar em como controlar doenças em soja, é importante saber quais as principais doenças que prejudicam essa cultura em nosso país:

infográfico de períodos de ocorrência das doenças da soja - aplicação de fungicidas na soja

(Fonte: Paulo Saran)

Conhecendo as principais doenças da soja, é muito importante que você saiba quais sintomas elas provocam e quais condições climáticas são mais favoráveis ao seu desenvolvimento. 

Aqui no blog da Aegro, já falamos sobre isso em um artigo completo. Confira: Lavoura saudável: como combater as doenças da soja (+ nematoides)

Além disso, é muito importante que você conheça o histórico de doenças da sua área e região onde ela está presente para que possa realizar um bom planejamento do manejo. 

Como prevenir a incidência de doenças em sua lavoura 

Apesar de o uso de fungicidas ser a técnica mais utilizada em nosso país, o manejo de doenças deve acontecer muito antes de se pensar em usar fungicidas. 

Por isso, fazer o básico bem feito pode ser a chave para alcançar maior eficiência no manejo de doenças. 

Para diminuir a severidade de doenças em plantas é importante garantir uma menor incidência de inóculo inicial e menor suscetibilidade da planta ao patógeno. 

O que só é possível através de um bom manejo integrado de doenças. Dentre as principais estratégias de manejo integrado na soja temos:

  • uso de rotação de culturas
  • utilização de sementes certificadas;
  • uso de cultivares de ciclo precoce; 
  • semeadura precoce; 
  • realização de um bom manejo nutricional
  • respeitar o vazio sanitário
  • controle de plantas hospedeiras, principalmente no período de vazio sanitário.
  • monitoramento constante de doenças; 
  • rotação de mecanismo de ação de fungicidas; 
  • aplicação no momento e dose estabelecidos pela bula; 
  • uso de boa tecnologia de aplicação

Qual o momento ideal para aplicação de fungicidas na soja?

O planejamento do manejo de doenças na soja não é muito simples, pois envolve vários fatores específicos relacionados à lavoura. Dentre os principais fatores podemos citar: 

  • condições climáticas; 
  • época de plantio;
  • suscetibilidade e ciclo da cultivar escolhida; 
  • histórico de doenças da sua área e região. 

Após o levantamento desses fatores, fica mais fácil determinar o momento ideal de aplicação, os produtos e doses a serem utilizados. 

Na prática, podemos entender que, em situações de ciclo mais longo ou com maior atraso na semeadura, a pressão de doenças na área será maior. Isso exigirá um manejo antecipado de doenças.

Nos últimos anos, há uma tendência muito forte de se antecipar o início das aplicações de fungicidas na soja, que geralmente ocorria próximo à fase de V7/8 (sempre antes do fechamento da linha).  

Entretanto, adiantar a primeira aplicação aumentando o intervalo de aplicações para mais de 15 dias, não se mostrou uma técnica muito efetiva. 

Por isso, muitos produtores têm optado pela realização da chamada aplicação zero. Ou seja, é uma aplicação adicional no estádio de V3-V4 (próximo a 30 dias após a emergência – DAE) para diminuir a incidência de inóculo inicial e prevenir que o fungo infecte a soja.

Aplicação Zero

Essa aplicação tem foco nas seguintes doenças: manchas foliares, antracnose e oídio. 

Como é uma aplicação complementar, não se tem utilizado produtos líderes de mercado nesta operação, pois ela visa auxiliar as demais aplicações sem aumentar custos. Por isso, geralmente é realizada com o glifosato (em soja RR).

Nessa aplicação, é muito comum o uso de produtos que associam os princípios ativos triazóis, benzimidazóis, estrobilurinas e multissítios.

Caso opte por associar fungicidas ao glifosato, sempre tome cuidado com a compatibilidade dos produtos, principalmente quanto ao pH da calda. 

Após a aplicação zero, o período entre esta aplicação e a primeira do manejo convencional de sua lavoura costuma ser mais curto, próximo a 9 dias, garantindo que a primeira aplicação seja antes do fechamento de linha e no momento ideal (estádio V7 – próximo a 40 dias após a emergência – DAE). 

Programa e aplicação convencional de fungicidas em soja

O manejo convencional que vem sendo utilizado na soja em geral se resume a 4 aplicações espaçadas de fungicidas com um intervalo de 15 dias. 

  • 1ª – antes do fechamento de linhas (V7; + ou – 40 DAE);
  • 2ª – no florescimento (V7 + 15 dias; + ou – 55 DAE);
  • 3ª – formação da vagem (V7 + 30 dias; + ou – 70 DAE); e 
  • 4ª – enchimento de grãos (V7 + 45 dias; + ou – 85 DAE).  

 As duas primeiras aplicações são consideradas as mais importantes do programa convencional de manejo (antes do fechamento e florescimento). 

Assim, os produtores costumam lançar mão dos melhores produtos disponíveis no mercado para assegurar melhor eficiência. 

Posicionamento de produtos nas aplicações

Quanto à escolha dos produtos, doses utilizadas e números de aplicação, dependerá muito da realidade da sua lavoura. É preciso considerar alguns fatores já mencionados, que ajudarão a prever a pressão de doenças na cultura. 

Entretanto, um posicionamento que tem trazido bons resultados é uso intercalado de produtos curativos e preventivos de acordo nas primeiras aplicações. 

Assim, temos a seguinte alternativa como uma ótima opção:

Aplicação zero: produto curativo;

1ª aplicação: uso de produtos curativo e preventivo (preventivo+curativo);

2ª aplicação: uso de produtos preventivos (preventivo+preventivo). 

Já para as últimas aplicações, os produtos escolhidos vão depender das condições  climáticas serem mais favoráveis para algumas doenças. 

Veja os seguinte exemplos:

Predominância de ferrugem: Mancozeb e/ou Morfolina

Manchas ou manchas + ferrugem: Clorotalonil e/ou Triazol

Devido ao surgimento de casos de resistência a fungicidas para ferrugem asiática, antes de selecionar um produto para seu controle, é importante conferir sua eficiência na atualidade. 

Uma maneira mais fácil de realizar esse processo é conferir o relatório sobre eficiência dos produtos no controle da ferrugem asiática emitido pela Embrapa

Outro cuidado que deve ser tomado na escolha do produto para a última aplicação é o período residual do fungicida para não ocorrer maior incidência de folhas e hastes verdes por ocasião da colheita.  

É importante que você esteja sempre atento às tendências de manejo de doenças na soja, contudo, lembre-se sempre que a recomendação de fungicidas na soja deve ser realizada com auxílio de um engenheiro-agrônomo capacitado.  

Ferrugem asiática (Phakopsora pachyrhizi) na cultura da soja

Ferrugem asiática (Phakopsora pachyrhizi) na cultura da soja
(Fonte: Grupo Cultivar)

Conclusão

Neste artigo vimos a importância do manejo de doenças na soja e conhecemos as principais doenças que ocorrem no Brasil. 

Vimos as principais práticas para evitar a incidência de doenças na sua lavoura e novos casos de resistência. 

Além disso, vimos o momento ideal de aplicação de fungicidas na soja e o conceito de aplicação zero. 

>> Leia mais:

“Biofungicidas: quando vale a pena usá-los para o controle de doenças na lavoura?”

Você tem dificuldade no controle de doenças na soja? Quais critérios você utiliza para aplicar fungicidas na soja? Adoraria ver seu comentário abaixo!

8 doenças do trigo e como fazer o manejo ideal

Doenças do trigo: conheça os principais sintomas para identificá-las na lavoura e as medidas de manejo mais eficientes

O trigo é uma importante cultura de inverno no Brasil. Mas, para garantir uma boa produtividade, suprindo as necessidades do grão, é preciso ficar atento às doenças que podem ocorrer, colocando toda produção em risco.

Identificar os sintomas inicialmente e saber quais manejos são mais eficientes para controlá-las é fundamental.

Por isso, preparamos este artigo com as principais doenças do trigo e como manejá-las corretamente. Confira a seguir!

1- Giberela

A giberela no trigo é causada pelo fungo Fusarium graminearum, sendo importante no período de floração da cultura. Ocorre em regiões quentes de cultivo da cultura.

A doença infecta a flor da planta de trigo, que pode ficar totalmente destruída e nem chegar a formar o grão.  

Se a infecção do fungo for lenta, pode ocorrer o desenvolvimento do grão com coloração rósea (por conta do desenvolvimento do fungo – formação de macroconídeos), enrugados e chochos.

trigo infectado por giberela

(Fonte: Paulo Kurtz em Embrapa)

Um sintoma de fácil reconhecimento da doença são as aristas arrepiadas em espiguetas esbranquiçadas ou mortas, sinal bastante característico da giberela.

Sementes e restos culturais (que podem ser de plantas de trigo ou outras hospedeiras como milho, centeio, triticale e cevada) são fontes de inóculo da doença.

Além de atacar as espigas, o fungo pode contaminar os grãos com a presença de micotoxinas.

A doença tem como condições favoráveis a seu desenvolvimento temperaturas em torno de 30°C e molhamento foliar.

Medidas de manejo da giberela

  • Semeadura antecipada, para que o florescimento das plantas não seja no período de condições favoráveis do trigo;
  • Controle químico já no início da floração.

Aqui no blog da Aegro nós já falamos tudo sobre o manejo desta doença. Confira Como identificar e controlar a giberela no trigo”.

2- Estria bacteriana

Doença causada pela bactéria Xanthomonas campestris pv. ondulosa, pode reduzir o rendimento em até 40% na cultura do trigo.

A bactéria da estria bacteriana sobrevive em restos culturais e sementes, sendo as sementes a principal forma de disseminação da doença.

Como sintomas são observadas lesões aquosas e longas nas folhas que, com o progresso da doença, podem se tornar pardas.   

Quando em longos períodos de chuva, as lesões podem coalescer e se distribuir por grande parte das folhas.

Medidas de manejo para a estria bacteriana

3- Podridão comum das raízes

A podridão comum das raízes pode ser causada por Bipolaris sorokiniana e Fusarium graminearum. Pode ser encontrada em todas as regiões de produção de trigo no país.

Como o nome já indica, essa doença afeta as raízes, que ficam com os tecidos de coloração parda, podendo causar a morte precoce das plantas. A semente é considerada a principal fonte de inóculo.

Medidas de manejo da podridão comum das raízes

4- Ferrugem da folha do trigo

Causada pelo fungo Puccinia triticina, a ferrugem da folha do trigo é considerada a doença mais comum da cultura.

A ferrugem na folha pode se desenvolver desde a formação das primeiras folhas até a maturação da planta.

No campo, você pode observar como sintomas pústulas de coloração alaranjada nas folhas, principalmente na parte superior, que reduz a área de fotossíntese e pode causar a queda precoce das folhas.

ferrugem da folha do trigo

(Fonte: Embrapa trigo)

Medidas de manejo da ferrugem da folha do trigo

  • Uso de cultivares resistentes;
  • Uso de fungicidas quando utilizar cultivares com suscetibilidade ao fungo.

5- Mancha amarela

A doença é causada por Drechslera tritici-repentis e considerada a mancha foliar mais importante do trigo, podendo causar 50% de perdas.

Essa é uma das principais doenças do trigo na região sul do Brasil, favorecida pelo plantio direto, que garante alimento para o fungo entre os cultivos.

Inicialmente, os sintomas são pequenas manchas cloróticas nas folhas que, com o progresso da doença, se expandem e ficam com a região central necrosada, circundadas por um halo amarelo.

mancha amarela em uma folha - doenças do trigo

(Fonte: Flávio Santana em Embrapa)

Temperaturas amenas e molhamento foliar são condições favoráveis para o desenvolvimento da doença.

Medidas de manejo da mancha amarela

6 – Hemiltosporiose

A hemiltosporiose ou também chamada de mancha marrom é causada pelo fungo Bipolaris sorokiniana. A doença pode provocar danos de até 80%.

Nas folhas podem ser observadas lesões elípticas de coloração cinza em regiões quentes. Nas regiões mais frias, a doença causa lesões retangulares e escuras nas folhas.

Mas, a doença pode infectar além das folhas outros órgãos da planta, como as glumas, que ficam com lesões elípticas de centro claro e bordô escuro.

Medidas de manejo da Hemiltosporiose

  • Rotação de cultura;
  • Uso de sementes sadias;
  • Uso de fungicidas para aplicação na parte aérea da planta como triazóis e estrubilurinas.

Além das doenças do trigo causadas por fungos e bactérias, há algumas causadas por vírus (viroses no trigo), que vamos discutir nos próximos tópicos.

7- Mosaico comum do trigo

O mosaico do trigo é causado pelo vírus Soil-borne wheat mosaic virus (SBWMV), que tem maior problema em regiões mais frias do país, que é uma condição ótima para o desenvolvimento da doença.

Esse vírus é transmitido protozoário Polymyza graminis, que é habitante do solo.

O vírus que causa o mosaico comum do trigo também infecta culturas como centeio, cevada e triticale.

Como sintoma, é possível observar estrias amarelas que são paralelas às nervuras no limbo foliar, sendo mais problemática nos estádios iniciais da cultura.

foto de mosaico comum do trigo com estrias amarelas nas folhas

(Fonte: Douglas Lau em Embrapa)

Medidas de manejo para o mosaico comum do trigo

A medida mais efetiva para esta doença é o uso de cultivares resistentes.

8- Nanismo amarelo da cevada

Essa doença é causada pelo vírus Barley yellow dwarf virus (BYDV), que é transmitido por afídeos (pulgões) de forma persistente circulativo.

Como o próprio nome diz, o vírus infecta cevada, mas também outras culturas como arroz, trigo, aveia, centeio, milho e sorgo.

A planta de trigo com a doença fica com tamanho reduzido (nanismo) e com amarelecimento. Folhas bandeiras ficam eretas e de coloração amarela brilhante.

Além disso, os grãos provenientes de plantas infectadas ficam enrugados e chochos.

Medidas de manejo para o nanismo amarelo da cevada

Para todas as doenças do trigo, quando for utilizar controle químico, verifique quais estão registrados no Agrofit e para te ajudar com a recomendação nas medidas de manejo procure um(a) agrônomo (a).

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Conclusão

O trigo é uma importante cultura de inverno no Brasil e é preciso cuidado com as doenças na lavoura para evitar as perdas.

Nesse artigo, discutimos 8 das principais doenças da cultura do trigo causadas por fungos, bactérias e vírus.

Você conferiu os principais sintomas, como identificá-las na lavoura e as principais medidas de manejo para não colocar a produção em risco!

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Quais doenças do trigo já afetaram a sua lavoura? Como realizou o manejo? Compartilhe suas experiências nos comentários!